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Quinta de Vale de Lobos, 2 de Setembro de 2009

Caros Amigos e Companheiros

Caros companheiros candidatos a deputados

Minhas Senhoras e meus Senhores

Este é o primeiro acto público da candidatura à Assembleia da


República do PSD no Distrito de Santarém e decidimos realizá-lo
aqui, na Quinta de Vale de Lobos, na Azóia de Baixo, onde viveu e
morreu uma das figuras tutelares da liberdade portuguesa,
Alexandre Herculano.

Herculano lutou pela liberdade com as armas na mão, lutou pela


liberdade intervindo na acção política, lutou pela liberdade
exercendo funções públicas, lutou pela liberdade defendendo a
divulgação do saber, lutou pela liberdade dando-nos uma história
que se pretendia sem mitos nem milagres e, por isso, reforçava a
cidadania, lutou pela liberdade salvando a nossa memória do
passado e salvando livros, lutou pela liberdade escrevendo. Nós,
que aqui estamos no início de uma campanha eleitoral, na casa
onde se exilou e morreu, num Distrito que a sua figura marcou,
dificilmente poderíamos encontrar melhor exemplo e mentor.

Quando Herculano veio para Vale de Lobos estava profundamente


desgostoso com a política portuguesa. Disse-o: “Isto dá vontade
de morrer!” e afastou-se. Mas, como escreveu Ramalho Ortigão,
Alexandre Herculano fez muita falta a Portugal

O isolamento de Herculano no remanso estéril do


diletantismo bucólico comprometeu o destino mental de uma
geração inteira. Pelo intenso poder das suas faculdades
reflexivas, pela eminência do seu talento, pela autoridade da
sua palavra, pela popularidade do seu nome, pela reputação
nunca discutida da sua honestidade, ele era o homem
naturalmente indicado para assumir o pontificado intelectual
do seu tempo. A ausência dessa autoridade do espírito
sobre o espírito foi uma catástrofe para a geração moderna.
O nosso objectivo é que em Portugal nunca mais se dê
origem a situações como as que levaram homens como
Herculano a virem retirar-se em Vale de Lobos. Não é que a
actividade de Herculano aqui, ainda hoje continuada, seja menos
nobre ou digna. Herculano produzia azeite e havia no seu retiro
também uma homenagem à agricultura, aos feitos daqueles que
produzem, e à natureza que o acolhia. Mas o País, como Ramalho
insistia, precisava dele e ele não teve condições nem vontade de
regressar.

A figura tutelar de Herculano serve-nos bem para a campanha que


hoje iniciamos, porque a fazemos para que haja, para os nossos
compatriotas, seus filhos e seus netos, o Portugal que ele
desejava e não aquele que o levou a afastar-se. E, se no gesto
de Herculano, há alguma coisa que possamos aprender para os
dias de hoje, é que é necessário que compreendamos até que
ponto a nossa situação é má e ter o sentido de urgência que
essa situação justifica. Herculano teria hoje muita vontade de ir
para Vale de Lobos, mas nós viriamos cá buscá-lo, porque
sabemos muito bem a situação em que o País está e temos
sentido de urgência para a modificar.

O País está a afundar-se com muita rapidez e os maiores


responsáveis são o PS e, nos últimos anos, José Sócrates.
Muita gente que beneficia do poder socialista faz tudo para
ocultar esta realidade, mas, desde 1995, que Portugal é
governado pelo PS com excepção de pouco mais de dois
anos. Ou seja, o PS moldou as políticas governativas em 12
dos últimos 14 anos. Não há nada que possa iludir esta
realidade. Por muito que o PSD também tenha responsabilidades
na situação actual de Portugal, e algumas terá, ninguém as pode
comparar às do PS. Se o País empobreceu, se o País está cada
vez mais longe da Europa, se o País não cresce, se a
agricultura, a indústria, as empresas, as escolas, as
universidades, a justiça, a segurança social, a economia e a
sociedade, a cultura e o bem estar conhecem uma crise, a
responsabilidade primeira é do PS, com uma responsabilidade
acrescida por ter governado em dois momentos excepcionais, no
governo Guterres com uma das conjunturas internacionais mais
favoráveis, e no governo Sócrates, com uma maioria absoluta, um
Presidente responsável e uma oposição enfraquecida.
Quer num quer noutro caso, as oportunidades foram perdidas. Eu
não gosto da expressão, mas, do governo Guterres, após milhões
e milhões de contos (contos não euros) recebidos e que se
esfumaram sem se saber como, saiu-se de “tanga”, e do governo
Sócrates, pior porque a nossa dívida ultrapassa todos os limites
aceitáveis. Pior ainda, com Sócrates saímos zangados uns com os
outros, cansados da política, descontentes com a democracia,
sem esperança, com enormes custos sociais, sem destino,
confusos.

