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Riqueza sem sentimento - A filosofia da História.

De onde vim, onde estou, para onde vou?


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15.03.08.

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Meus amigos, de um ponto de vista retrospectivo, busco resituar o marxismo no
âmbito do atual momento crítico do seu refluxo à luz das novas conquistas na área das
ciências naturais e da revolucionária tecnologia digitais, recém geradas no seio do
capitalismo contemporâneo, a semente da sua destruição.
Karl Marx, no prefácio do livro CONTRIBUIÇÃO A CRÍTICA DA
ECONOMIA POLÍTICA, expõe sua tese de forma sintética sobre como, e por quais
mecanismos, a história se desenvolve, progride. Mais abaixo, durante a exposição desse
trabalho reproduzo o principal trecho do referido prefácio.
Que a lucidez libertadora ilumine nossas consciências em direção ao amanhã,
quando pela primeira vez poderemos vir a construir uma sociedade realizada e de total
transparência, sem divisão de classe, nem conflito de qualquer natureza entre os homens,
pela apropriação de bens materiais. Se ousarmos querer, e se ainda houver tempo.

A cultura histórica, que me perdoem os adeptos da historiografia oficial,


começou realmente com a implantação da agricultura, não com a escrita. A escrita
passou a fornecer material valioso para a pesquisa historiográfica, e daí para a
legitimação da História enquanto ciência; porém, outras provas arqueológicas são tão ou
mais importantes para compreendermos os períodos históricos antigos; até porque a
escrita naqueles tempos eram exíguas, de baixa produção, ou inexistente. É possível se
imaginar haver cidades com gente trabalhando em serviços e produção artesanal sem
haver produção de alimentos, isto é, sem haver a agricultura? Não! Já sem a escrita, sim.
Em sociedade o trabalho adquire uma estranha forma; não tem mais unicamente
a função de prover a sobrevivência, resultante da obtenção dos produtos necessários a
vida, como é verificado em todo reino vivo; passa a ter função econômica, e é sobre a
exploração dos trabalhadores que toda a riqueza é gerada, acumulada e concentrada num
processo de retroalimentação automático, constante, permanente. Trabalhamos
coletivamente reunindo forças; o que nos é permitido graças à linguagem e a consciência
reflexiva capazes de conduzir a ação pelo conhecimento através da comunicação verbal
que nos orienta sobre o que fazer e como. O que nos diferencia de todos os seres vivos,
dos insetos que vivem em colméias, principalmente.

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Quando se pensar a sociedade, devemos pensar em humanos produzindo
materialmente a sua subsistência. E quando passamos a viver em sociedade, o fizemos
através da instituição e organização do Estado de caráter permanentemente autoritário;
suporte das relações conflituosas das relações econômicas que foram sendo constituídas.
Desde então, as sociedades históricas que existiram se caracterizaram em dois estágios
econômicos comerciais básicos somente, segundo formas de mercado de circulação de
mercadorias criados. Em ordem de aparecimento, primeiramente com mercados
pequenos, incipientes e de pouca abrangência, com pouca oferta de mercadorias e
fortemente controlados militarmente; que vai desde a sua origem, século IV A.mito.C na
Mesopotâmia e na Ásia, até quando do início do pré-capitalismo na Europa, século XV ;
e desde aí, então, tem início o mercado de grande abrangência, quando do fenomenal
impulso na diversificação e quantidade de mercadorias oferecidas para consumo e
quando, também, da sua grande ampliação dos participantes, pelo incremento massivo
da base de consumidores participantes, ocasionado pelas novas relações sociais de base
econômica que foram estabelecidas, e da ampliação do mercado de força de trabalho;
continuando a crescer até os nossos dias, com cada vez menor controle militar; sendo
este, nos nossos dias, lançado mão somente em último caso. Porém, desde que teve
início, na antiguidade, o sentido lógico do processo social produtivo e das relações
sociais para a produção da base material de subsistência, foi e continua sendo até os dias
de hoje, a expropriação do trabalho pelo estabelecimento da divisão da sociedade em
classes econômicas, fundada no princípio jurídico da propriedade privada; cuja função é
exigir, pelo reconhecimento da posição de classe de cada um, as atribuições de todos na
produção e os direitos de apropriação da riqueza gerada na forma de bens de consumo;
em torno do qual, como o eixo central de um sistema mecânico, põe em movimento a
ação política e todos os outros mecanismos sociais periféricos a ele conectados. O
conflito social eivado de autoritarismo e violência que disso vem resultando, desde que
se iniciou, é a dinâmica desse processo ainda em movimento; desse conturbado processo
histórico civilizatório que herdamos e no qual ainda vivemos e que lhe caracteriza mais
que tudo; e que mantém os mesmos fundamentos milenares já corroídos pelo tempo, em
franco processo de desagregação e ruína, a exigir sua crítica e superação.

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Vivemos em estado de permanente conflito e tensão há alguns milênios já, sem
nenhum espaço que permita-nos ver a frutificação de uma verdadeira paz e, muito
menos, sentir a presença de um real sentimento de fraternidade e solidariedade entre os
povos; por conta, única e exclusivamente, da ganância e da desigualdade na exploração
econômica, como um reflexo e conseqüência da desunião e separação de todos nós em
somente três categorias básicas de cidadãos, as classes social, a saber; uma elite
minoritária, proprietária da riqueza geral na forma de meios de produção; da plebe
majoritária desapropriada desses mesmos bens, e uma classe intermediária escalonada
em postos de comando da administração do Estado, em todos os seus níveis e categorias;
ou nos postos de comando da administração geral da riqueza da elite; ou, ainda, em
setores técnico-científicos superiores, vinculados diretamente, ou não, a produção; e,
também, de pequenos e médios empresários e comerciantes; e, claro, não de poderia
deixar de fora o braço sacerdotal e o militar; cujo papel de sugestão dissuasiva por estes
implementadas é de fundamental importância, ainda que não pareça, no custo de obter a
manutenção e permanência nesse lastimável estado geral de coisas, ao buscar desviar a
atenção do aspecto político do conflito humano histórico, desestimulando, desorientado,
ou sufocando de todo jeito, o crescimento do espírito crítico de revolta, desobediência e
resistência social, em busca de mudanças e solução para os fundamentos do sistema de
exploração. Sempre buscando apontar para um poder superior, um na terra, outro no céu;
assim na terra como no céu, dizem por aí, ainda, querendo com isso interpretar a cena
como sendo parte de uma vontade superior divina. Nada mais do que uma encenação
teatral da peça da dura realidade, onde a platéia assiste sentada, quieta e bem
comportada as falas da conformação e obediência cega, quando não de ameaças, ao
sofrimento que lhe está sendo impingido, como se isso fosse um destino, uma fatalidade,
e fizesse parte de um plano de uma vontade superior celestial inescrutável e infalível, a
ser resolvido ou compensado depois da morte, em um reino extra-sensorial, espiritual,
isto é, sem contradições de ordem material, livre de constrangimentos.

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Por sobre a uma base econômico-social de relações contraditórias, antagônicas,
com as classes produzindo e se reproduzindo em permanente conflito de interesses entre
si, se concebe a edificação do Estado; um poder vertical hierárquico, autoritário, que
através de leis regulamentares e instrumentos de poder e coerção, conduz, reflete e faz
valer a consciência dos senhores como sendo a consciência de todos que nele vivem;
uma consciência social coletiva de fato, uma super consciência fatalista e toda poderosa;
dizendo-nos: é assim que tem que ser. Estas importantes atividades, todavia, tem o
sentido de, como uma resultante, funcionar objetivando administrar, controlar, refletir e
reprimir, se necessário de forma violenta, as reações geradas pelo conflito social
originado na base, pela forma espoliativa de como é apropriada e usufruída a produção
da riqueza social, a base material de sustentação da vida em sociedade; este sim, o
princípio básico, necessário e fundamental que compreende todos os outros, como uma
bacia hidrográfica recolhe toda água que a ela é levada pela força da gravidade; e que
desde então é concentrada e usufruída por uma classe de elite de controladores da
riqueza social; o subsolo, o solo, as máquinas e a ciência. Quinhentas famílias hoje no
mundo, proprietárias das empresas transnacionais, século XXI, detêm um patrimônio
equivalente ao patrimônio de toda classe C e D somados; isto é, esta aristocracia global
de tamanho reduzido, algo em torno de vinte e cinco mil esqueletos, se tanto, detém em
seu poder um patrimônio cujo valor é igual ao da metade da humanidade, nas classes
referidas, algo em torno de três bilhões de pessoas, e segundo tudo indica, em processo
de tender a um aumento.
As religiões, como um elemento importante na estabilização das refregas,
constituintes e parte da consciência social; servem no funcionamento da máquina social
como que de amortecedores e lubrificantes no atrito advindo da luta de classes no
processo social histórico, gerador de tensão e conflito de forma permanente; ao fazerem
a pregação doutrinária persuasiva, pelo convencimento e apelo fortemente sugestivo pela
conformação, obediência, resignação; e ao exigirem fé em uma vontade extraterrena,
divina, superior, que nunca ninguém viu, nem ouviu, tocou, ou cheirou; e ainda, fé na
existência de vida espiritual depois da morte, da qual ainda ninguém voltou para
comentar sobre isso ser possível ou verdade, e ainda assim disso ser como uma condição
fundamental de todo e qualquer sentido para a existência. O sentido oculto dessa fantasia
é desviar o foco do olhar para o aspecto político da questão e ocultar o significado da
luta terrena pelo usufruto do mel da existência; o que implica em evitar ou retardar que
esta belicosa situação seja banida e resolvida de uma vez por todas. Uma mistura de
ignorância, com oportunismo e má-fé, que ao final das contas sempre interessou muito
aos senhores de todas as épocas, e seus lacaios aliados de todos os matizes, e em todos
os seus escalões; por isso sempre foram, e continuam sendo eles mesmos os grandes
doadores de fundos às igrejas, de todos os credos, no mundo inteiro, em todos os
tempos.

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A base material de subsistência da sociedade é quem justifica, ou explica o termo
materialista usado pelo pensamento marxista. Não quer dizer absolutamente egoísmo ou
individualismo insensível, ou coisa parecida; como preconceituosamente querem fazer
crer e associar os ícones de todas as igrejas, todas elas comprometidas como auxiliares
de um mundo de fantasias superficiais, desfocando o olhar político das lutas sociais, para
o limbo da religião. Pelo contrário, o materialismo enquanto forma de pensamento
filosófico e político toma partido dos trabalhadores, se opondo ao pensamento filosófico
idealista, busca dirigir o foco da atenção do pensamento para o conflito real, de fundo
econômico-material, por isso político; para a partir daí, buscar formas de solucioná-lo,
ao propor o fim das manifestações egóicas de ganância na distribuição da riqueza, na
forma de propriedade privada, o alimentador do conflito. O materialismo, enquanto um
método de pensamento, é, simplesmente e somente, uma leitura da realidade, de melhor
qualidade, ou pior qualidade, dependendo do ponto de vista político do observador, isto
é, da posição de classe do observador, ou da sua classe social de eleição; aquela em que
ele, não pertencendo, mas, mesmo assim, gostaria de pertencer. Com isso, não se propõe
a ser a dona da verdade e querer impedir a quem quer que seja de pensar o que quer que
seja, muito embora isso já tenha sido tentado por em prática pelos militantes de esquerda
do passado recente. Mas, também, muito menos admite haver forças diretoras superiores
externas, independentes da vontade humana, influindo no processo social discricionário
especificado; e menos admitir que alguns ‘iluminados espertos’ teriam contato direto
com o ‘Homem lá de cima’, e, assim, servirem de intermediários entre esse ‘poder
superior’ e o restante da humanidade. Uma visão simplória que só funciona dado a
manutenção da população em baixa escolaridade, e pouca senso crítico e capacidade de
independência de pensamento para conceberem realidade a tal mixórdia e aceitar como
verdadeiro um tipo de sugestão como essa, tão facilmente questionável. A questão do
conflito na vida social é política, a luta é política; e só pelo simples fato de se viver em
uma sociedade em situação de conflito histórico por questões de interesses de classe,
como a que vivemos, já é, de toda maneira, fazer política; estejamos conscientes disso
ou não; querendo ou não, estamos todos fazendo política, mesmo que com as mais
simples das nossas atividades, mesmo que agindo contra os nossos próprios interesses,
como pela omissão, por exemplo, sempre estamos fazendo política; e quanto mais
conscientes disso estivermos, melhores resultados alcançaremos. Na verdade, deve-se
esclarecer que a política, ou a necessidade sua prática, isto é, da sua instituição como
uma arena, ou picadeiro em separado, local onde as partes negociam os fundamentos da
existência do conjunto; sob regras pré-estabelecidas, faz sentido e se dá por causa da
separação dos indivíduos em classes sociais; o fundo, o chão real de toda prática
política, o sentido da própria existência de partidos, tem como fundo as classes em luta;
portanto, fazer política é representar a defesa de um dos dois lados em questão. Ora,
havendo em síntese duas classes somente, porque há tantos partidos? Será porque com
as rédeas em mãos da direção da máquina burocrática do Estado pode-se enriquecer-se
individualmente por desvio de dinheiro público? Assim, toda política nasce e é
condicionada e determinada pela apropriação material desigual da riqueza social. O
entendimento do materialismo como sendo um conceito oposto ao espiritualismo
religioso, o qual é um pressuposto do método de pensamento idealista, é um reflexo da
luta política de poder no campo das idéias abstratas, e não passa disso, já que o
pensamento é um importante instrumento de luta pela manutenção, ou demolição do que
foi sendo, e do que está sendo estabelecido no processo de desenvolvimento das lutas

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sociais históricas. O materialismo enquanto pensamento filosófico se propõe verificar a
qualidade das relações econômico-sociais; para só depois, então, pensar as
determinações de conteúdo das outras atividades diferenciadas, necessárias ao
desempenho conjunto social; e assim, mais se diferencia, do que se opõe, ao pensamento
filosófico idealista, que acredita serem os conteúdos e valores sociais, determinados pela
qualidade superior do pensamento, das idéias aplicadas ao bom funcionamento da
sociedade, num esforço coletivo bem orientado, por valores subjetivos morais.
Acreditamos ser mais verdade, e possível de se constatar o contrário disso: que a forma
de pensar, de se introduzir, manipular e propor idéias serem determinadas pelas relações
econômico-materiais, das relações de propriedade com patrimônio econômico físico;
origem das relações de poder; sendo este o principal fundamento social, o ser
fundamental, não as idéias. Enquanto a elite européia pilhavam a África em busca de
escravos, os cientistas europeus criavam teorias raciais que justificavam a escravidão.
Aqui se aplica bem o adágio que diz: cegos são os que não querem ver. E assim, com
isso vemos o social pelo que ele é, e não pelo que gostaríamos que ele fosse; nem por
suas idealizações sublimes politicamente pactuadas e comprometidas com a manutenção
da ignorância e da desinformação. - O padre está nu! Morra o padre. Não a pessoa do
padre, coitado, um sofredor; mas, o papel de padre; a figura, não o artista; já que isto
tudo não passa mesmo de um teatro dos horrores, da peça em cartaz que chama-se: Me
Engana, Que Eu Gosto.

Para se pensar bem a História, devemos discernir bem como se originaram e com
qual lógica interna as diferentes maneiras que conflito social histórico tomou forma e se
desenvolveu, em cada formato social-histórico diferente no percurso de tempo, onde os
homens em luta, agora no papel de agentes econômicos, não mais como seres naturais,
modelaram para si. Então, primeiro que tudo, cabe investigar o que acontecia com os
homens antes de aparecer o regime social produtivo, e o processo civilizatório sedentário
hoje em curso. Como tudo começou? E, o que é possível estabelecer como sendo o que
causou a ruptura entre um período e o outro, entre o período natural e o período cultural?

Como tudo começou.

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No primeiro e longo período onde a Historia da Cultura ainda se mesclava com a
História Natural de onde fizemos parte e depois nos destacamos, em parte, certamente
não acontecia regime social produtivo nenhum, apesar de já existir o trabalho, pois que
esse foi o principal elemento acelerador responsável na compreensão do processo de
hominização do chimpanzé, acontecendo lentamente num longo processo de sete
milhões de anos de duração. Nessa primeira fase o trabalho não tinha o sentido
econômico social de produção de excedente para fins de troca comercial e acumulação
de riqueza, o que veio a ser feito somente muito posteriormente, a bem dizer ontem. Em
escala comparativa da duração de tempo dos dois períodos, a extensão do primeiro
período ainda como História Natural basicamente, que termina quando começa a cultura
agrícola em aldeias, inaugurando o sedentarismo, há uns quinze mil anos; e que passa
para a forma de produção econômica e para as formas sociais organizados em um Estado
politizando as relações entre os homens; somente nos últimos seis mil. Assim sendo o
processo de desenvolvimento civilizatório cabe quase mil e duzentas vezes dentro da
fase cultural evolutiva inicial. Do que então nos resta concluir, pelo exposto, que
estamos ainda engatinhando ou começando a dar agora os primeiro passos dessa
agoniada caminhada civilizatório cultural, e que durante a sua trajetória foi ficando cada
vez mais perigosa, e que agora dá sinais de desabar. Onde estamos errando, e porquê?
O homem emerge da natureza através do trabalho de natureza conceitual
simbólico, mas sem os fins comerciais lucrativos. O trabalho existe desde sempre, pois
que podemos definir a vida, toda ela, como um trabalho para suprir e satisfazer a
necessidade da transformação bioquímica do alimento obtidos no meio ambiente, em
energia para produção de corpo e movimento. Assim, o ser vivo agindo e participando
socialmente como um trabalhador, um tipo de agente envolvido em produção de
mercadorias, ou riqueza, sendo até ele mesmo uma mercadoria de fato, e, também,
trazendo à cena a presença dos regimes político-sociais na história é recente, e dura
aquele pequeníssimo período de tempo visto acima, os últimos seis mil anos.

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A vida se alimenta de si mesma, num processo incrível e delicado processo de
reciclagem; o seu estabelecimento e permanência exige a manutenção de um equilíbrio
entre as diferentes populações de espécies, todas vinculadas entre si. Em estado natural
todos os animais trabalham na simples coleta de alimentos vegetais e/ou na caça, mas
nunca no sentido econômico social, nunca produzindo seu alimento e muito menos o
vendendo. O comércio, a venda, como hoje a conhecemos, ou o mercado de circulação
de mercadorias, começa fazer sentido, após haver sido feita anteriormente a acumulação
de um estoque de mercadorias para posterior consumo no mercado social. Essa
acumulação em estoque de excedentes produzidos para troca comercial, desde que foi
arranjada, se objetivou na busca da obtenção de concentração de riqueza, e daí em poder
político e econômico, conseguido inicialmente à custa da violenta obtenção de trabalho
forçado. O comércio é, pois, somente um dos momentos do processo social econômico
produtivo; e, por certo, é um momento dos mais importante na compreensão de todo o
caráter desse processo básico, pelo seu sentido político oculto; porque é neste momento,
no ato de vender, que permite ao proprietário/senhor realizar, receber de volta já bastante
acrescido, o investimento (iniciativa) que fez, ao bancar as despesas iniciais organizativa
de uma estrutura física produtiva qualquer, como um investimento de energias
represadas, capaz de ao reunir forças, quando ainda no primeiro período, através da
coação escravizar ou submeter povos para extrair produção, e assim, com isso começar a
acumulação de riqueza, na antiguidade, não tão antiga assim, afinal; e também hoje, nos
tempos mais que modernos, quando o empresário recupera, por um mecanismo oculto
chamado de mais-valia, o investimento inicial realizado na compra de equipamentos e
contratação de empregados para produzirem nas suas instalações, em máquinas de sua
propriedade um tipo de mercadoria qualquer, em troca, pagando por este trabalho um
valor cuja representação o permite recolher trabalho gratuito, dado os valores recebidos
pelos trabalhadores pelo seu esforço em produzir serem sempre abaixo do valor do
objeto por estes produzidos; sendo este o mecanismo que, então, o permite fazer a venda
do ‘seu’ produto com lucro. Ele não lucra sobre o comprador, ele lucra sempre sobre o
trabalhador, sob a forma de trabalho não pago, (um procedimento que será melhor
detalhado mais a frente). E esse lucro é o valor que ele obteve ao extrair trabalho de
graça, não pago, quando pagou apenas uma parte por todo valor que foi produzido pelos
trabalhadores, e, assim sendo, a outra parte é recebido de graça pelo patrão, realmente,
sem que os trabalhadores sequer se apercebam disso, ingênuos e ignorantes das ‘coisas’
da economia que fato são; o que interessa muito ao empregador manter oculto, para
poder continuar lucrando com facilidade e dissimulação. O trabalhador, então, é pago
justamente para isso, sua função social é justamente esta; simplesmente de produzir
riqueza para outros, desde que o paguem para que assim, ao menos, possa reproduzir a
sua existência em força de trabalho. Em síntese um escravo moderno mantido por um
processo mais sofisticado, somente.

A HOMINIZAÇÃO.

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Vamos, então, começar distinguindo alguns dos momentos básicos mais
importantes do processo anterior de desenvolvimento natural nômade primitivo. Mais
importante que tudo, pois foi o que possibilitou, deu partida, a todo o resto, temos a
adoção da posição corporal ereta, de pé, apoiado sobre as duas patas traseiras, o
bipedalismo; um acidente genético que se tornou selecionado por fortalecer a função
adaptativa daqueles seres, os chipanzés, pela perda do seu habitat natural, dado as
florestas serem convertidas em savanas, causado por uma mudança climática,
ocasionada em virtude da deriva do continente africano rumo ao norte, na posição em
que hoje se encontra, colado á Eurásia. Claro, no início essa nossa postura não era tão
ereta assim.
O continente africano, à deriva no oceano, como uma nau sem leme, empurrado
pela convecção no magma do interior do planeta, deslizando lentamente migrou para o
norte, vindo a colidir com a Eurásia, a cerca sessenta milhões de anos atrás; quando em
conseqüência deste choque, veio se formar a cadeia montanhosa dos Alpes e o mar
Mediterrâneo. A África, que antes desse acontecimento era inteiramente coberta de
florestas e bem povoada de macacos, em virtude dessa nova posição geográfica ficaria
impedida de receber as correntes de ventos úmidos que vindas do mar entrassem no
continente ao formarem gelo na cordilheira dos Alpes, e foi se desertificando
lentamente. Até que pelo centro do continente o deserto parou de avançar, e na paisagem
começaram a aparecer às savanas, áreas de mato alto e poucas árvores; um ambiente
muito apropriado aos quadrúpedes ungulados, gazelas, corças, veados, zebras, etc... E
também seus predadores, os felinos e as hienas, animais carnívoros, assassinos
profissionais contratados pela natureza para impedirem que os vegetarianos se
proliferem demais e comam toda a vegetação e venham também a morrer de fome.
A transformação da floresta em savana foi o que teria obrigado àqueles
chimpanzés, que já eram animais muito inteligentes, abandonarem as árvores em busca
de sobrevivência, que eles, com toda certeza não estavam acostumados, para terem de se
readaptar as novas condições e passar a viver no chão; tendo que enfrentar situações
inusitadas como diminuição da oferta de alimentos; a presença de animais ferozes,
perigosos, em condições de inferioridade; por não serem grandes e fortes, nem terem
garras afiadas e nem velocidade na corrida como as gazelas e sem as árvores para se
refugiarem. Assim, algum acidente de percurso ocorreu para que possa explicar tão
insana proeza.

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Quase sem árvores, algumas poucas, distantes uma das outras, no chão, e ainda
no meio de um mato alto que os impedem de olharem à distância a fim de verem o que
estivesse acontecendo adiante para poderem antecipar qualquer perigo, e decidirem que
direção tomar a procura de algum alimento, teriam que vez por outra ficarem de pé, se
esticarem, botar a cabeça acima do mato e olhar, coçar a cabeça, tomar um rumo, de
novo se abaixar, e partir abaixado, com as quatro patas no chão. Até que, quando por um
erro casual do ADN, que quando ajusta e desenvolve a adaptação permanece e prolifera,
acabou por conquistar a postura de pé, definitivamente. E tão favorável foi que ainda
estamos nessa posição até hoje, ainda que carregando ‘uns e outros’ e muitos problemas
nas costas. Foi quando, como que um primeiro raio de luz que tivesse penetrado fundo
na mente daqueles tão infortunados e miseráveis seres aconteceu. Melhor do que poder
olhar à distância por sobre a vegetação, muito melhor, foi poderem ter as mãos agora
totalmente liberadas. Com a nova postura adquirida puderam, desde então, empunhar
todo tipo de objetos; pedras, paus, varas, ossos fortes e pesados que pudessem ser usados
como arma que seus corpos não dispunham para afugentar algum inimigo faminto
indesejável, e ainda os tornou capazes de carregar objetos e as crias consigo, nos
ombros, nos braços e nas costas e se tornam andarilhos, nômades, e principalmente
começam a caçar em grupo. Com as mãos livres, capazes de empunhar e conceber
instrumentos diversos de utilidade prática variável começa o trabalho conceitual
propriamente dito e com ele se inicia, ainda de forma rudimentar, o processo de
desenvolvimento cultural com o aparelhamento externo ao corpo, em contraste aos
animais naturalmente aparelhados de armas para defesa e ataque; e a inteligência foi
aumentando e se tornando um fator de método adaptativo, um segredinho que na
natureza ainda não havia sido experimentado e que acabou dando muito certo, quando
posteriormente viemos a nos tornar, por causa disso mesmo, superior em força e
capacidade de destruição a todos os outros animais; de cujo ímpeto, dada a nossa rápida
e descontrolada proliferação no planeta, sem predadores a controlar o nosso crescimento
vegetativo, já passamos do nível suportável para que o impulso de regeneração da
natureza possa efetuar-se, estamos caminhando para a destruição total do eco-sistema e
de nós mesmos, por extensão. - “Cresceis e multiplicai-vos”. Assim como as bactérias
sabem fazer? Talvez, mas por certo isso não foi uma excelente idéia, somente uma
inconseqüência. “E agora, José. Para onde?”. Abortemos essas idéias.
O primeiro objeto conceitual a existir, num tempo que ainda não existia o
conceito no mundo daqueles que viriam a se tornarem nos “soberbos e super poderosos”
animais atuais, cheios de exteriores boas intenções, foi a ferramenta, e dentre essas, a
mais importante foi a arma. Inicialmente não passavam de paus, pedras e ossos, mas dos
quais aqueles animaizinhos esquisitos não se separavam nunca, por compensarem sua
crítica condição de inferioridade física; e andavam sempre em grupo para terem maior
‘poder de fogo’, vem daí a origem e o sentido da nossa atual sociabilidade, a insegurança
trazida pelo meio ambiente hostil. E por onde iam as levavam; agora podiam, tinham
mãos livres e disponíveis para essa função. Porque sem elas eram presas muito fáceis de
apanhar, caso fossem atacados e não tivessem nenhuma árvore por perto onde pudessem
se refugiar a tempo.

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Nessa região, no Rifty Valley onde se deu o nosso aparecimento, por via da
catástrofe africana em desertificação, viviam numerosas manadas de animais a pastarem
nos capinzais abundantes das savanas; com muita oferta de carne para os predadores do
lugar. Isso os fazia preferidos da dieta dos carnívoros; sendo então muito difícil, ou
esporádico, por sorte nossa, encontrarem-se com felinos ou hienas muito famintas,
dispostas a enfrentarem dolorosas pedradas e cutuco de varas pontiagudas e pauladas
dos espertos hominídeos, magros e subnutridos, uma lástima de petisco. Tinham duplo
habitat, o chão, quando buscavam alimentos durante o dia, e as árvores á noite, para
dormirem seguros, em paz, depois de um penoso dia de perigo e insegurança em busca
alimento de origem vegetal agora escasso.

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Dia após dia, nossos curiosos ancestrais, duplo sentido, iam aprendendo bem a
dura lição de como sobreviver na tão disputada savana sub-sahariana africana. Nas suas
andanças a esmo a cata do que comer, aqui e acolá, encontravam carcaças ainda frescas
de animais recém abatidos, deixadas com restos de carne, como é costume dos felinos. E
logo, logo, se viram seguindo os passos deles, nas suas caçadas aos quadrúpedes
vegetarianos, esperando-os se alimentarem, para logo após irem buscar os seus preciosos
restos que lhe serviriam de alimento também; se não fosse isso, sei não; e assim começa
a mudança de dieta alimentar da nossa espécie (espécie? Que tipo de espécie? Algumas
modificações, poucas, embora significativas, como o tamanho do cérebro, justificariam a
separação da nossa espécie original, pongídeo pan troclodite. Não seriamos ainda
somente chimpanzés mutantes?), pois, não mais somente vegetariana, como é disposto
pela nossa fisiologia animal natural; mas por força da necessidade, agora carnívoro
também. Devemos muito, então, a nossa presença hoje aqui, a ajuda dos leões e dos
tigres, pelo nosso triunfo na luta pela sobrevivência. E assim foi que nos tornaríamos
carnívoros, sem deixar de ser vegetarianos, próprio à nossa natureza herdada dos nossos
velhos ancestrais. Humilde, bastante humilde nossa origem, por certo vale
lembrar...Vivíamos com uma fome atroz, passávamos dias, às vezes semanas sem achar
o que comer; desenvolveríamos por causa disso um mecanismo de armazenamento de
calorias em forma de gordura para dispor quanto o jejum forçado viesse a nos bater a
porta; quando o alimento era encontrado comia-se até o último naco, ou até não poder
mais para estocar calorias para os próximos jejuns forçados. Hoje com a abundância e
fartura em determinadas regiões do planeta, e para determinadas classes, em função
desse mecanismo a obesidade está se tornando uma calamidade de saúde pública. No
princípio da nossa aventura penosa pela adaptação às novas condições ambientais
morríamos de fome; milhões de anos depois, após a descoberta da agricultura; vivemos
inseguros e nos matamos uns aos outros, apesar de haver fartura. Como entender isso,
senão pela ganância e mesquinhez, fruto da ignorância a respeito de como controlar
nossas vaidades pessoais por distinção e poder, e nossos apetites, os sexuais
principalmente, e daí não controlarmos o nosso desvairado crescimento populacional a
não ser pela matança. Se hoje temos conhecimento de métodos seguros
anticoncepcionais, não temos suficiente nível de circulação de informação que permita
conscientização para o problema, nem união entre os povos, além ainda de haver o
indesejável preconceito religioso, que por incrível que pareça consegue ser contra o
planeta de maneira a nos dificultar o acesso a uma estratégia eficaz de controle familiar e
a nos tornar capazes de eficientemente regularmos nossa já exorbitante presença por
aqui de forma equilibrada, sustentável, sem traumas. Ou isso, ou então aceitarmos correr
o risco de sermos até ceifados totalmente pela própria função equilibradora natural do
sistema ecológico como coisa inútil, demais, por demais doentia; eis o homo sapiens
sapiens religioso em prol de sustentar a defesa da vida sendo contra o aborto, e contra
até a camisinha. São malucos, ou o quê?

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Mas pra quê continuar com isso, e ficar na dependência de comer restos dos
felinos se havia carne à vontade por toda à volta; porquê não atacar também? Porém,
como? Não podiam, até que desenvolvessem formas de comunicação entre eles, eficaz o
suficiente para que pudessem unir forças individuais de forma organizada a fim de
constituir uma estratégia de caça coletiva com, ou sem, armadilhas. Daí é sentida à
necessidade da linguagem, ou a falta dela é sentida como a carência de uma força que
pudesse favorecer a união em torno de um mesmo objetivo e, assim, suprir a pouca força
de cada um; conforme o desenvolvimento do cérebro permitiu essa necessidade também
foi lentamente suprida; primeiro por gestos, pela mímica, conforme o sucesso
estimulante das atividades exploratória ambiental. Por estes seres em fase ainda de
readaptação, em face da tragédia da perda do seu primoroso habitat natural, as florestas.
A união fez a força, e a linguagem fez o resto, ou mais força, com o
aperfeiçoamento e desenvolvimento da lógica inteligente. Logo estariam caçando,
preparando armadilhas no solo e induzindo os animais em direção a elas, e os
capturavam. Mente, trabalho e proteínas, uma tríade de um círculo virtuoso aberto em
espiral, em direção á criação de uma surpreendente e eficiente forma de vida baseada
não mais inteiramente só no instinto, porque passou a exteriorizar em forma de
instrumentos e ferramentas concebidas na mente, o equipamento adaptativo que nos
outros animais são criados geneticamente, no próprio corpo com as suas diferentes
características, determinando a cada um a sua posição na escala alimentar. Por causa
disso, agora estamos no topo dela e espalhados por todas as regiões do planeta, como
uma endemia, uma doença global, rumo à catástrofe. Excesso de inteligência? Talvez.
Hoje não temos problemas, somos o problema.

Fogo
.
Um dos momentos mais representativos desse processo natural evolutivo do
natural instintivo a caminho do processo evolutivo cultural, no domínio das facilitações
da adaptação à vida pela aprendizagem, foi o domínio do fogo e suas utilizações como
ferramenta em vários momentos do seu cotidiano; há mais de um milhão de anos. Nesta
região original, de latitude zero, as vegetações secas, nos períodos mais quentes, ardiam
espontaneamente produzindo violentos incêndios. Ao perceberem, os nossos heróis, o
temor que o fogo infundiam, não só a eles, mas a todos os animais, até mesmo aos mais
ferozes; desejou se apoderar dessa força e usá-la em seu favor. Cuidadosamente, tira do
que restou da queimada uma mecha de fogo para si; e com madeiras secas previamente
preparadas faz uma pequena fogueira. Bingo. Depois, qual um aprendiz de feiticeiro,
alimenta permanentemente um lume dentro de um local protegido, como o esqueleto de
um crânio de um animal de grande porte, achado a esmo, que é levado a lugar seguro
dentro de uma caverna. Sendo sempre assistido e mantido em forma de brasas, por
equipes em revezamento, dia e noite, para que nunca se apagasse; pois que não saberiam
como acendê-lo de novo até que outro incêndio natural acontecesse. Essas mecham eram
mantidas com muito zelo; fato que introduziu importantes modificações no
comportamento dessa gente, como um desdobrar de uma primeira forma de cultura, a
cultura do fogo; duplo sentido. Indivíduos eram destacados, em rodízio, para mantê-lo
aceso em brasas com a atenção dirigida permanentemente.

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Acossados pelos seus predadores viviam os nossos ancestrais. Até quando da
descoberta do fogo, que passou logo a ser utilizado para afugentar à noite os animais
perigosos, e assim, poderem dormir em paz em qualquer lugar; veio depois a ser
utilizado na caça de animais de grande porte. Com grandes tochas nas mãos, à noite,
vários caçadores empurravam e conduziam sua vítima para armadilhas em locais
previamente preparadas.
Aprendemos a ser carnívoros muito antes do fogo e antes de termos aprendido a
caçar. Com uma fome danada, ao encontrar uma carcaça recém abatida, e abandonada
com generosos restos ainda de carne residual; animal curioso que era, que sempre foi,
desde o tempo que vivia nas árvores já comia macacos menores, veio a experimentar, e
claro, gostou. Daí na seqüência já mais fortinho e tendo já aprendido a caçar, com o fogo
nas mãos, curioso, sempre curioso veio a experimentar o churrasco, até porque faltavam
panelas, pois ainda não conheciam a olaria. Mas, que maravilha de aroma e sabor. Carne
crua nunca mais. Só se quando o fogo por qualquer motivo apagasse, ou fosse roubado
por outra tribo que estivesse precisando dele pelos mesmos motivos. Eles não sabiam
pedir; a comunicação era difícil. Sem a posse dele era logo constituída uma expedição
com o fim de encontrar, fosse onde fosse, outro incêndio, ou outro agrupamento que o
possuísse, cuja relação de força permitisse roubá-los. Quando isso acontecia
aproveitavam para roubar algumas mulheres também. Era fogo antigamente.
A diferença entre comer carne e não comer carne, proteína animal completa,
oferecendo os vinte e dois aminoácidos essenciais para a síntese das proteínas do corpo,
contidos todos num só alimento, era uma boa vantagem no que diz respeito ao
suprimento dos nutrientes para um necessário desenvolvimento da massa corpórea e da
mente (sistema sensório-motor-cérebro-espinal). Uma outra diferença entre comer carne
crua ou comê-la cozida diz respeito, mais que tudo, ao fato do cozimento produzir uma
pré-digestão na carne dura, amolecendo-a para ser melhor aceita por um sistema
digestivo naturalmente adaptado ao vegetarianismo exclusivamente, como o nosso;
favorecendo uma total absorção dos nutrientes encontrados no alimento, e com isso...
Mais corpo e mais mente. No nosso caso, muito mais mente; enquanto o corpo duplicou
de tamanho, a mente mais que triplicou. Se não fosse só porque isso nos permitiria
atacar melhor e, também nos defendermos melhor. A inteligência é, dentre outras coisas,
uma ferramenta para produção de habilidosas ferramentas-objetos como se fossem estas
a sua manifestação material exterior. Por isso ela é também uma arma, e poderosa; que
permite que alguns povos dominem outros; e ainda mais que tudo, é um instrumento de
extrema versatilidade adaptativa cujo desenvolvimento trouxe a linguagem, e daí, ao
super-hiper bem armado e mal amado homem sapiens sapiens.

15
O aparecimento da mente animal, sua especialização e desenvolvimento é um
capítulo à parte na História da Vida na Terra; e fornece a pista para o entendimento desse
fenômeno que somos nós; animais autoconscientes que sabem que sabem e que podem
corrigir, quando necessário, o seu próprio saber. Que fenômeno! Diga-se a bem da
verdade, pouco compreendido e pouco desenvolvido ainda, atualmente; por conta dos
ainda persistentes preconceitos metafísicos e da cantilena religiosa ainda prevalecente.
Também por conta do baixo nível de circulação da informação científica no conjunto da
população, mas que nos nossos dias já começa a melhorar e a ocorrer uma maior
disseminação. E também principalmente, pela resistência por eles causada por causa da
sua novidade, por serem ainda muito recentes esses novos conhecimentos, e também,
por causa da sua natureza revolucionária, derrubando importantes noções cultivadas
como sendo eternas pela tradição. O evolucionismo na biologia, o materialismo histórico
nas ciências sociais, a relatividade na física e a genética como que prenunciam o fim da
longa noite gélida de milênios de ignorância e misticismo a respeito da vida, do homem
vivendo sob imposição em sociedade de classes e do universo.

16
Na sua etapa inicial de desenvolvimento, a ciência sofreu sérios ataques e a
perseguição arrogante e impiedosa da parte dos fanáticos clérigos das igrejas de todos os
tempos, o que atrasou consideravelmente o seu desenvolvimento e difusão. Haja visto
que o seu reaparecimento é moderno e ocorreu no ocidente, no embalo do aparecimento
dos primórdios do capitalismo e em conseqüência do declínio da grande influência
política da igreja católica com a queda do feudalismo, e dos nobres, seus aliados. Mas o
seu aparecimento, nos primórdios da civilização, é contemporâneo também ao
aparecimento da religião institucionalizada, como um dos braços do aparelho de Estado,
aparentemente por acaso. E esta, na luta pelo poder de ditar a ‘verdade absoluta’ busca
obstruir o conhecimento que não confirmasse a sua ladainha mítica, e a impedir a sua
difusão, e por um longo período de tempo consegue; atitude que ainda hoje persiste,
principalmente entre os árabes. Muito mais ainda, quando depois com instalação da
igreja católica cristã na Europa; e após ao esfacelamento do império romano, por mil
anos abole por completo a honesta busca do saber, do conhecimento por questões de
conotação político-ideológico. Em seus encontros periódicos, durante esse período, os
padres passavam semanas discutindo questões como: quantos anjos caberiam em uma
cabeça de alfinete; ou, qual é o sexo do anjo, e por aí ia. Associados aos árabes, a
destruição da biblioteca de Alexandria, a pouco menos de dois mil anos é uma de suas
muitas criminosas façanhas; muitas outras viriam, uma lástima. Mas, apesar de tudo não
conseguiram destruir as profundas raízes da árvore do conhecimento na mente humana.
Mas atrasou um bocado o seu crescimento; e ainda hoje atuam nesse sentido, porque o
conhecimento científico é incompatível com a sua pregação religiosa fundada em
preconceitos e idealizações descabidas de qualquer possibilidade de serem verificáveis
na prática; o seu destino histórico é a lixeira. E quem se interessa por pregação religiosa
hoje, na verdade? Ou os pobres crédulos ignorantes, ou os endinheirados interesseiros
mistificadores, ou aqueles que apesar de terem boa cultura acadêmica, não são capazes
de independência de pensamento e se deixam levar frouxamente, leais submissos, por
conservadorismo, pela obediência a força da tradição, da moral e dos costumes
históricos estabelecidos, porque isso lhes parece mais seguro e conveniente; porque
rendem o benefício de uma imagem politicamente adequada, em conformidade aos
cânones estabelecidos. As engrenagens do pensamento parece demorarem a se
reorganizar para absorver o novo. Hoje o evolucionismo de Darwin não é mais somente
uma teoria; é um fato constatável e comprovável por vários métodos de investigação,
mas ainda assim, é por muita “gente boa” considerada como fantasiosa.

17
Até o século passado, o saber da química, muito limitado ainda, por conta dos
motivos acima mencionados, acreditava ser o fogo um elemento constitutivo da matéria
que chamavam de flogístico; não um efeito da liberação da energia contida na matéria,
pela combustão, como hoje sabemos. O domínio do fogo é um capítulo importante na
história do desenvolvimento da cultura desse primata pongídeo pan troglodites, o mais
violento e inteligente entre os primatas, vulgarmente conhecido pelo nome de
chimpanzé, em processo de transformação, hoje no estágio do gênero homo sapiens
sapiens, ainda que um pouco longe ainda da sua conclusão, mesmo em nossos dias. Há
quem ache já estar concluído este processo, que somos uma espécie descolada das
nossas origens como seres das florestas, não percebendo que o aspecto violento e
autoritário da nossa cultura indica a existência e permanência de laços e conteúdos em
correspondência direta à nossa índole primitiva; um fator de alcance bastante destrutivo
e que deveríamos nos preocupar mais com isso, se fossemos mais modestos, e menos
gananciosos.
Estudos baseados em pesquisa de registros fósseis encontrados em cavernas, e
em campo aberto, mais raro, permitem estabelecer uma data aproximada de um milhão e
meio de anos para a primeira fase de recolhimento de mechas em incêndios espontâneos;
e de quatrocentos mil anos, na segunda fase, com combustão inicial já controlada pela
técnica de friccionar palito de madeira dura sobre lenha seca e macia, quando em plena
era de glaciação nossos antepassados migraram para regiões frias do Norte. E não é
possível imaginar que isso fosse possível de ter sido realizado sem o controle do fogo.
Nasce com o fogo o primeiro cultivo permanente estreante, um passo muito
importante na trajetória cultural da nossa personificada tragicômica espécie animal; é o
seu primeiro bem quase-econômico, e que já era motivo de várias confusões e conflitos.
Por ser muito disputado era objeto de roubos entre os diferentes grupos populacionais.
Nasce com ele uma primeira era cultural que possibilitaria muitas outras evoluções
tecno-industrial ulterior, a era do fogo. O custo com o seu zelo seria pequeno, em face ao
poder extraordinário, que lhes trariam, cujos benefícios eram amplamente
compensadores. À noite, iluminando e estreitando o relacionamento entre os seres;
aquecendo; cozinhando; na defesa do grupo, por afastar os animais perigosos
amedrontados por ele; como arma, na caça ao paquiderme à noite, que eram empurrados
por grupos com tochas acessas nas mãos a locais com armadilhas previamente
preparadas, buracos grandes abertos no solo com estacas pontiagudas enterradas no
fundo, e tendo na sua superfície uma cobertura dissimulada para levar o animal a cair
dentro dela e morrer; oferecendo sua cobiçada carne aos caçadores, que com um
pouquinho mais de astúcia passariam a assá-la na fogueira. Aquele algo a mais que lhes
trouxeram um amplo suporte alimentar. E viver sem o fogo, a flor vermelha, nunca mais.

18
A partir da obtenção da técnica de produção de alimentos através da agricultura,
e com o conseqüente estabelecimento sedentário em aldeias, ele veio a se constituir um
valioso aliado nessa empreitada, permitindo o aparecimento da técnica da olaria com a
queima do barro para a produção de tijolos, vasilhas, potes para a água, a panela de
cozinhar, etc, abrindo-nos um leque de possibilidades alimentícias muito maior ao
permitir cozer raízes e grãos antes imprestáveis a alimentação por sua dureza. Como
também por seu uso no derretimento do metal, nos trabalhos da metalurgia, cuja
importância fala por si mesma. E hoje já chega ser problemática a sua tão ostensiva
presença obtida de fontes fósseis, cuja queima libera gás carbono; hoje um agente
produtor de uma singular alteração na constituição da atmosfera, capaz de causar o
aquecimento do planeta e desequilibrar o clima, e com isso afetar o meio ambiente, e
conseqüentemente, a estabilidade da vida na Terra, e iniciar uma nova era de extinções
em massa.
Com ele, ainda mais significativo para a história da cultura, derreteríamos o
estanho e o cobre para obter o bronze e com isso fazer utensílios agrícolas e armas:
espadas, punhais, etc; que mais tarde, na seqüência, seriam de ferro; canhões,
espingardas, metralhadoras, etc... Pra quê tanta arma? Medo de quem??? Desde o início
da sua utilização como fonte de calor e de luz só sabíamos queimar madeira, e muito
posteriormente, já no séc. XVIII começamos a queimar carvão mineral para a produção
de energia motriz por acionamento de pistões pelo vapor e, que veio a ser substituído
pelo petróleo no séc. XX. Todos combustíveis fósseis; pois que um dia foram madeiras
também; que submergiram, como que tragadas pelo solo, e lá depois de aterradas se
fossilizaram em forma mineral, ou em óleo. Com a descoberta da eletricidade e da
energia nuclear abrem uma nova concepção de energia para a produção de luz, calor e
movimento sem emissão de carbono na atmosfera; sendo que a primeira tendo a sua
oferta limitada em questão de quantidade e a segunda, mesmo sendo limpa de carbono é
ainda mais perigosa pela emissão de radiação fatal de longuíssima duração, exigindo
cuidados sérios. O que fica ainda mais difícil, perigoso e complicado por questões
políticas, por estarmos vivendo num mundo em que não há paz e solidariedade entre os
povos; todos vivendo em constante desacordo, sobretudo ainda por questões de fundo
econômico. As fontes de energia atuais com base no carbono, terão que ser substituídas.
A energia do futuro próximo, daqui a entre cinqüenta a cem anos, isso se quisermos
fazer sobreviver à cultura, terá que ser obtida do hidrogênio, que oferece, no momento, o
motivo mais promissor de esperança na obtenção de uma energia limpa, abundante e
barata, que permita o desenvolvimento de um projeto de desenvolvimento humano
social-econômico verdadeiramente sustentável em todos os sentidos.

19
Durante todo um processo de transformação e desenvolvimento até ao
aparecimento desse novo ser, curiosamente hoje chamado de ser humano - parecendo
que, com isso, tentando associar alguma idéia sublime ao bicho - trouxe a novidade
emblemática do despertar da consciência de si, a autoconsciência, no reino da vida
animal. Algo até então totalmente desconhecido na natureza, até então inexistente. Um
processo que permeou todo o período primitivo passado; desde o pôr-se de pé até ao
aumento do tamanho físico do cérebro em três vezes e meia, e do desenvolvimento das
funções cognitivas; até, principalmente o pensamento reflexivo e a linguagem verbal
articulada. Para, mais à frente, vir a desembocar no aparecimento do eu individual, da
ilusão do ego, algo ainda hoje tão contemporâneo e vaidoso de si. Isso se dando somente
quando, através do poder institucionalizado em um Estado autoritário, foi trazido ao
palco os personagens sociais históricos, cujo papel ainda hoje é representado da mesma
maneira, do mesmo ainda, embora que com outro argumento. Onde nele se destacaram
os soberanos, em contendas permanentes, dizendo-se deuses, os donos do mundo, da
verdade, de tudo e de todo mundo. Vindo estes, assim a ocorrer como a manifestação de
uma vertente psicológica desse novo estado de desenvolvimento civilizatório histórico
econômico-social, agora à base de chicote para a produção, apropriação e acumulação
concentradora de riqueza; onde se produz e reproduz a nossa existência social de forma
permanentemente desigual, antagonizada em conflitos de interesses de ordem material
na economia das sociedades históricas desde então. E que a partir do início desse
período, no Egito e na Mesopotâmia e que pela catástrofe que hoje está causando no
meio ambiente, o ego terá um dia que desaparecer totalmente, antes que desapareçamos
junto com ele, quando sua manifestação num futuro próximo terá de ser considerada
perniciosa, suja e imoral, um crime de lesa-vida. Choro por ti, Amazônia
antecipadamente, minha querida.
É correto considerar-se o organismo vivo como um complexo de mecanismos
bioquímicos os quais controlam sua coerência interna em termos de organização e
eficácia; e sua eficiência externa em termos de sobrevivência, luta, identidade, e no
nosso caso, também racionalidade. Tudo isso, claro, se dando de forma inconsciente,
como que maquinalmente; até ao nosso aparecimento. Bingo! A vida, no seu conjunto, é
uma máquina energética, constituída por máquinas diferenciada entre si, a diversidade,
quanto a forma e função, externamente, mas de mecanismo, ou forma mecânica celular
semelhantes o bastante que nos permita afirmar serem todos de uma mesma origem, a
mesma célula ancestral. A recém denominada diversidade biológica no curso do seu
aparecimento e desenrolar histórico tem sido totalmente casual e aleatório, como
aparenta, desde que se afaste a causa finalista e metafísica, bastante improvável, ainda
que sedutoras.

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Seu maquinismo vivo é alimentado, principalmente pelo hidrogênio separado da
água, com a ajuda da energia solar, feito realizado pelos vegetais. Sua maquina é
composta por átomos, os de carbono principalmente, oriundos da explosão de uma
estrela supernova, estrela de vida curta e magnífica em tamanho, onde eles se formaram,
quase todos. Somos produtos indiretos dessas explosões, super aleatórios; somos
resultados. Entendermos a nós, a vida, e o universo, seu suporte é entender a energia
eternamente manifesta, a única eternidade possível de se crer; a qual subjaz no íntimo de
qualquer elemento químico e em toda ordem de estrutura, em qualquer coisa que exista.
Nem toda energia é vida, mas toda vida é energia, manifesta em ânimo e movimento,
obtendo-a pela troca de substância com o meio ambiente em que está mergulhada,
resultado da sua queima, isto é, transformação, ou reciclagem.
Eis um mundo de energia natural e abundante vindo de uma estrela de
proximidade relativa adequada, que banha este planeta privilegiado em quantidade de
água, ótima para o crescimento da vida na forma unicelular bacteriana e para a sua
sustentação, sem mistérios de qualquer natureza, ainda que este seja ainda um
acontecimento pouco conhecido em todos seus detalhes, atualmente. Porque a água? Um
dos motivos foi dado por possibilitar a síntese das primeiras moléculas orgânica onde se
formaram e pelo posterior aparecimento da fotossíntese, mecanismo intracelular de
alimentação usando a energia do Sol para utilizar o hidrogênio da água, usado para fins
energéticos da bactéria; ente autotrófico em processo de autoconstrução, tendo como seu
efeito secundário a liberação abundante de oxigênio para a atmosfera. Antes disso a vida
bacteriana anaeróbica obtinha energia pelo demorado e custoso processo de fermentação
utilizando-se dos blocos de substancia orgânica formadas espontaneamente no mar,
através da incidência intensa dos raios solares ultravioleta; os quais atravessavam a
atmosfera sem impedimento, pois que ela não tinha ainda moléculas de oxigênios livres,
que pudessem formar a camada de ozônio (O3), sua barreira natural. Como a utilização
desses blocos orgânicos pelas bactérias era mais rápida que a sua produção; é de se
supor que a novidade da fotossíntese se generalizasse e permanecesse por superar esse
problema de escassez paralisante do crescimento da vida. Foram aquelas que
aprenderam a usar o oxigênio a seu favor no próprio metabolismo, as aeróbicas recém-
nascidas, que vieram a se proliferar e se desenvolver prodigamente até quando bilhões
de anos depois aparecem os primeiros organismos simples multicelulares, como um
grande aglomerado de bactérias unidas pela simbiose num meio saturado de oxigênio.
Daí em diante, um rápido processo evolutivo, há quinhentos milhões de anos, se dá
início; passando pelas fases marinha e terrestre e aérea, como um gás que se expande em
um ambiente fechado ocupando todo o espaço, ao processo evolutivo da diversificação e
disseminação da vida sobre o planta. Nossos ancestrais remotos em linha de
descendência evolutiva, em ordem de aparecimento são as bactérias, os invertebrados, os
peixes, os répteis, por último, os mamíferos; classe em que se inclui a família dos
primatas; de onde nós somos uma dentre muitas espécies de seres, pura e simplesmente;
e nada mais. Somente agora isso assim pode nos ser ensinado, e não se pode crer em
algo diferente, isso se houver algum resquício de honestidade intelectual no proponente
ao saber, claro e lógico. Assim, dado ao conhecimento que temos hoje desse processo,
longo processo, pode-se afirmar que não somos nada mais, nem nada menos que uma
evolução acidental, como tudo na natureza é; onde o acaso é a lei, pois que não há
nenhuma direção predeterminada em direção alguma que seja, - “caminantes no hay
caminos, el camino se hace al andar”- por quem quer que seja, tendo no acaso, na longa

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duração do tempo e na necessidade os únicos motores reais existentes do movimento da
vida sem direção determinada, sem nenhuma finalidade; mas que por acaso chegou ao
chimpanzé - fala, Zé! - e dele a nós. Sim senhor! Se somos chimpanzés modificados por
um longo processo de aproximadamente meia dúzia de milhões de anos, como tudo
indica ser verdade, somos chipanzés, com noventa e nove e sessenta centésimos por
cento de semelhança em nossos genomas, segundo estimativas mais precisas e
confiáveis; ainda que uma variedade muito estranha até. Quais as diferenças anatômicas,
e não tão anatômicas assim? E, como explicá-las? O rosto - nós nos achamos mais
bonitos, claro; eles não devem concordar – afinou, esticou, por assim dizer, causado pelo
enorme crescimento da caixa craniana, que se deu a expensas do volume do rosto; cresce
o crânio e diminui o rosto. Perdemos o pelo, por motivos eróticos? Possivelmente; por
esse efeito ao aumentar a sensibilidade às carícias. Postura ereta, braços mais curtos
porque não mais vivemos pendurados aos galhos. De maiores tamanhos; crescemos
bastante porque tornamos-nos onívoros; viríamos a instituir a carne em um item
importante na nossa dieta de caçadores, andando pra cima e pra baixo sem parar, na
procura de encontrá-la. Tem mais a neotonia, o neném chimpanzé humano é quase um
prematuro, por causa do imenso tamanho do cérebro, que tem que se completar depois
que ele nasce, por vários meses ainda, porque não teria passagem, tornando-o altamente
dependentes dos cuidados dos adultos. Que mais? Sim, claro; passamos a usar sapatos,
cuecas, camisa e camisinhas; fazer a barba, pentear cabelo, o pouco do pelo que restou,
escovar os dentes três vezes ao dia, necessidade criada pelo novo tipo de alimentação
industrial quimicamente degenerada; isso os machos. As fêmeas passaram a pintar as
unhas, passar baton, fazer penteados, usar calcinhas, etc...Lista interminável de itens.
Isso tudo causado por uma outra diferença, a principal de todas, aquela que realmente
fez a diferença, a maior especialização e complexidade do nosso sistema nervoso e que,
por fim veio a permitir a criação de uma iludida sensação de existência separada dos
outros seres naturais; em um ego separado, individual, personalizado dentro de um
contexto social coletivo histórico; ao criar e alimentar um mercado consumidor, ou, o
mundo para si; dando passagem ao bloco da ganância e da violência que nos aflige. Uma
espécie de compensação dado ao acidente ambiental ter exigido e condicionado o
desenvolvimento da mente, como forma de suprir a deficiência física aos novos desafios
adaptativos ao novo ambiente criado, as savanas. Se hoje já tivéssemos suficiente
audácia intelectual, faríamos a seguinte experiência, para sabermos se somos mesmo
espécie taxonômica individual mesmo ou não. Inseminaríamos uma fêmea chimpanzé
com sêmen humano, claro nasceria alguém, ou algo. O quê? Primeiro o baby iria
crescer, ser educado a obedecer, como todo bebê do mundo, ser assistido, física e
emocionalmente. Tudo pronto, até que ele não está tão mal. Estando maduro
sexualmente, poderíamos saber se o rapaz ou a moça seria, ou não, fértil; capaz de fazer
outro animal igualzinho a ele. E como o critério de espécie é esse, espécies diferentes de
uma mesma família cruzam mais não nascem rebentos férteis. Pois então, mãos a
obra...Não, ainda não. Ainda é cedo, pensando bem. Teremos que esperar mais um
pouco até que a nossa curiosidade intelectual amadureça mais um pouco; é isso!
Teremos que fazer essa experiência um dia para sabermos toda, ou um pouco mais, da
verdade sobre nós mesmos. Haverá outro método seguro e mais barato? Se houver, ou se
vier haver, melhor! Lembrando, em tempo, que o amor é a verdade e a verdade é o amor.

