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HISTÓRIA DO

MOVIMENTO
SINDICAL
BRASILEIRO

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História do Movimento Sindical no Brasil
(Das Origens à Fundação da CUT)
AUGUSTO CÉSAR BUONICORE

As Origens
A história do sindicalismo está intimamente ligada ao desenvolvimento do nível
de consciência e de capacidade de organização e de luta das classes
trabalhadoras, especialmente da classe operária. As origens da classe operária
brasileira remonta aos últimos anos do século XIX.
Nas primeiras indústrias a situação dos trabalhadores era bastante difícil.
Homens, mulheres e crianças chegavam a trabalhar 16 horas por dia. As fábricas
eram abafadas, mal iluminadas e sem nenhuma higiene. Os operários, em geral,
viviam em cortiços insalubres. As péssimas condições de trabalho e moradia
levavam que os operários contraíssem muitas doenças e fossem mais facilmente
atingidos pelas sucessivas epidemias. Naqueles anos ainda não havia caixas
previdenciárias, aposentadoria remunerada, direito de férias ou descanso semanal
remunerado.
As primeiras formas de organização dos operários foram as Sociedades de
Socorro e Auxilio Mutuo, que visavam auxiliar materialmente os operários nos
momentos mais difíceis. Depois foram criadas as Uniões Operárias, embriões dos
modernos sindicatos. Logo surgiriam as greves, como principal forma de pressão
encontrada pelos trabalhadores.

A COB e os Anarquistas
Pouco a pouco os operários vão sentindo a necessidade de se articular
nacionalmente e em 1906 é fundada a Confederação Operária Brasileira (COB).
Nela é forte a presença das idéias anarco-sindicalistas.
Entre 1905 e 1908 temos a primeira ascensão das lutas operárias. O governo e
os patrões reagem através de uma dura repressão. Em 1907 são aprovadas leis
para agilizar a expulsão de lideres sindicais estrangeiros.
O período de 1917 a 1920, em decorrência da queda dos salários e da
elevação do custo de vida, foi marcado por uma onda de greve jamais vista.
Destacamos entre elas a greve geral de 1917 em são Paulo que paralisou cerca
de 50 mil trabalhadores. Mas este período representa também o início do fim da
influência anarquista sobre o sindicalismo brasileiro.
A política sindical anarquista pecava pelo excesso de espontaneidade, pelo
menosprezo as organizações centralizadas e pela supervalorização da luta
exclusivamente econômica em detrimento da luta política de classes. Os operários
ficavam assim isolados do conjunto da sociedade, especialmente dos camponeses
e da pequena burguesia urbana. Outro fator que contribuiu para a crise do
anarquismo foi a vitória da Revolução Russa que mostrou um outro caminho. Em

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março de 1922 é fundado o Partido Comunista do Brasil, que dentro de alguns
anos desbancaria a hegemonia anarquista no movimento. Em 1929 é realizado o
Congresso Sindical Nacional no qual é criado a Confederação Geral dos
Trabalhadores do Brasil (CGTB), com ampla hegemonia comunista.

A Era Vargas e o Sindicalismo de Estado (1930-1945)


Uma das primeiras medidas do governo revolucionário de Vargas, implantado
em 1930, foi a criação do Ministério do Trabalho e em seguida a aprovação de
uma nova lei de sindicalização. Esta lei definia o sindicato como órgão de
colaboração e cooperação com o Estado, proibia o desenvolvimento de atividades
políticas dentro dos sindicatos e limitava a participação de operários estrangeiros
nas direções sindicais.
Para forçar os trabalhadores a ingressarem nesses sindicatos oficiais Vargas
baixa um decreto que garantiria férias anuais apenas a aqueles que fossem
sindicalizados. Os comunistas e anarquistas resistem a tentativa de atrelar os
sindicatos ao Estado. Em 1934 é fundada a Confederação Sindical Unitária (CSU)
sob hegemonia do Partido Comunista.
Neste mesmo período é fundada a Aliança Nacional Libertadora que defendia a
reforma agrária, a independência nacional e os direitos do povo. Em poucos
meses ela já possuía mais de 400 mil membros. Em 4 de Abril de 1935 o governo
amedrontado decreta a Lei de Segurança Nacional que proibia as greves e
dissolvia a Confederação Sindical Unitária. Alguns meses depois era decretada a
ilegalidade da ANL. Em resposta os comunistas organizam um levante armado
contra o regime que é derrotado. As lideranças sindicais de esquerda são presas,
torturadas e muitas deportadas.
Legalidade e Repressão (1945-1950)
No final da Segunda Guerra Mundial, pressionado pelos ventos
democratizantes, Vargas decreta anistia aos presos políticos e legaliza o Partido
Comunista. Inicia-se a liberalização da vida sindical. Os Comunistas voltam a
ocupar postos nas direções sindicais. Neste ano é criado o Movimento Unificador
dos Trabalhadores (MUT)
A classe operária, vítima da política de arrocho durante a guerra, aproveita-se
do clima de liberalização e realiza o maior número de greves já visto em nossa
história. O PCB conhece um crescimento espantoso. Rapidamente chega a
arregimentar mais de 200 mil membros, consegue 10% dos votos para a
presidência da Republica, elege 14 deputados federais e um senador.
Em setembro de 1946 realiza-se um novo congresso sindical. Contra a vontade
dos pelegos e do governo os delegados ali reunidos fundam a confederarão Geral
dos Trabalhadores do Brasil (CGTB). No ano seguinte, já em plena a guerra fria,
Dutra coloca na ilegalidade o PCB, fecha a CTB e determina a intervenção em
cerca de 400 sindicatos.
Vargas volta ao poder no início de 1951 e retoma o processo de “liberalização”
dos sindicatos. Ele pretendia contar com o apoio dos sindicatos para seu projeto
industrialista. Nos dois primeiros anos da década de 50 as greves atingem mais de
1 milhão de trabalhadores. No ano de 1953 eram 800 mil trabalhadores em greve.

