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REVISÃO REVIEW 801

Aspectos históricos e metodológicos da


medição e estimativa da taxa metabólica basal:
uma revisão da literatura

Historical and methodological aspects


of the measurement and prediction of basal
metabolic rate: a review

Vivian Wa h rlich 1
Luiz Antonio dos Anjos 1,2

1 Ce n t ro de Estudos da Saúde Abstract This paper re v i ews the most re l e vant aspects of measuring basal metabolic ra t e
do Trabalhador e Ecologia (BMR). The authors discuss individual and lifestyle factors (age, a n t h ro p o m e t ry, smoking, physi-
Hu m a n a , Escola Nacion al
de Saúde Pública, cal activity, diet, menses, and ethnicity) as well as possible environmental factors at time of mea-
Fundação Oswaldo Cruz. s u rement which may alter BMR va l u e s . Various available pre d i c t i ve equations, especially those
Rua Leopoldo Bulhões 1480,
recommended by the Wo rld Health Organization in 1985, and subsequent validation studies,
Rio de Ja n e i ro, RJ
2 1 0 4 1 - 2 1 0 , Bra s i l . p a rt i c u l a rly in populations living in the tropics, are presented. The review indicates the need for
w a h rl i c h @ e n s p. f i o c r u z . b r m o re information on BMR from populations living in different parts of the world so that better
2 La b o ratório de Ava l i a ç ã o
estimates can be provided for clinicians and epidemiologists.
Nutricional e Fu n c i o n a l ,
De p a rtamento de Nu t r i ç ã o Key words An t h ro p o m e t ry ; Measurements; Nutrition Assessment
S o c i a l , Un i versidade
Fe d e ral Fl u m i n e n s e .
Rua São Paulo 30,
Resumo A taxa metabólica basal (TMB) é uma das informações fisiológicas mais import a n t e s
4o a n d a r, Ni t e r ó i , RJ em estudos nutricionais clínicos ou epidemiológicos, seja para se determinar as necessidades
2 4 0 4 0 - 1 1 5 , Bra s i l . energéticas ou calcular o gasto energético de indivíduos ou populações. O presente artigo discu-
a n j o s @ e n s p. f i o c r u z . b r
te, com base numa revisão da literatura, a importância e os aspectos mais relevantes da medição
da TMB. Inicialmente, faz-se um histórico do desenvolvimento dos conceitos e da técnica de me-
dição da TMB até os dias atuais. São discutidos os fatores individuais (idade, antropometria, ta-
bagismo, atividade física, dieta, ciclo menstrual e etnia) e os possíveis fatores ambientais presen-
tes na hora da medição (tempera t u ra , local e repouso) que podem influir no valor da TMB. Apre-
senta-se as várias equações de predição de TMB disponíveis, em especial a sugerida pela Organi-
zação Mundial da Saúde em 1985, e discute-se os estudos realizados desde então, que tentam va-
lidar seu uso internacionalmente, p a rt i c u l a r m e n t e , em populações vivendo nos trópicos. O arti-
go aponta para a necessidade de se obter mais informações sobre o metabolismo basal nos vários
segmentos populacionais vivendo em diferentes regiões do mundo, p a ra que melhores estimati-
vas possam ser fornecidas tanto para o uso clínico quanto epidemiológico.
Palavras-chave Antropometria; Medições; Avaliação Nutricional

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802 WAHRLICH, V. & ANJOS, L. A.

Introdução pulacionais eram derivadas de informações so-


bre o consumo alimentar de populações, ditas
A taxa metabólica basal (TMB) é a quantidade s a u d á veis (Schoeller, 1999) va l o res que, nor-
de energia necessária para a manutenção das malmente, são menores (≅ 20%) do que o gasto
funções vitais do organismo, sendo medida em energético medido por água duplamente mar-
condições padrão de jejum, repouso físico e cada (Seale & Rumpler, 1997). Nesta nova orien-
mental em ambiente tranqüilo com contro l e tação os componentes do gasto energético de-
de temperatura, iluminação e sem ruído (Burs- veriam ser expressos como múltiplos da TMB,
ztein et al., 1989; Garrow, 1974; Harris & Bene- numa tentativa de se controlar as característi-
dict, 1919). Desde o século XIX, a medição da cas individuais como as dimensões e composi-
TMB é feita através da determinação da quan- ção corpora i s, o estado nutricional e cara c t e-
tidade de calor produzida pelo organismo (ca- rísticas demográficas como idade e gênero. Co-
lorimetria direta) ou pelo cálculo de calor indi- mo se reconhecia que não havia uma gra n d e
retamente (calori m e t ria indireta) a partir do disponibilidade de calorímetros, os órgãos in-
.
consumo de oxigênio (V O 2 ) e exc reção de gás t e rnacionais (FAO/WHO/UNU, 1985) sugeri-
.
carbônico (V CO2) tanto para fins diagnósticos ram o uso de equações de predição para esti-
quanto nutri c i o n a i s. En t re t a n t o, somente a mar a TMB. Assim, tanto para o nível individual
partir do estudo de Harris & Benedict, em 1919, quanto o populacional, a TMB é o valor base
é que houve uma tentativa de sistematização p a ra se estabelecer as necessidades energ é t i-
das informações existentes sobre o metabolis- cas (James & Schofield, 1990).
mo basal com o desenvolvimento de equações O uso da TMB no estabelecimento das ne-
de predição da TMB, a partir de medidas antro- cessidades energéticas, por si só, já seria moti-
pométricas, já que a calorimetria não era mui- vo suficiente para sua determinação nos vários
to disponível. Com a mudança de ori e n t a ç ã o segmentos da população da forma mais exata
na estimativa das necessidades energéticas hu- possível, seja em avaliações clínicas ou epide-
manas, da ingestão para o gasto energético su- m i o l ó g i c a s. Além disso, seu uso em estudos
g e rida pela Food and Agri c u l t u re Org a n i z a- epidemiológicos sobre a ingestão alimentar e a
t i o n / World Health Org a n i z a t i o n / United Na- determinação do nível de atividade física, tam-
tions University (FAO/WHO/UNU, 1985) hou- bém demonstra sua importância. Por exemplo,
ve a necessidade de atualização das inform a- usualmente, avalia-se o grau de confiabilidade
ções existentes sobre o metabolismo basal, na informação sobre a ingestão energética de
com revisão das equações de predição da TMB indivíduos dividindo-se o valor de energia in-
(Schofield, 1985). A partir de então, vários es- gerida, pela TMB. Quando em pessoas obesas,
tudos têm demonstrado que as equações ten- o valor desta razão é menor do que 1,2 costu-
dem, em sua maioria, a superestimar a T M B ma-se dizer que os indivíduos subestimaram a
em várias populações, principalmente, as que i n g e s t ã o, visto que, os mesmos não poderi a m
vivem nos trópicos (Henry & Rees, 1991). O ob- ser obesos ingerindo somente 1,2 vezes a TMB
jetivo do presente artigo é revisar vários aspec- ( Ma c Di a rmid & Blundell, 1997) valor que é
tos relacionados à medição da TMB, incluindo c o n s i d e rado como de manutenção ( James &
alguns aspectos históricos, e a validade do uso Schofield, 1990). Na análise da dieta da popu-
internacional, particularmente nas populações lação americana com idade superior a vinte
v i vendo nos trópicos, das equações de pre d i- anos, investigada através de recordatório de 24h
ção atualmente existentes. durante a fase I do estudo americano NHANES
III (National Health and Nutrition Ex a m i n a-
tion Su rve y) (n = 7.769) e com o valor de T M B
Importância da medida de TMB estimado através de equações de pre d i ç ã o, o
valor médio da razão no total das mulheres foi
A TMB é o principal componente do gasto ener- de 1,26, sendo de 1,09 nas obesas (Briefel et al.,
gético diário, podendo representar de 50% (nos 1995). Analisando o mesmo banco de dados,
indivíduos muito ativos fisicamente) a 70% (nos Briefel et al. (1997) utilizaram o valor de 0,9 co-
mais sedentários) do total de energia gasta dia- mo critério para subestimativa de ingestão, en-
riamente (Clark & Hoffer, 1991). Baseado nesta contrando 18% de homens e 28% de mulheres
evidência, o gasto energético (GE) diário deve- na população americana abaixo deste va l o r.
ria nortear necessariamente as recomendações Entre estes, havia mais indivíduos com sobre-
e n e rg é t i c a s. Apesar de ser uma conclusão ób- peso e sedentários do que os que tinham valo-
via, somente a partir de 1985 que se passou a res superiores a 0,9. Duas possibilidades de ex-
proceder desta forma (FAO/WHO/UNU, 1985). plicação para estes va l o res emergem. In i c i a l-
Até então, as recomendações energéticas po- mente, deve-se questionar o método de obten-