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Quando coisas extraordinárias acontecem, o mundo à nossa volta passa a fazer
melhor sentido; o desastroso seria não entendê-las, pois não nos seria possível interpretá-
lo convenientemente. Porém, não são as coisas extraordinárias e importantes em si
mesmas, nada, nenhuma delas. O que é extraordinário é o próprio conjunto e as suas
relações internas é o que importa. São as relações entre as coisas que dão sentido a elas
mesmas, que as possibilitam serem compreendidas no estado em que estiverem;
destacando que a sua separação individual existe como uma aparência, ou de uma
atitude cognitiva elementar didática, um foco em zoom do objeto, cujo olhar pelo
pensamento possa defini-lo, destacando-o de um conjunto de acontecimentos, como
sendo separado, para que, através do processo de diferenciação dos outros objetos, possa
apreendê-lo ao classificá-lo. Tudo está ligado a tudo em relação direta, ou indireta;
conhecer é estabelecer as conexões corretas; e faz com que toda idéia de separação de
qualquer ordem não passar de uma mera ilusão dos sentidos que imprime na mente uma
informação parcial, incompleta, fato que está ligado indissociavelmente à história da
nossa cultura em processo de desenvolvimento, e ainda em estágio inicial, o que
dificulta muito tudo. Mas agora em vias de dar um salto qualitativo enorme e passar para
outro patamar superior, mais abrangente e fiel na obtenção das suas correlações
conceituais, quando então poderemos nos livrar de nossas amarras intelectuais; e enfim
compreender e afirmar ser ela, a realidade uma só unidade, e com isso relativisarmos a
importância da nossa existência. A relação, todo tipo de relação, - a relatividade aplicada
à teoria do conhecimento - e em que forma os acontecimentos se interpenetram é o
verdadeiro conhecimento prático-teórico que realmente importa alcançar, por nos
permitir interferir no fluxo geral, a grande corrente universal dos acontecimentos de
forma particular bem orientada, colocada como os dentes e a língua dentro da boca.
Importa ressaltar que está ocorrendo na história do pensamento hoje, um processo de
mudanças fenomenal, e que é impossível compreendermos o mundo hoje sem que
tenhamos compreendido essas mudanças em processo de andamento; onde se afirma que
qualquer coisa não ter significado real, autônomo, em si mesmo estabelecido e que todo
conhecimento sobre ele, o objeto, não ser exatamente, ou, unicamente e especificamente
sobre ele. Não existindo a coisa em si, ela só existe no histórico e fantasioso mundo dos
conceitos, junto ao absoluto e o imutável. Todo conhecimento o faremos pela localização
intelectual teórica desse ou daquele campo fenomenológico no mapa da realidade física
totalmente interligada em rede, como partes de um mesmo ser. O fluxo cósmico
inteiramente incognoscível, a única realidade, o único indivíduo; manifesto em
diferentes planos e níveis de acontecimentos dos quais nos damos conta como sendo
uma totalidade. Acontecimentos em níveis mais gerais, o próprio universo, ao mais
particular, o elemento sub-atômico e, abaixo, a vibração. Tudo é vibração nos níveis
mais gerais inclusive, passando por uma série de outras estações, outros lugares, como
pontos integrados de uma mesma viagem de um mesmo e único acontecimento; como as
células individuais que compõe uma melodiosa harmonia estrutural físico-orgânica, o
corpo vivo.
Um longo e diversificado período de milhões de anos fez o trabalho e a memória, ela
própria veio a se constituir depois quando já estávamos bastante modificados, não havendo
chance de nos lembrarmos das fases anteriores, mas ainda hoje sonhamos caindo. O que
eventualmente acontecia quando dormíamos nos galhos das árvores. Um longo período
de aprendizagem experimental da vida em formas variadíssimas se passou até que a
consciência de si aparecesse. Situar seu contexto hoje se torna simples a partir das

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informações obtidas da astronomia dando-nos conta de habitarmos um universo em expansão,
isto é, não estacionário permanente. Ele tem uma idade de nascimento e terá um fim. Esse
contexto define o caráter episódico da consciência de si, e é até certo ponto banal, pois se
aflige com a sua manifestação em ego separado, individual, inseguro; quer parar o fluxo
contínuo da corrente; não entende o principal, que é parte de um todo, e como tudo que existe,
é transitória, passageiro e fugaz; o que a justifica por si mesma, e melhor a compreende.
Porém, iludidos ainda acreditamos que ela é causa e a origem, como uma centelha de fundo
divino de uma outra natureza. Espiritual? Nesse ponto o tao está mais certo; por perceber que
o tao é o próprio deus, - daqui em diante sempre que for referido ‘deus’ será sempre com letra
minúscula; por não se tratar de uma pessoa, e por permitir com isso sublinhar a intenção,
verificada no decorrer de todo o texto, disto tratar-se somente de uma idéia abstrata, de certa
maneira até certo ponto, tola - pois, ou aquilo que não pode ser conhecido, porque haveria um
limite na idéia da sua extensão; não deve ser nomeado porque caberia já ao menos em um
nome. O tao é a obra da intuição. O que é? Eu não sei, ninguém sabe. E porque tem que haver
pra tudo uma explicação? Tudo está acontecendo toda hora a todo tempo aqui e agora, com
nenhuma finalidade; como não poderia deixar de ser. Como tudo isso aconteceu e continua
acontecendo? Porque da ilusão da consciência a seu próprio respeito e a respeito da realidade
exterior? E como isso nos mantém presos a ignorância e a uma série completa de outros
malefícios; afastados de nós mesmos, da nossa verdadeira índole afetiva, o amor; a comunhão
é a despersonalização? Porque pensar que nós; com nossos inchados egos privados é quem
conhecemos o amor e que somos quem sabe amar de fato? Talvez sejamos, de fato, entre todos
os seres viventes, os únicos que o desconhecem, que não o sentem realmente, apesar de
falarmos tanto, tanto, tanto nele; por toda a mídia, amor dá ibope; e estimula as vendas
associado a qualquer produto feito com muito amor; assim também como deus, allah, shiva,
cristo e Maomé, Abraão são mercadorias, ainda que conceitual, ideológica que também se
associam a outros produtos - digo produtos, porque por trás disso tudo está mesmo o
comércio, e por trás deste está o lucro - como partido político e classes sociais, povos e suas
bandeiras, por exemplo; que tentam nos passar uma idéia de que há uma finalidade oculta a ser
interpretada por trás de tudo que existe. Quando não é o amor sexual, é o divino idealizado
imaginário fantasioso, que associada à família individual, a ‘minha’ família, torna-a deslocada
da realidade, em face de um processo de mudanças históricas, violento e cruel e se fecha
encouraçada em torno dos seus membros com todos, em família, direta ou indiretamente,
comprometidos só com os seus membros e com sua reprodução em separado; ou amando-se
reservadamente, privadamente. Ou é o amor hipócrita, da boca pra fora, como uma veste
conveniente que oculta a verdadeira face interesseira do indivíduo; ou ainda, o amor
romântico, egóico, no último, centrado na posse e no aprisionamento do outro, como que se
estivessem os dois unindo couraças contra o mundo um exterior hostil. É assim, pior que é
assim. Mas lá fora, depois do muro feito de medo e individualismo das nossas moradas, dos
nossos ninhos de amor, reina o ódio, o ódio ao outro e a vida, onde mora a insegurança, onde o
réptil que habita dentro de todos nós aflora, fica solto e ataca; que o diga os quardinhas
ridiculamente fardados, ostentando poder, pagos para tentar abafar a situação de conflito,
senão contê-la em níveis toleráveis, porém, nunca de extirpá-la, solucioná-la ou resolvê-la de
uma vez por todas; isso não se pode fazê-lo, até que se destrua ou elimine aquilo que a
alimenta e a justifica; a máquina de moer carne humana, ou o sistema de espoliação da vida
humana à benefício de uma minoria de privilegiados, as elites econômicas e os seus homens
de confiança. Um sistema a machucar-nos doloridamente para que uma meia dúzia de gaiatos
se regozije de estarem vivos. Não sabendo, ou mesmo, não querendo identificar e interpretar a

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causa do nosso problema, da nossa miséria, da nossa dor, não teremos nunca como poder
resolvê-la, fazê-la cessar, muito longe disso. Caminhamos afoitos para o precipício, movidos a
soberbia, vaidade, gasolina e covardia. Somos crianças, ainda não crescemos; vivemos de
ilusão e fantasia. Esperança?? De quê? O que chamamos de sociedade para definir um
estabelecimento humano comercial produtivo destrutivo, trata-se de um grande equívoco. A
todo coletivo convém e precisa necessariamente, ao menos, comer e se agasalhar do frio, da
chuva e se proteger do sol, o que requer uma habitação; no tempo que ainda éramos chipanzés
tínhamos roupas naturais, os pelos; nunca procurávamos lugares gelados e quanto à chuva,
dava para nos abrigarmos fazendo abrigos com folhas largas e esperar a chuva passar
calmamente. Depois fazer um aquecimento, pulando daqui pra lá e de lá pra cá, pronto; tudo
bem de novo. A vida, com sua diversidade de seres, criou no próprio corpo da espécie os
elementos de abrigo; exceto os mamíferos de sangue quente que são aqueles que, em geral,
precisam de toca para se protegerem. Mas essa proteção, a toca, não é exclusivamente somente
uma proteção quanto aos elementos naturais, mas quanto aos predadores, quanto a segurança.
E para nós humanos tem sido assim, por diversas razões. Porém, não temos mais pedradores
naturais, agora somos os nossos próprios predadores. Poucas espécies se comportam assim, os
ratos criados pelo lixo cevado da nossa imundice e sem os predadores naturais, quando
explode seu crescimento populacional e ameaça o equilíbrio na relação com o ambiente,
passam a se comer uns aos outros. Vestir e morar é para nós uma espécie de couraça. Uma
cidade grande, uma metrópole, que é um estabelecimento humano coletivo com milhões de
indivíduos pululantes de desejos, carências e frustrações; onde quase ninguém se conhece
pessoalmente e mutuamente; onde multidões de rostos passam pela primeira vez por nossas
vistas todos os dias, para nunca mais serem visto de novo. Ou ainda, outros rostos que vemos
repetidamente ou ocasionalmente de longe, ou em meios de transporte coletivos, geralmente
apressados, fechados, longe no tempo futuro ou passado, sem sabermos seu nome, onde mora,
como se sente. Daí a couraça fazer sentido, como um território protegido e isolado, assim
como também a minha roupa e a minha mente com o meu eu que me isola do eu de um outro
alguém, torna-se uma necessidade vital, ao menos aparentemente, ou melhor dizendo, ao
menos é como ela é sentida, e não sem razão. Algumas moradias passam o sentimento de
serem verdadeiras fortalezas protegidas, passando idéia de poder, de força; o que no fundo
atrai ainda mais a cobiça alheia, na certa. Mas como tudo ou qualquer coisa, como uma
doença, por exemplo, tem uma causa, ou melhor, está em relação com outras coisas, podemos
perceber que esse desequilíbrio sócio-ambiental que construímos e já de tão acostumados
achamos normal, deve-se a presença do atual sistema econômico-político-social capitalista,
rebento histórico do escravismo. Permanecer nessa situação torna-se cada dia mais perigoso e
nossas couraças vão se tornando cada vez mais vulneráveis. Até que mudemos o sistema que
as justificam, para que se tornem desnecessárias.

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Toda essa desordem organizada teve origem há algum tempo; desde quando
aquilo que era um meio de produção da sobrevivência de todos e utilizado por todos, a
terra, foi privatizado; tornada particular por uma pequena classe de indivíduos que
impediram o acesso a ela exigindo trabalho forçado, e disso se beneficiavam. É quando
também, junto a isso, e em conseqüência disso, é edificado, pela primeira vez, a
organização do Estado, o fundamento político da vida gregária; um instrumento perfeito
para manter a opressão da lei do mais forte e permitir-lhe a dominação daqueles que não
podiam resistir-lhes, ainda que mais fortes em números, porém, mais fraco em armas,
sentimento de união e organização. Onde facilmente seriam desunidos entre si e
reunidos em torno do Estado contra os inimigos criados, externos, outros grupos vivendo
o mesmo drama. E se hoje a espoliação cruel e covarde aos antigos escravos encontra-se
um pouco, ao menos, atenuada é somente por terem sido introduzidas novas técnicas,
novas forças produtiva, novos meios de produção, e, portanto, maior produtividade; o
que trouxe uma mudança nas regras da dominação social histórica, pela necessidade de
introduzir a instituição de um mercado “livre” de força de trabalho para daí introduzir-
se, por extensão, um mercado consumidor da produção que faz a riqueza e poder dos
proprietários das máquinas, a elite de plantão, muito mais, mais que demais, poderosas
do que as elites antigas; se querem saber. Hoje por aqui tudo é negócio, qualquer
negócio; o negócio é fazer um negócio. Que diferença faz se isso estiver nos destruindo,
e dia a dia, minuto a minuto, enquanto nós, dia a dia, minuto a minuto, alimentamos a
máquina que faz girar o sentido da destruição. Faça um ‘negócio’, procure entender que
etimologicamente a palavra negócio quer dizer - negar o ócio, isto é, trabalhar. Só que,
vejam quanta ironia, quem faz negócio, na maioria das vezes, não trabalha e sim
empregam outros para trabalhar, pra ele ficar no ócio; que é tudo que ele quer, mas só
pra ele. e assim, para obter isso deve conseguir tirar você e eu do nosso ócio, em nome
do principal mito econômico moderno, o progresso.
As historiografias oficiais, baseadas em métodos idealistas de concepção da
realidade social focalizam apenas os personagens de destaque, os senhores patrimoniais,
governantes, generais, etc, como sendo os atores responsáveis pelo desenvolvimento
social com os seus grandes feitos e realizações; deixando de lado, sem nenhuma
referência sequer, àquilo que é que realmente interessa, importa; pois nos permite
interpretar coerentemente os significados reais do acontecimento social; compreender e
pensar melhor as relações gerais que é pertinente ao social. Trata-se das relações de
trabalho para produção e de apropriação da riqueza criadas pela vida social; as relações
econômicas de produção, a base material econômica, que dá forma e conteúdo à
necessidade de se fazer política das pessoas distribuídas nas classes sociais, como que
resultante das relações de propriedade estabelecidas; como um ponto de partida, um
continente onde o grupo associado acontece. – “não é a consciência que determina o ser,
mas o ser social que determina a consciência.” Marx.

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Vivemos milhões de anos, aproximadamente sete, da simples coleta de alimentos
e da caça, sem nenhuma espécie de tirania organizada. Não era nenhum paraíso adâmico,
com certeza não era, mas por certo não se parecia em nada com o inferno que foi
instalado depois que a civilização tomou assento no bonde da história. - Você é
civilizado? Sério???! A terra, o solo era um suporte natural de sustentação da vida de
todos, inclusive dos animais. Até que, com a chegada da civilização, ou do modo urbano
sedentário de se viver baseado na agricultura, veio a ser progressivamente transformada
num meio econômico social de produção de riquezas comercializáveis e num objeto de
cobiça e disputas ferozes; quando é autoritariamente transformada em propriedade
privada. E assim veio a ser, então, inaugurada a primeira e principal instituição, como
um eixo de caráter econômico, jurídico e político em torno do qual se desenrola toda
História da cultura, ao introduzir e promover o direito de posse pelo uso da força bruta,
ou a lei do mais forte, a propriedade privada; sobre o qual se baseia todas as regras do
jogo do processo histórico civilizatório inteiro; que com a introdução de algumas
modificações legais é o mesmo até os dias de hoje. em nossos tão cansados e
desmoralizados dias, sendo apenas instruídos alguns marcos legais regulatórios, evitando
a ocorrência de excessos, e como forma de organizar a bagunça. Mas somente para
garantir que toda riqueza acumulada, como num jogo de cartas marcadas, seja
manipulada legalmente por interesses de pequenos, mas, influentes grupos particulares.
Eis aí a razão de ser e a lógica dos conflitos permanentes e crônicos da nossa cultura
social, e de todo movimento social histórico. Surge desta feita, inaugurando a história da
vida em sociedade urbano-predial-sedentária a primeira relação social de produção, que
marca pela primeira vez uma distinção social economicamente determinada. E a posição
de classe aparece segundo um papel fixo desempenhado no contexto econômico-político
e social, se como um senhor ou se como um escravo. Uns coagidos a trabalhar em
benefício de outros, os senhores e seus asseclas armados até os dentes, que sob o fio da
espada coagem aqueles que tornam-se seus objetos, nada mais que ferramentas de uso de
sua propriedade. Homens, iguais em natureza biológica, mas, desde então, já
distinguidos por uma escala de valores sociais-econômicos-materiais recém
estabelecidos, produzindo sob o açoite a seu serviço, na lavoura, nas obras, no serviço
doméstico, no artesanato, etc... “Por todo o vale do Nilo, por todo o Império romano, da
Gália à Pérsia, homens giravam moinhos, manejavam as comportas de irrigação,
carregavam tijolos em filas intermináveis, puxavam pesos enormes. Navios eram
acionados por homens que remavam submissamente em filas compactas. Os homens
eram baratos...” Onde o chefe mandasse, ordenasse; assim, inteiramente coisificados,
sem nenhuma dignidade pessoal, de fato, faziam da obediência o seu salvo conduto de
sobrevivência. Por seu turno, do outro lado do muro, do lado de fora do curral, se
instalam os senhores, entronizados em seus assentos largo, confortavelmente; junto a
eles os seus ‘olheiros’, todos de bem com a vida quando em pleno gozo de seus
caprichosos privilégios, usufruem do seu domínio na maior naturalidade. São eles os
únicos humanos de fato, libertos de qualquer grilhão, exceto da preocupação com a
ameaça da traição dos amigos e com competição e de outros senhores, de outros lugares
e de outras terras em busca também de mais riqueza, prestígio e poder. Esse tipo de
produção cênica protagonizada em palcos históricos, sempre pelos mesmos arranjos dos
personagens principais, os senhores e a subalterna plebe, caracterizá-se, mais que em
qualquer outro sentido, pelo antagonismo gerados entre eles, encontrando-os a se
comportarem sempre em permanente hostilidades e conflitos motivados por interesse de

27
classe; pelo direito e poder de acesso aos bens materiais gerados pelo trabalho, sua
sustentação, e pelo próprio e simples direito à vida; e também pela ganância motivada
entre os senhores de virem a ocupar esse lugar, esse papel, e nele permanecer. Esse novo
sistema político-econômico, marcado pela mesquinharia, inaugurará a fase civilizatório
urbana da História humana. Começando já organizada, portanto, de forma injusta e
desigual, donde permite-se estabelecer uma ligação direta com a realidade atual,
contemporânea. Todo sofrimento tem uma origem e toda origem tem um significado;
este podemos vê-lo a se desdobrar em seu processo de desenvolvimento, qual uma
avalanche se formando pelo deslocar de uma só rocha, a do crescimento populacional,
como um inchaço em uma ferida causado pelo desenvolvimento massivo de bactérias
em busca de alimento. O poder, nessa alegoria, é inteiramente autocrático, e existe a
beneplácito de uma classe dirigente bem visível, em primeiro plano; que manda, pode e
gosta de mandar; e onde a justiça e as idéias estão a seu serviço, e funcionam como um
reflexo da sua vontade, dos seus interesses de classe. E fazendo com que os demais
vivam sob a ameaça de um porrete sempre levantado sobre suas cabeças, para não se
esquecerem de quem manda; para não esquecerem que lhes devem obediência.

28
A concepção de um método de pensamento social-histórico dizendo ser a base
material econômica de produção da vida em sociedade, em permanente relação de
confronto e contradição por questões de interesse de classe, uma força que fez, e faz, e
fará, enquanto existir, girar a roda das transformações sociais históricas através do
tempo, estabelecendo pela primeira vez na História da Ciência Social, e de uma vez por
todas, que os papeis que os homens tomam para si no decurso da História das
Sociedades, em torno da propriedade dos meios econômico de produção e da forma de
apropriação da riqueza gerada, é quem explica e dá sentido ao corpo social ideológico-
jurídico-político edificado em cada fase do seu processo de desenvolvimento; e não o
contrário. O que significa dizer que não é a consciência social, o corpo jurídico-político-
ideológico institucional, ou valores morais subjetivos e aleatórios quem determina e dá
forma a sua base econômica material de produção e ao conjunto da sociedade e sim, pelo
oposto, ser estas, a base material econômica, quem condiciona e determina o surgimento
daquela, a consciência social, em todas as suas formas, daí se auto-intitular de
materialismo histórico. Fizemo-nos passar pelos papeis de senhor versus escravo, na
história antiga; senhor versus servo, no feudalismo, este, uma espécie de período de
transição, na Europa, entre o escravismo antigo e o capitalismo moderno; e, finalmente,
patrão, um senhor melhorado, quase um pai, versus operário, um servo melhorado, quase
um filho - calma, eu disse quase - no presente momento capitalista. Esta concepção vem
a se tornar à primeira lei geral da ciência do desenvolvimento histórico, a qual
compreende o significado dos movimentos sociais históricos e suas lutas, a partir de um
mecanismo de mudanças e transformações que se acionam quando as relações de
propriedade sobre os meios econômicos da riqueza social entram em choque, e se
conflita com o desenvolvimento de novos meios e formas de produzir que, devagar, vão
sendo introduzidas no seio da sociedade antiga, e se insinuam dentro de uma dada
formação social histórica, acabando por serem bloqueadas em seu desenvolvimento, por
não caberem dentro do quadro restrito das relações de propriedade existentes e com as
respectivas instituições político-sociais vigentes e estabelecidas até então, exigindo,
assim, seu desmonte, sua crítica, sua superação, precisando serem substituídas por
outras, reordenadas de outra maneira, para que assim as novas formas de produzir possa
seguir seu curso em desenvolvimento, criando a partir daí novas bases, novas relações
de produção que sustentem um patamar superior, isto é, o corpo de um novo edifício
jurídico-político-ideológico, um novo Estado; de forma a dar suporte ao seguimento das
novas forças econômicas emergentes e a um novo conceito de sociedade, como o que
verificou-se na passagem do feudalismo ao capitalismo, por exemplo. Por isso mesmo
atribui a funções, como que de paredes e telhado do edifício social, o poder (instituições
políticas), a Jurisprudência (instituições jurídicas) e as idéias (religião, ciência teórico-
experimental que hoje estabeleceu um novo patamar para a Filosofia, modificando o
estatuto do ato de pensar livre de pretensiosos sistemas completos de compreensão
absoluta do ISTO), a condição de que são demolidas e reconstruídas conforme muda a
base material de produção, que as alicerçam, e sobre a qual serão assentadas ao produzir-
se uma reorganização social, em outras bases. Assim, o processo social sedentário-
civilizatório em sua totalidade até os dias de hoje teve no conflito, na discórdia entre os
interesses de classe envolvidos, o seu fundamento, seu fulcro, sua raiz; porque dele se
originam, na forma e no conteúdo, todos os outros fundamentos, como os galhos que
emanam de um troco; que fez, e ainda continua a fazer girar o motor do navio de
primeira, segunda e terceira classe de passageiros, desde o primeiro segundo dessa

29
viagem, com todos nós dentro, e que dura algo em torno de seis mil anos já, no espaço
de tempo que em breve aportara, com o fim dessa viagem; esperemos que em segurança.
Nos papeis principais da cena social os atores protagonistas e antagonistas em
luta, fazendo com que as formas do sentir, pensar, desejar sejam meros dados da
administração e sustentação do insustentável e pernicioso conflito social observado, ele
mesmo um gerador de ódio e violência aguda podendo chegar em certas ocasiões a
níveis tão assustadores como a de uma barbárie enlouquecida, de pré-histórica
civilização. Uma contradição nos termos, o que prova que a História ainda não começou,
marcando a sua presença com o simples fato do aparecimento da escrita e só começará,
de fato, quando dermos o salto qualitativo ao com o fim do conflito social raiz. Estamos
ainda na pré-história, no seu final, no seu último suspiro, mas ainda na pré-história; ou
como se poderia dizer, na ante-sala da História, tendo já dado passos significativos e
portentosos nessa direção, sendo a escrita somente um desses.
+As classe dominantes históricas através das suas instituições políticas e
ideológicas, sempre sustentaram a tese que o conflito se origina somente na própria
condição humana, por si só, conflituosa, cruel e violenta, o que em parte é verdade
quando as condições nos empurram a isso. Mas, a bem da verdade, poderíamos
acrescentar nessa assertiva as principais crueldades especificas existentes como sendo a
mesquinharia, a ganância, a avareza e a vaidade pessoal da classe dominante o princípio
de tudo que de mal e ruim acontece conosco a todo tempo, em todos os tempos, desde o
aparecimento do inoportuno ego eivado de desejo de poder, fundado na propriedade
particular pela força, ontem, dos meios de produção, hoje, pela força da tradição. Como
eles tem o propósito de se perpetuarem no poder, passando de geração a geração o seu
gen egoísta, acionam mecanismos de coerção e convencimento cuja função e objetivo
sejam exaltar valores educacionais que mais lhes convenham; respeito, obediência e
conformação, alienação religiosa pra que tudo possa ficar religiosamente do jeito que
eles gostam, do jeito que está, do jeito que é melhor pra eles, só pra eles. De preferência
pra sempre, ser sempre a mesma coisa, sempre. Como nada é pra sempre, o jogo é
jogado todo dia e que amanhã será outro dia, outro tempo, mesmo assim caso alguém
telha lhes sobrevivido pra ver. Deus lhes pague!

UMA MANEIRA DIFERENTE DE PENSAR.

30
O método Materialista-histórico como ferramenta teórica na análise interpretativa
deve-se dizer, não teve abrangência total para todos os momentos da nossa trajetória
cultural até agora, principalmente para o período pré-histórico, exatamente porque,
então, não havia sido erguida ainda uma base material econômica organizada. A partir
daí, sim. Por certo, quando da superação do capitalismo, o que não demora, o
mecanismo que aciona as mudanças histórico-sociais entrará em ação, porém há que se
fazer, desde já, um reparo no aspecto político desse processo. A previsão de mudança por
ação revolucionária de choque e assalto ao poder pelo proletariado, pretendida por Marx
tem que ser revisto; o que é fácil de se perceber depois da desastrosa experiência
soviética, chinesa e etc, que entraram por esse caminho. Podemos prever solução
negociada, pactuada, lenta e progressiva, como queria Kaultski, na implementação e
orientação das transformações históricas. Num tempo futuro, ainda muito à frente, e no
qual se pode prever a eliminação do conflito social pela criação de uma harmoniosa
sociedade livre da divisão de classes e da presença do Estado e seus penduricalhos, pois
então, este método deverá ser revisto e modificado. Sim, porque ele não mais dará conta
de explicar a coerência dos acontecimentos e seus significados, pois ele se ajusta bem,
dando conta de os interpretar corretamente, somente no período histórico conflituoso
condizente a uma base material de produção e apropriação desigual e injusta em
sociedade dividida em classes estanques, separadas, e em conflito. Sendo que é teoria;
também é ferramenta de cunho ideológica. Quando do advento da sociedade de relações
sociais harmônicas, sem conflito de classes pela produção e apropriação de bens na base
econômica; quando os bens que geram a produção forem de propriedade coletiva, e esta
for organizada pelo coletivo, de forma descentralizada sustentável; com toda certeza o
mecanismo das mudanças e do progresso histórico-social humano deverá mudar
também, e com ele mudam também as leis do desenvolvimento histórico social; porque
terá mudado junto a própria relação de entendimento dos indivíduos consigo mesmo e
com a sua própria história; cujo sentido básico terá se alterado pela superação dos
conflitos sociais em permanente solução de força pela violência, passando a viver com
base na fraternidade, livres dos obstáculos ao crescimento humano, livre dos sofismas
esotéricos; baseando-se na solidariedade, avançando na devida superação da atual ilusão
do vaidoso ‘eu’ individual, que como um véu nos oculta a verdade mais elementar; que
todos nós somos um, um mesmo ser; seres iguais, com as mesmas necessidades, os
mesmos objetos de desejos, e mergulhados no mesmo ambiente físico natural e que dele
fazemos parte do qual não podemos jamais prescindir, nem escapar, muito menos
destruir. Não temos ascendência natural, uns sobre os outros de nenhuma natureza, que
corresponda a algum fato real verificável e que não seja preconceituoso, ou de natureza
artificial de conteúdo político-social, como nível de escolaridade, posição de classe, ou
riquezas entesouradas, etc. E somos todos parentes, originados de uma mesma família
chimpanzé mutante, de uma mesma célula familiar primitiva, e de uma única célula
bacteriana nascida há bilhões de anos.

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Tudo está ligado a tudo em relação direta, ou indireta, e toda idéia de separação
de qualquer ordem não passar de uma mera ilusão dos sentidos que imprime na mente
uma informação parcial, incompleta, fato que está ligado indissociavelmente à história
da nossa cultura em processo de desenvolvimento, e ainda em estágio inicial, o que
dificulta muito tudo. Mas agora em vias de dar um salto qualitativo enorme e passar para
outro patamar superior mais abrangente e fiel na obtenção das suas correlações
conceituais quando então poderemos nos livrar de nossas amarras intelectuais, e enfim
compreender e afirmar ser ela, a realidade uma só unidade. A relação, todo tipo de
relação e de que forma se interpenetram é o verdadeiro conhecimento prático-teórico
que realmente importa saber por nos permitir interferir no fluxo geral, a grande corrente
universal dos acontecimentos de forma particular bem orientada, colocada como os
dentes e a língua dentro da boca. Importa ressaltar que está ocorrendo na história do
pensamento hoje, um processo de mudanças fenomenal, e que é impossível
compreendermos o mundo hoje sem que tenhamos compreendido essas mudanças em
processo de andamento; onde se afirma que qualquer coisa não ter significado real,
autônomo, em si mesmo estabelecido e que todo conhecimento sobre ele, o objeto, não
ser exatamente, ou especificamente sobre ele. Não existindo a coisa em si, ela só existe
no histórico mundo dos conceitos, e junto a ela está o absoluto e o imutável. Todo
conhecimento o faremos pela localização intelectual teórica desse ou daquele campo
fenomenológico no mapa da realidade física totalmente interligada em rede, como partes
de um mesmo ser, o fluxo cósmico inteiramente incognoscível, a única realidade, o
único indivíduo; manifesto em diferentes planos e níveis de acontecimentos dos quais
nos damos conta como sendo uma totalidade. Acontecimentos em níveis mais gerais, o
próprio universo, ao mais particular, o elemento sub-atômico e, abaixo, a vibração. Tudo
é vibração nos níveis mais gerais inclusive, passando por uma série de outras estações,
outros lugares, como pontos integrados de uma mesma viagem de um mesmo e único
acontecimento; como as células individuais que compõe uma melodiosa harmonia
estrutural físico-orgãnica, o corpo vivo.
Se nós criamos uma sociedade, uma civilização conflituosa, belicosa, como um
reflexo da nossa forma de produzir a riqueza e de se apropriar dela de forma atrasada,
não tem remédio outro que não seja a revisão profunda desse procedimento, que é o
nosso modo de nos relacionarmos socialmente com a riqueza. Se a nossa ação é
realmente um puro reflexo desse sistema mantido à revelia da maioria pela dominação,
então não há espaço nenhum para esse tal de ‘livre arbítrio’. Se hoje agimos
condicionados por uma lógica opressiva, injusta, a que é a causa das nossas dificuldades
e irresponsabilidade ambiental, poderemos mudar essa lógica de pouca racionalidade, e
fazermos a devida correção de rumo, não mais movidos pelos nossos ideais e vontade,
ou por uma solução de força como quiseram os marxistas revolucionários. – admitem
isso ao menos? - mas, pelo contrário, nos permitir trabalhar ativamente pelo
amadurecimento das condições materiais que nos permitam realizar a riqueza pela
transformação da natureza de forma consciente e agir no rumo desejado, almejado da
superação dos nossos cacoetes sociais, principalmente as relações senhoriais x serviçais,
e a inconseqüente concentração de renda e de poder que hoje intensificam o desmonte
nada acidental da natureza. Vamos acabar com isso um dia, por certo; uma mudança de
hábitos que nos fará muito bem, claro, e quanto mais cedo melhor.

32
A lógica perversa do desenvolvimento social da exploração econômica do
homem pelo homem, ocasionada pela apropriação de forma individual da riqueza que é
de fato gerada pelo coletivo social; num sistema que atravessa incólume, desde quando
instituído, por todos os períodos históricos, e que vem causando conflitos, turbulência e
tragédia; e nunca teremos paz verdadeira, nem saída honrosa, duradoura, sustentável
para a nossa sobrevivência aqui na Terra, nosso habitat natural, que, aliais, não é nosso é
de toda a vida, ao menos deveria ser, enquanto esse sistema não for criticado.
Ou deixamos a vida se criar a si mesma, como ela sabe fazer muito bem, sem
atrapalharmos agredindo e possuindo; ou teremos de ser afastados, mais dias, menos
dias; sem sombra de dúvida esse processo já começou. Quem vai pagar pra ver? Talvez,
os mesmos “loucos de desejo de possuir” de sempre; mas mesmo esses ao perceberem a
situação se deteriorar a “olhos vistos” também hão de querer mudar tudo, movidos pelo
próprio instinto de sobrevivência inscrito no seu genoma e desse momento em diante o
mesquinho se transformará na encarnação da doação de si mesmo como o mais
eloqüente ato de amor. O mesmo instinto que impediu e impede até agora os russos e os
americanos se explodirem mutuamente, durante a guerra fria de ontem, e que ainda está
quente, por que os problemas que a geraram estão ai mesmo. Continuam por serem
resolvido a exploração e o antagonismo de classe. Fim; por este sistema que está aí
mantido de pé não conseguiremos passar. Se conseguirmos superá-lo sobreviveremos,
senão, não sobreviveremos. E somente então, teremos emergido e compreendido
completamente o sentido real da palavra que significa viver, qual o sentido do desejo e
do seu lugar dentro de cada um de nós, primeiro; para depois, na seqüência, fazermos
sentido exteriorizando-o em organização social agregadoras, equilibrada, resolvida, de
tom lilás.
Por tratarem-se as cores de uma linguagem subliminar que afeta, como uma
linguagem inconsciente, nossos estados emocionais, então poderíamos pintar os
diferentes períodos históricos passados com cores, conforme as representações psico-
emocional sugeridas por cada deles. Muito brevemente, sobre as cores e a vida social
histórica, nesse momento, vejamos: a primeira fase, quando ainda éramos regidos e
fazendo parte ainda da História Natural; a fase da inteligização dos seus movimentos
como forma de adaptação ao meio-ambiente passando por vários estágios em evolução
chegando até a revolução técnica do cultivo agrícola controlado, contado em um longo
período de meia dezena de milhões de anos, como de cor verde, cor da fertilidade.
Depois, quando da segunda fase, a fase da cultura econômica produtiva, que dura até os
nossos dias, a fase da exploração desenfreada na relação social de produção
escravizante, pulsante e sanguinária acometida, como de cor vermelha; cor visceral,
desejante e carnal. A próxima fase - se houver, quando houver, se não desaparecermos
antes -deverá ser pintada pela harmoniosa e cor lilás; em tempo, pelo necessário
esfriamento dessas já frenéticas pulsações dos tempos atuais que já ameaçam-nos, pela
degradação ambiental e pelo efeito-estufa, no horizonte do futuro próximo com a total
absorção da luz pela profunda cor negra da morte.

33
Só o que está vivo pode morrer ou sobreviver; na natureza o gen é o mecanismo
de replicação para transmiti-lo com o adventício das novas gerações. Então, a morte
entra no ciclo benfazejo da constante renovação da vida; enquanto durar, persistir em
movimento na fase ligada, viva. A vida nesse ciclo de duas fases, claro/escuro,
ligada/desligada, vida e morte, somente em uma delas pode ser cristalizada, congelada
ou perpetuada, que é a fase negra, morta, ou a negação. A fase clara da luz, vibrante do
estado vivo não pode ser cristalizada no ciclo real; ela é admitida somente em momentos
intermitentes com a ausência da luz; em movimento de magnífica rapidez nos dá
impressão ilusória de uma constância, perenidade, mas não, pura aparência. A realidade
tem o pano de fundo de cor negra da inconsciência, estática, o nada total, onde se projeta
a passageira e fugaz claridade, por que augúrio, não sabemos, e talvez nunca saibamos.
E admitamos, por conseguinte, que o melhor seria procurar sentir os limites próprios da
extensão limitada da nossa sabedoria, por enquanto; ainda que essa possa nos parecer tão
abrangente, mas que não pode resolver e nunca poderá, por certo, decifrar o que é o
estado inerte, inconsciente, desligado da matéria; e que quando em estado vivo, ligado,
de natureza passageira, efêmera, já está a caminho do mergulho de volta na
inconsciência total, negra possivelmente eternamente, sem a misteriosa luz do organismo
vivo. Por que fomos permitidos, engendrados? Por quê? Todos nós, os grilos, as pulgas,
as baleias, os ratos, etc... Todos em um, todos um, a vida, como estado ligado/luminoso
da matéria. Por quê? Há sentido nesta pergunta se aceitarmos o acaso, mero acaso, como
resposta, melhor resposta por ser mais verossímil. A vida, como estado ligado da matéria
só pode ser usufruída enquanto ligada, nunca explicada; e não há um porque pra isso,
isso é porque é, como o verde é verde, porque é verde. Enquanto não compreendermos
inteiramente isso, enquanto não superarmos o preconceito metafísico da luz eterna
vencendo a escuridão, não poderemos nunca olhar-nos uns aos outros com a devida
compaixão e interesse real. O que se fará possível quando realmente entendermos o
sentido real, verdadeiro e provisório do quê estamos mesmo fazendo aqui, nós, a vida,
isto é, a matéria. E nós mesmos, macacos pelados, como vida consciente de si e dotados
de pensamento reflexivo quando desligarmos todos os nossos aparelhos poderosos,
ruidosos do ego auto centrado poderemos, só então, nos regalar de estarmos aqui na fase
ligada, viva, que é o máximo e simples, mesmo sabendo que é por tempo limitado.
Relaxe profundamente goze intensamente e enfim, apague.
Enquanto a nossa meta for a superação do estado desligado, pela perpetuação do
estado ligado, não teremos nenhum desenvolvimento que preste pra nada; só futilidades,
iguais as futilidades pensadas e desejadas de eternidade imaginárias e confusas como a
dos antigos querendo perpetuarem seus sistemas corruptos, e que ainda querem no
mesmo tom, ao se fazerem de modernos. Sempre, é uma palavra perniciosa quando
tirada do seu contexto simbólico de relações freqüentes e trazida para a compreensão da
realidade social dando-lhe um conteúdo estático, uma compreensão ainda infantil e
interesseira, por certo; ainda que não queiram admitir os empedernidos metafísicos
idealistas. Vai demorar ainda um pouco até que possamos vir a dar certo de todo como
um projeto de vida natural, ou o mais próximos disso possível; estejamos certo que será
preciso que nos desnudemos de todo preconceito e tabus, e couraças ideológicas.
Enquanto ainda é possível. E não demora...

34
Quando homens são aviltados nos seus direitos fundamentais, nas suas condições
de vida e trabalho e não se revoltam, é porque são impedidos de agir assim por agentes
armados pagos para exercerem a função de repressão, e com isso sustentar aquela
situação a todo custo. Por isso, sem a existência de relações econômicas de produção
não se pode entender a existência dos aparelhos de repressão e sua função de
mantenedores da ordem - ou da desordem? - estabelecida, pois se dali se originam. Essa
situação tem passado e está passando por profundas modificações na História, mas segue
ainda mantendo sua essência intacta até quando da sua superação total ao se arrancar a
sua raiz, e for abolida de vez e para sempre o direito de propriedade individual da
riqueza social, quando as condições amadurecerem e, assim nos permitir a sua
realização.
Desde que este processo de geração de riqueza começou, os homens vêm
experimentando regimes sociais através de ferrenhas lutas, como forma de exercerem a
dominação nas relações sociais vinculadas a produção da riqueza, os bens necessários e
úteis a nossa sobrevivência de forma completa; postergando e transferindo para as
futuras gerações a abolição da exploração, causadora do conflito, e do seu caráter
contraditório enquanto sociedade. Os estilos e as formas da arquitetura dos palácios e
templos feitos com blocos de pedras esculpidos, de imensas proporções, inclinavam-se
para a idéia de que como aqueles blocos, o poder que o mandou construir também seria
eterno, imutável. E assim como toda cultura antiga foi atravessada pela ignorância de
não saber realmente no que se constitui sua existência em bases materiais, nem sempre
ideais, ou românticas, mas primeiramente possível, temos hoje a cultura também
vaidosa, e ainda ignorante, igualmente aos antigos, quanto aquilo que realmente nos
distingue e nos caracteriza como estáveis, sustentáveis, senão lógicos, porém nunca
perenes ou eternos, simplesmente transitórios, efêmeros e frágeis.
Em todos os diferentes momentos dessa longa e agoniada caminhada o poder
econômico, representado e traduzido de forma consistente pelas formas político-
jurídico-ideológico impuseram a dominação; lutam freneticamente por obstruir sua
superação, seu desmonte total, a sua crítica; legitimando sua presença na cena histórica
atravéz da força e da persuasão, até ao extremo final da violência explícita; dizendo-se
serem necessários e naturais. Sofismando e iludindo, buscando manter e justificar a
intervenção de aparelhos repressivos profissionais caríssimos; o aparato policial-militar,
forças coercitivas e de intimidação, judiciário, penitenciárias, tudo pagos por eles
mesmos, principalmente, e atrás dos quais se escondem. A todos nós isso deveria soar
sempre como uma ameaça velada, e que na verdade é. – cumpram-se ás ordens! E a
ordem tem que ser cumprida sem discussão, sem nunca pensarem que ordem é essa que
estão obedecendo e muito menos pensarem em se recusar a obedecerem-na. - Você não é
pago para pensar, e sim, para obedecer. Obedeça! Ou...!!!

35
Sob posse de um grupo restrito de indivíduos, que constitui a classe dos senhores
proprietários, os instrumentos físicos de gerar riqueza, as máquinas e ferramentas, que
são a própria riqueza, pois são as únicas capazes de gerar a produção, isto é, mais
riqueza; postos a funcionar por homens constrangidos a isso pela situação de
dependência e carência de outros meios próprios para dar-lhes conta da sua
sobrevivência, se instrumentalizam todos os aparelhos de Estado; o jurídico,
principalmente, o político e o corpo teórico-científico,religioso e artístico em geral. O
judiciário principalmente, por que ser aquele que tem a ferramenta das leis que
asseguram e protegem o direito de propriedade e regulam as ações dos aparelhos
repressivos através de seus funcionários, os juízes inclusive, que posam de isentos, cegos
aos clamores dos senhores, o que está longe de ser a verdade, mas conveniente seria
dizer que justamente ou não, conscientemente ou não, não importa, eles estão ali como
representantes e executantes superiores da ordem constituídas; pelas leis feitas, todas
elas, com o fim específico de funcionar como um pilar de sustentação dos senhores
proprietários dos meios de produção, que no fundo por relação indireta através de
generosos impostos, pagam seus salários. Assim reproduz-se o estabelecimento senhorial
desde que começou até os nossos dias, ainda que modificado pela nova característica da
transação econômica se efetivar através de um mecanismo de mercado, hoje em dia em
já dando seus primeiros passos em se globalizar. Porém, tecnicamente, o quadro é o
mesmo, igualmente baseado no mesmo princípio discricionário do direito de propriedade
sobre o produto do trabalho alheio, este sim a verdadeira riqueza, junto com a natureza.
A união de todos os mercados nacionais num só mercado de consumidores global terá
que, para funcionar a contento, mexer na relação de propriedade existente hoje em nossa
sociedade mundial, e ainda dividida em Estados nacionais, na prática, tornando-a menos
concentradora, cada vez mais, até sumir. Terá também que se tornar em um único
Estado global, depois de abolidos os Estados nacionais, para depois ser abolido também,
e não houver mais necessidade de Estado.
A fundação desse princípio jurídico de propriedade pelo direito da força,
principia uma nova fase de estranha natureza no processo histórico, agora não mais
natural, livre, como era antes quando no período primitivo, nômade e como foi depois
quando já na fase social harmônico-comunitária, a primeira fase do aparecimento da
agricultura, no neolítico, acontecendo em aglomerados humanos nos recentes espaços
urbanos definidos e de poder horizontal, sem privilégios de classe, sem a presença do
Estado autoritário. O significado básico dessa mudança foi a introdução da concepção
da terra em bem econômico e símbolo de poder para uso particular de famílias
aristocrática. Ela, que antes vista era como um bem disponível e natural, um espaço de
produção agrícola coletiva, solidária, para depois disso mais tarde, depois de um longo e
penoso esforço coletivo para dominar todo o processo de desenvolvimento das técnicas
básicas de gerir a novidade da agricultura, que durou milhares de anos, em torno de
cinco mil anos; ela passar a ser vista e transformada em objeto de valor e de cobiça; cuja
posse era um símbolo de poder e prestígio. Cuja acumulação e posse veio a ser, e
continua sendo, objeto de cobiçosas e constantes disputas militares, e conflitos no seio
da sociedade, e de disputas entre diferentes povos buscando se sobrepujarem uns aos
outros; mas sempre com o mesmo objetivo; poder pela acumulação de riqueza;
saqueando, pilhando, pela dominação através da imposição de pagamento de imposto,
cobrados como se fosse um resgate pela vida poupada.

36
Essa situação de contendas militares desgastantes, permanentes, exigiu o
desenvolvimento de melhorias técnicas capazes de influenciar positivamente no
resultado dos embates. Assim aperfeiçoam-se os armamentos e a máquina militar de
ataque e defesa, sob rígido comando hierárquico com o fim de impedir ações de ordem
interna desorganizadoras do poder senhorial, e externa, pela concorrência de outros
senhores. Entre os arcos e flechas, catapultas e muros fortificados antigos, aos mísseis
digitalizados, controlados por satélite, com mira a laser, monitorados remotamente de
hoje, é só uma questão de um investimento acumulativamente maior, em diferentes áreas
do saber feitos pelos mesmos personagens de sempre; os senhores, de ontem e de hoje.
Estes só mudaram na aparência, na forma, não na essência; no conteúdo são os mesmos,
só querem mesmo é sentir a sensação de mandar e serem obedecidos, e tirar disso os
benefícios que esta posição lhes proporcionam. O processo civilizatório constituído em
Estado senhorial desde a sua origem até o momento atual, deve ser dividido em duas
etapas básicas, somente. Em ordem de aparecimento: na primeira etapa, os grandes
contingentes populacional baseado no cultivo agrário predominantemente subjugado ou
escravo, iniciada em torno de quatro mil anos antes do mito cristão, A(mito)C, e que
durou com algumas modificações até o séc. XVI, depois do mito cristão, D(mito)C,
totalizando aproximadamente seis mil anos; com o fim do feudalismo. E depois, na
segunda etapa, a fase industrial capitalista, que se inicia a partir daí e que modifica a
forma de explorar o trabalho e com isso permitir efetuar a produção em escala, de forma
muito mais eficiente, produzindo ainda mais concentração de riqueza que os reis de
antanho nunca imaginaram ser possível fazer. A primeira fase durou aproximadamente
seis mil anos, e a segunda dura há pouco mais de quatrocentos anos e poderá - como
saber? - ainda durar não menos que até o final deste século XXI.
O processo acumulativo de riqueza em poucas mãos e da formação do Estado,
iniciado pela subjugação e escravização, permitiu e exigiu a contratação de
trabalhadores em setores intermediários ligados à atividade de serviços não diretamente
ligados à produção, mas ao seu controle contábil, do que se originou a linguagem escrita,
a matemática e o aperfeiçoamento das técnicas de metalurgia para fabricação de armas;
as ciências como a astronomia principalmente, pela busca de compreender as estações de
plantio adequadas em ciclos periódicos e assim melhorar as colheitas. Algo novo que
traz consigo o aparecimento de uma nova categoria de indivíduos agora trabalhando a
serviço da empresa pública, o Estado, numa primeira manifestação do aparecimento de
uma classe média de servidores públicos atuais e de setores ligados serviços na área do
saber e técnicas artesanais artístico-industrial.

37
Num ambiente natural, numa espécie de paraíso adâmico, onde de qualquer
modo vivíamos sem interesses privados e conflituosas relações sociais, o alimento era
uma doação do meio ambiente natural, em uma espécie de sistema “da mão para a
boca”; sem produção de excedentes, sem comércio. O que sobrasse, se sobrasse, era
repartido, doado. Se houvesse fartura, todos a compartilhavam, se houvesse penúria,
todos a sofriam. O cisma sexual do dilema adâmico, pelo pecado da desobediência é de
um puritanismo tolo como forma de querer barrar o crescimento populacional e a
banalização da vida pela repressão ao contato físico sexual. A bem da verdade, é que
fomos expulsos do paraíso, - não era um paraíso de qualquer modo - em virtude,
primeiro por exigir-nos gerar produção para troca comercial (VENDA) depois que a
população se desequilibrou por excesso de crescimento, porque não haveria, nem terra,
nem alimento suficiente para todos. Deus não poderia haver de proibir de comer a maçã,
que, aliás, é uma fruta deliciosa, e que ele adora, mas haveria de ter determinado,
veementemente, que ninguém a possuísse pessoalmente, nem a produzisse a custa de
trabalho forçado e de nunca vendê-la, no que não foi obedecido, como se vê. Ainda quiz
nos orientar a aprendermos a controlar nossos apetites, os sexuais, principalmente, pois
disso, em conseqüência, aparecem mais bocas a sustentar, isto é, mais apetites. Quanto a
cobra, ela não pode representar o natural desejo sexual, mas sim o indecente desejo de
cobiça pelo prestígio, poder, riqueza, distinção; não no sentido de distinção pessoal, mas
no sentido de ser diferente, superior; do mesmo jeito de uma girafa em meio a carneiros.
Superior, mesmo que tenha que ser a custa de enganar, de reprimir, de matar. É quando o
ego faz sua “avant-première” na vaidade e fantasia social de grandeza, vide as pirâmides
egípcias, olhemo-nas com outros olhos. No que se deve e pode-se afirmar ser o ego a
verdadeira impudência e nada podendo ser mais obsceno, imoral e pornô. E, no
entanto... Do papa, aquele babaca lá no Vaticano, a mim, o gari aqui do bairro, todos
estamos presos às mesmas correntes. Todo mundo... ‘Tá justamente nessa mesma
roubada, ainda hoje.
ANARQUIA E ANARQUISMO

Reproduzo agora o referido trecho do prefácio citado acima em que Marx


propõe, da forma mais direta e simples possível, a primeira lei social descrevendo o
mecanismo pelo que condiciona o progresso social histórico. Fala de Karl Marx - ‘’Na
produção social de sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e
independentes da sua vontade, relações de produção, que correspondem a uma
determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto
dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade; a base real sobre
a qual se levanta a superestrutura jurídica e política, a qual correspondem determinadas
formas de consciência social.
O modo de produção da vida material, conforme as forças produtivas existente e
as relações de propriedade dos meios de produção condiciona o processo da vida social,
política e espiritual em geral; Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as
forças produtivas materiais da sociedade se chocam com as relações de produção
existentes, ou o que não é mais que a expressão jurídica desta, com as relações de
propriedade dentro das quais vem se desenvolvendo até ali.

38
De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações se
convertem em suas travas. Assim se abre uma época de revolução social. Ao mudar a
base econômica, se revoluciona, mais ou menos rapidamente, toda a imensa
superestrutura erigida sobre ela. Quando se estudam essas revoluções, há que se
distinguir sempre as mudanças materiais, ocorridas nas condições econômicas de
produção e que podem apreciar-se com a exatidão própria das ciências naturais, e as
formas ideológicas em que os homens adquirem consciência desse conflito e lutam por
resolvê-lo. Do mesmo modo que não podemos julgar um indivíduo pelo que ele pensa de
si mesmo, não podemos julgar, tampouco, essas revoluções pela sua consciência, senão
pelo contrário, temos que explicá-la pelas contradições da vida material, pelo conflito
existente entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Nenhuma
formação social desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que
cabem dentro dela. E jamais aparecem novas e melhores relações de produção antes que
as condições materiais para a sua existência tenham amadurecido no seio da própria
sociedade antiga. Por isso, a sociedade se propõe sempre, unicamente os objetivos que
pode alcançar; Por certo, estes objetivos só brotam quando se dão ou, quando se estão
gestando as condições materiais para a sua existência, para a sua realização. Em grandes
traços, podemos designar como tantas épocas de progresso, na formação econômica da
sociedade, o modo de produção asiático, o antigo, o Feudal e o moderno burguês. As
relações de produção burguesas são a última forma antagônica do processo social
produtivo, antagonista, não no sentido de antagonismo individual, e sim, de um
antagonismo que provém das condições sociais da vida dos indivíduos. Porém, as forças
produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa brindam ao mesmo
tempo, as condições materiais para a solução deste antagonismo. Com essa formação
social se acaba, portanto, a pré-história da sociedade humana. -“Deixe-se aqui tudo
quanto seja receio. Mate-se aqui tudo quanto seja vileza”. Dante.

39
No âmbito da evolução animal, a formação da nossa espécie se inicia, por um
processo acidental traumático, causado pela perda do seu habitat natural, as florestas,
pelo desenvolvimento do trabalho manual, cuja habilidade crescente adquire primordial
importância no desenvolvimento do nosso cérebro, capacitando-nos das condições
necessárias ao posterior aparecimento da linguagem verbal e da consciência reflexiva. O
que significa dizer que, por causa disso, deixamos de ter a função adaptativa controlada
pelo genoma (inconsciente) duramente provado pelo meio-ambiente (necessidade), para
agora produzir recurso adaptativo externo ao corpo via reflexão (liberdade) como:
ferramentas, armas, roupas, etc, conforme exigência de momento. Produzindo, assim,
pela primeira vez no reino da vida, a curiosa cultura pela realização de trabalho
inteligente, em constante movimento e, concomitantemente, a História da cultura. E
como não podia deixar de ser, no princípio, de forma rudimentar, para ir melhorando, se
especializando num processo lento e progressivo, cada vez mais abrangente até a
conquista da cultura econômica e o modo de viver sedentário, com o advento da
agricultura e a criação de animais, há pelo menos doze mil anos atrás. A importância da
agricultura é tão maior do que todas as outras descobertas que houve antes dela; e que
continuou sendo a mais importante do que todas aquelas que foram descobertas depois
dela, a roda e a metalurgia, por exemplo, até à industrialização no século XVII. Isso
porque trouxe com ela, pela primeira vez, a realização da mais radical diferenciação do
homem com todos os outros seres da natureza. Até ela os homens já se diferenciavam
em capacidade intelectual sobre todas as espécies por produzirem seus apetrechos
pessoais, armas e roupas, e terem desenvolvido capacidade de comunicação pela fala
articulada, simbólica. Mas como todos os outros animais os homens, até o seu evento,
também estavam umbilicalmente presos à natureza livre como forma de se alimentar e
sobreviver, o que impunha hábitos nômades; por viver da coleta de frutas e vegetais e da
caça tinham que ir atrás delas. Até quando descobre o segredo da fertilidade da semente
e pôde plantar e colher; quando então deixa de ser um coletor nômade para se
transformar em um produtor sedentário. Facilitando as condições de vida, ocasionando
considerável crescimento populacional, aumentado em vinte vezes em um período de
cinco mil anos, até aparecer, influenciado por isso mesmo, depois um longo e fértil
período de paz e harmonia, a tirania dos senhores. Tiranos, senhores de guerra, donos da
vida e da morte, personificando papéis de verdadeiros deuses - assim na Terra com nos
céus - chegam para conter a explosão demográfica em curso. Nos cinco mil anos
seguintes a população irá crescer somente três vezes; por conta da matança que passou
suceder.

40
Com substituição do modo de vida nômade para o modo sedentário de viver em
aldeias comunitárias, começa um processo de produção não comercial de bens
necessários à vida através de um modo coletivista-comunitário, iniciado no período
chamado de neolítico; onde todos trabalham e todos participam da partilha do que é
produzido, sem a geração de uma elite privilegiada com poderes e distinção de qualquer
espécie. O período neolítico das sociedades harmônico comunitárias , o comunismo
primitivo, que inauguraram o modo de viver sedentário em aldeias há dez mil anos atrás,
só produziam para a auto-suficiência, sem produção de excedentes para comercializar e
sem foco na riqueza; tínhamos algo que se poderia denominar de relações sociais de
produção harmônico-igualitárias; porém, e sempre tem um porém, isso nos trouxe como
conseqüência um fenomenal aumento populacional recorde, no mundo conhecido da
época, durante este período, pula de 5 milhões para 100 milhões. Algo que tornaria a
ocorrer outra vez, somente quando a metade desse recorde , isto é, dez vezes ocorreu em
somente trezentos anos; quando do advento da indústria até os dias de hoje. Entre esse
dois momentos que se caracterizam pela obtenção de novas forças produtivas e de novas
configurações econômico-político sociais há um período de muita violência como que
colocando um freio, um controle no crescimento da população que ficou muito barata e
banal. Começaram haver conflitos que se agravaram até a deterioração final das relações
harmônico-comunitárias sendo estas substituídas pelas relações escravistas. Esta veio a
funcionar como um instinto de defesa freando o crescimento da população ao incentivar
as guerras com o fim de obter riqueza. Seis mil anos depois essas metas e objetivos,
agora se ampliam com a chegada da função reguladora vegetativa humana por um
mecanismo de defesa natural acionado pelo efeito estufa. Parabéns! Durante esse
primeiro período não havia lugar para a produção de excedente para a troca comercial; a
comunidade era auto-suficiente e produzia somente o necessário ao seu consumo.
Devemos o feito da geração dessa novidade, principalmente a mulher, que não ia caçar
por ter que cuidar dos filhos e fazer a coleta dos vegetais e frutos comestíveis, quem teve
a oportunidade melhor de observar detidamente o ambiente ao seu redor. Sua observação
levou-a a concluir que o nascimento das plantas ocorria graças às sementes; uma
pequena parte da planta que quando colocada no solo gera outra planta igual. De posse
dessa informação passaram a controlar o nascimento das plantas úteis à alimentação e a
se suprir delas. Então assim, na seqüência, nasce a aldeia e o modo de vida sedentário; o
que para a mulher foi excelente negócio, pois agora tinham um lugar fixo e protegido
onde gerar e criar os filhos num espaço muito mais estável, seguro e confortável, sob
todos os aspectos; mas que daí nos trouxe essa confusão toda nos dias de hoje. Poderia
ter acontecido isso de forma diferente? Não, porque isso exigiria planificação e controle
do crescimento demográfico; e não havia informação e cultura sobre o funcionamento
do corpo suficiente que o permitisse.

41
Depois, no transcorrer desta fase, por causa do acelerado aumento vegetativo da
população, começa o movimento de dispersão das pessoas em busca de novas terras para
começar nova vida fundando novas aldeias, porque as que haviam começavam a ficar
apertado. E assim, aos poucos, foram aparecendo os primeiros sinais de tensão, as
primeiras disputas no contato com outras gentes pelo uso da terra de boa localização
para produzir. Considerando que esse processo teve início no Oriente Médio, lugar de
pouca terra fértil, e cercado por regiões desérticas, é de se supor que, com o passar do
tempo o crescimento do número de pessoas na região, essas tensões fossem ficando cada
vez mais, e mais, intensas, e os conflitos de contato paulatinamente mais freqüentes, na
medida que a população ia crescendo, graças ao aparecimento desse novo método
produtivo, a agricultura; que criou as condições para o aparecimento da primeira força
produtiva coletiva de transformação da natureza, inventada pelo homem. Pelo desejo
pilhagens através de ataque e de invasões e pela necessidade de defesa da aldeia contra
invasores institui-se a formação de guerreiros armados em posição de destaque junto ao
grupo e com eles, logo adiante, criam-se as condições de, pela força e pela dominação,
concentrarem poder riqueza. Dessa forma sob duras condições, nascem as primeiras
instituições sociais como que dando o pontapé inicial ao jogo sujo e violento do
processo social urbano 1civilizatório: lº- a propriedade privada da terra, transformada em
meio de produção, cuja detenção e apropriação estabelece a formação da elite, a classe
dos senhores, e 2º- a subjugação pela escravização dos trabalhadores, cujas relações
entre as duas partes separadas em setores de classe diferentes e sob tensão instituem a
base econômica e, 3º- os aparatos de Estado, instituição política estabilizador das
contendas provocadas pelas relações de conflitos na base social produtiva, com seus dois
aparatos principais; os militares como um braço armado dissuasivo da instituição
jurídica exercida pelo usurpador soberano, e a religião como instituição persuasiva
ideológica. O braço religioso e o braço militar juntos funcionando como um fator de
convencimento. Os religiosos pelas palavras, como um tipo de assopro sobre a ferida, e
os soldados, muito mais eficazmente persuasivos, pela violência, os promotores da
ferida; e assim, vemos ser usada a velha tática de morder (repressão militar violenta) e
assoprar (doutrinação religiosa). O Estado vem a ser edificado como uma espécie de
gerência de empresa particular, - a empresa sou eu, o Estado sou eu - em benefício de
um pequeno e seleto grupo. Principalmente, e coroando tudo, tem início aí o
aparecimento do indivíduo em ego separado, do ego individual, - o eu para si - onde o
sujeito não é mais, principalmente, um ser sensível com necessidades especiais de
sobrevivência em grupo, existindo para o grupo, e cuja existência não faz sentido fora
dele; mas, agora, um ser que tem um papel a cumprir dentro de um plano geral da
sobrevivência, primeiro que tudo, do sistema de geração dos meios necessários a
sobrevivência de todos, para daí, depois, ser identificado segundo o seu lugar no
contexto geral dos papeis diferenciados do enredo social, como atores principais ou
coadjuvantes; e poder ser aquinhoado conforme exatamente a posição desse papel numa
escala de valores previamente estabelecida, gerando ambição e concorrência pelo desejo
de alcançar patamares onde o benefício é melhor recompensador, e de maior
visibilidade. O ego individual gerado, então, artificialmente no desempenho de papéis
sociais em cargos, postos especiais de prestígio e de poder, ao incorporar a natureza
1
Aqui nesta página, depois do segundo parágrafo seria interessante buscar associar a idéia do sentimento de
indolência como um fator para o incentivo da opressão e dominação pela instalação do trabalho forçado e como ele,
o trabalho em geral, era dado como uma ocupação de gente inferior.

42
abstrata e conceitual da nova cultura, de viver num espaço social fixo sob pressões de
normas rígidas, poderes discricionários e ordens hierárquicas; o que vem dar corpo e
significado fino à definição do homem ser um animal político; é verdade, mas isso só
pode ser compreendido depois da instituição do Estado com suas divisões de classes, e
dado a manutenção e permanência deste estabelecimento2.

2
Em algum lugar, inserir o conceito político de que não poderá ser abolida a propriedade privada sem antes, ou
junto, a abolição do Estado. Porque o Estado existe como um reflexo da propriedade privada. Procurar.

43
Como ficou patente na observação dos registros arqueológicos das primitivas
comunidades formadas em torno da agricultura e da criação de animais essas aldeias
comunitárias com propriedade coletiva da terra tiveram relações sociais harmônicas; não
no sentido de uma harmonia individual, mas pela ausência de antagonismos provindos
dos conflitos de interesses materiais de classe característicos da dominação, subjugação
e exploração social. Quando depois de um longo período de experimentação e
convivência pacífica de cinco mil anos vem a desembocar no novo período histórico que
nos trouxe a concentração da propriedade da terra em mãos de poucos senhores da
guerra, através da rapina, da pilhagem e muita violência. Tendo, então, inicio um tipo
diferente de relações, a forma conflituosa da divisão de classe, da relação de exploração
do homem pelo homem, cuja lógica interna vem sendo mantida intacta até os nossos dias
a exigir-nos sua crítica e superação. Assim sendo, temos que nesta relação referida, cuja
forma e sentido principal é a contradição entre os homens, se viu esse mecanismo ter
dado certo durante todo esse tempo desde que começou até hoje, e seis mil anos depois
ainda sobrevive, permanece. Melhorou em alguma coisa durante todo esse tempo?
Formalmente, sim, porém, o essencial não mudou nada. O conteúdo manteve-se; o
sentido perverso do seu eixo permanece; a estrutura é a mesma e continua bem aí, de pé
diante de nossos narizes, para todos que quiserem, se não taparem os olhos, verem. As
relações senhoriais de produção em uma sociedade histórica são importantes para a
compreensão da vida dessa sociedade por determinarem a consciência social, as formas
de pensar; cujo mundo ideológico só refletem a grande influência e domínio que os
senhores tem sobre todos nós. Todas as formas da consciência social, teórico-científica,
religiosa, artística, muitas vezes mascaram certos aspectos muito importantes das
condições materiais de um relacionamento econômico entre os personagens envolvidos,
como que as explicando, dando-lhes um sentido, uma razão, como forma de assimilá-las,
aceitá-las; mas sem as determinar, elas mesmas se reproduzindo por relações de força.
Vivemos todos juntos e ao mesmo tempo separados, cada um ocupando um lugar e
assumindo um papel em uma determinada classe econômico-social, segundo sua posição
no enredo, se senhor ou se escravo, e se escravo, em que posição? No fosso, ou na área
de influência sobre proteção da elite? Se poderoso ou se submetido, se dá ordem ou se
obedece. Todos em cena no palco social, voltados à trama da produção e reprodução da
sua existência, sendo a vida levada sob permanente tensão e concorrência – saudável? -
sem liberdade e muito menos espontaneidade como a que havia durante o período
neolítico comunal. Desde então aprisionados por regras rígidas e preceitos fechados,
ditados em forma de lei e impostos pelo poder dominante nos encaramos como inimigos,
jogando uns sobre os outros a responsabilidade da nossa desunião em grupo. Mas como
tudo tem um jeito... Até mesmo a morte tem, porque, na verdade, ela em si mesma é um
jeito, quer dizer, uma solução em si mesma; que deve ser entendida como parte da
mecânica biológica de um processo de manutenção da vida sempre renovada pela
biodegradação e posterior reciclagem.

44
É importante sublinhar o caráter da materialidade da vida, no natural contexto
biológico, pela troca de substâncias com o ambiente num processo de reciclagem, sem o
quê fica impossível entendermos sua existência cujo sentido primordial é manter um
delicado e constante equilíbrio com o meio. E a vida social dos homens não pode, e nem
poderá nunca fugir a essa regra, caso não queira desaparecer para sempre e
prematuramente. Em tempo; seria oportuno destacar que se há algo supremo que nós
com a nossa pálida sabedoria devesse denominar como SUPREMO, esse algo é A
VIDA; claro, não a minha vida, a tua ou a dele, nem a da igreja; mas toda a vida.
Porque, na verdade, a vida não é de ninguém, nem para ninguém. A nossa maneira de
viver, e pensar, e sentir, a tudo querendo reter, dominar, possuir não são adequadas ao
que a própria vida é. Um absoluto supremo passando, em andamento. A vida é difícil de
se categorizar porque na nossa forma de pensar não tem nada como ela, daí as nossas
dificuldades. Porque nada é, somente ela. Assim, eis que: a vida é. A única verdade
definitiva, enquanto dure. Uma contradição nos termos, ou algo assim, no sentido que é
um Absoluto em processo de total e permanente transformação e relativismo. Não que
devemos criar uma nova igreja trazendo a vida em lugar de deus; e erguer edifícios
templos caríssimos para adorá-la, e fazer comércio com ela; que é tudo que nós
aprendemos a fazer até hoje. Talvez o contrário fosse de melhor efeito. A situação está
do jeito que está é causado pela nossa insensibilidade a vida, o bem supremo, o eu vivo,
profundo e indecifrável. E é para onde essas adoráveis hipocrisias com as suas “idéias”
de grandeza, superioridade estão nos levando, mas... A ladeira está ficando cada vez
mais inclinada e escorregadia; impossível ignorar, melhor olharmos logo pra isso.
Enquanto isso ...

