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dos ofícios camarários tanto na metrópole quanto na colônia 1 . Pretendo nesse artigo
*
Mestrando sob orientação da professora doutora Eni de Mesquita Samara. Bolsista CNPq. Texto
apresentado no I Seminário de Pós-Graduandos em História Moderna, UFF, Rio de Janeiro, 2006.
1
Sem pretender realizar um levantamento exaustivo, devo mencionar os seguintes trabalhos sobre a
questão: ABUD, Katia Maria. Autoridade e Riqueza: contribuição para o estudo da sociedade
paulistana na segunda metade do século XVIII. Dissertação de Mestrado. São Paulo: FFLCH-USP,
1978; BICALHO, Maria Fernando. A cidade e o império: o Rio de Janeiro no século XVIII. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003; ______. Centro e periferia: pacto e negociação política na
administração do Brasil colonial, Leituras: Revista da Biblioteca Nacional, Lisboa, n 6, pp.17-39, abr.-
out. 2000; ______. Conquista, Mercês e Poder Local: a nobreza da terra na América portuguesa e a
cultura política do Antigo Regime, Almanack Braziliense, São Paulo, n 2, pp. 21-34, novembro 2005;
COMISSOLI, Adriano. Os “homens bons” e a Câmara de Porto Alegre (1767-1808). Dissertação de
Mestrado. Niterói: UFF, 2006; GOUVÊA, Maria de Fátima. Redes de poder na América Portuguesa: o
caso dos homens bons do Rio de Janeiro, 1790-1822, Revista Brasileira de História, São Paulo,
ANPUH, vol. 18, n° 36, pp. 297-330, 1998; MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Os concelhos e as
comunidades, in. HESPANHA, António Manuel (coord.). História de Portugal. O Antigo Regime
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levantar alguns dados empíricos, coletados nas fontes documentais, e discuti-los com os
oligarquização das edilidades no Império português. Seus cargos eram ocupados por
integrantes das elites sócio-econômicas locais, que deveriam atender uma série de
requisitos” 2 .
mais pobres nem sempre ofereciam grandes ganhos materiais e simbólicos, o que
tornava tais cargos menos atrativos. Por outro lado, os ofícios das câmaras mais
Nesse sentido, o caso da Câmara da cidade de São Paulo, à primeira vista, pode
parecer atípico. Isso porque, após a realização das eleições anuais, muitos indivíduos
pediam licença dos cargos para os quais haviam sido nomeados, sendo necessária a
realização de novas eleições. Observando a tabela 1 nota-se que cerca de 51% dos
(1620-1807), Vol. 4, Lisboa, Editorial Estampa, 1993; ______. Poderes Municipais e Elites Locais
(séculos XVIIXIX): estado de uma questão, in. VIEIRA, Alberto. O município no mundo português,
Funchal, CEHA/Secretaria Regional do Turismo e Cultura, 1998; SILVA, Isis Messias da. Pelouros e
Barretes: Juízes e Vereadores da Câmara Municipal de Curitiba – Século XVIII. Monografia de
conclusão de curso. Curitiba: UFPR, 2005; SOUSA, Avanete Pereira. Poder local e cotidiano: a
Câmara de Salvador no século XVIII. Dissertação de Mestrado. Salvador: UFBA, 1996; VIDIGAL,
Luís. O Municipalismo em Portugal no Século XVIII, Lisboa, Livros Horizonte, 1989; ______. No
Microcosmo Social Português: Uma Aproximação Comparativa a Anatomia das oligarquias Camarárias
no Fim do Antigo Regime Político (1750-1830), in. VIEIRA, Alberto. O município no mundo
português, Funchal, CEHA/Secretaria Regional do Turismo e Cultura, 1998;
2
Adriano Comissoli, Os “homens bons” e a Câmara de Porto Alegre (1767-1808), p. 21. (grifo do
autor)
3
oficiais que tomaram posse no período de 1765 a 1802 foram eleitos através de eleições
de barrete 3 .
Além disso, havia uma grande rotatividade na ocupação desses cargos. Ao longo
do período desse estudo, houve nomeações para 228 ofícios, os quais foram ocupados
por 139 indivíduos diferentes. Ao lado do grande número de homens diferentes que
ocuparam tais cargos, percebe-se que nomeações contínuas dessas pessoas eram pouco
assumiu tais cargos uma única vez. Por outro lado, dentro do período estudado, nenhum
3
Havia duas formas de eleição para os oficiais camarários. A primeira, chamada de eleição de pelouro,
consistia em um sistema um tanto complexo de eleição indireta, onde eram elaboradas listas trienais dos
indivíduos que deveriam assumir os tais cargos. Entretanto, na impossibilidade (pelas razões mais
diversas, inclusive pelos pedidos de dispensa dos cargos) desses assumirem seus cargos, realizava-se
eleições substitutas, chamadas de eleições de barrete. Sobre o tema consultar o título 67 das
ORDENAÇÕES FILIPINAS, Livro 1 [1603]. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985. (Edição fac-
similar organizada por Cândido Mendes de Almeida; Rio de Janeiro, 1870), pp. 153-157.
