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_ Andar de bicicleta:

Ao sair de casa para andar de bicicleta ultimamente escolhia a roupa, meias, luvas, sapatos,
colocava o m.f.c, protector solar, óculos, capacete, escolho o bidão ou o camelbak, enchia o bidão ou
o camelbak com uma mistura isotónica, escolhia barras de cereais ou gels, voltava para o quarto,
pegava numa bomba, numa ferramenta, numa camara de ar, lenços de papel, telemóvel, chaves de
casa, chaves da garagem, comando do portão da garagem, passava pela garagem e verificava a
pressão dos pneus, verificava também que me tinha esquecido de alguma coisa ou que estava frio ou
calor para a roupa que escolhi, voltava a fechar a garagem, voltava a subir, a trocar a roupa ou seja o
que for que me tinha esquecido (precisaria de luzes, cadeado?), voltava a descer, finalmente saía e
chegava ao destino uma meia hora atrasado.

Dei por mim então a sentir falta do tempo em que, quando me apetecia andar de bicicleta,
pegava nela, saía de casa e pronto. Nada mais havia em que pensar. Nem spds, nem Lycra, nem
percentagens de HC na comida ou de sais na bebida. Sapatilhas eram melhores para andar de bike
que sapatos, mas também serviam bem. Simplesmente atava os cordões para o lado oposto ao da
cremalheira. Não tinha capacete (esta parte era má), de vez em quando usava um boné.

Se furasse, ou encontrava uma cabine telefónica ou voltava para casa a pé. Quando o furo

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era lento, chegava a andar semanas com ele sem o reparar, apenas parava mais nas bombas de 1
gasolina. Se tivesse sede ou fome, aguentava ou pedia um copo de água num café (ainda será
socialmente aceite pedir um copo de água num café? Nessa altura era). Os impactos, absorvia-os
com os braços, em vez de ser com a carteira. A bicicleta era lavada umas duas vezes por ano. A
corrente não se lavava. Acrescentava-se mais óleo. As correntes e cassetes não gastavam, as
mudanças não desafinavam, apenas ganhavam caprichos.

Era tudo muito mais simples. Foram as saudades desse tempo que me fizeram montar uma
bicicleta mais simples e barata. Algo possível de deixar preso em qualquer lado sem ter que andar
com o coração nas mãos. Após umas saídas ao fim de semana, veio a constatação de que era fácil
combinar o uso dessa bicicleta com os transportes públicos. Fiz algumas experiências em dias de
semana. Fora das horas de ponta é sempre possível. O melhoramento da forma física proporcionado
pelo pequeno acréscimo de kms pedalados semanalmente fez com que não me importe de
dispensar de vez em quando o transporte público se me atrasar ou se tiver que me deslocar em
horas de ponta. A não ser que seja pelo passeio, andar a pé impacienta-me. Demora tempo demais.
Gosto de andar depressa.

Sou uma pessoa mais feliz porque faço o que gosto todos os dias: Andar de bicicleta.

A Identidade de quem marca a diferença em: www.homewokdetails.com


Não tenho carro. Não é por convicção, é mesmo por razões económicas. Mas também sei
que não preciso de um. Se a gasolina acabar não preciso de parar.

Hoje em dia é muito difícil encontrarem-me em qualquer lado sem eu ter ido para esse sítio
sem uma bicicleta. Ainda faço todo o ritual descrito de vez em quando. Normalmente aos domingos
de manhã. É uma forma de andar de bicicleta diferente. Também é divertido, mas não é mais
divertido.

Andar de bicicleta é a minha "cena". Experimentem, pode ser que também seja a vossa.

Mangelovsky

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