45
Sobre a questão de quem deve prevalecer, com efeito, ao se propor a
compreensão dos acontecimentos e da sua mais abrangente realidade; deve-se dar a ação
(necessidade), ou a idéia (reflexo concepção) a atenção principal? Por certo, aparenta ser
a idéia pré-concebida prevalecente a ação e que desta é originada; e esse ponto de vista
ainda é fortemente defendido por todos, ou quase todos, ainda hoje como ponto pacífico
e correto. Porém nada mais enganoso. Pois desde a origem do processo real do
desenvolvimento primitivo, desde a transformação sofrida pelo primata, até chegar ao
hominídeo, e posteriormente, na seqüência, ao gênero homo, o propulsor da Idéia e à
nossa espécie atual, homo sapiens-sapiens, já entupido delas, e que deu início a isso à
que chamamos hoje de idéia, clara e objetiva, que na ‘sociedade dos animais’ nunca
tinha existido, mas que nem por isso deixava de funcionar muito bem; o que vimos foi
precisamente o inverso. Precisamente vimos o nascer da idéia acontecendo oriunda das
ações conjugadas daqueles indefesos seres no seu longo e desesperado esforço
adaptativo pelo método simples da tentativa-êrro, cujos resultados vão se corrigindo por
novas tentativas e ações até que se forme na mente uma idéia correta do que precisa ser
feito para se alcançar melhor efeito, melhor resultado no seu longo processo de
desenvolvimento evolutivo de fazer, conhecer e refazer, interagindo com o reconhecer e
o fazer de um outro jeito. Na verdade não existe separação estanque entre idéia e ação,
são fatos conjugados, interligados, assim como o corpo e o rabo do gato, somente que a
idéia reflete o que a ação causou, realizou, fez, abrindo espaço para ser posteriormente
repensada, e, quando preciso, modificada. O pensamento abstrato, idéia, concepção ou
reflexão pode prever, conduzir e antecipar os passos da ação na concepção de
determinados fins, às vezes acerta, às vezes erra; às vezes atira no que viu, e acerta no
que não viu. Todo pensamento, abstrato em si mesmo, tem um fundo prático, material,
algo de muito concreto, palpável, com alguma serventia. Uma bicicleta não é uma idéia
que anda ou faz alguém andar. Ela é um objeto quer fez “andar” a idéia de locomoção
no espaço-tempo, motivada pelo desejo de chegar mais rápido com menor esforço. A
ação, movida pelo desejo que nasce da necessidade, é a origem, o nascimento, a fonte da
idéia, da consciência reflexiva ou da consciência-de-si (no homem e somente nele, dado
ao seu bem-desenvolvido sistema nervoso cérebro-motor-espinal, cuja atividade nos
explica e compreende, não ao contrário). E a idéia sempre em constante movimento e
desenvolvimento aplicado ao aprimoramento da ação, o fazer, no sentido amplo, geral, e
que agora poderá, e deve, precisa ser aplicado no aprimoramento de si mesmo, o ser
desejante, pela melhor orientação da sua ação, isto é, dos seus preciosos e dispendiosos
desejos que já lhe estão sufocando, que já lhes estão custando ‘os olhos da cara’,
literalmente.

46
Nas classes animais em que a ação é determinada, reproduzida por mecanismo
químico-hormonal, ou instinto de sobrevivência, a idéia não aparece, não se forma na
mente; o bicho age como se fosse um boneco, ou uma máquina pré-programada, dado a
sua total previsibilidade, embora aprendam, não tem consciência crítica. Somente em
nós acontece isso de formar uma idéia consciente na mente, e poder refletir sobre ela e
criticar-se. É um caminho novo e diferente que supera o instinto em qualidade, pelo seu
superior potencial adaptativo, mas que somente dá um suporte, auxílio, não causando
nem determinando a ação, agora livre, deliberada, continuando sendo baseada no
instinto animal, a origem de todo desejo e de toda necessidade, embora, que pena, hoje
arbitrados por mesquinhos códigos jurídico-político instituídos de ação social coletiva,
repressores e cerceadores da essência da vida, o prazer de viver, e o bem estar, ao menos
para a maioria dos navegantes “na galera”, sob açoites do seu próprio irmão.

47
Poderia-se falar de uma materialidade da idéia, sim? E vê-las, objetivamente,
como sendo nada mais que um efeito natural, conseqüência da ação, ou do
comportamento, sistematizados em uma estrutura biofísica, neuro-cerebral,
suficientemente desenvolvida e adaptada para tanto? Nos seres vivos, auto intitulados
humanos, um ser que se autoprojeta, e por isso capaz de ser livre, a idéia foi, é, e será,
um simples fator de adaptação, versátil, é verdade; tanto quanto é o sonar do morcego, o
olho, a audição e tudo o mais que a vida utiliza para facilitar e permitir ganhar a sua
autoreprodução, a sua permanência. Esse negócio de sermos donos da idéia, é típico de
um ser que não tem limites quanto ao seu próprio desejo em um sistema material onde
tudo é coisificado e está a venda. Portanto, a questão da escolha entre qual método de
interpretação da realidade é melhor por ser verdadeiramente eficaz, não é uma questão
de pouca importância, pelo contrário. Desde há muito o método idealista de pensamento,
que acredita na versão de que o mundo gira em torno de um eixo conceitual abstrato do
Supremo Bem, vem prevalecendo como que dando status superior à idéia sobre a ação
prática; - pense bem, dizem, você é o que você pensa. Uma maneira muito prática de
dizer que o problema maior está em você mesmo, enquanto pessoa que não sabe o que
tem na cabeça. (azul)Este foi o primeiro modo de pensar que veio a ser concebido e por
ser muito imaginativo, ainda hoje é o que tem mais adeptos pela força da tradição, o que
nos dá conta de expor a dimensão do atraso intelectual da população mundial do séc.
XXI. Este sim, o responsável pelas nossas dificuldade, mas não pensem, se quiserem
acreditar no que interessa, que isso se dê por acaso, e que na verdade é, tem sido e será,
enquanto durar, uma peça de fundamental importância que alavanca esta sociedade de
massas em profusão de consumo e prosperidade. Todos já ouviram falar que o
moribundo costuma dar aparência de melhorar horas antes da sua morte, como que
parecendo querer se despedir de todos e externas suas boas intenções, ainda que
derradeiras, ainda que nem ele mesmo saiba. Mas, por certo não é porque todos ou a
maioria acreditem em uma determinada idéia, ou utilize uma determinada forma de
pensamento, que faz com que ela seja correta, verdadeira e nos faça mais seguros e
felizes. A maioria não é um critério seguro no caso de se decidir por um determinado
caminho. Isso porque a ilusão tende a ser universalizante. Um exemplo bastante típico
disso foi à idéia universal para os antigos, de que o sol girasse em torno da Terra, isso
porque eles não sabiam que ela gira em torno do seu próprio eixo e que o sol, que ainda
nos parece pequenino, pela grande distância que se encontra, em comparação, na
verdade é imenso. Se até os sentidos, a fonte das idéias, nos iludem, muito mais
freqüente nos iludem as idéias e nos bloqueia os caminhos. Por nada saber de Biologia
Evolutiva, porque na época ninguém sabia, Platão raciocinou pelas aparências, que
segundo ele mesmo dizia ser um fator de engano, e se enganou ao crer que fosse a Idéia
o elemento principal formador do real, uma espécie de essência superprimordial, o ser
supremo subjacente e origem de tudo, formando o real, assim como se uma imagem
fosse sendo refletida no espelho da Idéia Absoluta e Imutável, como ele a chamava e que
hoje sabemos, alguns ao menos, isso não passar de um engano, uma aparência, ou mera
ilusão.

48
As idéias não aparecem gratuitamente, não são aleatórias, nem originam; elas
acompanham o processo de desenvolvimento as ações de natureza social, são
historicamente determinadas pelas condições sócio-material que permitam o seu
aparecimento, num dado momento de um determinado tempo, em algum lugar, na mente
de uma determinada pessoa e depois circula. O que lhe reveste de uma falsa aparência
em tratar-se de uma realização individual, tão-somente; quando na verdade trata-se de
uma realização de esforço coletivo de viés histórico, quando etapas por etapas, vão
sendo vencidas, até que se acumulam conhecimentos básicos suficientes para que
tempos depois uma teoria nova, ou uma nova concepção de sociedade seja formulada,
como sendo a realização e obra daquele último elo, um indivíduo qualquer, em um lugar
qualquer, em qualquer tempo do processo, da extensa corrente do saber, que somente
marcou mais uma síntese e que esta já vai servir de base para, reunindo-se a outras, um
dia mais à frente, novo patamar seja alcançado, nova síntese seja formulada. O
conhecimento não tem fronteiras definitivas e o multiverso (várias bolhas de universo,
ou vários universos que como bolhas flutuam no nada; quem saberia dizer quantas e pra
quê! E que tipo de Nada é esse?) é incognoscível, totalmente, até quando e ate aonde,
quem sabe? Portanto limitemo-nos, por princípio, ao que nos cabe saber; o que temos na
cabeça quanto a nossa sobrevivência nesse espaço chamado de planeta Terra, ficando
cada dia mais exíguo, por exemplo. O que podemos saber hoje sobre a própria idéia,
além da sua materialidade e historicidade, é que ela é também um fator importante de
dominação político-social, veiculada através de todos os mecanismos ideológicos, ao
vivo nas igrejas, shows e espetáculos de todos os tipos; pelos meios de comunicação, a
televisão principalmente, atuando e induzindo como um suporte ideológico, pela forma
sugestiva de convencimento propor aceitar ser como a elite dominante; ter poder e
dinheiro como um exemplo a ser seguido, senão, ao menos imitado; mas ela, a idéia-
forma-pensamento, em si mesma, é neutra, não tem dono, é de quem quiser, quero dizer,
e pode ser manipulada também como fator de libertação e de crítica de muitíssima
importância e eficácia, com certeza, no combate ao inimigo traiçoeiro, que busca se
passar como igual, ainda que superior por capacidade própria. E é isso o que nos
interessa buscar encontrar; como a arca perdida que contém o tesouro supremo, o
exercício da crítica de uma prática que não contempla das virtudes necessárias à
dignidade e benignidade da vida em todo o seu encanto e esplendor; só palhaçada.

49
As idéias se processam nos homens, e em nenhum lugar fora deles; quando um
ventilador, por exemplo, é criado para refrescar as nossas “idéias”, sua presença
cristaliza um longo processo anterior previamente idealizado na forma material, possível
dado à plasticidade da matéria de uma série de acontecimentos conceituais, como o
domínio da tecnologia elétrica. O calorento que o idealizou só pode fazê-lo servindo-se
de uma grande massa disponibilizadas de informações técnicas anteriores postas em
prática, seguida de outra massa de conhecimentos da tecnologia de transformação de
processos materiais, também anteriores, postos em prática e disponíveis; até chegarmos
a vê-lo empurrar o vento. De anterioridade em anterioridade chegaremos, depois de
muito andar na memória do tempo, ainda em processo de reconstituição, no original
reino da vida representado pela necessidade orgânica da simples bactéria ancestral e no
reino da materialidade mineral, seu suporte, naquele momento, naquelas condições. Uma
variante dessa mesma categoria orgânica hoje, já bastante modificada, que alguns usam
chamar de superior, usa um mecanismo de rara originalidade, o raciocino (pensamento-
idéia) para ajudá-los a suprir suas carências e necessidades, reais e, principalmente,
criadas; e estas, no mais das vezes, supérfluas, dispensáveis. Ela pode até ter-se
esquecido que foi adquirindo essa habilidade mental devagarzinho, o que é normal, pois
foi adquirida através dos tempos, contado em milhões de anos; e pode até acreditar que
sempre a teve, que desde a origem era já esse mesmo idealista completo de hoje.
Interessante notar; o primata pongídeo que anda a uns dezoito milhões de anos por aqui,
já era mais inteligente que os outros animais em geral, por estar acima e fora do alcance
de se tornar uma presa fácil, agarrado no alto das árvores, com suas hábeis mãos, fora de
alcande, assistindo a tudo alegremente, por certo a pensar no drama da vida animal, em
constante processo de seleção e adaptação, a se desenrolar sob seus olhos risonhos, que
pouco o atingia.
Assim, voltando ao nosso pensador idealista que crê iludido que é a idéia aquilo
que lhe caracteriza mais que tudo, que é ela quem lhe confere sentido real, mais que
qualquer outra coisa, e que, desconjuro, ele próprio não passe de uma mera idéia, o que
no campo da Física Quântica, em algum nível, isso possa até que seja verdade, mas em
se tratando do campo da Sociologia, é pouco provável; e assim encontrar-se de posse de
uma idéia completamente equivocada, enganado a seu próprio respeito e a respeito do
real significado de tudo que exista ao seu redor, mesmo que ao seu lado encontre-se uma
multidão, todos, na mesma situação que ele, fantasiando, errando, se enganando rumo ao
abismo, rumo a destruição; não entendendo, nem admitindo ser a idéia uma mera
conseqüência da necessidade material de todos, cujos limites físicos naturais bem
desenvolvidos na mente permita-lhe tal efeito positivo, ou negativo, quem sabe! E que
precisem, às vezes, ser mudadas e criticadas. O desenvolvimento da idéia (arte, ciência,
religião) pela própria idéia é possível, claro, e louvável, o que confunde a alguns
imaginando um estatuto independente e superior para ela. Mas, anterior e superior à
idéia é mesmo o desejo, o simples e mero desejo, mesmo que seja o mesquinho desejo
de poder; e quanto mais mesquinho, mais grandiloquente a idéia. Acorda pra cuspir,
Hitler!

50
Desde alguns milênios o idealismo vem se difundindo como a única visão de
mundo possível e inquestionavelmente “verdadeira”. Tudo bem, aparências; até ontem
se acreditava ser o universo estacionário. Ninguém poderia supor que as estrelas que
vemos à noite paradas no firmamento estivessem viajando pelo espaço a uma velocidade
atroz junto com a Terra, num movimento de expansão para fora como projéteis
estilhaçados de uma bomba; todos saindo desde um mesmo centro, indo para todos os
lados, em todas direções ao mesmo tempo; na explosão singular que originou o universo,
e cujo efeito ilusório de as vermos paradas à noite no céu é o mesmo que ocorre quando
dois veículos se deslocam na mesma direção emparelhados com a mesma velocidade
dando aos ocupantes a impressão de estarem parados. Temos que pensar que tudo que
acreditamos ser verdadeiro, talvez não passe de uma verdadeira e, por isso mesmo,
ilusória aparência. Eis aí o benefício da dúvida, do questionamento e da incerteza.
Pelo que hoje sabemos a vida é um mecanismo de processo bioquímico, toda ela
e sem exceção; em qualquer reino, em qualquer estágio evolutivo. Compreende um
período de pouca duração de existência para cada indivíduo, que depois é trocado por
outro igual, novinho em folha, que repetirá o mesmo movimento que o anterior, e assim
sucessivamente; a vida e a morte dois momentos de um processo benfazejo da natureza
em se constituir e permanecer sempre jovem. O trabalho energético pela troca de
substância com o meio é vivido pelo ser como uma falta-de-si, uma carência, expressa
pela necessidade ou desejo. Vital e importante, porque quando sistematicamente não
atendida acarreta o desaparecimento indivíduo e a paralisação do processo de troca. Essa
constante é o que chamamos de estado ânimo, - ou animus, origem da palavra animal,
aquele que se movimenta (estar em ação) - que precisa ser suprido, estimulado, e assim
gerar um potencial constante e funcional de desejo/satisfação/prazer. Entre o desejo e o
momento da satisfação há o trabalho, isto é, a ação, condição ”sem o quê, não”. Tudo o
que vive se move, age. Eis o sentido do ânimo; a sua permanência depende da satisfação
do desejo, isto é, da necessidade. A ação pressupõe estratégias “inteligentes” e nisso a
vida é infinitamente imaginativa e surpreendente. “A vida é uma trama tecida, como em
uma tapeçaria, com muitos fios e não se define por qualquer deles isoladamente.
Qualquer exemplar isolado de vida é como o fio retirado da trama, não faz nenhum
sentido” Um exemplar somente, uma espécie qualquer somente, nós mesmos, os quase
humanos não define a vida, por ela ser uma relação entre partes, estabelecendo uma
cadeia alimentar e um processo de reciclagem, onde uns, como presa, satisfazem com os
seus corpos, o desejo do outro, o predador; e assim sucessivamente, em cadeia,
estabelecendo naturalmente o princípio de renovação e controle do crescimento de
população de indivíduos e o equilíbrio com o meio, entre as populações diversas de
organismo palpitantes de vida, isto é, de desejo. Quem vive deseja, e, quem deseja, se
move, isto é, trabalha.

51
Com a chegada do pensamento reflexivo, ou da razão, ficou uma covardia. Um
animal pequeno e fraco como o homem, o antigo chimpanzé, sem armas naturais
quaisquer, como dentes afiados, garras, grande força e grande tamanho, hoje anda como
um gigante assassino pelas florestas, sem inimigo a altura para ele, dado ao poderoso
rifle que carrega consigo, o que faz com que o mais poderoso dos animais pareça
bichinhos indefesos, de tão vulneráveis. É o rifle que faz a diferença. Sim, mas, o rifle é
moderno. A primeira arma composta de um mecanismo tinha somente três peças; o arco
e a corda, e a flecha, e resolvia bem a “parada” há alguns milênios. A primitiva lança,
uma só peça, como uma extensão do braço, também matava bem, quando bem colocada,
como, também, uma pedra amarrada na ponta de um pau por um cipó, o tacape ou a
massa, há milhões de anos atrás. Então, o que faz a diferença entre os animais comuns,
seres dotados de armas naturais de ataque e defesa, e nós, fracos e indefesos
naturalmente, é a idéia consciente na mente; que nos habilita e capacita equiparmos-nos
exteriormente aos nossos corpos dos meios suficientes e eficazes a fim de suprir, como
todos os seres vivos desejosos, suas carências e necessidades fisiológicas com muito
mais vantagem, e, com isso, nos alçarmos à categoria de “rei dos animais”, fazendo do
leão um artista de circo; e, nós os domadores posando de superstar no topo da cadeia
alimentar, sem predadores à altura. E agora domando os seus semelhantes, numa
apresentação circense semelhante. Claro, é a idéia consciente uma arma, um
instrumento, uma ferramenta. Como então é possível dominar e domar um outro igual
que também é dotado de idéias? Pela força, na luta vence quem estiver melhor
posicionado e com melhores armamentos, isto é, quem tem melhor desenvolvimento de
conhecimentos técnicos e teóricos expressos em armamentos e apetrechos militares. Em
números, quanto vale todo arsenal militar americano, incluindo todos os armamentos dos
aparelhos, civis e militares? Os vegetais, a mais feliz das criaturas, por se alimentar
usando a luz do Sol indiretamente, nem criou pernas e sistema nervoso. Pra quê? Por seu
turno, alimenta todos os outros, isto é, todos o parasitam, direta ou indiretamente; isso é
mau para eles, alguns até desenvolvem defesa, como os espinhos, para afastar intrusos
comilões. E para defendê-los apareceram os carnívoros predadores, senão fosse o
controle populacional dos herbívoros exercido pelo felino e o canino, estes aumentariam
tanto suas populações que comeriam todo os vegetais e se destruiriam também. Aliás, é
o que já começa a suceder com os macacos-pelado já quase humanos de hoje, já que,
pois, estão acabando com tudo, só porque já não tem mais predador natural a altura, e
não conseguem se controlar, porque se estimulam uns aos outros a isso pelo sistema de
lucro e competitividade econômico. A vida precisa ser bem melhor interpretada, antes
que seja tarde demais, muito tarde.
Diremos então que nós, macacos mutante que pensam e sabem que pensam e o
que pensam, mas cujo querer costumeiramente não reflete nenhum saber, ignorantes a
seu próprio respeito e vazios nos deixamos guiar por nossos olhos cheios de vaidades,
arrogâncias e imitações, e nada mais; isso os que podem, e os que não podem, obedecem
e aceitam a exclusão, de um jeito ou de outro; acreditam na sua própria inferioridade e
dizem amém, sob ameaças; antes que o céu venha, punitivamente, a lhes cair sobre suas
submissas cabeças.

52
A ação se move impulsionada pelo desejo guiado pela luz da idéia, como uma
lanterna na escuridão, até a sua satisfação pela consecução dos seus objetos de desejo. A
mente humana, em estado evolutivo inicial, por desconhecer as relações de
complementaridade, causa e efeito, ação e reação, do mundo físico que hoje conhecemos
tão bem, tendia achar que tudo era mágico; os trovões, a chuva, o vento, raios, cachoeira,
enfim, tudo; então, tinha que haver um mágico, ou vários, porque não, responsáveis por
tudo isso. Os judeus, que optaram pela concepção do mágico único, que eles aprenderam
dos egípcios quando por lá viveram, certamente foram influenciados pela convivência
constante com regiões desérticas, de escassa diversidade biológica, como uma mesmice
imensidão, capaz de os transportar a um sentimento de unidade, mediunicamente, ou,
também porque quisessem parecer diferentes dos outros povos e com isso atrair a
atenção sobre si mesmo, já que são ótimos negociantes.

53
Por desconhecimento das relações físico-químicas, bioquímicas e suas leis,
perdoáveis até, inferiu deduções míticas, que ainda hoje permanecem válidas, não por
sua eficácia, pelo poder de coação que tradicionalmente as igrejas impuseram aos povos
antigos, todos eles, uma lástima; mas, também por serem ainda muito recentes as
descobertas das leis que regem mundo físico e suas relações, as quais datam de somente
poucos séculos. E dado o afastamento da população, em geral muito cedo dos bancos
escolares não são, ou são pouco compreendidos por ela; o que é imperdoável. A
principal tendência do pensamento na forma mítica, mágica, metafísica é pela explicação
da vida como uma conseqüência-efeito da vontade, diferente de desejo, superior,
misteriosa e deliberada, de um ente divino supremo, presente e poderoso na função de
grande maestro da sinfonia da vida, na forma monoteísta judaico-cristã e muçulmana,
dos períodos históricos mais recentes; ou de vários deuses, cada qual com sua função na
forma politeísta. Só conseguem com isso massagear nossos egos; a maioria deles,
combalidos e abandonados à própria sorte, que alimentam essa ilusão para não chorarem
sozinhos a sua própria dor em seu íntimo, não entendendo que com essa atitude só
conseguem é se acomodar a dor, e assim de algum modo justificá-la. Outra ilusão é o
medo da solidão; porque ninguém que viva pode estar só, pode estar sem relação com o
todo, em sofrimento de autopiedade, aliás, sentimento muito comum por aqui entre nós,
como uma espécie de autobloqueio. Já uns e outros, em situação material confortável,
bem resolvida, não precisando muito de consolo, sabem que o melhor para eles é mesmo
o povo continuar acreditando em tudo isso, então, facilmente aderem à crença, e fazem a
caridade em forma de doações; em benefício próprio, claro, pois sabem que assim
dissimulam a situação real, que é a de que a condição dos carentes é causada pela sua
própria ambição de enriquecimento pessoal. Caridade nunca foi amor, nem prova de
amor; quando mais é um insulto a dignidade do cidadão. E ainda querem que o povaréu
venha admirá-los por isso e que até venham a amá-los. - Tudo é possível, pensam eles.
É como dizem as más línguas: Se deus não existisse, precisava que fosse inventado; e
quem tem, tem; e quem não tem, tivesse. Por baixo da sólida couraça emocional de um
idealista, há um mesquinho individualista. E é isso que a igreja chama de “materialista”.
Ah! Ah! Claro que é, porém o materialismo filosófico não tem nada a ver com essa
mesquinhez típica dos nossos ‘tão altos’ e evoluídos valores culturais contemporâneo,
muito pelo contrário até, busca combatê-los a todo custo. E o mundo continua sendo tal
qual sempre foi, o mundo da civilização cultural, claro. Repleto de muito talento para
mentiras e hipocrisia das caras mais deslavadas. Mas, rápido gente, se aviem nas
mudanças de atitude, porque enquanto isso o tempo passa, e os problemas vão se
avolumando, avolumando; e o precipício está logo ali em frente, bem ali na próxima
curva. A situação do mundo capitalista de hoje se assemelha à daquele sujeito que
estando em um barco viajando em um barco carregado de bens valiosos, mas tendo pela
frente uma cachoeira e não tendo tempo de parar o barco e assim salvar o seu ouro e a
sua pele, tem que pular na água e tentar salvar ao menos a pele, e aprender a ser mais
prudente.

54
Com as mesmas relações econômicas antagônicas de sempre os trabalhadores, de
hoje e de ontem, submetem-se em trabalhar a benefício do enriquecimento de outrem,
aquele mesmo de sempre, o maledito patrão; em troca de tão somente sobreviver, e
poder continuar trabalhando tediosamente, odiosamente, todos os dias, até sabe-se lá
quando, vendo a vida passar e seu esforço sendo em vão. Se não fosse a religião, pra
alguns, a cachaça prodigamente liberada, para outros e o (atualmente) futebol aos
domingos, o sexo, etc... A velha receita da dominação: pão e circo, ainda em vigor.
Como sempre, em busca de cultuar o enriquecimento e a ambição, sob todas as
formas, por todos os meios vendem-nos a idéia de que a competição e o conflito são
bons e até necessários, por gerarem aperfeiçoamento, estímulo em armas, talvez. Dizem-
nos serem expressão inerente da natureza humana, em si mesma violenta e conflituosa,
precisando somente ser educada, a obedecer, claro, e dirigida a fins nobres, pelos
melhores entre a espécie, daí explica-se a presença dos vencedores como natural. Muito
bem, porém, isso se trata somente de uma manifestação tendenciosa da ideologia do
poder dominante cerceador da vida em benefício próprio, em seu próprio partido. Os reis
antigos diziam serem deuses de verdade, os reis da Idade Média diziam serem reis pela
vontade divina, que os escolheu... e blá, blá , blá! Melhorou. Hoje, os reis disfarçados,
em gente comum, igual a todo mundo, dizem-nos serem necessários. Que simplicidade.
Melhorou mais um pouco; está quase chegando lá. Na verdade a persuasão sempre foi
exercida por outros mecanismos mais chocantes e eficientes. O poder político-
econômico, em todos os tempos, passados e atuais, pressupõe um Estado, provido de um
aparelho civil e militar de repressão, cuja função é debelar previsíveis hostilidades e
subversões da tão preciosa “ordem” estabelecida, pela elite e para ela; contra tudo que é
sensato, justo e verdadeiro. O mais pitoresco da situação, é que os quadros humanos
formadores de tais aparatos são alistados no seio da comunidade explorada, coagida; e
funciona bem. Pra se ver o nível da ameaça. Se houver explicação para isso, a única
seria de que temos uma mente muito sugestionável, facilmente confundida, desde que
seja repetido monotonamente o refrão, o mesmo passa a valer como verdade, a sugestão
repetitiva como forma de persuasão. E, por outro lado, temos também uma instintiva e
profunda vontade de não morrer, de viver a todo custo, inscrita no código genético de
todo ser vivo; mas, por causa disso mesmo nos matamos em vida pelo nosso próprio
medo. Tão estimulado e nutrido e bem cevado medo; medo de tudo, até de ser feliz, mas,
de morrer principalmente.

55
Os Modos de Produção históricos, o modo que Marx chamou as diferentes
sociedade históricas destacando o seu elemento principal, o setor material-produtivo, se
diferenciam entre si segundo a forma de se obter a lucrativa exploração econômica do
trabalho sob coação foram: o escravismo, o feudalismo e o atual capitalismo; nesse
último o chicote foi abandonado nos locais de trabalho, agora ela é sistêmica, isto é, ou
você aceita jogar o jogo conforme as regras estipuladas pelo costume, ou é excluído,
descartado do baralho, o que quer dizer, marginalizado, sem direitos, tendo todas as
portas fechadas, exceto a porta para o crime; ainda bem que eles não podem fechar
todas; os criminosos cumprem uma função nobre de denúncia de muita importância.
Colocando em risco os tesouros e a própria vida dos endinheirados, fazem com que eles
reflitam e, assim soltem mais a grana para evitar o crescimento indesejável e fora de
controle desse tipo de problema, que eles em seu íntimo sabem serem os únicos
responsáveis. Esse sistema espoliador é quem os cria, e porque são corajosos e não
aceitam passivamente a degradação que a situação lhes impõe passam a jogar com as
mesmas regras que vale para o senhor, isto é, roubar, ainda que legalmente; as leis
criadas pelo sistema de dominação não são isentas, por isso não tem porque serem
obedecidas cegamente, não se lhe devem nenhuma fidelidade. O risco de transgredi-las é
alto; porém pra quem nada tem a perder, senão a sua própria dor, solidão e desespero,
vale a pena; se não tem juízo final nenhum, nem purgatório, nem inferno, nem nenhum
céu, nem sequer outro lado, e se aqui é uma bandalheira mesquinha e avara, então é uma
tentação o crime; depende só da estrutura psico-emocional do indivíduo, porque as
condições sociais já estão aí prontas convidativas ao crime. E as cadeias cada vez mais
cheias. Façam-se as cadeias! E prontamente as cadeias foram feitas.
LEGAL!

Legal e espontâneo é o caráter daquilo que não era programado, pré-concebido,


esperado. É difícil para a nossa sociedade entender e aceitar a espontaneidade. No
comportamento humano social, exceto nas crianças, quase nada é do jeito espontâneo,
não prescrito pelo consenso das normas; tudo normatizado, uniformizado, hierarquizado.
Interessante que a palavra norma (lei) seja tão parecida com uma outra: normal, que quer
dizer necessário e saudável. Seriam as normas legais normais, como defecar? Defecar é
normal, desde que sob determinadas normas pré-estabelecidas tipo, onde e como.

56
Na verdade todo o comportamento individual é preestabelecido e obedece a
normas de comportamento no relacionamento e convívio social, convencionados como
úteis e até indispensáveis. Isso varia de sociedade, (ou cultura) para sociedade. Quanto
mais dita civilizada, mais convencional. É assim, desse jeito, que a ‘coisa funciona’.
Como se a vontade de todos fosse uma única vontade existente, como uma única
verdadeira vontade, acima de qualquer suspeita, acima de qualquer vontade individual.
Aprendemos isso na escola, no lar, na rua, na vida, e quanto mais depressa melhor, a
vontade coletiva se normatiza em leis e exerce poder coercitivo; o ‘bom’ cidadão
respeita-a, não a transgride devido ao fator persuasivo de convencimento social dado
pelo fator da violência policial. O ‘mal’ as ‘desconhece’, e se pego, vai para a cadeia; é-
lhe retirado todo poder de vontade e ação livre individual; é colocado atrás das grades
em um cubículo cheio de problemas. Mas é aí, atrás destas, muitas vezes, que algum
cidadão problema se sente pela primeira vez livre de verdade. Que o impeçam de agir
tudo bem, mas não de querer, não de ter vontade, a sua soberana vontade, à vontade do
bicho solto em si mesmo, numa sociedade que mais parece como um jardim zoológico
bem comportado e aqueles animais isolados, seus melhores espécimes.
“Da lama ao caos, do caos à lama. Um homem roubado nunca se
engana...Quando maior a miséria, mais o urubu ameaça. ...Com o bucho mais cheio
comecei a pensar, que eu me organizando posso desorganizar. ...Posso sair daqui para me
organizar, posso sair daqui para desorganizar.” - Chico Science.

ASCO.
A passagem dos organismos unicelulares para os organismos pluricelulares
exigiu um empurrãozinho, para que essa nova organização de conjunto pudesse dar certo
e se desenvolver, que chegou quando da formação de uma central organizadora e de
controle do funcionamento dessa multidão de células diferentes uma das outras,
especializadas em diversas funções vitais irmanadas em uma mesma máquina animal,
viva, em funcionamento. Todas elas trabalhando por si e por todas em sistemas
cooperativos justos, inigualáveis. Essa nova central é o sistema nervoso-cérebro-espinal,
mais as glândulas endócrinas; mais os órgãos dos sentidos, principalmente a visão.

57
A mente, em relação aos outros órgãos do organismo, parece ser uma espécie de
elite; como se as outras células vivessem para dar suporte a esse importante órgão; como
se o coração, o fígado e todos os sistemas interligados só existissem para suprir a mente,
que não pode fazer tudo sozinha. Na economia do corpo, ela consome a maior parcela do
que é obtido em energia e nutrientes. Quando o organismo é colocado em inanição
forçada, ela é a última a se deteriorar; será conservada intacta até o último suspiro. Isso
lembra o escravismo e seus sucessores históricos, feudalismo e capitalismo; onde uma
elite, ou classe dirigente, exerce papel de direção - a mente - e se beneficia do melhor
que a sociedade – o organismo – produz. No organismo vivo a relação é justa; se toda
célula não-neural trabalha para si e para elas, as neurais, em contrapartida, trabalham
para todas as outras; e seu benefício compensa o maior custo. Quando que, em
sociedade, os trabalhadores, as células simples, a maioria delas, recebem a menor
parcela da riqueza produzida; enquanto que as elites, como as células nervosas especiais,
se beneficiam da maior parcela da partilha, mas não trabalham para ninguém, só para si
mesma e, ainda assim, somente na administração e controle do seu dilatado patrimônio.
Buscam a consolidação em império das suas motorolas, fords e siemens, microsofts; e
cuidam, por meio da ação político-ideologica, e em âmbito jurídico-policial, em fazer
crer a todos da importância e legitimidade da sua asquerosa presença.
Eu possuo um eu, ou um eu é que me possui? Eu sou um eu que possui isto, ou
isto é que me possui? EU SOU EU, ou Eu sou meu? Eu sou o meu eu? E isto é meu,
isso me pertence, ou eu pertenço a isto? Ter, ou não ter. Ter poder, ou não ter poder.
Mandar ou obedecer. Eis qual é a nossa questão.
Antes de existir toda essa situação que hoje a todos nos envolve, existiu um
primeiro período histórico especial, ainda fazendo parte da História Natural. Era um
período natural, sobrevivíamos graças aos alimentos oferecidos graciosamente pela
mamãe natureza. Nada de produção econômica, e claro, também, nada de trabalhadores
produzindo penosa e extenuaduamente em benefício de qualquer canastrão esperto,
violento e preguiçoso, como veio a suceder nos períodos subseqüentes já citados. De
hábitos nômades nada acumulavam para não ter que carregar peso nas costa depois; só
possuíam o mínimo necessário à sobrevivência em regime de pequenos grupos errantes;
sem nem sequer terem ainda desenvolvido a noção de ego, um “eu” personificado
proprietário, individual, particular. Nada havia que pudesse pertencer a alguém. Este tipo
nasceu muito depois, junto com a propriedade privada e da conseqüente acumulação de
riqueza; pois agora, com ela e por causa dela, precisar-se-ia de um “eu” jurídico
proprietário particular, individual. Alguém para se auto-intitulasse de dono, que pudesse
se denominar, se proclamar e ser reconhecido como tal; dono particular, proprietário
exclusivo da terra, por exemplo, para uso no cultivo agrícola; para depois se declarar
também dono do que foi produzido nela, sem nem sequer ter sujado a mão no barro, mas
já as tendo sujas de sangue; sangue daquele trabalhador corajoso que preferiu morrer a
ser subjugado como escravo pelo ‘nosso herói’, do qual descendem socialmente todos os
atuais ‘nossos heróis empresários’, em linha direta. Numa primeira fase, portanto,
vivíamos sem produção econômica material e sem a presença do Estado; no máximo
eram reconhecidas lideranças naturais exercidas, como acontece entre os animais, sem
poder de mando, nem de privilégios especiais.

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Mais de cinco milênios depois do aparecimento do cultivo agrícola sedentário-
comunais é que vem a aparecer, há também aproximadamente cinco mil anos atrás, o
malfadado Modo de Produção Escravista, representando a abertura de um novo ciclo
histórico que até agora completa uma série de três períodos. Trás consigo uma completa
ruptura com o modo anterior ao serem introduzidas importantes modificações na cultura
econômica, quando então os meios de produção, nesse caso, a terra, seria apropriado
individualmente pelas elites imperiais que se formavam. Os trabalhadores regulares que
pela primeira vez surge na História da Cultura - trabalho é cultura e cultura é trabalho, e
é importante destacar que o trabalho era, e ainda é, menos um pouco, mas ainda é,
considerado como algo muito degradante, próprio de gente sem nenhum valor, os
degradados, ainda que não declarado, fica subentendido - são submetidos, em todo tipo
de atividade, a produzirem riqueza, bens econômicos comercializáveis. Mas o trabalho é
a essência da riqueza; toda a riqueza é produção, e toda produção é a transformação da
natureza pelo trabalho até a obtenção do produto final utilizável, então toda riqueza é
trabalho associado ao capital natural, as matérias primas retiradas do meio ambiente
natural. Então, quem tem a ocupação de trabalhar, suar e colocar a mão na massa, isto é,
fazendo de verdade, é rico? E porque não? E assim, através do trabalho escravo; os
trabalhadores são assim degradados ao nível de objeto de uso, sem qualquer direito que
não fosse a obediência à tirania para poderem somente obter a manutenção das suas
necessidades básicas para não morrer ou adoecer, porque, também mortos ou doentes
não serviriam para nada, mortos menos ainda; e assim, coisificados tornarem-se
máquinas de gerar produção, a mesma coisa que dizer, riqueza; da qual não irá se
beneficiar; como se já tivessem nascidos predestinado a isso. Nada mais que isso, são os
quase humanos subalternos. Hoje esse arquétipo histórico do passado já subiu um
degrau, cujo nome dado é operário; continua coisa, mas uma coisa com um valor
econômico melhor esclarecido; então, são agora transacionados como mercadorias e o
valor que recebem como pagamento mensal é equivalente ao seu preço como
mercadoria, e, por ser uma mercadoria de natureza, viva, ainda precisar ter seu valor
refeito em períodos curtos determinado pela sua própria natureza instável, isto é, viva;
assim como as mercadorias perecíveis precisarem de investimento constante em energia
para a sua manutenção em ambiente frio para não estragar; esta precisa de alimento-
energia - para não paralisar. Mais mesmo assim, ainda que vivos, ainda são ‘coisa.
Melhorou, ainda que muito pouco! Na seqüência do escravismo, em passos de tartaruga,
chega o feudalismo. Ali onde o escravo é liberado parcialmente para tornar-se um servo;
no fundo um mero eufemismo. O ‘seu’ senhor não mais podia vendê-lo a outro senhor,
porém, ficaria preso à propriedade, não poderia mais sair da terra de propriedade do
senhor, ou trocar de senhor, além do que tinha que trabalhar de graça quatro dias na
semana pro dito cujo, o que caracteriza escravidão, e ainda lhe devia uma série de outras
obrigações pesadas. E claro, vivia sob ameaças constantes e na maior miséria. Enquanto
isso, os - pausa pra se encorajar a proferir este nome - os nobres viviam a se empanturrar
na maior indiferença. Quase nenhuma, ou nenhuma diferença de peso do escravo pro
servo, portanto. Também, como antes, não havia mobilidade social; nasceu servo, como
servo deverá morrer; e os filho do servo lutarão ao seu lado no papel de servos, quando
crescerem, e o substituirá quando este morrer. Tanto nas relações de produção escravista,
como na servil, o meio de produção mais importante era a terra; e as força produtiva
eram as poucas ferramentas e as técnicas conhecidas utilizadas no seu cultivo. Dado a
natureza das mudanças serem muito superficiais e de ordem ideológico-religiosa, devido

59
à influência da igreja cristã na política da época, que impôs esse pequeno amainar na
exploração e serviu por longo tempo como elo de ligação entre as diferentes etnias
européias, falando em línguas diferentes; e por manter as mesmas relações de produção,
sem nenhuma mudança significativa das forças produtiva e nenhuma mudança de valor
no conteúdo do Estado Imperial sustentado pela ordem feudal, não se vê, portanto,
porque torná-lo um período histórico independente de natureza própria. Melhor
apropriado, com forma de reduzir o foco, seria localizá-lo só como um prolongamento,
um subcapítulo europeu do escravismo antigo pós-Roma, pelos fatores das relações de
produção acima mencionados que mudaram; ou melhor ainda, como um período de
transição do escravismo ao capitalismo, na Europa. Muito depois, já sob o capitalismo,
uma importante e significativa modificação de sentido no conflito social de classe
histórico foi introduzida; os trabalhadores, da cidade e do campo, conquistam direitos
civis antes inimagináveis; tornam-se “livres” para venderem sua força de trabalho para
os proprietários do capital e do equipamento industrial (uma novidade histórica, uma
evolução técnica dos meios de produção) e controladores dos bens produzidos pelos
“seus” operários. E estes, por um período de horas diárias -oito horas atualmente -
devem-lhe total obediência, no que se refere à produção, claro. Comparando com o que
antes se passava sob o escravismo e servidão esse modelo parece até razoável, mas não
é. Se alguém ficar quinze dias sem comer nada, quando por fim lhe for oferecida uma
sopa rala de batata esta lhe parecerá um banquete, e é exatamente como o que está
acontecendo hoje. E isso ocorreu por ter havido um deslocamento da base principal da
estrutura econômica e uma alteração, como um salto quantitativo, no desenvolvimento
de novas forças produtivas com o advento da produção industrial na fábrica movida pela
máquina a vapor. O que representou uma abertura no caminho em direção a atual
sociedade de massas consumidora de mercadorias feitas em série numa linha de
produção, o sentido de ser dessa atual fase em declíneo por se chocar com a
sustentabilidade da vida, devendo ser inteiramente revisto e criticado tão logo nos seja
possível. Os trabalhadores, agora como assalariados, podem trocar de patrão quando
quiserem; podem até mesmo ascender à elite, há mobilidade social; mas aquele que não
conseguir uma vaga no sistema produção e serviços do sistema será posto à margem e
ficará sujeito a privações e humilhações; ficará como que invisível e irá integrar o
exército de reserva de mão de obra, ficará desempregado. E este exército, como uma
tropa, tem a função, no mercado de força de trabalho, de puxar o salário dos que estão
trabalhando para baixo. Por desejarem e precisarem trabalhar para obterem seu sustento
ficam propensos a trabalhar no lugar daqueles que estão empregados por qualquer
dinheiro, por menos dinheiro e com isso, pela lei da oferta e da procura, quanto maior o
número de desempregados, maior a oferta de trabalhadores e maior a procura por vagas,
assim mais desvalorizada é a força de trabalho e o desempregado está, com isso,
contribuindo e “trabalhando” para que a elite afira maiores lucros. Por isso no início da
revolução industrial quando havia poucas fábricas e muitos trabalhadores
desempregados os salários não valiam quase nada.

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Apesar da profunda revolução social que como um salto qualitativo lhe
acompanhou na política com o advento da democracia, e na conquista de direitos civis
como direito de associação trabalhista e partidária, o antagonismo social mudou na
forma, mas não no conteúdo com as novas relações sociais de produção capitalistas e
continua exercendo a influência negativa do seu conteúdo divisionista sobre os desígnios
da sociedade, agora sob nova direção e figurino. De terno e gravata e sem peruca, o
patrão versus o trabalhador, capital contra o salário, perfazem as bases em cada país do
conflito agudo que irá eclodir entre as nações, que em luta entre si por hegemonia a
qualquer preço querem cada uma delas estender sobre o resto do mundo a dominação
que exercem sobre os trabalhadores dentro dos seus próprios países, e como sempre
aconteceu no passado, partem para a violência, partem para a guerra. Como um
momento da história moderna que parece querer repetir as lutas de conquistas de grandes
impérios do passado, pelo qual iremos passar no decorrer do processo do seu
assentamento como novidade no mundo dos negócios, atualmente já em fase de se
globalizar pacificamente. E hoje são os patrões que querem convencer a todos, como as
antigas elites também tentaram, que chegamos ao ápice da transformação e evolução do
sistema de produção econômico-social; que a competição é vantajosa e saudável; que só
o capitalismo pode ser democrático; que só com ele poderemos ter liberdade individual e
fartura; que a propriedade privada (leia-se: o capital) é um direito inalienável e sagrado.
- Os padres e os juízes concordam. Bom, depois do fiasco socialista estatal autoritário
soviético e quejandos, as elites burguesas, de verdade, nunca se sentiram tão senhores da
situação como agora; perfeitamente á vontade, com as rédeas sob as suas mãos. Mas será
por muito tempo isso?

61
A filosofia materialista foi concebida, em oposição à filosofia idealista; não por
pirraça, nem para parecer inconveniente, mas para criticá-la, propor sua superação;
buscar suprir suas deficiências como método de interpretação da realidade, corrigi-la; do
mesmo modo como a teoria da relatividade critica e corrige, por isso supera a física
mecânica de Newton. Marx dizia ter percebido que a visão idealista precisava de um
ajuste porque via a realidade de pernas para o ar, de cabeça pra baixo ao dar a idéia um
estatuto superior, as idéias estão no alto porque alta é a cabeça, mas a cabeça se assenta
num pescoço, que se assenta sobre os pés e os pés sobre o chão, a base material. Era
preciso colocar as coisas na posição certa, daí nasce o materialismo, ao colocar a
produção material na base geradora e sobre a qual, como a um chão, se assentam todos
os outros vínculos sociais ideológico institucionais vigentes. Faz isso por perceber a
insuficiência metodológica de pouca eficácia na busca da compreensão da realidade
inerente ao primitivo método idealista que pretende buscar em modelos ideais a causa e
o sentido do desenvolvimento humano histórico, como se o Estado fosse a realização da
idéia de poder, e não a idéia de poder fosse a realização do Estado. Além disso, propor e
denunciar que na sua forma de análise há um grande grau de cumplicidade aos interesses
dominantes e privilégios de classe estabelecidos, agindo como um preconceito, um
pensamento moldado a soldo das elites históricas tão convencidas da sua importância e
superioridade. Realmente não há nenhuma forma de pensamento que possa existir sem
estar representando a defesa de qualquer um dos dois lados do antagonismo social em
questão dentro do conflito humano histórico. Aquele discurso que quiser declarar estar
acima dessa questão, por espiritualidade, ou o que quer que seja, a metafísica, por
exemplo, na verdade o seu interesse em ocultar sua posição de oposição frente ao
conteúdo social político, é de fato querer agradar aos dois lados do conflito ao mesmo
tempo, agradando a um sem desagradar o outro, como que ‘em cima de um muro, nem
do lado de cá, nem do lado de lá, buscando servir de amortecedor do atrito, igual a uma
sela que fica entre a bunda do cavaleiro e o dorso do cavalo. O materialismo-histórico
toma para si o discurso que interessa a classe oprimida historicamente como forma de
banir a opressão. Já o idealismo, como método de pensamento, quando propõe que a
roda da História é movida pela Idéia, Pensamento ou Consciência incorporados, por
assim dizer, pelos soberanos e pela vontade deliberada dos homens de destaque, bem
aquinhoados por atributos especiais, de boa educação, classe, inteligência superior,
coragem, com isso toma para si e corrobora no cerne do seu discurso o interesse de
classes dos nobres exploradores, cruéis e sanguinários senhores, cheios de declaradas
boas intenções superficiais, como o verniz de um armário, ou a tinta de uma parede. Para
os filósofos antigos, ideólogos do pensamento, a idéia era como um algo absoluto,
invariável, imutável, como que tendo existência própria, independente, fora da realidade
sensível. Este era chamado de: o mundo da ilusão, e precisava ser apreendida do mundo
da perfeição, ou o mundo perfeito das idéias com o rigor do pensamento racional, para
ser assim introduzida, realizada, na política, na vida social; quase sempre, ainda de
forma imperfeita, dado a nossa dificuldade humana de apreendê-la perfeitamente. Para
Platão, seu idealizador, os sábios, que tinham melhor visão de alcance do mundo
superior das Idéias Imutáveis e Absolutas, isto é não-históricas, é quem devia governar,
claro. Pena Platão, mas não foi bem assim, até pelo muito pelo contrário.
P O R M E N O R A D U L T E R A D O.

62
Todo propósito da corrente de pensamento chamada de Finalista criacionista
consiste em sustentar a idéia da existência de um deus, o criador. Tudo o que existe é
criação divina e segue um plano, uma finalidade, ou propósito do criador. Para esses o
acaso não existe; não pode, porque tudo foi cuidadosamente engendrado para produzir
um efeito, segundo os insondáveis desígnios da mente de deus, o criador. - não sei
porquê então não dá nada certo. O acaso seria, por si só um despropósito; algo que não
se atribui nenhuma possibilidade, pois que a mente divina não esquece nada. – Nada é
por acaso, dizem. “Deus não joga dados” – disse Einstein. Uma besteira! Ele por não
querer aceitar que o universo não fosse estacionário e estivesse em expansão, como hoje
sabemos ser verdade só porque ele era criacionista, apesar de cientista, e ainda por cima
judeu, bons tradicionalistas conservadores empedernidos de sempre, queria que o
universo fosse estacionário para que pudesse combinar com a idéia de criação, porque
como se pode criar algo em movimento, em constante processo de mudanças?
Complicado. Assim é que nenhum pormenor estaria sendo descuidado, fora de controle,
e que quando algo pudesse parecer não se encaixar de jeito nenhum, em nenhuma lógica
nesse contexto, se algo parecer um absurdo, não fizer nenhum sentido; mesmo assim,
tenhamos em conta que nada somos para querermos questionar ou criticar tamanha
sabedoria e grandeza. Aquilo que, aparentemente, não se explica, não se encaixa é por
nossa própria falta de fé. Falha nossa, nada mais; não nos esforçamos o suficiente para
merecermos o seu amor. Por enquanto, sigamos por esse caminho, não olhando para os
lados, como os cavalos que andam com antolhos, e não dando ouvidos aos ruídos
proferidos pelos rebeldes, infiéis incréus. - Acorda, trouxa!

63
Há dois mil e quinhentos anos, um sujeito inteligente e muito corajoso, chamado
Sócrates, resolveu a tudo questionar, e com isso mexer na velha estrutura supersticiosa
do pensamento mítico então reinante. “Estou te explicando pra te confundir, tô te
confundindo pra te esclarecer” – Tom Zé. Por causa disso foi acusado de corruptor e
condenado a morte. Hoje, exceto nas “Arábias malditas”, ninguém mais é morto por
fazer perguntas incômodas, por não crer no “ouvido”. É verdade, mas apesar disso,
mesmo assim o pensamento mítico supersticioso continua fortemente prevalecido da
ignorância e ingenuidade das grandes massas populares nos nossos dias tão hipócritas.
Nessa época, logo depois desse incidente lamentável; Platão, também
incomodado com tanto deus e tanta mistificação desejou, em tributo a Sócrates,
estabelecer um princípio ordenador de tudo que existisse, e que desse conta de organizar
a então bagunça reinante vinda dos místicos e dos sofistas, estes que diziam tudo poder
ser declarado, dependendo do ponto de vista de quem declarava, quer dizer não havia
verdade. E que fosse algo que também, não ameaçasse o seu pescoço, como o do
falecido. Imaginou o rapaz, que havia dois mundos simultâneos e correlatos. O Mundo
dos Sentidos, esse em que vivemos, ou sentimos; imperfeito, conflituoso e frustrante. E,
paralelamente, a este, em algum lugar desconhecido, um mundo absoluto, imutável que
ele chamaria o mundo Absoluto das Idéias, onde reinaria a perfeição e a harmonia;
fundamento da verdade, absoluta e inconteste, acima de qualquer poder temporal; acima
de tudo e de todos, submetida somente aos critérios da ordem da razão, ferramenta que
nos daria acesso ao esse Mundo Superior das Idéias que governa nossa existência, e
assim... Tudo daria certo. Na sua República, os sábios por melhor conhecer o mundo da
perfeição das idéias é quem deveriam governar e aplicar aqui na Terra o “mundo da
perfeição” da imutável Idéia; pois que tudo que é perfeito é imutável. Mudar pra quê?
Platão estabelece uma racionalidade, uma novidade, um princípio unificador do
pensamento, como uma ferramenta a serviço da verdade, um raio, um reflexo vindo do
mundo da perfeição, das idéias perfeitas, no qual se fundou, muito posteriormente, as
bases da tradição científica atual. Mas, e sem querer, e aí é que mora o problema, o seu
alegórico mundo das idéias absolutas perfeita serve perfeitamente de modelo as
nascentes religiões monoteístas, judaico de viés teocrático; onde o mundo da Idéias é
trocado pelo mundo do espírito e a razão pelos dogmas da fé, o que na prática
significava impedir qualquer tipo de questionamento, o que era exatamente o que
Sócrates fazia, no que Platão concordava. Questionar, para que através da razão, por
argumentação do raciocínio lógico e empíricamente demonstrável, buscar encontrar de
todo jeito e com o máximo rigor, a veracidade da afirmação declarada e da crença
afirmada. Coisa que no mundo dos místicos e dos poderosos não é uma atitude muito
freqüente, nem por um minuto e,... Que provas que você tem que o faz acreditar ser esse
seu deus - qualquer um, mono ou poli - é um deus de verdade, ou nada mais que uma
idéia fantasiosa, uma simples idéia iludida de todo? Fantasias. E quem precisa desse tipo
de fantasias? E se precisa, porque precisa?

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Coitado do Platão, rapaz cheio de boas intenções; gerou um inferno, sem querer,
até muito pelo contrário. Seu sistema unificador do pensamento baseado na razão foi,
posteriormente, adaptado e adulterado pelos judeus e depois aproveitado pelos cristãos
da igreja católica nascente. Foi um desastre total. Por mil anos a razão foi banida e
impedida de florescer. Introduziu-se uma perversa e assassina ditadura teocrática, cujo
período se conhece como Idade das Trevas, e com razão, muita razão. O mais incrível é
que, ainda que agonizante esse sistema ideológico das trevas sobrevive; encontra ainda
eco no seio do povo; crédulo, ingênuo e amedrontado povo, aprendeu a ser escorchado, e
pela força da tradição a achar isso certo e até normal.
Mil anos, mil anos; lá pelo nono século depois do mito cristão, um pobre coitado
servo camponês europeu qualquer, devia sentir que sua situação era imutável, que nada
iria mudar para sempre. Errado; demorou, mas mudou. E para sempre.
Os pilares desse edifício maléfico chamado de cristianismo é tão profundo, -
também mil anos, um milênio não é coisa que se possa esquecer assim facilmente - tão
fortemente soldado na mente dos ocidentais, que mesmo hoje, quando o edifício dessa
miséria já está mostrando uma inclinação de quarenta e cinco graus e rachaduras
profundas, ainda se mantém de pé; escorado num oceano de ignorância popular que
ainda nos banha e na comodidade de se nada querer questionar. Mas o monstro está
ferido de morte; aspira seu último sopro de existência, pois o seu desmonte e
desmistificação está próximo. Mais cem anos? Pois que o golpe fatal acaba de ser
proferido com as descobertas - feitas por aquela mesma razão que os capa-preta
quiseram abolir - da finitude, no espaço e no tempo, do universo; da decifração da
escrita do livro da vida, pela genética e da evolução da vida á partir de bases simples
originais e do questionamento do capitalismo, seus patrões, enquanto favorável a
continuação da vida. O mundo do espírito eterno acaba de sofrer um pesado bombardeio
e no seu lugar fica tão somente o processual, o provisório, o passageiro, e no final, e por
acaso, o nada. E aqui onde nada há pelo que se sacrificar, onde nada há porque se
cultuar, aqui só a vida cultivar, porque nada vai durar para sempre, nada é imortal,
absoluto ou eterno e sequer existe como se nos apresenta aos sentidos o átomo e a
energia, quiçá; aqui, no reino dos sentidos, o mundo da ilusão, como muito corretamente
dizia Platão: estando ele rigorosamente melhor decifrado, melhor nos assentaremos nele.
Eis uma tarefa de peso, as futuras gerações iram nos agradecer.

Depois de recuperado o estatuto do pensamento platônico original, com o


renascimento, na marra, da ciência; obtém-se independência e métodos corretos,
precisos e verificáveis rumo a lucidez. Podemos hoje, já por isso mesmo, ao menos
morrer em paz, sem medo da ameaça de um espírito eterno imortal, divino, capaz de nos
julgar e castigar depois de morto e com isso roubar-nos o até o direito de errarmos e de
morrer em paz, sossegados, naturalmente. A morte sendo sentida como um cessar, e o
cessar como um nada. A cultura com os seus vícios e deformidade, vai se tornando
irrelevante; relevando-se somente a vida e seus elementos básicos; todos.

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Já para a visão materialista histórica, as idéias, colocadas no seu devido lugar,
sem nenhum estatuto privilegiado em alguma mansão no além, tem que ter origem aqui
mesmo nesta Terra e são, realmente são apenas um reflexo dos conflitos originados na
base material da sociedade, o inferno terreno das relações de produção antagônicas; que
nada mais são que formas de relações de propriedade com o capital, na forma de meios
de produção: terras, fábricas, minas, etc... , relações que sobre as quais se constroem a
consciência social política, jurídica e ideológica; o poder, as leis e os seus aparelhos de
repressão, as religiões, a filosofia e a ciência. Em síntese isto quer dizer não ser a partir
das idéias que realizam e constroem o corpo social, como aparenta. E sim, o corpo social
do modo como foi constituído econômica e materialmente é quem determina a formação
das idéias que, por sua vez refletem a forma como esse mesmo corpo material
econômico social é constituído; e onde passam por pressões e distorções a fim de
mascarar e compreender a realidade como uma coisa dada, eterna e permanente; nunca
em movimento, instáveis e transitórias, dado a luta política presente. Assim, o que fez
com que um infeliz indivíduo qualquer, sob a ordem feudal, se tornasse um servo não
foi, certamente, pelo que ele pensava sobre si mesmo e para si mesmo, nem sobre o
mundo em sua volta; mas o que ele pensava sobre si mesmo e sobre tudo e qualquer
coisa eram condicionados pela sua condição servil que o vestia de idéias apropriadas a
sua condição de classe social, como uma camisa de força veste um paciente em surto
num sanatório para doentes da cabeça. O mesmo se dando com o senhor, na sua
confortável posição dominante, na maior malandragem, discursando soberanamente em
favor da ordem vigente, feita por ele e para ele; tendo por trás de si os braços armados
dos seus capangas, fortes e bem nutridos, sempre prontos a entrarem em ação na cena
social para fazer valer a tão sublime e soberana Idéia de chefe aqui na Terra, por bem ou
por mal; ou para trazer aqui, lugar do imperfeito, no mundo dos sentidos, a
representação do quase divino representante da idéia de CHEFE, do sublime mundo das
idéias perfeitas; porém não confundir a idéia perfeita de chefe, com o chefe das idéias
perfeitas, uma ficção. Por causa “dessas e outras”, vemos que, de verdade, o
desenvolvimento das idéias que atravessam a História, e haja história, é a própria
Historia das Ideologias, e as entenderemos melhor vendo-as como, e o que, elas
realmente são, um reflexo da imagem real luta social acontecendo todos os dias, sendo
assim determinadas pelo rumo dos acontecimentos, não determinantes do rumo dos
acontecimentos, ainda que possa e deva influir no resultado da luta pela compreensão
das relações de força e da estratégia de combate correta. Assim, as idéias são produtos de
fundo político-econõmico, resulta, não condiciona a forma como a luta se desenvolve na
base material produtiva pela a forma como esta base é constituída, e a ela deve
corresponder e adular, ou combater e criticar. Se a questão da luta é uma luta entre
humanos dotados de idéias, cada lado vai conceber suas próprias idéias sobre o sentido
dessa mesma luta, segundo o ponto de vista para cada um dos lados da refrega. Na atual
fase do desenvolvimento social capitalista de caráter antagonista pela luta de interesses
econômicos-materiais de classe se inscreve a luta dos trabalhadores pela sua participação
na distribuição da riqueza, que foi produzida por eles, mas que não é para eles. Para que
exista ricos é preciso que exista pobres; para que haja senhores é preciso que haja
escravos, servos ou operários; são as duas faces de uma mesma moeda, uma não existe
sem a outra; a moeda da desunião, donde se pode inferir uma boa dose de cumplicidade
entre os dois lados dessa coisa toda, dessa meleca chamada equivocadamente de
sociedade. Agora, invertendo o raciocínio, então veremos, para que existam

66
trabalhadores, NÃO é preciso que exista uma elite sustentada pela expropriação do seu
trabalho; apesar de ser exatamente isso o que temos visto acontecer, COMO NUM
PESADELO RECORRENTE, mas, em perceptível declínio lento, CONSTANTE e
gradual – Pode descer, chefe! - calma aí, coisa ruim, não empurra que’u já ‘tô indo!
-obedecendo às leis e regras ditadas pelo desenvolvimento das forças produtivas, as
mesmas que geraram o aumento da produtividade do nosso trabalho.
No que tange ao capitalismo é uma verdade afirmar ser este é um estágio
superior, em qualidade, na produção social da existência em comparação ao escravismo
e ao feudalismo; em parte, resultado da luta dos próprios trabalhadores por melhores
condições de vida; em parte, principalmente, pela nova tecnologia fabril de produção de
mercadorias em série, porque ser esta de grande produtividade exige a criação de um
extenso mercado consumidor que permita fazer escoar essas mercadorias (leia-se:
produção em série para uma sociedade de massas, de consumo em massa) como a água
no ralo das nossas avantajadas goelas; no que os senhores modernos realizam sua
riqueza e consolida seu negócio em bases sólidas como o muro de Berlim; não por outro
motivo qualquer, tais como: elevado nível de consciência, sensibilidade, espiritualidade,
ideais nobres, etc...