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MEDIÇÃO E ESTIMAT I VA DA TAXA METABÓLICA BASAL 803

ção da informação de ingestão alimentar, seja principalmente para as atividades pesadas. Pa-
através de re c o rd a t ó rio de 24h ou por registro ra as populações vivendo em condições menos
(diário) alimentar, visto que os indivíduos, prin- d e s e n vo l v i d a s, não existem dados confiáve i s
cipalmente os obesos (Prentice et al., 1996), suficientes de gasto energético, mas parece ser
tendem a subestimar a ingestão, quando são n e c e s s á rio revisar os va l o res de NAF, baseado
obrigados a dar tal informação. Ou seja, o nu- nas evidências de que, apare n t e m e n t e, os da-
merador da razão pode estar subestimado. Por dos de gasto energético (numerador) usados
o u t ro lado, também é possível que a TMB (o p a ra seu cálculo foram subestimados (Ha g-
denominador) esteja sendo superestimado pe- garty et al., 1994; Heini et al., 1996) além da evi-
las equações de pre d i ç ã o, mesmo na popula- dente superestimativa da TMB (denominador)
ção americana (Clark & Ho f f e r, 1991; Owen et usada para essas populações (Cruz et al., 1999;
al., 1986, 1987). Assim, as conclusões sobre o Henry & Rees, 1991; Wahrlich, 2000). De qual-
estado nutricional de populações (e dos indiví- quer jeito, e para qualquer uso que se tenha em
duos) padecem de credibilidade, em parte, pe- m e n t e, a TMB deve ser obtida da forma mais
la não mensuração da TMB. exata possível.
Da mesma forma, o nível de atividade física
(NAF), re p resentando a razão entre o gasto
energético e a TMB de 24h, é utilizado com re- Aspectos históricos do estudo
l a t i va freqüência, como um índice na classifi- do metabolismo basal
cação da atividade física de indivíduos em es-
tudos epidemiológicos (Anjos, 1999). Alguns O interesse sobre o metabolismo remonta à an-
a u t o res utilizam o valor do NAF leve (1,55 e tigüidade, quando surgiu a teoria da “perspira-
1,56, para homens e mulheres, respectivamen- ção insensível” da escola de Hipócrates (King,
te; FAO/WHO/UNU, 1985) como valor abaixo 1924) que baseava-se na observação de que um
do qual se cara c t e ri z a ria indivíduos como se- adulto não ganhava peso apesar de ingerir uma
d e n t á rios (Ce rvato et al., 1997; Ma rtins et al., quantidade de alimento e líquido muito supe-
1993; Rego et al., 1990). Deve-se ter em mente rior a sua excreção. Foi somente em 1780 que o
que esses valores foram recomendados para se metabolismo começou a ser melhor entendido
calcular as necessidades energ é t i c a s, basean- a t ravés dos experimentos de Antoine Laure n t
do-se nas características ocupacionais da po- Lavoisier (Lusk, 1917) nobre francês que iden-
pulação. Como na maioria das situações clíni- tificou que um gás, por ele chamado de oxigê-
cas ou dos estudos epidemiológicos não se me- nio, mas anteriormente denominado “ar de fo-
de a TMB, deve-se confiar em equações de pre- go” (d e p hl og i st ic ated air) por Joseph Priestley
dição da TMB, o que em muitos casos, pode le- (McHenry & Beaton, 1963), combinava-se com
var a conclusões errôneas ( Wahrlich & Anjos, substâncias combustíveis liberando calor. Para
2000). Por exemplo, Vinken et al. (1999) encon- p rovar que a oxidação era a fonte de calor em
t ra ram va l o res de NAF médio de 1,80 para 93 animais, Lavoisier construiu, juntamente com
indivíduos (44 homens e 49 mulheres) de 18 a Laplace, o primeiro calorímetro direto para ani-
81 anos de idade, ao medir o gasto energ é t i c o mais e desenvolveu o princípio da calorimetria
de 24h através de água duplamente marc a d a indireta ao medir a quantidade de gás carbôni-
(método atualmente preferido para sua medi- co produzida pelo animal durante o mesmo
ção; Schoeller, 1999) e a TMB por calorimetria período da calori m e t ria direta (Taylor et al.,
indireta. Os autores concluíram que os valores 1956). Nesse experimento, Lavoisier conseguiu
de NAF recomendados deve riam ser re v i s t o s, evidenciar que a quantidade de calor produzi-
opinião que não é consensual para os países da pelo animal era praticamente igual ao calor
em desenvolvimento (Sheety et al., 1996). Black calculado a partir do gás carbônico p ro d u z i d o
et al. (1996) re v i s a ram as informações de 574 pela respiração. Com isto, ficou comprovada a
medições de gasto energético através de água hipótese de que o carbono contido no organis-
duplamente marcada e encontra ram va l o re s mo combinava-se com o oxigênio para produ-
médios de NAF, semelhantes aos sugeri d o s zir calor. Lavoisier estendeu seus experimentos
p elo Comitê de Ex p e rtos da FAO / W H O / U N U para o homem, estudando aparentemente, ape-
(1985) o que fez com que os autores sugerissem nas as trocas gasosas e demonstrando que a ex-
a manutenção dos va l o res de NAF. Da mesma posição ao fri o, a digestão e a atividade física
f o rma, os autores sugerem a manutenção de eram fatores que elevavam o consumo de oxi-
valores recomendados pelo Departamento de gênio (Du Bois, 1936; King, 1924) e, conseqüen-
Saúde do Reino Unido, que incorporam as ati- temente, a produção de calor ou metabolismo.
vidades não ocupacionais e que são, em geral, Du rante o século XIX, com o estabeleci-
menores do que os da FAO/WHO/UNU (1985) mento das leis da termodinâmica, vários calo-