4
“[Na segunda metade do século XVIII] a Câmara passou, pois, a ser ocupada,
em sua maior parte, por portugueses de origem obscura, que procuravam São
homens mais interessados em participar da câmara não eram aqueles provenientes dos
estratos sócio-econômicos superiores, mas dos médios e baixos. Segundo seus dados, no
intervalo de 1765 até 1800, 205 indivíduos ocuparam cargos na câmara, cujas profissões
situados nos estratos mais ricos da população 6 . Além disso, como pode ser observado
4
Katia Abud, Autoridade e Riqueza: contribuição para o estudo da sociedade paulistana na segunda
metade do século XVIII, pp. 88-89.
5
Os dados da autora são discrepantes dos meus, pois neles estão incluídos também os almotacés. Ainda
não pude realizar um levantamento completo dos almotacés, por isso não considerei esses dados em
minha análise.
6
Katia Abud, Autoridade e Riqueza: contribuição para o estudo da sociedade paulistana na segunda
metade do século XVIII, pp. 91.
5
conclui que:
século XVIII tinham condições de pertencer à elite, sem que para tanto
7
Como se pode observar na tabela, a autora utiliza como critério de estratificação social o valor do
cabedal dos indivíduos analisados. Nesse sentido, Abud considera que um indivíduo com cabedal superior
a 500$000 teria destaque na sociedade.
6
terra, agora seu poder se restringia aos problemas do comércio local, limpeza
Tais premissas são reforçadas quando comparamos a Câmara de São Paulo com
teve num período de 135 anos a posse de 338 indivíduos distintos nos seus diversos
cargos. Entretanto, nesse mesmo período foi feita eleição para 816 postos diferentes.
Além disso, havia uma repetição recorrente dos mesmos homens nos diversos cargos da
das câmaras municipais e a sua perda de importância. Como alerta Adriano Comissoli, o
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Katia Abud, Autoridade e Riqueza: contribuição para o estudo da sociedade paulistana na segunda
metade do século XVIII, pp. 101.
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Katia Abud, Autoridade e Riqueza: contribuição para o estudo da sociedade paulistana na segunda
metade do século XVIII, pp. 109.
10
Isis Messias da Silva. Pelouros e Barretes: Juízes e Vereadores da Câmara Municipal de Curitiba
– Século XVIII, pp. 05-34.
11
Avanete Pereira Sousa, Poder local e cotidiano: a Câmara de Salvador no século XVIII, pp. 51-52.
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cargos que os indivíduos ocupavam. Pelo contrário. O importante é perceber que através
camarária 12 .
situação um pouco parecida com a de São Paulo. Seus dados apontam que no período de
1767 até 1808 houve eleição de 252 ofícios camarários, os quais foram preenchidos por
cerca de 125 indivíduos. Assim como em São Paulo, na Câmara de Porto Alegre era
pouco freqüente a reeleição dos mesmos homens nos diversos cargos, como se percebe
na tabela 4.
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“Como se vê, a historiografia tem se dedicado ao assunto da oligarquização das Câmaras portuguesas a
partir de dois horizontes analíticos: o do número de cargos individualmente exercidos ao longo dos anos e
o da sucessão patrilinear na ocupação dos mesmos ofícios. Propomos, entretanto, que a oligarquização
das Câmaras lusas (em especial no ultramar) seja estudada sob o prisma da formação de bandos, sugerido
por João Fragoso. Tais bandos podem ser entendidos como facções políticas envolvidas com a
administração pública, seja através da Câmara, seja através de ofícios régios. Os membros do bando
(também chamado facção, parcialidade ou partido) possuem ou estabelecem laços de parentesco entre si,
mas compartilham também interesses econômicos e políticos bastante aproximados. Dessa forma, a
atuação do bando na Câmara se guiava pelo interesse comum do grupo, estabelecendo estratégias que
visavam seu benefício. Formava-se uma rede de poder”. em Adriano Comissoli, Os “homens bons” e a
Câmara de Porto Alegre (1767-1808), p. 81-82
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câmaras, o que acontece com grande freqüência em São Paulo, não signifique um
determinado indivíduo mantivesse sua influência na câmara sem atuar como oficial,
logo a recusa seria uma decisão de interesses pontuais, e não um efetivo distanciamento
Nesse sentido, vale lembrar um aspecto específico da Câmara de São Paulo que
demonstra com clareza a influência das redes familiares na gestão dessa instituição.
Refiro-me a disputa política dos Pires e dos Camargos, as duas famílias importantes na
acordo no qual a Câmara local sempre deveria contar com um juiz e um vereador de
cada uma dessas famílias. Tal acordo recebeu aprovação régia e tornou-se lei, estando
diversos ofícios da Câmara Municipal de São Paulo, as duas famílias, suas ramificações
e seus aliados conseguiram manter o controle da instituição camarária por mais de dois
séculos. Dessa forma, para entender o processo de formação das elites camarárias é
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Adriano Comissoli, Os “homens bons” e a Câmara de Porto Alegre (1767-1808), p. 85-115.
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Ver o “Registro de um edital que o juiz presidente mandou registrar depois de publicado a respeito da
eleição de barrete” de 12/01/1765 em Registro Geral da Câmara Municipal de São Paulo. São Paulo:
Arquivo Municipal de São Paulo, 1919-1941, v. XI, pp. 95-97.