67
Quando hoje um consumidor qualquer adquire uma pequena caneta, apenas vê
nela um objeto de uso pessoal cujo benefício vale o seu valor. Este produto fez parte de
um imenso lote de centenas de milhares de unidades; a composição do seu preço é
calculada, sobretudo, pelo valor-trabalho realizado, traduzido pelo volume das horas
trabalhadas na sua execução, incluindo no seu valor as horas trabalhadas na obtenção da
matéria prima valorizada pelo mesmo processo e que o capitalista teve que comprá-la no
mercado, nas horas trabalhadas em todos os setores sociais, por todos os tipos de
trabalhadores. Se uma mercadoria é vendida pelo valor que é dado pela quantidade de
horas totais trabalhadas na sua fabricação e os trabalhadores recebem apenas uma
parcela do valor daquilo que produziu, trabalhou, a título de salário, a outra parcela, não
paga, é apropriada pelo dono da fábrica, que dessa forma realiza lucro quando a vende
no mercado ao expropriar e extorquir trabalho. Ele contrata por instrumento legal, a
força de trabalho do empregado para pagar-lhe um valor correspondente a uma bolsa de
itens indispensáveis, alimentos e outros itens necessários para si e para a sua prole de
valor fixo, renovável anualmente para repor o que a inflação corroe, para fins de
reposição da energia gasta pelo trabalhador durante a sua vida produzindo, nas horas do
expediente, para o dono do negócio; ele não é pago pela quantidade de valor (valor-
trabalho=preço da mercadoria) que produz durante as horas trabalhadas. Com isso, assim
o “paizão” retira da força-de-trabalho um sobre-valor (MAIS-VALIA-o-meu-trabalho)
dado pelo valor que efetivamente a força de trabalho realiza, produz durante um certo
número de horas e das horas que deixa de receber, porque não foi pago; numa jornada de
oito horas, entre quatro a três horas é dada de graça. Sendo assim, o lucro do capitalista
não é auferido pela diferença entre o preço de custo e o preço de venda, e sim,
principalmente, pela diferença entre o que foi pago pela mão-de-obra e o recebido com a
venda da mercadoria. Realmente, o que lhe permite vender uma mercadoria por preço
maior e produzi-la por outro preço menor é o valor da mão-de-obra não paga, mas que
entra na constituição do preço dela como se tivesse sido integralmente paga, por
questões de dissimulação, para o papai poder enriquecer tranqüilo aparentando
legalidade contratuais. E assim, dessa forma, a diferença, pelo valor não pago ao
trabalhador por parte das horas trabalhadas na produção daquela mercadoria vai pro
bolso do HOMEM, eis o homem. Legal. Em síntese, a lógica do lucro é essa,
expropriação, roubo. Um outro exemplo esquemático pra clarear: um operário qualquer
atuando em uma fábrica de ventiladores recebe por dia trabalhado, faça chuva ou faça
sol, a quantia de vinte reais; e nesse mesmo dia monta, numa esteira de produção, partes
de ventiladores, que somado o seu valor de produção no conjunto dos ventiladores em
que elas irão integrar, vale a soma de quarenta reais; valor duas vezes maior do que
aquele que efetivamente recebeu, então vinte reais ficaram de graça para o dono, numa
turma de cem homens dando de graça trabalho todo dia é uma mina de ouro centrada na
expropriação de classe sobre classe, porque caracteriza trabalho feito gratuitamente.
Escravidão? Um roubo? C’ est la meme chose! O quê??? E então, excelentíssimo senhor,
juiz, ah! ah! ah! Como é que pode! Ah, a lei é cega, entendi. E os que fazem as leis
também? Mas que bons salários os excelentes recebem, estudaram tanto, pois é, livro
caro, merecem...Eis portanto aquilo que se pode chamar de lógica interna desse ainda
atual sistema econômico de produção social político-jurídico e ideológico chamado de
capitalismo, onde o dinheiro é cultuado como um deus, o deus do dinheiro e poder, o
verdadeiro símbolo de deus das religiões modernas, todas elas – quando escuto falar em
deus boto logo a mão no bolso! - parodiando um alto oficial nazista ao dizer que ao

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ouvir falar de cultura botava logo a mão no revolver. Um sistema arranjado para
obtenção da expropriação indébita do trabalho efetuado, dado a entrega forçada de horas
diárias trabalhadas e não paga – ou você aceita ou vai catar comida no lixo. O que,
então, é a mesma, mesmíííssima essência do antigo e saudoso – oh! como os faraós
foram magníficos! Que cultura! Que saber! - sistema escravista primitivo e feudal.
Então, o que é ser escravo? É trabalhar de graça, em troca de não ser morto. E o que era
ser servo da gleba? A mesma resposta. E o que é ser operário ou camponês hoje?
Trabalhar de graça, sim; só que agora ele não pode ser mais ser morto, nem preso, só se
tornará invisível, se não quiser trabalhar para enriquecer ninguém; e também agora
existe um mercado que para funcionar tem que haver circulação de dinheiro. Então, ele
ainda que realize trabalho não pago, durante uma certa quantidade de horas por dia, ele é
pago para isso, realizá-lo, e de bico calado; para que assim o mercado possa funcionar e
então, o patrão possa realizar seus lucros, isto é, receber de volta o investimento que fez
acrescido do valor das horas trabalhadas de graça para ele, quando capitalizá-las no
mercado, o que ele chamam de vender com lucro. É bonito de se ver a elite senhorial
econômica dos nossos tempos desfrutar de tudo de bom e do melhor que a vida em
sociedade (chamamos isso de sociedade, outra piada) pode oferecer. Chamem o ladrão!
No Brasil chega a ser um insulto.
O dono do negócio, e que negócio, muitas vezes sequer trabalha, paga alguém
pra administrar e outro pra vigiar o administrador, recebe a parte do leão, mas caso ele
“quebre” todos que estão com ele “quebram” junto e ficam sem condições de
sobrevivência, até que encontrem outro empregador apto a ‘comprá-los ‘.
Diz o empregador: quê ‘cê sabe fazer?
Responde o pretendente ao emprego: sei baixar a cabeça, calar a boca, fazer que
não estou vendo nem ouvindo. Me usa? Por favor, me usa.
Responde o empregador: Muito bem, meu filho, muito bem. Mas passe outro dia
qualquer talvez você tenha mais sorte, porque por hora não tenho onde colocar tanta
gente, não cabe mais nenhum. Vote outro dia, quand’eu despachar um que ‘tiver me
dando problema.- Mas sorte de quê? Será que ser explorado é uma sorte, ou a sorte de
que se fala é sair da situação de risco, de não ter o que comer, onde morar, virar
mendigo, ladrão, assassino poder ser preso, morto. Uma situação que é um
constrangimento criado pela existência desse mesmo patrão, que com todos como ele se
beneficiam individualmente de um sistema político-social-econômico em detrimento dos
outros à sua mercê, como prisioneiros seus, conforme as regras do jogo.

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Anotemos, por conseguinte, que a resultante desse movimento, a produção em
série, exigiu, e ainda continua a exigir, o alargamento do mercado consumidor, que como
uma onda avassaladora, destruidora, dilapidadora, ainda se expande pelo mundo nos dias
de hoje, a chamada globalização da economia capitalista, mais e mais consumidores dos
seus produtos em vários degraus diferentes de poder aquisitivo; que vai da penúria ao
esbanjamento lascivo aparecem e se multiplicam por todos os lados como se fosse uma
praga a exigir satisfação, dando em oferenda aos deuses da fortuna o nosso sangue para
beberem, com uma sede cada vez mais crescente. Pela própria lógica da exploração, os
benefícios do capital não chega a extensas massas humanas da mesma maneira, que
desassistidas em graus variados, tendem a acumularem tensões. Buscam compensar o
stress emocional fazendo mais sexo, e de forma descuidada; com isso gestam “mais
problemas”, ou uma inflação humana descontrolada. Interessante notar que para os
detentores de capital é até uma situação vantajosa; porque essa inflação humana no
mercado pressiona os preços das suas mercadorias para cima pelo aumento da demanda,
o que gera razão para mais investimentos, isto é, expansão em maior escala de
mercadorias, ao mesmo tempo em que pressiona para baixo o valor da força-de-trabalho
pelo aumento da oferta de trabalhadores, o que, em alguns momentos de crise, fará
aumentar o exército de reserva de mão-de-obra, os desempregados. Esse mercado de
mão-de-obra grandiosamente inchado exige ocupação e aproveitamento, cujo credo
último, lógico, é o consumo da produção global para fazer girar o ciclo
investimento/produção/consumo em movimento quanto mais rápido melhor; cuspindo
gente e mercadoria a torto e a direito, como se isso fosse lógico, compreensível e
normal; quando não é, e na verdade tratar-se de uma aberração de previsíveis
conseqüências funestas.
Extrapolamos o nível de sustentação da biota terrestre, pela dilapidação
comercial inconseqüente do capital-natural do meio ambiente gerado em período de
bilhões de anos, como se o planeta fosse descartável; pela poluição do ar, da água, do
solo, pela alteração da atmosfera, enchendo-a de gases perigosos. E isso tudo não é por
acaso, nem fruto das idéias equivocadas, imperfeitas, de alguém, ou da maioria, não.
Trata-se mesmo de um efeito de uma lógica interna de um sistema econômico de
produção material onde a ganância e a vaidade transformam tudo em mercadoria na
insensata busca por lucros e poder. Onde tudo isso poderá nos levar? Sobreviveremos ao
CAPITAL escravizante? Sim, mas é ele quem não sobreviverá. Ou ele, ou nós. Enfim, é
como a vovó me dizia: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe, e, há
mal que vem pra bem. Mas cuidado, senão poderemos cair junto com ele.
Por causa dos conflitos gerados pelas relações de propriedade da atividade
econômica, pela expropriação de horas trabalhadas dos trabalhadores, que são a base de
sustentação da sociedade, da hight-socity, sendo majoritários numericamente sempre
representam uma ameaça de “botarem tudo a perder” ao chutarem o pau da barraca, a
propriedade privada; por isso “melhor entregar alguns dos meus anéis...”, refletem
silenciosamente os endinheirados. Assim tem sido a caminhada que a humanidade vem
fazendo na História Civilizada da Exploração Consciente aos Explorados Obedientes.
Até quando vamos beber a água dessa poça.
UMA DISCUSSÃO SOBRE A TESE MATERIALISTA HISTÓRICA.

70
Quanto à exposição do método materialista histórico deve-se observar
criticamente pelo que é exposto nele, que de fato não houve, na passagem do escravismo
ao feudalismo, nenhuma transformação e mudança significativa, nada que determinasse
uma nova conceituação de passagem de formação social para outra nova, diferente,
assentada em novas bases; e assim sendo então não houve realmente passagem alguma
que possa defini-los como dois períodos independentes um do outro. E mesmo, deve-se
frisar que o quê causou o suposto fim de um, e o estabelecimento do outro não foi
nenhum conflito entre o desenvolvimento das forças produtivas, no caso a terra e umas
poucas ferramentas agrícolas, com as relações de produção estabelecidas, no caso, a
propriedade privada da terra (o capital natural) em mãos da nobreza imperial do
crescente fértil e mediterrânea. A grande questão é que tanto em um dito regime social
quanto no outro, as relações de produção materiais básicas continuaram as mesmas, isto
é, a mesma porcaria (desculpem-me, meus amigos porcos), e as forças produtivas
também continuaram as mesmas. Assim, parece-me correto afirmar que o chamado
feudalismo não foi nada mais do que um rearranjo ideológico na Europa Central do
hegemônico regime escravista romano antigo, depois da queda de Roma efetuado,
levando o cristianismo a atuar como força política agregadoras dos povos da Europa
dando a eles uma identidade comum a todos que aderissem a essa religião, num tempo
em que não havia países, só povos com língua e costumes distintos. Ali a Igreja, como
um tipo variante na prática de eminência parda atuou como uma influente e poderosa
força política, estabelecendo quase, senão totalmente, uma teocracia.

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O nascente cristianismo foi originalmente um movimento político com roupagem
religiosa inteligentemente adotada para não atrair a violência, mas foram reprimidos
assim mesmo. Criado pelos escravos baseado no mito do homem-deus judeu, o salvador,
o seu messias, que vinha lhes trazer a libertação-salvação da escravidão nem que fosse
só lá no céu, trazer a justiça, por um fim à iniqüidade, e por aí vai, posteriormente acaba
exercendo enorme influência nos acontecimentos político-social desse tempo. Como
todos sabem, no princípio os cristão foram reprimidos, perseguidos e entregues às feras
pela audácia de questionar os seus senhores, ao dizer que o verdadeiro senhor, o maior
de todos e mais poderoso, o criador do céu e da Terra, era Deus, (idêntico ao imaginado
pelos judeus que copiaram Platão), representado na pessoa de seu filho, Jesus, o cristo (o
messias, personagem também pego emprestado do imaginário judeu), a quem todos
deviam venerar e seguir seus ensinamentos de humildade e amor desinteressado ao
próximo; ‘ama a deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo. Com o
passar do tempo, dois séculos e meio depois, o cristianismo foi liberado e tornado
religião oficial do Estado, a religião cristã, como uma tentativa de acalmar os
ânimos.devido a crescente insatisfação e crescente revolta da população, junto mais as
pressões da periferia não subjugada, os chamados bárbaros, os quais também sofriam,
por sua vez, pressões das hostes seminômades hunas, furiosos cavaleiros que detestavam
os adeptos do modo sedentário de viver; por acharem muito imundo e fedorento, pelo
acumulo de lixo e excremento. A escravidão continuou, mas agora tinha um ‘aliado’, o
clero; que os consolava dizendo saber que suas almas seriam salvas do fogo do inferno,
e que os ricos e poderosos que não se condoessem e fossem mais generosos com a
igreja, principalmente, não entrariam no céu, porque lá não é lugar pra gente que não
obedece ao preceito cristão de obediência a Deus. A igreja se erigiu e logo enriqueceu, e
obteve grande influência política, o que lhe permitiu depois, com a queda do poder
romano influir pelo fim da escravidão e instituir a servidão; o que se chama de: mudar
alguma coisa, pra que tudo continuasse a mesma coisa. E assim a igreja cristã dos
escravos torna-se um poderoso instrumento de dominação e aglutinação política na
Europa Medieval e os promove a servos. Estes tinham que trabalhar como escravo só
quatro dias pro seu dono, lhes sobravam três dias inteirinhos só pra si, o sábado,
domingo e segunda, os outros dias eram dedicados ao nobre, nunca descansava o
‘imprestável’. Já não podia mais ser vendido, para outro senhor; um pequeníssimo passo
à frente, mas, ainda assim, à frente. Mas a primeira noite da filha dele teria que ser com
o senhor. Nesse momento da História, na Europa, como que se acomoda uma ampliação
do campo ideológico, dando apoio ao político, uma espécie de teocracia disfarçada; sem
mexer nas estruturas de bases, o econômico. Criam-se, assim, as condições para a
expansão do cristianismo na Europa, como poder aglutinador-político, organizador da
enorme bagunça, pelo vácuo deixado após a queda de Roma pelo aparecimento de tanto
feudo, de tanto senhor e muita ganância e violência. No meio disso, os camponeses
desarmados, correndo de um lado para o outro na busca de se esconder atrás de algum
poderoso que lhe garantisse “proteção” em troca de - “trabalha de graça pra mim,
imprestável, que eu te dou proteção”.

72
O feudalismo, com o seu cristianismo foi um fenômeno tipicamente europeu e de
dentro dele, muitos séculos depois, nasce o capitalismo, também na Europa, que aos
poucos, bem lentamente se expande pelo resto do mundo; processo que ainda está em
andamento nos dias de hoje, com a atual globalização da economia capitalista, batendo
de frente com o mundo islâmico que tem raízes fundadas no servilismo medieval árabe e
não quer saber disso, de se globalizar, isto é, de se democratizar. Já o seu cristianismo
não se globaliza, racha, sofre um cisma interno para protestar contra o vaticano, a igreja
central européia, que dentre outras coisas, fazia a condenação ao lucro, a cobrança de
juros, a acumulação da riqueza; o que atrapalhava muito os planos de enriquecimento
dos capitalistas, seu principal objetivo; que tinham que lutar contra a nobreza e ainda
com o seu tradicional aliado, o clero. Daí aparecem os luteros da vida, descontentes
com o clero oficial para darem uma mãozinha aos novos irmãozinhos endinheirados,
dizendo a eles ser a riqueza coisa de deus. Explicado. Veja bem, se não houvesse o poder
emergente capitalista naquele para momento dar cobertura aos protestantes evangélicos,
eles seriam todos trucidados pelo capa branca, o ditador maioral. Na verdade muitos
foram, a noite de são Bartolomeu é uma entrada desse prato.
Quanto à passagem do regime servil para o regime da livre contratação do
trabalho pelo capital, a aplicação do seu método foi quase clássica, em que pese à tese de
revolução social e o seu mecanismo de desenvolvimento histórico, de Marx. Numa
passagem do referido prefácio, ele nos aponta que: “a base econômica para poder
continuar a se desenvolver em formas novas e mais eficiente, precisa que se derrube o
edifício social vigente com suas leis, costumes e tradições que emperram o crescimento
de novas formas de produzir e trabalhar, que são substituídas por outras mais adequadas
e conformes ao novo estilo de produzir”. O capitalismo mudou todo o eixo da forma de
produção da riqueza, e para poder fazê-lo teve de derrubar a nobreza e por fim a
servidão, na qual ela se apoiava. Isso sim pesou, já que um mercado consumidor
precisava ser criado e o servo, coitado, nunca tinha dinheiro pra comprar nada, tinha que
ser abolido. A revolução francesa é o momento emblemático dessa passagem de regime
por revolução, com só uma ressalva, o principal fundamento revolucionário não se
concretizou. Liberdade, igualdade e fraternidade foram pro espaço porque a apropriação
dos meios de produção da existência social, instituída desde o tempo do escravismo
antigo, há quarenta e sete séculos foi mantida. Permaneceu o fundamento jurídico
principal da exploração na nova relação de produção que se formou: capital versus
trabalho, patrão versus trabalhador; o que muito influenciou o nosso pensador e o fez
crer que a próxima passagem, agora do capitalismo para o socialismo, que resolveria de
uma vez por todas o antagonismo da luta de classe seria do mesmo modo, com as
mesmas características, com o poder sendo tomado de assalto pela nova força
emergente, os operários. Dessa maneira, foi aí que ele errou redonda e ingenuamente;
erro esse que saiu caríssimo e atrasou o crescimento do movimento político dos
trabalhadores de forma aterradora, sinistro.

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As fábricas prosperaram, cresceram; com elas as cidades e a miséria dos
operários, libertos dos nobres para ficarem à mercê dos empresários, seus novos
senhores. Estes só se dispunham a aproveitá-los, isto é, empregá-los por uma ínfima
soma em dinheiro, em troca de trabalharem para ele até dezoito horas diárias; período
conhecido pelo nome de capitalismo selvagem, onde até criança de quatro anos também
trabalhava, quando os patrões acumular riqueza e poder político. Posteriormente,
tiveram que recuar um pouco no excesso de exploração sobre os trabalhadores, depois
que estes se organizaram e passaram a protestar fazendo greve, paralisando a produção.
Até que, no princípio do séc. XX conquistaram a jornada de oito horas de trabalho
diárias, com folga no domingo. Aos poucos, os métodos produtivos foram evoluindo e
aumentando cada vez mais a produção e os patrões foram percebendo que, sem mercado
consumidor não haveria saída para as suas mercadorias. Vender pra quem, se todos estão
sem dinheiro? E a essência da produção sob o capitalismo é a produção em série, o que
exige constante ampliação do mercado consumidor, como conseqüência. Já naquele
período de luta, no princípio de séc.XX, a vitória dos trabalhadores pela redução da
jornada de trabalho convergia com os interesses imediatos dos ávidos patrões
interessados na ampliação do mercado consumidor das suas bugigangas, porque
diminuindo a jornada para níveis menores abria espaço para a entrada de mais
consumidores no mercado ampliando a sua base, razão de ser do sistema, onde ele
realiza o confisco de horas trabalhadas; sendo assim, relutaram, mas“cederam”; depois
que entenderam que o mecanismo do negócio era a seu favor. O mercado de força de
trabalho realiza a produção em série de mercadorias da qual dispõe o empresário. Esta
produção exige a contrapartida de um mercado comprador, um alimentando o outro sem
poder parar. Não foi outro o motivo da Inglaterra se opor ao escravismo reintroduzido
nas colônias do Novo Mundo; pois que sendo um país produtor de produtos
manufaturado a procura de quem os comprasse e como escravo não compra nada,
escravo não pode existir. Certo. Só pra lembrar que os ingleses estavam pouco se
importando com o problema dos africanos escravizados nas colônias. O que eles
queriam era faturar um dinheirinho a mais, e precisavam deles, dos negros também,
porque não, para isso acontecer mais rápido.
AS DIFICULDADES DO MÉTODO MARXISTA
Vemos que os regimes sociais históricos, ao todo dois, todos eles baseados no
antagonismo social, a base e o sentido da sua existência, representam três momentos
diferentes de uma parábola, com princípio, meio, e fim. O princípio representado pelo
escravismo, o meio sendo o capitalismo, como que o estágio de apogeu desta trajetória
histórico-econômico-social sob a égide da propriedade privada dos meios de produção, e
do antagonismo de classe pela sujeição do trabalho, já em rota de descenso; intensa no
princípio, forte no segundo e sendo resolvida no fim. Assim só com a obtenção da
redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, só a partir do princípio de século
vinte, isto é, ontem é que aliviou um pouco. Para se ver melhor a extensão comparativa
desse pequeno período pense em uma espessura de tempo de seis mil anos, período total
da exploração nos três momentos, e agora compare com esta outra de cem anos, quando
foi instituída a jornada de oito horas, então o que temos, 1/60 avos de tempo de
alívio(????????), mas com a exploração ainda assim sendo mantida.

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A tese marxista que explica o mecanismo pelo qual contempla o
desenvolvimento social-histórico, não pode explicar ainda o mecanismo que propiciou a
passagem da forma primitiva de viver nômade-natural de muito longa duração, sete
milhões de anos, para a forma de viver sedentária em aldeia comunal de viver em aldeias
há doze mil anos, e depois para o modo escravista há seis mil. Este sinaliza o fim, ou a
conclusão da História Natural do homem para dar começo a um novo ciclo histórico
com a História da cultura no contexto político-ideológico, este que hoje conhecemos.
Até o século XIX o desconhecimento sobre os mecanismos biológicos da evolução das
espécies faziam-nos crer, ilusoriamente, que éramos seres separados da História Natural.
É esse o caminho que devemos tomar para entendermos melhor essa passagem.
A inteligência humana reflexiva (consciência reflexiva) é um produto histórico
que se inscreve nos quadros da História natural exclusivamente humana, e não na
História sócio-cultural muito posterior a esse estranho acontecimento, inteiramente
inédito na história da vida, ainda que com esta se confunda e nesse espaço novo, o
social, continue o seu desenvolvimento; mas a sua origem e aparecimento, de fato, é
anterior a atual fase CIVILIZADA. O desenvolvimento do volume do cérebro, três vezes
e meia, se deu por exigências adaptativas a um meio ambiente agressivo, em
desvantagem para nós. A inteligência como uma estratégia biológica principal, podia não
ter dado certo; mas deu, e até que ponto! Até que pequenos grupos de homens, animais
territoriais, que com vastos territórios a disposição onde caçavam, pescavam e coletavam
alimentos vegetais, tem hoje como seu território uma restrita sala, quarto, cozinha e
banheiro e um pequeno quintal, quando tem. A sua volta está apinhado de gente nas
mesmas condições. Da situação primitiva com muito espaço e muita natureza para a
atual, sem espaço e sem natureza um período de tempo muito curto nos separa. A
explosão demográfica começa há doze mil anos atrás, quando do aparecimento da
agricultura e se intensifica após o capitalismo se firmar, após o séc. XVIII.
O Oriente Médio, onde houve o surgimento do domínio da técnica da agricultura
e a criação de rebanhos, desde essa época era um lugar bastante desertificado, pobre em
diversidade biológica; o que quer dizer pouca caça, pouca fruta, pouco peixe e
principalmente, pouca terra fértil. Nela os antigos árabes entenderam o processo de
reprodução dos vegetais pela semente e passaram a cultivá-los, e a pastorear os ovinos e
caprinos naturais daquela região. Um procedimento que aos poucos foi se espalhando e
disseminando em todas as direções por toda a região. Durante esse período chamado
neolítico, iniciado há aproximadamente doze mil anos refletindo o desenvolvimento
cultural que trouxe a agricultura, aldeias se formariam de forma comunal solidária, sem
estrutura hierárquicas de mando, e perdurariam desse modo por volta de cinco mil anos;
novos hábitos, novos rumos. Devido à fartura daí advinda que até então nunca havia sido
experimentada, resultou em muita alegria e num paulatino, porém, espetacular aumento
populacional crescente. Dessa forma, com o passar dos milênios, na medida que a
população crescia e ia se expandindo começaram a aparecer as primeiras contendas
violentas pelo direito de uso ou propriedade das poucas terras férteis que já ameaçavam
escassear.

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Devemos lembrar que, ao pensarmos o elemento humano antigo, deve-se levar
em conta que as populações, numericamente falando, eram irrisórias. Comparando por
alto, hoje sabemos que habitam a Terra algo como seis bilhões e meio de desatinados; já
na época em questão, no então mundo conhecido poderia haver, pelas estimativas atuais,
em torno de cinco milhões de pessoas. Há doze mil anos atrás o planeta era bem pouco
habitado. Estudos atuais dão conta de afirmar que desde o inicio da agricultura, e por
causa disso mesmo, num pequeno período de cinco mil anos a população cresceu vinte
vezes, pulando para cem milhões. O espetacular crescimento da população numa região
com problema de escassez de terra fértil gerou violência, como não podia deixar de ser;
assim como também costuma acontecer com os ratos que devido ao seu acelerado
crescimento populacional quando há uma crise e falta alimento eles se comem uns aos
outros. E com a violência abriu-se o caminho para a instituição do direito de
propriedade, pelo argumento da força, claro e, logo a seguir, com a geração de
concentração de riqueza, deslancha para a generalização das guerras de conquista em
busca de saque e cobrança de impostos, dando seguimento ao apelo da ganância e da
vaidade. Sem predadores naturais que controlasse o crescimento vertiginoso da
população humana, a vida de desvalorizou e, instintivamente a matança generalizada foi
à saída encontrada; nos cinco mil anos seguintes, até o século zero, o marco cristão, ela
subiu somente três vezes; e daí até o séc. XVIII, duas vezes somente; depois na
seqüência, até os dias de hoje, devido a revolução industrial de produção, aos avanços da
ciência na área da saúde pública, principalmente, e do aumento da produtividade, um
novo salto quantitativo ainda mais expressivo é efetuado, em somente dois séculos a
população cresce dez vezes; de seiscentos milhões bateu em seis bilhões. Mantida essa
tendência em cinco mil anos poderemos crescer duzentos e cinqüenta vezes, algo em
torno de um trilhão de almas penadas. Crescei e multiplicai-vos, diz-nos a Bíblia, e o
clero ainda hoje tem a coragem de ser contra o aborto; só pode ser a tal da maldita
política do quanto pior melhor. Tipo isso: vamos montar um inferno aqui na Terra, para
dar mais veracidade à idéia de céu. Horrível, mas a tragédia virá mais rápida do que se
espera, por conta do efeito-estufa. O clero terá como se esconder por um tempo sob a
batina do Vaticano, pois que é rico; mas o povo, o povaréu, não tem onde se esconder;
um bilhão de “almas” vão descer “pelo ralo”, em pouco tempo. Senão mais; mas quem
realmente se importa com isso? Quem mandou parir Matheus... Agora é a hora de
olharmos para esse assunto com muita atenção, como que se estivéssemos olhando para
o próprio futuro; e se tirarmos os olhos dele não chegaremos não haverá o futuro, por
certo.

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Como resultante desse momento da crise por desestabilização demográfica, pois
nesse tempo não havia camisinha, anticoncepcional e a ignorância prevalecia, aparece
pela primeira vez na História da Vida, a terrível depravação da subjugação pelo trabalho
forçado, em troca da vida, pura e simplesmente, a atitude de submissão e a escravidão,
exigência do poder político e econômico como forma de exprimir a desvalorização da
vida pela sua banalização. Os escravos sendo obrigados a aceitarem serem usados para
serviços de infra-estrutura social em construções de diques, templos, palácios, túmulos,
etc, a serviço do Estado. E a terra, agora cultivada pelo trabalho servil ou escravo, com
fins comerciais e como forma de acumulação de riqueza e poder torna-se objeto de
cobiça e meio de produção privado das elites imperiais que se formavam em luta pela
dominação, umas com as outras. Dominação e tirania: essas eram as palavras de ordem
naqueles difíceis dias como se uma nuvem densa permanente escurecesse os céus. O
senhor e o escravo, duas faces de uma mesma moeda, a ilusão do ‘eu’, a primeira
distinção de natureza social entre os homens, separa-os em áreas estanques, como águas
separadas em tanques. Como um lugar, como uma arena social teatral se apresentam a
encenar os agora distinguidos e personificados membros da classe dominante dando
show de arrogância e prestígio; trazendo os submetidos tiranizados assistindo tudo na
escuridão da platéia, sonhando virem também um dia se apresentarem no picadeiro
iluminado. Um drama encenado em sociedade, o palco da dura realidade, ou o circo dos
horrores. Do lado vencedor, o mais forte submetendo o outro, não pessoalmente, claro;
em troca de deixá-lo viver, se este aceitar ser usado como ‘coisa’, objeto de uso,
máquina, trabalhar para ele sob suas ordens; tê-lo com superior, seu senhor, ou, o mesmo
que dizer, seu dono. E a moda pegou! Por trás dessa obscena e imoral cumplicidade
sado-masoquista estava, lado a lado, a cobiça e o desprezo ao trabalho árduo, cansativo e
rotineiro por pessoas pouco afeitas a isso. E do outro lado, o medo da morte. Ora, fácil
de entender, isso porque se fomos chimpanzés, somos e seremos seres naturais e ainda
somos chimpanzés, não fomos feitos, nem somos acostumados á trabalhar do modo
como fazemos hoje; dezoito milhões de anos vivendo sobre as árvores, numa boa, sem
contas a pagar, sem ninguém a lhes dizer o que fazer, dizer, querer, gostar, vestir; depois
disso, dessa longa jornada, outra, de sete milhões de anos, vivendo agora no chão, sobre
os dois pés, só agora só para se extenuar de tanto trabalhar, ninguém merece. Foi difícil
no começo, muito difícil, mas depois que adaptamos, árvores nunca mais, foi ficando
fácil, muito fácil, cada vez mais fácil; tudo à mão, sim senhor! De repente, com o a
descoberta do plantio, tudo ficou simples e muito mais a mão, com um pouco mais de
trabalho organizado e coletivo, claro. Mas aí quando apareceu gente demais... Então! -
Trabalhar pra quê, se eu posso obrigar quem tem medo de morrer trabalhar pra mim? Do
outro lado, do lado de dentro do curral, estavam os submissos; vencidos e amarrados ao
instintivo apego à vida, e ao medo da dor e da morte inscrito no genoma de todo ser
vivo, e assim aceitam jogar o jogo da dor controlada e são degradados à condição da
perda de si mesmo, enquanto desejo e decisão. A rejeição ao trabalho, de um lado, e
sujeição a ele, do outro, são os elementos básicos sobre os quais se erigiu esse nosso
conhecido jogo dramático e ridículo; que chamamos de civilização. E assim começou o
jogo dos vencedores, sempre os mesmos, sobre os já acostumados vencidos, que ainda
hoje continua sendo jogado do mesmo jeito, pelos mesmos pequenos motivos sórdidos; a
ganância, a vaidade e a luxúria, do interesse pessoal acima de qualquer outro interesse
que não se coadune com o seu interesse particular, como se o indivíduo não fosse parte
de um todo e dele tirasse o seu próprio sentido. Durante toda a Antigüidade, que durou,

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no mínimo, quatro mil anos, e mais todo o feudalismo que durou mil anos, cinco mil ao
todo, o trabalho era considerado atividade degradante, inferior, próprio para pessoas
“inferiores” (leia-se: submetidos sob ameaça física real) e hoje ainda é um pouco nesse
sentido que ele é também encarado; como assim do jeito como se diz por aqui: “quem
trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro”. Ou, “se soubesse quem foi que inventou o
trabalho, eu matava” No entanto, ironicamente devemos ao trabalho consciente, com o
indivíduo envolvido no momento da ação de fazer acontecer, usando as mãos ligadas ao
cérebro como uma sua extensão, ter sido o responsável que realmente deu a partida do
processo desenvolvimento físico do nosso cérebro, em três vezes e meia, e a obtenção da
linguagem e da autoconsciência. E tudo isso já pronto antes de ocorrer o processo social
propriamente dito, essa coisa de Estado, classe social, e tudo mais. Que ironia, que
tragédia, que piada. “O quê dá pra rir, dá pra chorar”, e vice-versa.

78
Lá por meados do quarto milênio, antes do teatro cristão entrar em cartaz, quando
as primeiras elites escravocratas, já devidamente instaladas em lugar de destaque, sob
refletores, se banqueteavam a valer, a inventividade da elite árabe e das pessoas que a ela
estavam diretamente ligadas se abriram de par em par, como as portas de um saloon
cow-boy; por conta da sobra de tempo livre que obtiveram, custeado pela submissa
platéia. O que lhes permitiu pensar em meios e formas práticas, úteis, para
administrarem melhor suas riquezas e poder, nunca visto antes em tempo algum, que
maravilha; senão acrescê-los ainda mais. Mais e mais! Mas, que maravilha! Coisas
novas, diferentes, passaram a acontecer com esse novo procedimento que marca a
chegada do aparecimento da escrita, da matemática, da filosofia, da ciência; ao lado da
religião institucionalizada que aos poucos vai encontrando eco aos seus dizeres e dando
convencimento das suas “histórias”, como função prática aos seus assopros e
compressas morais e psicológicas. Em termos quantitativos, numéricos, essa nova
prática de relacionamentos econômicos de produção classista-hierárquico, inéditos até
então, se constituirá em uma regra constante, mas somente em termos numéricos. A
incerteza dos tempos iniciais da fase coletora, a busca constante por alimentos chegou a
um fim com a agricultura, mas depois com o crescimento populacional acelerado, que
trouxe o assentamento do Estado, como um efeito da desvalorização da vida, por
excesso, e como um meio de frear e organizar o crescimento demográfico descontrolado,
agindo ainda como uma ferramenta de apoio da produção de novos mecanismos que
pudessem gerar sustentação da população, dado a desvalorização, dado a sua
banalização pela superlotação nas áreas conhecidas da China, Índia até o Nilo, a penúria
só fez aumentar para a maioria das pessoas, no meio de uma matança generalizada
dilapidadora desse excesso de gente; e é quando aparece em cena homens no papel de
degradados à condição de objetos de uso a benefício da vontade alheia, os escravos. E
assim, em essência, foi que o homem se civilizou, melhor dizendo, foi que a civilização
a si mesma se construiu como que independentemente da nossa vontade; como um
reflexo do caráter inconsciente instintivos animais da nossa natureza, de nossas ações
básicas ainda hoje primitivas, apesar das nossas conquistas teóricas conceituais de
vanguarda recentes e apesar de nos crermos até espiritualizados. E ela cresceu, se
multiplicou, evoluiu, trocou de fantasia e cenários; como um o show, que por força de
hábito tem que continuar, mas continua como sempre do modo como as elites sempre
gostaram, a serviço delas mesmas, se disponibilizando da bilheteria. Baseado no mesmo
e único antigo princípio manjado da extorsão do trabalho, em todas elas, em todas as
fases, nos seus dois únicos tipos político social básico: o imperial que rodou pelo
circuito por quatro milênios e o empresarial, cuja representação em cena, contado desde
os seus primeiros passos dados com as corporações e com os feirantes itinerantes, e a
exploração comercial do chamado Novo Mundo, tem algo em torno de um pouco mais
de quinhentos anos. E assim será até quando isso tudo terminar, para quando tudo isso
acabar. O que nos exigirá ter que largar velhos hábitos de natureza político-econõmico
de concentrar riqueza só para fazer mais riqueza, e que essa riqueza se concentre ainda
mais, ainda mais, mais ainda. Ou, até que tudo se destrua, desapareça! Até que sejamos
eliminados como num salto no escuro.

79
Poderia ter sido diferente? Poderiam nossos antepassados ter preferido a morte e
não aceitado compactuar com tal violência e degradação e dela tornarem-se reféns, como
fizeram os índios, aqui no Pindorama, quando os portugueses por aqui chegaram? Sim,
mas não foi assim que aconteceu, por causa do medo instintivo de morrer se deixaram
escravizar, e seus filhos vivendo e crescendo vendo seus pais aceitando submissamente
tudo aquilo, muito mais facilmente isso também aceitariam e foi o que se deu, aceitaram,
e os filhos dos filhos... Também, até hoje também, o uso do cachimbo deforma a boca.
A exploração, como forma de relacionamento econômico social, se baseia no
medo que tem origem no inconsciente e irracional instinto de sobrevivência animal, com
raízes em tempos remotos, contados em dezenas de milhões de anos; quando na
condição, ainda de primatas irracionais aceitávamos a submissão ao mando do mais forte
do grupo, provado no embate corpo a corpo, para a escolha do líder e seleção do melhor
e mais sadio reprodutor da espécie; apesar de que entre nós quando ainda chimpanzés,
não ser freqüente a luta pelo papel de reprodutor.
Portanto, claro está, que não podemos falar de revolução social solucionando
contradições entre o mecanismo produtivo e as relações sociais de produção para
interpretar essa passagem histórica, que bem compreendida é da maior importância, por
conta de ser o momento do parto da história social propriamente dita, a passagem da
vida comunal para a tirania dos Estados nascentes. Também aí então o mecanismo de
mudanças históricas ainda não se aplica, segundo diz a sua lei de desenvolvimento
histórico, que nos orienta o olhar para a constatação de haver ou não, qualquer
contradição entre relações de produção e as forças produtivas; ora, tendo a causa se
dando por motivos de adaptação pelo conflito gerado pelo desequilíbrio gerado por
espécie viva cuja população verificava uma acelerada expansão do seu crescimento.
Algo precisava ser feito, e foi feito. Quando vem, então, a sujeição autoritária ao
trabalho com a violência, e o crescimento desordenado foi contido. Pode-se inferir daí
causa biossocial ecológica para o aparecimento das civilizações que tiveram de tratar de
solucioná-las ainda que no nível de atividade instintivo, inconsciente. Como que
houvesse uma contradição entre a consciência reflexiva e a vida. E parece que pode
haver, pois já que está se dando neste momento é justamente isto; pode ser visto também
por esse ângulo o que nos deve fazer pensar em alguma forma do seu ajuste.

Gráfico do crescimento demográfico histórico

Inicia-se, no então mundo conhecido, às margens do Mediterrâneo, a era da


ganância e da violência indiscriminada, a atitude que representou uma crucial ruptura
que modifica e interfere nos procedimentos naturais do meio-ambiente desastrosamente,
e que até hoje é prevalecente e permanece; o que já nos ameaça seriamente. A
civilização é algo que se criou como um efeito de uma contradição da relação entre o
homem e o meio-ambiente e que dura até os nossos dias. A ganância, a procura de
riqueza que como uma doença nunca parou, só fez foi aumentar, se alastrar, se agravar,
ainda continua a avançar; o que desequilibra a continuação da própria civilização com
esse mesmo conteúdo.

80
3
Não, não houve uma maçã pecaminosa, símbolo da autoconsciência culpada
pelo desejo carnal, não; mas sim, houveram os primeiros campos cultivados, a primeira
forma de riqueza criada pelo homem, o quê dado à ignorância total de todos, sobre tudo,
muito perdoável até, naqueles dias, fez aparecer à cobiça, nos levando a ‘perda da
inocência’ e da naturalidade igualitária, em troca de ganharmos um iludido, e, por isso,
perverso ego vaidoso e “cheio de si”; alguns gloriosos entre outros humilhados e
ofendidos, praguejando surdamente, quase que desfeitos, pela posição de classe
adquirida ao nascer e pela luta social que passou a se desenrolar. E é justamente essa
criancice tola, que ainda nos impede de ver, e por em prática, o que realmente já
percebemos ser verdade: que realmente somos um com o todo, em delicada e integrada
relação de equilíbrio e harmonia. O todo, o universo é o único e verdadeiro eu, ou o
único indivíduo. Tudo o mais sendo parte dele, ou uma expressão individualizada dele;
nada mais que elementos constituintes integrados e impossível de existência real fora
dele. Essa consciência nova terá que fazer parte dos nossos procedimentos sociais para a
elaboração de um projeto de sociedade que produza resultados que tenha uma ponte para
o futuro, e mesmo assim uma ponte fina, onde poucos sobreviventes passarão; se
houverem passantes.
Uma nova revolução cultural de cunho econômico-social se aproxima; uma nova
e revolucionária tecnologia (força produtiva) estão se gestando silenciosamente no
ventre da besta capitalista e que nos brindará com os meios para a sua dissolução. Do
mesmo modo como aconteceu com o Feudalismo, quando no seu interior começaram a
se desenvolver técnicas novas de produção fabril coletiva e circuitos comerciais
diferentes. E essa revolucionária tecnologia hoje se trata do advento da era digital, cujo
deslanche esta à espera ainda somente de encontrarmos uma saída para esse gargalo
energético que estamos presos pela atual fonte de combustível fóssil, que está no final e
que, ainda por cima, junto com outros procedimentos, está causando perigosa alteração
climática para a vida no planeta. A solução final para isso já se conhece há algum tempo,
é a célula de hidrogênio, o elemento químico mais abundante que há no universo inteiro,
só 98%; capaz de gerar energia abundante, e por isso barata, e o que é mais importante,
totalmente limpa; mas cuja implantação vem sendo realizada a passos de tartaruga, a
espera de que as grandes companhias petrolíferas internacionais realizem seus lucros
finais, o que poderá durar ainda por, no mínimo, três quartos de século; o que é muito
para as críticas condições climáticas atuais, dado a modificação da atmosfera criada por
uma capa impermeabilizante, cada vez mais espessa feita de carbono, emitido pela
queima de combustíveis fósseis, o petróleo, o carvão, e outras origens; aquecendo o
planeta de conseqüência funesta, de efeito multiplicador catastrófico.

3
Aqui deve ser feito um reparo; a questão da maçã não é símbolo da repressão sexual, mas da perda da inocência
com o advento da consciência, a noção do certo e do errado.

81
Então, só então, quando da junção dessas duas novas forças uma nova
consciência histórica e ecológica se abrirá e o caminho para uma era onde o progresso
material, não apenas quantitativo, como o até aqui verificado, se modificará pela busca
da obtenção de conteúdos qualitativos, baseados na aproximação e reunião dos seres
humanos, hoje divididos em classes em situação de conflito baseado na competição e na
exploração. (atenção, atenção) O que nos será permitido por essa nova tecnologia digital
com a criação paulatina de uma espécie de sistema nervoso externo de aproximação em
rede mundial, ninguém podendo ficar de fora, excluído. Por esse caminho chegaremos à
realização da verdadeira obra humana, uma sociedade harmônica, sem conflito; tão
sonhada e postergada; a obra da sua própria realização, enquanto espécie animal, de
adaptação se dando por via nervosa consciente de si. Realização de uma ampla e
definitiva revolução, não como a francesa de l789, nem a Russa de l9l8; revolução de
caráter coletivista-comunitário, sem Estado, inteiramente transparente e barata, sem
desperdícios de recursos com gastos em forças armadas, judiciário, partido político e
sem prisões, sem igrejas; uma sociedade aberta, discutida e principalmente, democrática,
com a instância político-econômico descentralizada, a maneira anárquica, e ao mesmo
tempo, global. Talvez não haja amanhã, talvez estejamos já próximos de passar do ponto
de não-retorno da condição sustentável de vida dado ao aquecimento. Quanto tempo
temos ainda? Quem sabe? Mas não deverá ser muito, por certo. Precisamos avançar mais
rapidamente e fazer acontecer o que há muitos milênios está reprimido em nossos
corações e mentes. Nada está escrito, nem predestinado a nada, deixemos de lado as
orações e passemos às ações, primeiro pelas ações de desobediência organizada e de
controle de si mesmo enquanto um consumidor de bens oriundos da máquina social.
Fazer acontecer é desmontar, ainda que com muito cuidado e sem pressa, esse edifício
histórico ultrapassado baseado no antagonismo social de interesses conflitantes pela
apropriação ávida da riqueza, cada vez mais concentrada em poucas mãos. No seu lugar,
construir algo que pela primeira vez nos contemple com a harmonização das relações
sociais de produção, e em conseqüência, por efeito, apaziguar definitivamente as
relações humanas, do homem para consigo próprio e com o outro homem, pela abolição
completa do malfadado direito de apropriação individual dos meios de produção gerador
do antagonismo, da desunião e da desgraça; e nos traga, por fim o esvaziamento dos
nossos ridículos e desmedidos egos individuais em delírio de glória e poder, da
excessiva e desnecessária personalização dos agentes econômicos, políticos e sociais, de
qualquer espécie, em qualquer escalão; e que ainda nos traga um relacionamento não
embrutecido e irracional com o meio ambiente natural de forma a não tratá-lo como algo
que não nos dissesse respeito diretamente, como se fosse uma mercadoria sem valor,
descartável. Ou algo sem importância; como que dizendo: deus fará outro.

82
Nossos antepassados não souberam ganhar tempo em resolver o conflito com
pressa de enriquecer e a humanidade atual demora a conscientizar-se que o seu papel,
como organismo vivo que é, trata-se de buscar o equilíbrio com o meio ambiente, com a
natureza viva; seja lá o que for que isso signifique fazer, tem que ser feito. Qualquer
reticência e omissão poderá nos custar muito caro, caríssimo, dado o total desmanche do
capital natural que agora estamos todos, na maior alegria, promovendo com a nossa
presença irresponsável e deletéria aqui no planeta; que encontramos pronto, que não
fizemos, que se constituiu naturalmente num longo processo de bilhões de anos. O que
só pode ser explicado pelo profundo desmantelo das nossas condições mentais e
emocionais, no geral verificado como uma rede de frustração, arrogância, pessimismo,
fantasia, insatisfação e ódio a vida, acumulado por milênios de sofrimento, frustração e
violência, passando de geração a geração, todos gerados nos históricos ventre da besta
escravista, feudal e capitalista.

A QUESTÃO POLÍTICA DO SÉCULO XX.

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No princípio do séc. XX, na Alemanha, logo após a primeira grande guerra
européia, apareceram, no seio dos trabalhadores dois líderes políticos de esquerda, que
se propunham criticar a proposta marxista contida no Manifesto Comunista pelo
confisco direto e reto dos meios de produção das mãos dos capitalistas e da implantação
da ditadura do proletariado como forma de impedir a burguesia se rearticular depois de
ter sido derrubada do poder, isto é, o sistema de partido único, como radical e
equivocada. Chamavam-se Kaultski e Bernstein; seguiam a tradição de Lassalle, este
acusado por Marx de traidor, que propunha uma reconciliação entre as duas partes, pois
que haveria, e há realmente, um componente humano e uma possibilidade de
negociarem posições entre si, além de pequenas questões meramente econômicas,
materiais. Fundaram a corrente política Social-democrata; para esta corrente como luta
política a questão principal do socialismo da luta dos trabalhadores deve ser a
manutenção da democracia; “sem democracia não pode haver socialismo”, afirmavam,
muito corretamente, como hoje sabemos. Socialismo significa libertação do jugo dos
patrões, e isso não significa nada, não serve se for obtido a custa de cairmos sob outro
jugo, o jugo do Estado, o que é até mais humilhante, e lembra o escravismo antigo. Não
adianta chorar, a ‘nega’ ‘tá lá dentro. Mas, ela ter sido feita na Rússia por um povo
recém saído das relações de servidão sem nenhuma, quase nenhuma, experiência do que
seja viver sob uma democracia, afeitos a submissão e ao despotismo, e com um ainda
incipiente processo de industrialização, o que propiciou depois da revolução da
formação de uma casta governamental com poderes absolutos imperiais em busca de
recuperar a desvantagem e emparelhar em desenvolvimento com os países capitalistas
ocidentais, a custa da democracia e da vigilância e violência. Essa soma de fatores
assustou os capitalistas do mundo inteiro. E logo vieram as reações preliminares
rechaçadas pelo exército vermelho, fortificando ainda mais a posição daqueles que
dentro do partido comunista defendiam isolarem-se a fim de consolidar a revolução
soviética. Entra em cena Stalin, mão de ferro e coração de aço. “Palhaço desse circo sem
futuro”
À época, Kaultski foi acusado pela igreja romântica marxista revolucionária de
traidor da causa dos trabalhadores e da de Cristo também, isto é, Marx, e mais toda a
espécie de calúnias, condizente a um clima quente de um pós-guerra em crise de
identidade. Divergindo entre si, divididos, os trabalhadores se enfraquecem, ficam
paralisados, e a hegemonia dos trabalhadores alemães foi abortada pela reação violenta
dos patrões. Quando é implantada as primeiras ditaduras militares burguesa, para
garantir sua sobrevivência a todo custo, no que o mundo aplaudiu. Toma o poder Hitler,
aplaudido como o herói da burguesia germânica e do mundo. A crise do capitalismo de
1929 causou a desagregação da recuperação européia dos estragos causados pela
primeira grande guerra, acelerando o avanço da luta pelo poder na Alemanha, entre
patrões e empregados, a moda russa que empolgava a Europa e o mundo, e que rápido
nos trouxe a radicalização dos patrões, levando os nazis ao poder em 1933.

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Com a derrota alemã na primeira grande guerra internacional, um forte
sentimento nacionalista se disseminou, devido à desmoralização trazida pelas pesadas
sanções econômicas e territoriais do seu próprio território e dos da colonização
imperialista alemã na África impostas pelas nações vencedoras. Aproveitando-se do
descontentamento e crise e ainda mais do avanço da revolução russa rumo a Europa,
algo precisava ser feito, e foi. Os empresários estimulam Hitler que avança em duas
direções. No campo interno prende, ou extermina as lideranças trabalhadoras, e qualquer
oposição de fato; e no externo busca recuperar as posições perdidas na primeira guerra
há duas décadas e conquistar a posição de potência industrial-militar, representando o
delirante sentimento de superioridade racial ariano, tinham um projeto social para mil
anos. O que afinal convinha devido ao não questionamento da ordem senhorial
capitalista, e também porque, por outro lado, permitiria a formação de uma potência
militar capaz de barrar o avanço do exército vermelho no leste europeu, e no devido
tempo por fim a essa ameaça. Logo, logo se verificou o erro cometido, quando no poder
a ditadura alemã quis ir longe demais, desestabilizando todo o equilíbrio de poder na
região. Deu no que deu, todo mundo sabe. Quando por fim, invade a Rússia, para
cumprir o seu desígnio elitista de acabar com a revolução operária, já havia aberto,
então, outras renhidas frentes de batalha com os países capitalistas desenvolvidos que
não quiseram saber de aceitar seus sonhos de expansão imperiais, como uma nova
Roma. O exército invasor foi derrotado dentro da União Soviética, deixando o caminho
aberto para o exército vermelho avançar por todo o leste europeu e invadir Berlin. Por
onde passaram implantaram o Socialismo à força. Para não se espraiarem por toda a
Europa, tinha que ser contida pela Inglaterra e EUA. Avisados para parar, pelo
fulminante ataque nuclear americano ao Japão, acordam a divisão da Alemanha e da
Europa em duas áreas de influência. Inicia-se a corrida armamentista de armas de
extermínio em massa, entre os dois países, inicia-se a guerra fria vencida pelos
americanos mais tarde. No que este demonstram ao mundo terem uma sólida economia
mais eficiente do que pode ser o modelo coletivista, aquele que o modelo soviético
apresentava, claro: e, realmente eram um modelo econômico, capaz de sustentar caros e
sofisticados projetos de construção de armas de devastador poder de extermínio, sem
prejudicar os outros setores da produção social, como o que acontecia com a Rússia, e
ainda serem baseados em um sistema político, ainda que elitista, aberto; com
democracia, liberdade de imprensa e direitos civis, o que na URSS era zero.
A questão do socialismo não é primeiro que tudo uma questão política, é
primeiro e acima de tudo uma questão de economia, pela forma como é apropriada a
riqueza social. Não é necessário que a política adotada por uma sociedade sem a
propriedade privada seja ditatorial como foi com o socialismo soviético-russo,
principalmente até por este ter-se isolado do resto do mundo como experiência única,
contra tudo e contra todos, como um exemplo de heroísmo e honra de classe. Foi uma
experiência fracassada até por isso mesmo, mas outros tipos de experiências melhor
compreendidas e situadas no contexto novo que delineia no espaço do horizonte virão
sem as velhas ignorâncias ditatórias, e melhor situadas no contexto histórico dos ventos
do futuro.

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Bakunin, opositor e contemporâneo de Marx, e por coincidência russo, líder
anarquista prevê o despotismo nas premissas do pensamento político marxista da
ditadura do proletariado, a ditadura feita pelos trabalhadores e para os trabalhadores sem
ter que sustentar nenhuma elite econômica governante, mas em função das
circunstâncias de terem se isolado do resto dos trabalhadores para poderem reunir forças
tiveram que se isolar dentro de si, e o meio de conseguir isso era o total controle e
vigilância do palácio sob o povo o tempo inteiro. Não demora, o glorioso balão do
socialismo burocrático, de Estado ditatorial cai, e se estilhaça em pedaços.
Piiificchiiiiiiiiiiiiiiiii...Buuuuum! E logo, logo o balão dos capitalistas sobe mais alto,
sozinho em céu de brigadeiro, principalmente o dos americanos hight-socity, que agora
posam para o mundo como os salvadores da liberdade e da democracia ameaçada pela
ditadura do proletariado. Um negócio assim meio imperial como nos tempos do
absolutismo faraônico, só que mais complicado. E não quiseram ouvir Kaultski.
Segundo ele, conduzir a luta política até a derrubada total, pela força, da burguesia e
introduzir uma ditadura de partido único seria muito radical, e por demais equivocado;
seguindo-se o seu raciocínio, a luta de classes deveria ser desenvolvida evitando-se o
confronto total, substituindo-se a ditadura do proletariado, como queria Marx, pela
dominação do proletariado. O que significava manter a classe dos patrões, exigir a
participação nos lucros e gestão compartilhada da empresa por ser o trabalho a parte
vital de todo o processo. Mantendo-se a burguesia e a democracia principalmente; e ele
estava certo. Hoje sabemos que sem liberdade, que sob ditadura o Socialismo, não serve,
não interessa, nem funciona. Nessa época, em que o capitalismo europeu se expandia,
gravando suas garras no pescoço do mundo colonial, como uma ave de rapina, a
competição entre essas nações industrializadas aguça o conflito entre elas pelo controle
de mercados consumidores e pelo acesso (leia-se: pilhagem) às fontes de matérias-prima
encontradas nos países periféricos, a chamada fase imperialista, que logo trouxe a
Primeira Grande Guerra, quando a Europa foi palco de uma feroz e insana guerra
fratricida, - quanto dinheiro jogado fora - movida pelos interesses monopolista de
gananciosos magnatas em busca de estender seus lucros e consolidar poder. Os
operários, por seu turno, nesse contexto, manejados por um discurso patriótico-
nacionalista foram, ou mandaram seus filhos, para o matadouro. No final dessa guerra,
eclode a romântica “revolução socialista” russa, uma lástima. industrialmente periférico,
sem a menor influência nas áreas centrais do poder dominante, recém saindo das
relações servis no campo, e imperiais na política, autocrática e expansionista; passou
quase que direto do feudalismo para o socialismo, num mundo inteiramente militarizado
e em processo de competição militar acirrada entre as nações. Depois da revolução eles
se industrializam rapidamente, para isso vem a usar a força e a coerção autoritária sobre
a população, a fim de obterem os fins desejáveis de remanejamento da produção social e
de se capitalizar sob as novas relações de propriedade sobre os meios de produção agora
socializados, fortemente centralizados sob um Estado dominado pelo partido comunista
sem democracia interna. E cujo fim era a todo custo lograr tirar a Rússia do atraso
econômico. Criaram um novo regime social baseado na formação de classe trabalhadora
nos velhos padrões dos regimes capitalistas; um capitalismo de Estado, a custa da
democracia. O que foi o princípio do fim.

86
Já Kaultski considerava que a questão principal do socialismo era política, e
lutava no momento pelo fortalecimento político do proletariado e pela educação política
de participação nas lutas gerais, e a luta pela manutenção incondicional da democracia.
A burguesia deveria ser mantida, mas sob a dominação dos trabalhadores fortalecidos
nas organizações nos locais de trabalho com forte representação política partidária, e de
organização sindical, capazes de implementarem gestão compartilhada e participação
nos lucros, o xis da questão. Essa soma efervecentes de fatores assustou os capitalistas
do mundo inteiro. E logo vieram as reações preliminares rechaçadas pelo exército
vermelho, fortificando ainda mais a posição daqueles que dentro do partido comunista
defendiam isolarem-se a fim de consolidar a revolução soviética. Entra em cena Stalin,
mão de ferro e coração de pedra.
Somos uma forma de manifestação da matéria, logo da energia. Nada é sólido,
como se nos apresentam aos sentidos os objetos, até mesmo os objetos. A solidez que os
sistemas sociais históricos tentaram e ainda tentam passar, imagine, mais ainda. Iludem-
se e iludimo-nos com ele. Em sociedade temos que funcionar como uma máquina,
porque esta sociedade é uma máquina posta a funcionar com o fim de gerar riqueza, e
cada vez mais, que será apropriada por um grupo seleto que não chega a dez porcento
dos participantes. Sociedade, teatro onde é encenado um drama historico
demasiadamente humano. Teatro histórico onde os personagens entram e saem, mudam-
se os cenários, mas o drama continua. O drama humano, por isso, está no fato de viver
em sociedade, ou ao menos nesse tipo de sociedade que conhecemos até aqui. Sociedade
histórica quando as mudanças vêm e vão, se sucedem; mas continua sempre o mesmo
drama. Se olharmos para frente no tempo veremos, se houver futuro, com facilidade, que
assim como o ambiente político-social de quem viveu no passado mudou para o que é
hoje, como sabemos, também podemos supor profundas modificações nesse nosso
ambiente político-social atual, no futuro. Nesse sentido olhar para frente significa olhar
para o presente vendo-o modificado; vendo que ele não será como é hoje, vendo que ele
também será modificado, vendo que será outra coisa; vendo-o já tendo sido o drama
solucionado.
O problema da especialização em áreas de conhecimento da pesquisa científica
implementada por uma questão puramente prática de aceleração de obtenção de
resultados econômicos, funciona por uma divisão em áreas especializadas de
conhecimento e, com isso, os nossos ‘sábios’ se tornam estultos, facilmente
manipuláveis, pela sua quase total, quando não total ignorância de outras áreas
importantes do conhecimento, que os permitisse obter uma visão global e completa de
política geral, totalizante, do conhecimento, e de uma melhor compreensão da devida
inserção social da sua área de conhecimento específica. Mas como eles são empregados,
ainda que bem pagos, laureados; como todo empregado obedece do mesmo jeito. A
concepção da bomba atômica é o exemplo mais categórico dessa afirmação. Também,
coitados, como todo mundo, tem barriga para encher, e crianças para alimentar, ou
vaidades por alentarem. – Não há problemas! Nós somos o problema. “Ah! Ah! Ah! Sou
palhaço do circo sem futuro, um sorriso pintado à vida inteira. Palhaçada. E essa
tragédia quer viver. Tanta dor, que fere e cansa. Tem o povo. Tem o CIRCO. Yes, tem o
povo. CIRCO. Palhaçada. Ah! Ah! Ah!” - Cordel do Fogo Encantado.

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E não há como deixar de relacionar o avanço da ditadura de direita na Europa e
no mundo, com a instalação do regime socialista soviético, como uma reação à
introdução da ditadura do proletariado; toda ação gera uma reação igual e contrária;
dependendo da relação de forças, às vezes, muito maior; quando se trata de forças
políticas, ao menos.
E lá se foi embora a democracia que Kaultski tanto quis resguardar por entender
ser ela o mais importante instrumento da luta do movimento político dos trabalhadores
contra a exploração dos patrões que tem a tradição e as instituições sociais de Estado ao
seu lado, como instrumentos de poder. Viu longe! Pena não ter sido compreendido e
ouvido, dado a forte influência magnética do pensamento de Marx. Este, muito forte por
um lado, autor da ferramenta teórica de leitura do desenvolvimento social-histórico; e
fraco, por outro, pelo açodamento e precipitação política. Ora, se a História se
desenvolve independente da vontade dos homens; e sim segundo mecanismos
fundamentais de ordem material; de onde ele tirou aquela estratégica de assalto ao poder
pela força. A expressão mais perfeita de uma pura e simples de vontade de classe, ainda
que legitima, heróica, mas, ainda assim, vontade. No início do século vinte as idéias
socialistas de libertação dos trabalhadores do jugo dos patrões fermentavam na Europa e
nos Estados Unidos, que eram a vanguarda capitalista, os países capitalistas mais
desenvolvidos. Antes mesmo das duas guerras o marxismo era uma corrente política de
grande penetração no meio dos trabalhadores, tendo sido até criada por eles uma
organização político de âmbito internacional. Poderiam ter aproveitado o
enfraquecimento dos empresários, de ambos os lados, depois da primeira guerra para
ampliarem as suas organizações políticas partidário-sindical e reivindicarem participação
nos lucros e gestão compartilhada e assim teríamos avançado em terreno seguro.
Estragando tudo, entra em cena o radicalismo aventureiro marxista-leninista soviético.
Foi o mesmo que dar um tiro pé, e até hoje as feridas não foram totalmente cicatrizadas,
e o movimento trabalhador continua mancando, sob o comando do capital.
Os capitalistas alemães enfraquecidos depois da derrota na primeira guerra, com
medo da ascensão dos trabalhadores ao poder no estilo soviético, conspiraram pela
criação de um estado totalitário-militar, e por um fim a sublevação interna dos
trabalhadores pela tomada do poder, em andamento, desejosos de barrar a sua
aniquilação e de recuperar posições perdidas no conflito passado. O que aconteceu na
Alemanha hitlerista foi muito mais, antes de qualquer outra coisa, um movimento de
consolidação do capitalismo naquele país imprensado sob duas forças: a concorrência
internacional pela hegemonia dos mercados consumidores e dominação de fontes de
matérias primas em regiões atrasadas, e pela ascensão do movimento revolucionário
socialista marxista-leninista no seio dos trabalhadores alemães incentivados pelo
exemplo russo. Um novo Kaiser é quindado ao poder. Hitler, depois de fazer o dever de
casa ao desmontar e trucidar as organizações dos trabalhadores e as suas lideranças,
parte para reeditar a guerra de dominação imperialista na arena internacional. Assim, a
Rússia escapou de sofrer uma agressão de uma aliança capitalista européia e americana e
ainda soube aproveitar a ocasião para expandir seu domínio por toda a Europa oriental
chegando até Berlin; realizando o antigo sonho czarista da constituição de um grande e
majestoso império russo crescendo a oeste. Por serem teimosos, conseguiram até
emplacar setenta anos de regime. Que tenham bom sono!
MARX, UM HERÓI ROMANTICO.

