Você está na página 1de 25

DÉCIMA AULA - EQUILÍBRIO PARCIAL - MICROECONOMIA

Departamento de Economia, UnB


Prof. José Guilherme de Lara Resende

1 Mercado Competitivo
1.1 Demanda de Mercado
1.1.1 Demanda de Mercado
Em um mercado competitivo, compradores e vendedores tomam os preços como dados. O agente
econômico individual (consumidor ou firma) vê os preços como algo fixo, fora do seu controle.
Porém, os preços são determinados pelas ações de todos os agentes econômicos da sociedade.
A análise de equilı́brio parcial ignora os efeitos de equilı́brio geral (supõe que são desprezı́veis) e
se concentra no estudo de um mercado em particular.

1.1.2 Propriedades do Mercado Competitivo


O mercado em concorrência perfeita é o principal paradigma econômico, pois apresenta carac-
terı́sticas de bem-estar social. A mais importante é que na ausência de falhas de mercado, a
alocação do mercado competitivo maximiza, a grosso modo, o bem-estar social.
Além de o mercado concorrencial sinalizar que a alocação social é ”boa”, ele serve de comparação
para os mercados não concorrenciais, mostrando o quanto estes estão distantes do ótimo social.
O mercado concorrencial também serve para indicar o que o estado deve fazer nos mercados não
concorrenciais para buscar otimizar a alocação dos bens e serviços.

1.1.3 Demanda de Mercado


Suponha que existam I potenciais compradores de um bem qualquer. A demanda de mercado de
um bem é a soma de todas as demandas individuais por esse bem:
PI
q d (p) = i=1 q i (p, p, y i ),

onde y i é a renda do comprador i, q i (p, p, y i ) e p são a demanda desse comprador e o preço do


bem em questão, e p são os preços de todos os outros bens.
A demanda de mercado depende portanto do preço do bem, de todos os outros preços da economia,
e da renda de cada um dos compradores desse bem (além de outros fatores implı́citos).
Em geral, não podemos afirmar que a demanda depende apenas da renda total dos participantes
do mercado. A distribuição de renda entre os indivı́duos também afeta a demanda de mercado.

1.1.4 Lei da Demanda para a Demanda de Mercado


A lei da demanda diz que a função de demanda individual é negativamente inclinada com relação
ao preço do bem.
Como a demanda de mercado é dada pela soma de todas as demandas individuais, e cada uma
delas satisfaz a lei da demanda, a demanda de mercado também satisfaz a lei da demanda.

1
A demanda de mercado é homogênea linear nos preços e em todas as rendas individuais, pois cada
demanda satisfaz homogeneidade individualmente.

1.1.5 Curva de Demanda da Indústria Competitiva


A indústria competitiva (diferentemente da firma competitiva) se defronta com uma curva de
demanda negativamente inclinada (na maioria dos casos).
Note que uma firma em particular se defronta com uma demanda horizontal, pois o seu tamanho é
pequeno em relação ao tamanho do mercado todo. Porém, a indústria se defronta com a demanda
de mercado, que é negativamente inclinada.

1.2 Oferta de Mercado de Curto Prazo e de Longo Prazo


1.2.1 Oferta de Mercado
A curva de oferta de mercado é obtida somando-se todas as curvas de ofertas do bem.
Existem duas curvas de oferta: a curva de oferta de curto prazo, que mostra como a indústria
responde a diferentes preços no curto prazo; e a curva de oferta de longo prazo, que mostra como
a indústria responde a diferentes preços no longo prazo.

1.2.2 Oferta de Mercado de Curto Prazo


A função de oferta de curto prazo de um mercado competitivo é a soma de todas as ofertas de
cada firma. Se existem J firmas na indústria, e se cada firma j oferta qj (p, w) quando o preço é
p, então a oferta da indústria é:
XJ
S
q (p) = qj (p, w)
j=1

No curto prazo, o número de vendedores no mercado, J, está fixo. Esses vendedores podem variar
a sua oferta apenas usando os fatores que não estão fixos.
Podemos achar também a função de oferta inversa da indústria, que diz qual preço mı́nimo a
indústria como um todo aceita para ofertar uma certa quantidade.