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rímetros diretos e câmaras respiratórias foram Unidos, dedicando-se à mensuração das trocas
d e s e n volvidos (Du rnin & Pa s s m o re, 1967) na respiratórias. Ele construiu um calorímetro res-
tentativa de aperfeiçoar as técnicas propostas piratório e realizou alguns estudos com pacien-
por Lavo i s i e r. Neste período, também ocorre- tes diabéticos, porém seu interesse se vo l t o u
ram descobertas importantes que possibilita- p a ra a medição da taxa metabólica basal em
ram o desenvolvimento de métodos mais exa- indivíduos saudáve i s. Benedict continuou a
tos para medir o metabolismo através das tro- aperfeiçoar as técnicas da calorimetria indire-
cas gasosas, como a identificação dos substra- ta, além de testar vários aparelhos respiratórios
tos oxidados pelo organismo, a quantidade de e desenvo l ver um próprio para uso em hospi-
oxigênio necessária para oxidá-los e o valor ca- tais (Boothby & Sandiford, 1920).
lorífico dos componentes dos alimentos quan- Em 1919, Harris & Benedict publicaram os
do oxidados no organismo (Lusk, 1917; Mchenry dados de taxa metabólica basal de 333 indiví-
& Beaton, 1963). duos, empregando pela primeira vez a análise
Em 1894, Rubner construiu o pri m e i ro ca- estatística mais sofisticada disponível à época
l o r í m e t ro direto de êxito para estudo experi- em dados fisiológicos. Desta análise foram de-
mental em cães (Webb, 1985). Em conexão ao duzidas as primeiras equações de predição da
calorímetro, foi utilizado o aparelho de Petten- taxa metabólica basal em homens, mulheres e
k o f e r- Voit que possibilitava, além de medir a c rianças que serv i riam de controle para com-
perda de calor, obter a quantidade de gás car- p a ração em situações especiais de dieta ou
bônico produzida. Neste caso, ele utilizava ao doença.
mesmo tempo a calorimetria direta e indireta, Nesta época, a TMB medida por calori m e-
podendo observar a concordância entre os va- tria direta ou indireta servia como diagnóstico,
l o res obtidos pelos dois métodos (Bo o t h by & principalmente, de distúrbios da tireóide. Com
Sandiford, 1920) e, provando assim, que a lei de o passar do tempo, e com o advento de outros
conservação de energia também se aplicava aos métodos para o diagnóstico de problemas da
animais. tireóide (Bursztein et al., 1989) o interesse pelo
Até o final do século XIX, a calorimetria li- metabolismo basal diminuiu e a calori m e t ri a
mitava-se a medir a produção de calor em ani- d i reta passou a ser utilizada, pri n c i p a l m e n t e,
mais (Webb, 1985) enquanto que os aparelhos para estudos sobre a regulação da temperatura
(câmaras) respiratórios já tinham sido utiliza- corporal, interesse que se estendeu até após a
dos para experimentos em pessoas com diabe- segunda guerra mundial. É a partir da década
tes, anemia e malária. No período entre 1892 e de 70, que uma nova era se inicia com os estu-
1899, nos Estados Unidos, Atwater & Rosa de- dos de balanço energético e mais adiante, nos
s e n vo l ve ram o pri m e i ro calorímetro humano anos 80, a calorimetria indireta passa a ser utili-
utilizando-se também do aparelho de Pe t t e n- zada na determinação dos requerimentos ener-
kofer-Voit em conexão ao calorímetro (Boothby géticos em pacientes graves submetidos à nutri-
& Sandiford, 1920). Este aparelho era grande o ção enteral e parenteral (Bursztein et al., 1989).
suficiente para manter, confortavelmente, em A retomada do interesse em medir a T M B
seu interior um homem por duas semanas ou de indivíduos saudáveis, surgiu após um grupo
mais e era provido de cama, cadeira, mesa e um de expertos da FAO e Organização Mundial da
ciclo-ergômetro. As medições, então, poderiam Saúde (OMS) ter determinado que as necessi-
ser feitas com o indivíduo em re p o u s o, tra b a- dades energéticas deveriam ser calculadas com
lhando ou exercitando-se. Posteriormente, em base no gasto energético diário, expresso como
1905, Atwater & Benedict aperf e i ç o a ram este múltiplos da TMB (FAO/WHO/ UNU, 1985).
calorímetro para que fosse possível a determi- Para tal finalidade foram desenvolvidas equa-
nação simultânea também do consumo de oxi- ções de predição da TMB que foram recomen-
gênio. A medida do oxigênio consumido, ou se- dadas para uso internacional, fundamental-
ja, a calorimetria indireta, significou importan- m e n t e, pela ainda pouca disponibilidade de
te melhora na mensuração da produção de ca- calorímetros indiretos para sua medição.
lor (Boothby & Sandiford, 1920) pois possibili-
tava quantificar o oxigênio utilizado na oxida-
ção dos substratos energéticos, além da possi- Fundamentação teórica
bilidade de se obter o consumo de energia nas da calorimetria indireta
várias atividades, ao invés do gasto energético
total de um intervalo de tempo grande. A calorimetria indireta é o método onde o gas-
Benedict, em 1907, assume a direção do La- to energético é estimado através da medição
b o ra t ó rio de Nutrição do Carnegie Institution das trocas respiratórias, ou seja, do volume de
.
of Washington, localizado em Boston, Estados oxigênio consumido ( VO 2) e do volume de gás

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MEDIÇÃO E ESTIMAT I VA DA TAXA METABÓLICA BASAL 805

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carbônico produzido (VCO2) (Ferrannini, 1988; poral apresenta uma correlação quase sempre
Mu rg a t royd et al., 1993). Ela baseia-se nos e l e vada com a T M B, mas que va ria bastante
princípios de que não existe uma reserva apre- (coeficiente de correlação entre 0,45 a 0,96;
ciável de oxigênio no organismo; que o oxigê- Ha r ris & Benedict, 1919; Ke n d rick et al., 1990;
nio consumido reflete a oxidação dos nutrien- Ravussin et al., 1982). A superfície corporal foi
tes e que toda a energia química no organismo a pri m e i ra medida utilizada para expressar a
é proveniente da oxidação de carboidra t o s, TMB seguindo a Lei da Superfície Corporal, es-
g o rd u ras e proteínas (Green, 1994). A quanti- tabelecida por Rubner, em 1883, a partir de es-
dade de oxigênio utilizada para a oxidação e a tudos em animais, que postulava que a produ-
produção de gás carbônico, dependerá do subs- ção de calor era constante por unidade de su-
trato que está sendo oxidado. O quociente res- p e rfície corporal (Du Bo i s, 1936; Ha r ris & Be-
. .
piratório (QR = V CO2/VO2) varia entre 0,7, du- nedict, 1919). Desta forma, animais de tama-
rante a oxidação de gord u ra, e 1 quando ape- nhos variados teriam a mesma produção de ca-
nas houver a oxidação de carboidra t o s. Pa ra lor por unidade de área de superfície corporal.
. .
converter os valores de VO2 e VCO 2 em energia Harris & Benedict (1919) questionaram a apli-
pode ser utilizada a tabela de Zuntz, elaborada cabilidade desta lei, ao demonstrar que o me-
no início do século XX (Lusk, 1917) que fornece tabolismo basal tinha uma correlação elevada
os equivalentes energéticos por litro de oxigê- tanto com a área de superfície corporal quanto
nio consumido em relação a cada QR não pro- com a massa corporal não sendo, porém, cons-
.
téico. Em situações em que só o VO2 é medido, tante por unidade de superfície corporal como
assume-se um equivalente energético de 5 kcal previamente estabelecido e nem independente
por litro de oxigênio consumido. Quando tanto da massa corporal como acreditava-se.
. .
o V O 2 quanto o V CO 2 (ambos em l/min) são A expressão da TMB por unidade de massa
disponíveis, pode-se utilizar a equação propos- e superfície corporais é uma prática muito co-
. .
ta por Weir (1949): [(3,9 X VO 2) + (1,1 X VCO 2)] mum, facilitando a comparação dos valores de
que é um cálculo muito mais prático, dispen- TMB entre indivíduos com dimensões diferen-
sando a medição do metabolismo protéico ao tes. Contudo, esta maneira de expressar a TMB
i n c o r p o rar um fator de correção pela sua não não é perfeita pelo fato de não conseguir elimi-
medição. nar as diferenças interindividuais decorrentes
de diferentes composições corporais (Censi et
al., 1998; Cunningham, 1982). A massa corpo-
Fatores que influenciam a TMB ral engloba tecidos de diversas atividades me-
ou sua medição tabólicas, como a gordura corporal, que apre-
senta um consumo de oxigênio desprezível, e a
A TMB, por definição, deve ser medida contro- massa livre de gordura, componente da massa
lando-se vários fatores, alguns óbvios, como a c o r p o ral re s p o n s á vel pelo maior consumo de
atividade física prévia, a ingestão alimentar e a ox i g ê n i o. A massa livre de gord u ra, por sua
t e m p e ra t u ra e o nível de ruído ambiental; ou- vez, é constituída por órgãos e tecidos que di-
tros mais sutis, como o tabagismo e o período ferem quanto à atividade metabólica. A massa
no ciclo menstrual. Quando a medição é reali- extracelular possui baixa atividade metabólica
zada sem o controle destes fatores, costuma-se ( Cunningham, 1982) e a massa celular corpo-
chamar o valor obtido de taxa metabólica de ral, também chamada de massa celular ativa ,
re p o u s o. En t re t a n t o, algumas cara c t e r í s t i c a s que em um indivíduo saudável corre s p o n d e
i n e rentes aos indivíduos sendo ava l i a d o s, co- entre 50 a 60% da massa livre de gordura, é res-
mo a idade, a aptidão física e a dimensão e p o n s á vel pela maior parte do metabolismo e
composição corporais, podem explicar as dife- compreende os componentes celulares das vís-
renças interindividuais na T M B. A influência ceras, cérebro, sangue e massa muscular (Ellis,
desses fatores na TMB serão revisados bre ve- 1996) que apresentam gastos energéticos dis-
mente a seguir. t i n t o s. As vísceras correspondem entre 20 e
30% da massa corporal de um adulto saudável
Dimensão e composição corporais (Shephard, 1991) sendo responsáveis por qua-
se 60% da TMB. A massa muscular, que repre-
A TMB sofre influência das características indi- senta a maior parte da massa corporal, é re s-
viduais como a dimensão (massa corporal, es- ponsável por apenas 20%, no máximo 25%, do
tatura e superfície corporal – que é uma medi- consumo de oxigênio em condições basais (Bro-
da derivada da massa corporal e da estatura) e zek & Grande, 1955; Durnin & Passmore, 1967).
composição corporais dos indivíduos (Censi et Em indivíduos obesos, parece que o aumen-
al., 1998; FAO/WHO/UNU, 1985). A massa cor- to da TMB não é diretamente proporcional ao