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Marx, no afã de organizar os trabalhadores politicamente, objetivando a tomada
do poder e quebra da ordem capitalista pela instituição de uma nova ordem sem os
patrões, assim como os capitalistas fizeram com a nobreza feudal no passado, comete
um erro de precipitação política e mais que isso, comete um erro teórico contradizendo
sua própria tese do desenvolvimento histórico, sintetizado no prefácio transcrito acima
nestas páginas. No parágrafo – “O Modo de Produção da vida material condiciona o
processo da vida social, política e espiritual em geral. Ao chegar a uma determinada fase
de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade se chocam com as
relações de produção existentes, ou o que não é mais que a expressão jurídica desta, com
as relações de propriedade dentro das quais vem se desenvolvendo até ali... Nenhuma
formação social desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que
cabem dentro dela. E jamais aparecem novas e melhores relações de produção antes que
as condições materiais para a sua existência tenham amadurecido no seio da própria
sociedade antiga. Por isso, a sociedade se propõe sempre, unicamente os objetivos que
pode alcançar. Por certo, estes objetivos só brotam quando se dão ou, quando se estão
gestando as condições materiais para a sua existência, para a sua realização”. Ele era um
intelectual competente, livre, muito esclarecido e bem preparado; porém muito confuso e
lento na administração da sua vida particular; com mulher e filhos para sustentar só se
dispunha a estudar e a escrever; de origem familiar bem colocada no serviço público de
alto escalão, porém quando depois da morte do pai empobreceu. Muito talentoso e
esforçado queria um lugar para si na História; quis a revolução para si; quis vivê-la já no
seu tempo, também sofria de imediatismo, a mais comum característica do
comportamento do homem mortal, de todos nós. Havia abdicado ao berço abastado pela
luta social em prol dos explorados e oprimidos. Sua obra é heróica, sua vida também, a
maior contribuição teórica na área das Ciências Sociais até os dias de hoje, gestada em
meio à miséria, perseguições e humilhações de toda ordem, e se não fosse o amigo bem
de vida, Engels, também um competente pensador socialista alemão, sei não... Talvez
tivesse sido melhor Engels não ter aparecido em cena, no tempo certo, no lugar certo e
com o coração certo; Marx não teria sido o Marx que foi e o rumo dos processos
políticos e sociais, sem a poderosa presença do seu pensamento teria sido outro e, em
vez do vexame chinês, coreano, cubano e todos outros já mortos e enterrados,
poderíamos agora estar, ou bem próximo de entrar numa nova era de regime social
harmônico, com democracia, com o povo compartilhando melhor da riqueza, ou até
vivendo ainda um capitalismo abrandado da sua virulência atual, fruto da polarização do
mundo gerado no atrito entre os dois regimes antagônicos, inimigos.
A CRÍTICA DA CRÍTICA.

89
Vejamos alguns pontos iniciais. Consideremos, preliminarmente, não tendo
existido realmente a conhecida divisão histórica, no caso o escravismo e a servidão
feudal. Usando a própria lógica do seu método de análise dos mecanismos motores da
transformação histórico social, vemos que, realmente, não houve nenhuma passagem
entre duas épocas distinguida por alteração real, substancial na base material da
sociedade; as relações de produção de produção e as forças produtivas continuaram as
mesmas. Os rearranjos jurídico-político e ideológico que houve também foram
inexpressivos; manejados por ordem de diversos fatores pela nova elite européia
emergente, para manterem o essencial, a espoliação econômica, a opressão, como antes;
da mesma maneira, usando os mesmos métodos; somente que forçados por uma
instituição ideológica de forte penetração, a recém criada igreja cristã, a religião dos
escravos, deram uma “dourada na pílula”. Assim, desde o aparecimento do escravismo,
no Oriente Médio, lá pelos idos do quarto milênio antes do mito cristão, até a sua
substituição pela mão de obra “livremente contratada”, somam um total em torno de
cinco mil e quinhentos anos. Um período curto, curtíssimo até, quando o comparamos ao
período nômade coletor-caçador de sete milhões de anos. Quando da proposta
pirotécnica explícita do Socialismo revolucionário feita no Manifesto Comunista, no
século dezenove, a derrubada da nobreza não tinha feito sequer duzentos aninhos e a
democracia idem, o capitalismo ainda era bastante garotinho. Devemos dar ênfase a essa
questão porque nas suas palavras repetidas acima: - “Nenhuma formação social
desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que cabem dentro dela.
E jamais aparecem novas e melhores relações de produção antes que as condições
materiais para a sua existência tenham amadurecido no seio da própria sociedade
antiga.” Tutano! Pois é, ele sabendo disso, então, como entender sua proposta de
revolução naquele momento inicial da implantação do capitalismo, não é? Pois é, pois é,
nenhum espaço para o idealismo infantil, muito bem. Mas o idealismo não é o único
problema de foco na análise política, há também o problema do vanguardismo
voluntarista heróico; a doença infantil do socialismo. Como dizia o mais doente de toda
a esquerda infantil da História; Lênin.
O feudalismo cristão europeu, período histórico que durante mil anos oprimiu
covarde e cruelmente o povo, não poderia acabar assim de uma só vez, de um dia para o
outro por conta da vontade e do desejo expresso em formas ideológicas libertárias ainda
que legítimas, mas sem correspondência nas condições materiais apropriadas; o que
significa dizer que no seu período inicial os patrões tinham a sua mão o argumento da
exploração para acelerar seu desenvolvimento; e, claro o fizeram. Por suposto, é fácil
compreender que dado a frustração popular esse sonho fosse, de novo, pouco a pouco,
voltando a se manifestar na consciência da população sofredora, dada a urgência da
situação miserável dos trabalhadores da primeira época do capitalismo. A comuna de
Paris é o exemplo mais significativo das lutas do período. Fase conhecida como
capitalismo selvagem, dado ao intolerável nível de exploração efetuada. Em breve,
enfrentando a repressão policial a mando dos patrões, os movimentos sociais de protesto
e revolta começam a fazer a sua aparição na cena social de forma organizada,
reivindicando melhores condições de vida e trabalho. Como a expressão de uma nova,
inequívoca e poderosa força política, a força do trabalho dos trabalhadores, que sobre os
ombros dos quais repousa a reprodução da vida do corpo social inteiro. Nesse mesmo
tempo apareceram os primeiros teóricos do socialismo, os chamados socialistas
utópicos. Marx descende deles diretamente.

90
Na sua bem acabada análises críticas do sistema econômico-social capitalista
ficam demonstradas o mecanismo pelo qual é feita a expropriação do trabalho com a
obtenção da “mais-valia”; conceito válido enquanto existir o capitalismo, pois que esse é
a sua essência, o seu cerne; não tem como mudar, se acabar com o próprio capitalismo;
assim como, não se podia acabar com a servidão, sem por fim ao Feudalismo. Sua
demonstração, na época, foi uma grande contribuição ao movimento reivindicatório
político-social popular no século XIX. Sua ciência econômica baseada na sua lúcida tese
materialista da História, em oposição declarada e bem resolvida às teses idealistas
hegeliana, foi de muita competência, o que lhe conferiu um imenso prestígio, mais que
merecido, junto ao movimento político trabalhador organizado, como um ideólogo
respeitado. Porém, fazer ciência política que oriente uma prática envolvendo poder,
paixões, e a nossa psique eivada de antolhos emocionais, interesses ocultos, vaidades e
personalismos, é outra muito diferente, e aí foi que ele escorregou...E nós caímos. Mas
na verdade, cabe perguntar, como, em que medida, um pensador completo, genial,
filósofo versado em ciência Histórica, Política e Econômica; rigoroso, disciplinado,
detalhista como ele com toda justiça, pôde crer que quando no capitalismo de sua época,
ainda engatinhando, pudessem as forças produtivas nele criada estarem desenvolvidas e
amadurecidas, até então, ali, na sua Europa querida do século XIX, a ponto de entrarem
já em contradição direta, de alguma maneira - E qual? com as relações de produção
(patrão x operário, propriedade privada x expropriação do trabalho) naquele agitado
período inicial do capitalismo, ainda na sua infância? Se somente hoje, um século e um
quarto de anos depois, com a obtenção, ainda que engatinhando, da tecnologia digital de
computação, podemos apenas vislumbrar, como uma luz no fim do túnel, pela segunda
vez na História o aparecimento da famosa contradição entre o desenvolvimento de novas
forças produtivas com as relações sociais de produção paralisante do processo de
desenvolvimento histórico-social, entrar em ação, para finalmente, propor e dispor da
desconstrução do capitalismo, como se deu, ainda ontem, com o feudalismo.

91
Um aristocrata de nascimento, financiado e apadrinhado por um herdeiro de um
capitalista, Engels; fazendo arroubos de política operária, tinha que dar mesmo nisso.
Oh! Pobre de nós! Na continuidade do conturbado processo de violentas lutas sociais, o
capitalismo viria a desenvolver formidavelmente enormes forças produtivas, hoje
chamadas de Tecnologia, com uma eficiência notável, nunca visto antes, como hoje,
olhando pelo retrovisor, sabemos. Pobre Marx! Ao mesmo tempo tão grande e, ao
mesmo tempo tão pequeno; não entendeu sua própria obra teórica. Mas a sua confusão
foi simples. Com a constituição de uma massiva classe operária reunida nos locais de
trabalho, com política e interesses próprios, antagônicos aos dos patrões graças às
relações jurídico-social de propriedade do capital imobilizado, tomar-lhes os meios de
produção parecia tarefa fácil. Tomar-lhe o poder das mãos também. E seria, não fácil,
porém seria possível, se a estratégia política implementada fosse outra, de longo prazo,
pelo avanço lento e diuturno da organização político-sindical dos trabalhadores, pela
educação política no incentivo à sua participação nas lutas sociais reivindicativas, em
suma, educação política com respeito às decisões tomadas democraticamente em
assembléias gerais. Sem personalismos imediatistas e sem precipitação, como foi
justamente o que depois veio a acontecer com a destemperada proposta de assalto
relâmpago ao poder. Uma estratégia de longo prazo, vencendo etapas uma a uma,
conquistando posições, fazendo crescer a confiança da população da competência e
justeza das suas proposta, propor tarefas de divisão do poder político e econômico com
os patrões, aprofundar a democracia política e econômica seria melhor compreendida e
mais factível; e hoje teríamos ganho infinitamente mais terreno. Com a precipitação, deu
no deu; fiasco. Por isso as tarefas estão simplesmente todas ainda por fazer, só que
enormemente atrasadas. E isso não é pouco. Pois é ‘seu’ Karlinho, ficou muito esquisito,
e por culpa tua mesmo, mesmo. Menino levado!
Ele quer por um fim a cinco mil anos de usurpação e ressentimentos; seu próprio
desejo e das massas populares desse tempo difícil de vacas magras, muito justamente
por sinal. Mas como “Jamais aparecem novas e melhores relações de produção antes que
as condições materiais para a sua existência tenham amadurecido no seio da própria
sociedade antiga”, então nada feito. Nada feito antes que um novo avanço das forças
produtivas geradas no ventre da sociedade atual se choque com os marcos jurídicos de
propriedade presentes, desse cansado capitalismo; e possibilite o seu desmonte,
abolindo-se o direito de propriedade individual dos meios de produção. O “xis” da
questão no problema desse desenvolvimento civilizatório rumo ao abismo,
principalmente no que se refere a problemas graves como o crime, a corrupção, a
violência, e o desmanche ambiental. Nada feito antes do marco jurídico do direito de
propriedade atual se tornar ultrapassado por passar a atuar como uma trava, freio, do
desenvolvimento pleno das novas forças tecnológicas produtivas, que hora despontam
no horizonte azul em direção ao porto da vida futura; qual a luz matinal que chega na
terra antes do Sol aparecer no horizonte.

92
O “macho” acertou na mosca na sua análise social-histórica; como uma roda que
precisa de um chão para fazer sentido dinâmico, as relações sociais de produção fazem
sentido por sustentarem materialmente a reprodução da nossa existência, e como temos
nosso processo evolutivo em aberto, histórico conceitual, essas relações obedecerão,
sempre, as condições materiais históricas - o terreno - do momento em manifestação,
principalmente. Parabéns! Mas errou infantilmente com a sua idiota proposição política,
elitista e fascista da ditadura do proletariado. Vida longa para Kaultski! Este alemão
também, contemporâneo à revolução russa, que mais tarde viu o erro, tentou corrigi-lo,
mas não foi ouvido. Foi acusado de traidor, revisionista, pelos marxistas-
fundamentalistas, “no bom estilo” das igrejas idólatras fanáticas em defesa do ícone
máximo, o São Marx. Este chegou a afirmar certa vez, por isso mesmo, não ser marxista;
bonita atitude e falsa modéstia; mas não adiantou nada. A Inglaterra, no tempo de Marx,
era a vanguarda do desenvolvimento tecno-industrial, com isso ele pode apreciar a
máquina movida a vapor em funcionamento. Veja, a primeira vez na história da cultura
humana que se pôs em funcionamento eficientemente à geração de energia pela queima
de combustível fóssil, o carvão; através de um mecanismo complexo. Até então a única
forma de energia disponível utilizada era natural, o vento, a força da água corrente e a
animal, inclusive, e principalmente, a nossa, quer dizer, dos trabalhadores, os ‘burros de
carga’. Somente um século depois, já no século XX, seria desenvolvido novos sistemas
de geração de energia; a elétrica e a gerada pelos motores de combustão interna movida
a combustível fóssil derivado do petróleo. Este último já apontando a sua substituição
pela célula combustível de hidrogênio; dado ao seu eminente esgotamento físico, e que
já ameaça asfixiar a expansão do sistema social de produção vigente; além do
esgotamento ambiental pelo fato de ameaçar a própria continuidade da vida e da cultura
organizada ao produzir o aquecimento da atmosfera e o caos climático. Une loucure,
monsieur! Se Marx estivesse vivo para ver...

93
O capitalismo segue sua pisada, o movimento socialista bota a cabeça do lado de
fora na hora errada e de forma equivocada, ou de maneira inadequada e... vupt, saco. E
não aparecerá de novo, antes que amadureçam no seio do próprio capitalismo aquelas
condições materiais próprias que forcem a substituição dessas relações atuais por outra
forma apropriada que hoje apontam na direção política do Anarquismo, com a abolição
da propriedade privada e do Estado, ao dar prosseguimento ao giro da roda que move o
desenvolvimento social, à roda da História, que hoje apontam no horizonte das novas
tecnologias digitais e as que delas ainda estão por vir, e na redução até o desmonte total
de um Estado centralizador, caro e obsoleto. Marx, ao propor a luta política pela criação
de um Estado proletário, errou. Esse erro teórico no campo da estratégia política tentava
querer isolar os anarquista. Conseguiu, mas a que custo; e hoje esta corrente de
pensamento começa a dar uma forma melhor a discussão e compreensão sobre o rumo
das transformações sociais; como encaminhar a questão do poder e do Estado nas
sociedades do futuro e qual a sua tendência. Enquanto o Socialismo, hoje, enquanto
regime político, perdeu totalmente a consistência e apelo de futuro. A questão teórica em
Marx, a análise social histórica correta e tendo o apoio relativo à filosofia e a teoria
econômica, também muito bem focados e pertinentes, teve, porém, no ponto de vista da
política, a práxis, se tornado um verdadeiro fiasco incontornável, e isso visto do ponto de
vista da sua própria teoria, como uma contradição interna de suas próprias idéias,
quando diz que os homens atam relações de produção independentes da sua vontade, o
que é, obviamente, uma referência a questão de política de poder e as correlações de
força; e trata de mecanismos entrando em ação somente quando, no interior de dada
formação social, tivessem plenamente desenvolvidas todas as suas forças produtivas,
cuja seqüência do seu progresso sendo bloqueada é que estes entram em ação, em
atividade; decorrente ao choque com a estrutura social jurídicas vigentes e as relações
de propriedade, exigindo sua dissolução. Um fiasco de uma infantilidade de arroubos
românticos heróicos voluntarista que ainda estão a ser avaliada a extensão do seu estrago
no seio do imaginário da luta dos trabalhadores, ainda voltados a crença de que suas
lideranças, no passado, não erraram. A que atribuir o peso da derrota? Houve, ou não
houve uma derrota? As lideranças políticas da corrente marxista do presente querem
levantar um véu espesso sobre essa questão muito importante, deverás importante. E o
que é pior recusam-se a se autocriticarem; um circo sem trapezistas e domadores, só com
palhaços. O conceito de crítica deverá, na teoria da História, superar o conceito de
revolução, um problema na tese marxista do materialismo-histórico. Não é possível que
depois do fracassada experiência da revolução socialista no século XX não sirva de
nenhuma lição para as lideranças políticas dos trabalhadores no mundo. E assim quando
da passagem do feudalismo para o capitalismo foi feita a crítica do feudalismo; sendo
este criticado pelo capitalismo. Já o feudalismo não foi uma verdadeira e completa
crítica ao escravismo; foi mais um atenuamento das condições de exploração, uma
evolução de pontos, um em relação ao outro, um sub-título. O escravismo começou o
processo que estamos vivendo hoje, pelo tipo de sociedade dividida em classes
separadas, hierarquizadas. Um dia desses, lá pela virada do séc. XXI o capitalismo será
também criticado por outra forma que solucione de vez por todas o conflito e a divisão
dos homens em campos opostos, algo que deverá se aproximar bastante das teses
anarquista, como: revogação do Estado e todas as suas formas de instituições; da
propriedade privada; de qualquer tipo de hierarquia, onde não há chefes, cada um sendo
chefe de si mesmo. Onde não elite, todo mundo é a mesma coisa, sem distinções

94
especiais, ou qualquer distinção por função social; todos unidos por fortes laços de
solidariedade e afetuosidade social, quando será lícito e seguro, gostar. Pouco se fala da
presença do anarquismo no movimento político histórico social; ele representa a crítica e
superação, porque compreender uma que solução melhor para o problema do despotismo
no socialismo. No jargão popular anarquia virou sinônimo de bagunça, desorganização.
Interessante isso! O que é uma contrafação, um cabresto ideológico semântico colocado
pela ideologia do poder dominante, e apoiado pela corrente marxista histórica. A
Anarquia é a mais perfeita ordem, somente experimentada socialmente na História, no
período neolítico, com as aldeias agrícola-comunitárias. Sendo esta uma experiência
onde a sociedade não é só o lugar do econômico-material, da riqueza quantitativa, mas
uma experiência integral com o exterior social em sintonia com o interior físico-
emocional que vem de dentro de cada um, em sentido horizontal e pleno. O homem se
propondo a viver uma sociedade sem contradições com a vida e suas determinações
naturais biológicas. O amor pode ser somente uma palavra, um símbolo sem
correspondência com a realidade; a não ser que um dia, levantada as barreiras sociais do
medo e da violência, sem a impostação ideológica religiosa de um amor sublime, de um
ser divino, porém imaginário, nos seja permitido amar sem medo de amar, naturalmente,
nem esperar recompensas por isso, quaisquer que sejam.
Então vamos atrás de recuperar e limpar o terreno de lutas aproveitando no
marxismo o que ele tem de melhor, e .... abandonar o resto. Como já foi dito o
mecanismo histórico de mudanças no movimento social, vinculado ao desenvolvimento
do progresso material, a base e o objetivo de qualquer sociedade, em qualquer tempo, foi
bem exposto pelo método materialista-histórico. Nascendo da contradição entre novas
técnicas e as relações sociais existentes, devem revolucionar o edifício social para que
possam continuar a se desenvolverem. E com isso se transformem em novas bases, em
novo alicerce sobre o qual será reconstruído novas e modificadas instituições sociais;
que irá funcionar de forma a dar espaço para o novo se consolidar na base produtiva em
um nova síntese histórico melhor bem sucedida que a anterior. Essa é uma lei de
compreensão da História da maior importância; tributo de Marx a humanidade. Aqui é
importante também destacar o novo rumo tomado no pensamento da humanidade dado a
importância também, da teoria da evolução na História Natural, de Darwin, como sendo
estas duas os picos mais altos do pensamento teórico humano no seu processo de
desenvolvimento e auto-entendimento histórico. As lutas sociais entre as classes que
reportam a instância política do poder, que hoje se resolvem com a presença do Estado
com seus instrumentos de repressão e dissuasão a serviço do que é estabelecido pelo
sistema, ainda precisam ser melhor interpretadas, retirando delas os juízos de valores
que não consideram que as relações de força que hoje estão contra os trabalhadores, por
diversas maneiras, amanhã estarão a favor; exigindo dos trabalhadores estratégias de
médio e longo prazo, sem pressa e sem vaidades, sem arrogâncias e com muita
disposição de sacrifícios; agora não mais para tomar o poder, e sim, para desmontar as
estruturas de poder. Um exemplo disso hoje é, portanto, considerar o neoliberalismo
como um aliado dos trabalhadores, do ponto de vista das linhas estratégicas mais
amplas, por propor a diminuição do Estado. Esse é o rumo a ser tomado no processo de
luta pelas mudanças nessa fase do atual desenvolvimento histórico exige muita
determinação e muita paciênc

95
O futuro é o anarquismo, na forma da abolição do Estado e o desmonte dos seus
instrumentos caros e ineficientes. Como fazer a ponte para as concepções materialista-
históricas, essas sim, a melhor contribuição de Marx para história do pensamento social
de todos os tempos, para o anarquismo. Essa é a tarefa teórica do momento das lutas
sociais dos trabalhadores do nosso tempo; momento esse que passa por uma nova,
profunda e de grande amplitude revolução científico-tecnológica digital de
comunicações, serviços e produção industrial. O futuro econômico-material da
humanidade começou a acontecer nos nossos dias. Precisávamos fazer a devida leitura
política da atualidade que passa pela união e combinação entre essas duas formas de
pensamento. Criticar e superar os erros do passado, e tocar pra frente; unindo
materialismo-histórico, sem a proposição política equivocada da ditadura do proletariado
com o anarquismo, que corretamente propõe a política de desmonte do Estado e de toda
e qualquer forma de manifestação de poder hierárquico, econômico político social, sem
ter que passar por uma fase autoritária, para só depois, mais à frente, num dia trinta de
fevereiro, passar a fase da demolição do Estado, como propôs Marx, o grande ditador.
Bem vindo, portanto, as novas tecnologias que brindarão finalmente, as condições para a
solução final desta formação social que irá terminar de se desenvolver, e por fim acabar;
acabando junto com ela o antagonismo social e a pré-história da sociedade humana.
Utilizando-se esse vigoroso método de análise do desenvolvimento das condições
materiais de existência, verificamos que ele se aplica quase totalmente bem somente ao
período de transição do feudalismo para o capitalismo, e que nas passagens anteriores
ele não se aplica sequer porque não havia ainda aparecido às condições para que o
mecanismo de superação de crise gerada entre condições materiais técnicas de produção
(forças produtivas) e as relações sociais entrassem em ação. Na primeira e a segunda
passagem, das relações comunal-solidárias ao escravismo; e do escravismo ao
feudalismo; e muito menos ainda da passagem da vida nômade para a sedentária. Agora
quanto à transição deste regime atual, em andamento, do capitalismo
ao....................anarquismo, o método é eficaz e o mecanismo entra em ação explicando
os desdobramentos do processo. Veja bem, com isso o que essa afirmação quer dizer é
que: conhecido os fundamentos da ação social e o seu mecanismo de ação, permite-se
prever o rumo dos acontecimentos em suas linhas mestras. Trata-se, assim, de fazer
Ciência com o seu objeto em movimento, e onde sujeito e objeto confundem-se ao
máximo e, então, discernindo as aparências, apontar para o quê, verdadeira e
objetivamente, o faz mover, e como, e no caso presente, prever para onde, em qual
direção, em qual sentido. Um método que englobe a compreensão do desenvolvimento
de toda História passada, presente e futura, por certo, não existe, nem nunca existirá;
ninguém pretende afirmar tal coisa. É possível prever que uma linda mulher e suas belas
pernas um dia se torne uma anciã, sem qualquer resquícios de toda aquela beleza; mas
prever o que vai ocorrer daqui a vinte mil anos com a vida em sociedade, isso não se
pode.

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O problema do movimento ecológico atual é um problema de foco político; por
se recusar apontar, ou sequer realmente perceber, a relação direta existente entre o atual
sistema de produção baseado na ganância, no antagonismo social e daí na espoliação da
natureza, já dando esta os sinais da sua reação pelas dificuldades causadas dado a
atitude da nossa presença ostensivamente desrespeitosa. Conseqüência direta de um
sistema de ganância e de um número absurdo de bocas à alimentar e de desejos à
contentar no mercado das vaidades tolas, infantis, pueris e principalmente
desnecessárias; em relação inversa com a capacidade que o habitat natural tem para
poder suportar tanta pressão; frente a uma situação de população desequilibrada em
número e em perspectiva, senão psicologicamente também, não o permitindo regenerar-
se naturalmente da nossa tão opressiva presença.
Argumentando-se a favor, buscando-se uma visão conciliatória com esse muito
esquisito e longo período histórico formado entre antagonistas e conflituosas relações
sociais de produção e consumo, e o relacionarmos a algo de alguma maneira nobre,
poderíamos propor a tese de que ele representou o movimento de dar passos atrás, tomar
impulso e saltar por sobre a penúria de trabalho árduo, repetitivo e monótono, para o
qual não somos adaptados, e dele se libertar, com a tecnologia digital embarcada no
processo produtivo com a criação do escravo eletro-mecânico digital, o robô. O processo
ruim, antagonizador, começou de uma coisa que era boa, o cultivo agrícola; algo inédito
de grande eficácia na superação da insuficiência alimentar, mas que, por causa disso,
trouxe, na seqüência, um aumento dramático da população deteriorando, assim,
paulatinamente a relação homem/espaço e desestabilizando as relações harmônicas de
produção sem propriedade, cada vez mais, até seu completo desaparecimento; sendo
então, substituído pelo regime de produção antagonista, baseado na propriedade dos
meios de produção que dura até os dias de hoje; e que está agora frente a uma volta do
tempo que vai nos exigir uma profunda reflexão no sentido da questão fundamental de
todo processo: Para onde?

97
A técnica do cultivo do fogo e depois, a do cultivo da terra, principalmente esta
última, foi o que acabou de consolidar realmente a presença do homem como espécie
taxonômica sobre a Terra, dando-lhe independência de movimentos e sobra de tempo
útil para dedicar-se a outras atividades que não as diretamente relacionadas á procura
imediata de alimento, mas a buscar técnicas facilitadoras da vida, como a fiação de
tecidos, a olaria, a metalurgia; o que, mais adiante, com a acumulação de riqueza em
poucas mãos, e as exigências trazidas pela sua administração, trouxe-nos a matemática
para a contabilidade, e a linguagem escrita para organização das tarefas de governo.
Começa a dar-se início ao período dito civilizado e a obtenção de conhecimentos sobre a
natureza da vida e do seu suporte a Terra, originando os primeiros passos de uma visão
científica capaz de nos tirar do mundo das fantasias supersticiosas e das teorias
preconceituosa quanto a nossa origem e quanto ao significado real da vida em sociedade.
Passados dez milênios, desde o início da revolução agrícola-comunal-sedentária, uma
nova revolução técnica, uma nova força produtiva, no século XVII d/mito/c, toma o
acento no volante da História Moderna; trata-se da conhecida revolução industrial, que
nos trouxe a etapa da divisão do trabalho feito em fases diferenciadas, com cada
trabalhador realizando sempre a mesma tarefa – Tempos Modernos de Chaplin – feita
numa esteira em ambientes fechados, organizados em setores distintos; acelerando em
muito o ritmo da produtividade, ao mesmo tempo barateando os custos ao aumentar da
produção geral e a de cada um dos trabalhadores com a produção de mercadorias em
série. Por ter dado muito certo, do ponto de vista da produção e da geração de
excedentes, uma nova explosão demográfica ocorre, crescendo dez vezes, mil por cento,
somente nos últimos três séculos passados, pulando de seiscentos milhões para seis
bilhões de pessoas.
No primeiro período desde o início da civilização até o séc. XVII d/mito/c,
homens era feito máquinas, manejados por outros homens, seus senhores ou
proprietários de fato, por meio da coerção física. No segundo período, o atual, máquinas
mecânicas movidas a combustível fóssil são construídas e colocadas a funcionar; vindo a
liberar os homens do domínio direto de outros homens, mas, ficando mantido o domínio
de modo indireto atravéz do controle dos meios de produção em poucas mãos. No atual
modelo de mercado de força de trabalho o domínio se concretiza através da apropriação
da máquina, isto é, do sistema material de produção. No primeiro período o poder era
dado pela propriedade da terra e dos escravos que a manejavam. Hoje, no segundo
período, o poder econômico-político e social é passado pela propriedade particular das
máquinas-ferramenta, os meios de produção, pela posse das quais os seus proprietários
atuais realizam suas riquezas. Elas agora são manejadas por homens-mercadoria a
serviço daqueles que “os alugam”, os alienam num mercado de força de trabalho;
fazendo-as funcionar como peças vivas da máquina, e em troca disso, com o único
propósito de somente recebem em troca um pagamento de valor muito menor do que
aquele por eles produzidos; um valor que unicamente os permite repor sua força física e
assim manter a máquina em funcionamento. E gerar descendentes; futuros trabalhadores
que irão substituí-los e integrar o mercado como seu pai, quando estiverem crescidos,
permanentemente, ou não, dependendo de se capitalizarem de alguma maneira, de forma
legal ou não. Isso abre espaço para a mobilidade social, e para o crime bem sucedido; o
que foi um grande avanço em relação às condições anteriores.

98
Houve mesmo, algum dia, alguma vez, uma revolução, como dizia Marx, real,
cheia, em todas as ordens sociais? Veja-se que a única que poderia ser citada seria a
Revolução Francesa, de l789. Ali houve realmente uma revolução econômica, política, e
ideológica, mas nos fundamentos jurídicos da economia política, não; isso não
aconteceu. Embora as modificações na forma e conteúdo tenham produzido profundos
resultados na capacidade produtiva da sociedade, em essência manteve-se a
característica principal do regime histórico anterior; a exploração do trabalho, via
trabalho não pago, pela manutenção da instituição da propriedade privada dos meios de
produção, e, por extensão, da permanência de relações de produção antagônicas entre
empregadores e empregados. Durante um longo período de doze mil anos foi a
agricultura, o principal meio de produção existente. Desde as aldeias comunal-solidárias,
auto-suficientes; passando pelo período das civilizações antigas, escravistas, mercantis;
desde quando pela primeira vez, suas elites guerreiras obsequiadas pelo poder
apropriaram-se da posse da terra pelo argumento da força se organizaram em torno de
um aparato de Estado; que nessa época, com a metalurgia já éramos capazes de armar
um exército com espadas, escudos, e muitos outros itens, e daí, regada a pancadaria,
chegamos até a Revolução Econômica-Industrial inglesa, e a Revolução Social Francesa,
quando começa atuar um novo mecanismo de produção, com uma força de técnica
complexa, de caráter urbano-predial e que logo veio tomar o assento principal no bonde
da civilização produtiva. Tudo mudado, mas no principal, tudo mantido; a mesma coisa
de sempre, no principal. Como que querendo dizer, fazendo mudanças pra tudo
continuar a mesma coisa, a ser do mesmo jeito.

99
A base material de produção de mercadorias em série, em grande quantidade
funcionou bem, preencheram lacunas consideráveis; precisava-se agora urgentemente,
de quem as comprasse. Precisava-se acabar com as antigas e atrasadas relações de
produção servis; liberar os servos para torná-los camponeses assalariados com algum
poder de compra; criando um proletariado rural, reproduzindo no campo, como os
operários nas cidades, as mesmas relações patrão x empregado, com as mesmas
prerrogativas, recebimento de salários e os mesmos deveres perante aos seus novos
senhores, de também, claro, de se deixarem explorar. Ao passarem-nas para o campo
desmantelou-se a odiosa nobreza, não que a pessoa do nobre, particularmente fosse
odiosa, em muitos casos é certo e possível que fosse, mas a sua condição social de classe
institucional, sim, sem dúvida, era permanente odiosa; e isso foi bem feito e certo, claro;
mas e agora? Como ficariam as grandes questões? As questões jurídico-político sociais?
Com a implantação da democracia representativa deu-se um gigantesco salto qualitativo
na história do poder político, abrindo espaço para os oprimidos se manifestarem e eleger
seus representantes para exigirem seus direitos civis por melhor participação na
distribuição da riqueza, e de exigir garantia dos direitos de representação política na luta
pelos seus interesses de classe e isto pela primeira vez na história da nossa vida em
sociedade desde muito organizada por um poder centralizado, instituído em Estado. A
democracia grega antiga não conta por ter sido elitizada demais e escravista, ainda que
tenha sido um avant-premiére, uma espécie de ensaio. Juridicamente, porém, apesar de
ter mudado muita coisa, não mudou, ainda, o essencial. Manteve-se o eixo central do
sistema tradicional de exploração do trabalho, a questão do direito de propriedade. Com
toda certeza isso nos permite afirmar quanto ao que interessa, quanto a apropriação da
riqueza, quanto ao conteúdo, que a elite somente trocou de roupa e estilo, largou a
ridícula peruca, sapatos de salto altos e o pó de arroz; e saiu por aí se rebolando com
discrição e sobriedade, rigor e disciplina, em um despojado terno e gravata. Porém não
largou os hábitos antigos da elite anterior, como a excessiva avidez e a avara ganância de
entesourar riquezas; no que, por sinal, tem demonstrado mais competência que os
nobres. - Fala esperto! Fala Tio Patinhas! -Você me causa inveja - Mas nem tudo se
perdeu, houve na área econômica um importante deslocamento de eixo pelo qual a
prática da exploração agora irá funcionar em outras bases. Isso porque, então, teria que
haver uma interação maior entre os agentes nas relações sociais produtivas, que
dependia da melhora nas condições aquisitiva dos trabalhadores para o sistema funcionar
a contento, a toda velocidade. E eis que, com isso aparece o mercado consumidor de
mercadorias; com os preços regidos por lei do próprio mercado, a lei da procura e da
oferta; o que dá condições aos capitalistas formarem cartéis e manipularem os preços
artificialmente através do controle da oferta; exigindo assim modelos de regulamentação
legal e fiscalização permanente, e maior aumento da máquina estatal. Realmente houve
um salto quanto ao aspecto numérico-quantitativo do volume de bens materiais
disponíveis, mas nenhum salto quanto ao aspecto qualitativo das relações sociais -
humanas? - de produção. Logo esse desenvolvimento do crescimento econômico de
patrimônio individual exacerbou o processo de formação das nações; provocando uma
sanguinolenta pancadaria nacionalista generalizada como nunca havia sido visto antes.
Isso porque estava em jogo agora um inédito volume de negócios, muito dinheiro, rios
de dinheiro, e de sangue. Afinal, pra quê tanta gente sobrando? Reedita-se o que já havia
sido escrito no período escravista com o fluxo de sangue jorrando como torrente;
violência enorme como um reflexo do aumento descontrolado do contingente humano

100
produzido pela nova revolução técnica. O sangue é o fertilizante da nossa cultura de
riqueza e vaidades, desde os tempos antigos e permanece atual.

101
O barco furado da revolução socialista soviética, da ditadura do proletariado,
prematuramente, fez-se ao mar. Mas logo, logo fez água e afundou no agitado mar
capitalista. Agora, na atualidade, o sistema capitalista previsivelmente caminha para a
sua fase de declínio que vai ainda demorar um pouco. Quanto? A vida tem três bilhões e
meio de anos; os vertebrados, quinhentos milhões; os mamíferos, cem; os primatas,
trinta; os hominídeos, sete; os homo sapiens sapiens, cento e cinqüenta mil anos; a
agricultura, doze, o escravismo de todos os matizes e graus de intensidade, cinco mil. O
semiescravista capitalismo, por último, tem somente trezentos aninhos; pouco não?
Comparativamente, ao menos, sim. Paciência, gente! Parece-nos conveniente apostar em
um prazo como algo entre mais outros cento e cinqüenta a duzentos anos, porém, antes
disso já teremos alcançado até lá avanços econômicos distributivos muito mais
abrangentes; razoável, moçada. Podendo ser ainda menos, mas antes de qualquer coisa
lembremos sempre dos erros avaliativos das lideranças político-operárias do nosso
passado recente, que nos legou um mundo de regime bipolar pronto a explodir tudo
pelos ares. A paciência associada à ação está no ar. Na verdade o processo de mudanças
já está em curso, mas o bebê é ainda de colo mamando no peito do futuro, somente
espera ganhar corpo para aprender a engatinhar, e a questão principal é que: o seu
amadurecimento compreende a implementação de uma sociedade inteiramente
digitalizada, uma fase linda, libertadora, prenhe em possibilidades revolucionárias
profundas, do fundo do ser, do nosso eu profundo, não do eu social. Com certeza, quanto
tempo ainda durará a permanência da ignominiosa elite exploradora do trabalho alheio,
dependerá, mais que tudo, da correta interpretação dos tempos que estão por vir. Vindo
dos trabalhadores e sua classe e até mesmo pela classe dirigente, quando olhando pra
frente por não vêem futuro com suas práticas político-econõmico atuais entenderão
também a necessidade de mudar. E pena que os trabalhadores e suas lideranças parecem
não ter ainda entendido bem o que essas novas tecnologias virá poder nos trazer e já se
sentem ameaçada, precipitadamente, de perder a ocupação laboral pela difusão da nova
força produtiva, a tecnologia digital embarcada no processo produtivo, dado a
desorganização do setor produtivo para posterior organização em novas bases, em novo
patamar, e não viu que com isso elas poderão abrir-lhes as portas mais inusitadas na
solução do conflito de classes; porque com elas em vigor, a classe patrimonialista
empresarial não tem futuro. Assim como na época do aparecimento das máquinas
industriais que no princípio desorganizou o setor manufatureiro, prejudicando a renda
dos trabalhadores artesanais, mas que, no entanto, pelo contrário, na seqüência elas
fizeram crescer o mercado de trabalho por baratear os preços e fortalecer o mercado de
circulação de mercadorias; a mesma coisa sucede hoje com a tecnologia digital, que
segundo parece, viria retirar a força de trabalho dos locais produtivo e aumentar o
desemprego. Num primeiro momento sim, é o que está acontecendo, mas na seqüência,
pelo contrário, haverá um interessante desenvolvimento qualitativo da utilização da
força de trabalho nos setores técnicos conceituais da sua elaboração e manutenção no
corredor produtivo eletrônico completamente automatizado. Hoje uma nova e mais
completa como uma segunda revolução industrial com máquinas que pensam as ações,
para elas, planejadas por nós, acabou de nascer. É um momento confuso, gera
insegurança; no primeiro momento do seu aparecimento precisa-se desarrumar tudo, até
novas formar de arrumar a família deverão aparecer, - as mulheres não gostam, e daí?
Para reconstruir de novo em base melhor, precisa-se desarrumar, desmontar, descontruir,
mudar, abandonar as atitudes conservadora, igual como foi no começo do capitalismo. É

102
o momento da apreensão, loucura, sofrimento, violência e dor; como é a dor do parto de
um novo ciclo histórico que deverá durar muitos milênios, se houver futuro. Uma coisa é
certa, ou ela nos remete a uma sociedade harmônica, resolvida e estável; ou nos leva
direto ao escravismo perene, absoluto e irretorquível, por manipulação genética no estilo
“Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley. Estamos na encruzilhada, mas sabemos o
caminho a seguir. Agora, mais que nunca precisamos de inteligência e coragem para
decidir pela direção certa: a do paraíso na Terra; a da liberdade, base no sentido da
apreensão social da consciente auto-responsabilidade soberana, como que dizendo que
cada um somente é chefe de si mesmo, sem necessidade de ninguém dizendo pra ele o
que fazer, e não fazer... Ou o da escravidão definitiva, perene, o que representaria a
eternização da elite, via manipulação genética dos homo sapiens sapiens; modificados
geneticamente, impedidos de terem senso crítico e propenso a obedecerem, como só
sabem fazer, os cães. E os ‘bofes estão ligados’ e o que eles querem é isso, uma chance,
uma só que seja e não a perderão. E agora hoje, tudo o que eles estão procurando é uma
saída. Uma saída normal é como a daquele que entra, mas um dia tem que sair; faz
hora, menos hora. Oquêi bóis? Podem sair! Dolly, Dolly, Dollyyyyyyyy!!!!!!!!! Esses
caras só pensam em armas; e a dolly, a dolly... Porque o Vaticano não diz logo que é
contra as experiências genéticas também, isto é, experiências com a ‘’criação’’, que é o
eixo do seu balançado domínio conceitual, porque, entre outras coisas, não confia nos
“bofes’ que realmente mandam no mundo. Ta certo! Não dá pra confiar mesmo. Mas
como confiar que a ignorância seja um melhor remédio, enquanto as experiências
secretas correm soltas? Jogo sujo existe e, quem é quem nesse jogo tão moderno opaco
intransparente de quadrilhas globais interessadas em busca única e exclusiva de riqueza
e poder? Quem? Eis um espaço a ocupar, o da dignidade aliado à inteligência, antiga e
lúcida inteligência intuitiva e usá-la na interpretação correta do sentido de percurso da
nossa história. Vamos devagar, mas vamos! Na direção certa, não na errada. Esses
‘caras’ só pensam em armas, isto é, poder, e a maior arma é a ciência , tanto para
oprimir, quanto para libertar.

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Há pontes, canais e saídas. Se me permitem viajar para quando alguns homens
atingiram as regiões frias, periodicamente cobertas de gelo, e lá adquirem hábitos e cor
de pele diferente, despigmentada, no ‘úrtimo’ por causa do frio e pouco sol. Sim, sim,
era preciso, imperioso, estocar algo de alimento e lenha para ajudar passar o inverno e
resistir ao período longo de privação forçada. O relógio do tempo cíclico gerou nesses
homens brancos de olhos azuis, uma frieza igual para encarar os fatos da vida com
bastante cuidado, atenção e objetividade; porque sua vida dependia de prever, antecipar
acontecimentos rígidos e estarem preparados para resistir-lhe. Num inverno gelado, um
lar aquecido e abastecido permitia-lhe refletir profundamente sobre o que foi, o que é, e
o que será; e como aproveitar melhor cada situação e dela tirar o melhor proveito. Eles
são os anglo-saxões atuais, com a sua inteligência conceitual aguda, como um raio de
luz fria. Os negros dos trópicos e os morenos das adjacência nunca tiveram a
necessidade desse refúgio meditativo forçado, como uma clausura de um monge. Já nos
trópicos, com o Sol constante a lhes açoitar o corpo, tendo em mente a certeza do
constante calor não viam, e ainda não vêem, tanto motivo para correr assim contra o
tempo para estocar e acumular tanta coisa. Preferem muito mais se estender a sombra, na
hora do sol forte, e agitar nas horas mais frescas. À noite é uma ótima; luar e estrelas,
suor, e acordar tarde; trabalho não é tão vital para ele como é pro outro, lá do norte
geladão; porque a natureza está ali constante, estendendo para ele a sua mão amiga,
confortadora. Essa é a diferença básica entre as diferentes etnias; ambiente e clima. Não
é à toa, nem por acaso que o capitalismo foi gerado por ali, no norte frio; e que hoje eles
estejam com as melhores posições no desenvolvimento da economia mundial.
Considere-se que os EUA, com certeza, é uma sociedade predominantemente anglo-
saxã, conservadora e cristã; e que o meu, o seu, o nosso capitalismo tem a “cara” do
homem frio, previsível, rígido, prudente, trabalhador, retirado, estudioso, individualista,
pedante, cheios de roupa e “cheios de si”. ! Vão se fuder! Fuck you!
Nunca antes aconteceu nada parecido com o que pode acontecer nesses tempos
que virão; quando pela primeira vez a elite patrimônio-senhorial terá, necessariamente,
que se associar aos infelizes lacaios até para que possa continuar ainda como elite, ainda
que, - ai, meu deus! - um pouco menos; e cada vez menos, devagar e sempre, menos e
por fim, desapareça. - mas devagar gente, que o bonde está pesado e a ladeira é alta.

104
A verdadeira, a primeira e última revolução, da qual ainda não se pode descrevê-
la porque nunca se viu; todas as outras anteriores foram como que um ensaios para
preparar a sua estréia. Ela já pode ser vislumbradas no horizonte material do acelerado
desenvolvimento das novas tecnologias, das novas forças produtivas, que estão se
gestando lenta e silenciosamente no seio do regime capitalista vigente. A construção,
através da revolucionaria tecnologia digital, de máquinas que aprendem (inteligência
artificial) automatizarão completamente o processo de produção, e, por extensão, toda a
estrutura produtiva a nível mundial; retirando progressivamente, conseqüentemente, a
força muscular humana de todo processo produtivo mecânico e de serviços, - e para
onde será canalizada tanta energia excedente? Com isso, paulatinamente pondo fim a
uma infinidade de profissões maquinais sem sentido; provocando extraordinários
rearranjos de ocupação laboral no controle e concepção do sistema eletrônico; onde nem
o céu é o limite, barreiras irão sendo quebradas, muros sendo derrubados, uma a uma,
um a um; enquanto que por esse tempo, o choque dessa nova força produtiva com as
atuais relações de produção baseada no “confisco”, (Leia-se: capital) empurrará o
capitalismo para fora do palco. Pois que esse sistema produtivo não pode existir sem que
os empresários obtenham trabalho gratuito, “mais valia” (mais valia o meu trabalho) dos
trabalhadores; e, não lhes será possível obterem-na das máquinas robôs, porque elas não
consomem os “seus” produtos no mercado. -Então ‘ferrou’, cara. Perdeu! - Nem
poderão, muito menos, impedir sua total implementação; não poderão parar a roda da
História impedindo que essa nova tecnologia se desenvolva e embarque definitivamente
no bonde da História; vindo a tornar possível de realizar-se então o sonho lindo da
produção social, sem conflito na base material-econômica, até hoje postergado. E ainda
mais importante, sem a coisificação do trabalhador alienado em tarefas maquinais.
OIOIOIOIOIOIOIOIOIOIOIOIOIOIOIOIOIOIO, de dois neurônios, repetitivas e
odiosamente monótonas. Os empresários, vulgarmente chamados de empreendedores,
simplesmente, irão aos pouco empreendendo a sua saída de cena, desaparecendo,
esfumando-se ao vento, sem assalto ao poder, sem solução de força. E ao mesmo tempo
junto com eles, em sintonia, virá a vez de desaparecerem os egos individuais; esse
produto histórico humano deletério dessa civilização antagonista, esquizo e burra. Já não
é sem tempo. Às favas senhores e senhoras!!
HOJE ! HOJE ! HOJE !
A ditadura do proletariado, a maior besteira concebida por Marx, veio a legitimar
a ditadura dos patrões; tudo o que eles queriam. A democracia plena nunca interessou
muito aos patrões e quando eles puderam solapá-la, não pensaram duas vezes. Porque
pensariam?

105
Estavam certos. Confundir as coisas hoje, na área da política, é acreditar que o
fim do capitalismo é o fim da democracia. Culpa de quem, Sr. Marx? De quem, Sr.
Lênin? O sr. Marx, e seus discípulos não soube, mas ele foi o melhor amigo dos patrões.
Porque deu a eles o argumento que eles não tinham, para abocanharem largas fatias de
poder, que eles por si só, não teriam sequer ousado pensar em fazer. Está aí a bomba
atômica que não nos deixa mentir. A principal tarefa dos trabalhadores era política não
militar, da defesa incondicional democracia; organizados e preparados para reagir a
qualquer ataque à ela, paralisando a produção, principalmente. Conscientizados quanto a
sua trajetória histórica como movimento trabalhador explorado; preparado para ações de
longo prazo, com o devido cuidado, para exigir não somente o aprofundamento da
democracia política, mas, também, e principalmente, exigir democracia econômica e
maior acesso a educação pública e o que de melhor uma sociedade pode oferecer a todos
sem discriminação de classe. Em suma fazer valer a importância do trabalho na
constituição da sociedade histórica, e acabar com a sua posição dependente e subalterna
nas relações sociais antagônicas de produção econômica seriam tarefas factíveis que nos
teria permitido respeitando as correlações de força de momento ter hoje alcançado
melhores benefícios que os atuais, por certo. Mas que nada, o que vimos entrar em cena
foram ações imediatistas, arroubos românticos e heróicos típicos da época, com
lastimáveis conseqüências, deteriorando as condições de vida das futuras gerações ao
promover a reação violenta dos patrões, acuados sob ameaça de assalto ao poder
político-social do Estado patrimonialista. O romantismo, enquanto movimento um
político-sócio cultural do séc. XIX, explica-se pelo vácuo deixado pelo desprestígio e
derrubada da nobreza que eram tão tradicionais milenares, mas caíram. Mais rápido
cairiam os burgueses depois da sua ascensão ao poder.

106
Ainda não se trata de propor-se à união de toda a humanidade agora, como
querem os religiosos, quando ela não tem ainda as condições materiais necessárias já
bastante amadurecidas pela sociedade para a sua realização, ideologias são como um só
ovo frito, que não pode resolver nossas necessidades alimentares definitivamente. Mas,
tratar-se-ia aqui, sim, de nos propormos pela união internacional, global dos
trabalhadores, aqueles que querem, podem, devem, e, aliás, tem a obrigação de se
unirem para ajudar, e não atrapalharem interpretando o papel da política burguesa do
líder carismático, do ditador, - mas que política é essa ‘seu lula, com você não nem ali na
esquina comprar um picolé - pois, na preparação e construção da criação dessas novas
condições objetivas amadurecidas, propícias para que um novo salto qualitativo melhor
calculado possa ser dado amanhã e depois de amanhã, no bojo da terceira revolução
técnica da história humanidade, já em andamento. Sendo a primeira, a agricultura; a
segunda, as máquinas-ferramentas, e a terceira as máquinas que pensam. A chamada
esquerda, as lideranças política dos trabalhadores; lastimavelmente, seguindo a tradição
política marxista ortodoxa, tem sido incompetente, incoerente, infantil, despreparada,
sem a leitura crítica do seu próprio processo de formação histórico social, não
entendendo que as resposta são trazidas pelo trabalho e ações de longo prazo. Por isso é
imediatista, quer a revolução para ontem. Com isso, os iluminados ilusionistas, se
dividem em pequenas facções; se estilhaçam em vários blocos pequenos, pulverizam sua
força, e assim enfraquece sua posição frente aos patrões os quais unidos num bloco
monolítico, não recuam, pelo contrário, avançam na exploração, que é o que melhor eles
sabem fazer, e muito bem; ninguém pode negar. Assim, eivados de ego, lideranças
populares, sem visão de alcance, há não ser a do seu próprio umbigo, querem ainda
apresentar “serviço” no bom estilo do herói voluntarista; autoritários, arrongantes,
destemidos, como todo bom herói querem ser obedecidos, seguidos como oráculos,
cegamente; sem demora, sem discutir ou reclamar, introduzindo o jeito hierárquico de
comando tal e qual a de um quartel. Sem saber onde querem chegar, nem onde podem,
atiram pra tudo que é lado, no mais das vezes atingindo o próprio pé, o que chega ser
cômico; o que é isso, companheiro? E quem paga a “conta” acaba, como sempre
acontece, são aqueles que querem realmente fazer e ver acontecer algo de bom, isto é,
produtivo, que dê resultados factíveis, e querem ajudar para conseguirmos sair dessa
posição roubada atual, e acabam se desmotivando e desistindo de participar na
organização da luta. Se desmobilizam e se imobilizam, permitindo que os sindicatos se
tornem instrumento de corrupção agindo contra os próprios trabalhadores, ou escritórios
burocráticos em busca de visualidade para si, e nada mais. Necessariamente, devagar, de
forma processual, unidos pelos laços de fraternidade de classe, de condição social-
política devemos replantar a semente da transformação social em algo maduro e
duradouro, sustentável econômica, social e ecologicamente. E com muita paciência e
determinação cuidar pela sua germinação, crescimento, somente depois, quando da
frutificação, cuidar da futura colheita. É difícil a união dos trabalhadores porque no
âmago de cada um deles mora um patrão frustrado e triste da sua condição de classe,
lastimando a sorte e odiando a convivência com os seus iguais.E hoje, melhor assim, já
não há mais espaço para heróis, lideranças iluminadas, tipo ‘Che Guevara da vida, e
tantos outros, latino-americanos ou não; e muito menos ainda, há espaço para assaltos
relâmpago ao poder, convenhamos, passou. Enterremos os nossos mortos. Descansem
em paz, meninos; mas lamentemos em parte suas memórias, e critiquemo-los, em tempo,
por suas atitudes políticas atrapalhadas que nos causaram atrasos, estragos, e, por isso

107
mesmo, estamos aqui hoje ainda vivos mas, nessa situação difícil, atrasada, por culpa
principalmente dessas avaliações políticas voluntaristas, equivocadas, precipitadas dos
nossos heróis revolucionários. E a luta continua, luta política, pela organização política
dos trabalhadores com a exigência de participação nos lucros e gestão da compartilhada
da empresa, como queria Kaultski na Alemanha na década de trinta do século passado, e
que ainda hoje é atual. Aprende-se com os próprios erros; e errar é humano, persistir no
erro é burrice.
Diferentemente, os patrões, mais centrados em seus objetivos políticos de classe,
dão prova de maior competência política no uso de todos os meios em defesa dos
interesses. O que é até fácil de entender; eles que são as verdadeiras pessoas existentes
hoje; porque os outros, os trabalhadores, muitas vezes e em graus de intensidade
variável, frustrados e confusos são apenas mercadorias compradas, ao seu usufruto,
conforme a sua conveniência e necessidade de momento, e nada mais. E quando o
mercado de força de trabalho fica inflacionado, como o de hoje, jorrando força muscular
produtiva pelo ladrão da caixa d’água, fica ainda mais difícil de aceitar ser proletário. A
era da tecnologia digital encontra espaço para crescer dia a dia pela demanda, em
organizar melhor e mais rapidamente, de multidões e enxames simultâneos de tarefas,
pelo grande aumento populacional gerado nos séc. XIX e XX principalmente. Somente
poderão, os trabalhadores, reverter essa situação, levantando bem alto a bandeira de
união e solidariedade, acima de qualquer diferença religiosa, de etnia, ou qualquer outra
natureza, nos seus objetivos comuns; em síntese, em prol da melhoria das condições
gerais de vida para aqueles que sobre o seus ombros tem o peso da responsabilidade da
tarefa de construir, de fato, a vida em sociedade; e que sequer são inteiramente
reconhecidos como gente de verdade. A união e a solidariedade de classe é o fruto da
compreensão correta do sentido nobre da luta pelo desenvolvimento social humano;
entendido por todos que saibam ler naquilo que tem, o movimento social, de essencial: o
seu caráter mutante, plasmável em formas novas, mais afeitas ao sucesso da vida, em
curso livre para frente, aos saltos e ziquezaques.

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O movimento antiglobalização dos trabalhadores europeus é algo esquisito;
pode-se perceber que eles somente querem barrar a tendência de nivelação por baixo do
seu poder aquisitivo que está em curso com a globalização da economia pela entrada dos
asiáticos no mercado de força de trabalho que agora também se globaliza com o fim da
guerra fria. No passado recente, aconteceu que quando o capitalismo central, europeu e
americano vivia a dissensão leste-oeste, a chamada guerra fria, ele teve que adotar uma
política de vantagens sociais aos trabalhadores desses países, com o chamado
keynesianismo, com o Estado investidor nas áreas não competitivas, melhorando a infra-
estrutura social no intuito de calar nas hostes dos trabalhadores desses países os
sentimentos revolucionários perigosos e indesejáveis, pelo forte elemento
desorganizador do funcionamento da máquina capitalista, e ainda, passar a frente à idéia
da superioridade deste sistema em relação ao outro, o nascente socialismo
revolucionário marxista-leninista. Veio o desmantelamento do leste, e logo, logo, o
Keynesianismo perde força e o liberalismo econômico volta a tomar força e a ocupar
espaço para dar recompensas ao capital; menor cobrança de impostos, menor tamanho
do Estado e, conseqüentemente, menos benefícios sociais, e principalmente, menos
salários. Ainda que desmoralizados o desmonte do Leste não foi total; restaram ainda
resíduos asiáticos, chineses, com o seu bizarro socialismo escravocrata, híbrido de
capitalismo; exatamente onde os capitalistas ocidentais corporativos encontraram espaço
ideal para depreciar o valor da força de trabalho no “oeste civilizado” ao transferirem
para lá suas empresas, forçando assim a reforma liberal dos seus países de origem ainda
em processo; reduzindo o espaço de atuação econômico-social do Estado ao mínimo,
concentrando renda ao máximo. Os altos salários pagos na indústria americana e
européia estão com os seus dias contados; mas também estão contados os dias dessa
categoria de dirigentes chineses, principalmente. Não dá para a comunidade trabalhadora
bem paga dos países centrais suportar as pressões e se nivelarem aos padrões indecentes
de vida dos trabalhadores asiáticos e tupiniquins; terá que haver distúrbios, ou mudanças
político-sociais na Ásia e no mundo. Vivemos ainda em um mundo no rescaldo do fim
da guerra fria, esta que complementou a Segunda Grande Guerra, que se originou da
Primeira; a qual resultou do Imperialismo, que foi uma reedição das antigas práticas de
pilhagem de uma cultura mais fraca, pela outra, mais forte, muito comuns na
antiguidade.

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As relações entre a política e a economia são perturbadoras no que consta o
procedimento atual contemporâneo de querer fazer crer a todos ser a política a forma
mais importante de se dirigir a economia, quando na verdade trata-se de um engano, de
um disfarce; pois é exatamente o oposto. Por ser um objeto em movimento, um projeto
em andamento, desenvolvendo sempre formas diferentes, mais eficazes, a economia, é a
conceituação dos processos produção da subsistência material dos homens em
agrupamentos organizados de uma maneira específica, e que tem na forma da
apropriação e distribuição dessa riqueza o fator social-político da maior relevância, que
gera todas as outras manifestações políticas-jurídicas como de caráter secundário, como
um dos seus efeitos; como a prática da luta pela defesa dos interesses constituídos, em
jogo. A apropriação da produção é feita de forma individual, particular; sendo distribuída
depois sob a forma de salários, o que cria um mecanismo viciado de concentração de
renda em prejuízo aos assalariados. Dessa situação contraditória nasce a política, como
um instrumento lógico-estratégico de relacionamento dos homens em produção para
adquirir, acrescer ou manter o poder sobre essa mesma produção, por meio de
agremiações; as quais refletem em seu seio as classes, ou as partes que se dividiram em
sociedade. Só uma sociedade dividida em classes pode ter partidos políticos, pois eles
são representativos dessa divisão. Melhor; são representativos das classes separadas pela
condição de ser proprietários, ou não dos meios de produção; isto é, dos instrumentos
físicos que geram a riqueza social.
Todo o curso da política teve origem na História pelo aparecimento do
ajuntamento de pessoas trabalhando para a reprodução material da sua existência e da
separação desses indivíduos fundamentada na propriedade privada dos meios de
produção, e daí, por isso mesmo, se dar de forma autoritária, e ser arbitrada pela
máquina estatal. Na atual frágil e incipiente democracia, as instalações e as máquinas, os
meios propiciadores da geração da produção e da riqueza é fruto de um investimento
prévio de um capital anteriormente acumulado nas mãos do dito empresário, e que agora
precisa e quer multiplicá-lo. Como isso acontece? O que ele precisa fazer?

110
Aquelas máquinas que ele comprou, como qualquer outra, são mercadorias e
foram produzidas pelo setor conhecido como indústria de base, máquinas que produzem
máquinas. Essas e outras máquinas, porém também foram operadas como todas são, por
mãos de operários, as máquinas vivas. Estes suam e se esforçam para, com o seu
trabalho, fazer de toda essa ferragem coisas úteis, valorizadas. E como os operários de
todos os setores também não são possuidores do equipamento dessa indústria, estão ali
alienados, cedidos ao empresário, por seu ‘livre arbítrio’. O industrial desse segmento
como em qualquer outra fase da produção também usou estoque de capital, comprou
matéria prima, aço, e contratou força de trabalho, e assim, depois de se equipar de
ferramentas apropriadas, poder atender a sua clientela de industriais compradores de
equipamentos industriais. O patrão do setor metalúrgico para fazer o ferro precisou fazer
o forno; depois de feito, conseguir combustível, carvão mineral e vegetal, energia
elétrica, diesel, e claro, minério de ferro, e como não pode faltar, força de trabalho; esta
nunca falta, pois tem de sobra no mercado. Nas mineradoras compra o minério e o
carvão mineral. Ali, o processo é o mesmo, equipamentos - capital imobilizado de
propriedade particular do empresário - e força de trabalho são indispensáveis para tirar o
minério das entranhas da terra. O minério, que é do solo retirado foi feito, por quem? Por
ninguém, foi ‘doado’ pela natureza. A força de trabalho foi feita por alguém? O
trabalhador é obra de algum empresário? Não, um dia deverá vir a ser com a tecnologia
robótica digital, o robô chegou. - que ótimo, vai acabar com a escravidão! Mas quando
este vende sua força de trabalho se transforma em uma mercadoria de propriedade de
uso particular dos seus compradores, arregimentados em um mercado de força de
trabalho mantido pelos seus consumidores, claro, os empresários. Assim, quem é o
trabalhador no contexto social, hoje? O que ele representa? Uma ferramenta, uma
máquina de fazer dinheiro para as elites, que de tão estocadas que estão, já beira a uma
indecência. Uma peça utilizada no mecanismo de produção e reprodução das condições
sociais desiguais de classe. E assim é que faz a distribuição da riqueza, de forma a se
concentrar totalmente em uma classe, a custa da outra. E o que é a natureza? Estoque de
capital natural, sob forma de matéria-prima a disposição de quem puder investir capital
inicial para ir dela se apropriar. A natureza é de todos, e todos somos a natureza; todos os
homens, todos os animais, as plantas, e etc... Quer dizer, ela não tem dono, porque
ninguém a fez; mas é usufruída como se fosse um bem privado e particular, a usufruto
de uma classe econômica social endinheirada. O quê contraria, por ignorância, ganância
e vaidades óbvias o sentido de sustentação da própria vida, dado a voracidade dos
interesses lucrativos dessa própria classe, e que já ameaça a permanência da vida na
Terra, a nossa inclusive, por falta de sentimento comuns e simples pelo outro. E quem
tem interesse nisso, qual classe? A condição de se manter essa lógica econômico-
produtivo-social será a de se ir contra a própria vida, só por falta de sentimento; o que
não tem nenhum sentido, e que acaba agredindo a todos, principalmente aos mais
pobres e que serão os primeiros a morrer. Todos no mesmo templo-arena; tendo a elite, o
centro das atenções, na cabine de honra, sinalizando a negatividade, com a mão fechada
e o polegar para baixo. O movimento ecológico que agora começa se delinear em buscar
discutir a questão ambiental, no seu eixo correto, precisa reconhecer que o ambiente é
atacado indiscriminadamente como ‘coisa’, objeto de consumo, pelo sistema de
produção e que talvez seja possível até que este nos elimine para não morrer sufocados
por nós, seus meros consumidores. E que o mercado de mercadorias abundantes e
baratas está para ruir; as rachaduras estão por toda parte. O edifício velho vai ruir; é

111
deixar ruir, que ele mesmo não é bom. É ter coragem de ousar, o novo depende disso;
depende de que queiramos realmente em uma só voz com a natureza, sem desafinar uma
só nota, deixar acontecer a união da vida sem competição entre nós e o todo; e aí é que
moram as grandes possibilidades de que o positivo, por fim, se instale em nós.
Nenhum grupo de homens sem os equipamentos necessários pode tirar o minério
de ferro da terra em quantidade suficiente que supra as necessidades de consumo em
escala de produção industrial. Em qualquer lugar, em qualquer tempo os equipamentos
ferramentais sempre foram necessitados em qualquer tarefa, e o que nos caracteriza
como espécie taxonômica animal é saber concebê-los. Nós, os macacos sem pelos,
sabemos bem como fazê-lo, yes. Por uma evolução da mente através dos tempos
aprendemos a projetar e construir; podemos fazê-lo desde que se tenha as ferramentas
apropriadas. O que é o mesmo que dizer, ter acumulado capital, isto é, meio de troca,
dinheiro. E como trabalhador não tem estoque de dinheiro, trabalhador não pode
comprá-los. Todo o processo produtivo repousa na determinação de investir e reproduzir
capital, leia-se acumulação, como num processo biológico natural bacteriano cujo único
propósito é reprodutivo, e para isso é preciso, principalmente, que haja força de trabalho
disponível, depenada de recursos particulares. Essa força é o instrumento quem vai fazer
gerar mais capital pela obtenção da mais-valia, para, primeiro, ressarcir o investimento
inicial do dono do investimento, e logo depois disso estiver ocorrido, todo capital gerado
será para ele constituir um novo estoque de capital, que poderá ser reinvestido para
ampliar o negócio, num processo de capitalização e num ciclo ascendente de
acumulação, até se chegar a um nível de uma transnacional, ou não dado a
acontecimentos imprevistos; uma espécie de clube fechado a poucos. Desse modo se vê
claramente que a mobilidade social econômica social capitalista é um engodo, porque se
baseia no fato de ser possível só em casos raros de indivíduos da classe trabalhadoras
serem alçados a classe de proprietário, geralmente, por fatos excepcionais, em
momentos excepcionais como o nosso momento de hoje que está abrindo caminho para
isso vir a poder acontecer, dado a revolução tecnológica em curso. Pequenos
proprietários começam, deixando para trás a classe dos trabalhadores que pertenceram
um dia, e passam a explorar também, seguindo a lógica de permanência do sistema. Os
que ali vão continuar serão do mesmo jeito explorados economicamente como objetos
que, na verdade, são. O espetáculo é ditado por regras, se quiser fazer parte dele tem que
atuar segundo as regras. É de praxe; não existe milagre.

