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OS PIONEIROS

1807 – As tropas francesas, lideradas por Napoleão Bonaparte


invadem Portugal Manuel Antonio
1808 - Dom João VI e a sua família vêm para o Brasil e fazem
uma escala na Bahia, antes de aportarem no Rio de Janeiro da Silva Serva
1909 – Silva Serva ganha permissão para trazer a prensa. Segue
para a Inglaterra onde compra maquinário e emprega equipe.
Conde dos Arcos, que governava a Bahia, tenta impedir, mas Silva
Serva vai até o Rio de Janeiro e volta com carta real autorizando a
instalação da prensa

1811 – Silva Serva consegue autorização e inaugura, na Bahia a


primeira prensa particular do Brasil. Primeiro impresso foi um
folheto de 11 páginas com um texto de Inácio Jose de Macedo

Passou a visitar a corte, de onde trazia encomendas. Em vida


publicou cerca de 175 títulos (livros religiosos, de Direito,
Medicina e alguma coisa de literatura)
Silva Serva nasce em Vila Real de Trás-os-
Montes, Note de Portugal, em 1760
1819 – Morre em uma dessas viagens
Chega ao Brasil possivelmente em 1792
O genro toca a empresa até 1846
1821 – Fim da censura e do monopólio de imprensa no Brasil

1824 – Aos 15 anos, começa a trabalhar na Imprensa Nacional,


Francisco de
onde aprende o ofício de tipógrafo. De lá, vai trabalhar nas
oficinas do francês René Ogier e depois trabalha como redator e Paula Brito
tradutor no Jornal do Commercio

1831 – Compra a livraria do primo Silvino José d´Almeida e logo


instala um prelo de madeira, dando início à Tipografia
Fluminense de Brito e Cia. Dali saem os jornais A Mulher do
Simplício, publicação pioneira voltada para mulheres, e O Homem
de Cor, pioneiro na luta contra o racismo no país.

1850 – Funda a Empresa Tipográfica Dous de Dezembro, tendo o


imperador Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina como
“protetores e primeiros acionistas” – Conquista o título de
“Impressor da Casa Imperial”.

Entre os livros que a Dous de Dezembro publica estão: Últimos


Paula Brito nasce em 1809, poucos meses
cantos, de Gonçalves Dias; O Uraguai, de Basílio da Gama, e O
depois da chegada da Família Real ao Brasil.
filho do pescador, romance de Teixeira e Souza apontado como o
Era neto de escravos libertos.
primeiro romance genuinamente brasileiro
1854 – Paula Brito contrata o jovem Machado de Assis (15 anos)
Francisco de
como revisor. É na Dous de Dezembro que dá início a sua carreira
escrevendo para o periódico A Marmota. Primeiro texto de
Machado de Assis a ir a público foi o poema Ela, impresso n’A
Paula Brito
Marmota, em 1855.

1855 – Paula Brito faz uma aposta arriscada e lança a Empresa


Literária de Paula Brito. Coloca 2.500 ações no mercado com as
quais pretendia levantar 500 contos de réis. Os planos se
frustram e, no ano seguinte, pede concordata.

1857 – Sem saída, o editor pede falência

1861 – Morre em decorrência de uma inflamação nos gânglios. A


viúva toca o negócio até 1875, quando vende o que sobrou da
empresa para os irmãos Laemmert.

Sobre Paula Brito, Machado de Assis escreveu mais tarde: “Foi o


primeiro editor digno desse nome que houve entre nós”.
Com o início das operações das rotas do Atlântico Sul por navios
a vapor, o custo do frete barateou de tal forma que ficou mais
barato imprimir na França do que nas oficinas tipográficas do Rio
Baptiste Louis
de Janeiro. Percebendo este fenômeno, Garnier foi o primeiro
editor a separar o negócio da edição do da impressão Garnier
Outra coisa que diferenciava Garnier de outros editores em
operação no Brasil era a sua conhecida fama de ser generoso no
pagamento de direitos autorais.

Se foi Paula Brito quem descobriu o talento de Machado de Assis,


foi Garnier que deu reconhecimento. Publica Chrysalidas, volume
de poemas que marca a estreia de Machado de Assis na
Literatura.

Foi também pioneiro na produção de livros didáticos no Brasil.

Entre 1860 e 1890, a Garnier publicou 655 obras de autores


nacionais
Filho de Jean-Louis Garnier, patriarca de
uma família de livreiros em Paris, Baptiste
Morre em 1893 e seu irmão François-Hippolyte assume o
Louis Garnier desembarca no Rio de Janeiro,
negócio.
em 1844
Francisco Alves
1871 – Levanta dinheiro, trabalhando numa empresa de
materiais náuticos, e funda o seu negócio, um sebo na Rua São de Oliveira
José, no centro do Rio de Janeiro

1873 – Vende o sebo, com um lucro razoável, e resolve voltar


para Portugal onde fica até 1882, quando, novamente chamado
pelo tio, volta para o Brasil. Dessa vez, entra como terceiro sócio
na Clássica, junto com o tio e um compatriota, Antonio Joaquim
Ribeiro de Magalhães, que logo desiste da sociedade.

1897 – o tio, já adoentado, passa o comando da empresa para o


sobrinho. A Clássica, desde a década de 1870, se definia como
uma firma de livros colegiais e acadêmicos.

Francisco Alves encontra um cenário favorável. O fim do Império


(1889) e a alta da economia cafeeira, o Brasil passou a investir
Francisco Alves nasce em Portugal em 1848
em educação. Entre 1888 e 1907, o número de matriculados na
e chega no Brasil, aos 15 anos, em 1863, a
educação primária cresceu 147%. O orçamento do estado de São
convite do tio Nicolau, fundador da Livraria
Paulo com educação dobrou entre 1888 e 1893.
Clássica, de 1854.
Em meados da década de 1890, Francisco Alves praticamente
monopolizou o mercado de livros didáticos no Brasil Francisco Alves
Em 1894 abre filial em São Paulo e em 1906, em BH, recém-
construída de Oliveira
Esse poderio criou uma gigante e a Francisco Alves passou a
comprar editoras, formando um grande conglomerado,
marcando o que seria, talvez, o primeiro grande grupo editorial
do Brasil: a paulista Melilo N. Falconi e as cariocas Lombaerts,
Livraria Católica, Sauvin, Livraria Luso-Brasileira, Lopes da Cunha,
Empresa Literária Fluminense, Domingos de Magalhães e a
Laemmert, uma das principais aquisições que trouxe consigo os
direitos de publicação de Os sertões, de Euclides da Cunha;
Inocência, de Taunay e o Tratado completo da conjugação dos
verbos franceses, de Casemiro Lieutaud, obra ativa no catálogo
da Francisco Alves por quase 40 anos.