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806 WAHRLICH, V. & ANJOS, L. A.

aumento da massa livre de gordura (Prentice et no é conhecido como débito de oxigênio (ou
al., 1996). Uma explicação para tal fato é que na consumo de oxigênio excessivo pós exercício)
obesidade os órgãos metabolicamente ativo s e sua duração dependerá da intensidade e du-
não se hipert rofiam ou aumentam em menor ração do exercício realizado (Sedlock et al.,
escala do que a massa muscular, alterando as- 1989). Entretanto, o aumento da TMB após uma
sim a composição da massa livre de gord u ra . sessão de exercício parece ser transitório e não
Po rt a n t o, a TMB depende da quantidade e da se manteria por mais de 24 horas (Bingham et
atividade metabólica da massa celular corpo- al., 1989; Wi l m o re et al., 1998). Broeder et al.
ral, assim como da sua proporção em relação à (1992) observaram valores de TMB significati-
massa livre de gordura (Censi et al., 1998; FAO/ vamente maiore s, medidos após 14 horas de
WHO/UNU, 1985; Ke n d rick et al., 1990). Ap e- um treinamento físico, em relação aos va l o re s
sar de existirem sugestões de que a TMB seja obtidos na fase de pré-treinamento, não sendo
expressa em função da massa livre de gordura diferentes, entretanto, quando a taxa foi medi-
e não da massa corporal total (Piers et al., 1998) da 48 horas após o exerc í c i o. We s t s t rate et al.
são ainda poucos os dados disponíveis de TMB (1990) também não evidenciaram um efeito
e de composição corporal no mesmo grupo de p rolongado e sistemático na TMB em indiví-
i n d i v í d u o s, devido, pri n c i p a l m e n t e, à limita- duos submetidos a uma sessão de exercício de
ção metodológica da medição da composição intensidade moderada, e outro estudo apenas
corporal. verificou um pequeno aumento (3,9%) na TMB
em indivíduos submetidos a uma sessão de
• Idade exercício intenso (Goldberg et al., 1990).
Apesar dos estudos não serem conclusivos
A diminuição da TMB relacionada com a idade quanto à relação entre o condicionamento físi-
foi reconhecida já por Harris & Benedict (1919), co e TMB, especula-se que a prática de ativida-
ao documentarem uma correlação negativa de física regular possa aumentar a TMB em
entre TMB e idade para homens (r = -30) e mu- conseqüência da adaptação crônica ao exercí-
l h e res (r = -20) fato que fez os autores incluí- c i o, visto que foi encontrada uma corre l a ç ã o
rem a idade na equação de predição para corri- positiva entre a TMB e o consumo máximo de
.
gir os valores estimados. oxigênio ( V O 2 máximo) (Bu rke et al.,1993). O
O declínio da TMB com a idade parece ser aumento na T M B, no entanto, parece ocorre r
.
um reflexo das alterações na composição cor- apenas em atletas altamente treinados, i.e., VO 2
poral que ocorrem com o envelhecimento, tais máximo ≥ 70ml.kg -1 . m i n-1 ( Poehlman et al.,
como a diminuição da massa muscular e o au- 1988a) já que em indivíduos não atletas sub-
mento da massa de gord u ra, sem, apare n t e- metidos a treinamento físico com duração va-
m e n t e, modificação na massa visceral. Tz a n- riando entre 9 e 20 semanas, não foram eviden-
koff & Norris (1977) evidenciaram um decrésci- ciadas alterações significativas na TMB quan-
mo do consumo de oxigênio que foi proporcio- do expressa em relação à massa livre de gordu-
nal à diminuição da massa muscular em ho- ra (Bingham et al., 1989; Broeder et al., 1992;
mens para cada década após os 45 anos de ida- Wilmore et al., 1998).
de. Este achado foi, posteriormente, confirma- É import a n t e, então, quando se pre t e n d e
do por um estudo longitudinal no qual fora m medir a TMB, que os indivíduos sejam orienta-
acompanhados 355 homens por 26 anos (Tzan- dos a manter as suas atividades cotidianas e a
koff & No r ri s, 1978). Mais recentemente, Piers evitar qualquer tipo de atividade física intensa
et al. (1998) questionam se a redução na T M B durante o dia que precede o teste, com o intui-
com o envelhecimento seja causada, exclusiva- to de anular qualquer efeito agudo do exercício
m e n t e, pela redução da quantidade de massa na T M B. Du rante a medição da taxa, o indiví-
livre de gordura ou se ocorrem alterações qua- duo sendo submetido à medição deve ser orien-
l i t a t i vas do tecido, visto que, a TMB expre s s a tado a permanecer re l a x a d o, assim como, in-
em função da massa livre de gord u ra ainda é f o rmado dos detalhes do procedimento para
menor em idosos comparativamente a adultos evitar a tensão proveniente do desconhecimen-
jovens. to do mesmo (Boothby & Sandiford, 1920).

• Atividade física • Dieta

Durante a atividade física há aumento do con- O aumento do consumo de oxigênio após a in-
sumo de oxigênio que pode manter-se por vá- gestão de alimentos já havia sido descrito por
rias horas após o término do exercício, elevan- L a voisier em seus estudos sobre o metabolis-
do o gasto energético no repouso. Este fenôme- mo no homem (King, 1924). Este aumento do

