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Determinação de Momentos de Inércia Usando

um Método Oscilatório
1
Francisco Rocha
1
Departamento de Fı́sica e Astronomia, Faculdade de Ciências,
Universidade do Porto

31 de agosto de 2021

Resumo
Neste trabalho experimental determinou-se a constante caraterı́stica
de um sistema oscilatório, verificou-se o teorema de Steiner para pequenas
distâncias entre o eixo de simetria e o eixo de rotação e determinou-se o
momento de inércia de um cilı́ndro oco e de um cilı́ndro maciço.

1 Introdução
O momento angular de uma partı́culo em relação a um ponto é dado por:
~ = ~r × p~ = m(~r × ~v )
L (1)

onde ~r é o vetor posição e p~ é o momento linear.


Considere-se agora um sistema rı́gido com N partı́culas em movimento cir-
cular (a velocidade é perpendicular ao vetor posição) em torno de um eixo O.
Por se tratar de um sistema rı́gido, todos os pontos têm a mesma velocidade
angular, ω ~ , com direção perpendicular ao plano em que as partı́culas se situam
(paralela ao eixo O). O momento angular neste caso é dado por:
N
X N
X
~ =
L ri × v~i ) =
mi (~ mi ri2 ω
~ (2)
i=1 i=1

Define-se o momento de inércia desse sistema relativamente ao eixo O como:


N
X
IO = mi ri2 (3)
i=1

A equação 3 pode ser generalizada para um sólido rı́gido considerando pe-


quenos elementos de massa do sólido, ∆mi . No limite em que ∆mi → 0, o
somatório passa ao integral sobre o volume do sólido e tem-se[1]:
X Z Z
IO = lim ri2 ∆mi = r2 dm = ρr2 dV (4)
∆mi →0 V V
i

1
O momento angular passa a poder ser expresso da seguinte maneira:
~ = IO ω
L ~ (5)
É de notar que momento de inércia ”mede”a dificuldade de variar a veloci-
dade angular de um sólido ou sistema de partı́culas e que não depende apenas
da massa, mas também da distância ao eixo de rotação[1].
Para um corpo ou sistema rı́gido entrar em movimento de rotação é ne-
cessário a existência de torque criado por uma ou mais forças externas. O
torque criado por uma força F~ é dado por:
~
dL
~τ = I α
~= (6)
dt
d2 θ
onde α
~ é a acelaração angular (α = dt2 ).

1.1 Momento de Inércia a partir do Perı́odo de Oscilação


Se considerar-se um sistema oscilatório, onde, quando se roda o sistema um
ângulo θ em torno do eixo O, atua um torque proporcional ao ângulo de rotação:

τ = −Dθ (7)
onde D é uma constante que depende das caraterı́sticas do sistema[2], a equação
do movimento desse sistema é:
d2 θ D
Iα = −Dθ ⇒ =− θ (8)
dt I
A equação 8 corresponde à equação de um movimento harmónico simples de
frequência:
D D 2
Ω2 = ⇒I= T (9)
I 4π 2

1.2 Teorema de Steiner


O momento de inércia de um eixo Z paralelo ao eixo de simetria (eixo que passa
pelo centro de massa), pode ser calculado usando o Teorema de Steiner, também
conhecido como Teorema dos Eixos Paralelos, que define a seguinte relação:
IZ = IO + M d2 (10)
onde M é a massa total do sistema e d é a distância entre o eixo Z e o eixo de
simetria, O[3].

2 Experiência
2.1 Material Usado
– 2 massas;
– 1 vareta;
– Base de suporte com mola associada;
– Fotogate ligado a um contador de tempo de oscilações;
– 2 cilindros de diferentes materiais e dimensões.

2
2.2 Procedimento Experimental
2.2.1 Determinar a constante D do Sistema
1. Registou-se o valor das massas (m1 e m2 ) e da vareta e o comprimento da
vareta (L);
2. Realizou-se a montagem da figura 2.1, garantindo que d1 = d2 ;

Figura 2.1: Montagem Experimental: 1-Fotogate; 2-Base de Suporte com


Mola.

3. Seleciou-se o modo do contador de oscilção que regista o tempo corres-


pondente a um perı́odo de oscilação;
4. Alinhou-se o sistema para a posição de equilı́brio;

5. Rodou-se o sistema um ângulo de 90◦ no sentido direto, largou-se a vareta


e registou-se o perı́odo de oscilação, TD . Repetiu-se a medição de TD ;
6. Repetiu-se o ponto 5, desta vez rodando o sistema 90◦ no sentido inverso,
resgistando o perı́odo de oscilação no sentido inverso TI ;

7. Realizou-se os passos 4-6 para diferentes distâncias ao eixo de rotação


(garantindo sempre que d1 = d2 ).