1.2.3 Oferta de Mercado de Longo Prazo


No longo prazo, nenhum insumo está fixo. A firma pode decidir sair do mercado se os custos
médios de longo prazo não forem cobertos.
Portanto, no longo prazo ocorre um importante ajuste de margem extensiva: a entrada e saı́da de
firmas, dependendo de a indústria ter lucros ou prejuı́zos.
O equilı́brio do mercado competitivo é portanto o ponto onde o preço iguala o custo médio de
longo prazo mı́nimo, e igual ao custo marginal. Esse é o ponto de máxima eficiência possı́vel.

1.3 Equilı́brio Parcial


1.3.1 Equilı́brio Parcial
O mercado de um certo produto está em equilı́brio quando a demanda se iguala à oferta.

2
O equilı́brio de mercado competitivo é obtido via ajuste de preços: o preço de equilı́brio é o preço
que faz com que a demanda seja igual à oferta.
Como a demanda diminui se o preço sobe e a oferta aumenta se o preço sobe, só existe um preço
de equilı́brio. A figura a seguir ilustra esse ponto.

1.3.2 Equilı́brio Parcial

Preço
6
Curva de Oferta
Q 
Q 
Q 
Q 
Q
p∗ r 
Q
QQ
 Q
 Q
 Q
 QQ

Curva de Demanda

-
y∗ y

1.3.3 Equilı́brio
Dado o preço de equilı́brio, os consumidores estão comprando a quantidade ótima do bem e as
firmas estão ofertando a quantidade ótima do bem.
Nenhum agente tem incentivo para mudar o seu comportamento, e o equilı́brio é estável, no sentido
que após um choque que afasta a demanda ou a oferta do ponto de equilı́brio, há uma tendência
de retorno ao equilı́brio.

1.3.4 Exemplo
Suponha que a demanda pelo bem é dada por D(p) = 10 − p e a oferta do bem é dada por
S(p) = 6 + p. O preço de equilı́brio é o preço que faz a demanda e a oferta se igualarem:

S(p∗ ) = D(p∗ ) ⇔ 10 − p∗ = 6 + p∗ ⇒ p∗ = 2

Ao preço p∗ = 2, a oferta é igual a S(2) = 8 e a demanda é igual a D(2) = 8. Ou seja, oito


unidades do bem são produzidas e oito unidades do bem são consumidas ao preço de R$2.

1.3.5 Excesso de Demanda e Excesso de Oferta


Se a demanda é maior do que a oferta, dizemos que há um excesso de demanda. Se a oferta é
maior do que a demanda, dizemos que há um excesso de oferta. Em qualquer desses casos, o preço
se ajustará para equilibrar o mercado.
Se existe excesso de oferta em um mercado, ao preço atual, as firmas estão dispostas a ofertar
mais do que os consumidores desejam comprar. Sobrará uma quantidade de bens (o excesso de
oferta) que não será vendida. As firmas reduzirão os preços até que consigam se desfazer desse
excesso de oferta.

3
1.3.6 Excesso de Oferta
Preço
6
Curva de Oferta
Q 
Q rExcesso de Oferta 
r
Q
p̂ Q 
Q
Q
QQ
 Q
 Q
 Q
 QQ

Curva de Demanda

-
yD yO y
1.3.7 Excesso de Demanda
Se existe excesso de demanda em um mercado, ao preço atual, os consumidores estão dispostos
a comprar mais do que as firmas estão dispostas a ofertar. Faltará uma quantidade de bens (o
excesso de demanda) no mercado. As firmas subirão os preços até que o excesso de demanda
desapareça.
No gráfico a seguir, ao preço p̃, as firmas desejam ofertar yO unidades do bem. Porém a esse
preço p̃, os consumidores desejam consumir yD > yO . O excesso de demanda faz com que o preço
aumente, diminuido a demanda e aumentando a oferta, até que as duas se igualem.