1904 – Francisco Alves morre em decorrência de complicações de


um ferimento banal. Era diabético. Deixa, em testamento, boa
parte da sua fortuna à Academia Brasileira de Letras, que vende a
editora a um grupo encabeçado por Antonio de Oliveira Martins
e Paulo Ernesto Azevedo, este gerente da F. Alves em SP.
Francisco Alves
de Oliveira
A vida da Francisco Alves é longa depois da morte do Francisco
Alves. Em 1974, a Netumar, empresa de produtos náuticos, do
deputado sergipano Ariosto Amado, compra a Francisco Alves.
Nessa ocasião, a empresa passa a ser administrada por Carlos
Leal, que junto com o irmão, compra a empresa em 1994.

Em 2011, com um passivo fiscal de R$ 1 milhão, Leal concede


uma entrevista à Folha dizendo que não entraria para a história
como o “camarada que fechou a Francisco Alves”.

O CNPJ da empresa segue ativo até hoje


OS REVOLUCIONÁRIOS
Lobato nasce em 1882 e aos 29 herda, do avô, uma fazenda de
café no Vale do Paraíba. O solo desgastado pela monocultura e o
Octalles Marcondes
negócio não ia bem, mas o que incomodava Lobato eram os
vizinhos. Ao ponto de ele escrever uma carta publicada pelo
Estadão em 1914 em que ele denunciava “a velha praga”,
Ferreira e Monteiro
referindo-se à queimada.
Lobato
Esse artigo foi o cartão de visitas de Lobato para o mundo da
escrita, ou pelo menos, foi nesse texto que ele se fiou para dar
início à carreira de escritor.

O mundo – em especial, a Europa – estava em guerra e a


incipiente indústria de papel brasileira não dava conta da nossa
produção editorial. Mas, mais do que isso, a guerra afetou
diretamente o negócio de Lobato e ele decide vender a sua
fazenda em 1917 e se mudar para São Paulo.

Com parte do dinheiro, comprou a Revista do Brasil, que tinha


publicado seus primeiros contos. Ainda com dinheiro apurado
com a venda da fazenda, resolve bancar por sua própria conta a
publicação de dois livros: Saci-Pererê: resultado de um inquérito e
Urupês, publicados em 1918.
Octalles Marcondes Ferreira, Anísio Teixeira,
Lobato e Édson de Carvalho
Lobato fez as contas na época, se dependesse só das 30 livrarias
existentes no Brasil da época, demoraria pelo menos cinco anos
pra esgotar a primeira edição de Urupês, mas ele queria mais.
Octalles Marcondes
Aproveitou a malha de distribuição da Revista do Brasil e Ferreira e Monteiro
aumentou de 30 para 200 pontos de venda. Ainda era pouco. Foi
quando resolveu escrever aos 1.300 agentes postais do país
pedindo nome e endereço de toda sorte de comércio. Queria
Lobato
vender ali os seus livros, “artigo comercial como qualquer outros:
batata, querosene ou bacalhau”.

O sucesso foi certeiro. Vende duas edições de Saci em dois


meses; no primeiro ano de publicação, Urupês bateu 11,5 mil
cópias vendidas e poucos anos depois, em 1923, Lobato
comemorava a marca de 30 mil exemplares vendidos. Esse era
um sucesso sem precedentes na história editorial brasileira.

Em 1919, funda a Monteiro Lobato & Cia, com Octalles


Marcondes Ferreira, que se candidatou a uma vaga de emprego e
acabou se tornando sócio de Lobato, mesmo sem aporte de
capital.

Octalles era como um contrapeso às maluquices de Lobato.


Lobato dizia ter ojeriza dos grandes nomes da literatura nacional.
Esses que procurassem o Garnier ou o Francisco Alves. Queria
publicar os novos. Foi pelo selo Edições da Revista do Brasil que
Octalles Marcondes
saíram os primeiros livros de nomes como Paulo Setúbal, Martim
Francisco, José Antonio Nogueira, Ricardo Gonçalves e Godofredo Ferreira e Monteiro
Rangel.

Abriram, no entanto, exceções e publicou Lima Barreto,


Lobato
Guilherme de Almeida, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia,
nomes já consagrados na época.

Também em 1919, com o fim da Primeira Guerra, a dupla


começou a importar o seu próprio papel, estruturaram uma
oficina gráfica e inovaram nos formatos dos livros, garantindo
melhor aproveitamento do papel.

Ao fim do primeiro ano de atividades, a firma já tinha colocado


no mercado 15 títulos, que juntos venderam cerca de 60 mil
exemplares.

Passada a euforia dos primeiros anos, veio a desvalorização da


moeda brasileira e o financiamento do maquinário importado e
os insumos passaram a onerar muito a produção
Em 1924, abre o capital da empresa, que passa a se chamar Cia.
Gráfico-Editoria Sociedade Anônima Octalles Marcondes
Nesse mesmo ano, irrompe em SP uma revolta de militares que
queriam depor o presidente Arthur Bernardes. Como contra- Ferreira e Monteiro
ataque, o governo federal bombardeou a cidade, o que
inviabilizou por dias a operação da empresa
Lobato
O câmbio e as consequências da Revolta Paulista colocou a
empresa numa situação muito difícil e a sua falência foi
decretada no ano seguinte.

No fim de 1925, Lobato e Octalles vendem uma lotérica que


tinham em sociedade e resolvem investir em uma nova editora. É
quando nasce a Cia. Editora Nacional. O primeiro título foi Meu
cativeiro entre os selvagens brasileiros, que reunia relatos de
quando o alemão Hans Staden viveu numa tribo canibal no Brasil.

Dois anos depois, Lobato – já um autor consagrado, e já tendo


ingressado na carreira de autor de livros infantis e juvenis –
aceita o convite para ser adido cultural do Brasil nos EUA. Afasta-
se do livro e passa a apostar na bolsa de valores. Perde tudo com
o crash de 1929.
Quem assume a sociedade no lugar de Lobato é Themistocles,
irmão de Octalles, que mais tarde, em 1941, assume a primeira
Octalles Marcondes
presidência do SNEL.
Ferreira e Monteiro
Os irmãos seguem o negócio e em 1932, compram a Civilização
Brasileira, editora carioca fundada por Getúlio Costa, Gustavo
Barroso e Ribeiro Couto. Os livros adultos passaram a ser Lobato
publicados por esse selo enquanto que os infantojuvenis eram
publicados pela Cia. Editora Nacional, incluindo os de Lobato,
sucesso garantido.

Em 1943, a empresa se vê esfacelada. Parte professores que


cuidavam da parte de didáticos da Companhia Nacional saem
para abrir a Editora do Brasil e Arthur Neves, braço direito de
Octalles, deixa a empresa e leva consigo os direitos de publicação
da obra de Lobato. Ele funda, com Caio Prado Jr., a Brasiliense.