112
Que negócio é esse que chamamos de sociedade, somos um grupamento de
sócios, por acaso? Claro que não. As relações produtivas entre os homens não são
relações de sociedade, no sentido econômico-contábil-empresarial onde os lucros são
distribuídos entre os sócios, isto é, os donos, que podem ser vários, segundo as partes
que possuem do patrimônio geral, no caso de uma sociedade anônima. Os acionistas
podem ser aos milhares, ainda que sem poder de decisão. Na verdade esses últimos nada
mais são do que credores sem taxa fixa de retorno, podendo até perder, ou empatar
capital. É um investimento de risco, porém calculado. O investidor compra ações em
troca de um retorno, um ganho, e com isso a empresa se capitaliza melhor. Ele não é
sócio da empresa, o seu estoque de ações não lhe dá esse poder; é somente uma variante
de credor. Os trabalhadores que com o seu esforço e sacrifício fazem acontecer o
processo produtivo inteiramente, que geram a riqueza das quais os patrões se apropriam,
tudo o que eles conseguem para si, em graus variáveis, segundo o seu papel no processo
de produção, é garantir a reposição da sua energia gasta durante a jornada de trabalho,
para si e para a família que terá que constituir; fazendo isto ,também, parte de um
processo de reposição do mercado de força de trabalho. Com o que recebeu em
pagamento pelo seu esforço de gerar riqueza para as malandras elites, terá ele que criar
filhos para vir a substituí-lo quando ele já estiver esgotado ou morto. Nenhuma
participação nos lucros, lucro esse que é gerado por ele pelo não pagamento de horas
trabalhadas por ele. Não receberá pela riqueza que produz, que gera. Ele é pago para
gerar riqueza para a elite econômica, o grupo seleto, queira ou não queira, e não pode ele
não querer individualmente, aceitar o papel de explorado, pois se não quiser, não faz
mal, porque um outro há de querer; um dos muitos integrantes da força de trabalho
desativada, os chamados desempregados. Fazer política implica em se perguntar:
Defender interesses de quem? A idéia de partido político nasce do sentido da divisão da
sociedade dividida em partes, classes, e de qual delas tomar partido, isto é, defender os
interesses materiais de cada uma delas, acima de tudo. Claro, só há dois interesses em
jogo, e são contraditos, opostos, estão em luta, em conflito. As regras da boa política
estão subordinadas a questão econômica, origem do verdadeiro poder sob as atuais
relações capitalistas, e das relações antigas apoiadas na propriedade particular dos meios
de produção, que fazem e fizeram da riqueza e poder o seu verdadeiro deus, e que veio a
ser bem sintetizado pelos judeus ao elegerem o monoteísmo, um único deus, o que é
verdade; pois, até os nossos dias desde os antigos tempos do escravismo só houve na
verdade um único culto a um único deus. O dinheiro, e aos entes superiores, divinos, os
seus proprietários, nos rituais de suas múltiplas demonstrações e manifestações
esplendorosas de riqueza e poder.
Há visões perturbadoras de todo entendimento do processo político vindo de
parte daqueles que tentam ocultar o caráter conflituoso do sistema, procurando guiar sua
prática vendo a sociedade como se ela fosse um todo coeso, unido pelos mesmos
interesses. O que com isso querem é somente se beneficiar pessoalmente, galgar cargos
públicos bem pagos, se por em posição de fazer negócios escusos junto aos empresários
e outras autoridades, nada mais são do que ambiciosos em busca de enriquecer, de se
elitizarem; estão a serviço deles mesmos. No Brasil do século XXI essa prática política
já é uma praga; herança da época da colonização, e das duas últimas ditaduras, a de
Getulio e a dos militares. Não sei que nome dar a isso, a esse tipo de coisa que
chamamos de sociedade, mas cujo nome é inadequado. Talvez uma pré-sociedade, como
um estágio preparatório a algo que mereça esse nome.

113
Enquanto houver a manipulação do poder através da instituição jurídico-
econômica da propriedade particular dos meios de produção, o amor fraterno animal
natural não poderá fluir entre os homens. Lamartine, um parlamentar francês da época
da Revolução de 1789 dizia: “Nosso dever é suspender esse mal entendido infeliz que
existe ha alguns anos entre as diferentes classes de cidadão e que, nos impedindo de nos
reconhecermos como um só povo, nos impede de nos abraçarmos e nos amarmos” A
respeito do amor animal nos homens; ele é o único animal que maltrata a sua cria, como
forma de educar, o diz. Só se fosse a educá-lo a ser violento. Geralmente os pais fazem
isso inconscientemente como forma de extravasar o seu próprio sofrimento e frustração
pessoal de origem social. A sociedade é que é frustrante cruel, e ele também. Porque
não?
- Então toma, menino. Apanha! Pra aprender a odiar, a desobedecer e não ter
medo de roubar!
Não somos o que acreditamos ser. Não temos em mãos a nossa real condição,
vivemos no engodo e do engodo. O que somos realmente? De que pesadelo
precisávamos acordar? Impostura é tudo quanto mais se vê no decorrer da história.
Jesus, Abraão, Ulisses e muitos outros que jamais existiram sequer. E como, também,
nunca existiu nenhum dilúvio de Noé, nenhum Adão, nenhuma Eva e nenhuma cobra
tentadora, nem o tal do ‘bem’, nem o tal do ‘mal’; como também até hoje não existe
livre arbítrio, ou algo que merecesse ser chamado deste nome. Quimeras versus verdade.
Fala, Sócrates!

De novo no front da presente globalização do sistema econômico capitalista é a


hora e a vez do modelo econômico-liberal se propagar pelo mundo e este é o lado bom
desse momento, que representa uma maior internacionalização de um sistema político-
social integrando os mercados, diminuindo de tamanho o Estado, aumentando a sua
competência, diminuído o risco de novos confrontos militar de grande magnitude.
“Imagine, no country...”.

114
Não tomemos o mundo de assalto, mas tomemos assento nele, tomemos assento
no trem do futuro; e para que haja futuro espera-se que aprendamos a estar no mundo de
maneira auto-sustentável, que é tudo o que esse famigerado sistema sócio-econômico
não pode oferecer às futuras gerações, já que ele funciona como uma espécie de bomba
relógio , que vem destruindo irresponsavelmente, de forma irretorquível, o capital
natural, a natureza; constituída em bilhões de anos,
muitíiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmttoo antes de pormos os pés por
aqui, e que não saberemos refazê-lo quando ao dar-nos conta do prejuízo sério
irreversível, fruto da bacanal insaciável dos hábitos fúteis de consumo ego-degenerado,
estimulado por uma lógica do desperdício promovido pela produção irrefreada
maximizante de lucros privados dos miseráveis capitães de industria, e mesmo assim,
ainda somente para atingir e beneficiar bem menos da metade da população do planeta.
Mas poderemos nos desfazer disso, antes que seja tarde; e refazer a nós mesmos, ou a
nossa compreensão sobre nós mesmos de forma mais adequadas ao seguimento da vida.
Imagine-se a promoção da catástrofe quando então esses mesmos hábitos possam ser
estendidos por mais de dois terços da população mundial. Eis uma tragédia anunciada.
Problemas climáticos, falência ambiental, caos econômico; situação ótima para o crime
organizado e a corrupção política se globalizarem! Que belo quadro! Que beleza! Se o
mundo não for pra todos, não será para ninguém. Se há um bom negócio a ser feito, um
bom negócio mesmo, seria desmontar essa bomba que estamos sentados em cima,
descentralizando devagar e sempre o sistema dilapidador-concentrador econômico
capitalista tornando a produção da existência material mais local possível, isto é,
pequeno, controlável e com futuro. Grandiloqüências são perigosas, e a diminuição do
Estado, até a sua total dissolução, caminha nesse sentido de enorme, de vital importância
para o futuro. A globalização e o efeito-estufa não é uma moda de momento, é a estrada
do futuro, que terá no seguimento da sua existência de se tornar mais abrangente e mais
barato possível.
O ‘eu’ é um faz de conta de cunho econômico, e nada mais. E o conceito de
propriedade individual, privativa ao uso e/ou benefício privilegiados de uma pessoa, ou
família é fruto da ignorância, vaidade e prepotência muito antiga, por sinal; quando foi
preciso ser criada a noção de um eu, um ego separado, distinguido individualmente e de
conteúdo político econômico, o que por certo só existe no mundo dos conceitos da
cultura dos homens; criado por sentimentos reptilianos para dar conta de controlar os
apetites de uma proliferação de gente desordenada; portanto uma criação história,
conceitual, de forma nenhuma uma criação natural, biológica instintiva; não nascemos
com assim, com isso, com essa idéia, com essa concepção. Isso porque a noção de um
ego precisava ser, e foi, criada para que uma determinada riqueza, leia-se: mercadorias,
armas, qualquer bem material econômico, pudesse ser apropriada particularmente por
um indivíduo identificado como senhor da situação e senhor do mundo; tendo os súditos,
todos ajoelhados aos seus pés, suplicando serem suas vidas poupadas; dando, assim,
partida ao nascimento do jogo da política com a introdução da primeira relação social de
forma a distinguir e separar os distintos habitantes desse globo terrestre em posições de
conflito de classes, em lutas sociais de toda natureza, como forma de se conduzir a ação.

115
Hoje o nosso avanço sobre as matas e floresta, habitat natural da diversidade
biológica, o avanço de grandes centros urbanos, as imensas metrópoles novaiorquinas
pelo mundo inteiro; e tendo as extensas lavouras como seu apêndice, a vida dos nossos
semelhantes parentes, ditos animais meio que pejorativamente, está ameaçada; pois leva-
os ao desaparecimento e a morte. - desliga esse som, menino? - O que, somado a
destruição e contaminação de recursos imprescindíveis, como o solo, a água potável, os
oceanos e a atmosfera – que emocionante! – se constituem em crime hediondo, covarde
e burro, contra nós mesmos; principalmente contra as futuras gerações de nossos
infortunados descendentes. Estes serão as principais vítimas a sofrerem as conseqüências
mais funestas dessa louca corrida para o lucro imediato e para o progresso econômico
desmedido, irracional e burro, mesmo que ajamos rápido, mesmo assim. O problema já é
irreversível, somente poderemos ainda conter, se agirmos rápido, o seu grau de
intensidade
A poluição da atmosfera pelo co2, e outros gases, trará resultados mais
desastrosos ainda, trazendo uma série extensa de sintomas problemáticos e carríssimos
pela destruição da infra-estrutura econômica e desaparecimento de biomas assim como:
desertificação nos trópicos (se liga, Brasil!), tempestades intensa constantes, e ventanias
violentas; ao norte e ao sul dos hemisférios, trazendo no seu rastro, inundações e
destruição nas cidades e nos campos; com prejuízos cada vez maiores à infra-estrutura
social, conforme se agrave, paulatinamente, o aumento da temperatura no planeta; o
derretimento das calotas polares e das geleiras no alto das montanhas elevará,
progressivamente, o nível do mar em muitos metros, submergindo as cidades costeiras e
importantes extensões e terras agriculturáveis. O derretimento das geleiras no alto das
montanhas fará secar rios importantíssimos, os rios que foram base de assentamento das
primitivas civilizações onde habitam hoje bilhões de pessoas, a Índia, a cloaca, e a
indefinível China serão as mais afetadas. Somadas estas mazelas às já citadas temos um
quadro cuja racionalidade e significação levam-nos a prever o encolhimento radical do
habitat/natureza propício a vida em geral, e a humana, em particular; conseqüentemente,
uma drástica e significativa redução do seu contingente populacional pelo efeito natural
de reação da natureza a nossa irresponsabilidade social; e tudo está ligado mesmo, tudo
tem relação com tudo. Todo esse quadro não podendo ser modificado por milhares de
anos depois que instalado; o que por sua vez, nos trará desafios novos de magnitude
ainda nem sequer imaginados, dada a brutal e avassaladora mudanças climáticas na
geografia econômica e humana causando estarrecimento. Os caminhos estão se
estreitando, paciência! Passaremos melhor se aceitarmos a redução dos nossos apetites
vorazes e irresponsável. Quem precisa de fórmula um, circuitos internacionais de moda,
esporte e lazer. Dão emprego? Sim, mas a que custo? Podemos pagar? Não! Portanto,
passemos o rodo.

116
O escravismo, o feudalismo e o capitalismo compreendem um movimento só. Os
dois tipos de escravismo inicial preparam o terreno para o nascimento do capitalismo.
Este, dado a sua lógica de lucros baseado no consumo e apesar de ser recente o seu
aparecimento, com sua rápida expansão vem causando acelerada degradação do meio
ambiente, ameaçando pra valer a continuidade da existência da própria vida humana. E
esta, para continuar existindo, para poder sobreviver, terá que mudar sua concepção de
existência baseada na ganância, vaidade, ignorância e do seu filho dileto, o
autoritarismo. Conseguiremos, dado que a ganância tem origem nos genes, mas o desejo
da sua permanência também, e se para somente permanecer precisar abandonar o
egoísmo, ele será abandonado, sem dúvida. Mas a que custo? Esse é que o grande
problema.
O capitalismo vai perdurar ainda entre nós, enquanto a inteligência humana não
se desenvolver e amadurecer plenamente; sua superação deverá acompanhar o despertar
social quanto aos problemas de vulto que nos atingem e barram o seguimento da vida
das futuras gerações. A era digital da informação, da inteligência artificial, da engenharia
genética, da física quântica são um forte prenúncio dos meios que aceleração o processo
de mudanças rumo harmonização das relações sociais e da reparação do histórico
conflito básico pela extorsão do trabalho. Estamos passando rápido demais pelo tempo,
precisamos desacelerar, parar de nos apressar, parar e dar carona no assento ao seu lado
sem ter medo do outro. E quem precisa de tantas bugigangas, carrões, casonas,
barrigonas, bundonas, etc. e uma falsa sensação de segurança só pra si. Etc... Etc...
Quem??!!! Se tudo do que precisamos é de sol, ar e afetividade.
Ser, ou não ser, não é a questão?
Não, mudou? Não, nunca foi aliás. Eis que a questão verdadeiramente é; Ter, ou
não ter? Mas ter o quê? Poder? Vontade? Obediência?
A questão é que eu só sou se eu puder ser, não se eu quiser, ou se nós quisermos.
“Na produção social de sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias
e independentes da sua vontade, relações de produção,...”.

A HISTÓRIA E O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA


CAPITALISTA.
Em um período aproximado de duzentos mil anos, o núcleo humano original
africano descendo, devagar, ponto a ponto, o rio Nilo, ou ainda, descendo pelas margens
do mar Vermelho e o atravessando, aos poucos se dispersa pelo globo em direção ao
Oriente Médio na Mesopotâmia, à Índia, à Austrália, até à China, instintivamente
buscando florestas e outros habitat mais generosos. Mudando lentamente, o idioma, o
tipo físico, principalmente a cor da pele, segundo as características climáticas do novo
ambiente alcançado; conforme ia se afastando, mais e mais, do núcleo original em
direção ao leste. Numericamente escassos ainda, vivendo da caça e da coleta de
frutos e vegetais, perdiam contato entre si, nenhum mais contato teria entre si depois que
se separassem, se dispersassem, modificando-se o físico, a linguagem e os costumes. O
globo terrestre era muito grande por ainda haver pouquíssimos habitantes humanos sem
quase nenhum recursos técnicos. Começamos a crescer numericamente, lentamente;
quando havia muito espaço disponível. Quando um grupamento se adensava demais em
um espaço determinado e começava a escassear alimento, o grupo se dividia e se
dispersava seguindo, os rebanhos rumo a outro sítio com o ambiente em melhores
condições.

117
Ao descerem o Nilo, ou através da Mesopotâmia encontram o mar Mediterrâneo.
Nesse tempo o norte da África era ainda ligado à Europa no trecho que hoje é conhecido
como Estreito de Gibraltar. Por ali passaram os seres que, antes de se tornarem homo
sapiens sapiens, vieram a se tornar nos homens de Neandertal. (??????) O Mediterrâneo
atual, que se origina do choque entre o continente africano com a Eurásia, era então um
grande lago, com muito mais vegetação ao redor do que hoje, separado do oceano
Atlântico apenas por uma estreita faixa de terra por onde passaram os primeiro
habitantes do continente europeu, que depois foram extintos pelo nosso contato ao
chegarmos ali por outro caminho, provavelmente pelo Leste Europeu. Com o tempo, a
evaporação o nível da água do Mediterrâneo ficou abaixo do nível da água do Atlântico.
Com a passagem do tempo, populações haviam ali às suas margens se estabelecido no
lado africano, que hoje chamamos de mundo árabe. Um dia, não suportando o peso da
água do oceano a barreira que os separava se rompeu. O oceano invadiu de roldão o
lugar, destruindo tudo que estava em seu caminho. Foi uma catástrofe natural que
originou o mito do dilúvio de Noé.
A principal rota de imigração teria se dado através do mar Vermelho, quando na
época do gelo o nível do mar era bem baixo permitindo travessia a pé. Essa imigração
africana já na forma homo sapiens sapiens começada há cento e cinqüenta mil anos,
(????) teria alcançado o sul do Tigre e do Eufrates e dali se bifurcando em duas direções;
uma para o Noroeste até chegarem às margens leste do Mediterrâneo e dai até ao delta
do Nilo, a oeste, quase que fazendo um caminho de volta ao ponto de partida; ou daí se
dirigindo ao Norte em direção à Europa, a Leste e a Oeste. A outra direção dado Eufrates
e Tigre rumo ao Leste ocupando a Ásia e a Oceania. Ao chegarem na Europa, esses
homens sapiens sapiens entraram em choque com os Neandertalensis (???) e os
dizimaram. A passagem por terra para a Europa era possível através do leste europeu; o
que explica o seu pequeno crescimento demográfico até quando se dá, posteriormente, a
época da invenção da agricultura e da criação de animais para abate ali mesmo no
Oriente Médio; um incentivo ou uma influência, talvez, da paisagem árida e de pouca
diversidade biológica. E que por causa disso, a população por ali se multiplicou por
vinte.
Mais tarde, com a introdução da navegação marinha estreitou-se ainda mais o
contato entre os povos e o mundo conhecido se amplia ainda mais. Toda a margem
européia do Mediterrâneo já havia sido ocupada por fluxos migratórios vindos do norte
da África, da Ásia menor e do leste europeu.
Já nesse tempo, China, Índia, Oceania, Europa, e o sudeste asiático eram
habitados, ainda que desconhecidos uns dos outros, todos oriundos daquele mesmo fluxo
original africano. Mundos sem contato nenhum entre si, desligados no tempo e no
espaço; grandes distâncias, que teriam que ser percorridas a pé, os separavam. Não
sabiam sequer da existência uns dos outros. Mas todos com a mesma origem, como uma
grande família que houvesse se dispersado em busca de realizar um mesmo e só ímpeto,
viver e se multiplicar; já agora falando idiomas diferentes, o que mais tarde veio a ser
um complicador muito grande e que até hoje continua sendo.

118
O aumento populacional acelerado trouxe problemas na região; disputas entre as
castas senhoriais que se formavam com seus exércitos; ainda que instintivamente até,
como forma de conter o crescimento populacional. Começa o processo civilizatório e
junto com ele, o processo de globalização propriamente dito com as culturas em
processo de formação tomando conhecimento entre si pelo contato, buscando
prevalecerem-se umas sobre as outras. Castas senhoriais autocráticas, cobiçosas, através
de botins e saques com aprisionamento de força de trabalho realizam grande riqueza.
Como estava dando certo, gostaram, e assim, se multiplicam as expedições de conquista
e o mundo, devagar, foi ficando mais conhecido, mais interligado, porém cada vez mais
violento, segundo essa nova ordem que virou regra, a concentração de riqueza. O
capitalismo, esse nosso pesadelo dos dias atuais, ainda passa por um processo de
afirmação e expansão da sua forma de produzir e redistribuir a riqueza, depois de
concentrá-la. Como não? A propriedade privada e o advento da manifestação do ego
individual (é meu, me dá, eu quero, eu tomo, eu preciso, eu tenho que ...) não é sua
invenção, nem sua responsabilidade histórica; mas a permanência dela e do seu apêndice
egóico, sim, é. E bota responsabilidade nisso. Este, o capitalismo, é filhote dessa
singular forma de manifestação do ser social individual, uma espécie de continuação,
uma extensão dessas duas instituições; o direito de propriedade e o sentimento
psicossocial de pertencer-se a si mesmo, individualmente, que nasceram conjuntamente
e inseparavelmente ligados, como os bebes siameses, como o nascimento e a morte,
filhos da rude ignorância e da arrogância ilimitada, e do desconhecimento do eu
biológico universal em que se inscreve a nossa existência. Necessitava-se, para fins
práticos de dominação, que fosse criada, então, foi criada a noção de um eu, um ego
separado, particular, jurídico; ao qual pudesse ser disponibilizada uma determinada
riqueza por ele reivindicada, e exigida obediência ao seu poder de mando. Ocorre a
concentração da renda, através da instituição da propriedade privada por uma,
personificada e distinguida elite, dona da riqueza e do poder, socialmente destacada. É
criado o Estado para gerir a crise que essa situação instalou, como um instrumento de
poder a disposição das elites e que até ainda hoje é um lugar onde a política se confunde
com religião e a lei era a do mais fortemente armado, disposto a matar e a morrer.

119
A agricultura, que deu início a toda essa loucura, porque com ela pela primeira
vez o homem pode gerar excedente para comércio, é decorrente de um longo processo
evolutivo ‘sui generis’, iniciado a sete milhões de anos, com o aparecimento do
hominídeo, um mutante do chipanzé, denominado de australopteco; o qual, muito
lentamente, conforme ia desenvolvendo seu cérebro em volume, através do trabalho com
as mãos, foi se tornando consciente de si e do meio ambiente ao seu redor. Sete milhões
de anos, menos onze mil anos, a data do aparecimento desse primeiro processo
produtivo conceitual de transformação da natureza, a agricultura, totalizam seis milhões,
novecentos e oitenta e nove anos de vida animal coletor-caçadora de alimentos, em
essência e em média. Uma relação de tempo verdadeiramente longo, consideravelmente
longo. Considerando os míseros doze mil anos em que ela se iniciou e dos ainda mais
curtos seis mil anos desde a época em que se deu o início do processo civilizatório
conflituoso no crescente fértil árabe, podemos então, deduzir facilmente que estamos
,hoje em dia, na primeira infância desse cabuloso processo. Bingo! A destrutividade e as
fantasias metafísicas dessa segunda fase, digamos, civilizada - risos - que ainda
perduram até os nossos dias em movimento já declinante, dando sinas incipientes de
maturidade, são impressionantes e risíveis até, se não fosse ao mesmo tempo trágico, e
atestam essa infantilidade. E por causa disso, hoje, a nossa presença aqui na esfera
giratória está ficando “quente demais”, cada vez mais quente e perigosa demais; ameaça
desaparecer nos próximos capítulos dessa historinha egóico, mesquinha, por isso mesmo
infantil. Não caberia dizer aqui, disto que se fala tratar-se de uma luta do bem contra o
mal, como querem os religiosos, até porque não existe coisa nenhuma disso que se
chamaria de ‘o bem’ em si mesmo e nem de ‘o mal’ em si mesmo; essa é a visão
idealista-metafísica barata e estreita da realidade político-social, que na realidade nada
tem de idealística, muito menos metafísica, é osso duro de roer; beirando já a insanidade,
desequilíbrio, fruto, isso sim, do conflito social de fundo econômico material entre
interesses privados, e nada mais. - Quem é do Bem? - Quem tem alguma coisa a perder.
-Quem é do Mal? Quem não tem nada a perder, só a vida, e não teme perdê-la. Vamos
dividir essa riqueza, ou não?
Esse ciclo histórico-econômico elitista, ainda vigora. Uff! Mas o limite disso já
se prenuncia no horizonte, na forma de perturbações climática, e esgotamento dos
recursos naturais não-renováveis e destruição, pura e simples, do ecossistema, junto
ainda ao surgimento da segunda revolução industrial, trazida pela tecnologia digital. O
que isto vai fazer é frear bruscamente o carro do desenvolvimento, leia-se: produção em
massa de bens de consumo geral para massas enormes, gigantesca, de consumidores
com o apetite á flor da pele, causando um solavanco de conseqüências impossível de
avaliar no atual momento todo o seu grau de potência. Salvem-se quem puder! Já dizia
Buda, que a fonte de todo sofrimento é o desejo. O desejo nasce nos olhos, e não o
podemos fechar, precisamos dele. Mas é na mente que o desejo se instala e domina as
emoções em busca de satisfação, e nossas ações em busca somente de satisfações
efêmeras podem ser por nós mesmos controladas. Não existe o mistério, existe o
desconhecido e hoje este se remete a nós mesmos com ímpeto destrutivo como que em
forma de autodefesa.- A vida é a vida - e nós nos deixamos levar distraídos junto aos
nossos impulsos compulsivos egóico-infantil sem reflexão; perigosa situação. Vamos
que vamos! Vamos aprender a amar @vida.com.mundo.

120
Como tudo por aqui é mesmo egóico ainda; tudo tende, também, a ser
tendencioso, senão enganoso, mentiroso e fraudulento. Ao nos gabarmos da nossa
requentada sabedoria e insossa espiritualidade, com isso, queremos mesmo, na verdade,
somente esconder de nós mesmos, a nossa fajuta ignorância chinfrim e as nossas
cabeludas crueldades básicas, cotidianas. A verdade e a verdadeira sabedoria não se
inferem dos nossos tão sublimes pensamentos teóricos; nem em objetos de arte que não
passam de investimento do excesso de capital acumulado, nem nas nossas palavras
encantadoras de serpente, nem muito menos, se encontraria incrustadas em nossos
empedrados corações interesseiros. Não! Mas, sempre bem visíveis nos reflexos e
conseqüências funestas e objetivas, do nosso comportamento de cunho social, político e,
principalmente, econômico. O resto é o resto, o lixo que já está nos sufocando. A nossa
ação coletiva, quando produz bons efeitos de resultados duradouros revela inteligência
genuína, fina; o contrário disso revela o quê? Não precisa dizer. O ciclo de vida
individual, hoje em média de setenta e cinco anos, é muito curto realmente, em relações
aos longos ciclos do processo histórico de transformação onde as mudanças qualitativas
de peso demoram, às vezes, séculos, senão milênios para acontecerem. Só para se ter
uma idéia, ainda estamos no primeiro ciclo histórico, talvez no seu final, mas que já dura
algo em torno de doze mil anos, seis mil anos iniciais de paz e os seis mil restantes em
guerra. O que, portanto, nos ilude e leva-nos a vermos algumas mudanças de
pequeníssimo valor, apenas de um aumento quantitativo de potência como sendo de
grande valor e significação como qualidade; porque sua pequena vivência biológica e
ainda mais toldada pela desinformação da experiência histórica passada leva-o a crer que
tudo sempre esteve aqui do mesmo modo como é agora. O que o impede de ver e sentir
o movimento do todo, que se desenvolve muito mais lentamente e tem existência muito
mais longa; very, very, very. Somando-se a falta de informação história suficiente, a
ausência de um método de raciocínio consistente que nos permita interpretar os
acontecimentos dentro de uma perspectiva apropriada, tendemos a iludir-nos facilmente,
com sérias conseqüências no final das contas. E é o que estamos a ver a se desenrolar
sob nossos crédulos olhos, ainda não acreditando muito no que está vendo.

121
É possível que o fim desse ciclo histórico baseado na propriedade privada nos
leve de roldão com ele, por conta dos desastres ambientais que está causando. Não estou
dizendo acreditar em apocalipse bíblico que não passa de uma previsão até muito
perspicaz para a época, mas como se diz que pelo andar da carruagem se pode dizer
quem vai dentro, então eles acertaram. Estou dizendo que é possível, não que deva
acontecer, necessariamente, por que está escrito em algum livro qualquer. Ainda tem
gente, e muita gente, a maioria absoluta, quase a humanidade inteira, noventa por cento
da garotada, aliás, que ainda acha que temos origem divina, que somos feitos à imagem
e a semelhança de Deus, e com isso acreditam que os nossos destinos aqui na Terra, não
são decididos ou elaborados aqui mesmo, por nós mesmos, consciente, ou mesmo,
inconscientemente; mas, muito racionais que são, acham que são decididos e elaborados
em algum plano divino-espiritual, sei lá, qual? Nem como. – Se Deus quiser! Graças a
Deus! Dizem. Acham que rezar resolve; pedir a Deus, ter fé, e por aí vai. Então vai ficar
difícil mesmo. Fica fácil de vermos que se nós somos os causadores, os autores e co
autores dos nossos próprios dramas, estes só terão alguma solução quando primeiro que
tudo, lógico, reconhecermos isto; reconhecermos a nossa responsabilidade total, a
responsabilidade das nossas ações no curso dos acontecimentos que tantos malefícios
nos trazem. Na seqüência buscar identificar a sua origem e desenvolvimento; para
depois disso buscar estratégias de combate até a posterior erradicação total da dita
prática daninha. Que no nosso caso se baseia na cultura do ego privado e da propriedade
individual da fonte de toda a riqueza gerada pelo trabalho, efetuado através dos meios
mecânicos artificiais, criados pela inteligência a serviço dos senhores e por eles
financiada, que através dos tempos foi criando também a si mesma, se
autodesenvolvendo. A força da tradição, o apego à vida e o medo da morte, a religião, as
manifestações da vaidosa ostentação de qualquer porcaria e, principalmente, a falta de
informação, a associação da vaidade com o consumo, o desperdício brutal de capital
natural, vivo, mais conhecidos por ignorância são os nossos maiores empecilhos, nossos
inimigos internos, que nos tiram a capacidade de ver, de sentir, que nos iludem, como
um véu que nos cobrisse os olhos.

122
O capitalismo europeu, onde nasceu, operado por força-de-trabalho contratado a
soldo semanal ou mensal, data o seu nascimento entre fins do séc. XVII e princípio do
séc. XVIII, em torno de trezentos anos somente; nos EUA, ele se consolida durante o
séc. XIX; nas Américas e Ásia, durante o séc. XX, ficando a África e o Oriente Médio e
outras poucas regiões bastante atrasadas ainda hoje. O capitalismo se moderniza e passa
por um profundo processo de transformação, desde o fim da segunda guerra mundial,
quando da obtenção da tecnologia nuclear para produção de armas com um poder de
destruição nunca visto antes, capaz de modificar inteiramente a concepção antiga de
confronto militar separado em pólos distintos, front e retaguarda. A partir de então, isso
passa a não existir mais; exceto em casos especiais de confrontos localizados de menor
importância. Num caso de guerra total não sobraria nada. Há não ser que houvesse um
escudo antimíssil que o fizesse explodir antes de atingir o alvo; mas não há ainda, e caso
houvesse teria que ser monitorado via satélite. O que, antes de qualquer disparo, abriria,
um novo front espacial, o da guerra espacial pela destruição dos satélites de logística
militar - os chineses informaram ao mundo, recentemente, já obter essa tecnologia. Na
seqüência, com o desenvolvimento das tecnologias digitais, usadas para fins militares,
aumentou ainda mais a eficiência do ataque por desenvolver os meios de monitoramento
remoto, com apoio de satélites atingindo o alvo com precisão cirúrgica. Até a segunda
grande guerra, os exércitos de cada país beligerante, combatiam em áreas limítrofes, fora
das cidades. As invasões eram interceptadas antes de alcançarem-nas; e havendo derrota
ainda havia o recurso ao recuo; até a rendição, ou não, da cidade ou do país invadido.
Com isso a população civil e a infra-estrutura econômica social, no mais das vezes, eram
poupadas. A elite e os seus subalternos imediatos do lado perdedor eram agravados,
porém, poupados. A vida social seguia seu curso, ainda que chocada, mas seguia. Hoje
isso não seria mais possível caso o confronto fosse com as armas modernas. O sentido
mais profundo dos capitalistas, aquilo que os caracterizam mais que tudo é à busca de
obtenção de riqueza, e quanto mais, melhor de forma obsedada. Ora, eles não vão agora
querer correr o risco de botar tudo a perder, toda riqueza adquirida numa guerrinha
ridícula de destruição total. Enquanto eram só os soldados que morriam, ou alguns civis,
não tinha problema. Mas com a própria vida e a riqueza deles em jogo - a mão junto com
os anéis -, explodindo tudo no meio do fogo, aí não. Não, não, não, não foram feitos pra
isso. Está certo! Não, não querem mais definitivamente saber de guerra. - Guerra, pra
quê? Acabemos com isso enquanto podemos! O homem não foi feito para guerras, agora
dizem. É verdade; inclua-se aí o novo front da guerra social interna causada pela
desarrumação da casa necessária para que realmente haja mudanças positivas, que é tudo
que mais estamos hoje precisamos e querendo. O tempo é de mudanças, exige
mudanças, então vamos fazê-la, ou não; mas, deixemos de conversa fiada.
As duas guerras mundiais, não foram mundiais realmente, foram essencialmente
européias de grande abrangência, dado ao seu caráter imperialista, pelo domínio de
mercados e de colônias fora da Europa. O caso japonês, na segunda guerra, um aliado
dos alemães, foi que estes pegaram uma carona no conflito generalizado, porque
queriam como os europeus, obter a formação de um império asiático sob o seu domínio.
Na Europa estavam os países mais industrialmente desenvolvidos, no princípio do séc.
XX, em severa concorrência entre si pelo monopólio da produção e circulação de
mercadorias; tipo de situação antiga que já existia desde muito antes do capitalismo e do
mercantilismo; a política de dominação de um país sobre o outro, de um povo sobre o
outro em busca de obterem lucro e riqueza.

123
Esse quadro, da formação de sociedades conflituosa internamente e na sua
relação com outros povos na mesma situação, na verdade foi esse o ponto de partida da
turbulência do processo civilizatório, que atravessou milênios e ainda hoje não se desfez.
Desde a antiguidade já existiram povos com auto-identidade coletiva como estados
nacionais sob forte dominação interna, no Egito, na Mesopotâmia, a Pérsia, depois na
Grécia, e Roma e todos os outros. Esses Estados imperiais ampliaram o conceito de
cidade-estado estabelecendo pela dominação a concentração do poder em um Estado
central, todo poderoso, com a finalidade de efetuar guerras de conquistas, em busca de
mais poder e riqueza, usando a força, isto é, da violência.
Até o aparecimento do capitalismo na Europa, já no séc. XVII, quando livre dos
atropelos imperiais medievais, veio a ser feito o redesenho geopolítico separando povos
sem laços lingüísticos e culturais comuns, que até ali viviam juntos sob imposição, desde
então passou o conflito caracterizar-se como guerra por monopólios exclusivos da
produção e de mercados; quando foi feita, então, a passagem das características guerras
de conquista para as guerras de controle de fontes de matérias primas e, principalmente,
de mercados.

124
Desde a origem do processo civilizatório até os dias de hoje, a banho de sangue
foi cruel, a violência correu solta, assassina, num derramamento de sangue louco de
hospício! Mas depois dos sessenta milhões de mortos na segunda grande guerra, mortos
em conflitos entre as nações européias industrializadas, e ao seu término, quando da
obtenção da tecnologia nuclear e o fabrico de bombas atômicas de altíssimo poder de
destruição, e mais ainda quando se chega à divisão do mundo entre dois pólos
antagônicos, capitalistas e socialistas, prontos a explodirem o planeta, aí se acende o
sinal vermelho. PARE; eu suplico. Cruzamento fatal. Depois de l962 com o bloqueio
americano à tentativa russa de instalar mísseis nucleares em Cuba apontados pra eles e
perto deles, episódio em que quase foi aceso o estopim final, é então feito acordo entre
as parte na contenda, com a divisão do mundo em duas áreas de influência; a americana
e a russa. Os que até ali tivessem optado por um regime ou por outro seria mantido, mas
desde que, então, não se pudesse querer tentar fazer qualquer movimento de
desestabilização, tanto de um lado como de outro; cada um cuidando do seu quintal, sem
invadir o quintal do outro, como até então estava. O Brasil ficou na esfera de influência
americana; em l964 os militares tomam o poder, depondo o governo de esquerda de João
Goulart. Os dois blocos, a partir de então, correram em trilhos paralelos, sem o risco de
se chocarem. Na corrida o bloco soviético ficou para trás, depois descarrilou. 1991, neste
ano, a segunda grande guerra finalmente chegou ao seu termo. De 1939 a 1945 foi à
chamada fase quente, militar da guerra; os aliados e os russos contra o eixo nazista. Em
1945 os russos chegam a Berlin e não avançam, por causa do aviso americano dado ao
jogarem bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasaki, informando aos russos: nós
temos a bomba e vamos jogá-las em vocês, se não pararem bem aí onde estão, sem
avançarem sobre nossas posições. - Nem mais um passo, ou eu atiro! Quatro anos depois
os russos explodem, em testes, sua primeira bomba nuclear. Começa a fase conhecida
como guerra fria, onde os dois blocos ideológicos antagônicos em nível de Estado, duas
potências nucleares se empenham numa corrida armamentista com o fim de uma vir a
subjugar a outra sem risco de possível retaliação, algo como escudos nucleares,
monitorados via satélite, cuja tecnologia já se conhece hoje Então, no mundo se jogava
uma partida com confronto ideológico de duas vertentes político-econõmico de conteúdo
contrários, diferentes e antagônicos pela primeira vez na História das lutas sociais
militares entre nações. Os capitalistas agora estavam todos unidos em só front, não
tinham mais motivos para se preocupar em guerrearem contra si. E durante a fase
soviética entenderam que essa luta nunca teria fim aproveitável. O apocalipse atômico.
Não mais aquele enfrentamento tradicional militar em campos de batalha definidos,
soldados contra soldados, observados e dirigidos à distância pelas elites dos dois lados,
não. Agora, desse modo novo, como se viu em Hiroxima, a guerra era para todos, quer
dizer, a destruição é para todos; senhores de industria, políticos, sacerdotes e generais.
Todos. Muito bem! Até que enfim algo novo e interessante acontece, viva a ciência! Isso
sem falar dos enormes prejuízos materiais causados pelo incrível poder de destruição
desses artefatos, não deixando nada em pé. Imaginem uma bombinha dessas não mãos
do Pingo-laden,

125
A elite bur®ocrática-estatal soviética, comandando sob forte vigilância e
espionagem interna, estimulando a delação nos bairros e nas fábricas de qualquer sinal
de descontentamento com o sistema social instituído, cria com isso um clima de
desconfiança geral entre a população, onde ninguém confiava em ninguém, porque
sempre haveria agentes da KGB infiltrados em todos os setores da vida social soviética.
Enquanto isso, nos EUA e na Europa Ocidental a informação era livre e os direitos
individuais respeitados; e por isso todos sabiam o que estava ocorrendo na URSS e nos
seus satélites, bastou. Por incrível que pareça o maior e melhor efeito causado pela
revolução marxista-leninista foi no mundo capitalista, ao tê-los estimulado, os EUA
principalmente, a desenvolverem ao máximo todo o seu potencial técnico-científico e
assim fazer nascer a formidável tecnologia nuclear e depois a digital da informação e
processamento de dados e por a biotecnologia. Numa sociedade fechada, de informação
controlada como a da Rússia esse último tipo de tecnologia da informação não podia
fluir, se desenvolver plenamente; foi o princípio do fim.
Com a queda do muro de Berlin, em 1989, a Alemanha se reunifica e começa a
fechar suas feridas de guerra ainda abertas. A Europa inicia o processo de integração de
seus mercados para evitar futuras guerras. Dentre as principais medidas temos: abolição
das barreiras alfandegárias, livre trânsito de cidadãos dos países afiliados ao Mercado
Comum Europeu; a criação de uma moeda única; postulados políticos-econômicos
válidos para todos os participantes como: regime político democrático, controle da
inflação, controle das contas públicas e diminuição da presença do Estado na economia,
o que representa para fins práticos o fim do Keynesianismo e o retorno do liberalismo e
assim dessa maneira construírem um grande Estado, com poderio suficiente para
comercializarem, de igual para igual, com os Isteites. Começa a nascer de fato o
processo de globalização da economia capitalista com a unificação dos mercados com
um mesmo parâmetro macro-econômico; e a por fim gradualmente a extinção da solução
de força pela utilização de meios militares para se solucionarem conflitos; junto ainda
com a criação de uma nova e importante zona de influência econômica; com moeda
forte, capaz de se tornar uma boa alternativa ao dólar e acionar o princípio do fim da
absoluta hegemonia econômica financeira americana no mundo de hoje. VIVA A PAZ! –
Cenário mundial positivo trazido pela globalização dos senhores; pela redução do risco
de guerras totais por controle de mercados pela introdução da globalização dos
mercados, um movimento mais fortalecido pela introdução de nova tecnologia digital
aproximando as pessoas, em rede, mesmo estando a longas distâncias.

126
O grande capital corporativista multinacional precisa e quer a paz e a integração
do mercado mundial sem barreiras, porque mais eles terão a quem vender; não tem nada
contra, muito pelo contrário. O capitalismo finalmente chega à China por essa trilha,
com seu o seu quase bilhão e meio de potenciais consumidores, um formigueiro
disciplinado e esfomeado há séculos, e também a Índia, outro igual; e a Ásia toda, um
paraíso de mão-de-obra barata e submissa. O que representa de início uma ameaça aos
assalariados europeus e americanos, em geral, por pressionarem para baixo o valor de
mercado da força de trabalho, tirando empregos de lá pela transferência de fábricas das
multinacionais para a Ásia em busca de mão-de-obra barata, além de muito inteligente
mesmo. Daí o porquê dos trabalhadores europeus e americanos serem contra a
globalização da economia mundial. Claro, não estão gostando nada disso, por ela forçar
uma nivelação por baixo do valor da massa de salários internacional, pela entrada no
mercado mundial de força-de-trabalho dos semi-escravos chineses, e asiáticos em geral.
Nunca esteve tão bom para o capital como agora; sem risco de revolução socialista,
coisas do passado; nem descumprimento de contratos; menor ainda o risco de guerras
generalizadas entre eles mesmos pela hegemonia de mercados e acesso exclusivo à fonte
de matérias-prima, que colocaria tudo a perder. Os rapazes estão crescidos. Que luxo,
paz! Crescemos, e ainda mais com métodos contraceptivos eficazes e barato de hoje.
Estamos presenciando a era da competitividade global baseada na competência,
eficiência, transparência e responsabilidade fiscal de governos das populações de
diferentes regiões em escala global. E esse é o caminho a ser a ser aberto e percorrido,
com cada um dirigindo suas economias localmente, mas baseados em normas globais,
que dirigem a todos a um só tempo e regulam os conflitos de interesses comerciais e
econômicos internacionais que surjam. Falando neles, obviamente, já surgiram, e
resolvê-los é consolidar o processo saudável que ora se inicia. Ainda que falando línguas
diferentes, todos – soa como melodia- com o propósito de viverem em paz; com respeito
as diferenças e a soberania; discutindo as novas regras de um novo jogo, e depois de
como mudá-las ao se buscar o seu aperfeiçoamento em fóruns setoriais globais. Nesse
sentido há muito que fazer; em todos os sentidos.

127
Ah! Os árabes! Eles se isolaram do resto do mundo com a sua velha receita
teocrática radical ao extremo, ao regerem o poder autoritariamente; que nada mais é que
manter a velha receita da nobreza feudal aristocrática revestida ainda de ares sacerdotais.
Enquanto ainda há relativa abundância de petróleo, tudo bem; depois disso quem sabe?
Não dá para deixar eles obterem a tecnologia nuclear-militar agora, de jeito nenhum.
Porque regidos por concepções políticas e ideológicas atrasadas, fundamentalistas, com
essas armas na mão são um enorme perigo. O príncipe Bin(go)laden, representa a
bandeira sangrenta antiglobalização capitalista, principalmente pela causa política
democrática global, que ele tanto odeia e não quer ver os árabes seus súditos metido
nisso, senão ele e a sua família iriam ter que morar nos States onde eles mantém fortunas
incalculáveis para qualquer árabe empoeirado. Os árabes enlouqueceram, ou estão
querendo enlouquecer o ocidente, ao mandar pelos ares o World Center. Qual!!!
Provocações, meras provocações da elite de um povo atrasado como que querendo
intimidar com o seu terrorismo a quem detém maior controle e interesses envolvidos
nesse processo econômico evolutivo que se inicia; a realização de uma sociedade global
em sintonia, em conflitos controlados e negociáveis. Portanto, o que eles querem mesmo
é chamar a atenção para eles também, porque sentem que estão num beco sem saída
fenomenal por causa do previsto esgotamento dos poços de petróleo daquela área e do
mundo para algo em torno de setenta anos; somando-se a isso uma previsível, grave e
prolongada seca que vai se abater sobre a região, principalmente, e sobre grande parte de
todo o planeta, causada pelo agravamento progressivo do efeito-estufa, para daqui a
vinte e cinco anos; quando dois bilhões de habitantes globais, ou mais, isto é, um terço
do todo, ficarão sem água no Planeta. Eles que demonstram muita ‘coragem’, ou
fanatismo e desapreço a vida, se pondo a morrer se explodindo matando um monte de
gente junto; como que dissesse: vocês vão comigo; todos muito ‘corajosos’ de se
matarem por uma causa sem sentido, mas nada corajosos, ou nada inteligentes
verdadeiramente, talvez, de se insurgirem contra a elite clerical autocrática que os
espolia há milênios; tirá-los do poder e instituírem a democracia, crescerem afinal de
contas, e pararem de ler o Alcorão. Depois que ficarem sem água talvez Allá lhes
permita colocarem a religião em outro lugar que não o poder político e se
republicanizem-se, e instalem finalmente a democracia política, e mais ainda, e, mais
importante exijam maior democracia na economia e isolem as aristocracias árabes. Para
o bem de todos e a felicidade geral do planeta; vamos nessa, Mustafá! E vamos deixar de
bafafá.

O Brasil.

128
E quanto ao Brasil, que vai devagar, quase parando, mas vai? Isso sendo causado
pelo atraso político da sua população, acostumada ao populismo pseudo paternalista das
suas lideranças políticas, quase sempre, corruptas, e/ou, quando não, autoritárias. Com
sérias dificuldades de modernizarem seus fundamentos da política econômica dado aos
seus interesses pessoais imediatos; e logo reformar e adequá-los ao esplêndido
momento no concerto das nações para a globalização da economia mundial, obtendo
maior competitividade e eficiência econômica interna que estimulasse o crescimento do
mercado interno combatendo a desigualdade e a exclusão peçonhenta que nos honra. E
ser brasileiro, com muito orgulho, com muito amor, se torne realidade, verdade. E, o que
é o mais difícil para a nossa elite empresarial avara, filha do mundo de tradição avarenta
colonial imperial européia, como um todo, e portuguesa, no particular; e, ora, pois, pois,
distribuir melhor a renda para que se amplie o mercado interno e o país dependa menos
do mercado externo, como sabem fazer os países com governos inteligentes, por isso
mais desenvolvidos; e só são mais inteligentes porque souberam construir um mercado
interno participativo e ampliado. Claro que enquanto estes puderam saquearam a torto e
a direito os paises pobres; uma lástima! E continuam querendo é isso mesmo. São
inteligentes, mais também são mesquinhos de verdade. Aliás, em que lugar do mundo
não reina a mesquinhez?
O Brasil que, lá pelo final do séc. XIX e princípio do séc. XX, atrasado e
corrupto na política e na economia era dominado por oligarquias rurais; que dominavam
a política, alternando-se no poder, com eleições fraudadas e eleitores coagidos; era uma
republiqueta de verdade, a bem dizer; produzindo uma economia agrícola voltada para o
abastecimento do mercado externo.
Foi quando, em 1930, entra em cena, impávido colosso, o caudilho Getúlio
Vargas, a encarnação do CHEFE; e com ele o populismo político e o regime ditatorial
esclarecido e progressista; uma espécie de nazi-facismo tupiniquim. Nada demais; afinal
já estávamos mesmo acostumados ao autoritarismo, depois de quatro séculos de domínio
imperial português.

129
Independente das modernizações, por ele implementadas no setor produtivo
urbano-industrial que começou entronizando o país no processo de formação de um
mercado capitalista mundial, que trouxeram um grande alento desenvolvimentista à
ainda incipiente atividade fabril daquela hora; foi ele, também, o maior responsável
dessa atual formação, ou deformação, política infantil e despreparada do povo brasileiro.
Uma tragédia, um horror! Analfabetizados, condicionados, subordinados, afeitos a
esperar que as decisões vindas do soberano papai-governo, ou do papai-presidente venha
lhes trazer socorro e alívio; decisões que venha a realizar em seu lugar aquilo que
deveria resultar da sua luta organizada e reivindicativa para maior repartição do bolo
criado por todos nós, mas que no Brasil poucos usufruem deixando somente as migalhas
para o povaréu, que façam bom proveito, pois é isso o que merecemos com a nossa
submissão. Assim, o povo brasileiro se acomodou a criar expectativas apoiadas por
forças não pertencentes ao seu próprio universo de interesses, e como sempre foi, se
deixarem manipular, a se enganar; permitindo e aceitando serem privados do seu maior e
principal instrumento de luta; a democracia e a exigência de transparência nos negócios
públicos e privados; ainda assim aplaudindo. Para se ter uma idéia de tão desconcertante
quadro político nacional; observe-se que quando as ditaduras nazi-fascistas européias
foram derrotadas em 1945, a ditadura de Getúlio não ficava bem continuar. Foi deposto;
mas na eleição seguinte se candidatou e, claro, foi eleito. Acostumado a governar sob o
autoritarismo, não soube fazer o jogo democrático, e acabou morrendo dando um tiro no
peito. Que figura! Ainda bem que o revolver não engasgou.
E lá vem democracia. Será que, finalmente, veio pra ficar? Com as lutas que
estavam sendo travadas no cenário mundial entre os blocos ideológicos antagônicos em
1962, acirra-se a guerra fria e exige o alinhamento automático brasileiro ao bloco
capitalista, trazendo os golpistas de direita da linha dura militar que depõe o bem
intencionado, mas despreparado, afilhado político, de quem? De Getúlio; só que agora à
esquerda. De novo a ditadura, a mordaça e o cacetete; agora com o fim declarado de
afastar o povo brasileiro para longe do perigo soviético, do perigo comunista, que
também, diga-se a bem da verdade, não era lá essas coisas mesmo, a tal da ditadura do
proletariado. Os ‘milicos’ não deixaram barato. Foram outras duas décadas de poder
discricionário, de desacato à lei e a ordem constitucional. Tudo em nome do progresso
dos capitalistas alinhados ao clube de Washington; bem parecido com o modelo
getulista, na verdade uma continuação dele. Só que não deram um tiro no peito também,
que pena! E foi assim que respondendo aos anseios do capital tivemos mais uma
ditadura que contribuiu ainda mais para a despolitização do povo brasileiro, que já vinha
sofrendo de uma espécie de analfabetismo político crônico.
O pior é que sem a menor visão de alcance do rumo dos acontecimentos
econômicos sociais do mundo à época, os militares eivados de nacionalismo e sonhos de
grandeza foram contra todas as receitas que deram origem ao mundo atual. Sendo assim,
a diminuição do estado, controle da inflação e a responsabilidade fiscal foram
negligenciados, postos de lado como se os militares brasileiros fossem o dono do
mundo. E o endividamento interno e externo foi incrementado. Quando o risco de
perderem o controle da situação se lhes aparece, entregam o poder aos civis
dissimuladamente aliviados. Por essa época, começa a expectativa no mundo de por um
fim ao período histórico equivocado das ditaduras de direita e esquerda.

130
Exceto em poucas áreas do mundo, entre os árabes, por exemplo - aquelas
beldades - o capital hoje domina de forma hegemônica sem precedentes. O que é bom,
de certa maneira, por esclarecer de uma vez por todas, a todos e a todas, de onde se
origina todo poder, de onde vêm às ordens; e que essa democracia fajuta que aí se
encontra é, senão uma pura ilusão, um engodo. Pois não há poder verdadeiramente real
algum para aqueles que não participam da apropriação da riqueza material dessa
sociedade que se torna a cada dia cada vez mais global, isto é, uma só. IMAGINE!

O povo brasileiro rejeita as reformas institucionais que o entronizem a


modernidade no país e o torne competitivo agrícola, industrial e na área de serviços, e
atraente ao capital internacional, isto é, entre na rota do futuro próximo da economia
política ao globalizar sua economia e cumprir os parâmetros dessa nova ordem da
política-econômica mundial. O que queremos? Ficarmos nos explodindo como os
árabes? Aliais, já estamos numa guerra civil militar interna, que só fará crescer por força
da luta em poder participar do consumo social geral altamente desequilibrado nesse país.
Senão, vejamos. Há um quase clima de guerra civil nas grandes cidades e capitais
brasileira entre o crime “organizando-se” contra a legalidade. Muito bem, temos que
questionar mesmo que legalidade é essa que reina nas hostes do poder, no Brasil e no
mundo, que, aliás, já vem sendo questionada e enfrentada com as mesmas armas e
potencial de fogo, pelo crime que também é uma forma de resistência e questionamento,
ainda que pouco eficaz. Dinheiro está difícil. Onde está o dinheiro, macacada? Todos
sabem; nas mãos dos capitalistas transnacionais, os ‘caras’ mais pão duro que já pisaram
nesse chão, desde que por aqui apareceram há uns trezentos anos. Tudo muito certo, mas
que, ainda assim, com paciência, podem ser, devagar e sempre, dobrados; depois vem os
filhos deles, depois e depois... Vamos mudando o jogo, as regras do jogo. Hoje, nós os
brasileiros, estamos na posição perdedora; baseados, ainda, na velha receita de produtos
agrícolas de exportação, no jogo da formação de um mercado globaliza, e dela só vamos
sair, o mais cedo possível, se reconhecermos isso logo, e isso porque nosso mercado
interno é sem poder de compra. A política é aquilo que se vive; é política de seres auto-
reflexivos, inteligentes, em busca do bem geral; sim, porque o bem – ele não é luxo, nem
riqueza –quando não é geral, então ainda nem sequer é um bem; muito mais se parece a
um insulto. Se você é um daqueles que gostam de raciocinar na dupla do bem e do mal,
associe, por favor, acumulação de riqueza individual; como o Mal, e bem geral, isto á
distribuição linear da riqueza, como o BEM.

131
O mundo é desigual porque as sociedades em todos os níveis, em todos os países
são desiguais, com suas práticas odiosas de enriquecimento de pequenos grupos, em
detrimento dos demais. Idiotia generalizada. Tomemos mais cuidados; procuremos nos
informar. Ler e desenvolver nossa capacidade crítica sobre a política, isto é, aprender a
pensar, pensar livremente, cada um com a sua própria cabeça; sem querer saber de ser o
dono da verdade, nem de procurar o dono dela; de quem é a verdade? Ou quem está com
a verdade? Ou, onde ela está escrita. Em que livro ela está escrita? A verdade é um
processo em andamento, é sempre o que está acontecendo aqui e agora, em torno e
dentro de nós. A verdade é o ato de pensar, é o sangue, a seiva do corpo. O teu, o meu, o
nosso pensamento é parte e reflexo disso. Aquele que pensou, se é que realmente
pensou, o fez, faz e fará sempre com a sua própria cabeça. E, assim, é sempre a sua
cabeça que está em jogo pela decisões tomadas, sempre. Por isso ponha-a pra funcionar
e poder ganhar iniciativa. Ou melhor, utilize-a antes que tu a perca; até porque não
estamos fazendo nunca nada pra evitar que isso venha a acontecer. Pensar e ter
responsabilidade são a mesma coisa. Pensar é um ato de responsabilidade pessoal, no
sentido profundo de que o social sou eu, e que eu sou o social, e este o todo. E que não
há separação real entre eu, você e ele. Em sociedade somos o todo. Porém, todos ainda
não é UM; a divisão persiste; é antiga e crônica. E hoje responde pelo nome de
Capitalismo.
O MUNDO HOJE.
Nós os humanos, , vivemos em guerra faz muito tempo, grandes idiotas; guerra
pesada, com períodos de intervalo para descansar; uma espécie de controle de natalidade
inconsciente, instintivo, evitando o mal maior; o excessivo número de bocas a fim de
comer, maior que a capacidade ou vontade de supri-las. E tudo se resolveu, e se resolve
ainda, é pela ignorância, isto é, pela matança. No princípio, tribo contra tribo; povos
contra povos, depois países contra países, anteontem. Ontem regime social contra
regime social, capitalismo contra socialismo. Armas muito poderosas de alto poder de
destruição pela fissão do átomo foram desenvolvidas e proliferaram. A retaguarda onde
as elites se protegiam ficaram vulneráveis, agora são parte do alvo, são o alvo. As armas
de destruição em massa modificaram a concepção de viver e resolver os conflitos nas
relações entre as nações. A resolução dos conflitos de interesses pela via militar, isto é,
pela violência durante a guerra fria, que dura da década de cinqüenta até 1991 com a
dissolução da URSS, causou grande apreensão pelo possível elemento surpresa. Décadas
depois, os russos recuaram e entregaram os pontos. Mantiveram as armas, mas tiveram
que desmontar o regime social deles, que eles chamavam de socialismo, nada há ver, na
verdade um escravismo moderno disfarçado. Os russos eram realmente um perigo; na
verdade todos somos um perigo.

132
Novidades no front, então, boas novidades. O fim da polarização entre dois
regimes inimigo, que trouxe o fim da guerra fria com o desmanche do bloco soviético
junto a forte presença de países com armamentos nucleares, os europeus, os russos e os
chineses, além dos americanos, exigiram mudanças nas táticas de dominação no
relacionamento político-econômico entre os povos, sem a violenta dominação militar,
sem guerras; o atual processo de globalização da economia. E agora, o que vem a ser
isso? Nos países industrializados ricos, detentores da maior quantidade do capital
existente no mundo, destacaram-se as corporações transnacionais, que como grandes
polvos de muitos braços, atuaram durante a guerra fria, nas regiões pouco desenvolvida
do planeta, em busca de mão de obra barata, isto é, lucros vultosos, e de mercado
consumidor, em renhida concorrência entre si. Num mundo sem definições claras das
regras do jogo, e em guerra político-ideológico, as ações dessas corporações eram
cercadas de cuidados para não perderem capital em possíveis insurreições e confiscos,
puro e simples.
O confronto entre duas ideologias sociais exigiu uma melhoria das condições de
vida dos trabalhadores, incentivados pelo Estado com políticas de bem-estar social, nos
países capitalistas avançados, como forma de demonstrar a superioridade desse sistema;
e agora com o fim desta, volta-se às posições liberais de livre mercado de força de
trabalho, onde os trabalhadores do mundo desenvolvidos terão que aceitar a
desvalorização do seu remuneramento, em face do aumento da oferta com a entrada dos
asiáticos no mercado mundial de força de trabalho. Se não quiserem ficar sem emprego.
Capital o mundo tem, e muito; onde está ele, portanto? Quanto mais seguro e
protegido o lugar, mais fácil localizá-lo. Aqui entra em cena as regras do jogo, as regras
de ouro do jogo, ou as regras do jogo do ouro. a)- primeira regra: Tem-se que um lugar
em que se possa semeá-lo com todas as condições garantidas e necessárias; leia-se infra-
estrutura instalada, impostos baixos, salários também, para que ele possa se multiplicar.
b)- segunda regra – respeito ao direito de propriedade; o que significa dizer; colheita e
armazenagem seguras, o chamado respeito aos contratos, regulação do mercado por
agências setoriais, e diminuição do Estado, ou dito de outra maneira, redução da
intervenção do Estado na economia como ator na produção. c) - controle da inflação.
Evitem-se assaltos, por favor. O que é meu é meu. O que é teu cuide. E quanto
àqueles que não tem nada, e ainda assim são a maioria absoluta? Que se resignem em
suas igrejas, ou onde lhes aprouverem. Quanto a isso, bom, nem sempre se dá com
naturalidade. Problema não. Polícia neles. Que fazer? Agora com a introdução das
câmeras filmadoras de vigilância cada vez mais dissimuladas, e presentes, vai ser
preciso aumentar o número de cadeias.
C Ú M P L I C E.