Preço
6
Curva de Oferta
Q 
Q 
Q 
Q 
Q
Q
QQ
r Q r

p̃ 
 Q
Excesso de Demanda
 Q
 QQ
Curva de Demanda

-
yD yO y

1.3.8 Exemplo 4.1 - Equilı́brio de Curto Prazo


Suponha uma indústria competitiva composta de J firmas, todas com tecnologia Cobb-Douglas
q = xα k 1−α , onde k é um fator fixo no curto prazo. As funções de lucro e de oferta são:
π j (wx , wk , p) = αα/1−α p1/1−α wxα/α−1 (1 − α)k − wk k,
q j (wx , wk , p) = αα/1−α pα/1−α wxα/α−1 k.
Suponha que α = 1/2, wx = 4, wk = 1, k = 1, J = 48 e que a demanda agregada é qd = 294/p.
Então:
p∗ = 7, q ∗ = 42, q j = 7/8, π j = 2.0625

4
1.3.9 Exemplo 4.3 - Equilı́brio de Longo Prazo
Suponha agora que as firmas possam ajustar todos os fatores. Dado os valores dos parâmetros
acima, o lucro da firma j é:
π j (p, k) = k (p2 /16) − 1
 

Logo, o único preço que faz o lucro ser zero é p = 4, qualquer que seja o nı́vel de k escolhido.
A condição de equilı́brio é:
q d = q s ⇔ 294/4 = (1/2)Jˆk̂ ⇔ Jˆk̂ = 147,
onde Jˆ é o número de firmas de equilı́brio no mercado e k̂ é a escolha ótima de k, associado ao
número ótimo de firmas.

1.3.10 Exemplo 4.3 - Equilı́brio de Longo Prazo


Como a tecnologia de cada firma nessa indústria apresenta RCE, o nı́vel de produção individual
e o número de firmas são indeterminados.
Portanto, no longo prazo, existem duas condições de equilı́brio:
1) demanda agregada igual à oferta agregada, e
2) lucro de cada firma igual a zero.
Essas duas condições determinam duas variáveis:
1) o preço de equilı́brio, e
2) o número de firmas de equilı́brio de longo prazo na indústria.

2 Mercados Não Competitivos


2.1 Monopólio
2.1.1 Monopólio
Um monopólio caracteriza-se por uma estrutura de mercado onde existe apenas um produtor e
vendedor do bem ou serviço, que não tem substitutos próximos.
Monopólio e competição perfeita constituem dois tipos extremos de mercado que possuem uma
caracterı́stica importante em comum: a ausência de interações estratégicas no comportamento dos
agentes de cada um desses modelos.

2.1.2 Barreiras à Entrada


Deve haver alguma razão que justifique a não existência (ou entrada) de potenciais competidores.
Caso contrário, o monopólio não se sustentaria. Logo, deve existir algum impedimento à entrada
de novas firmas na indústria. Esses impedimentos são chamados de barreiras à entrada.
Alguns exemplos de barreiras a entrada são:
1) Restrições legais (exemplo: EBCT);
2) Patentes;
3) Controle de recursos ou insumos escassos;
4) Barreiras geradas de forma deliberada pelo monopolista;
5) Custos irrecuperáveis altos (sunk costs, custos enterrados)

5
2.1.3 Monopólio Natural e Superioridade Técnica
Tais barreiras podem manter rivais fora da indústria e assegurar que uma indústria seja monopolı́stica.
Todavia, monopólio pode também ocorrer mesmo na ausência destas barreiras se uma única firma
possui vantagens de custo sobre as rivais.
Dois exemplos disto são casos de:
1) Superioridade técnica,
2) Economias de escala (monopólio natural)

2.1.4 Decisão de Oferta do Monopólio


Em uma estrutura de mercado monopolista, não se pode admitir a hipótese concorrencial de que
o vendedor toma o preço como dado. O monopolista tem consciência de que pode influenciar o
preço do bem no mercado (price-maker ).
Existem duas variáveis que afetam o lucro do monopolista: a quantidade vendida e o preço de
venda. O monopolista não pode escolher qualquer combinação de preço de venda e quantidade
vendida: as suas escolhas de quantidade e preço estão restritas pela demanda agregada.