Apesar das cisões, a Nacional segue crescendo. Em 1970, era


uma das líderes na produção de livros didáticos no Brasil, mas já
sentia o peso da concorrência, com o surgimento de casas como
FTD, Ática, Scipione, Ibep e Moderna.
Octalles Marcondes
Ferreira e Monteiro
Lobato
Mais consagrado como autor de livros infantis e juvenis do que
como editor, Lobato morre em 1948.

Em 1973, Octalles morre e os herdeiros resolvem vender a


empresa. José Olympio se interessa pelo negócio, mas a
Companhia Nacional acaba sendo estatizada. Na década
seguinte, ela é vendida ao Ibep, grupo do qual ainda faz parte.

Octalles em 1963
Aos 35 anos, Saraiva segue com a família para a cidade do Rio de
Janeiro e lá funda a J. Fonseca Saraiva Editor. Publica História do
Brasil ilustrada, do jornalista, historiador e futuro imortal da ABL
Joaquim Ignácio da
José Francisco da Rocha Pombo.
Fonseca Saraiva
Volta para SP três anos depois e começa a trabalhar na Livraria
Jacintho. Acumulava o cargo de representante da Revista de
Direito e de outras publicações jurídicas.

Vê na biblioteca de um jurista paulista a oportunidade de abrir o


seu próprio sebo, a livraria Acadêmica, instalada no Largo do
Ouvidor, bem próximo do Largo de São Francisco.

Estreita relações com os estudantes de Direito


Joaquim Ignácio da Fonseca
Em 1917, o livreiro volta a editar livros. O primeiro título que Saraiva nasce em Portugal. Aos
publica é Casamento civil, de Aniceto de Medeiros Corrêa. Os 19 anos, já tinha sido caixeiro
primeiros livros traziam na capa o selo Saraiva & Cia – Editores – numa livraria na Cidade do Porto,
Livraria Acadêmica. quando decide embarcar para o
Brasil. Chega por aqui em 1892,
aos 21 anos e se instala na
Muito inspirado em Lobato e Octalles, que já iniciavam a sua cidade de Santos e abre uma
revolução no mercado editorial brasileiro, Saraiva resolve importadora de vinhos e azeite.
publicar livros infantojuvenis.
Na década de 1930, a Saraiva passa a publicar livros didáticos,
Joaquim Ignácio da
surfando na onda das mudanças promovidas pelo então ministro
da Educação, Gustavo Capanema. Fonseca Saraiva
Ao completar 70 anos, os alunos da Faculdade de Direito do
Largo de São Francisco fazem uma grande homenagem. Ele era
conhecido como Conselheiro entre os estudantes.

Morre no ano seguinte. Três de seus filhos assumem o negócio.


Joaquim passa a ser o responsável pela livraria; Paulino responde
pelas finanças e pela editora e Jorge assume a gráfica que tinha
sido inaugurada em 1945.

O cenário era o fim do Estado Novo e a nova constituição que


garantia isenção dos impostos alfandegários para o papel
destinado à impressão de livros. Era uma época de muito
otimismo.

Entre as décadas de 1930 e 50, a Saraiva quadruplica o número


de exemplares produzidos, chegando a quatro mil títulos e 20
milhões de cópias num mesmo ano.
Sem nunca abandonar os livros jurídicos, a Saraiva passa a
publicar livros de “interesse geral”, com destaque para a Coleção
Saraiva, que chegou a ter 298 títulos. A coleção durou de 1948 a
Joaquim Ignácio da
1972 e teve como destaque Os meninos da rua Paulo, traduzido
por Paulo Rónai, e a primeira edição brasileira de O médico e o Fonseca Saraiva
monstro, de Robert Louis Stevenson, traduzido por Nair Lacerda.

Em 1966, a Acadêmica passa a se chamar Saraiva.

Em 1972, a empresa foi registrada como uma companhia de


capital aberto na Bolsa de Valores

Anos 1980 e 1990 marcaram a expansão da Saraiva. Em 1996,


inaugura a primeira megastore, no Shopping Ibirapuera (hoje
penhorado pelo Banco do Brasil).

Em 2008, compra o Grupo Siciliano e, de uma única vez, a rede


ganha 52 novas unidades.

Em 2015, a empresa, sob o comando da quarta geração dos


Saraiva, vende os seus ativos editoriais à então Abril Educação.

Em 2018, pede recuperação judicial.


Livraria Globo tinha sido fundada em 1883, pelo português
Laudelino Pinheiro de Barcelos. Era um estabelecimento
modesto, funcionando como uma papelaria e uma tímida oficina
Erico Verissimo e
gráfica para atender às demandas locais.
Henrique Bertaso
Quando Laudelino morre, em 1919, José Bertaso, até então,
gerente da livraria, assume o negócio e, a partir de 1922,
intensifica o braço gráfico da empresa.

Mas foi o seu filho, Henrique Bertaso, quem fez história. O crash
da bolsa de NY, em 1929, e a consequente desvalorização da
moeda brasileira impactou diretamente o negócio editorial no
Brasil, já que boa parte dos livros eram importados,
predominantemente da França e de Portugal.

Os livros ficaram impagáveis pelo brasileiro comum. Henrique vê


nisso uma oportunidade e, a partir de 1929, passa a publicar
ficção literária estrangeira. Foi pioneira no Brasil nesse segmento.

A Revolução de 1930, colocou o Rio Grande do Sul no centro do


cenário nacional. O fato histórico culminou com o golpe de
estado que colocou o gaúcho Getúlio Vargas no poder.
Erico Verissimo, que atuava como editor da Revista da Globo Erico Verissimo e
(fundada ainda por José Bertaso), é alçado a “conselheiro
editorial” da Globo. Em outras palavras, se tornou o primeiro
editor profissional que se tem registro no Brasil.
Henrique Bertaso
Pelas mãos de Verissimo, a Globo publicou nomes como Adous
Huxley, James Joyce, William Faulkner e Virginia Woolf. O foco
inicial eram livros traduzidos do inglês, mas em uma viagem à
Europa, Verissimo trouxe nomes como Kafka, Thomas Mann e até
Mein Kampf, de Hitler

Criou a coleção Nobel, que reunia nomes como Ibsen, Pirandello


e Giovani Papini

Passada a Segunda Guerra, a Globo passa a focar em livros


técnicos e de referência, com destaque especial para O manual
do engenheiro Globo e Dicionário Inglês – Português, dos irmãos
Valandro, e o Dicionário de sinônimos e antônimos, de Francisco
Fernandes.
Erico Verissimo e
Henrique Bertaso

Verissimo se sagra escritor e, aos poucos, deixa o lado editor. Em


1941, aceita convite de uma universidade americana e segue
para os EUA. Volta aos EUA mais duas vezes para substituir Alceu
Amoroso Lima, no cargo de diretor da divisão cultural da OEA.