133
Porque tu, meu caro, meu irmão trabalhador espoliado, explorado, que se deixa
roubar facilmente como quem se rouba o picolé de um cego, tu, não te conheço
pessoalmente, mas tu, sejas branco, negro ou asiático, fale o idioma que falar, reze pelo
deus que rezar; mas tu, tu mesmo, com esses dois olhos na ‘cara’, com tuas quatro patas;
sendo as duas dianteiras transformadas hoje em mãos, essas mesmas mãos que com elas
tu trabalhas e o teu patrão pega o dinheiro; tu, pior é que é verdade, se pudesses viravas
um desses, um patrão. Ou não? É que no fundo tu o admiras, ou o invejas. – Que homem
capaz – pensas; e isso é tudo o que ele mais podia querer. E te diz: - Vamos, trabalhe
com vontade homem, que um dia, se tu for “bão mermo”, tu vai ser igual a mim; vai ter
tudo que eu tenho, ou mais ainda. Vai com fé, que deus é grande - E a miséria é ainda
maior. Mas isso não importa pra ele, nem pra você. Aí é que a gente vê que tu,
explorado, não és uma vítima, mas um coitado por se permitir ser explorado, numa
espécie de cumplicidade com o patrão; na esperança de um dia alcançar o que tu tanto
almejas. Deixar de ser explorado, e se tornar um patrão e explorador também, claro;
ninguém merece... Com isso se instala o principal mecanismo da desunião entre os
trabalhadores, que os divide e os torna todos uma presa fácil nas mãos dos seus algozes
abutres; que os manipulam fazendo com que cada companheiro de serviço se torne um
concorrente, alguém a ser derrotado, denunciado, superado, um adversário somente; um
quase inimigo, muitas vezes pior que um inimigo, dado a falsidade. A solidariedade de
classe, o instrumento principal de luta pelos interesses de classe, assim, cai por terra, é
pisoteada.
Em cada grupo de cem mil trabalhadores, um ou dois somente, conseguem
ascender à classe patronal em virtude do seu esforço; por inteligência excepcional, ou
por outro motivo qualquer, como adulação, ou uma herança de família, por exemplo,
enquanto outra pequena percentagem de esperançosos ascendem à classe média e a
maioria fica mesmo onde está, e ainda assim muito satisfeitos; podiam estar
desempregados, integrando o enorme exército de reserva de força de trabalho, exposto a
toda sorte de ameaças, e as portas da criminalidade.

134
O bandido é que é a verdadeira vítima da sociedade, não um vitimador. Este,
ingênuo e despreparado, se identifica com os senhores, também quer ser um deles e
como eles; como os senhores, ama o poder, o idealiza e para tê-lo para si, cometeria toda
ação necessária, com o risco da própria vida, porque não? Assim como há uma
cumplicidade entre o oprimido e o opressor, há também cumplicidade entre a vítima e o
vitimador. Não há cidadão inocente em relação ao conteúdo injusto que é o fundamento
do nosso viver civilizado, uns explorando, outros sendo explorados; tanto faz o papel
que ele ocupe neste drama, ele é um cúmplice, queira ou não, saiba disso, ou não. Todos
somos cúmplices, assim sendo ninguém é inocente, a não ser que ele não tenha
consciência da realidade social, seja um retardado mental, um deficiente. Enfim, quando
o vitimador, ladrão ou assassino entra em ação contra alguém, ali foi acionado o
mecanismo de recompensa pelos males morais, psicológicos e materiais infligidos ao
vitimador no seu cotidiano na cidade, e que pela sua natureza combativa exige o alívio
da descompensação; faz parte de um processo psíquico em que a ladainha religiosa da
ideologia normativa dominante não faz sequer reforçar a prática, pela expectativa do
perdão se não for pego, claro. Quando pego, sua vida é transtornada, muitas vezes
definitivamente. Chamamos isso de punição exemplar; para que os que não tem muita
coragem de agir fora dos quadros permitidos pela lei, sejam ainda mais desestimulados a
seguir a via do crime. Por isso o criminoso cumpre a função de dar ao sistema de poder,
o pretexto e motivo para instituir aparelhos permanentes mobilizados, com a função de
reprimir qualquer ação individual desestabilizadora da ordem dada, imposta, que diz ser
a expropriação só permitido aos patrões, quando no processo produtivo material de
mercadorias, pela expropriação econômica, perfeitamente legal, segundo a Justiça
propõe ao proteger o direito de propriedade dos meios de produção como uma ação
social legítima. A relação da vítima do crime com o criminoso passa pela relação
política de cumplicidade dela, como a de todos nós, com a reprodução do sistema social
desequibrado e desequilibrador, então, por isso, é, ainda que indiretamente, criminosa
também, por crime de omissão e conivência; ao menos não é inocente, ainda que por
ventura seja ingênua e esteja plantada na horta errada. Ela esperava segurança ao viver
entre os iguais, porém, os iguais só são iguais na aparência, ou perante a justiça que além
de cega é cúmplice do sistema de espoliação que diferencia e separa os homens em
condições que só podem gerar problemas e criminalidade, para depois covardemente
punir o indivíduo que a desobedeceu, sem questionar o sistema de exploração vigente
que o criou. Assim, em que a Justiça é um dos seus capangas da maior importância. A
vítima, cúmplice do agressor, independente de querer ser ou não, independente de ser
consciente disso ou não, agora espera que seja reposta a perda da sua segurança com a
prisão do agressor, mas ela não identifica no sistema, nem o acusa de gerador, nem de
ser causador indireto da dor que lhe afligiu, e ao dar a queixa do crime no aparato
policial, somente o justifica e fortalece. O crime e os aparelhos de Justiça são faces de
uma mesma moeda, um não existe sem o outro. E o agressor é duplamente penalizado;
primeiro pela sua condição de refém da sociedade que o criou para ser penalizado e
justificar o aparelho de repressão; e ainda porque terá que pagar por isso com a perda da
liberdade de movimentos num confinamento em cárceres. Crucifica-me, que eu gosto.
Passam-se anos, décadas, séculos e milênios e mais milênios e a situação permanece,
sem que se mobilize forças que encontre o caminho da solução; como um mal crônico.

135
Qual o sentido da riqueza sem sentimento, senão a sua autoreprodução em
separado? O capitalismo na sua primeira fase de implementação foi de total crueldade e
de grande exploração, de total maus tratos e péssimas condições de vida da população
trabalhadora européia; sabendo ser a população já acostumada a servidão, se
aproveitaram disso e impuseram uma semi-escravidão. Por uma importância irrisória os
trabalhadores, crianças inclusive, eram forçados a trabalhar até 18 horas diárias, de
segunda a segunda; moravam em cortiços mal asseados e frios, subnutridos, expostos a
uma série de doenças infecciosas. Ou isso, ou nada. Ou dá, ou desce; um estrupo
consentido para não perder a carona, mas um estrupo. Essa é a origem de toda a riqueza
circulante nos meios empresariais da atualidade. Muito honestos, os capitalistas de hoje,
cumpridores da lei, uns amores de pessoas. Nessa atual fase do desentendimento geral
humano que chamamos inadequadamente de sociedade, e desde que ela apareceu, fala-se
muito de espírito, alma, desconjuro! Mas não se fala nada de sentimento de
solidariedade, fraternidade, confiança no próximo. O amor toca no rádio, mas é sempre o
amor sexual romântico, ou divino. Mas quando se fala em negócios, economia,
desaparece o sentimento. Negócio é negócio; amigos, amigos, negócio à parte; dizem
querendo dizer que ao se tratar de negócio não ha espaço para sentimentos nobres, só
para sentimentos mesquinhos, como a competição, senso de oportunidade, discrição nas
intenções e possibilidades de negócios. Como interpretar essas duas atitudes? Alma e
espírito de um lado, competitividade e concorrência do outro. Alma e espírito fazem
parte de um corpo ideológico mantido e aceito pelo Sistema estabelecido, e são abstratos
e irreais, fazem parte do campo das superstições ignorantes, pura e simplesmente. Já o
coração do homem, este é terreno; como é terreno o corpo emocional, e ele está repleto
de soberbia, vaidade ganância, ou pelo inverso, ressentido das agressões cotididanas;
sem espaço para sentimento de generosidade afetuosa e solidariedade humana legítima e
universalizante. Ou uma coisa, ou outra; o que não pode se querer é que a sociedade seja
as duas coisas ao mesmo tempo; então temos duas sociedades em uma, em conflito
permanente, esquizofrênica; segundo a posição que cada um ocupe na plataforma de
acesso ao direito de consumo. Num céu imaginário não encho o meu estomago para
satisfazer a minha fome de viver e ser equilibrado, normal
Nada mudou de lugar, em essência; funciona o mesmo mecanismo de sempre,
desde quando a escravidão foi instituída. O seqüestro da riqueza, ou o seu
aprisionamento, traduzido em poder concentrado em poucas mãos só fez aumentar, e no
atual processo de globalização da economia, pela ausência de um projeto político-social
consistente dos trabalhadores; hoje confusos e desmoralizados, sem lideranças
respeitadas pela quebra do romântico projeto político revolucionário marxista-leninista,
essa situação deverá piorar, a concentração deverá aumentar ainda mais. Bem, isso é o
que eles, os privatistas, os que têm iniciativas, querem.

136
- “Trabalhadores do mundo, uni-vos”. Muito bem, Dr. Marx; porque sua causa é
de interesse comum entre todos, o mesmo interesse, a mesma luta; enquanto o
capitalismo existir. Não importa que língua tu fales, qual teu país de origem, nem qual a
cor da tua pele, ou do teu olho, se ele é puxado ou redondo; nem o nome do teu deus, ou
o ritual da tua religião; o teu sexo; nada disso importa, não. Sim, trabalhadores do
mundo, uni-vos, sim, e acordem; agora não mais para exigir o fim do capitalismo
elitista; nem muito menos para exigir o fim da democracia, muito pelo contrário; mas
para fortalecê-la e depois estendê-la ao domínio econômico. A democracia é um conceito
de domínio político, referido a forma de como o poder político é exercido, o ritual é
conhecido; mas o poder político é subalterno ao poder econômico e dele depende. Todo
poder de decisão verdadeiramente se origina da produção da riqueza, da forma como ela
é apropriada e depois circula, dado ao enfraquecimento político dos trabalhadores e da
sua fraca capacidade de união. Quanto mais ela se concentra nas mãos de uma minoria,
mais poder para esta, e menos para a maioria; não se trata do poder de compra no
mercado de consumo de mercadorias somente, ou poder aquisitivo; trata-se do poder de
decidir, influir; às vezes corromper, subornar; mandar e ser obedecido. Tomar iniciativas
em todas as esferas da vida pública, principalmente na esfera do poder político, tão
suscetível a verbas de financiamento de campanha eleitoral; formação de lobbies
empresariais, cartéis, dumping, etc. Os empresários gastam fortunas consideráveis só
para garantirem o seu status privilegiado de classe na sociedade; para poderem
enriquecer sem riscos ou barreiras; o poder econômico quer, precisa e pode comprar a
consciência da sociedade; é isso mesmo o que ele faz através da política de cooptação. O
poder é do povo, mas a riqueza não; pra que serve esse lixo, então? A elite também é
povo? Sim é; assim como uma fina camada de óleo em cima de um copo cheio d’água
faz parte do conteúdo do copo, mas é diferente e nunca se mistura. O conceito social de
povo é precário; leva a um entendimento errôneo, ao colocar no mesmo saco, coisas
muito diferentes, como se fossem iguais; talvez com o desejo mesmo de confundir.
Assim como quem hoje associa à palavra anarquia, a bagunça; e materialismo, a falta de
sentimento.
Que nos levem os atuais direitos trabalhistas, fajutos mesmos; que aliais só nos
iludem e nos mantém presos a pobreza, mas desde que melhor nos retribuam pela nossa
participação crucial, pra lá de crucial, o justo merecido com a gestão compartilhada da
empresa e participação nos lucros, porque sem o trabalho nada feito. A diminuição da
desigualdade não passa pelo aumento da produção e da riqueza, até porque o
ecossistema já não agüenta mais ser saqueado; nem os trabalhadores.
UMA CRÍTICA RADICAL, E CONSEQUÊNTE DA CULTURA.
Até hoje ninguém provou, sustentado em fatos reais, a existência de vida fora da
Terra (planeta Vida). Ainda que não se impossível, não me parece, de modo algum,
necessário. Muito menos ainda, podemos crer, assim sem mais o quê, nem porque, de
olhos tapados, na existência de vida espiritual numa espécie de “outro mundo”, de onde
teria vindo o teu espírito, e para onde iria depois que você morresse. Digo o “teu”
espírito porque, em verdade vos digo, eu não o tenho; só tem quem acredita que tem.
Verdade! A existência dessa antiga e atrasada idéia de espírito imortal se originou na
necessidade dos primitivos explicarem seu limitado universo, com o único instrumento
que tinham à disposição da mão, a imaginação, e, assim, melhor controlarem-no. Como
ferramenta política de controle social funciona bem até hoje, por isso, viva a era da
informação que ora se inicia; antes tarde do que nunca.

137
Aliás, a crendice, velha companheira da desinformação, ainda é quem dita os
caminhos de uma expressiva (em números) parcela da humanidade. Cada dia menor,
claro; pela renovação biológica, vão morrendo os velhos, arraigados defensores do seu
próprio equívoco e com eles morre o atraso. O tempo não passa, nós é que passamos -
dizia Einstein.
Entre os místicos, de forma geral, quanto maior for o absurdo proferido, mais
convincente ele se torna. Claro que è preciso alguns poucos cuidados para que isso
funcione bem. A credulidade é quase uma segunda natureza nossa. Até porque
doutrinação começa bem cedo, na primeira infância, quando nossas mentes são ainda
altamente maleáveis; conseguindo-se assim levar a efeito impressões profundas,
indeléveis, que perseguirão o dito infante por toda a sua existência; e este ao se tornar
adulto, para completar o ciclo vicioso, fará, obedecendo a ordens interiorizadas, o
mesmo com o seu pobre rebento; acreditando com isso estar cumprindo o seu dever na
‘divina’ tarefa de “educar”; como se fosse um robô, programado para isso.
Um cãozinho vira-latas qualquer, meio deitado, meio sentado, sob o sol da
manhã; olhando o movimento à sua volta, tem fome; certamente medita em como
conseguir algum suculento pedaço de osso. Certamente não sabe que é um cachorro e o
osso que ele tanto almeja naquela hora, não tem nome de osso, nem nome algum. E nem
precisa ter, pois o que interessa é que ele tenha cheiro que o localize, sabor que o
recomende e substância, que o alimente, o seu osso.
Nomear coisas vista ou imaginada é atividade intelectual exclusivamente nossa,
macacos pelados e inteligentes - mas nem por isso outra coisa diferente disso - e que nos
destaca de todos os outros seres orgânicos; pois que é a única coisa que temos, e que
todos os outros seres vivos não tem; palavras, discurso articulado significativo.
Esta prática de nomear as coisas trouxe-nos lentamente a linguagem articulada,
compreensível, e com ela, mais tarde, a “consciência de si”, autoconsciência; e isso se
deu por um motivo só, defesa. Por não termos armas naturais desenvolvemos o cérebro,
e depois de organizados planejamos as ações de ataque e nos tornamos nos maiores
assassinos da História da vida, sem nenhum exagero. Já a caminho de até destruir até a si
mesmo, de um modo catastrófico, por guerras; ou de outro, lento, pela alteração da
atmosfera – efeito estufa - Haja criatividade. Haja inteligência. Haja VERBO! No
princípio foi o ...medo.
Éramos outrora, pois, como são hoje os animais, os poucos que ainda nos restam
matar, dotados somente de “sentimento de si”, sem a “consciência de si”, essa mesma
que hoje ostentamos como prova de nossa “origem divina” e prova da nossa
superioridade sobre tudo, e que chamamos de “centelha ou sopro divino”, ou espírito.
Esta autoconsciência, que tudo conhece, parece não querer conhecer a si mesma, devido
à total, ou quase total ruptura que esse autoconhecimento suscitaria, e ela conservadora
que é, teme mais perder algo, algum alfinete; do que espera ganhar muito.

138
Animal é como nomeamos todos os seres orgânicos visíveis a olho nu, que se
locomovem e que tem como característica comum a todos o fato de não falarem,
articulada e compreensivelmente através de símbolos sonoros. Pode-se pensar sem
palavras, por associação de imagens, assim pensam, conhecem, os animais, de forma
rudimentar, com o cérebro pequeno, de pouca, ou nenhuma memória e nenhum ou pouco
intelecto, uns mais, outros menos. O fato deles não rir, nem chorar, não indica ausência
de sentimentos, indica tão somente ausência do “eu” e por isso ausência de emoções
sentimentais perante sua sorte e destino individual, e muito menos das emoções ético-
estéticas que envolve a nós, animais conceituais, diante de situações várias de intensa
significação de apelo e significado coletivo; diante da obra humana (hum, hum) de
grande beleza e profunda significação existencial.
Nós também podemos pensar assim como eles, os animais. As mentes primitivas,
desenvolvidas em todo período evolucionário (peixe, réptil e mamífero) continuam em
nós e atuam. Há uma droga alucinógena, expansora da mente, milenar, dos índios do
Alto-Amazonas (Brasil-Peru), conhecida pelo nome de Ayahuasca, a qual, nos abre
acesso direto a essas mentes primitivas. Esta droga, no sentido farmacológico, e não no
sentido policial e pejorativo do termo, para ficar bem claro, nos abre acesso direto a
essas mentes primitivas já referidas; hoje soterradas, digamos assim, pelo córtex
cerebral, o centro do “eu”. Sob efeito dela, em dado momento o “eu” sai de cena, perde
o controle, temporário da mente, permitindo assim, que esta se exteriorize produzindo
visões para si mesma como se fosse “lá fora”. Eis aí um “barato” de grande conteúdo
inconsciente e alto valor terapêutico psicossomático, ajudando a nos vermos como
realmente somos; um organismo vivo em delicada relação com seu meio ambiente e não
uma peça descartável nessa monstruosa máquina industrial-militar que nós mesmos
criamos e reproduzimos para nosso próprio pesadelo e sufoco através da história; um
inferno, diga-se de passagem, um verdadeiro inferno. A mente, ao produzir para si
mesma visões, faz com que o usuário-viajante sinta que o fato, a visão ou alucinação,
esteja mesmo ocorrendo “lá do lado de fora”, na realidade; o que amiúde traz aos
neófitos incômodas sensações de estarem loucos varridos, alguns jamais volta para
repetir a experiência. Pena, mas compreende-se. A associação do “efeito-barato” da
substância com conteúdos religiosos serve para dar um tipo de suporte-segurança, que,
sem isso, jamais os ditos “normais” contemporâneos se permitiriam usá-la, a maioria ao
menos. Só que essa associação prejudica bastante o melhor resultado ao se tomar essa
maravilha química, que é à busca de si mesmo, o autoconhecimento, em sua total
plenitude e conseqüência. No fundo parecemos como cães à procura de um dono. Valeu,
índio velho! Muito interessante essa tua tal de Ayahuasca.
Quando os instrumentos de produção de realidade-virtual estiverem bem
desenvolvidos poderemos “ver” e “sentir”, através desses aparelhos como os animais,
uma jibóia, por exemplo, vêem e sentem a realidade, o mundo que as rodeia; seria como
entrar nela, ser ela. Com ele poderemos entrar na pele de uma outra pessoa, um
conhecido ou conhecida e ser ele por momentos. Também, com essas jóias tecnológicas
nas mãos, poderemos vivenciar virtualmente, e melhor entendermos, como é o mundo
psicológico de um alcoólatra, de um deprimido ou fanático judeu ou muçulmano, etc,
etc, com vívidos efeitos positivos a uma profilaxia para a saúde psíquica do social, que
anda bem “mal das pernas” há alguns milênios, desde o VI milênio antes do mito
cristão.

139
É desde aí quando, então, começa o desenvolvimento da agricultura, da
utilização da força de trabalho escravo, do meio circulante (dinheiro), o aparecimento
das primeiras cidades, e das primeiras rotas de comércio. Data dessa época também, o
surgimento da linguagem escrita e da linguagem matemática e da religião
institucionalizada, eventos de primordial importância para a consolidação desse
emergente movimento social. Lento no início, logo toma vulto para perder ímpeto com o
advento do cristianismo e retornar seu crescimento, quando da perda da influência da
igreja católica a partir da primeira fase do capitalismo; o mercantilismo e o seu reflexo
na ideologia com o renascimento. E logo depois com a Revolução industrial, que trouxe
o começo da produção em cascata, que criou as condições, a base material para a
formação da sociedade de massas, dando a este um ímpeto nunca observado antes.
Agora cá estamos nós, seis mil anos depois, sessenta séculos passados; loucura
seguir em frente e impossível voltar atrás. “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho
come”, parece definir bem a situação reinante na sociedade global contemporânea
perante o problema que ela mesma criou para si; ao visar o lucro desmedido e sonhar
com a construção megalomaníaca de um sistema que espolia e barra o seguimento da
própria vida; que progresso comovente! O domínio técnico do fogo começou ha setenta
mil anos, setecentos séculos atrás. Hoje há fogo demais na atividade social; tudo aqui é
demais.- Apaga esse fogo, bicho; aonde ‘ce vai com tanta pressa? - Acorda, jacaré! Tua
lagoa vai já secar.
Vivemos através dos tempos com uma estimativa em torno de seis milhões de
anos, sessenta mil séculos, quando do aparecimento dos primeiros hominídeos – ainda
não homem, porém não mais um chipanzé – essa nossa atual forma e acabamento,
obtiveram há cento e cinqüenta mil anos, pouco tempo, a forma homo sapiens sapiens.
Este, ainda um simples caçador e coletor, mas já senhor sobre o meio ambiente; falava e
tinha inteligência, com o mesmo volume de cérebro e o mesmo esqueleto dos nossos
concidadãos planetários de hoje em dia. Vivíamos tranqüilos e felizes e sem dinheiro; e
sem frescura. Pois é, e só com esses míseros seis mil anos temos todo esse estrago e toda
essa violenta injustiça que, desde então, se desenrola aos nossos olhos secos e cansados
sôfregos por justiça e compaixão. Mas por todo o lado, só usura e sofreguidão aos luxos
glamurosos. Pois é, pois é...tsk, tsk, tsk.

140
A escravidão mudou sua forma, foram criados meios de torná-la menos evidente,
mascarada; mas continua aí, firme e forte. “As elites se elitizaram ainda mais; há pessoas
demais, pessoas para esbanjar. A desumanidade do homem para com o homem só fez
aumentar ainda mais em proporções horríveis e não para de aumentar”. - Desmond
Morris, autor do livro O Macaco Nu. Se o cristianismo ainda contém algum apelo hoje, é
porque era a religião dos escravos antigos, inventadas por eles e para eles, com o fim de
ajudá-los a suportar, e quem sabe acabar com o sufoco daquela inédita e horrível
condição; a de escravo. Com o fim de abafar a rebelião e obter a cooperação e a simpatia
dos dominados, o cristianismo veio a ser adotado pelas elites da época, a Roma imperial,
quando enfraquecidos por constantes ataques da periferia não subordinada. Ledo
engano, até hoje esperasse pela volta do Cristo para e terminar o serviço que ele não
pode terminar, pois foi crucificado, - não foi? É o que dizem; não estava lá, não vi – por
sua audácia de querer acabar com a escravidão, e de se meter em política. Pois é, se até
esse tal de Jesus não foi poupado, imagine o resto... Aliás, é bom que se diga, que a
crucificação não começou com o abstrato Jesus, nem terminou com ele. Quando vejo
uma imagem de um homem crucificado, em quadros ou escultura adornando ambientes,
sinto o grau de ameaça reinante na nossa sociedade, traduzida pela impossibilidade de se
manifestar sentimentos pelo outro. A “real” é que a besta-fera escravista, esse tão
procedimento digno da classe mais bem aquinhoada em cultura e religiosidade continua
aí à solta, firme que nem rocha, com conseqüências perigosíssimas para a atual psique
dessa coisa disforme e esquisita que somos todos nós, e que intitulamos de humanos.
Somos como um produto á venda, uma mercadoria com valor de mercado; todos com a
etiqueta com preço pendurado no pescoço, ou colada na testa; e rabinhos cotó abanando
para todo esse edifício técnico-científico-industrial-militar-religioso, ostentados como
símbolo de sabedoria e poder. Os cientistas e doutores de toda espécie são os
cachorrinhos de estimação amestrados e mais bem pagos entre a ralé, para consolidar,
legitimar e expandir o poder de quem manda; o chefe. Precisaríamos, mais que tudo,
muito mais que cientistas, profetas, sacerdotes, líderes políticos; precisaríamos de uma
mutação que rompesse a barreira do “eu”. A razão espúria, abominável, que legitima e
ancora essa monstruosa e escandalosa expropriação indébita humana e ambiental,
cansativamente já.

141
O “eu” não existe concretamente na natureza, é uma ilusão, ou artifício
conceitual de fundo econômico social; fruto da “consciência de si e da consciência
social, que se viu identificada pela sua própria prática de identificar as coisas e possuí-
las. O “eu” é somente uma idéia de cunho social e só tem realidade no mundo dos
conceitos e da cultura. -O animal, a máquina sensível de replicação dos gens, tem
ligação direta com o todo, vivem totalmente despersonalizados, sequer estão conscientes
de si mesmos; somente sentem. Tudo o que perdemos, eles mantém; a
despersonalização, e a manutenção do sentimento e a sensibilidade como eixo da sua
existência; aqui não estou me referindo e comparando os nossos valores de fundo
cultural, éticos e estéticos, para sentimento e sensibilidade, com os deles, somente
instintivos e inatos. Para termos razão e pensamento lógico, o limite da realidade da
evolução histórica concebida, não precisávamos necessariamente perder a nossa
sensibilidade de ligação natural com o todo ambiental, que outrora na fase que precedeu
a consciência e a razão, com certeza tivemos, é claro. Mas, poderemos recuperá-la,
somente quando conseguirmos entender na prática social, na experiência sensorial dos
estímulos externos ao corpo, que o que de fato ocorre conosco, e que nos impede de,
simplesmente, nos sentirmos assim como eles, os animais, de não sermos um corpo
separado, desligado da natureza, existindo independentemente de tudo, e do universo,
nada mais é, no final, que a personificação nos papeis sociais, baseados no princípio da
auto-identidade, em uma sociedade desigual e sôfrega por bens que confiram status,
prestígio, maior distinção, privilégios pessoais, destaques e diferenciação hierárquica,
em suma, poder econômico; que é o fulcro torpe da sociedade capitalista. (verde) Aquilo
que chamamos pessoa, ou melhor dizendo, o personagem social, de fato, sequer existe
realmente fora da cultura da produção social-material; é, por isso, somente uma
sinalização, uma convenção, ainda pouco eficaz, dado os conflitos gerados pelo seu uso
através da História. E bota conflito nisso. Os animais, em geral, são criados cada um
junto com a mãe até um certo período de tempo, para quando logo que possam dar conta
da sua própria vida, vão a luta, sem ter que cuidar da mãe, ou do pai, quando estes
envelhecerem. Sem ter que chorar a morte e a perda, ou a separação dos pais. Sorte
deles. Por isso devíamos, cada um de nós, dar mais valor ao outro do que a si próprio,
para poder melhor senti-lo, se somos todos um só ser, o mesmo ser; e o que é o ser,
senão a totalidade.
Por isso os animais não têm “eu”, ou um “eu sou”; têm identidade de grupo, se
reconhecem entre si, mas é bem diferente de ter uma auto-identidade individual, assim
como fazemos, assim é conosco; e eles viviam bem até que o desenvolvimento do
intelecto apareceu no mundo e se tornou o eixo da existência dos macacos pelados de
cabeça grande... O resto já sabemos. Estamos nos imolando em sacrifício ao Deus da
Razão abstrata; o “eu”, divino e maravilhoso “eu”. Eu, heim?!!! O que realmente somos,
junto com a água, a terra, as plantas, os animais e a luz? Sabemos? Julgamos saber, mas
que nada. Eu disse: Somos? - “e essa tragédia quer viver. Tanto amor que fere e cansa”.-
Cordel do Fogo Encantado
A real certeza que existe hoje é que estamos em rota de colisão com o futuro e
vamos naufragar. O nosso navio é pesado demais, um imenso Titanic com seis bilhões
de passageiros, com pequena margem de manobra para desvio de rota; portanto quanto
mais cedo for feita a manobra, mais chances haverá de impedir a catástrofe. O que está
por acontecer começa a acontecer agora, já está acontecendo.

142
Os sinais disso já são visíveis, presentes. Há sintomas de alteração do clima
trazidos pela poluição da atmosfera causada pela acumulação de CO2 (gás carbônico),
oriundos da queima do petróleo, da queima das florestas, e outras várias origens e causas
ou pela formação do metano de várias origens. Estes, e mais outros participam na
formação do efeito-estufa, que nada mais é que a capacidade do carbono refletir
radiações de calor vindo do Sol e absorvido pela mãe-Terra durante o dia, impedindo-o
de ser irradiado para o cosmo á noite. Criamos na atmosfera, com a nossa tão charmosa
sociedade industrial, uma espécie de membrana gasosa impermeável ao calor, feita desse
gás; quanto mais espessa a membrana, menos calor irradia para o cosmo; mais calor
concentra aqui no planeta com um efeito cumulativo permanente; o que, se não agirmos
logo, poderá nos ser fatal. Com a elevação da temperatura mais água evapora dos
oceanos, rios e vegetais; trazendo vendavais, inundações em baixas latitudes e
desertificação da zona tropical; há estudos dando somente dez anos para se extinguirem
quarenta por cento da flora amazônica. Na seqüência os oceanos subirão de nível, com o
derretimento das calotas polares tragando as cidades costeiras, expulsando para o
interior do continente, imenso contingentes populacionais, afetando drasticamente o que
restar de florestas, piorando ainda mais o quadro já pernicioso. Quem viver, verá? Seus
netos, bisnetos e tataranetos.
O problema envolve a vida de todos que ora habitam aqui no planeta-manicômio,
e principalmente, afeta a vida das futuras gerações; claro, A elite empresarial são os
maiores responsáveis, pois são os maiores consumidores de energia suja; e beneficiados
por isso. A América do “mal”, aquela do ‘tio patinhas’, o Tio Sam das patinhas sujas,
ainda se recusa a assinar o protocolo de Kyoto, idéia dos europeus que também não
resolve nada; que estipula apenas uma pequena redução de quinze por cento de emissão
na atmosfera em quinze anos; assim, os ricos um dia vão ter que comer o seu indigesto
dinheiro.
O que poderá vir a substituir a contento o petróleo como fonte de energia limpa e
renovável, e que apesar de serem ecologicamente sustentáveis, não são economicamente
viáveis ainda, por serem caras e de baixa potência, eis o problema? O álcool e outros
combustíveis de origem não fóssil têm problemas; são de baixa potência por isso
intensificam práticas agriculturáveis pouco recomendáveis, por serem extensivas e
competirem por espaço com as florestas; além de gerar um subproduto tóxico ao meio
ambiente em grande quantidade; o vinhoto.O hidrogênio detém todas boas
condicionantes, mas é perigoso; qualquer vazamento no tanque faz com que ele exploda,
devido ao contato com o oxigênio do ar. Seu uso implica em desafios tecnológicos que
vão demorar algumas décadas, em torno de cinco a dez, para o seu domínio seguro
completo e implantação. Haverá tempo?

143
A consciência de si social-conservadora criou para si, o conceito do “eu” como
algo separado, não fazendo parte da natureza, do todo; como uma natureza insensível à
vida e aprisionada em si mesma, e ainda obcecada em poder e riqueza. Até pouco tempo
atrás pensava não fazer parte do reino animal; pensava ser um reino separado; o reino de
deus, talvez. Divino ‘eu’ - Se tiveres, usa e ostenta; se não tens, tivesse. Humanos,
podemos falar e dizer; e eis como nos nomeamos, ainda inadequadamente, por certo. Do
hominídeo primitivo até o estágio de humanos – realmente – civilizados, que ainda,
óbvio, não alcançamos; haveria um estágio intermediário de transição no qual,
atualmente, estaríamos. Eis que ainda não somos humanos, ainda. Algo assim como pré-
humanos, não como um protótipo de uma idéia preconcebida, não sei onde, nem por
qem; mas como uma vertente em caminho de transformação, ou da auto-destruição, mais
propensos.
Nomeados, numerados, carimbados, ignorados e estupidificados, queremos todos
nos civilizar. Isso nos parece lógico, desejável e prudente. Aprendemos que não sabemos
ser-fazer mais de outro jeito; ou não queremos. Sim, da mesma maneira que os bichos
não podem viver como nós; nós não podemos mais, também, viver do jeito deles. Nossa
sociabilidade é, portanto, uma excentricidade adaptativa difícil de controlar e impossível
totalmente de se voltar totalmente atrás; até porque seria impossível a perda do intelecto,
sem a perda do corpo. Sem ele seríamos outra coisa; seríamos chipanzés de novo, se
fosse possível, tudo bem. Não sendo... A questão não é entre perdê-lo ou não; e sim,
entre aprendermos a usá-lo bem, adequadamente, a nosso favor; por uma perfeita
integração e harmonia com a natureza, com a vida; e, principalmente, de uma integração
real entre todos nós, bicho homem, pela resolução definitiva do conflito milenar pela
apropriação da riqueza de um jeito desequilibrado e autoritário injusto, para uma forma
social mais bem equilibrada e justa. Eis uma tarefa de peso, que não pode mais ser
postergada nem demorar muito.
Uma parte da biologia trata a história da evolução da vida, uma linda história; de
como os seres vivos se transformaram ao buscarem adaptar-se ao meio ambiente, através
dos tempos, contados em bilhões de anos. A mente racional, o intelecto, fato histórico
recente, em desenvolvimento ainda; nasceu da evolução do trabalho, e com ele cresceu;
um puxando o outro; liberada as mãos permitindo que fossem usadas como ferramentas
de preensão, desenvolvendo, aos poucos, a inteligência e a sua contínua utilização
revertendo em melhores ferramentas, que são como uma extensão artificial das mãos e
do cérebro; e assim, em mais inteligência, sucessivamente, até que a morte nos separe.
Antes, quando ainda vivíamos nas árvores, nossas mãos já tinham o polegar com o
movimento oposto aos outros dedos, fazendo uma espécie de pinça, de alicate de
pressão. Obtivemos isso quando agarrávamos fortemente os galhos, e neles pendurados,
em posição vertical, com ombros fortes, viajávamos pelas copas das árvores, de galho
em galho em busca de alimentos. Então, passo a passo, de modo lento, titubeante,
amedrontado e lento transformamo-nos, de bandos de primatas coletores de alimentos,
em falantes seres sociais, autoconscientes, já a caminho da auto-responsabilidade, ou
do... precipíiicioooooo.

144
Somos um processo em desenvolvimento aberto, não somos como somos; em
processo circular fechado, predeterminado a maneira dos animais, via genoma. Nossa
natureza é, notoriamente, livre, por isso revolucionária de conotação política, não
militar; exigindo sempre a superação das formas inoperantes e atrasadas do viver social,
de forma pacífica até, porque não? Até que num outro momento no tempo, essas novas
soluções já não solucionem mais nada e precisem ser banidas e substituídas por outras
melhores, pelas novas gerações em andamento. Eis que não somos o que somos;
estejamos conscientes de que estamos passando, só passando. Do passado para o futuro
passando pela janela do presente como se fosse um filme; uma cena depois da outra. Um
novo cenário. Viva o novo! Revolucionário novo! Mas o novo de verdade, sem
reedições.
A palavra, que tem um grande poder de sugestão, não é a coisa a que ela se
refere, sendo apenas vibração sonora levada pelo ar aos nossos sensíveis tímpanos que
complicadamente, a leva para dentro do nosso cérebro e lá e entendida e interpretada
segundo as regras previamente fixadas pela cultura em cada tempo, segundo os
conhecimentos adquiridos, de natureza histórica passageiro. Ora, pois, pois! Não somos
nada si mesmo; nada em especial e absoluto, permanentemente igual. Somos, fomos e
seremos, enquanto duremos, um processo aberto, em movimento; tipo a trajetória
parabólica de uma flecha lançada para o alto, com início, meio e fim; ascendente, auge e
descendente; momentos transitórios integrados no sentido para frente. Conscientizados
disso, realmente; deveríamos nos empenhar para que este, o abrangente processo da vida
não se interrompesse, não se fechasse prematuramente; ainda na fase ascendente; por
nossas desastradas tentativas de cristalizar, congelar, paralisar o movimento de mudança
permanente, característica do processo vivo. Atitutes expressas nas políticas
conservadoras, arraigadas ao mesmo, ao já conhecido, por uma falsa sensação de
segurança, que, aliás, burras e que não protegem nada, só empurra mais para o
precipício. Tudo aquilo que for contra o natural e inevitável é loucura; fruto da
ignorância; sim, mas loucura, de fato.
Somos a vida, em uma das suas variadíssimas manifestações; todas muito nobres,
de verdade, com certeza. Um dia, num tempo ainda muito distante, o universo vai se
fechar sobre si mesmo. Acabou? Não. Como uma bolinha que cresce de tamanho, fica
grande (expansão), e volta a ser bolinha (colapso), e acabar com a brincadeira por uma
eternidade de tempo, até que compressão e super aquecimento dos elementos
subatômicos chegue a um limite e exploda de novo; fase explosão-expansão, na qual nos
encontramos, e isso como se estivesse acontecendo pela primeira vez, onde tudo é novo,
de novo. Quanta eternidade de vezes, esse respirar-pulsar univérsico teria ocorrido?
Quantas vezes nesse estar (fase expansão) do universo terá a vida se manifestado? Tendo
se manifestado, ocorreu a consciência de si (presença do homem) em qualquer um
desses eventos? Perguntas que nunca obterão resposta devido à natureza da trama.
Explosão-expansão-colapso, a nova gênese. É necessária a consciência no decorrer do
processo de existência? Haveria necessidade da matéria, vaidosamente, olhar para si
mesma atravéz dos nossos olhos? Ou tudo não passa de um acidente?

145
Com as palavras também enganamos, e nos auto-enganamos, para o nosso
próprio conforto, na maioria das vezes. Podemos ver-nos hoje como realmente somos;
bonecos articulado, vivos; mas, basicamente bonecos. Que em vez de se dar corda ou
pôr baterias, dá-se alimento, comida, um tipo diferente de bateria química, devido à
natureza orgânica do dito cujo. Se, porém, sistematicamente, retirarmos a bateria, isto é,
se suprimirmos o alimento, o boneco para e quebra (morre). Usamos três baterias diárias
para nosso melhor funcionamento. Com qual finalidade? Para corrermos atrás de outras
para as nossas próximas necessidades, e a da nossa prole. Nesse ponto a vida parece um
vício. Diz-se que o boneco está tranqüilo quando já adquiriu, lícita ou ilicitamente,
patrimônio suficiente para se prover de ‘baterias’ para o resto da sua vida.
Nós, os bonecos inteligentes, esmagamo-nos uns aos outros com muita técnica e
competência, menos bocas pra comer, e sem dó, e sem nenhum sentimento de piedade; e
sabemos o que estamos fazendo, mas e daí? Quiçá, possamos um dia viver, nesse lindo
planetinha, palco da vida, sem traumas, dor e frustração; numa sociedade feita por todos
e para todos, sem sofismas. Como numa obra de Mozart, cheia de sentimentos.
Seres orgânicos, autoconscientes, com natureza criativa, não temos escapatória
fora da cultura; nossa concepção adaptativa. Sendo assim, o melhor seria capricharmos
mais e mais, com cada nova geração dando saltos qualitativos à frente; em direção à
sociedade humana cada vez mais realizada; meta fortalecida pelos fatos normais e
simples da vida em sociedade; tais como: amizade, cooperação e solidariedade,
principalmente ligada à justa distribuição da renda social gerada; e, finalmente, querer
para o outro, o que se quer para si mesmo
. O mecanismo sendo conhecido, a máquina é bem melhor operada. Os novos
conhecimentos sobre genética e inteligência artificial aplicados, revolucionarão
incrivelmente os conteúdos do nosso pacto social atual, por milênios, e não ficará “pedra
sobre pedra”.
Um mundo novo está em gestação; estamos vivendo o final de um longo e
desesperante ciclo já com seis mil anos de idade; e presenciando o trabalho de parto do
nascimento de um novo ciclo histórico; a placenta já rompeu. A pré-história ainda não
acabou, mas está no fim. O ser humano realizado ainda não apareceu; está próximo a
chegar, e com ele o advento da História, propriamente dita; a humanidade
verdadeiramente livre e unida, em atitude de respeito e amor à vida – não só a tua vida e
a dos seus parentes mais próximos, meu chapa! O novo ainda deverá vencer sérios
obstáculos e barreiras, como a força das tradições e costumes do movimento
descendente do velho ciclo que se acaba e que pode até impedir o seguimento para cima
do novo ciclo que nasce, ainda tenro e frágil, empurrando-o para baixo, bloqueando sua
passagem, puxando-o para o fim junto com ele; impedindo-o, no encontro entre os dois,
um nascendo, o outro desaparecendo, do novo seguir seu caminho; de seguir em frente,
de crescer e vigorar; visão de Franjop Capra, no seu livro: O Ponto de Mutação. Seu
advento deverá ainda vencer a profunda ilusão das convicções religiosas antigas e seus
mitos; Cristo, Maomé, Abrão, etc, e tal. “Não deixem que os mortos lhe governem” e
que os vivos lhes trapaceiem e enganem de todo modo.

146
Somos voltados à vida sócio-cooperativa, vivemos um longo processo
experimental-histórico de base conceitual, onde economia, política, religião, arte,
filosofia, etc. nos diferentes momentos de trajetória, somente refletem a busca da
acomodação e realização da nossa condição animal, como um organismo em busca de si
mesmo; tudo muito prático. Ainda que um dia, quando nos livrarmos do peso da
ignorância possamos redesenhar a nossa natureza, como um projeto de engenharia, o
fundamento orgânico é o limite, um suporte não cambiável para a vida. Aperfeiçoarmos
esse movimento em sólida base ética e estética é a nossa constante tarefa, e a única saída
sustentável; se houver tempo.
Dada as nossas passadas, e atuais, dificuldades, penso que ainda estamos na
infância da nossa espécie. Nossa destrutividade é bem uma mostra disso; assim como
nossa superficialidade e vaidade. Mas, a estação de uma real maturidade, de paz e amor,
está perto. Tomara! Precisamos globalizar mais e melhor; pois que nascemos todos na
mesma casa e descendemos todos de uma mesma família original africana.A sensação da
existência de Deus e do espírito, e da superioridade de raça é uma ilusão; semelhante à
antiga sensação ilusória de que o sol gira em torno da Terra e não o contrário. E isso não
é nada em si mesmo, mas como toda ilusão é perniciosa. E se até os animais
mentem...Um chipanzé, por exemplo, quando encontra um cacho de bananas, se ele
estiver fora do alcance da vista do grupo; o recolhe e esconde, depois volta para comer
sozinho. Não é que eu não acredite em Deus; eu não acredito que de fato ele exista; isso
porque eu também não acredito nos homens e nas suas conversas buscando desviar a
atenção de onde estão escondidos os cachos de banana.

147
- Por favor, sr. Bilheteiro do futuro; uma passagem para o futuro. Como? Não
tem? ‘Tá bom, amanhã eu volto. - “Para frente e para o alto” pequeno bicho-homem. E
nem olhe para trás, coragem! Esqueça o que passou esquecer é perdoar. Ainda pode dar
tudo certo. O tempo da frustração e da repressão vai acabar; não é isso que você também
quer? Então, seres orgânicos, vamos trabalhar pela revolta e pela desobediência civil.
Talvez isso possa ajudar a nos salvarmos da destruição total.
Tra, lá, lá, lá, lá, lá, lá!!!!! Por enquanto estamos dormindo acordados, como
que hipnotizados; mas precisamos todos acordar; já é hora, o sol já está a pino!

E V O L U Ç Ã O.
O sistema de funcionamento do DNA permite erros na cópia da seqüência de
genes; o que significa dizer que permite alteração, de todo tipo, no organismo vivo. Fato
curioso que ocorre no íntimo da célula e nos possibilita compreender todo o processo do
desenrolar da vida em seus diversos recortes, em suas diferentes figurações. As
alterações genéticas podem produzir um resultado positivo ou negativo, segundo a
capacidade de adaptação e resolução perante aos desafios e obstáculos imposto pelo
meio circundante. Para o organismo, para a máquina orgânica a modificação pode ajudar
ou atrapalhar; se ajudar, triunfará e seus descentes se tornarão, aos poucos, a totalidade
daquela linhagem. Se atrapalhar, desaparece.
Por isso, se pensar em algum plano pré-estabelecido, conduzindo a evolução até
a chegada dos homens; ou tendo como fim preparar terreno para a sua chegada, seu
aparecimento, é pura fantasia; demasiadamente humana, aliás. Nenhum plano, nenhuma
finalidade, porque sim! Tudo acontecendo, somente acontecendo ao sabor do acaso e da
necessidade; de forma oportuna, ocasional e circunstancial através do tempo. Devido a
incrível espessura de tempo transcorrido entre as suas pontas; da origem da vida aos dias
de hoje, contada em três bilhões e meio de anos, as mudanças se avolumaram e
diversificaram-se consideravelmente. Produzindo máquinas maravilhosas, espantosas,
cuja inteligência funcional dão um show de genialidade e imaginação. Tempo e
circunstâncias casuais e necessárias para o desenvolvimento, do simples ao complexo na
vida é a razão-de-ser de tudo, sem apelação. Ouve-se dizer hoje, vindo dos meios
científicos, que somos os seres superiores, mais complexos do reino. Isso só por causa
do desenvolvimento avantajado dos nossos cérebros, quase uma aberração; e das
conseqüentes funções cognitivas que podemos realizar, com toda química fina que está
por trás disso; podemos sim, só nós podemos. Mas afirmar isso é super privilegiar um
aspecto da natureza; o pensamento reflexivo; claro, dado a sua originalidade. Mas o
intuito disso é somente buscar afirmar um estatuto especial para o homem, na natureza,
como o se representasse a encarnação de Deus todo-poderoso, somos filhos dele aqui na
Terra - não sou dono do mundo, mas sou filho do dono.; pura auto idolatria, mas
totalmente desfocada dos reais problemas que estamos protagonizando no seio da
natureza, da vida. E o pior é detectar essa babaquice vir dos mais laureados símbolos do
pensamento científico dos nossos mentirosos, miseráveis e mulambentos dias de hoje.

148
Eis nós, hoje, dotados de inteligência reflexiva, capaz de nos autoconhecer e
próximos de adquirir inteligência artificial; e de posse do livro da vida, a genética, ainda
que lendo as primeiras páginas somente. Poderemos, de posse dos conhecimentos e
técnicas adquiridas, e a serem adquiridas intervir no processo, direcionando a evolução.
Sim; mas claro, só depois que solucionarmos nossas atuais dificuldades egóicas de
relacionamento social, de conteúdo político-econõmico, que nos torna todos estranhos e
inimigos uns dos outros; nos torna iludidos quanto a nossa real natureza; que nos impede
de sermos somente seres naturais, interdependentes e dependentes do meio-ambiente, e
nada mais, mais nada; sem nenhuma necessidade de mais uma de heroína pra fazer parar
a dor de existir. Aliás, ilusão é ainda o que mais nos influencia, ainda hoje; apesar do
pensamento reflexivo e da sua obra magna, a ciência, que na verdade é recém nascida, o
que não lhe deprecia. Somente há muito que fazer e a crescer; crescer em sentimento,
quero dizer.
Esta é, nos nossos dias, política de bom cunho evolucionário e revolucionário,
ainda que gradual e lenta, que pode vir a ajudar a livrar-nos das ilusões tolas; criadas
pelos costumes e tradições através dos remotos tempos; fazendo como que uma
profunda limpeza nas nossas mentes dos preconceitos. Uma limpeza dos preconceitos,
superstições e quejandos, inculcados a força, a ferro e a fogo, em nome dos bons
princípios; cruzes. Em nome dos mais altos valores – valores, o que é isso? São
históricos, criticáveis, ou eternos? Mas tudo acontece; demora um pouco, mas acaba
acontecendo. Esperar é preciso, viver não é preciso.
Não espero viver e ver esse tempo chegar. Pena, que pena! Mas já posso sentir o
bafo gostoso do seu hálito trazido pelos ventos dos tempos que virão. Não se trata de
“orar e vigiar”, como dizia um antigo tradicionalista iludido, e iludindo; mas trata-se
cuidar e trabalhar; trabalhar e viver sem medo de morrer. A morte não passa de uma
ilusão, não que exista algum paraíso cheio de virgens peladas te esperando, é que o
morto não existe para o morto, e ela vem para apagar a tua existência como se ela nunca
tivesse existido, como se você nunca tivesse nascido; então, ter medo porque? Porque te
ensinaram, adestraram a isso? Para que esse futuro promissor não aborte, e um outro
pesadelo qualquer, pior do que esse que vivemos, venha a introduzir-se em seu lugar, por
isso é preciso vigiar. O que seria isso? O totalitarismo do “grande irmão” do Orson
Welles, por exemplo; ou do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Pesadelos são
coisas que acontecem, por isso vigiemos e vigiemos. E para isso ser possível quanto
maior a transparência, mais eficaz a vigilância. - Sorria, só estou te vigiando. Certo,
cretino? Todo mundo é suspeito, até prova ao contrário.

V I D A, UM M E C A N I S M O.
A vida, um acidente casual, que ocorre neste planeta, é um mecanismo; ainda que
incrivelmente delicado e sutil, de assombrosa e desconcertante engenhosidade, é
somente um mecanismo. Movido e obtido a energia solar, refrigerado e lubrificado a
água, se autoproduz, autoreproduz e autoconserta. Mas o que é isso? O que isso implica?
O que é a vida?

149
Há três bilhões e meio de anos isso acontece. Mecanismos capazes de, coçando o
côco, se perguntar, e procurar uma resposta, o fizeram há aproximadamente setenta mil
anos; como não podia deixar de ser, de forma rudimentar, mágica e fantasiosa. Somente
há uns cinco poucos séculos atrás, com o início do declíneo da influência perniciosa da
santa sé; a partir do esforço coletivo de alguns dentre esses, a pesquisa começou a tomar
um rumo satisfatório e vem ganhando volume rapidamente, principalmente nos últimos
cinqüenta anos com o apoio da genética e da biologia molecular; mas ainda insuficiente,
nos nossos dias, que nos permita até afirmar, categoricamente, o que é a vida, ou do que
isso realmente se trata. Ora, se ela for, como parece ser, um evento casual, diremos
então, oportunamente e sem sobra de dúvidas, que ela não tem explicação; não podendo
ser explicada ou interpretada nos marcos do saber tradicional filosófico idealista-
finalista, que tem que buscar causas finais ou finalidades, destino de fundo metafísico.
Se ela é realmente produto do acaso, não pode ser explicada; pois o acaso não cabe em
nenhuma ordem de leis e propósitos previsíveis pré-concebidos. O acaso ocorre sob
determinada circunstâncias objetivas, criando outras em conseqüência; estas sim podem
ser estudadas e circunscritas em eventos previsíveis.
Se foi realmente um acaso que a engendrou; por outro acaso poderia não ter sido
engendrada, pois não haveria nenhuma necessidade que determinasse a existência da
vida. A não ser que houvesse algum grande poder metafísico que a reclamasse, tipo -
Faça-se a vida - uma mágica e tanto, mas que não explica nada, porque não é coerente
com a seqüência dos acontecimentos. A vida é, existe. Por acaso, acontece, e não por
acaso, mas necessariamente precisamos deixá-la acontecer, fluir. Permite apenas, ser
vivida, compreendida em sua fugaz essência passageira; porém nunca definitivamente
explicada, muito menos possuída. Não tenho vida, sou vida; não tenho um corpo, sou
um corpo; não perco a vida, morro; não tenho sentimentos, sinto.
As aparências são forte fonte de ilusões, e quanto a isso precisamos desconfiar,
por via de regra e duvidar sempre; deixar de lado a credulidade ingênua que não tem
coragem de protestar; dizer que não entendeu a explicação por força de qualquer
questão; e parar de depositar confiança cega em quem não enxerga suas próprias ilusões.
Até que as lacunas existentes do nosso conhecimento sejam preenchidas e se possam
estabelecer princípios e métodos de compreensão da realidade que nos conduza a
resultados satisfatórios e, principalmente, estáveis, duráveis, sustentáveis. E porque
não?!
O grande Sol é uma estrela pequenina, de quinta categoria em ordem de
grandeza; tem longa vida e queima seu combustível de forma lenta e estável; assim
permitiu que houvesse tempo para que a vida na Terra aparecesse, crescesse e
prosperasse sob a sua luz, o seu calor; alimentada pela sua energia. O Sol é o nosso
supremo criador. Estudos recentes da área afirmam ser pouco numerosa estrelas desse
tipo. Somando esse fato a outros como: à distância da Terra em relação a ele, situada em
uma faixa de distância intermediária, nem muito perto, nem muito longe; assim como a
existência de bastante água aqui, vindo a formar os rios e os oceanos; como a
fundamental presença do dióxido de carbono, em quantidade adequada; e outros tantos
fatores observados depois na própria história da Terra e da sua origem, permite nos
considerar que o mecanismo vivo complexo tratar-se de um evento raríssimo em todo o
universo, senão único. Estamos sós no Universo, e porque não? Aliás, responder isso
agora nos ajudaria em quê?

150
Muito mais ainda, vida no estágio de desenvolvimento que aqui verificamos,
traçando um longo percurso de três bilhões e meio de anos, recheado de eventos
meramente casuais, de nenhuma previsibilidade, mas de grande significado no processo
como um todo, por exemplo: ausência de oxigênio na atmosfera primitiva, o que
permitiu a formação de compostos orgânicos pela ação da intensa exposição da radiação
da luz ultravioleta; idades do gelo, colisões de asteróides; deriva de continentes;
variações climáticas; e outros.
Construímos com a nossa irrisória inteligência, máquinas mecânicas que até
consideramos complexas e engenhosas, mas que comparadas com o mecanismo vivo,
não passam de brinquedo de criança. Este sim possui um projeto auto criado, super-hiper
elaborado, desenvolvido e experimentado no decorrer longo e lento do tempo, contado
em bilhões de anos a que damos o nome de evolução e é só em quem podemos confiar, e
exatamente por não terem um eu, nós, que o temos, podemos as controlar; e
machucar...e...e...e...e...e...e...e...e...Chega!
A nossa tão recente razão, imatura ainda, cujo aparecimento se conta em poucos
milhares de anos, sem as ferramentas de estudo ainda não existentes em épocas
passadas, necessárias, se desconcerta ao tentar apreendê-la, decifrá-la. O pensamento
mítico, pré-pensamento, entra por essa porta. Por não possuir informações adequadas e
necessárias sobre a vida e a sua natureza, engendra uma fantasia como resposta; cria
uma ficção, como que para preencher um vazio; a completa ignorância sobre o dito
mecanismo vivo patente entre os nossos antepassados; e daí não passa, e parece nem
querer. Enquanto isso o mecanismo acontece diante dos nossos empoeirados olhos;
voando, nadando, rastejando, saltando, ‘caminhando contra o vento’ e...Nada. Nenhuma
ligação, nenhum entendimento, nenhum futuro; é o que parece.

151
Somos todos o um, em um; a unidade, ou formadores de uma totalidade. Cada
um - o indívíduo, a menor parcela da manifestação da totalidade num nível menor de
organização – dos diversos tipos de mecanismo interpenetrados, formando um
mecanismo maior, conhecido como ecossistema biológico, sobre um suporte mineral e
gasoso. Nenhum sendo mais, nem menos, nem melhor do que o outro; nem mais
importante; quem gosta de se comparar são as crianças, que vivem brincando,
experimentando o mundo dos adultos, antes de se tornarem um deles. Os vegetais,
comparativamente mais simples, sem sistema nervoso, no entanto são a base de
sustentação de tudo enquanto vive. Os outros, todos os outros gêneros, direta ou
indiretamente, à parasitam; exceto algumas bactérias, pois que estas os precederam e
lhes deram origem, por também serem capazes de retirarem seu alimento dos gases e da
água, usando a luz do sol para isso.
O desaparecimento de uma espécie, um tipo variado de mecanismo, empobrece, reduz
a totalidade; pois que, aquela inteligência funcional-adaptativa; aquela engenhosidade ao
desaparecer se perde para sempre. O que dizer do desaparecimento acelerado de diversas
espécies vivas, vegetais e animais; e da ameaça de extinção de várias outras, que está
ocorrendo hoje, e que vem ocorrendo há muito, por responsabilidade daquele que seria o
único que não poderia fazê-lo, porque tem meios de contornar o problema da sua
sobrevivência melhor do que todos os outros: o sabido homem; se não fosse a sua cruel
ignorância e dessensibilização, sintomática de um sistema material de produção de
riqueza; a custa de não poder sentir nada emocionalmente profundo e real. Um animal
engendrado pela vida, agora a ameaça. Fanáticos pela própria imagem refletida na
consciência iludida, fantasiosa, narcisista e autoritária; tem ainda tempo de mudar e
crescer expandindo essa limitada e egóica consciência individual, evitando com isso a
própria extinção, que, aliás, já está batendo à nossa porta. Agora - quem sabe teremos
mais juízo e menos fantasia ególatra? - resolvamos revolucionar essa cultura de avidez
individualista e conflituosa e queiramos reduzir nossos inchados egos a um tamanho
mínimo necessário, para efeitos práticos de auto-reconhecimento, mesmo assim sabendo
isso ser somente uma convenção, uma sinalização; e nada mais que isso.Quem sabe?

152
Nem tudo tem explicação, nem tudo cabe nos quadros da nossa mente racional,
pequena, que a tudo busca explicar. Não que alguma coisa, ou algo, seja insondável,
impenetrável ao pensamento. Nada disso. Somente, sendo casual, um mero acaso sem
finalidade e sem propósito algum, somente é. E é porque é assim; casualmente. Ainda
que isso assim não exclua inferência às suas conclusões e conseqüências. A mente
racional, um fato histórico biológico-evolutivo recente, que se racionalizou na busca das
relações de causa e efeito, quer que todo efeito tenha uma causa, e depois, busca
entender a causa da causa, numa longa extensa corrente. Um velho hábito social. Nela, o
acaso não existe; não tem lugar para ele. Como se diz por aí, com respeitosos ares de
sabedorias esotéricas proferidas com a boca cheia de dentes bem escovados: nada é por
acaso. Quando dizemos que algo importante aconteceu por acaso, o universo, por
exemplo; isso não quer dizer que, ele se instalando, não seja regido por leis especificas,
segundo a sua própria natureza que não possam ser conhecidas. NÓS, os animais
racionais, mais animal que racional, ainda bem, nos envaidecemos da nossa condição
única no planeta. Tola vaidade; isso deveria mais ser um motivo de pesar do que outra
coisa. Somos os únicos animais que sabe que vai morrer um dia, morrer é natural, mais
saber antecipadamente angustia e machuca. Além disso, estamos vivendo sempre, ou no
momento futuro, ou no momento passado e quase nunca sensibilizado no momento
presente, aqui e agora. Isso pode e deverá mudar desde hoje. A razão, ou consciência
reflexiva, no mínimo aumenta, e muito, a responsabilidade da nossa presença aqui;
aquilo que os antigos quiseram interpretar como a luta do ‘bem’ e do ‘mal’; pode ser
visto também como: quanto mais responsabilidade, maior o ‘bem’; e, quanto menos
responsabilidade maior o ‘mal’. Só que os antigos ignoravam serem estes dois
acontecimentos resultantes, não causadores; mas um efeito em direta relação com a ação
coletiva, social produtiva da sua subsistência, um efeito da luta do animal pela sua
sobrevivência, em primeiro lugar,e da permanência do social estabelecido segundo
propósitos pré-estabelecidos, em segundo. O bem e o mal não existem em si mesmo, ou
por si mesmo, em algum local fora do homem e seus sentimentos; são efeitos da nossa
total responsabilidade, ou irresponsabilidade naquilo que está fazendo,
inconseqüentemente ou não, moldado por planos de ocasião dado sermos
autoconsciência no mundo dos espíritos - de qual espírito se fala, o de verdade, a
intuição, ou o inventado, cheios de idéias, algumas boas, outras más, imprestáveis? Nem
sequer também existe dentro de cada um, de mim ou de você, como uma coisa guardada,
oculta em algum lugar do nosso cérebro, ou nos corações como um mago dentro de uma
garrafa; são efeitos, causados por relações de fundo social econômico material, bem, ou
mal, resolvidas.

153
Podemos explicar e entender os mecanismos de funcionamento da vida; porém
definir porquê ela existe, não podemos; se não existir nenhum porque, porque não existe
nenhum porque nisso. E a única resposta é: sem porquê, ou como quiser; por acaso,
casualmente. Isso incomoda muita ‘gente boa’, cheia de sentimentos nobres e boas
intenções, arraigados as suas crises de ilusões criacionista; mas o que fazer? Um dia eles
morrerão, outros com melhor oportunidade de tirar o véu, virão. Pena pra eles! O tempo
dará jeito nisso, vencerá a ilusão. Quanto tempo? No presente corremos um grande
perigo ao nos iludirmos com boa fé e não reconhecermos o grande impacto que a nossa
presença, com toda a razão a que temos direito, a razão despida de sentimento do outro,
está trazendo a continuidade e permanência da biodiversidade vegetal e animal, no final
das contas a nós mesmos. Não compreendemos e respeitamos a nossa posição relativa e
dependente perante a natureza do meio, com seus mecanismos de conservação e
reciclagem que nos atravessa. Agimos levianamente como se não fizéssemos parte dele,
e, no fundo como se estivéssemos negando a nós mesmos; como se não fossemos
realmente ele também. A que atribuir a isso? A tribo cresceu demais? Seria por causa da
lógica econômica vigente baseada na exploração do trabalho, na ganância e vaidade; e
no incentivo ao consumo da produção sempre crescente, para uma população também
sempre crescente, e da acumulação de riqueza também sempre crescente? Cabe
perguntar; o que vale a razão, em meio a tantos desatinos no qual nos chafurdamos? -
Quando falamos de razão, com que razão se fala? Desde a chegada dos senhores
autoritários, cruéis carniceiros e preguiçosos, característico em todas as épocas, ponto
pra eles, mais ainda os atuais, o desenvolvimento da razão se acelerou por causa da
inédita acumulação de riqueza e poder gerada a custa de guerra freqüentes de dominação
e conquista. Com eles, aparece a casta de privilegiados, agora desobrigados de trabalhar
e prover seu próprio sustento, sobrando-lhes tempo e dinheiro suficiente para formar
quadros de funcionários subalternos com a incumbência de somente se dedicarem a
tarefas especulativas de toda natureza, que contribuísse a administração, controle e
crescimento da riqueza do Senhor, os daqui da Terra. Logo os primeiros sinais
simbólicos da escrita e da matemática úteis na escrituração e contabilização da riqueza
dos senhores apareceriam. Nesse tempo trabalhar era considerada atividade inferior,
própria de gente inferior. Não mudou muito.
Por certo a maior indignidade histórica, foi à aceitação ao rebaixamento a
condição de escravos em troca da vida. A chave para a compreensão do escravo é
psicológica, e é baseada no medo da morte e da dor, cujas fantasias correspondentes
causam o acovardamento e a submissão. Diz o senhor, mostrando a arma: - Você me
aceita como seu dono e senhor e eu não te mato, poupo sua vida. No que o escravo para
não morrer, topa. Não deixa de haver uma cumplicidade aí. Essa depravação degradante
para ambas as partes, que antes nunca havia ocorrido, uma espécie de canibalismo
social, e de homosexualismo começa aos poucos, e logo se constitui em uma praga
generalizada; cuja lógica nunca, até os nossos dias, foi superada, e sua essência nunca
modificada; ainda que um pouco melhor administrada com a chegada do capitalismo e
seus artigos de baixo custo, a partir do século XVII.