2.1.5 Maximização do Lucro do Monopolista


O monopolista deseja escolher o nı́vel de produção que maximiza o lucro π = p(q)q − c(q) =
Receita − Despesa:
maxp(q)q − c(q)
q≥0

A CPO desse problema resulta em:


p(q ∗ ) + q ∗ p0 (q ∗ ) = c0 (q ∗ )
| {z } | {z }
RM g CM g

A CSO é dada por:


2p0 (q ∗ ) + p00 (q ∗ )q ∗ − c00 (q ∗ ) ≤ 0

2.1.6 Condições
Suponha que p(·) e c(·) são duas vezes diferenciáveis para todo q ≥ 0 e que p0 (q) < 0, para todo
q ≥ 0.
Se p(0) > c0 (0) e se existe um único q̄ tal que p(q̄) = c0 (q̄) (i.e., q̄ é o nı́vel de produção de
competição perfeita), então existe uma única solução para o problema do monopolista, que consiste
em produzir uma quantidade positiva do bem.

2.1.7 Intuição da Receita Marginal


A RM g do monopolista é:
RM g = p(q ∗ ) + q ∗ p0 (q ∗ ) < p(q ∗ ),
pois p0 (q ∗ ) é negativo.
Para cada unidade a mais vendida, o monopolista recebe o preço do bem. Mas para vender mais
uma unidade, o monopolista deve baixar o preço de todas as unidades vendidas (termo q ∗ ×p0 (q ∗ )).
Essa é a origem da ineficiência do monopólio.

6
2.1.8 CPO em termos de Elasticidade da Demanda
Podemos reescrever a CPO do monopolista como:
h i
p(q ∗ ) 1 − |(q1∗ )| = c0 (q ∗ ),

onde |(q ∗ )| = −(dp(q ∗ )/dq)(p/q) é a elasticidade-demanda do bem.


Como o preço e custo marginal são não-negativos, o monopolista escolhe sempre produzir uma
quantidade do bem na parte elástica da demanda de mercado.

2.1.9 Decisão de Produção do Monopolista

custo,
preço 6
c0 (q)
Q
SQ
S Q
S QQ
Q r
p(q ∗ )
S
S Q
Q
S Q
S Q
Q
S Q
0 ∗
c (q ) Sr Q
Q
S Q
S Q
QQ
S
S p(q)
∗ S
r -
0 q ∗
(qS =1 q

2.1.10 CPO em termos de Elasticidade da Demanda


Rearranjando a expressão acima, obtemos:
p(q ∗ )−CM g(q ∗ ) 1
p(q ∗ )
= |(q ∗ )|

A diferença, em termos percentuais, entre o preço cobrado e o custo marginal,chamado de “ı́ndice


de Lerner”, é o inverso do valor absoluto da elasticidade da demanda calculada no ponto ótimo
de produção do monopolista. Logo, quanto menos elástica a demanda nesse ponto, maior essa
diferença percentual.

2.2 Oligopólio
2.2.1 Oligopólio
O oligopólio é uma estrutura industrial onde poucos produtores oferecem produtos homogêneos a
muitos compradores. É um tipo de estrutura industrial entre competição perfeita e monopólio.
Em um oligopólio, cada firma deve conhecer a demanda do mercado e fazer conjeturas sobre as
ações das outras firmas do mercado. Além disto, elas devem saber como suas ações afetam as
ações das outras firmas.
Portanto, dizemos que esse é um problema de interdependência estratégica.