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MEDIÇÃO E ESTIMAT I VA DA TAXA METABÓLICA BASAL 807

gasto energético é devido ao processo de diges- picais era menor do que o de indivíduos de re-
tão, absorção e armazenamento dos nutrientes giões de climas frio e temperado. Esta consta-
ingeridos, principalmente a proteína, e recebe tação foi reforçada, segundo Almeida (1924),
o nome de termogênese induzida pela dieta ou pelos achados de Mo n t o ro que encontrou va-
efeito térmico dos alimentos, ou ainda, ação l o res de TMB 15,8 e 12,9% menores do que os
dinâmica específica dos alimentos (FAO/WHO/ estimados pela equação de Ha r ris & Be n e d i c t
UNU, 1985). (1919) para homens e mulheres cubanos.
Relatos do começo do século XX (Bo o t h by Ou t ros estudos apoiaram a idéia de que o
& Sandiford, 1920) indicavam um aumento de metabolismo basal de indivíduos das re g i õ e s
46% na produção de calor após ingestão de t ropicais era menor do que em climas tempe-
uma refeição rica em proteínas, efeito que per- ra d o s. Galvão (1948) mediu a TMB em cin-
manecia por cerca de 12 horas. Isto poderia su- qüenta homens residentes em São Paulo (cida-
g e rir que a T M B, em indivíduos ve g e t a ri a n o s, de localizada sobre o Trópico de Capricórnio) e
fosse menor pela pequena ingestão pro t é i c a , constatou va l o res menores quando compara-
hipótese que foi utilizada para explicar as dife- dos a de homens nort e - a m e ricanos de massa
renças de TMB encontradas entre indianos e c o r p o ral semelhante. As diferenças va ri a ra m
europeus e norte-americanos (Soares & Shetty, entre 5 a 12% havendo uma tendência a dimi-
1988). Entretanto, Harris & Benedict (1919) não nuir com o aumento da massa corporal. Ma i s
o b s e rva ram diferenças significativas de T M B re c e n t e m e n t e, uma análise de dados de T M B
e n t re ve g e t a rianos e não ve g e t a rianos e, mais em indivíduos residentes em países tro p i c a i s
recentemente, Poehlman et al. (1988b) eviden- obtidos da literatura (Henry & Rees, 1991) de-
c i a ram o mesmo, o que parece indicar que o monstrou que os valores medidos eram em mé-
efeito no metabolismo se re s t ringe a pouco dia 8% menores do que os estimados pela equa-
tempo após a ingestão protéica. ção de Schofield (1985) que foi deri vada de
Com o objetivo de avaliar a influência tar- uma amostra composta, pri n c i p a l m e n t e, por
dia da ingestão protéica no metabolismo basal, europeus e norte-americanos.
Soares et al. (1988) conduziram um estudo em Em contraposição a estes achados, crescem
homens que receberam dietas iso-energéticas as evidências de que não existem difere n ç a s
por três dias, porém com quantidades diferen- e n t re a TMB em indivíduos vivendo em dife-
ciadas de proteína (0,9; 1,2 e 1,5g/kg/dia) para rentes regiões climáticas. Lawrence et al. (1988)
cada dia, com a TMB sendo medida no dia se- não evidenciaram diferenças significativas en-
guinte, após 12 horas de jejum. Os autores não t re a TMB medida em mulheres da Escócia,
o b s e rva ram nenhum efeito da dieta sobre a Gâmbia e Tailândia que apresentavam va l o re s
TMB. Estas evidências sugerem que não há ne- de massa livre de gord u ra semelhantes. Da
cessidade de padronização da dieta no dia que mesma forma, não foram encontradas diferen-
p recede a medição da T M B, porém o jejum é ças entre a TMB de indianos e nort e - a m e ri c a-
fundamental pois a presença do alimento no nos, quando as comparações foram realizadas
trato gastrointestinal eleva o gasto energético com base em dados pareados para idade e mas-
pela ação dinâmica dos alimentos. Um intervalo sa corporal (Soares et al., 1993). Em um estudo
de 12 horas parece ser suficiente para que o pro- longitudinal (até seis meses) comparativo entre
cesso de digestão esteja finalizado (Bu r s z t e i n recém-imigrados à Inglaterra e nativos, Hayter
et al., 1989) e, desta forma, não afete a TMB. & Henry (1993) não encontraram diferença sig-
nificativa entre os grupos na taxa expressa em
• Clima relação à massa corporal.
Talvez a interpretação quanto a diferenças
O clima foi durante muito tempo, utilizado pa- da TMB entre indivíduos residentes em países
ra explicar as diferenças encontradas entre a tropicais e temperados tenha sido equivocada
TMB de populações residentes em difere n t e s por ser baseada, principalmente, na compara-
regiões do mundo, baseado, fundamentalmen- ção entre valores medidos e estimados por pa-
t e, em estudos realizados na pri m e i ra metade drões ou equações deri vadas de europeus e
do século XX. Almeida (1919, 1920) publicou os norte-americanos e não, necessariamente, en-
dados de TMB medidos em vinte homens bra- tre indivíduos com características semelhantes
s i l e i ro s, residentes no Rio de Ja n e i ro, eviden- de idade, massa corporal e composição corpo-
ciando que os va l o res encontrados foram em ral. Além disso, há evidências de que as equa-
média 20% menores do que o valor de homens ções de Harris & Benedict (1919) assim como a
n o rt e - a m e ri c a n o s. A partir destes estudos, o de Schofield (1985) também superestimam a
autor concluiu que o metabolismo basal de in- TMB em nort e - a m e ricanos e europeus (Clark
divíduos nascidos e residentes em regiões tro- & Hoffer, 1991; de Boer et al., 1988) indicando

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808 WAHRLICH, V. & ANJOS, L. A.

desta forma, possíveis problemas relacionados agudo do gasto energético decorrente do con-
às próprias equações, fazendo com que estas sumo de cigarros.
não fossem adequadas para apontar diferenças
e n t re indivíduos submetidos a diferentes cli- • Ciclo menstrual
mas. Desta maneira, parece que a melhor for-
ma para se ve rificar possíveis diferenças de A investigação sobre a existência de uma perio-
TMB em função do clima seja comparar os va- dicidade da TMB em função do ciclo menstrual
lores obtidos com um grupo controle pareado é de interesse científico desde o início do sécu-
para idade, gênero, massa corporal e composi- lo XX. Snell et al. (1920) referiram um aumento
ção corporal e, se possível, que a TMB tenha si- médio de 10% na TMB em dez mulheres no pe-
do medida utilizando-se a mesma metodologia. ríodo pré-menstrual e durante a menstruação,
Recentemente, Wahrlich & Anjos (2000) en- seguido de um declínio no período pós-mens-
contraram valores de TMB em 45 mulheres jo- trual. Porém, vários estudos conduzidos poste-
vens de Po rto Alegre, Rio Grande do Sul (30 o riormente não evidenciaram nenhuma altera-
01’59” Sul e 51 o13’48” Oeste) iguais aos descri- ção significativa da TMB durante o ciclo mens-
tos para mulheres da mesma idade vivendo no t rual ( Wi l t s h i re, 1921) a não ser um pequeno
Rio de Ja n e i ro (22 o53’ Sul e 43 o06’13” Oe s t e ) declínio dos va l o res durante a menstru a ç ã o
descritos por Cruz et al. (1999). Cabe ressaltar ( Benedict & Finn, 1928; Blunt & Dye, 1921;
que ambos os estudos utilizaram os mesmos Hitchcock & Wardwell, 1929). Apesar das con-
e q u i p a m e n t o s, seguindo o mesmo pro t o c o l o. clusões dive rg e n t e s, os dados de estudos con-
Assim, parece que as diferenças climáticas, re- duzidos durante a década de 20, concordavam
gionais e, talvez, étnicas não parecem influen- no aspecto que se re f e re à observação de um
ciar o metabolismo basal. aumento da TMB no período pré-menstru a l
que poderia estar vinculado à ovulação (Hitch-
• Tabagismo cock & Wardwell, 1929).
Mais re c e n t e m e n t e, Solomon et al. (1982)
Ge ra l m e n t e, o grupo de indivíduos fumantes m e d i ram a TMB num grupo de seis mulhere s
a p resenta uma massa corporal média menor durante as fases folicular e luteal que foram de-
quando comparada a de não fumantes (Wack & terminadas a partir da duração do ciclo mens-
Rodin, 1982). A menor massa corporal poderia t rual de cada mulher. A TMB em cinco delas
ser explicada por alterações no gasto energéti- va riou significativamente durante o ciclo
co que seriam induzidas por um aumento da menstrual, sendo observado um aumento dos
TMB, em função do tabagismo ou pelo próprio valores na fase luteal do ciclo, confirmando as-
efeito térmico do fumo (Dalloso & James, 1984). sim, os achados prévios que indicavam um au-
A nicotina contida no cigarro parece elevar mento no período pré-menstrual. Bisdee et al.
a TMB, visto que a inalação isolada desta subs- (1989) também observaram um aumento brus-
tância por fumantes, resulta em aumento de co da TMB entre a fase folicular tardia e a fase
6% nos va l o res medidos (Pe rkins et al., 1989). luteal inicial. O aumento da TMB poderia ser
Em outro estudo, o consumo de um cigarro cau- atribuído, em parte, a alterações dos níveis de
sou um aumento de 3% da TMB em relação ao p ro g e s t e rona que eleva a produção de calor
grupo controle, aumento que permaneceu por c o r p o ral, já que a secreção deste horm ô n i o
trinta minutos (Dalloso & James, 1984). Foi evi- coincide com as alterações observadas na TMB
denciado que o efeito dos cigarros consumidos (Solomon et al., 1982). Entretanto, outros estu-
ao longo do dia persiste durante a noite (War- dos não evidenciaram diferenças significativas
wick & Busby, 1993) não afetando, entretanto, a e n t re as fases do ciclo menstrual (Piers et al.,
TMB medida na manhã seguinte. Mais re c e n- 1995; Tai et al., 1997).
t e m e n t e, Wa rwick et al. (1995) não encontra- Outro aspecto que deve ser considerado é o
ram evidência para um efeito crônico do fumo p o s s í vel efeito na TMB de mulheres usuári a s
em qualquer dos componentes do gasto ener- de anticoncepcional oral. Cu rtis et al. (1996)
gético diário em indivíduos fumantes, em pe- observaram valores de TMB mais estáveis du-
ríodos de fumo e de não fumo (4 a 8 semanas) rante todo o ciclo menstrual em mulheres que
avaliados num calorímetro respiratório. usaram anticoncepcional oral. Entretanto, Dif-
Desta forma, parece ainda existir contro- fey et al. (1997) mostraram que mulheres usuá-
vérsias sobre a inter-relação entre o tabagismo rias de anticoncepcional oral tinham a T M B
e o aumento do gasto energ é t i c o. En t re t a n t o, maior em, aprox i m a d a m e n t e, 5% do que mu-
apesar de existir um efeito agudo da nicotina e l h e res não usuárias do mesmo medicamento
do fumo sobre a TMB, a abstinência de 12 ho- com as mesmas características físicas e de com-
ras pode ser suficiente para anular o aumento posição corporal. Desta forma, nas mulhere s