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Destas greves nasceu o Pacto de Unidade Intersindical (PUI). Mas em agosto de
1954, com apoio do imperialismo americano, Getúlio é derrubado e se suicida.
A partir de 1955 temos um novo surto de desenvolvimento, apoiado no capital
estrangeiro. Temos também o aumento gradual das greves, muitas das quais
conseguem aumentos reais de salários. Em Novembro de 1960, o Pacto de
Unidade e Ação (que congregava marítimos, portuários e ferroviários) dirige a
greve da paridade, exigindo a equiparação de seus salários aos dos militares. Em
Agosto de 1961 o movimento sindical realiza uma greve geral em apoio a posse
de João Goulart que estava sendo ameaçada por setores conservadores. No ano
seguinte organiza outra greve pela volta do presidencialismo. Em agosto 1962 é
realizado o IV Congresso Sindical Nacional no qual é fundado o Comando Geral
dos Trabalhadores - CGT.
Neste período também cresce a reação conservadora e em 31 de março de
1964 os militares dão um golpe de Estado. A CGT propõe uma greve geral que
não se realiza, apenas os ferroviários atendem ao chamamento.

A Ditadura Militar e os Sindicatos


A ditadura militar intervém em 432 sindicatos e cassa o mandado de dez mil
sindicalistas. A CGT foi fechada e as suas principais lideranças presas ou
exiladas. É decretada também uma lei antigreve. O governo passa a fixar
autoritariamente os índices de reajustes salariais. Em 1966 o governo acaba com
o regime de estabilidade no emprego e cria em seu lugar o FGTS.
O movimento sindical volta a se aquecer a partir de 1967 quando é criado o
Movimento Intersindical Anti-arrocho (MIA). Em Julho de 1968 estoura a greve dos
metalúrgicos de Osasco que foi duramente reprimida e centenas de grevistas
foram presos. O AI-5, editado em dezembro de 1968, iria estancar este processo e
instaurar um regime de terror no país.
Apenas a partir de 1973 aparecem os primeiros sinais da crise do modelo
econômico implantado pela ditadura. O ministro Delfim Neto chega a falsificar os
dados sobre a inflação e rouba 34,1% dos salários. Em meados da década de 70
os movimentos de contestação ao regime militar vão crescendo rapidamente. Em
1977 alguns sindicatos timidamente já reivindicavam a reposição da inflação nos
salários.

O Renascimento Sindical
Em 1978 tem inicio o processo grevista no ABC paulista que iria por em xeque
a política econômica da ditadura. No mês de maio os trabalhadores da Scania
paralisam os trabalhos exigindo aumento de salários. Três dias depois era a vez
dos trabalhadores da Ford de São Bernardo cruzarem os braços. Em novembro,
400 mil metalúrgicos de são Paulo também entravam em greve.
No ano seguinte as greves se multiplicam e se espalham por todo o país. A
principal é novamente a greve dos metalúrgicos do ABC. Nesta greve realizaram-
se grandes piquetes e gigantescas assembléias plebiscitárias no Estádio de Vila
Euclides. O saldo do ano foi a realização de mais de 400 greves que atingiram 3,2
milhões trabalhadores.

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Em 1980 estoura uma nova greve entre os metalúrgicos do ABC, que duraria
41 dias. Esta terminaria com a intervenção no sindicato, a prisão da diretoria e o
seu enquadramento na famigerada Lei de Segurança Nacional. Mas o governo
não conseguiria quebrar o ímpeto contestatório do movimento sindical combativo
que renascia.
No auge do movimento operário e popular contra a ditadura é realizado em
agosto de 1981 o 1º Congresso das Classes Trabalhadoras (Conclat). Este
congresso reunia quase todas as correntes do movimento sindical brasileiro. Nele
é criada a Comissão Nacional pró-CUT.
Mas a unidade tão almejada ainda estava longe de ser realizada e em agosto
de 1983 ocorre um racha na comissão pró - CUT. Não havia acordo quanto aos
estatutos da nova central, nem quanto à data de sua fundação. Ainda em agosto
um dos grupos se antecipa e realiza um congresso nacional no qual é fundada a
Central Única dos Trabalhadores. Em novembro a outra fração, composta pelos
comunistas e pelegos reciclados, realizaria um outro congresso. Três anos depois
esta mesma articulação fundaria a Central Geral dos Trabalhadores (CGT).
A esquerda sindical só iria se unificar no final da década de 80 quando a
Corrente Sindical Classista (CSC) e setores da Unidade Sindical ingressaram na
CUT. Esta unificação transformou, de fato, a CUT na única central representativa
dos interesses imediatos e históricos dos trabalhadores brasileiros.

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