Verissimo morre em 1975 e Henrique dois anos depois. Os filhos


de Bertaso – Otávio, Fernando e Cláudio – vendem a empresa em
1986 à Rio Gráfica, subsidiária do Grupo Globo.
José Olympio e
Ela nasceu em Paris, filha de uma família da elite intelectual de
São Paulo. Ele, filho de um baiano e de uma paulista de origem
mineira, nasceu em Batatais e aos 16, vai para capital onde se
Vera Pacheco Jordão
emprega como entregador na Garreaux, importante livraria da
cidade de São Paulo. Foi ali que se conheceram, em 1929

No ano seguinte, o jornalista e crítico literário Alfredo Pujol


morre e a família coloca a sua biblioteca à venda. José Olympio
arremata os volumes – muitos deles raros – e com esse acervo,
abre um sebo na Rua da Quitanda, no centro de SP.

Entre 1931 e 32, lança o primeiro livro – Conhece-te pela


psicanálise, do norte-americano Joseph Ralph, traduzido por José
Filha da elite
de Almeida Carvalho. Mas o projeto de se tornar editor foi
paulista, Vera
suspenso com a Revolução Constitucionalista de 1932.
Pacheco Jordão é a
primeira mulher de
O segundo livro só chega no ano seguinte: Itararé, Itaraé, um
relevo na indústria
relato de Honório Sylos sobre o conflito civil.
editorial brasileira
José Olympio e
Vera e José Olympio se casam em 1933 e por influência dela, a
José Olympio passa a publicar livros de literatura, em especial a
brasileira.
Vera Pacheco Jordão
O primeiro título dessa época foi A ronda dos séculos, de Gustavo
Barroso. Mas foi com a publicação de Os párias, do popularíssimo
Humberto de Campos, que a JO ganha volume e se destaca no
cenário editorial da época.

Humberto de Campos, que morreu logo depois, em 1934, foi


uma espécie de alicerce da JO. Até o fim de 1935, a editora já
tinha publicado 17 títulos, alguns deles com tiragens superiores a
20 mil exemplares. Em 1940, já tinha vendido mais de meio
milhão de cópias.

JO passa a enviar telegramas a autores que faziam parte do


catálogo de grandes editoras da época, como a Ariel. Um desses
casos foi José Lins do Rego para quem José Olympio ofereceu um
adiantamento, política nada comum naquela época. A aposta deu
errado e os livros de Lins do Rego encalharam.
Mas se houve prejuízo econômico, a JO ganhou fama. Isso atraiu
nomes como Oswald de Andrade, Lucio Cardoso, Gilberto Freyre,
José Olympio e
Murilo Mendes, Vinicius de Moraes, Rachel de Queiroz,
Graciliano Ramos e Jorge Amado – todos autores que foram para Vera Pacheco Jordão
a JO.

Em 1934, o casal se muda para o Rio de Janeiro e abre a Livraria


José Olympio, no lendário número 110 da Rua do Ouvidor.

Se em 1933, a editora publicou dois livros; em 34, foram 32


novidades. Esse número sobe para 59, em 1935 e para 66 no ano
seguinte.

O peso do trabalho de Vera fica muito claro no catálogo da JO.


Por sua insistência, a editora publica A cidadela, de A. J. Cromin,
livro que serviu de base para o filme dirigido por King Vidor, de
enorme sucesso. Foi dela também a decisão de não publicar E o
vento levou..., de Margareth Mitchell. A editora considerou o
livro mal-escrito e muito grande.

O casal se separa em 1940.


José Olympio era uma pessoa que circulava bem nos mais
diferentes – e às vezes opostos – ciclos sociais e isso se reflete no
catálogo. Publicou de Jorge Amado – com uma obra repleta de
José Olympio e
referências comunistas – a Plínio Salgado, líder da Ação
Integralista Brasileira. Longe de ser simpático ao integralismo de Vera Pacheco Jordão
Salgado ou ao comunismo de Amado, o que José Olympio tinha
era tino comercial.

Foi amigo próximo de presidentes como Getúlio Vargas, Juscelino


Kubitscheck e Humberto Castelo Branco.

Rubem Braga: “curiosa essa figura de José Olympio – amigo de


presidentes da República, de generais e amigos dos desordeiros
da Lapa”

Carlos Drummond de Andrade: “José Olympio editou com o


mesmo espírito autores de direita, de centro, da esquerda e do
planeta Sirius”.

Em 1936, Graciliano Ramos e Jorge Amado – ambos autores da


casa – foram presos. Isso não impediu de a JO publicar Angústia,
de Ramos, e Mar morto, de Amado, desafiando Filinto Müller,
chefe da polícia de Getúlio
Apesar das prisões desses dois autores, a censura imposta por
Vargas era branda com os livros. O olho estava nos jornais. Essa
política muda com a criação do Tribunal de Segurança Nacional
José Olympio e
(TSN).
Vera Pacheco Jordão
Livros passaram a ser recolhidos. Com o golpe de 1937 e a
instalação do Estado Novo, isso se torna ainda mais duro.

Nessa época, livros infantis de Monteiro Lobato foram queimados


e Cecília Meireles presa por traduzir um livro juvenil de Mark
Twain.

Passada a Segunda Guerra (39-45), os negócios da JO se voltaram


para o porta-a-porta. Em 1970, essa modalidade correspondia a
75% do faturamento da empresa.

Em 1964, ano importante na História do Brasil, a JO deixa a Rua


do Ouvidor e se instala – em um prédio próprio – na rua Marquês
de Olinda. Editor se aproxima dos militares. Publica, por exemplo,
livro do general Golbery do Couto e Silva
Em 1962, a JO era a 309ª maior empresa do Brasil, com filiais em José Olympio e
São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife
e Salvador. Apesar disso, era uma empresa familiar, tendo na
direção da firma os irmãos, cunhados, primos e filho de José Vera Pacheco Jordão
Olympio.

No fim da década de 1960, cria um braço editorial que cresce


rapidamente

Em junho de 1971, estoura uma bolha especulativa e as bolsas do


Rio e de SP vão à pique e junto com elas, as ações da JO. Em valor
da época, os papeis da editora caíram de Cr$ 6,50 para Cr$ 0,80.