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MEDIÇÃO E ESTIMAT I VA DA TAXA METABÓLICA BASAL 809

em idade fértil não usuárias de anticoncepcio- zer com que o indivíduo durma ou fique impa-
nal oral, parece haver uma maior variabilidade ciente.
da TMB resultante da influência do ciclo mens- A temperatura do ambiente também é im-
t rual. Co n t u d o, esta va riação pode ser muito portante na medição de TMB, visto que a tem-
pequena em relação às flutuações diárias cau- p e ra t u ra acima ou abaixo da zona térmica de
sadas por outros fatores (Solomon et al., 1982). neutralidade, citada por Henry & Emery (1986)
As discrepâncias entre estudos fazem com que como sendo de 25 a 26 oC, aumenta o gasto
seja re c o m e n d á vel a padronização quanto ao energético através do suor ou tremor para man-
período do ciclo menstrual em que serão reali- ter a temperatura corporal constante (Bursztein
zadas as medições de TMB. Este procedimento et al., 1989). Um estudo em mulheres submeti-
permite a comparação da TMB entre as mulhe- das à calori m e t ria direta durante trinta hora s
res, evitando possíveis diferenças decorrentes avaliou os efeitos da temperatura no gasto ener-
do efeito do ciclo menstrual sobre os va l o re s gético e TMB em duas ocasiões com as mulhe-
medidos. res vestidas com uma roupa fina de algodão
(Dauncey, 1981). Foi evidenciado um aumento
• Ambiente do teste de cerca de 11% nos valores de TMB quando as
mulheres permaneceram no calorímetro direto
As medições de TMB devem ser realizadas após com tempera t u ra de 22 oC (tempera t u ra sufi-
uma noite de sono (Bursztein et al., 1989) e, de ciente para evitar o tremor) em relação aos va-
preferência, logo após o indivíduo acordar. Pa- l o res obtidos nas mesmas mulheres quando
ra se obter a medição imediatamente após acor- expostas a uma temperatura de 28oC.
dar seria necessário que o indivíduo dormisse Em ambientes em que a tempera t u ra está
no laboratório ou então, o pesquisador se des- abaixo da zona de neutralidade o uso de roupa
locasse até a residência do indivíduo. Ambas as adequada pode ser suficiente para evitar o au-
s i t u a ç õ e s, entre t a n t o, são artificiais e podem mento do gasto energético devido ao efeito tér-
interferir nos resultados. O fato de dormir num mico do frio que produz o tremor e o eri ç a-
ambiente e cama diferentes pode afetar a qua- mento dos pêlos corporais.
lidade do sono alterando os va l o res de T M B
(Turley et al., 1993) e o mesmo poderia ocorrer
pela expectativa do indivíduo em receber o pes- Equações de predição:
quisador em casa. Alternativamente, e o que é descrição e validade
realizado na maioria dos estudos, os indiví-
duos dormem em suas residências e são ins- Na litera t u ra são encontradas diversas equa-
truídos a se deslocarem até o laboratório com ções de predição da TMB. Na Tabela 1 são apre-
o mínimo de esforço. Apesar de Be rke et al. sentadas as equações de Ha r ris & Be n e d i c t
(1992) terem observado um aumento de 8% na (1919), Schofield (1985), FAO/WHO/UNU (1985)
TMB dos indivíduos que passaram a noite em e Henry & Rees (1991), o número de indivíduos
casa e se deslocaram até o labora t ó ri o, outro s cujos dados foram usados na derivação das res-
estudos não evidenciaram diferenças significa- p e c t i vas equações, assim como o coeficiente
tivas entre os valores obtidos quando os indiví- de determinação (R 2) para cada uma delas. Ob-
duos passaram a noite em casa e se deslocaram servando as equações, é digno de nota que, ge-
até o local em que seria realizada a medição, do ralmente: (1) existem mais dados para homens
que quando dormiram no próprio labora t ó ri o do que para mulheres; (2) os R 2 são maiore s
( Bandini et al., 1995; Fi g u e ro a - Colon et al., para os homens; e (3) os R2 são baixos, princi-
1996; Turley et al., 1993). palmente para as equações nos indivíduos
Contudo, a medida da TMB só deve ser ini- após os 18 anos de vida.
ciada após um período de repouso para dimi- As pri m e i ras equações foram publicadas
nuir qualquer efeito da atividade física recente, em 1919 por Ha r ris & Benedict, deri vadas de
como o ato de ve s t i r- s e, dirigir ou caminhar. uma amostra composta por 136 homens, 103
Ha r ris & Benedict (1919) re c o m e n d a vam um mulheres e 94 crianças de origem norte-ameri-
período mínimo de trinta minutos. Po r é m , cana, considerados saudáve i s, e obtidos atra-
Bo o t h by & Sa n d i f o rd (1920) observa ram que vés de calorimetria indireta. Os dados utiliza-
não havia diferença entre os va l o res da T M B dos nas análises foram coletados no Laborató-
pelo repouso preliminar superior a vinte minu- rio de Nutrição do Ca rn egie Institution of Was-
tos e concluíram que este período seria ade- h i n g t o n e em outros labora t ó rios associados,
quado para atingir o nível basal se nenhum todos realizados com técnicas padronizadas e
exercício físico extremo precedesse o teste. Na em aparelhos semelhantes. As medidas foram
prática, um tempo maior do que este pode fa- feitas com os indivíduos em jejum de 12 horas,

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810 WAHRLICH, V. & ANJOS, L. A.

Tabela 1

Equações de predição da taxa metabólica basal, com o número amostral (n) e o coeficiente de determinação (R2 ),
propostas por Harris & Benedict (1919), Schofield (1985), FAO/WHO/UNU (1985) e Henry & Rees (1991).

Faixa Etária (anos) Gênero Equação n R2

Harris & Benedict (1919) (kcal/dia)


15 a 74 Masculino 66,4730 + 13,7516(MC) + 5,0033(E) – 6,7550(I) 136 0,7534*
15 a 74 Feminino 655,0955 + 9,5634(MC) + 1,8496(E) – 4,6756(I) 103 0,5337*
Schofield (1985) (MJ/dia)1
<3 Masculino 0,249(MC) – 0,127 162 0,9025***
Feminino 0,244(MC) – 0,130 137 0,9216
3 £ 10 Masculino 0,095(MC) + 2,110 338 0,6889
Feminino 0,085(MC) + 2,033 413 0,6561
10 £ 18 Masculino 0,074(MC) + 2,754 734 0,8649
Feminino 0,056(MC) + 2,898 575 0,6400
18 £ 30 Masculino 0,063(MC) + 2,896 2.879 0,4225
Feminino 0,062(MC) + 2,036 829 0,5329
30 £ 60 Masculino 0,048(MC) + 3,653 646 0,3600
Feminino 0,034(MC) + 3,538 372 0,4624
≥ 60 Masculino 0,049(MC) + 2,459 50 0,5041
Feminino 0,038(MC) + 2,755 38 0,4624
FAO/WHO/UNU (1985)** (MJ/dia)1
<3 Masculino 0,255(MC) – 0,226 0,9409***
Feminino 0,255(MC) – 0,214 0,9409
3 £ 10 Masculino 0,0949(MC) + 2,07 0,7396
Feminino 0,0941(MC) + 2,09 0,7225
10 £ 18 Masculino 0,0732(MC) + 2,72 0,8100
Feminino 0,0510(MC) + 3,12 0,5625
18 £ 30 Masculino 0,0640(MC) + 2,84 0,4225
Feminino 0,0615(MC) + 2,08 0,5184
30 £ 60 Masculino 0,0485(MC) + 3,67 0,3600
Feminino 0,0364(MC) + 3,47 0,4900
≥ 60 Masculino 0,0565(MC) + 2,04 0,6241
Feminino 0,0439(MC) + 2,49 0,5476
Henry & Rees (1991) (MJ/dia)1
3 £ 10 Masculino 0,113(MC) + 1,689 196 0,5625***
Feminino 0,063(MC) + 2,466 88 0,1681
10 £ 18 Masculino 0,084(MC) + 2,122 409 0,6400
Feminino 0,047(MC) + 2,951 233 0,3969
18 £ 30 Masculino 0,056(MC) + 2,800 1.174 0,3481
Feminino 0,048(MC) + 2,562 350 0,4489
30 £ 60 Masculino 0,046(MC) + 3,160 274 0,4356
Feminino 0,048(MC) + 2,448 98 0,5929

MC = massa corporal (kg); E = estatura (cm); I = idade (anos).


