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8.

Saúde do trato reprodutivo

A rentabilidade dos rebanhos leiteiros está diretamente associada às


doenças reprodutivas, e reduz de forma significativa à medida que estas
acometem o rebanho. Além disto, afecções causam um grave problema no
planejamento de médio e longo prazo dos rebanhos leiteiros, que na maioria
das vezes passam despercebidos (SOARES, 2005).

8.1 Manejo sanitário

A seleção de reprodutores e matrizes com boa capacidade reprodutiva e


em bom estado sanitário influencia diretamente a natalidade dos bovinos. As
doenças infecciosas, de origem bacteriana, viral ou parasitária, são
importantes, pois afetam o aparelho reprodutivo de machos e fêmeas,
impedindo a fecundação e inclusive a perda da função reprodutiva entre outros
distúrbios (ANDREOTTI et al., 1998).
A maioria das disfunções passa despercebidas. Sendo assim, para se
obter maior taxa de nascimento de bezerros e, consequentemente, maior
rentabilidade na produção, o controle preventivo de doenças em machos e
fêmeas é de fundamental importância (ANDREOTTI, et al.,1998).

8.2 Cuidados com os machos

Os machos destinados a “touros” (inclusive os de compra) devem passar


por criterioso exame de seleção no qual se observa a condição corporal,
aparelho locomotor, parâmetros genéticos favoráveis e aparência fenotípica
(externa), além de exames laboratoriais. Observa-se no exame físico o
aparelho genital completo, procurando anomalias, defeitos, processos
inflamatórios e observando medidas e condições estabelecidas para cada raça.
O exame andrológico completo deve ser realizado antes de cada estação
reprodutiva. Casos de falha na reprodução normalmente são atribuídos às
fêmeas, quando na verdade, os machos ocupam o maior destaque em razão
da transmissão de doenças pela monta (ANDREOTTI, et al.,1998).
Segundo ANDREOTTI et al. (1998), deve-se eleger os testes de
diagnóstico para brucelose, campilobacteriose e tricomonose como os
principais métodos no controle das doenças capazes de influenciar na
performance reprodutiva dos touros, estando atento sempre a outras doenças
importantes, como as causadas por vírus: rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR)
e diarréia bovino a vírus (BVD).
Orientado sempre por um técnico, o controle dessas doenças deve ser
sistemático, pois prejudica diretamente o desfrute do rebanho, resultando em
um número maior de vacas com retorno ao cio, processos de aborto,
nascimento de bezerros com porte inferior e um maior número de bezerros
nascidos no final da época de parição (ANDREOTTI et al., 1998).