7
2.2.2 Colusão
Uma definição de equilı́brio possı́vel que leva em conta interações estratégicas entre agentes
econômicos é o equilı́brio de colusão.
Nesse equilı́brio, as firmas comportam-se como um único ente, maximizando a receita agregada,
que é repartida de algum modo pré-especificado. Essa é uma situação tı́pica de cartel.
O resultado principal de cartéis é a sua tendência à instabilidade: cada firma tem um incentivo
para burlar a regra de produção definida pelo cartel.

2.2.3 Exemplo de Colusão


Suponha que existem J firmas, onde q j é o nı́vel de produção da firma j, j = 1, 2, ..., J. Suponha
que o lucro da firma j depende não somente do seu nı́vel de produção, mas também do nı́vel de
produção das outras firmas:
∂π j (q)
< 0, para todo k 6= j.
∂qk
P j
Suponha que as firmas se juntem em cartel e decidam maximizar o lucro total, π , dado o nı́vel
de produção total, q = q1 + ... + qJ . A CPO para q j é:

∂π j (q∗ ) X ∂π k (q∗ ) ∂π j (q∗ )


+ =0⇒ >0
∂qj k6=j
∂qj ∂qj

2.2.4 Exemplo de Colusão


Portanto, para toda firma j temos que:

∂π j (q∗ )
> 0.
∂qj

No nı́vel de produção conjunto ótimo, q∗ = (q1∗ , ..., qJ∗ ), toda firma tem um incentivo para desviar
da solução ótima q∗ , com o intuito de aumentar o seu lucro.
Logo, existe a tentação em cada firma de desviar da solução ótima agregada com o objetivo de
aumentar o seu lucro individual.

2.2.5 Equilı́brio de Nash


Dizemos que em uma situação estratégica com n agentes econômicos, a alocação s = (s1 , ..., sn )
que descreve a estratégia de ação si de cada agente i, i = 1, ..., n, é um equilı́brio de Nash se, para
cada agente i, si é a sua melhor escolha de ação, dado que todos os outros agentes estão escolhendo
as ações s1 , ..., si−1 , si+1 , ..., sn .
Equilı́brio de Nash é o conceito básico usado em situações estratégicas. A alocação de cartel
q∗ = (q1∗ , ..., qJ∗ ) não é um equilı́brio de Nash. Para ser um equilı́brio de Nash, q∗ deve satisfazer

∂π j (q∗ )
= 0.
∂qj

8
2.2.6 Equilı́brio de Nash
Vamos usar o conceito de equilı́brio de Nash para analisar dois modelos básicos de oligopólio, o de
Cournot (1838) e o de Bertrand (1883).
Esses dois modelos tratam do mesmo problema e levam a conclusões bastante distintas. Os dois
modelos que analisaremos são estáticos, sem nenhuma interação dinâmica.

2.2.7 Oligopólio de Cournot - Modelo Linear


Suponha uma indústria com entrada bloqueada onde J firmas produzem um bem homogêneo,
todas com estrutura de custos idêntica, dada por:

C(qj ) = cqj , c ≥ 0, j = 1, ..., J.

Suponha também que a demanda inversa do mercado é dada por:


J
X
p=a−b qj ,
j=1

onde a > 0, b > 0 e a > c.

2.2.8 Oligopólio de Cournot - Modelo Linear


O lucro da firma j quando produz q j e as outras firmas produzem qi , i 6= j, é:
J
!
X
πj (q1 , ..., qJ ) = a − b qi qj − cqj
i=1

Queremos encontrar uma alocação q̄ = (q̄1 , ..., q̄J ) tal que q̄j seja a solução do problema acima,
dado que as outras firma estão escolhendo q̄1 , ...q̄j−1 , q̄j+1 , ...q̄J . Chamamos essa alocação de um
equilı́brio de Cournot-Nash do problema de oligopólio caracterizado acima.