Apesar disso, compra, em 1972, a Sabiá, criada por Fernando


Sabino e Rubem Braga e dona de um catálogo recheado com
nomes como: chico Anysio, Chico Buarque, Clarice Lispector, Che
Guevara, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e Pablo
Neruda.
Em 1973, mais um passo: resolve comprar, do irmão de Octalles
Marcondes Ferreira, a Companhia Editora Nacional. José Olympio e
Recorre a um empréstimo junto ao BNDE de Cr$ 200 milhões
Vera Pacheco Jordão
A Crise do Petróleo de 1973 trouxe uma inflação galopante para o
Brasil, inviabilizando as frentes do porta-a-porta, grande gerador
de caixa da empresa na época.

Com a Copa de 74, vê num livro do Pelé a chance de reverter a


situação. O livro sai com tiragem recorde de 200 mil exemplares.
Dá tudo errado

Nessa época, a JO tinha 46 anos de história, 700 autores e perto


de 30 milhões de exemplares produzidos. O velho José Olympio
sequer colocou as mãos na Companhia Editora Nacional. Diante
da situação, o BNDE consegue vender a Nacional para o Ibep e
fica com a JO.

Nove anos depois, José Olympio, já com 82 anos, e a sua editora


completamente dilapidada pelo banco estatal, presencia a
compra da editora pelo amigo Henrique José Gregori, na época,
presidente da Xerox no Brasil.
José Olympio e
Gregori toca o negócio até a sua morte, em 1990. JO fica
profundamente abalado e menos de um mês depois morre,
Vera Pacheco Jordão
enquanto almoçava

Os herdeiros de Gregori tocaram o negócio até maio de 2000,


quando venderam a José Olympio ao Grupo Editorial Record,
capitaneado na época por Sérgio Machado.

Vera dedicou-se à crítica de artes plásticas, compondo júris de


prêmios e curadoria de exposições. Escreveu também para o
teatro e lançou dois livros infantis, um pela própria JO e outro
pela Salamandra, editora criada por Geraldo Jordão, filho do
casal.

Para comemorar seus 70 anos, segue com amigos para Paris. Lá


morre em 1980.
Em 1942, Alfredo Machado funda, com o futuro cunhado, Décio Alfredo e Sergio
Machado e
Guimarães de Abreu, a Record, com o propósito de ser uma
espécie de distribuidora de tirinhas estrangeiras para o mercado
brasileiro. A inspiração vinha dos sindicatos dos quadrinistas nos

Sônia Jardim
EUA que fazia esse serviço

Inquieto, Alfredo manteve muitos outros trabalhos em paralelo


ao da Record. Teve uma agência de publicidade, outra de
viagens; foi produtor dos primeiros musicais a aportarem no Alfredo Machado
Brasil e foi secretário de Turismo da cidade do Rio de Janeiro começa a trabalhar
aos 13 anos,
Em meados da década de 1960, o governo norte-americano traduzindo tirinhas
passou a apoiar, com dinheiro, a publicação de livros no Brasil, publicadas pelo
por meio do Grupo Executivo da Indústria do Livro (Geil). Suplemento Jovem
Percebendo uma oportunidade, a dupla começa a publicar livros d’O Globo. Aos 20,
no Brasil. Sem grande sucesso. percebe uma
oportunidade e
Foi com Os insaciáveis, de Harold Robbins, que essa história funda a
mudou. O livro chegou ao Brasil com tradução de Nelson Distribuidora
Rodrigues, que não sabia inglês. Vendeu como água e Record de Serviços
transformou a história da Record. de Imprensa
Em 1970, Décio – que vinha de uma família de livreiros – termina
a sociedade com Alfredo e segue com a Eldorado, rede de
Alfredo e Sergio
livrarias da qual era sócio.

Entre 1973 e 1974, uma crise que se abateu sobre a Martins,


Machado e
concorrente de peso da época, abriu caminho para que Alfredo
levasse para a Record nomes como Jorge Amado e Graciliano
Ramos.
Sônia Jardim
Inovou ao investir pesado em publicidade. Ao lançar Tieta do
Agreste, em 1977, colocou aviões sobrevoando as praias do Rio
de Janeiro.

“Já fui chamado de o ‘rei dos importadores de lixo cultural


estrangeiro’, título que ostendo com muito orgulho porque
transformo esse ‘lixo’ no adubo que me permite manter um
pouco viva a árvore da literatura brasileira”

“Vendo livros como quem vende sabonetes”

“Publico do sublime ao ridículo, mas ganho dinheiro com o


ridículo”
Alfredo morre em 1991, aos 68 anos, em plena sexta-feira de
carnaval, vitima de um tumor cerebral. A Record tinha, nessa
Alfredo e Sergio
época, catálogo com mais de 2,5 mil títulos

Sergio Machado, que era economista e trabalhava na Vale do Rio


Machado e
Doce, é chamado pelo pai para assumir responsabilidades na
empresa da família. Sônia Jardim
Chega na empresa em 1972, aos 24 anos. Seu maior legado à
empresa foi o de ter pavimentado o caminho para que a empresa
crescesse nos anos seguintes.

Instala, dois anos depois da sua chegada, o primeiro computador


em uma editora brasileira. O trambolho ocupava um andar
inteiro do prédio.

Em 1989, compra um sistema Cameron de impressão, até hoje


em funcionamento na empresa. Tudo isso e mais a estabilidade
econômica do Plano Real, possibilitou a criação do Grupo
Editorial Record na década de 1990.
Sob a gestão de Sergio, a Record começa a comprar selos. O
primeiro foi a Rosa dos Tempos, fundada por Rose Marie Muraro,
Alfredo e Sergio
Ruth Escobar e Laura Civita.

Em 1995, Sonia Jardim (ela usa o sobrenome do marido), irmã


Machado e
caçula que era engenheira e administrava projetos na área da
construção civil, vai para a Record dar apoio a Sergio. Assume a
área financeira.
Sônia Jardim
Juntos, dão início ao plano de expansão. Depois da Rosa dos
Ventos, veio a BCD, fusão das editoras Bertrand, Civilização
Brasileira e Difel.

Em 2000, adquirem a José Olympio e é aí que a Record passa a


ser chamada de Grupo Editorial Record.

Dois anos depois, compra o selo BestSeller, da família Civita e a


Verus, editora paulista de livros Young Adults.