2.2.2 Verificar o Teorema de Steiner


Para verificar o Teorema de Steiner é preciso fazer com que a distância da massa
m1 , d1 , ao eixo de rotação seja diferente da distância da massa m2 , d2 . Para
tal:

1. Fixou-se a massa m2 na vareta e registou-se a distância d2 ; e


2. Para diferentes posições da massa m1 registou-se a distância d1 e os
perı́odos de oscilação no sentido direto e indireto executando os 4 a 6
do procedimento descrito na secção 2.2.1.

3
Figura 2.2: Esquema das grandezas medidas para verificar o Teorema de
Steiner[2].

A distância entre o eixo de rotação e o eixo de simetria é dada por:

|d1 − d2 |
d=
2

2.2.3 Determinar o Momento de Inércia de Sólidos


Escolheram-se 2 sólidos (um cilindro oco e um cilindro maciço) para determinar
experimentalmente os seus momentos de inércia. Para tal, para cada um dos
cilindros:

1. Resgitou-se a sua massa e diâmetro;

2. Trocou-se a vareta pelo sólido e registou-se os perı́odos de oscilação no sen-


tido direto e indireto realizando os passos 4-6 do procedimento da secção
2.2.1.

2.3 Resultados Experimentais e Análise


2.3.1 Determinação da Constante D do Sistema
Os dados registados durante o procedimento descrito na secção 2.2.1 estão nas
tabelas 2.1 e 2.2.

L (m) m1 (kg) m2 (kg) mvareta (kg)


±0,0005 ±0,0001 ±0,0001 ±0,0001
0,6087 0,2118 0,2103 0,1769

Tabela 2.1: Registo da massa das massas 1 e 2, da massa da vareta e do


comprimento da vareta.

4
d1 = d2 (m) TD (s) TI (s)
±0,0005 ±0,001 ±0,001 T (s) T 2 (s2 ) I 0 (kg m2 )

7,320 7,339
0,2520 7,332 7,339 7,333 53,77 0,03227

6,040 6,047
0,2000 6,034 6,045 6,042 36,50 0,02235

4,730 4,731
0,1430 4,728 4,735 4,731 22,38 0,01409

3,705 3,709
0,0940 3,703 3,710 3,707 13,74 0,009192

2,959 2,964
0,0460 2,958 2,964 2,961 8,769 0,006355

3,255 3,263
0,0685 3,255 3,263 3,259 10,62 0,007443

5,330 5,337
0,1700 5,328 5,339 5,334 28,45 0,01766

7,729 7,746
0,2680 7,734 7,750 7,740 59,90 0,03578

Tabela 2.2: Dados obtidos a partir do procedimento da secção 2.2.1.

O momento de inércia I 0 é obtido a partir da seguinte expressão que resulta


de uma adaptação da equação 3:
1
I 0 = m1 d21 + m2 d22 + mvareta L2
12
De acordo com a equação 9, I 0 deve variar linearmente com o quadrado do
perı́odo de oscilação. Esta relação entre os dados obtidos experimentalmente
pode ser observada na imagem 2.3, juntamente com a a reta que melhor se
ajusta aos dados.

Figura 2.3: Momento de inércia do sistema em função do quadrado do perı́odo


de oscilação e o respetivo ajuste linear.

5
Os parâmetros de ajuste que melhor se adequam aos dados experimentais
são: m = 0, 000576 ± 0, 000001 e b = 0, 00129 ± 0, 00003. O ajuste obtido
para os dados experimentais é bastante satisfatório, dado que o coeficiente de
determinação, R2 , é 1,0000, o erro padrão da estimativa das ordenadas, σy , é
4, 3832 × 10−5 e todos os resı́duos relativos são inferiores a 0,006 (0,6%) (figura
A.1).
A partir da equeção 9 pode-se relacionar a constante do sistema D com o
declive do ajuste linear através da seguinte relação:
D
m= ⇒ D = 0, 02274 kg m2 s−2
4π 2
A incerteza da constante D é dada por:

u(D) = 16π 2 u(m) = 0, 00004

Com base no valor de D, pode-se calcular o momento de inércia do sistema, I


usando a equação 9 e determinar o desvio relativamente a I 0 , dado por desvio =
|I 0 − I|. Pode-se ver a o desvio em função de T 2 na figura 2.4 ou na tabela A.1
do apêndice A.

Figura 2.4: Desvio de I relativamente a I 0 em função de T 2 .

Do gráfico da figura 2.4 verifica-se que o desvio é mais ou menos constante,


aproximadamente 0,00130 que, como era de esperar, coincide com a o valor
obtido para a ordenada na origem no ajuste. Este desvio pode dever-se a um
mau alinhamento do centro de massa da vareta com o eixo de rotação e, nesse
caso, de acordo com o teorema de Steiner, esse valor corresponde ao produto da
massa da vareta com a distância ao quadrado do centro de massa da vareta ao
eixo de rotação.