O PS desbaratou todas as oportunidades, porque as suas


opções governativas, a incompetência dos seus governantes,
as suas concepções do Estado e do exercício do poder eram
erradas e são erradas. Nas eleições que agora se vão realizar,
o PS vai de novo propor as mesmas políticas e naturalmente,
se ganhasse, continuaria o declínio de Portugal na
mediocridade e na pobreza. Se ganhasse as eleições, o que
aconteceria é que acabaria por se ir embora na atitude
daquele que sendo o último a sair, apaga a luz e fecha a porta.
Só que, conhecendo nós o PS, temos a certeza de que,
gastador como é, nem sequer fecharia a luz.

O Distrito de Santarém pagou e paga um preço elevado pela


governação socialista, porque muitos dos seus mais graves
problema estruturais e conjunturais tem a ver com as políticas
globais dos governos socialistas.

Paga-o na situação de impasse e crise de muitas pequenas e


médias empresas que não conseguem sobreviver ou o fazem com
muitos custos e com maior desemprego.

Paga-o na situação arruinada da agricultura, desprezada por este


Governo, que tratou os agricultores como se fossem malfeitores,
com uma enorme arrogância, retendo os financiamentos a que
tinham direito.

Paga-o nos custos de interioridade e na desertificação de alguns


dos seus concelhos, um dos melhores exemplos de como os
programas do PS não são para tomar a sério, visto que, - quem se
lembra?, - o PS passou anos a falar da desertificação do interior, e
agora agravou-a significativamente.
Paga-o pela incapacidade de fixar os mais novos, os mais
qualificados, que sem possibilidade de aqui encontrarem
emprego, vão procura-lo fora do Distrito ou no estrangeiro,
agravando a desertificação.

Paga-o pelo desemprego, uma condição gritante de desespero de


muitos homens e mulheres, que o PS sempre desvalorizou e que
é no Distrito mais elevado que a média nacional.. Um Governo
cuja única preocupação parece ter sido disfarçar os números reais
do desemprego, nunca será idóneo para o combater. E no Distrito
de Santarém muito do desemprego está disfarçado.

Paga-o pela crise do seu património, deixado ao acaso do tempo


e da ruína, desprezado por quem esquece nos seus
deslumbramentos tecnológicos de novo-rico, afinal bem pobre,
que é uma obrigação de todos garantir para as gerações futuras a
memória viva do passado.

*******

Meus senhores e minhas senhoras

Alexandre Herculano não acreditava nos milagres, acreditava na


capacidade concreta dos homens. O nosso objectivo é dar pois a
todos o antídoto da “vontade de morrer” de que Herculano falava.
E para isso é preciso mudar de Governo, porque é preciso
mudar as políticas, mudar o estilo de governar, ter uma ideia
diferente para Portugal.

E isso o PSD hoje, tem. Uma ideia diferente do Estado e do


Governo, uma ideia diferente da política.

Na verdade, os nossos socialistas são mais jacobinos do que


socialistas. Os socialistas hoje são jacobinos modernos,
convencidos que são donos do Estado e do País, e que são
melhores, mais racionais, mais progressistas do que todos os
outros. O que eles querem é encontrar no Estado uma ideologia
do poder, do seu próprio poder e fortalecer o poder do PS, o poder
da burocracia e dos interesses associados ao Estado, incluindo o
das empresas que vivem do acesso ao Estado e das benesses do
Estado, as únicas onde os socialistas se sentem bem. Vão assim,
pouco a pouco, impedindo uma verdadeira criação da riqueza pela
economia real, e desbaratando o trabalho dos portugueses a favor
de ideias gerais e abstractas que divinizam o Estado, de que se
consideram instrumento privilegiado. É por isso que nos
afastamos cada vez mais da Europa. Não é fatalidade é má
governação.

Para eles, o PS é o partido “natural” do poder, porque é o partido


“natural” do Estado e vêem tudo que mexa na sociedade como
um perigo. Não prezam a liberdade, a liberdade sentida e vivida
por cada um, nas suas opções de vida individuais de que o Estado
não deve cuidar nem interferir, mas querem regular tudo e todos, o
modo como vivemos, o modo como trabalhamos, o modo como
pretendemos ser donos do nosso próprio destino.

O resultado é que o PS fica cada vez mais arrogante, - o discurso


de José Sócrates é de uma arrogância insuportável, - e depois
tenta infantilizar o País, regulando tudo e todos, controlando a
comunicação social pública de forma escandalosa ao serviço
da propaganda e tentando interferir na privada, vigiando os
cidadãos comuns, perseguindo-os com todas as forças do Estado
sem admitir direitos mínimos de defesa. Nestes anos, o Fisco e a
ASAE foram exemplos dessa prepotência do Estado socialista,
actuando muito para lá da sua obrigação, de forma excessiva e
mesmo ilegal, arrogando-se todos os direitos e tratando os
cidadãos como culpados em potência e como desprovidos de
direitos. De que a actuação do fisco e da ASAE foi politizada para
dar uma imagem de força do governo e do Primeiro-ministro, não
há melhor prova do que a sua mansidão actual em vésperas de
eleições. Mas, se os socialistas as ganhassem, tudo voltaria ao
mesmo.