* calculado pelos autores.
** n não disponível.
*** calculado pelos autores a partir do R publicado.
1 Para converter em kcal, multiplicar o resultado por 239.

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MEDIÇÃO E ESTIMAT I VA DA TAXA METABÓLICA BASAL 811

em posição supina e em repouso muscular. Ca- escolhidas por serem mais simples de se obter
da indivíduo era submetido a várias medições e por terem significado fisiológico e prático em
com duração de 15 minutos cada e com um in- termos de quantidade de variação de TMB esti-
t e rvalo de vinte minutos entre elas. O menor mada, além de gerarem equações com erros de
valor de TMB era selecionado para análise por estimativa menores. Na computação das equa-
acreditar-se que este re p re s e n t a ria o metabo- ções finais o autor decidiu pelo uso de faixas
lismo mais próximo do basal para o indivíduo. etárias utilizadas previamente em outros estu-
As equações desenvolvidas, uma para cada se- dos (0 a 3; 3 a 10; 10 a 18; 18 a 30; 30 a 60 e > 60
xo, incluíram como va ri á veis independentes a anos) que representassem períodos com signi-
massa corporal, a estatura e a idade. ficado clínico na vida humana (Tabela 1).
Até hoje as equações de Ha r ris & Be n e d i c t Schofield (1985) propôs um modelo de
são utilizadas, principalmente, na prática clíni- equação que utilizava somente a massa corpo-
ca (Bursztein et al., 1989) para determinar os ral, visto que a introdução de outras va ri á ve i s
requerimentos energéticos de indivíduos com ( e s t a t u ra, área de superfície corporal) pouco
as mais diversas doenças. Entretanto, há vários melhoravam a estimativa da TMB, i.e., não au-
estudos que demonstram que estas equações mentavam substancialmente o valor de R2. Es-
são inadequadas para estimar a T M B. O pró- tas equações foram, posteriormente, adotadas
prio Benedict, menos de dez anos após a publi- pela OMS com uma pequena modificação, já
cação de suas pesquisas, já havia evidenciado que o banco de dados original de Schofield
que a equação de predição em mulheres geral- (1985) foi ampliado para 11.000 dados de TMB
mente fornecia uma estimativa superior ao va- ( FAO/WHO/UNU, 1985). En t re t a n t o, há evi-
lor medido e sugeriu que os valores estimados dências de que as equações propostas pela
pela equação fossem reduzidos em 5% (Bene- OMS não sejam adequadas para estimar a TMB
dict, 1928). Mais re c e n t e m e n t e, foi ve ri f i c a d o em indivíduos de diferentes partes do mundo
que em um grupo de mulheres americanas a (Cruz et al., 1999; Henry & Rees, 1991; McNeill
equação fornecia estimativas 14% superiores à et al., 1987; Piers & Sh e t t y, 1993; Piers et al.,
TMB medida (Owen et al., 1986) enquanto que 1997; Valencia et al., 1994; Wahrlich, 2000).
em homens a supere s t i m a t i va ficou em torn o Schofield (1985) em seu trabalho já apontava
de 9% (Clark & Hoffer, 1991; Owen et al., 1987). p a ra esta possível inadequação, visto que na
Em 1985, Schofield compilou os dados de tentativa de validar suas equações, ele próprio
TMB disponíveis até então, com o objetivo de ve rificou que quando elas foram aplicadas a
d e ri var equações de predição adequadas para uma amostra de indianos houve uma superes-
uso internacional e que seriam recomendadas t i m a t i va da TMB em torno de 11,2% para os
pelo Comitê da FAO/OMS para estimar as ne- homens e 9,9% para as mulheres. Nesta análi-
cessidade energéticas. Assim, Schofield (1985) s e, Schofield (1985) ressaltou que a TMB dos
juntou os dados de 114 estudos que foram con- indivíduos de países em desenvolvimento (Ín-
s i d e rados cientificamente adequados e sobre dia e China) era menor em termos absolutos,
os quais existiam um mínimo de dados re l e- assim como, por unidade de massa corpora l
vantes (idade, gênero, estatura e massa corpo- quando comparada a de indivíduos europeus e
ral). Apesar do rigor na seleção dos dados, o norte-americanos.
autor incluiu análises anteriormente realizadas Há evidências de que as equações da FAO/
em dados compilados, baseados em uma única WHO/UNU (1985) superestimam, também, a
a valiação e outros que eram a média de duas TMB em pessoas que vivem em zonas tempe-
ou mais medidas, além de alguns poucos (1,4%) radas (Clark e Hoffer, 1991; de Boer et al., 1988;
que eram o menor valor de TMB e outros sobre Piers & Sh e t t y, 1993; So a res et al., 1993). Um a
os quais não se tinha informações sobre o nú- análise detalhada do banco de dados utilizado
mero de avaliações. Através deste procedimen- por Schofield (1985) re vela que a maioria dos
to foi obtida uma amostra final de 7.173 indiví- indivíduos era italianos (50% da amostra) que
duos (4.809 homens e 2.364 mulheres) em sua a p re s e n t a vam TMB maior do que os demais
maioria de origem européia ou norte-america- g ru p o s, fato que pode ter introduzido viéses
na (He n ry & Re e s, 1991). Schofield (1985) tes- nas equações (Hayter & Henry, 1993). Além dis-
tou modelos de estimativa de TMB desenvolvi- so, pode ser que tenha se incorporado medidas
dos em estudos anteriores e explorou a relativa realizadas sem considerar as condições básicas
contribuição potencial de diferentes va ri á ve i s de jejum e repouso, resultando em valores mais
independentes (estatura e massa corporal) e elevados de TMB (Valencia et al., 1994).
medidas complexas construídas a partir destas As evidências de que a TMB era supere s t i-
(área de superfície corporal) além das informa- mada pela equação de Schofield (1985) princi-
ções de idade e gênero. Essas va ri á veis fora m palmente em regiões tro p i c a i s, fize ram com

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812 WAHRLICH, V. & ANJOS, L. A.