2.3.2 Verificação do Teorema de Steiner


Para verificar o teorema de Steiner foram usadas as mesmas massas e a mesma
vareta que foram usadas para determinar a constante D do sistema, pelo que os
dados da tabela 2.1 são válidos para a verificação do teorema. Os dados obtidos
através do procedimento descrito na secção 2.2.2 para a verificação do teorema
podem ser vistos na tabela A.2 no apêndice A.

6
A partir dos dados experimentais pode-se estimar o momento de inércia do
sistema relativamente ao eixo de simetria usando a seguinte expressão:
1
IO = m1 |d1 − d|2 + m2 |d2 − d|2 + mvareta L2
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Também se pode determinar o momento de inércia relativamente ao eixo de
rotação usando a equação 9 e também usando o teorema de Steiner (equação
10). Assim, pode-se verificar o teorema de Steiner comparando os valores obtidos
para os momentos de inércia relativos ao eixo de rotação pelos dois métodos.

0
|IZ −IZ |
d (m) T 2 (s2 ) IZ (kg m2 ) IZ0 = IO + M d2 |IZ − IZ0 | IZ

0,08025 40,41 0,02327 0,01699 0,00629 0,270

0,06135 32,35 0,01864 0,01425 0,00439 0,235

0,04875 27,03 0,01557 0,01283 0,00274 0,176

0,03000 21,86 0,01259 0,01131 0,00127 0,101

0,01700 18,71 0,01078 0,01069 0,00009 0,009

0,00675 16,84 0,009698 0,01043 0,00074 0,076

0,02215 13,52 0,007790 0,007672 0,000118 0,0152

0,03550 12,72 0,007326 0,007323 0,000003 0,0004

Tabela 2.3: Comparação entre o momento de inércia do sistema relativamente


ao eixo de rotação usando o teorema de Steiner e usando o perı́odo de
oscilação.

Analisando a tabela 2.3 vê-se que o desvio de IZ relativamente a IZ0 (última


coluna) toma pequenos valores para d pequeno, mas conforme d aumenta, o
desvio também aumenta, como se pode ver na figura 2.5, pelo que apenas só foi
possı́vel verificar o teorema de Steiner para valores muito pequenos de d.

7
Figura 2.5: Desvio percentual de IZ0 relativamente a IZ em função de d.

Este aumento do desvio relativo com a distância d deve-se ao facto de se


ter considerado para o cálculo do momento de inércia relativamente ao eixo de
simetria do sistema, IO , que o centro de massa da vareta coincidia com o eixo de
simetria do sistema. Durante a experiência a vareta estava centrada com o eixo
de rotação do sistema, ou seja, o momento de inércia do vareta considerado para
o cálculo de IO é relativamente ao eixo de rotação em vez do eixo de simetria.
Logo, considerando o teorema de Steiner válido, o valor real de IO (IOreal ) seria
igual ao valor obtido para IO mais mvareta d2 . Para pequenos valores de d, o
fator mvareta d2 é bastante pequeno e IOreal ≈ IO , mas conforme o valor de d
aumenta este mesmo fator começa a tomar valores consideráveis e IOreal > IO ,
pelo que, o erro começa a aumentar.

2.3.3 Determinação do Momento de Inércia de Alguns Sólidos


O momento de inércia dos dois cilindros escolhidos foi determinado relativa-
mente ao eixo perpendicular às suas bases e que passa pelo centro de massa.
O primeiro cilindro a ser estudo foi o cilindro oco. Na tabela 2.4 estão
listadas as principais caraterı́sticas e os perı́odos de oscilação deste cilindro.

m (kg) d (m) TD (s) TI (s) T (s)


± 0,0001 ± 0,00005 0,001 0,001 0,001 T 2 (s2 )

1,170 1,170
0,3632 0,10005 1,170 1,170 1,170 1,369

Tabela 2.4: Massa, dimensões e perı́odo de oscilação do cilindro oco.