Em 2012, quando a Record completava 70 anos, os irmãos


compraram a Paz e Terra, de Fernando Gasparian.
Por uma coincidência, Sérgio morre poucos dias depois de
completar 68 anos, mesma idade que o pai tinha quando
Alfredo e Sergio
morreu. Ele estava se recuperando de uma cirurgia no cérebro

Sonia assume os negócios ao lado das sobrinhas (filhas de


Machado e
Sergio): Roberta, que passa a ser vice-presidente da empresa, e a
caçula Raphaela, que assume o selo Galera, voltado para o
público juvenil.
Sônia Jardim
Depois do divórcio dos pais, Geraldo Jordão, filho de Vera Jordão
e José Olympio, segue para um colégio interno na Suíça e de lá
Geraldo Jordão,
para outro na Inglaterra. Volta ao Brasil com 17 anos e vai
trabalhar com o pai Marcos e Tomás
O primeiro livro que Geraldo apresenta ao pai é O menino do
dedo verde, de Maurice Druon, que chega a vender dois milhões
de exemplares.
Pereira
Ainda no Rio de Janeiro, estuda Ciências Sociais e depois segue
para os EUA, onde estuda administração no Pratt Institut de Nova
York.

Em 1975, quando a JO entra em decadência, Geraldo tenta, sem


sucesso, comprar a empresa.

Aos 38 anos, funda a Salamandra (nome faz referência ao anfíbio


que, na mitologia, é imune ao fogo, símbolo de transformação),
sem uma linha editorial muito clara
Quando conhece Ana Maria Machado, Geraldo percebe um foco
e, em 1981, a Salamandra passa por uma transformação.
Geraldo Jordão,
Geraldo contrata Ana Maria que leva para o catálogo da editora
nomes como Silvia Orthof, Ruth Rocha, Joel Ruffino dos Santos e
Marcos e Tomás
José Paulo Paes.

A Salamandra era a concretização de um fenômeno de renovação


Pereira
viva da literatura infantil no Brasil.

Foi nesse mesmo ano que Marcos, que tinha acabado de entrar
no curso de engenharia, foi trabalhar com o pai. Nunca mais
deixou o livro.

A exemplo do pai com a José Olympio, Marcos presenciou o


crescimento meteórico da Salamandra.

Geraldo, prevendo que poderia repetir a história das dores do


crescimento da JO, resolve vender a editora. A Salamandra
passava pelo primeiro teste de fogo e é vendida a Ari de
Carvalho, dono dos jornais O Dia e Última Hora, que contrata
Pedro Paula de Sena Madureira, que fica seis meses na editora.
Logo depois, Marcos e Geraldo veem a chance de recomprar a
Salamandra.
Geraldo Jordão,
Nessa nova fase da editora, que coincide com o início da década
de 1990, chega à Salamandra Tomás, irmão mais novo de
Marcos e Tomás
Marcos. Ele tinha 24 anos e chega cheio de ideias.

É Tomás quem apresenta ao pai o livro Muitas vidas, muitos


Pereira
mestres, de Brian Weiss. O livro, sobre espiritismo e vida pós-
morte, agrada Geraldo, mas resolve se certificar de que não é um
charlatão. Pega um avião e vai até Miami onde Weiss morava. Na
volta, resolve publicar o livro, que vai muito bem.

A partir daí, a Salamandra passa a publicar livros de autoajuda.

Em 1997, vendem a Salamandra e os direitos de publicação do


catálogo de LIJ para Ricardo Feltre, fundador da Moderna (hoje
pertencente ao Grupo Santillana)

Com o restante do catálogo, fundam a GMT, que dá origem ao


selo Sextante, lançada em 1998
Geraldo é diagnosticado com uma diverticulite em, no
tratamento, recebe sangue contaminado com hepatite C, que
Geraldo Jordão,
evolui rapidamente para um quadro de cirrose.

O estado de saúde do pai não impede que os três sócios façam


Marcos e Tomás
um pacto: o de manter o foco da Sextante e publicar apenas
livros de autoajuda. Pereira
Em 2002, Geraldo consegue fazer o transplante de fígado. No ano
seguinte, já reestabelecido, lê uma nota pequena na Publishers’
Weekly sobre um livro que estava para ser publicado pela
Penguin Random House e que estava fazendo muito sucesso
entre os livreiros.

Geraldo chama Tomás e insiste que ele peça uma prova do livro à
Agência Riff, que representava aquele autor no Brasil.

Quando termina de ler, Geraldo passa o mês de janeiro INTEIRO


insistindo com os filhos para que a Sextante publicasse aquele
livro de ficção, apesar do pacto feito por eles.

O livro em questão era O código da Vinci


Diante da insistência do pai, Marcos e Tomás publicam o livro que
transforma a editora e a vida do pai, que escreve aos filhos uma
Geraldo Jordão,
carta em que dizia nunca ter imaginado ganhar tanto dinheiro
com um livro e, que por sua decisão, criaria um fundo de apoio a
projetos sociais e coletivos que atuam na Zona Oeste do Rio de
Marcos e Tomás
Janeiro. Ao todo depositou R$ 3,5 milhões no fundo batizado
com o nome da mãe – Vera Pacheco. Pereira
Geraldo morre em 2008, aos 69 anos. Além de editor, foi diretor
do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde pôde ser um pouco
Tistou, protagonista de O menino do dedo verde, sua primeira
escolha editorial.

Já sem o pai, os irmãos criam a Arqueiro para abrigar os títulos


de ficção da GMT, que se consolida como uma das maiores
editoras do Brasil, encabeçando sucessivamente o Ranking das
Editoras do PublishNews desde 2017.
OS COMBATENTES
Caio Graco Jr. era neto de Martinico Prado, um dos maiores
cafeicultores do mundo; filho de Caio Prado Silva e Antonieta
Caio Prado Jr. e
Álvares Penteado. Faz parte de seus estudos na Inglaterra e volta
para o Brasil em 1924 e entra para a Faculdade de Direito do
Largo de São Francisco.
Caio Graco Prado
Perto de se formar advogado, filia-se ao Partido Democrático, o
componente paulista na política café-com-leite, marcada pela
alternância de poder entre paulistas e mineiros. Participa
efetivamente da Revolução de 1930

Descontente com os resultados da Revolução, Caio Prado Jr. rasga


a sua filiação ao Democrático e filia-se ao Partido Comunista do
Brasil. Logo depois, escreve seu primeiro livro Evolução política
do Brasil.

O PCB lidera a criação da Aliança Nacional Libertadora, que fazia


frente à versão brasileira do fascismo implantado na Europa. A
ANL foi enquadrada em 1935 na Lei de Segurança Nacional. Caio
é preso por dois anos e em seguida se exila na França.
Volta ao Brasil em 1939, em plena ditadura do Estado Novo, e
funda, junto com Monteiro Lobato, e Arthur Neves, braço direito Caio Prado Jr. e
de Octalles, a Hoje: o mundo em letra de forma, revista
clandestina que divulgava as ações do PCB
Caio Graco Prado
Essa foi a base para a fundação da Brasiliense, fundada em 1943.
Leandro Dupré – marido da escritora Maria José Dupré – era o
quarto sócio e os primeiros títulos a saírem da Brasiliense foram
os de Monteiro Lobato, cujos direitos foram cedidos gentilmente
por Octalles

O negócio cresce e, em pouco tempo, o negócio se desdobrou na


Livraria Brasiliense e na Gráfica Urupês

Com o golpe de 1964, Caio eleva o tom e publica, em 66, a


coleção História nova Brasil, organizada por Nelson Werneck
Sodré. A ousadia lhe rendeu uma decretação de prisão, que
nunca cumpriu.