que Henry & Rees (1991) derivassem equações s u b e s t i m a t i va da TMB pelas re f e ridas equa-
de predição para indivíduos residentes nos tró- ções. Foi observado que em mulheres africanas
picos. Os dados foram obtidos a partir de estu- a equação da FAO/WHO/UNU (1985) subesti-
dos da TMB encontrados na literatura que pre- mou a TMB entre 4 a 10%. Uma explicação plau-
enchessem os seguintes critérios: a TMB deve- sível para tal fato seria decorrente de uma com-
ria ter sido medida sob condições padrão de posição corporal distinta, pois as mulheres afri-
repouso e jejum em indivíduos saudáveis; o canas, em comparação com as norte-america-
equipamento utilizado deveria ter sido descri- nas e européias, teriam uma menor proporção
to; e os dados de idade, gênero, massa corporal de tecido adiposo em relação à massa livre de
e estatura dos indivíduos tinham que estar dis- gordura (Lawrence et al., 1988).
p o n í ve i s. Ao final da seleção, foram re u n i d o s Por outro lado, dois estudos conduzidos na
2.822 dados de indivíduos de ambos os sexo s, Colômbia e Índia são contraditórios aos acha-
de diversas faixas etári a s, provenientes de re- dos para as populações vivendo nos trópicos.
giões tropicais como China, Ja p ã o, Ma l á s i a , Spurr et al. (1994) evidenciaram que a equação
Havaí, América do Sul e outros. Foram deriva- de Schofield foi adequada para estimar a TMB
das, então, equações de regressão para 6 faixas em 21 mulheres colombianas. Os autores espe-
etárias de cada sexo baseadas apenas na massa culam que tal resultado poderia ser explicado
c o r p o ral. Apesar destas equações forn e c e re m pelo fato destas mulheres re s i d i rem em uma
estimativas menores do que as obtidas pelas de altitude moderada que anularia o efeito de vi-
Schofield (1985) e da OMS (FAO / W H O / U N U , ve rem nos trópicos. O estudo conduzido em
1985) os va l o res por elas estimados pare c e m , homens e mulheres indianos afirma que as
ainda, superestimar a TMB em regiões tro p i- equações FAO/WHO/UNU são apropriadas pa-
cais como evidenciado em um grupo de ses- ra estimar a TMB (Ferro-Luzzi et al., 1997) e su-
senta indianas (4%; Piers & Shetty, 1993) e em gere que as diferenças entre raça, clima, dieta
cinqüenta universitárias do Rio de Janeiro (7%; ou estado nutricional parecem não modificar a
Cruz et al., 1999). TMB não invalidando, desta forma, o poder de
Uma análise de 16 estudos encontrados na p redição das equações da FAO / W H O / U N U .
l i t e ra t u ra sobre a validação das equações de Apesar da posição taxativa neste último estudo
Schofiled (1985) ou da FAO/WHO/UNU (1985) quanto às equações de predição da FAO/WHO/
através da calorimetria indireta, indica que em UNU, ainda são maiores as evidências de que
sua maioria (dez estudos, Tabela 2) a TMB era elas não seriam adequadas para uso intern a-
superestimada pelas equações. Essa caracterís- cional.
tica ocorreu tanto para grupos de indivíduos
residentes em regiões tropicais quanto tempe-
radas como América do Norte e Europa, sendo Conclusão
que para essas populações os estudos de vali-
dação são mais escassos. Os va l o res perc e n- A TMB é fundamental para a determinação da
tuais de superestimativa observados va ri a ra m necessidade energética de indivíduos e popu-
e n t re 2,2 e 13,5%, sendo que em estudos que l a ç õ e s, além disso é aplicada em estudos epi-
a va l i a ram ambos os sexos, as mulheres tende- demiológicos para validar as informações de
ram a ter valores percentuais de superestimati- ingestão alimentar e para se expressar o níve l
va menores quando comparados aos dos ho- de atividade física. Ge ra l m e n t e, a TMB é esti-
mens de mesma faixa etária. É importante fri- mada por equações de predição já que não
sar que esses são valores médios de superesti- existe grande disponibilidade de calorímetros
mativa e, que, mesmo nestes estudos, as equa- i n d i re t o s. A maioria dos estudos de va l i d a ç ã o
ções podem ser adequadas ou subestimarem a das equações de predição mostram uma inade-
TMB em alguns indivíduos. Por exemplo, Anjos quação das mesmas para a determinação da
et al. (1998) encontra ram supere s t i m a t i va de TMB em diferentes populações, apesar da ten-
TMB (média de 14%) em 80% das cinqüenta dência atual de se supor que não haja diferen-
m u l h e res jovens do Rio de Ja n e i ro avaliadas e ças entre a TMB de diversas populações no
subestimativa (média de 7,4%) nas outras dez mundo. As equações da FAO/WHO/UNU, indi-
m u l h e re s. Da mesma forma, Wahrlich (2000) cadas para uso internacional, tendem a supe-
concluiu que a TMB foi superestimada em 78% restimar a T M B, principalmente em popula-
das sessenta mulheres residentes em Porto Ale- ções de regiões tropicais, fato que tem sido ex-
gre avaliadas e subestimativa nas restantes. plicado pelo reconhecimento da inadequação
Os resultados dos outros seis estudos (Ta- do banco de dados usado na geração das equa-
bela 3) conduzidos em quase sua totalidade em ç õ e s, tornando sua utilização universal ques-
mulheres, indicaram adequação e, até mesmo, tionável. Sendo assim, permanece a necessida-

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MEDIÇÃO E ESTIMAT I VA DA TAXA METABÓLICA BASAL 813

Tabela 2

Estudos que demonstram que as equações para predição da Taxa Metabólica Basal sugeridas por Schofield (S)
e FAO/WHO/UNU, (F) superestimam os valores de TMB em populações residentes em regiões tropicais e temperadas.

Referência n Sexo Idade (anos) Superestimativa da TMB pelas equações Origem


Schofield (S) ou FAO/WHO/UNU (F)

McNeill et al. (1987) 58 M χ = 31 12,1% (F)a Índia


Soares & Shetty (1988) 123 M 18-30 9,3% (S) b Índia
Clark & Hoffer (1991) 29 M 18-33 8,2% (S) c Canadá
de Boer et al. (1988) 7 M 23-34 9,8% (F) b Europa*
8,8% (S) b
8 M 27-40 11,1% (F) b África*
9,8% (S)b
7 M 28-44 8,4% (F) b Ásia (M)*
6,9% (S) b
8 M 18-31 8,8% (F) b Ásia (C)*
8,4% (S) b
Henry & Rees, (1991) 1.174 M 18-30 10,3% (F) a Trópicos
274 M 30-60 11,2% (F) a
350 F 18-30 3,8% (F) a
98 F 30-60 9,7% (F) a
Piers & Shetty (1993) 60 F 18-30 9,2% (S)b Índia
52 F 18-30 4,1% (S) b América
do Nort e / E u ro p a
Valencia et al. (1994) 32 M 18-40 8,2% (F) d México
Piers et al. (1997) 39 M 18-30 5,6% (S) d Austrália
89 F 18-30 2,2% (S) d
Cruz et al. (1999) 50 F 19-27 12,5% (F) d Brasil
Wahrlich (2000) 60 F 20-40 12,9% (S) d Brasil
13,5% (F) d

* TMB medida na Holanda, com dados de europeus da Holanda, da França e Asiáticos (M) = de origem Mongol
(China, Samoa Oeste, Indonésia) Vietnã e (C) = de origem caucasiana (Sri Lanka e Bangladesh).
Cálculo do % da superestimativa da TMB: a não é mencionado; b (TMB estimada - TMB medida/TMB estimada) x 100;
c 100 - [(TMB medida/TMB estimada) x 100]; d (TMB estimada - TMB medida/TMB medida) x 100.

Tabela 3

Estudos onde houve adequação ou subestimativa do valor da Taxa Metabólica Basal pelas equações de predição,
sugeridas pela FAO/WHO/UNU em diversas populações.

Referência n Sexo Idade (anos) Subestimativa da TMB pelas equações Origem


Schofield (S) ou FAO/WHO/UNU (F)

Lawrence et al. (1988) 46 F 20-35 3,0% (F) 1 Escócia


47 F 20-35 10,0% (F)1 Gâmbia
Ferro-Luzzi et al. (1990) 22 F χ = 36 7,0% (F) 2 Etiópia
Schultink et al. (1990) 17 F χ = 33 4,0% (F) 1 República
de Benin
Spurr et al. (1994) 21 F 20-42 0% (S) 2 Colômbia
Ategbo et al. (1995) 34 F χ = 31 4,0% (F)2 República
de Benin
Ferro-Luzzi et al. (1997) 88 M 22-38 0% (F) 2 Índia
90 F 22-38 0% (F) 2

Cálculo do % da subestimativa da TMB: 1 [(TMB medida/TMB estimada) x 100] – 100. 2 não é mencionada forma de cálculo.

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814 WAHRLICH, V. & ANJOS, L. A.

de da coleta de dados de TMB em difere n t e s Agradecimentos


g rupos populacionais utilizando-se técnicas
padronizadas de medição, incluindo estimati- Os autores agradecem ao financiamento parcial do
vas da composição corporal, para que se possa, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
eventualmente, desenvolver equações a partir Tecnológico (Processo 301076/89-8), da Co o rd e n a-
ção de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Supe-
de um amplo banco de dados que seja cons-
rior (Processo 980466-7), do Fundo de In c e n t i vo à
truído com informações adequadas de TMB de Pesquisa e Eventos do Hospital de Clínicas de Po rt o
várias partes do mundo. A l e g re (Processo 990026) e da Fundação de Apoio à
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