O sistema oscilatório usado é mesmo durante toda a experiência, por isso, a


constante D será a determinada na secção 2.3.1.
O momento de inércia do cilindro oco é dado por:
D 2
I= T = 0, 000788 kg m2
4π 2
A incerteza do momento de inércia é dada por:
s 2 2 r
T4 2 DT 2 2

∂I ∂I
u(I) = u2 (D) + u2 (T ) = 4
u (D) + u (T )
∂D ∂T 16π 4π 4

8
u(I) = 0, 000009
O momento de inércia do cilindro oco é:

I = (7, 88 ± 0, 09) × 10−4 kg m2

O momento de inércia de um cilindro oco (casca cilı́ndrica) também é dado


por:
 2
d
I=m = 9, 089 × 10−4 kg m2
2
Os dois valores podem ser comparados determinando o desvio percentual.
Note-se que o valor de referência é 9, 089 × 10−4 kg m2

9, 089 × 10−4 − 7, 88 × 10−4


%desvio = × 100 = 13, 3%
9, 089 × 10−4
Seguidamente fez-se o mesmo estudo para um cilindro maciço. O registo das
principais caraterı́sticas e perı́odos de oscilação estão na tabela 2.5.

m (kg) d (m) TD (s) TI (s) T (s)


±0,0001 ±0,00005 ±0,001 ±0,001 ±0,001 T 2 (s2 )

0,790 0,792
0,3736 0,09925 0,790 0,792 0,791 0,626

Tabela 2.5: Massa, dimensões e perı́odo de oscilação do cilindro maciço.

O cálculo do momento de inércia e da incerteza é o mesmo que se fez para


o cilindro oco. Assim, tem-se:

I = (3, 60 ± 0, 06) × 10−4 kg m2

O valor de referência do momento de inércia de um cilindro maciço pode ser


calculado da seguinte maneira:
 2
1 d
I= m = 4, 600 × 10−4 kg m2
2 2

O desvio percentual entre os dois valores é:

4, 600 × 10−4 − 3, 60 × 10−4


%desvio = × 100 = 21, 7%
4, 600 × 10−4
Estes elevados desvios dos momentos de inércia em relação aos valores es-
perados podem dever-se a um mau alinhamento do sistema ou do facto de o
movimento ser amortecido.

9
3 Conclusão
Neste trabalho experimental:
– determinou-se a constate D caraterı́stica do sistema, tendo-se obtido D =
0, 02274 ± 0, 00004 kg m2 s−2 ;

– verificou-se o teorema de Steiner para pequenos valores de d, sendo que


para maiores valores de d percebeu-se qual foi o possı́vel erro experimental
que impediu a verificação do teorema;
– determinou-se o momento de inércia para dois sólidos, um cilindro oco e
um cilindro maciço, tendo-se obtido (7, 88 ± 0, 09) × 10−4 kg m2 e I =
(3, 60 ± 0, 06) × 10−4 kg m2 , respetivamente. Em ambos os casos os devios
percentuais relativamente ao valor de referência para cilindros daquelas
dimensões foram bastantes elevados, 13,3% para o cilindro oco e 21,7%
para o cilindro maciço.

Referências
[1] Raymond A. Serway and Jr John W. Jewett. Principles of Physics - A
Calculus-Based Text. Brooks/Cole, fifth edition.
[2] Corpo Docente da UC FIS1005. Trabalho 5a: Determinação de momentos
de inércia utilizando um método oscilatório. 2020/2021.
[3] Jaime E. Villate. Dinâmica e Sistemas Dinâmicos. Fifth edition, 2019.

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A Tabelas e Gráficos Auxiliares

Figura A.1: Gráfico de resı́duos do ajuste linear da secção 2.3.1.

|I−I 0 |
T 2 (s2 ) I 0 (kg m2 ) I (kg m2 ) |I − I 0 | I0

53,77 0,03227 0,03097 0,00130 0,0403

36,50 0,02235 0,02102 0,00132 0,0592

22,38 0,01409 0,01289 0,00120 0,0853

13,74 0,009192 0,00791 0,001278 0,1390

8,769 0,006355 0,00505 0,001304 0,2052

10,62 0,007443 0,00612 0,001325 0,1780

28,45 0,01766 0,01638 0,00128 0,0723

59,90 0,03578 0,03450 0,00128 0,0356

Tabela A.1: Desvio de I relativamente a I 0 para T 2 e I 0 da tabela 2.2. I é


calculado usando a equação 9.

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d1 (m) d2 (cm) TD (s) TI (s)
± 0,05 ± 0,05 d (m) ± 0,001 ± 0,001
6,361 6,354
0,2685 0,1080 0,08025 6,355 6,356
5,692 5,687
0,2307 0,1080 0,06135 5,685 5,688
5,196 5,202
0,2055 0,1080 0,04875 5,196 5,204
4,658 4,683
0,1680 0,1080 0,03000 4,676 4,683
4,318 4,331
0,1420 0,1080 0,01700 4,323 4,332
4,102 4,106
0,1215 0,1080 0,00675 4,099 4,106
3,677 3,678
0,0637 0,1080 0,02215 3,677 3,678
3,565 3,568
0,0370 0,1080 0,03550 3,564 3,568

Tabela A.2: Dados obtidos a partir do procedimento da secção 2.2.2 para


verificação do teorema de Steiner

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