2.2.9 Oligopólio de Cournot - Modelo Linear


Encontramos q̄j resolvendo o problema da firma j, tomando como dados as quantidades de
produção ótimas das outras firmas:
J
!
X
max a − b q̄i qj − cqj
qj
i=1

A CPO desse problema resulta em:


a 1X c
q̄j = − q̄i − (1)
2b 2 i6=j 2b

A equação (1) é a curva de reação da firma j: ela diz qual o melhor nı́vel de produção a ser
escolhido pela firma j, dado que as outras firmas estão produzindo q̄i , i 6= j.

9
2.2.10 Oligopólio de Cournot - Modelo Linear
Dada a simetria do problema (a condição (1) acima vale para toda firma j), vamos procurar por
um equilı́brio simétrico, q̄1 = ... = q̄J . Nesse caso, a condição (1) resulta em:
a−c
q̄ =
b(J + 1)

Portanto, temos que:

a−c (a − c)2
q̄j = , ∀j, e π̄j =
b(J + 1) b(J + 1)2
 
a−c a−c
q̄ s = J e p̄ = a − J
b(J + 1) J +1

2.2.11 Propriedades do Modelo


O desvio do preço p̄ de equilı́brio de oligopólio do preço de equilı́brio em competição perfeita é:
a−c
p̄ − c = > 0,
J +1
Logo o preço cobrado é maior do que o preço de mercado em competição perfeita, e tende ao preço
de competição perfeita quando o número de firmas aumenta. Logo o resultado de competição
pode ser visto como o limite do caso de um modelo competição a Cournot, quando o número de
firmas tende a infinito.

2.2.12 Oligopólio de Bertrand


No oligopólio de Cournot, a variável estratégica de escolha da firma é a produção. No modelo de
Bertrand, a variável de escolha da firma é o preço a ser cobrado.
Vamos supor um mercado onde duas firmas competem no preço. O custo marginal de cada firma
é igual e constante.
A firma que anunciar o menor preço conquista toda a demanda q D pelo bem. Se as firmas
anunciarem preços iguais, elas dividem o mercado.
Suponha que existam apenas duas firmas. A demanda da firma 1 é (a demanda da firma 2 é
semelhante): 
 q(p1 ) se p1 < p2
1
q1 (p1 , p2 ) = q(p1 ) se p1 = p2
 2
0 se p1 > p2
Suponha que o custo marginal é constante, igual nas duas firmas. A função de lucro da firma 1 é:

π1 = (p1 − c)q1 (p1 , p2 )

Observe que a função de demanda de cada firma é descontı́nua.

10
2.2.13 Equilı́brio no Oligopólio de Bertrand
Teorema 1 (Equilı́brio de Bertrand) O único equilı́brio de Nash em um modelo de Bertrand
é dado por p1 = p2 = c (onde π1 = π2 = 0).

Logo, em um modelo de Bertrand, o único equilı́brio é as duas firmas cobrarem o preço de com-
petição perfeita. Nesse caso, o lucro das firmas será zero.
Com apenas duas firmas, a competição via preço leva ao menor preço possı́vel, em contraste com
o modelo de Cournot, onde a competição via quantidade leva a um preço intermediário ao preço
de monopólio e ao preço de competição perfeita.

2.3 Competição Monopolı́stica


2.3.1 Diferenciação de Produtos
Modelos de competição imperfeita relaxam a hipótese de produtos homogêneos. Nesse tipo de
modelo, um grupo de firmas compete produzindo bens similares mas não idênticos.
Cada firma produz um bem substituto próximo mas não idêntico aos bens produzidos pelas outras
firmas. Isso garante um certo grau de monopólio para cada firma, onde o grau de monopólio é
maior quanto menos semelhantes os bens de diferentes firmas são.
Vamos analisar de modo geral o equilı́brio de curto prazo, onde o número de firmas é fixo na
indústria e o equilı́brio de longo prazo, onde há livre entrada e saı́da de firmas do mercado.