Em 67, dá uma entrevista a uma revista de estudantes de


Filosofia defendendo que, se houvesse trabalhadores dispostos a
pegar em armas, o seu papel seria ajudá-los a tomar o poder. Foi
condenado a seis anos de prisão – fica um ano e 5 meses preso.
Em 1975, Caio Graco Prado, filho do Caio Prado Jr., assume a
Brasiliense e faz uma revolução. Nesse mesmo ano, morre o Caio Prado Jr. e
jornalista Vladmir Herzog, um dos vetores de força para a
distensão do regime ditatorial no Brasil
Caio Graco Prado
O editor vê nessa abertura “lenta e gradual” chance de
reposicionar a editora ao lado dos jovens, ávidos por entender o
novo mundo.

Em 1980, lança a coleção Primeiros Passos, inspirado numa


coleção espanhola, e fortemente adaptada à realidade brasileira
pelas mãos de Luiz Schwarcz, que futuramente fundou a
Companhia das Letras.

“Maior êxito na cena editorial brasileira dos últimos anos” – Veja

Depois vieram as coleções Cantadas Literárias – que revelou


Marcelo Rubens Paiva - e Circo de Letras – que apresentou ao
leitor brasileiro nomes como Charles Bukowski e a Geração Beat.

De 1980 a 83, a Brasiliense lançou mais título do que tinha


publicado desde a fundação em 1943.
Fluminense de Campos dos Goytacazes, filho de imigrantes (o pai
era libanês e a mãe francesa), Jorge Zahar chega ao Rio de Jorge Zahar
Janeiro em 1936, aos 16 anos.

Com uma mão na frente e outra atrás, começa a vender artigos


de carnaval nos trens de subúrbio do Rio. “Só o inferno pode ser
tão quente do que São João de Meriti no mês de janeiro”.

O irmão mais velho, Ernesto, começa a trabalhar com importação


de livros com Antonio Herrera, um espanhol anarquista e
passional de quem Ernesto se tornou genro. Importava livros da
Inglaterra ou da Argentina.

Em 1940, Jorge também entra pro time de Herrera

Seis anos depois, o velho espanhol resolve se aposentar. Ele


acreditava que a guerra tinha posto um ponto final no seu
modelo de negócio.

Os irmãos Zahar – nessa altura o caçula Lucien também já estava


envolvido – enxergam oportunidade e fundam a Livraria Ler –
Livrarias Editoras Reunidas, mantendo o espírito da livraria de
Herrera
Em 1946, os irmãos resolvem fundar a Zahar Editores – “A editora
era um produto de JK, um produto da política de substituição de Jorge Zahar
importações. O raciocínio é muito simples: Se você tem que fazer
automóveis nacionais, tem que fazer também livros”.

Nasce com o propósito de publicar livros de Ciências Sociais. O


primeiro livro foi Manual de Sociologia, de Jay Rummey e Joseph
Maier, que inaugurava a coleção Bibliotecas de Ciências Sociais.

Mas foi com História da riqueza do homem, do marxista Leo


Huberman, que a Zahar conquistou seu lugar ao sol

Jorge levantava duas bandeiras: a da independência e a da


pluralidade de ideias. E esse apego à liberdade, fez dele um
editor combativo nos anos de chumbo.

Ao lado de Ênio Silveira, foi um dos mais aguerridos opositores


do regime militar.

Em 1973, uma briga entre os irmãos, causou o fim da sociedade.


Ernesto ficou com a marca Ler; Lucien, com a loja térrea do
imóvel onde estava instalada a editora e ali fundou a livraria
Galáxia e Jorge seguiu sendo editor.
Sem capital, ele recorre a Abraão Koogan e Pedro Lorchi, da Jorge Zahar
Guanabara, que entram como sócios no empreendimento.

Logo entram em conflito – Jorge queria publicar projetos que


julgava importantes, mesmo que deficitários

Em 1985, a sociedade é desfeita e Jorge recomeça, desta vez com


os filhos, a nova editora, a Jorge Zahar Editor.

Morre em 1998, de problemas cardíacos

A filha Ana Cristina e a neta Mariana tocam o negócio até 2019,


quando a editora é vendida ao Grupo Companhia das Letras, de
Luiz Schwarcz.
Ênio Silveira entra para o mercado editorial de uma maneira no
mínimo inusitada. Ênio Silveira
Lobato o contrata e ele começa a sua carreira em 1943, na
Companhia Editora Nacional, onde conhece Cleo, filha de
Octalles, com quem se casa

Já casado, Ênio também segue para os EUA, onde estuda


editoração na Universidade de Columbia, em Nova York. Lá, faz
um estágio na Alfred Knopf

De volta ao Brasil, assume, em 1948, a direção do selo Civilização


Brasileira, que já fazia parte da Nacional desde 1932.

O pós-guerra foi de pouco desenvolvimento da indústria nacional


de livros. As poucas editoras que sobreviveram foram aquelas
Ênio Silveira era filho de uma família de classe
que mantiveram a cautela, o foco na venda por crediário e a
média, muitos deles trabalhando na área jurídica.
firmeza nos seus nichos. Eram elas, a Melhoramentos explorando
Seu tio-avô, Alarico Silveira, foi secretário da
os livros infantis; a Nacional com os didáticos; a José Olympio
Presidência no governo Washington Luís e
com a literatura nacional e a Globo com as traduções.
ministro do Superior Tribunal Militar e o avô,
Valdomiro Silveira, secretário de Educação e da
Esse cenário toma outros contornos com a chegada de Juscelino
Justiça de SP no governo de Armando de Sales
Kubitscheck à Presidência da República em 1956.
Oliveira
Entre 1952 e 58, Ênio preside o SNEL. Ao lado de Edgar
Cavalheiro, então na presidência da CBL, e com apoio de JK,
conquista a isenção do papel importado em 1957 e o subsídio
Ênio Silveira
das tarifas postais. A década de 1950, graças a esse impulso e às
políticas de JK, a indústria editorial brasileira cresceu a olhos
vistos.

Na década de 1950, sob a gestão de Ênio, a Civilização Brasileira


saiu de um inexpressivo selo editorial da Nacional para uma das
principais editoras do país. A editora passa a ser a casa de
autores brasileiros como Carlos Heitor Cony, Antonio Callado,
Millôr Fernandes, Dias Gomes e Ferreira Gullar são alguns dos
nomes que passaram a publicar pela casa. Acolhe também
autores estrangeiros. Foi o caso de George Orwell, T.S. Elliot,
Faulkner, Hemingway e Scott Fitzgerald.

