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Por que investir em ações?

Por: Manfred Back*

O investidor brasileiro não tem o hábito, nem a cultura, de investir no mercado de


ações. Tradicionalmente, a maioria dos brasileiros investe na caderneta de poupança. O
que mostra duas coisas: aversão a risco e falta de esclarecimento dos agentes financeiros
sobre outras possibilidades de investimentos no mercado de capitais. "Não invisto em
ações porque não entendo muito a respeito", ou, "não entendo de ações, por isso não
invisto". Uma tendência de não correr risco faz com que a maioria opte por investir nos
ativos de renda fixa em detrimento aos de renda variável. Os investidores norte-
americanos na terceira idade, ao contrário dos brasileiros, investem suas economias em
ações de empresas sólidas e boas pagadoras de dividendos, o que mostra como a cultura
faz diferença. São necessárias ações afirmativas de marketing no sentido de esclarecer
as vantagens, desvantagens, e riscos que oferecem os mercados de ações.

O que posso fazer com meu recurso poupado? A resposta está no dilema risco versus
retorno. Quanto maior retorno, maior o risco. Quanto menor o retorno, menor o risco. A
maioria dos investidores brasileiros opta em investir o capital poupado em ativos de
renda fixa. Porque são previsíveis seus rendimentos e menos arriscados, com retornos
menores comparados aos ativos de renda variável no longo prazo. Optam pelo
rendimento menor, porém, mais seguro. A previsibilidade do rendimento é o atrativo
dos ativos de remuneração fixa, que permitem planejamento, fácil execução e
entendimento. Uma remuneração fixada indexada à taxa de juros pode render
menos, mas rende sempre. Um título de renda variável, como o próprio nome diz, é
variável. Essa variação pode ser positiva ou negativa sobre o valor investido - portanto,
mais arriscada, mais incerta, porém pode dar mais retorno sobre o capital investido.

As grandes instituições bancárias no Brasil, de maneira tímida, têm tentado mudar esse
quadro, ao disponibilizar novos produtos financeiros. Acabam pecando por falta de
capital humano capacitado nas agências bancárias para explicar esses novos produtos e
também pela facilidade de vender ativos de renda fixa, produtos mais simples e
culturalmente aceitos pelos clientes. Encorajam pouco o investidor brasileiro em
diversificar seu portifólio de ativos financeiros. Já as instituições reguladoras do
mercado de capitais estão aquém no que tange esclarecer ao público da excelente
oportunidade de investir em ações no médio e longo prazos. Precisamos de iniciativas
que possam no médio prazo buscar novos investidores para o mercado de capitais.

Aos investidores conservadores, façam uma reflexão sobre a possibilidade de usar parte
da poupança comprando ações. Ao adquirir título de renda variável, na prática está
adquirindo parte da empresa, ou seja, a menor fração de capital de uma organização. No
momento, está transferindo diretamente seu recurso para a empresa, esperando
participar dos resultados, isto é, os lucros distribuídos. Essa opção de investimento
possibilita canalizar a poupança para investimentos produtivos, gerando mais emprego e
renda no futuro. A empresa que abre o capital lança ações no mercado, capta recursos
de terceiros de modo barato. Nesse caso, é diferente de um empréstimo bancário, pois
não envolve o pagamento de juros. Qual o risco do investidor? O risco de uma péssima
gestão e falta de transparência com os acionistas - consequentemente, uma governança
corporativa ruim. Bem menos complicado de tomar decisão de qual carreira devo
seguir.
Meu caro investidor, pense na possibilidade de fazer poupança de longo prazo por
meio do mercado de ações. Separe a parcela de seus recursos que não farão falta no
orçamento mensal e compre ações de empresas que paguem bons dividendos, tenham
bons resultados e tratem muito bem seus acionistas - com transparência, seriedade e
responsabilidade. Único trabalho que terá será pesquisar essas oportunidades de
negócios, ou, se quiser, procurar os fundos de ações e clubes de investimentos. A vida
tem um risco muito maior e é mais imprevisível do que arriscar na bolsa.

* Manfred Back é professor do curso de Administração do Centro Universitário da FEI


(Fundação Educacional Inaciana), de São Bernardo do Campo (SP), e especialista em
mercado de capitais.

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