2.3.2 Hipóteses do Modelo


Suponha um número potencial de infinitas firmas. A demanda da firma j depende de seu preço e
dos preços das outras firmas:
∂qj ∂qj
qj = qj (p), onde <0 e > 0, para k 6= j,
∂pj ∂pk

onde p = (p1 , p2 , ...).


O lucro da firma j é:
πj (p) = qj (p)pj − cj (qj (p)),
onde cj é a função custo da firma j.

2.3.3 Condições de Equilı́brio


A condição de equilı́brio no curto prazo para p̄ é derivada da CPO do problema de maximização
de lucro da firma j:
∂qj (p̄)
[RM gj (qj (p̄)) − CM gj (qj (p̄))] = 0
∂pj

No longo prazo, além da condição acima, o lucro de cada firma j deve ser zero, logo a condição a
seguir,
πj (p̄) = 0, para todo j,
se soma à condição anterior para caracterizar o equilı́brio de longo prazo.

11
2.3.4 Modelo de Hotelling
O modelo de Hotelling é um modelo de representação espacial, onde a diferenciação de produtos
é determinada pela distância do consumidor à firma. Logo, os produtos são intrinsecamente
homogêneos, mas os custos de locomoção os diferenciam.
Suponha um contı́nuo de consumidores distribuı́dos uniformemente em [0, 1] e duas firmas, posi-
cionadas nos extremos desse intervalo. O custo do consumidor de comprar o bem da firma j, cujo
preço é pj , é pj + td, onde t/2 é o custo de ir até a firma j e d é a distância desse consumidor à
firma j.
O modelo é aparentemente simples mas gera uma quantidade enorme de dificuldades, soluções,
casos especiais, etc.

3 Equilı́brio e Bem-Estar
3.1 Medidas de Bem-Estar do Consumidor
3.1.1 Análise de Bem-Estar
Quando ocorre alguma mudança no ambiente econômico, como por exemplo um aumento de preço,
um novo imposto, etc, consumidores e firmas podem ficar em situação melhor ou pior do que antes
da mudança.
Queremos auferir como mudanças de polı́tica, diferenças em estruturas de mercado, falhas de
mercado, etc afetam o bem-estar dos agentes econômicos.
A análise passa a ter um foco normativo. Porém, o foco aqui será em seu aspecto positivo: como
uma determinada modificação no ambiente altera o bem-estar dos agentes econômicos.

3.1.2 Bem Composto


A maioria de mudanças de ambiente se refletem na prática em mudanças nos preços ou na renda
dos consumidores. Vamos supor que dada uma mudança no preço de um bem, todos os outros
preços se mantêm constantes (análise de equilı́brio parcial)
Vamos agregar todos os outros bens em um bem composto m. Suponha que vamos analisar a
mudança de preço p de um bem qualquer. Vamos representar por p o vetor de preços de todos os
outros bens que os consumidores têm à disposição e por x(p, p, y) a demanda desses outros bens.

3.1.3 Bem Composto


Seja m(p, y) = m(p, p, y) = px(p, p, y) o gasto com todos os outros bens. Então se u é contı́nua,
est. crescente, e est. quasicôncava, então ū(q, m), definida como:
ū(q, m) = max
n−1
u(q, x) sujeito à px ≤ m
x∈R

é contı́nua, estritamente crescente e estritamente quasicôncava.


Além disso, podemos usar ū para analisar o problema do consumidor como se existissem apenas
dois bens, pois as demandas q(p, y) e m(p, y) são soluções de
maxū(q, m) sujeito à pq + m ≤ y,
q,m

e a função de utilidade indireta de ū é igual à v(p, y).

12
3.1.4 Excedente do Consumidor
O excedente do consumidor (EC) é a medida clássica da mudança do bem-estar de um indivı́duo
devido a uma mudança no ambiente econômico.
O excedente do consumidor é a diferença entre a utilidade total obtida pelo consumo e o valor
pago pelas unidades consumidas. Ele representa o ganho que o consumidor obtém ao comprar
várias unidades do bem pagando sempre o mesmo preço.