Em 1962, começa a publicar os provocativos Cadernos do povo


brasileiro que tinha forte apelo socialista; isso, em plena
ditadura.
Octalles não estava contente com a linha editorial que Ênio
imprimia na Civilização Brasileira. Ênio passa a comprar partes da
empresa. Em 1963, o controle acionário da empresa já estava em
Ênio Silveira
suas mãos e a família de sua mulher já estava fora do negócio.

Se os Anos Dourados de JK (1956 – 1960) foram importantes para


a estruturação de uma capacidade produtiva da indústria
editorial brasileira, o que veio depois foi só desafio. A inflação
seguiu num crescente entre 1960 (25,4%) e 1964 (89,9%).

Mas foram os anos de chumbo da ditadura, iniciados na década


seguinte, que marcariam para sempre a vida de Ênio. Com o
Golpe de 1964, que deu início ao período da ditadura militar,
Ênio se torna ainda mais radical no seu posicionamento político e
paga um preço alto por isso.

Ênio passa por sete vezes na prisão entre 1964 e 1969 e tem os
seus direitos políticos cassados em 64.
Para além do cárcere, a situação política do Brasil afetava os
negócios de Ênio. Ênio Silveira
Octalles acreditava que a fama de comunista do genro
atrapalhava os seus negócios. Por isso, encerra contrato
importante para a Civilização Brasileira, que representava
comercialmente a Companhia Editora Nacional. Segundo
informou o próprio Ênio, isso representou queda de 40% no seu
faturamento.

Encomenda – e paga antecipadamente – a tradução da obra


completa de Lenin. Os originais foram apreendidos pelos
militares quando já estavam na gráfica, pronto para a impressão.

Em 68, a Livraria Civilização Brasileira, no centro do Rio, foi alvo


de um atentado à bomba. Esse tipo de ataque se repetiu.
Ênio Silveira
Financeiramente sufocado, Ênio se vê obrigado a vender a
Octalles todo o estoque do Pequeno dicionário da língua
portuguesa, um dos carros-chefes da Civilização desde a sua
fundação. O pedido de concordata veio em 1966. Paga parte de
suas obrigações com a venda do Dicionário, ainda assim, longe de
resolver os problemas.

Na segunda metade da década de 1970, Ênio vende 80% da


Civilização Brasileira para Manuel Bulhosa, um banqueiro que já
era dono da Difel e da Bertrand. Bulhosa manteve a linha
editorial e a direção de Ênio. Posteriormente, compra os outros
20% e transforma Ênio em um assessor especial da editora.

Ênio morre em 1996, em consequência de um edema pulmonar.

Nesse mesmo ano, a Civilização Brasileira, a Difel e a Bertrand se


unem sob o guarda-chuva da BCD União de Editoras
No ano seguinte, a Record incorpora a BCD e a Civilização
Brasileira passa a ser um selo do Grupo Editorial Record.
Resolve estudar física e, desde muito nova, envolve-se com a vida
intelectual e com a militância na Ação Católica
Rose Marie Muraro
É nessa mesma época que conhece o então padre Helder
Câmara, quem passa a acompanhar
Em 1965, por indicação de Ernest Fromm, da Agir, começa a
trabalhar como editora na Forense.
Quando o amigo indicou essa possibilidade, ela se lembrou de
uma viagem que fez a Paris em 1950. Lá, esteve nos lançamentos
de dois livros marcantes pra a sua vida e que incendiaram o
mundo: O segundo sexo, de Simone de Beauvoir, e La
Cybernetique, de Norbert Wiener. Ela também queria colocar
fogo no mundo!
Sai da Forense em 1967, quando se associa a Luís Maranhão e
Heloneida Studart e forma a sua primeira editora, que publicou
as encíclica de João XXIII. Rose Marie Muraro nasce numa família rica, de
Tinha apoio do amigo Ênio Silveira, que cuidava da distribuição industriais têxteis que vieram do Líbano. Logo foi
dos livros. A editora dura pouco, até Maranhão ser torturado até diagnosticada com um problema importante de
a morte pela ditadura militar. visão – ela enxergava com apenas 5% da sua
capacidade visual. Isso nunca foi impedimento
para que ela aprendesse a ler e a escrever.
Já em 1969, a convite do frei Ludovico Gomes de Castro, passa a
integrar a equipe da Editora Vozes. Lá passa a trabalhar ao lado
Rose Marie Muraro
de Leonardo Boff, outro que mais tarde, nos anos 1970, se torna
o mais importante teórico da Teologia da Libertação, da qual
Rose também foi uma defensora.
Rose leva para a Vozes os escritos da Igreja Progressista. A
vocação católica da empresa não a impede de se posicionar de
forma crítica ao regime ditatorial vivido no Brasil da época. A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) dava uma certa
proteção à Vozes, garantindo a ausência de censores na sua
estrutura. Rose Marie costumava dizer que tinha as costas
quentes.
Um dos livros que lança no período da Vozes é Mística feminina,
da pensadora feminista Betty Friedman. A editora traz a escritora
ao Brasil para o lançamento do livro em 1971, causando enorme
polêmica.
Se a ditadura poupa, de certa forma, Rose Marie e Leonardo Boff,
o Vaticano não suportou a repercussão da Teologia da Libertação
e determina, em 1986, a demissão não só da dupla, mas também
do frei Ludovico.
Em 1990, ela se associa a Alfredo Machado, da Record, à
jornalista Laura Civita, à atriz Ruth Escobar e à professora Neusa
Rose Marie Muraro
Aguiar e funda a Rosas dos Tempos, a primeira editora brasileira
especializada em publicar livros que tratassem das questões
feministas.
O primeiro livro é Uma voz diferente, de Carol Gilligan. Na
sequência, publica o livro que Rose considerava o mais
importante de sua trajetória como editora: Martelo das
feiticeiras, tradução para o português de Malleus Maleficarum,
um manual medieval de caça às bruxas lançado originalmente
em 1846.
Quatro anos depois da fundação da Rosa dos Tempos, em 1994,
Alfredo resolve comprar a parte das sócias e transformar a
editora em um selo da Editora Record, o primeiro de muitos que
viriam depois. Rose continua como diretora editorial da casa até
2005, quando o selo é deixado de lado
Ela combateu um câncer na medula óssea por cerca de dez anos
até a sua morte aos 83 anos, em 2014.
Em 2018, 12 anos desde a suspensão das atividades da Rosa dos
Tempos, o Grupo Editorial Record resolve relançar o selo.

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