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FRANCÊS E ALEMÃO
Denise César *
INTRODUÇÃO
1. Obrigação de conformidade
2. Obrigação de segurança
3. Responsabilidade pelo fato do produto
CONCLUSÃO
INTRODUÇÃO
Dentro do universo legislativo dos dois países, foram tomadas como significativas,
para o ordenamento francês, a sua codificação respeitante a esta matéria - Loi
n.93.949, du 26 jullet 1993, Code De La Consommation - e a recente alteração por
este sofrida, em vista da adoção da Diretiva Comunitária, de 1 de fevereiro de
1995, pela Loi 95-96. Para o sistema alemão foram tomadas a lei de 9 de
dezembro de 1975, a AGB Gesetz, e a de 1º de janeiro de 1990,
Produkthaftungsgesetz, que estabelece a responsabilidade pelo fato do produto,
também adaptando a legislação nacional, com diferenças pouco significativas, à
diretiva comunitária.
O estudo tomará como roteiro a análise dos reflexos da proteção que o Estado
pretende alcançar ao consumidor através do fortalecimento de seu consentimento,
com os recursos utilizados para que este consentimento não seja viciado, não sob
o prisma dos tradicionais vícios da vontade, mas por perigos outros que a
sociedade de consumo oferece; da busca de um novo equilíbrio contratual, onde o
adágio “qui dit contratuel dit just” é relativizado pelo reconhecimento de nova
incidência do princípio da igualdade em algumas relações negociais e através do
estabelecimento de obrigações reforçadas ao profissional, que assim passa a ter
novas responsabilidades civis.
3. O direito à reflexão
Este direito não se estende a todo o tipo de contrato, limitando-se, isto sim, a sua
aplicação à determinadas hipóteses, cujo exame permite perceber a sua finalidade
é a proteção do consumidor naquelas contratos onde o livre arbítrio, por motivos
vários, é considerado enfraquecido. São exemplos de aplicação deste instituto os
contratos de compra e venda de imóvel novo, os contratos de seguro de vida, de
ensino por correspondência, de agenciamento matrimonial, entre outros. Volta
Raimond Salleille foi dos primeiros autores a verificar que a concreta autonomia da
vontade das partes havia diminuído consideravelmente, pela desproporção de
poder entre os contratantes, tendo esse autor cunhado a expressão “contratos de
adesão”, com a qual pretendia denominar novas formas contratuais nascidas a
partir de mudanças sociais desencadeadas pela industrialização e massificação.
O caráter abusivo das cláusulas não será apreciado com relação à definição do
objeto principal do contrato, nem sobre a adequação do preço ou remuneração ao
bem ou serviço oferecido, senão quanto à forma como a fixação do preço ou do
serviço se deu.
São os artigos 131-1 e seguintes, da lei que instituiu o Código do Consumidor, que
regulamentam e organizam a luta contra as cláusulas abusivas.
A peculiaridade francesa, cujos meios de combate tem inspiração alemã e inglesa,
foi a de constituir uma comissão, composta por treze membros - três magistrados,
duas personalidades qualificadas na matéria, quatro representantes dos
profissionais e quatro representantes dos consumidores -, que examina os
modelos de contratos e recomenda a supressão das cláusulas ou sua
modificação. São recomendações de efeito meramente moral e tem como forma
de aumentar sua autoridade a possibilidade de publicação de listagem daqueles
profissionais que não aceitarem as recomendações.
Como, ainda que municiados por estes instrumentos, a defesa dos consumidores
não tem obtido a eficácia pretendida, a jurisprudência tem entendido que as
cláusulas podem ser declaradas abusivas pelos juizes e reputadas não escritas,
mesmo que não proibidas por decreto. (2)
Embora essa não fosse a intenção do legislador - de conferir esse poder ao órgão
jurisdicional - o entendimento é compatível com o ordenamento jurídico, com a
interpretação dos textos legais pertinentes ao direitos do consumidor, e, por isto, é
aceito pela doutrina, em que pese alguns doutrinadores ainda sustentarem que a
via de um princípio geral, como o da boa-fé, seria mais adequada.
Essa mesma legislação desde logo dispõe que as cláusulas devem ser bem
apresentadas, devem ter condições de ser lidas, sob pena de serem reputadas
não escritas. A ininteligibilidade de uma cláusula, assim como a não utilização da
língua francesa, é causa de sua não validação.
A boa-fé foi utilizada para o controle das cláusulas abusivas pela extensão de sua
aplicação ao estágio de formação dos contratos, isto na primeira metade do
século.
Em 1976, com a edição da AGB - Gesetz, foi instituída a lista geral que
recentemente foi adotada na França. Nesta lista geral alemã constavam as
cláusulas expressamente proibidas e as cláusulas relativamente proibidas, bem
como cláusulas controladas pelo princípio geral da boa-fé.
1. A obrigação de conformidade
Para invocar e obter as garantias legais, o consumidor deve entrar em juízo, o que
é incompatível com o interesse em jogo, muitas vezes, já que normalmente são de
pequena monta os valores decorrentes do descumprimento das garantias.
O decreto de 04/03/88 instituiu um procedimento simplificado, a ação de "injuntion
da faire", que, entretanto, é pouco utilizado.
Para ter direito à garantia legal. o comprador tem que provar a existência do vício
à época da venda, prova difícil, às vezes impossível, que desestimula o exercício
do direito.
Portanto, será através dos meios preventivos e coletivos que se permitirá, com
maior eficácia, a satisfação dos interesses dos consumidores, seja através do jogo
da concorrência, pelas leis de mercado, seja por leis imperativas que impõem
restrições a este, como a de 1/10/1905, que exige que os nomes dos produtos
correspondam à sua essência. Volta
2. A obrigação de segurança
Neste particular, o sistema francês fez escola, eis que, por diretiva comunitária de
29/06/92, estão os estados-membros obrigados a adotar as medidas necessárias
à atribuir ao produtor e ao distribuidor a obrigação de segurança.
Entretanto, foi em 1968, com o julgamento do caso da "peste dos frangos" que se
iniciou a construção da teoria da responsabilidade extracontratual, em que a
perspectiva contratual é rechaçada em favor da via delitual. Consagra-se a
inversão do ônus da prova e se institui o conceito de "culpa organizativa" do
fabricante, que passa a ter trânsito comum.
CONCLUSÃO
Notas
(1) É verdade que alguns autores, entre estes Elisabeta Silvestrini, sustentam que,
na verdade, a lei de 88 reduziu o poder de ingerência negocial das associações,
que, nos termos da Lei Royer, dispunham do poder de exercitar a ação coletiva
perante todas as jurisdições . Volta.
BIBLIOGRAFIA
Idem - Les Clauses abusives et la présentation des contrats dans la Loi 95-96 du
01/02/95, in Recueil Dalloz Sirey,1995, 14 caderno.
SCHWENZER, INGEBORG - L'adaptation de la directive communautaire du 25
juillet 1985 sur la responsabilité du fait des produits défectueux en Allemagne
Fédérale, in Revue Internationale de Droit Comparé, 1991.
* Juíza de Direito