8.3 Cuidados com as fêmeas

Fêmeas destinadas à estação reprodutiva devem apresentar boa


condição corporal e ciclo normal. As fêmeas devem ser selecionadas antes do
início da estação reprodutiva, para a formação dos lotes (ANDREOTTI, et al.,
1998).
ANDREOTTI et al. (1998) afirmou ser importante que as vacas estejam
livres de doenças que comprometam a fertilidade. Além disso, de igual
importância deve ser o exame físico do úbere para identificar a possibilidade de
disfunção dos quartos e tetos. A mastite bovina pode ser um problema no pós-
parto, diminuindo a oferta de leite para o bezerro, depreciando a qualidade
nutritiva deste, e podendo infectar o bezerro com algum agente infeccioso.
Segundo GUIDO (2005), o início do serviço dos animais pode ser
retardado em cerca de 60 a 80 dias por causa de doenças puerperais,
acarretando perda na eficiência reprodutiva do rebanho e, conseqüentemente
enorme prejuízo econômico aumentando os custos da produção.
Vários fatores podem ser relacionados como causas dessas afecções no
pós-parto: gestação curta, indução de parto, nascimentos múltiplos, cetose,
podem ocasionar retenção de placenta; ademais, as gestações muito longas e
deslocamento do abomaso à esquerda, são fatores que podem causar metrite
(GUIDO, 2005).
GUIDO (2005) listou as afecções reprodutivas evidenciando as infecções
puerperais, seja por microorganismos infecciosos ou por fungos; endometrite
puerperal aguda, endometrite pós-puerperal crônica, catarros genitais, metrite,
atonia e hipertonia uterina, hemorragias, rupturas (útero e períneo), fístulas
(reto e vaginal), prolapsos (uterino, bexiga e reto), acetonemia ou toxemia da
prenhez, eclâmpsia puerperal, retenção de placenta e outros.
Desordens uterinas, principalmente infecções uterinas não específicas,
reduzem a eficiência reprodutiva de vacas leiteiras. Em alguns rebanhos, 40%
das vacas no pós-parto podem ser diagnosticadas e tratadas com infecções
uterinas. Além de reduzir a eficiência reprodutiva, as infecções uterinas
aumentam os custos de saúde do rebanho; frequentemente reduzem o
consumo de alimento, causam uma redução significativa na produção de leite e
forçam os produtores a descartar vacas produtivas que poderiam permanecer
no rebanho (CORASSIN, 2004).
De acordo com THATCHER et al., (2006) o sistema imune das vacas é
intensamente desafiado durante as quatro semanas pós-parto. Ele parece ser
regulado durante o período periparto pela progesterona, sendo inibido no pós-
parto pela ovulação. Vacas que possuem baixas concentrações de PGFM no
início do pós-parto podem desenvolver endometrites.
Endometrites, mastite clínicas ou subclínicas, aumentam a secreção de
prostaglandinas, levando ao atraso do recomeço dos ciclos estrais e redução
da fertilidade (THATCHER et al., 2006).
LEITE (2001) avaliando efeito de transtornos puerperais sobre a
eficiência reprodutiva e produtiva de vacas da raça Holandês de uma estação
experimental, durante 24 anos, constatou que dentre as afecções
periparturientes, retenção de placenta e mastite foram as que ocorreram com
maior freqüência. As demais anormalidades (aborto, natimortos e distocia)
apresentaram freqüências inferiores a 10%. Entretanto, a alta freqüência
desses transtornos puerperais (48,1%) indica falhas no manejo, o que dificulta
a obtenção de melhores índices produtivos e reprodutivos. Os transtornos
periparturientes ocorrem como um complexo e estão relacionados entre si,
afetando outros parâmetros reprodutivos, sinalizando que medidas profiláticas
reprodutivas e sanitárias para prevenir a ocorrência de um transtorno, podem
diminuir o risco de incidência de outros relacionados direta ou indiretamente
(CURTIS et al., 1985) citado por LEITE (2001).
Segundo FAVA (2003), há uma necessidade de estimulação nos estudos
de programas de saúde animal para a prevenção de enfermidades em
sistemas de produção leiteiras em nossas condições zootécnicas e climáticas.
Doenças infectocontagiosas da reprodução animal como a Rinotraqueíte
Infecciosa Bovina (IBR), Diarréia Viral Bovina (BVD) Brucelose e Leptospirose
estão disseminadas no rebanho nacional, havendo necessidade eminente de
preveni-las.
O controle visa reduzir a freqüência de ocorrência de uma doença já
presente na população, enquanto que a erradicação busca eliminar totalmente
a doença. Para tanto, medidas de defesa sanitária visando a biosseguridade
são implantadas com a finalidade de se evitar que o agente etiológico infecte o
animal suscetível, impedir a disseminação do agente ao combater os vetores e
eliminar as condições predisponentes (GONÇALVES, 1990) citado por FAVA
(2003).

SOARES, M.P. Sanidade Reprodutiva em Bovinos - importância para a


eficiência da atividade. In: Beefpoint – Radares técnicos – Sanidade [on
line]. São Paulo: 2005. Disponível em:
http://www.beefpoint.com.br/sanidade-reprodutiva-em-bovinos-
importancia-para-a-eficiencia-da-atividade_noticia_24202_63_139_.aspx.
Acesso em: 10 jul. 2009.

GUIDO, M. C. Puerpério Patológico. In: McGuido – Obstetrícia – Puorpério


Patológico [on line]. São Paulo: 2005. Disponível em:
http://www.mcguido.vet.br/puerperiopat.htm. Acesso em: 10 jul. 2009.

CORASSIN, C.H. Determinação e avaliação de fatores que afetam a


produtividade de vacas leiteiras. [on line]. 2009. 113f. Dissertação
Mestrado em Ciência Animal e Pastagens - Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz - ESALQ. São Paulo. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11139/tde-27092004-144119/.
Acesso em: 10 jul. 2009.
ANDREOTTI, R.; GOMES, A.; PIRES, P. P.; RIVERA, F. E. B. Planejamento
Sanitário de Gado de Corte. Empresa brasileira de pesquisa
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http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/doc72/index.html. Acesso
em: 10 jul. 2009.

LEITE, T. E.; ,MORAES, J. C. F.; PIMENTEL, C. A. Eficiência Produtiva e


Reprodutiva em Vacas Leiteiras. Cienc. Rural [on line]. 2001, vol. 31, n.3, pp.
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FAVA, C. D.; ARCARO, J. R. P.; POZZI, C.R.; JUNIOR, I. A.; FAGUNDES, H.;
PITUCO, E. M.; STEFANO, E. D.; OKUDA, L. H.; VASCONCELLOS, S. A.
Manejo Sanitário para o Controle de Doenças da Reprodução em Sistema
Leiteiro de Produção Semi-intensivo. Arq Inst. Biol., São Paulo, v.70, p.25-33,
jan/mar., 2003.

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