154
Houve um povo seminômade, os mongóis, que se dispuseram a destruir os povos
sedentários, por acharem inferior e degradante esse novo modo de vida, sempre nos
mesmos lugares fedorentos; sujando tudo com os seus excrementos. Não faziam
prisioneiros; para quê? Se eles não escravizavam, porque não eram sedentários
agricultores, preferiam matar a todos e exterminar a erva daninha da face da Terra.
Foram chamados de flagelo de deus, injustamente; implantaram o terror de verdade nas
hostes urbanas, justamente. Pena que não venceram, pena mesmo. Mesmo assim fizeram
muito, pois com o movimento de suas hordas acelerou a desagregação do vampiresco
império romano. Mas a erva daninha já estava bastante disseminada e ao não houve
jeito. Um novo poder tomou o lugar dos senhores romanos; agora expandido aos
senhores de toda a Europa, organizados pela igreja católica romana.Vieram a reinar
absolutos durante infindáveis mil anos, baseados na mesma sujeição do trabalho servil
através da violência física e moral. Até que a revolução francesa dos capitalistas, os
novos nobres, pois um fim ao desmando dos padres e da cruel nobreza; nobreza, pois
sim... Mas logo outro poder econômico se constitui, outros vampiros chupadores de
sangue roubam a cena, o dos empresários. Mas os sonhos bons não morrem, podem até
ser postergado por muito tempo, mas não morrem. Cento e cinqüenta anos depois a
revolução socialista russa levanta a cabecinha fora de hora, sonhou e nova frustração.
Mas a História não para aí e os sonhos de libertação não acabam, nem morrem, enquanto
estiverem presentes aquilo que os fazem necessários; a dominação e a violência. Somos
a liberdade, acima do estabelecido e do prevalecido.
Uma nova revolução, dessa vez pra valer, está se operando lentamente,
silenciosamente, como tem que ser, no ‘ventre da besta’ capitalista; através da
implementação, lenta e gradual de novas tecnologias inteligentes em todos os setores
produtivos e de serviços, que progressivamente virão subistituir a máquina humana
nessas tarefas. Antecipando os passos da maior revolução já produzida no seio da
sociedade humana; ao fechar um ciclo de histórico de grande progresso material técnico
cientifico, mas de pouco, ou quase nenhum desenvolvimento humano afetivo-
sentimental; pena, que pena! Para a sua total implementação, devido ao grande impacto,
por sua própria natureza de inteligência social, que causará, uma nova forma de
propriedade jurídica da fonte de toda riqueza, os meios de produção, a forma coletiva, ou
socializada, terá que aparecer em substituição a essa que aí está, privada ou individual,
dado a sua incompatibilidade com essas novas e revolucionárias tecnologias. Com a
obtenção de máquinas escravas inteligentes capazes de aprender fecharemos um longo
ciclo de sacrifico, sofrimento e dor e poderemos nos libertar, final e definitivamente da
escravidão e da frustração. Nenhum animal trabalha no sentido de acumular riqueza; pra
quê? E, quanto a nós, porque o fazemos? A elite se permite não trabalhar, não está
errado; o problema é por quê só ela tem esse poder que lhe garante esse direito; como se
um verme fosse, tipo uma giárdia fosse, que no intestino se instala a nos sugar a seiva da
nossa vida.
Nesse momento, desde então, se colocará a razão no seu devido lugar, qual seja: uma
ferramenta a serviço da natureza, isto é, do amor, a fertilidade; e não da destrutividade.
Q U E M T E M R A Z Ã O?

155
A maioria absoluta das pessoas acredita que a razão e, ou a inteligência, é um
dom divino, dado por Deus, o absoluto. Mas, meus caros, isso é tão antigo... Hoje
sabemos que ela, a razão, o pensamento reflexivo, é um reflexo, um resultado da
mutação do chipanzé para a forma humana, dado aumento do cérebro, mais
especificamente; num longo processo transformista transcorrido por pelo menos sete
milhões de anos. Este processo transformista vindo a ocorrer de maneira lenta e gradual;
passo a passo, uma mudança levando à outra, e a outra, até chegarmos a nossa atual
forma de desenvolvimento. Claro, sem lembrarmos do ocorrido.
A maioria absoluta das pessoas acredita que a razão e, ou a inteligência, é um
dom divino, dado por Deus, o absoluto. Mas, meus caros, isso é tão antigo... Hoje
sabemos que ela, a razão, o pensamento reflexivo, é um reflexo, um resultado da
mutação do chipanzé para a forma humana, o aumento do cérebro, mais
especificamente; num longo processo transformista transcorrido por pelo menos sete
milhões de anos. Este processo transformista ocorre de maneira lenta e gradual; passo a
passo, uma mudança levando à outra, e a outra, até chegarmos a nossa atual forma de
desenvolvimento. Claro, sem lembrarmos do ocorrido.
Ao se crer que sempre fomos esse ser com essa nossa forma atual com esse
tamanho de cérebro, desde sempre; deixamos de entender melhor o que realmente somos
e o que se passa conosco, e como mudar, se necessário fosse. Nos enganamos a nosso
próprio respeito, com conseqüências graves para a qualidade das nossas vidas no
passado, no presente, e para a segurança das vidas dos nossos descendentes, no futuro.
Assim, desse modo, haja visto, pouco fazemos para desenvolvermos nossa inteligência
intuitiva. A única saída desse labirinto de problemas em que nos metemos, e que a cada
dia que passa cresce cada vez mais, e mais, e mais... Onde vamos parar? Paranóias de
lado, talvez esse seja o modo pelo qual, finalmente, aprenderemos a lidar conosco, com
a nossa própria realidade; pelo choque, pelo sofrimento, pela tragédia, pela dor física e
psicológica. Não temos problema, somos o problema. E temos que aprender a trabalhar
isso como forma de nos salvarmos a nós próprios de nós mesmos; e não temos, ainda,
nem sequer uma visão clara do momento, do baita problema que criamos. Somos
criativos mesmo, não dúvida.
O A C A S O E O T E M P O.
O movimento de transformação dos organismos vivos não foi do inferior ao
superior (bactérias unicelulares aos mamíferos) em um movimento ascendente, de
caráter evolutivo, sendo o homem (presunçoso-falante-macaco-pelado-de-pau-grande) o
ápice da trajetória, tendo no pensamento racional (leia-se: ciência) sua jóia máxima;
mas, sim, do simples, pouco estruturado, bactérias por exemplo, ao complexo, muito
estruturado, mamíferos, os mamíferos pensantes, em especial. Essa pequena modificação
permitiria enxergar os fatos sem os óculos escuros dos juízos de valor: inferior x
superior, pior x melhor, bom (eu) x mau (o outro).

156
Toda a diversidade da vida, desde que apareceu, obedece a leis físico-químico de
transformação da energia, pura e simplesmente. Onde o Sol, nosso querido Sol, que todo
dia não nos falha, uma estrela de meia idade, fornece noventa e seis por cento das
necessidades calóricas requeridas; o restante sendo obtido quimicamente dos elementos
atômicos, oxigênio, carbono, nitrogênio, hidrogênio, principalmente. Todos gerados pela
transformação, em processo, da energia primordial, Ilém, em matéria. Todos, tu, eu, a
vida, e a matéria, tudo é energia, em última instância, uma forma da sua manifestação;
tudo o que vemos e tocamos. Que o processo da vida se manifeste do simples ao
complexo não é nada surpreendente. Isso se deu também com a matéria. Os átomos,
segundo a forma da ligação dos seus elementos subatômicos, foram se formando e
diversificando suas propriedades químicas pela variação de calor e pressão dentro das
supernovas, estrela de primeira grandeza de ‘vida’ curta que explode ao envelhecer e
lança no espaço grande quantidade de matéria; e átomos que constituem, nesse
momento, os elementos atômicos constituintes do teu corpo, meu camarada, foram
formados em uma dessas, um dia, no passado. Dá pra acreditar? Pois é, dá. Dentre esses,
para a nossa alegria de existir, o mais importante, trata-se do carbono, por ser o principal
formador constitutivo, em grau quantitativo, do organismo vivo. Verifica-se o fato
visualmente, ao observarmos um corpo eletrocutado com grande evaporação de água,
deixando visível o carbono, da cor preta de grafite.
A maravilhosa, porque não dizer também, e milagrosa – ora não sabemos nem o
que é a vida, muito menos o que é o milagre; só apostaria nisso, se pudesse ter como
comprovar, que eles nada tem a ver com o mudo místico-metafísico – fato muitíííísimo
especial, que veio a ocorrer muito depois, no tempo de uns treze bilhões de anos-data,
desde a formação do universo ao aparecimento da vida, e em condições
especialíííísimas; podendo-se dizer, não surpreendidos aqueles que advogam a tese de ter
a Terra sido palco de sua única manifestação da vida na forma complexa, e mais difícil
ainda com consciência da sua existência. Estamos sós no universo, mas isso não é nada
importante agora, já que nem sequer compreendemos, amamos, preservamos e
respeitamos a vida, nem aqui mesmo, onde moramos.
A transformação de energia em matéria, ou condensação e diversificação, ou
condensação e diversificação, hoje é vista pela física das partículas subatômicas com um
fato verificável, podendo-se dizer que a matéria é uma, ela mesma, aparência, não existe
como a sentimos. Como que se o que é, não fosse. No final do microcosmo não existe a
partícula, ela desaparece e dá presença à existência da vibração, um sinal energético,
capaz de ser transformado em sinal luminoso, se houvesse suficiente tecnologia já
disponível para realizá-lo.

157
Dizer-se que o réptil é um organismo superior ao peixe, por exemplo, por ser um
organismo com um nível de organização mais complexo, é uma ilusão; por não
considerar as condições casuais em que a transformação aconteceu. Ao se falar em
evolução, ou, transformação evolutiva, a impressão que se tem à primeira vista, é que a
vida marinha, no caso, não estivesse, de alguma maneira, satisfeita ou bem acomodada
no mar, imagina. E que, por excesso de concorrência, ou talvez porque, por isso,
desejasse migrar para outros espaços mais amplos e generosos, então, estabelecessem, os
mais aptos, estratégias para lograr alcançar feito tão arrojado.Considerando o caráter
tosco do sistema nervoso do peixe, rudimentar; aliás, uma de suas primeiras aparições
nos corpos dos organismos vivos, é muitíssimo improvável que a ardência e secura
interna produzida nele pelo oxigênio livre na atmosfera, que o calor excessivo do sol
direto sobre ele, a secura do ambiente terrestre, o peso maior da pressão atmosférica sem
o amortecimento da água, os atraísse de alguma forma, para lá pra fora. Certo, algum
acidente casual, alguma variação de condições ambientais somados a algum fator
fisiológico favorável a nova adaptação cujo movimento transformista explicar-se-ia pelo
seu detalhamento que logrou realizar. O tempo, o acaso e a necessidade são os
verdadeiros e únicos fatores possíveis de se imaginar, sem costurar mentiras e misérias
intelectuais criacionista em seus vôos rasantes de urubu farejando carniça, como sendo
os possíveis motores de desenvolvimento do processo de tudo que existe aqui, e de tudo
o quê de forma particular nos diz respeito quanto àquilo que de fato interessa e procede,
de alguma forma espontânea, acreditar. E assim é que é; é o samba, é o samba, é o
samba na ponta do pé. “O homem faz seu caminho ao (querer) andar”, quer dizer, não há
caminhos de prévios traçados. O traçado da bala fumaçante já atende a um desejo de
uma direção certeira que no caminho já cheira ao tão perfumoso sangue.

INTELIGÊNCIA
Associar ou relacionar as visões místicas naturais ocorridas espontaneamente no
passado; graças a uma constituição química do cérebro dos antigos, diferente da atual, é
possível. Fato que se explica pela ausência da influência da cultura tecno-industrial-
cientifica atual no mínimo, exigindo deles menor esforço conceitual-intelectivo;
conseqüentemente menos serotonina, substância neurotransmissor, produzida e usada no
nosso organismo, para, entre outras finalidades, inibir ou bloquear as visões
alucinatórias. A nossa cultura foi que a alterou essa química trazendo-nos preso às
tarefas repetitivas, maquinais com a maior disciplina. O homem imitando a máquina
Já o homem primitivo antigo, de mais de cento e cinqüenta mil anos,
diferentemente, era visionário, por excelência; possuía essa faculdade por estar ainda
fortemente inclinado, ou ainda próximo, a vida instintiva. Não tinha códigos e
condicionamentos sociais; nem uma série quase infinita de convenções e sinais a
interpretar cotidianamente para a desincumbência das suas tarefas com perfeição,
qualidade e segurança.
Ainda nômade, vivendo da caça e da coleta; dono de um vocabulário restrito,
para ele tudo no mundo era mágico. A canoa que flutua com ele em cima, o trovão, o
fogo, a chuva, os dias e as noites, a morte; enfim, tudo ao seu redor. Inclusive ele
mesmo, sua fala, seus sentimentos, seus desejos. Nenhuma relação de causa e efeito;
mas, claro, também nenhum sinal de trânsito mandando-o parar ou seguir e,
principalmente, nenhuma porta trancada a chave.

158
Ele era da tribo e para a tribo, algo cujo sentido é tão inseparável como a abelha
da colméia. Nenhuma, ou pouca noção tinha de si mesmo. Nada a contestar em juízo;
nenhuma ascensão social a desejar e a reivindicar. Todos o compreendiam e o conheciam
bem; seu público de vinte a trinta pessoas era todo o mundo conhecido. Não tinha
existência individual, como hoje a concebemos.
Em seu interior pressentia que os seus antepassados haviam passado e superado
muitos problemas difíceis, mas que haviam conseguido superá-los, e que, do lugar onde
lá estivessem, para onde tivessem ido, de lá, por ele olhariam; dariam conselhos e
ensinamentos, falando ao seu ouvido, dormindo ou acordado, fazendo-o sonhar,
dormindo ou acordado, com a direção a seguir, que rumo tomar em busca de melhores
campos de caça.
Assim nasce o primeiro culto, a primeira crença em um outro mundo; o
“misterioso” mundo dos não viventes, antepassados e parentes próximos mortos, por
termos a consciência da morte. Hoje sabemos que, na verdade, somos, como que um elo
de uma extensa corrente genética; cópias são feitas, cada uma herdando do último elo,
seus pais, o seu mundo interior; inclusive o psicológico. De alguma maneira somos ele
próprios, em carne e osso. Introjetados pela educação infantil e construídos com o seu
molde; os nossos pais, avós e bisavôs, etc, vivem em algum lugar de nossas mentes. Em
algum momento sentimos que somos eles próprios.
De alguma forma, o culto aos antepassados mortos, os espíritos que nos falam
aos ouvidos internos da mente eram, e continua sendo, um culto a si mesmo; pela vitória
na conquista de estar aqui, de sobreviver. Já sabendo que morremos, vamos deixando
para trás o mundo da natureza animal indistinta; protegida pela insuficiência de sua
pequena mente, de saber que é mortal, que morre, ou desaparece como um nada como se
jamais tivesse estado aqui, que aliais é a melhor maneira de se viver o aqui e agora. Para
este, o morto, a própria morte não existe, pois que, depois de morto, a sua vida nunca
existiu também. É preciso que haja um “eu”, uma auto-identificação para sentir por
antecipação pelo seu próximo desaparecimento e o do outro, por relação. Morrer, não é
nada mais que a renovação biológica da vida, pela substituição dos organismos
desgastados, por outros novinho em folha; seja qual for a espécie, e para nós não poderá
ser diferente. Morte é reciclagem e não há mistério nenhum na morte. Há para os
humanos, cujo movimento do seu próprio existir foi modificado pela obtenção da
autoconsciência; e a partir daí, e de uma construção imaginativa, tão somente, de sua
importância especial, nobre, ou coisa parecida, até ao culto à personalidade e a si
mesmo; donde encontra o nascedouro do apego desnecessário a vida, e do dispensável
medo da morte, isto é, do seu desaparecimento.

159
Mas, é claro, no “mundo da cultura” nada é mais natural e espontâneo, nem
sequer a morte. Tudo é criado artificialmente, ou por meios de artifícios, nada mágicos
por sinal, ilusionista, sim; o que para isso a lógica e os conceitos se prestam
perfeitamente. A cultura não nasce com o homem (o que é isso? Já é homem?). Ela nasce
dele, é a sua obra e, por saber quem é, o que é, e como é; ela é sua responsabilidade
também. De alta significação para nós, mas ela não passa de um efeito, de uma
conseqüência de ações conjugadas com fins específicos a serem alcançados
premeditadamente; daí sua mutabilidade através da História, do tempo, como que por
uma espécie de exteriorização do código genético, como que, agora
agindo.aleatoriamente no organismo social, ainda. O gene é egoísta, segundo Richards
Dawkins. Só podia ser isso; o egoísmo tem bases genéticas! Ao tratar a cultura de forma
errônea, superficial, iludida, alteramos os fatos e mentimos para nós mesmos
adulterando nosso ser em algo desprezível. Essa é a nossa história desde que a cultura
econômica sentou raízes no nosso meio; há muito tempo e intensificando-se a partir do
sedentarismo e das instituições sociais de cunho senhorial.
Jogo de interesses, traições, assassinatos e conveniências são os lances ousados
da busca incessante pelo poder político e econômico. Não há outro sentido no rol das
nossas lamentações, dos medos e da nossa infelicidade. A história humana é a história do
medo e da dor, uma verdadeira tragicomédia. Comédia, sem final feliz, por fim; risível
pelo apelo à ignorância iludida, convencida da sua majestade. Em nome de quê? De
quem? Importa sabermos; porque somente a consciência real das causas,
responsabilidade e beneficiários do nosso sofrimento é libertadora, é conscientização de
política real. Sem essa; “a cultura nossa de cada dia, nos dai hoje” não é nada mais que a
cultura da coerção de muitos, em benefícios de poucos; ainda que envernizada e ornada
de pérolas, diamantes e carrões. - Investindo na imagem, flor?! E por trás da tua crença
em deus está a imagem de um homem pendurado numa cruz, que segundo dizem está ali
em teu lugar, se acreditares nele; portanto toma cuidado.
Estamos atolados em um pântano de vaidades, engodos e falsidades;
desorientações que só fazem sentido ainda, pela força do hábito; calcado,
inexoravelmente, pela tradicional maneira de produzirem-se riquezas; que descambou
para a mixórdia dos interesses de grupo, lutando uns contra os outros, pelo o encanto das
benesses individuais. A questão é mental, basicamente, somos mentalmente escravos.
Uns, vivem, literalmente, a benefício de outros. Todos correm na mesma direção, com o
mesmo objetivo; só que ninguém estando com ninguém, o primeiro a chegar, fecha a
porta para ninguém mais entrar; talvez porque a riqueza fosse pouca, o espaço pequeno e
o seu coração ávido. Todos querem escapar -escapar de quê?- sozinhos, assim, agindo
dessa maneira, ninguém escapa realmente. De quê? Os que ficam de fora se esforçam
para arrombar o cofre na calada da noite. O outro por ser mercadoria concorrente é uma
mera abstração, um lixo, ou alguma coisa pra lá de invisível; não existe, exceto se
aceitar ser usado em benefício particular de alguém, ou se te matar.

160
Assim tem sido, e assim ainda é; desde que a cultura baseada na cultura
econômica da produção agrária, fundada na mão de obra escrava, deu a partida para o
início daquilo que hoje, vulgarmente, é conhecido pelo nome: civilização. Hoje sabemos
ser a escravidão uma prática vergonhosa e abominável. Os antigos senhores não
achavam isso; acreditavam serem superiores e que o trabalho era uma prática
vergonhosa, degradante, própria para pessoas inferiores, degradadas. Umas pessoas
nasciam para trabalharem, isto é, serem escravas, e outras para aproveitar a vida, isto é,
mandar; um negócio parecido com o karma indiano, que também foram e ainda são
escravistas. Se ela tivesse acabado logo, desde quando tudo começou, tubo bem! Mas,
que nada. Foi, e foi ficando e até hoje, seis mil anos depois, esta aí; persiste em
permanecer, aqui entre nós!

161
O escravismo teve três fases; na primeira ele foi explícito, pornográfico. Na
segunda, melhorou um pouco; o escravo virou servo, houve uma melhora nos direitos;
ele tinha de dois a três dias, incluindo sábado e domingo, sem feriados, sem férias e sem
fgts, para trabalhar para si e o restante para o senhor, e de graça. Na terceira, a atual,
quiçá a última, o servo virá operário que continua trabalhando de graça; só que agora o
processo é regido por um mecanismo oculto e mais sofisticado. O escravo antigo
trabalhava todo dia somente pelo prato de comida e pela roupa que vestia. O servo
submetia-se a trabalhar de graça quatro dias para o senhor, além de outras obrigações, e
três para si; e, com isso, a sua despesa e a da família, era por sua conta. Não podia trocar
de “patrão”, nem ser vendido para outro; se a terra fosse vendida, ele ficaria nela, a
serviço do novo proprietário. Nessas duas fases se assemelharam muito as condições, e
foi o primeiro sinal dado para a criação do mercado ainda que muito restrito; dado o
grau e intensidade da exploração, nas relações entre os envolvidos no processo
produtivo, segundo a sua posição de classe. Havia-se que esperar muito para que isso
acontecesse. Já na atual fase, a terceira, essas condições mudam inteiramente, dado uma
revolução ocorrida nos meios de produção, as forças produtiva; que passou da terra,
como sendo a principal fonte de riqueza até então conhecida, para a fábrica; sem deixar
de usar a terra, claro; um salto qualitativo significante quanto à sua eficácia na produção
de riqueza. O que por sua vez ocasionou uma intensa revolução nas instituições
econômico-sociais, principalmente; dado às características próprias do novo pacto social
empreendido. Chegamos ao trabalhador assalariado, transformado em uma mercadoria
de consumo dos novos senhores, proprietários dos instrumentos e máquinas, que os
‘alugam’, alienam por tempo indeterminado, conforme seu interesse, para produzirem
para eles em suas fábricas, eles mesmos sendo como que uma extensão das suas
máquinas, máquinas operadoras de máquinas, em troca de um valor previamente
estipulado como custo de manutenção, pois, na verdade, este valor recebido pelo
trabalhador corresponde ao valor médio da sua manutenção enquanto organismo vivo e
da reprodução da prole, para mais tarde ser por ela substituído. E o mundo gira, e a
máquina de fazer dinheiro gira com ele. Da mesma forma que nas duas fases anteriores
trabalham somente para se manterem vivos; ganham somente para a manutenção e
reprodução da máquina-pessoa(homo) ou homo-máquina. E como nas fases anteriores
também entregam parte do seu trabalho gratuitamente. E isso acontece da seguinte
forma; durante o expediente de serviço diário; ele, junto com os outros operários, usando
as máquinas e a matéria prima do empresário, realizam a produção de um determinado
valor em mercadoria; o proprietário, por sua vez, as vende no mercado. Com o dinheiro
recebido paga aos operários e os custos gerais, e o dinheiro que sobra ele embolsa, é
dele. A pergunta que se tem a fazer é: como ele consegue vender por um preço maior que
o valor gasto na produção, sabendo-se que o que determina o valor é a quantidade de
tempo de trabalho gasto na produção da mercadoria, e o mais interessante é notar que é
nisso em que se constitui toda a lógica do sistema capitalista. E a resposta é que foi o
trabalho dado de graça pelo operário quem permitiu isso; o trabalho dado gratuitamente
se constitui na diferença a menor, no jargão financeiro, entre o valor daquilo que foi
feito, produzido, pelo trabalhador ao realizar a transformação da matéria prima em
mercadoria, produto; e o que ele efetivamente recebeu por isso, Essa diferença se
constitui em horas trabalhadas e não pagas; ora, ora, gratuita, ou tem outro nome que
não esse. Sendo, então, essa situação de caráter idêntico ao das fases produtivas
escravistas anteriores, caracterizada pela extorsão do trabalho; através da obtenção, pela

162
força bruta, do trabalho gratuito. A diferença entre as duas fases iniciais e esta, está na
quantidade de trabalho entregue gratuitamente; quando nas duas primeiras fases a
quantidade era brutal, hoje ela é mais sutil; por dois motivos: primeiro porque agora os
patrões extorquem o trabalho gratuito em escala; o que quer dizer, sobre muitos
trabalhadores ao mesmo tempo. E segundo porque a realização da extorsão exigiu a
instituição de um mercado consumidor da produção e ela somente se completa quando a
produção é consumida no mercado. Nesse sistema fica claro ver que o patrão não lucra,
extorque, porque aquilo que ele chama de lucro é prejuízo para o trabalhador, daí a
forma da convivência conflituosa, antagônica dessa relação entre partes irreconciliáveis,
até que essa situação perture, na produção material da sociedade; que aliais isso não
merece esse nome por que não é sociedade, e nunca foi. Há não ser que haja alguém que
ache normal alguém que não tem nada, dar de graça seu principal e único valor, sua
força de trabalho, a quem já esta rico. Como num velho jogo de cartas marcadas, o
hipócrita ilusionista empresário de alto e bom som diz; pra todos que quiserem ouvir: -
Mas estou dando emprego a ele; salvando a vida dele; se não fosse eu que seria dele?
Como iria crias seus filhos? (futuros empregados dele, ou de seus herdeiros). Eu, que
nunca matei ainda ninguém, quando vejo um vagabundo desse me sinto perto de praticar
um desatino; mas como dizem que matar é igual a coçar, e que depois que você começa
não quer mais parar, então, sentindo que isso é verdade; acho melhor nem começar...‘Tá
certo, melhor nem começar.
Riqueza nunca é demais, nunca foi, nem nunca será, nem pra ele, nem pra
ninguém. O que complica e dificulta a compreensão de tal afirmação é a constatação de
ver a miséria proliferar no meio de tanta riqueza represada em poucas mãos ávidas.
Mudou, mudou muito, há que se concordar, para que, em essência, tudo continuasse a
mesmíssima coisa; ou, para que se mantivesse a velha e tragicômica cumplicidade do
senhor com o escravo, sob a bênção de todos. Mudaram os cenários, as roupagens e as
falas. As perucas saíram de cena, entraram as bravatas e as gravatas; mas a arrogância e
insensibilidade quanto ao sofrimento alheio, só fez aumentar mais ainda. Com esse
excesso populacional, como a inflamação de um abscesso, a vida se banaliza e a sua
manutenção e reprodução encarece.
Os recursos naturais se escasseiam , dada a rapidez da progressiva degradação do
meio-ambiente; que terá o efeito de um choque civilizatório traumático, com grande
perda em vidas. Pela fome, sede; enchentes vendavais e mais uma série de transtornos de
origem climática; além de guerras localizadas por acesso aos escassos recursos naturais
que sobrarem. O Oriente Médio, a África, China e Índia, região super-populosa, já
padecem e padecerão mais ainda dos efeitos da escassez do precioso líquido vital.
Naquela região semi-árida o acesso à água que em alguma regiões já é reduzido,
diminuirá muito por conta do efeito-estufa; e se alastrará por outras regiões por conta do
degelo das geleiras montanhosas; e ainda o esgotamento dos poços para daqui de trinta a
setenta anos, fará daquela região um deserto. Abram-se as sepulturas.

163
A consciência, pedra preciosa da cultura humana contemporânea, é um fato
histórico biológico, em desenvolvimento ainda, por certo. Nasceu e se desenvolveu
inicialmente depois que os nossos ancestrais passaram a trabalhar (eu disse trabalhar,
senhores patrões) com as mãos depois de liberadas, quando possibilitada pela postura
bípede. Com muito esforço e trabalho chegamos ao desenvolvimento atual do nosso
cérebro; e chegamos à linguagem, um poderoso instrumento de dominação pelo
convencimento, e assim poupar, quando viável, os métodos de repressão e tortura
policiais, mais radicais e traumáticos.
A consciência contemporânea, assim com as anteriores também, se caracteriza
por ser ainda uma pré-consciência, algo como um vir-a-ser; se houver futuro. Haverá?
Com certeza, quem sabe? E será assim por algum tempo ainda; até que a inteligência
termine seu desenvolvimento e faça abolir as atuais estruturas sociais que impedem a
consciência plena, sem sofismas, mistificações e preconceitos de toda natureza, venha se
estabelecer em nosso meio. Em verdade, justiça e amor, cujo adiamento trará como
efeito principal o risco do nosso desaparecimento; ou trauma profundo, cada vez
profundo até o desaparecimento total.
V I A G E M.
Pode-se associar as visões alucinógenas provocadas, com as visões naturais, de
conteúdos místicos, ocorridos no passado. Estas podem ser compreendidas graças a uma
constituição química do cérebro diferente da de hoje; explicada pela menor influência
cultura tecno-industrial-científica, na época, inexistente. Pode-se supor, também, a
ocorrência de uma possível contaminação esporádica com o esporão do centeio mofado,
o qual contém LSD, substância capaz de alterar o estado de consciência e induzir
quimicamente o cérebro a ter visões; capaz de fazer com que Moisés acreditasse estar
recebendo do Velho, os dez mandamentos, e pensando que fosse de verdade. O grão de
centeio naquela região, atual Palestina, era bastante disseminado e as técnicas de
conservação de grãos ainda muito rudimentares e inadequadas. É bem capaz
que...Deduza por si mesmo. Quem, porventura, já experimentou alguma substância
expansora da consciência desse tipo, sabe que é isso mesmo que acontece ao indivíduo,
e sabe do que estou falando.
Aliás, não tem uma taboa de pedra, gravada a fogo divino, contendo
mandamentos, dez ao todo, guardada numa arca. Pois então, cadê ela; submetamo-la a
testes para verificarmos sua autenticidade. Claro, com o máximo de cuidados e zelo, não
pode danificar. Em se tratando de certos assuntos, o melhor é ver para crer.
Principalmente quando é bem possível que...O homem devia ter nascido com um
mecanismo no ouvido, que o permitisse fechá-lo, quando bem lhe conviesse. Macacos
amestrados por macacos amestradores. Eis o que, no final das contas, nos tornamos;
somos, uns estes, e a maioria aqueles.
A M A R A V I D A.

164
Se desejarmos que o amor se expanda pelo mundo, o que é preciso e
aconselhável, é preciso que saibamos amar; como somos a vida, e a base da vida é o
instinto do amor, assim, porque é tão escasso o amor entre os humanos, senão
inexistente.Vida, enquanto energia vegetativa e instinto animal, inexplicavelmente
surpreendente e original; aqui não me refiro à vida social humana; essa excrescência
totalmente discrepante, prejudicial e dispensável. Ah, ah.! E o quê podemos dizer sobre
ela? Pouco, ou quase, devido ao total desprezo com que a tratamos, imerecidamente.
Olho diariamente a cara dessa gente que procura progredir de maneira insolente e
agressiva; o que me faz sentir o quanto é desprezível a forma de existência dos humanos.
A corrupção, a ganância e a vaidade é somente um efeito a insensibilidade ao amor.
Prudente, a vida, o conjunto de todas as formas de sua manifestação, sem base na razão,
ou da culpa, obedece somente ao princípio da prática e o sentir do amor, que é ela
mesma, à própria; só pode ser, podemos e devemos nos entregar a ela, simplesmente se
entregar, e terá se aceito a si mesmo, e por aí poder vir a fluir constante na corrente viva
universal.

165
Ora se, em nós, a prática da corrente do amor se quebra, se nos opomos a ela,
sofremos o desgaste de sermos contra a essência da vida, e seu princípio vital, o amor;
os que nunca será uma boa estratégia vivam todos quanto tempo for. Mas uma certeza
quanto a isso existe. É que, devido ao nível incomensuravelmente alto da nossa
imprudente destrutividade, tão ridiculamente fundada no ego tolo e fútil, a menina dos
olhos do sistema econômico milenar espoliador, hoje no modo capitalista, ainda que
pouco tempo tenha se passado, desde então, mas que já nos custa muito caro e perigoso
viver; a cada dia que passa, cada vez mais. Pensemos rápido, pois deve haver algum
engano, ou coisa que o valha, qualquer coisa que desprezamos, por talvez, ser simples
demais. O que nos custa encarar o problema deve-se ao fato da nossa origem humilde; o
chipanzé, mais especificamente, que evoluiu, acidentalmente – um grupo dentre ele,
claro, não todos; eles continuam por aí, e a gente agora também – e passou a dominar e
desenvolver os conceitos lógicos, quando logo, se aproveitando dessa vantagem; de
maneira insidiosa e traiçoeira, passou a cada dia, hora, minuto e segundo a devastar a
natureza, a espoliar seus parceiros, e a crescer e “prosperar” vertiginosamente como uma
erva daninha no meio de um jardim florido e perfumoso; como uma colônia de bactéria
na carne defunta e putrefata, sem perceber a ruína que, no futuro próximo, certamente
virá. Se essa ruína será total ou parcial, não sabemos, ainda não. Ficarão as pirâmides
por outros milênios. Mas os seus primeiros sinais estão aí, isso sabemos. Tudo isso dado
à nossa famigerada evolução cultural; ironicamente. Com o manejo da agricultura
acreditou-se ter achado um meio seguro e permanente para si mesma, que era morar em
vilas e cidades; o que ha algum tempo atrás ainda era confortável, pela relação pequena
do índice demográfico versus espaço físico. Hoje; putz!... O bom do amor não depende
só de usar o sexo para a reprodução e prazer; prazer físico delicioso. O sexo é uma
estratégia de permanência da coisa viva, e o prazer, um estímulo a sua prática.
Inteligente, a vida. Mas esse amor sexual egóico possessivo – será que tem alguma
relação com a possessividade das relações econômicas? – é tudo, quase tudo, menos
amor. Mais parece um contrato social baseado na propriedade privada daquela buceta,
para que os bens de herança permaneçam na família; e sigam a linha de ascendência
genética do papai, e da mamãe, que, afinal, “trabalharam” tanto, não foi? Mas não foi
para deixar a riqueza para o filho de um outro alguém qualquer participar dela também,
não, não foi. É de fundo aristocrático esse espírito de família, e faz parte de um sistema
com fins predeterminado, calculáveis, contabilizáveis.
Somente a espécie humana, vivendo em sociedade composta de várias estruturas
institucionais através da dominação, violência e dor produziu tanta opressão e estrago a
vida. E aí doutor, e aí ‘seu juiz, como é que fica isso? Isso talvez pelo fato de acreditar
em Deus e na existência de um mundo espiritual regendo tudo; claro, toda fantasia tem
um preço a pagar, pelo seu conteúdo desconectado, vazio, fútil. Nós, essa grande
“irmandade religiosa”, produzimos tantas guerras fratricidas, uma atrás da outra, em
seqüência tediosa, de proporções alarmantes em ódio, dor e ressentimentos; pouco
restando com o que acreditar no que de bom houvesse, gentileza, solidariedade, para nos
incentivar a viver. Em tempos de paz, temos uma espécie de tensão preparatória de uma
nova encrenca. No convívio diário em uma grande cidade, aquele que pensa estar
passando bem, arrisca-se a ser a próxima vítima da guerra urbana do ‘cada um por si, e
deus por ninguém. O problema é; como sairmos dessa ‘roubada’? Ir pra onde? Tudo
igual. ‘A ILHA’, de Aldous Huxley, ainda não existe. Pena, que roubada.
NASCIME NTO/MORTE.

166
A vida tem três movimentos importantes, a saber: nascimento, desenvolvimento e
morte; isto é, princípio, meio e fim.
A morte não existe para o morto. O morto só existe na lembrança dos que ainda
vivem; é uma abstração. A morte é somente um fenômeno de renovação biologia; não é
um problema, é uma solução. Ela não se opõe à vida, nem lhe contraria. A morte é o
meio que a vida encontrou para permanecer sempre jovem e pujante, substituindo os
indivíduos velhos por novos em folha. Fica frio, relaxa, tu vai morrer, como eu vou!
E o corpo vivo é só uma maquina, nada mais. Entender seu mecanismo permite
seu melhor aproveitamento. A verdade é a qualidade, não a quantidade, e a qualidade a
verdade.
Isso que vós chamais de espírito, não passa de pensamento projetado sobre si
mesmo, e, ao mesmo tempo, embasbacado. Outrossim, “o cérebro produz pensamento
como o fígado produz a bile; o pâncreas, insulina”; (Quem disse isso?????) etc, etc...
A autoconsciência produz a consciência coletiva; esta produz um mecanismo de
controle supra social, deus, ou super consciência ou um inconsciente coletivo; um “Big-
Brother que tudo ouve, que tudo sabe, que tudo vê e pode punir; que o diga o PM parado
ali na esquina com a mão na sua arma.
E S P Í RI T O
Isso que vós chamais de espírito, não passa de pensamento projetado sobre si
mesmo, e, ao mesmo tempo, embasbacado. Outrossim, “o cérebro produz pensamento
como o fígado produz bile; o pâncreas, insulina”.
EU, E EU.

167
Hoje aos cinqüenta e sete anos, recordo quando fumei meu primeiro baseado, por
pura curiosidade, aos dezoito anos; para ver se a maconha era boa mesmo como ‘o
pessoal’ dizia; e era. Depois de período de uso pequeno, ainda que não fumasse muito,
comecei a me achar meio nervoso e brigão. Isso não era propriamente uma característica
minha, deu nos nervos; ou poderia ser que eu fosse sensível demais e agudamente
inteligente, num mundo de gente encouraçada e burra, talvez, não sei. De qualquer
maneira, reduzi a dose, procurei evitar, e me cuidar. O bom da maconha, e das
expansoras da mente, como a ayausca, – a melhor de todas – o cogumelo, o LSD (sem
anfetamina), a lista é grande, é que nos permitem, caso queira, parar por quanto tempo
quiser, diferentemente dos opiáceos, e dos estimulantes. Você não gruda nelas, pode até
grudar quando o ‘cara’ é fraco, ou burro, sei lá, é difícil entender. A maconha, a menina-
mulher, princípio feminino do ser, depois que se “gruda” demais nela, por longo tempo,
aparecem às alterações de comportamento. Sérias, como: preguiça, perda de interesse
por atividades quando não estando sob efeito dela, quer dizer, o sujeito fica ‘meio
desligado’, e agora pra se sentir normal tem que seguir no uso, o que até originou uma
musiqueta mexicana que diz: la cucaracha (a barata-inseto), la cucaracha, já não pode
caminhar, porque não tem, por que não tem, marihuana pra fumar. Mas até mesmo,
quando nas primeiras doses, durante as primeiras ‘viagens’, coisas difíceis acontecem
mesmo. Primeiro é a perda temporária da memória imediata, dificuldade de acompanhar
raciocínio, e desenvolver conversação séria; a mente racional (esquemática, quadrada)
fica em segundo plano, uma outra mente entra em funcionamento, ou melhor, uma
estimulação mais ativa e profunda do hemisfério direito da mente é verificada; onde é
um lugar na mente das relações espacial, não-cognitiva-racional, mais emocional,
sensível e intuitiva. Há também uma espécie de day after, uma espécie de depressão no
dia seguinte; mas nada que um banho frio, um pouco de sal na água e jejum não possa
curar, e usar vitamina do complexo B, com freqüência. O que não pode é usar sair da
ressaca fumando mais um, por que senão gera o efeito gangorra. Ela é um relaxante
impressionante, e os efeitos colaterais como baixa de pressão sanguínea e desleixo com
a aparência podem aparecer; ‘deixar isso rolar’ ou não deixar, vai da disposição, em
vários fatores –social, econômico, educacional - de cada um. Ela não condiciona, nem
determina, só predispõe, daí... exige um ‘olhar’ cuidadoso sobre si mesmo, algo como
dando e recebendo uma orientação por auto-observação.

168
As boas alterações psíquico-emocionais compensam, e muito, dificuldades como
essas. E os benefícios são vários; melhoram o humor, o apetite, as sensibilidades
auditiva, visual e táctil, como que te acende. Aguça a sensibilidade musical, tanto para
fazer – executar, compor - ou escutar; como que desperta e intensifica a percepção da
linguagem das cores, ótimo para quem pinta, ou gosta de apreciar pintura. Ótimo para
fazer sexo, ou escrever, desde que se deixe passar a primeira hora de efeito. Mas, talvez
você esteja mais ou menos desequilibrado na sua vida material, com pressões sociais
significativas sobre você. Ela é uma droga, no jargão farmacêutico, de relax e
entretenimento; estamos numa sociedade de stress e conflito, sem chance de escapar
disso, o que está nos matando, cada dia mais um pouco. Se você não entender isso e
achar que a droga é uma solução para o problema que você sente, aí tu ‘tá perdido;
porque não vai poder ficar sem ela, vai virar o ‘cara’ conhecido pela pecha de
maconheiro. Sujou malandragem, até pelo seguinte: a erva é impregnante, quanto mais
você usa, mais impregnado dela você fica, menos efeito ela faz; aqueles efeitos
benéficos vigorosos, intensos, desaparecem. Aquele mar de oceano aberto com ondas
gigante, barulho de trovão, vira um mar de Bahia de marolas, pequenas ondas; quase não
faz mais efeito, o bom efeito. Maconha não é para se fumar todo dia, várias vezes ao dia.
A boa maconha deve ser fumada periodicamente, em espaços de tempo mínimos de
quinze dias, daí pra cima. Então, nesse hora, você se impregna dela, empapuça, depois
deixa limpar, dá um tempo; absorve a pancada; interpreta a experiência; e assim vai. Em
alguma situação de emergência, pode e deve-se usá-la também, desde que não seja pura
embromação. A questão é que se precisa de um tempo, um intervalo, às vezes até, dar
um tempo longo, parar pra ‘pensar’, e absorver bem os ensinamentos que ela, a
maravilhosa filha da natureza, nos traz, com o aumento da afetuosidade animal. Não
queremos vulgarizá-a. Vivemos em um mundo desumano, cruel e hipócrita,
sistematicamente destituído de qualquer intenção sincera, real, de vida verdadeiramente
prazerosa, é só trabalho, trabalho e monotonia. O que nos resta? Claro, “ir, aos
domingos, no jardim zoológico dar pipoca aos macacos, ou sentar no trono do
apartamento, ficar olhando pra quinta parede, com a boca cheia de dentes, esperando a
morte chegar”. Raulzito.
Os extremos são uma burrice, tanto o total enquadramento, quanto o total
desregramento. A maconha foi criminalizada, que besteira! Por pressão norte-americana
e européia; país subdesenvolvido é assim mesmo, tem que obedecer as regras de
comportamento dos mais vistosos e desenvolvidos, competentes, bem sucedidos
guerreiros obsequiosos. Um dia seremos como eles, quem sabe? Agora, não sou eu quem
vai sozinho, ou junto à meia dúzia de malucos, me lançar contra esse muro de ignorância
e violência até me espatifar de tanto fumar maconha; não adianta. Gosto dela porque ela
me ajuda a gostar de mim. Primeiro controle-se, para depois, unido aos amigos,
companheiros de viagem, também sob o controle de si mesmos, como você, poder lutar
por controlar o meio externo social-jurídico-politico, numa perspectiva de tempo não
imediatista, ao menos. A liberação são “favas contadas”, uma questão de tempo, um
processo que já se inicia no mundo ‘civilizado’. O capitalismo se abranda, amadurece,
como tudo na vida, e um dia cai.

169
A questão da droga, todas elas, - substâncias de diferentes famílias químicas, as
expansoras, as estimulantes, as excitantes, etc, etc, - não é uma questão de polícia, ou de
política repressiva, como se o cidadão fosse um incompetente, um débil mental, que
precisasse da proteção do Estado, contra si mesmo. Sim, pelo mau uso, uso compulsivo
doentio, que causa sérios problemas de ordem e saúde pública. Porém, perigosa não é a
droga, em si; mas o grau elevado de desagregação social que o usuário já se encontrava
mesmo antes de usar qualquer uma. E a primeira é realmente o álcool, fartamente
destilado, e judiciosamente consumido; quase como se fosse uma religião, e que associa
perfeitamente bem, na combinação de efeitos, com a cocaína, anulando os efeitos
colaterais depressivos do álcool, intensificando os efeitos euforizantes. O que fazer,
proibi-lo também por causa disso? Ele, o álcool, por ser metabolizado, isto é, digerido e
distribuído como alimento ao organismo como um todo, causa dependência química
difícil, das mais difíceis, de tratar, exigindo abstinência total do alcoólatra até o fim da
vida. Já se sabe que dez por cento da população tem predisposição inata para adquirir
essa doença cruel, e nos adaptamos a ele, a isso. Já a cocaína, que sob o prisma dos
efeitos psicológicos é bem parecido com o álcool, por sua vez não é metabolizada,
portanto não causa dependência física, somente dependência psicológica, mais fácil de
tratar, desde de que o paciente queira. Não tem que querer, mas tem que ser
responsabilizado caso se torne perigoso, para si mesmo, e para os outros. Não é a
cocaína que é perigosa, mas o seu mau uso, a repetição compulsiva, descontrolada que o
usuário faz dela; também, perigosa é a sociedade hipócrita e repressiva que nos envolve,
um convite ao crime, com coca-cola, sem coca-cola. A coca, ela mesma é um pó, quieto
e acomodado em uma vasilha tampada pro vento não assoprar; o chapa viciado é quem
vai pegá-la pra cheirar até o pote esvaziar; ela mesma não sai do pote sozinha e vai atrás
do usuário a fim de pular dentro do sujeito. Eis um vacilo que vai lhe custar caro, muito
caro; material, física, emocional e mentalmente. Do ponto de vista mental, a influência
dessa droga é de um efeito parecido com o do álcool, elimina as barreiras das
convenções sociais moralista, da inibição de fundo repressivo, isto é, solta o bicho
desabutinado, com perda da sensibilidade do outro, como sendo o outro, independente
dele, sem nenhuma relação. Essa, é a coca, uma droga estimulante, que ativa as funções
nervoso-motoras em geral, e da inteligência, rapidez de raciocíneo; é também a droga do
ego – ‘só eu sou importante, o resto é o resto. O que eu quiser fazer eu faço, qualquer
coisa. Tudo é sem importância, exceto eu, e os meus desejos pessoais”. Agora se vê!
Num sistema social onde vigora o individualismo, essa reação tem tudo a ver com o que
nos é passado desde a tenra infância.- Sobressaia-se, sobrepuje os demais. Você é ‘o
cara’. .

170
Não dá pra confiar em um viciado de coca, nem no alcoólatra; e no viciado em
maconha, dá? Depende de algumas condicionantes, pode ser que sim, como pode ser que
não.Mas uma coisa já fica clara; ele não é automaticamente controlado por ela, não é do
tipo capaz de vender a mãe, por mais uma dose que seja. A maconha é a das mais fáceis
de parar se o tipo quiser de verdade parar, e saber porque está fazendo; o stress da
abstinência é, de maneira geral, pequeno. Na avaliação de um ser humano, o
autocontrole, o autodomínio, é peça chave, por isso todo viciado perde pontos. Mas, é
preciso que todos entendam que tudo é bom, desde que façamos uso correto exigido em
cada oportunidade, e na dose certa. Os índios conheciam essa ciência das drogas e
fizeram um farto uso positivo delas por lhes auxiliar a terceira visão da mente; a
alucinação; e, ainda, por ajudarem a eles brincarem e se divertirem. Se uma coisa te
parece boa demais, ela é boa demais pra você, só para você; mas se você quiser que esse
gozo seja permanente, a coisa se transformará em um pesadelo cruel e assustador. Não
há culpa, mas he efeito danosos, e a responsabilidade é só sua mer’mão, só sua. E se
quiser, ou quando quiser, ‘acordar’ tem que aceitar isso, primeiro que tudo; fazer jejuns
prolongados de alimentos, periodicamente, uma prática excelente para o exercício do
fortalecimento da vontade. Buda, o velho Buda, há mais ou menos dois mil e quinhentos
anos atrás, já dizia ser o desejo a origem de todo sofrimento. E aprender a controlá-lo, a
fonte de toda virtude; controlá-lo, veja bem, não extirpá-lo, não pode haver autocontrole
sem autoconhecimento, e não pode haver autoconhecimento de verdade, sem a
curiosidade, a imaginação e a liberdade. Queremos crescer, e assumir nossa condição de
adultos plenos, sem arreios, controlados, ou permanecer criança pedindo limite ao
corporativismo estatal do Big Brother? Posso? Deixa?
Depois que o usuário se habitua ao uso rotineiro da coca, fica difícil largar,
psicologicamente difícil, porque ela é a droga do desejo de poder pessoal, não do poder
político, apesar de muitos atuarem na política com essa mesma motivação de poder
pessoal, mais que nada. E o desejo de poder é o mais central de todos os desejos. E o
poder, todos sabem que, todos querem para si. – “É preciso saber querer, ter ambição, se
você quiser ser alguém” dizem-nos isso desde a infância. Na classe abastada, ela, a coca,
por baixo dos panos, não falta. Tem tudo a ver com eles. Fazendo-os sentirem-se lindos e
maravilhosos, quase deuses em sua plenitude de querer e poder. Agora, o bicho pegou,
quando os seus serviçais e lacaios resolvem também cair na farra, dar “um teco” na
carreirinha pra ficar ‘por cima’ também. Mas, pra quem na real está ‘por baixo’, vai
tender a se descontrolar e vai precisar dar uma cheirada atrás da outra. O efeito vem, ele
sobe, o efeito vai, ele desce, e quando desce, é um descer abaixo do nível que era antes,
abaixo do nível do piso, ou do nível do mar; agora pra se sentir normal tem que se
drogar de novo, e de novo, novamente, outra vez, rotineiramente, repetitivamente,
eternamente, só pra se sentir normal. Aí ta agarrado, precisa de ajuda externa, alguém
que lhe jogue a corda, mesmo então pode não querer pegar a corda e ir até a última
cheirada, seja lá como for, seja lá o que for.

171
Num mundo dividido, torturado por conflito de interesses materiais, dado a
desigualdade e concentração da renda em poucas mãos, dado a estimulação ao desejo de
poder concretizado efetivamente em poder econômico-político-social, numa relação
entre vencedores e perdedores; os sem nada, ou quase nada, estimulados por ela, a coca,
ou misturando álcool, cocaína e maconha, usadas simultaneamente, se voltam pro tráfico
e pro crime em geral. – tanto faz, melhor viver pouco, muito intensamente, do que viver
muito tempo, sem brilho, apagado, humilhado – pensam. E estão certo, porque é difícil
não se concordar com isso, porque é assim mesmo que acontece. Essa nossa sociedade
capitalista está no extremo da estimulação do desejo de consumo, e a lógica econômica
do consumo é um indicador de poder econômico pelo crescimento do mercado onde a
lógica da riqueza está fundada; e o poder econômico é indicador de poder pessoal.
Quando se proíbe e criminaliza a venda e o consumo das substâncias psicoativas cria-se
o mais lucrativo dos mercados; o ‘mercado negro’. Nele a mercadoria em transação tem
o seu valor muitas vezes aumentado em muitas vezes, em função de compensar o risco
de ser apanhado, ser preso ou morto; como para fazer face às despesas com a compra de
armas e munição. O que gera outro mercado negro do tráfico de armas paralelo
exclusivo da ‘bandidagem endinheirada’ também muito lucrativo. Mais as despesas com
a corrupção das autoridades para eles fazerem “vista grossa” ao tráfico, ou pra livrar um
flagrante. E ainda assim, é um grande negócio do ponto de vista financeiro, isto é, do
ponto que realmente pesa, interessa; basta ver a guerra entre os traficantes pelo controle
dos pontos de venda, com a população das favelas, onde a vida de cada um não vale
nada, no meio do intenso tiroteio, um mero detalhe inconveniente.
Por outro lado, o governo de país periférico, empobrecido e endividado como o
nosso tem que desviar dinheiro da educação e formação profissional das novas gerações,
e do setor da saúde da população em geral, para investir em aumento dos efetivos
policiais, aumento do número de presídios, contratação de funcionários para cuidar da
carceragem e dar sustentação material as presos, que freqüentemente se amotinam
quebrando instalações, quer dizer, gerando mais prejuízos e despesas, e, ainda
conseguem comandar suas organizações de dentro dos presídios, subornando e
ameaçando os carcereiros, via de regra mal pagos e ávidos por dinheiro, ou através do
uso dos advogados e visitantes, como pombos correio. ‘Quê que isso? - rio de mim
mesmo.

172
Depois, há que se considerar o essencial. O bicho homem precisa da ‘’viagem’’,
ela é uma necessidade neurofisiológica, de verdade. O homem precisa se esquecer de si
mesmo, dos seus papeis sociais, para ‘funcionar’ melhor, e ela contribui e ajuda e
ajudará e isso acaba se torna imprescindível no auxilio a adaptação que precisa ser feita
para uma mudança profunda de hábitos, de laser, ou algo assim. O importante é
percebermos que de alguma maneira o usuário vai buscá-la instintivamente, e depois que
encontra, adeus; nunca mais será o mesmo. A droga é contra a sociedade, contra a
cultura, contra a saúde dizem as “otoridades’ médicas, e estudiosos de todos os matizes
técnicos, espiritualistas, teórricos, com dois erres mesmo, em busca só de ‘ficar de bem’
com os Homens da Mala, aqueles mesmos de sempre, os humanos quase divinos que
controlam o grosso da ‘bufunfa’, aqueles que indiretamente pagam todos salários. Cabe
perguntar; é possível que alguém que se considere inteligente, e seja realmente, que
possa se contentar em ser contra aquilo que ele sequer conhece em si mesmo e por si
mesmo, como fazem a maioria que é contra isto de se drogar só por ouvir dizer? Tem
‘coisa aí. Vejamos: explicar ao cego de nascença como é o amarelo, o azul e o vermelho
são impossíveis, e o mesmo é querer explicar a quem quer que seja, que nunca
experimentou uma maconha, o que é, como é, uma experiência de despersonalização,
induzida quimicamente por substancias psicoativas, por exemplo. Em termos mais
simples, explicar como é um ‘barato alucinado’ de um cogumelo, não dá, não é possível.
Ou, mais trágico, como é a dor de uma queimadura de primeiro grau, em dez por cento
do corpo. Saber o que é algo é possível somente se usando a raciocínio, é possível
quando se trata de guiar trajetos de uma rua que se procura; mas sentir e viver a
experiência, não, jamais, em tempo algum; sentir algo só é possível sentindo em si
mesmo. Experimentar algo. é experimentar em si mesmo. Posso guiar a minha
experiência pela tua, como forma de apoio; mas não posso fazer da tua, a minha. E,
como existem muitas cores, são muitas delas as experiências visionárias ou de insights
internos acionados pelo gatilho da droga, como um mecanismo. E pode dizer que quem
nunca as experimentou, principalmente a ahuasca sequer esteve aqui realmente, sob esse
manto azul celeste maravilhoso. Será que a droga é contra a sociedade? Não será a nossa
sociedade, nós todos, em suma, tediosos, chatos, previsíveis, calculavelmente contra a
vida? Com todo mundo viciado em dinheiro, televisão, sexo, comida e consumo
ostensivo, o que não é nada mais do que um culto viciado a si mesmo(a); em uma vil
exterioridade vaidosa e estereotipada imagem de si mesmo; crendo e querendo fazer crer
a todos de que a vida se resume nisso mesmo, uma pura afirmação de interesseiros
valores comerciais. Repugnaria, com certeza, a qualquer improvável ser alienígena mais
esclarecido que por aqui aparecesse de bobeira. Esse negócio que chamam de viver, já
virou um ‘negócio’, um comércio, há muito, e muito tempo; lucrativo para alguns, e um
péssimo negócio para a maioria e, no final, para todos. Fala aí, Baixada Fluminense! A
“polícia mineira” ‘tá matando muito por aí? Tenho ouvido falar, deve ‘tá demais! Toda
bandidagem é justificada através da História pelo sistema imoral de espoliação e de
desvalorização do trabalho e dos trabalhadores. O trabalho sendo considerado grosseiro
e de baixa espiritualidade, próprio para gente rude, gente de segunda classe, de natureza
inferior. E isso é tão antigo, se originou na antiguidade. O que gera em todos uma
espécie de vergonha de ser trabalhador, até porque se o trabalho não é depreciante, a
exploração do trabalhador é. É como ser enrabado, literalmente. E muito. Daí alguns de
nós preferirem ir a guerra particular contra essa situação e partirem para o crime, sim
senhor. O senhor patrão não é criminoso só porque ele está protegido pela lei, porque de

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fato ele é. O que isso quer dizer? Que a lei é criminosa, porque esconde e protege o
criminoso. Uma questão de interpretação, ou de ponto de vista. Como diziam os sofistas
gregos, entendendo que viviam num mundo dividido em classes; diziam que tudo pode
ser afirmado, dependendo somente do seu ângulo de visão, do seu ponto de vista; ou dos
interesses que se busca defender. Se somos todos coniventes a isso, então somos
criminosos também. O crime não é um problema, é uma solução; ainda que nada eficaz.
Não resolve a situação de uma vez por toda, porque o que o criminoso faz é buscar uma
solução só pra si mesmo e para o seu grupo, é um lugar privilegiado só para si, e mais
nada. Como os patrões, eles querem é poder, poder e mais poder. As novas tecnologias
digitais de vigilância vão ajudar fazer o crime regredir, e o crime legal, hediondo
institucionalizado, da exploração dos trabalhadores e da desvalorização do trabalho
deverá sofrer revezes com a conscientização e educação política da base social que
realmente constroem com o seu suor efetivamente a sociedade.Viva, e deixe viver! Tirar
esse meu medo da pobreza e da miséria guardado no bolso e jogá-lo fora; o que eu não
quero para mim, não quero para os outros. E deixemos desse negócio de querer controlar
os sonhos alheios.
Enquanto houver procura, haverá oferta; enquanto houver usuário, dependente ou
não, haverá tráfico; repressão a isso é como enxugar gelo, totalmente contraproducente,
só interessa aos corruptos da administração pública, os setores policiais principalmente,
mas não só aos policiais, juízes, fiscais aduaneiros, parlamentares, etc... E, claro, aos
próprios comerciantes ilegais, os ‘amigo dos amigos’, os traficantes que nunca tinham
visto tanto dinheiro na vida como agora. O que aconteceria se o comércio de droga fosse
legalizado? E como ele poderia ser organizado? Primeiro, e o mais importante, é que os
preços das ‘drogas’ cairiam muito, principalmente a maconha, que poderia ser plantada,
pelo próprio usuário, no fundo do seu quintal; ou adquirida na feira livre do seu bairro,
em casas de ervas medicinais, etc... Desde que fossem proibidas a industrialização e
promoções para distribuição em grande escala por qualquer indústria de tabaco, ou outro
tipo de industria qualquer para evitar a propaganda e incentivo ao consumo, num
primeiro momento organizações governamentais de saúde deveriam ser criadas para
monitorar a produção, intervindo na comercialização para evitar a quebra da oferta e
carestia do produto por qualquer tipo de intimidação dos traficantes, não satisfeitos com
a perda do seu negócio. Buscaria-se, com isso, manter os preços no nível mais baixo
possível; no nível que não estimulasse o comércio em busca de lucratividade fácil do
tráfico.
A cocaína o Brasil não produz, mas pode produzir através do epadu, nativa do
norte do país, e a sua liberação, por um lado, teria que acompanhar um programa de
ajuda ao dependente crônico de baixa renda, com o fornecimento grátis da substância
com a exigência que ele participasse de um programa de desintoxicação e reeducação de
comportamento, a médio e em longo prazo, sem compromisso a priore de alcançar
resultados de melhora ou cura. E por outro lado, o Estado teria que intervir no controle
da produção, buscando manter os níveis de oferta o mais alto possível, fazendo cair os
preços, para que não venha de novo atrair traficantes ilegais em busca de lucros fáceis.

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Facilmente se percebe, que dois inconvenientes resultantes dessa política se
instalariam, num primeiro momento. Primeiro, que com a perda do comércio ilegal e da
fonte de renda oriunda dele, os traficantes teriam que mudar de negócio se voltando para
o assalto, em todos os setores possíveis e imagináveis, e que, como forma de protesto,
fariam a violência aumentar a níveis alarmantes. Quando a isso se deve argumentar, que
é muito mais fácil para a sociedade se defender do crime com programas de inserção
social, buscando melhorar a qualidade de vida da população do que impedir ascendência
financeira dos criminosos através do tráfico ilegal onde correm rios de dinheiro, por ser
criminalizado, na presunção que isso impediria a expansão do seu consumo. E que é
muito mais fácil operar repressão a grupos ostensivamente armados de logística
previsível, fácil de apanhar. O segundo inconveniente seria o aumento do nível do
consumo em todas as faixas etárias, num primeiro momento, dado facilitação do acesso
a elas, e a não imputação de culpabilidade inibidora do direito ao uso. Quanto a isso se
deveria objetar que com a eliminação quase total da criminalidade ostensiva, junto com
ela melhoraria o nível de segurança e confiança da população para conviver e tratar das
suas mazelas menores, como a educação, reeducação, punição e penalização adequada
dos excessos e abusos cometidos pelo mau uso do direito de se drogar, pelo direito à
auto-responsabilidade. Há uma profilaxia própria a elas. Ou isso, o que representaria
uma tendência ao crescimento e amadurecimento progressivo do ambiente psicossocial;
ou essa demência impotente, hipócrita e corrupta, mascarada de ordem e segurança
social ridícula, que aí estamos a presenciar, mas não a apreciar. Consta nos relatórios que
os EUA onde, como todos sabem, o Estado nada em dinheiro, algo em torno de três
trilhões anuais arrecadados, e pode manter um aparelho repressivo caro e eficiente, tem
ainda assim, o maior consumo, per capita, de cocaína do mundo inteiro. E é caro a ‘coca
da boa’ lá no norte geladão.

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