Nestes abusos do Estado socialista contra os indivíduos, há


um maximalismo de deveres e um minimalismo de direitos;
na segurança dos cidadãos, tudo se passa exactamente ao
contrário, há um maximalismo de direitos para o criminosos e
um minimalismo de direitos para a vítima. Tudo estava e está
desequilibrado e, como sempre, são os mais pobres e os mais
fracos, os mais indefesos que sofrem as consequências.

E vão ainda mais longe: querem fazer engenharia social,


moldar a sociedade à sua visão reguladora e normativa. Aos
socialistas devemos dizer que o Estado está ao nosso serviço e
não é algo de divino em si mesmo. Serve a comunidade e não se
destina a que o sirvamos a ele. Nós queremos o Estado para
garantir a soberania da Nação, para garantir a sua defesa,
para garantir a segurança de cada um de nós. Queremos o
Estado para garantir, pela distribuição, maior justiça social e
os bens essenciais da vida colectiva, como o acesso à saúde
para todos, mas não queremos que o Estado seja a economia,
seja a sociedade, seja o árbitro do gosto na cultura, seja uma
burocracia que absorve a nossa privacidade e a nossa
liberdade de vivermos a vida como queremos, de ter a religião
ou o credo que entendemos.

E também não queremos a patetice das “causas


fracturantes”, uma cópia deslavada d agenda do Bloco de
Esquerda, cujo único objectivo é tornar igual o que é
diferente, obrigar pela lei a que a sociedade seja menos
plural, e que responda a diferentes valores e a diferentes
opções de vida. Por detrás de um aparente progressismo, o
que há é a obsessão de por o estado a mandar em tudo com
pretexto na criação de uma sociedade falsamente laica
imposta aos cidadãos, onde, em nome da igualdade, se
destrói a liberdade individual e a diferença.

Também aqui nos daríamos bem com as liberdades que


Herculano defendeu e não com a obsessão jacobina de tudo
controlar em nome da racionalidade suprema do Estado. Até
porque os mesmos socialistas que vivem obcecados com as
“causas fracturantes” pouco se interessam pelas funções
essenciais do estado. Pouco querem saber da defesa, das
relações internacionais, da segurança, mesmo da justiça
social, onde privilegiam políticas que assentam apenas em
subsídios e gastos incontrolados a fundo perdido, que
servem sempre quem não precisa, mais do que quem precisa.
Que contribuem para numa mesma aldeia numa mesma
cidade, duas pessoas da mesma condição e com as mesmas
possibilidades, uma viva com dificuldades do seu trabalho e
outra viva de subsídios do Estado, gerando um fosso de que
se fala pouco, mas que muitos conhecem nas suas
comunidades e sentem com enorme revolta porque é, injusto.

É por isso que a obrigação de mudar não é apenas um


problema de políticas, é uma obrigação patriótica, uma
obrigação do dever da causa pública, de serviço ao País. Não
basta protestar - hoje apenas protestar serve para manter os
socialistas no poder. Hoje é preciso que o protesto seja
construtivo, se associe a uma solução de governo alternativa,
única forma de travar o descalabro nacional que leva quase
década e meia de declínio.

O programa do PSD apresenta um proposta séria de alternativa


e Manuela Ferreira Leite consubstancia uma forma diferente de
fazer política, o que explica o tom visceral de recusa que todos os
que estão cá mais para se servir do que para servirem, têm. O seu
incómodo é total porque haver um exemplo vivo de ser diferente é
insuportável para quem quer continuar a ser igual. Manuela
Ferreira Leite não está na política por qualquer ambição pessoal,
não pretende usar a política para ter qualquer carreira, não quer
ter protagonismo nem vive de aparecer nos jornais, está na
política por sentido de dever à coisa pública, por sentido de
obrigação cívica, porque se revolta com a situação de Portugal.
Podia ter ido para o seu Vale de Lobos, mas não foi. E trouxe à
vida pública um sentido de responsabilidade, de verdade, de
credibilidade que incomoda e muito, incomoda mesmo muito, o
PS.

Temos pois o necessário, ideias, programa, liderança e vontade.


E verdade, a obrigação de falar verdade aos portugueses. E
Alexandre Herculano, em cuja casa estamos, de alguma maneira
está aqui connosco porque compreenderia muito bem esta forma
de fazer política e esta urgência nacional de mudança.

Bom trabalho!

Obrigado.

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