3.1.5 Excedente do Consumidor


preço
6
AQ
Q
Q * Excedente do Consumidor

Q
Q
Q
Q
Q
Q rB
Q
p Q Valor pago pelas
 : unidades consumidas
Q
 Q
 Q
Q
Q
QQ
p(q)
-
0 q̄ q

3.1.6 Excedente do Consumidor


O excedente do consumidor é a dado por:
Z q̄
EC = [p(q) − p] dq
0

A variação no excedente do consumidor (∆EC) para uma mudança no preço do bem de p0 para
p1 , p1 > p0 ( e a quantidade muda de q 0 para q 1 , q 1 < q 0 ) é:
Z q1 Z q0
1 0 1
p(q) − p0 dq,
   
∆EC = EC(p ) − EC(p ) = p(q) − p dq − (2)
0 0

onde p(q) é a função de demanda inversa do bem 1.

3.1.7 Excedente do Consumidor


preço
6
Q EC(p1 )
XQX  1
Q
 XXX
Q X
p 1 Q r XXX z EC(p )
X
Q *
 0
Q 
Q
Q
p0 Qr ∆EC = EC(p1 ) − EC(p0 ) < 0
Q
Q
Q
Q
Q
Q
p(q)
-
q1 q0 q
13
3.1.8 Excedente do Consumidor
A variação no EC causada por um aumento de preço pode ser decomposta em duas áreas.
A primeira é a perda gerada pelo aumento do preço nas quantidades do bem que ainda são
consumidas (área A na figura abaixo).
A segunda é a perda gerada pela diminuição do consumo do bem causada pelo aumento do preço
(área B na figura abaixo).
Note que pela fórmula (2) acima, o valor do excedente do consumidor será negativo. O sinal serve
apenas para indicar que houve uma perda de bem-estar do consumidor.

3.1.9 Excedente do Consumidor

preço
6
∆EC1
Q
Q 

Q
Q 
p1 QQr ∆EC2
 Q *

Q
A
 B Q
∆ECT otal = ∆EC1 + ∆EC2
p0 Qr
Q
Q
Q
Q
Q
Q
QQ
p(q)
-
q 1
q 0 q

3.1.10 Excedente do Consumidor


Podemos simplificar a expressão (2) usando o fato que:
Z q0 Z q1 Z q0
p(q)dq = p(q)dq + p(q)dq
0 0 q1

Então a expressão para ∆EC torna-se:


!
Z q1 Z q1 Z q0 Z q1 Z q0
1
∆EC = p(q)dq − p(q)dq + p(q)dq − p dq + p0 dq
0 0 q1 0 0

Portanto, obtemos: "Z #


q0
0
dq + p1 q 1 − p0 q 1
 
∆EC = − p(q) − p . (3)
q1

14
3.1.11 Excedente do Consumidor
Porém, para calcular o EC para uma mudança de preços, é mais conveniente usar a demanda
Marshalliana diretamente. Nesse caso, o EC para um nı́vel de preços p é dado por:
Z p
EC = q(p, y 0 )dp,
p

onde p é o menor preço tal que a demanda se iguale a zero (q(p, y 0 ) = 0).
Logo, para um aumento de preço, de p0 para p1 , p1 > p0 , a variação no excedente do consumidor
é dada por:
Z p1 Z p0
0
∆EC = − q(p, y )dp = q(p, y 0 )dp
p0 p1

3.1.12 Excedente do Consumidor

q
6
Q
Q
Q
Q
q 0 Qr
Q
Q
Q
q1 Q r
Q
Q
Q
∆EC Q
Q
Q
Q
q(p)
-
p0 p1 p

3.1.13 Exemplo
A demanda de um bem para um certo consumidor é dada por q(p) = 20 − 2p. Imagine que o
preço desse bem aumentou de R$2 para R$3. A variação no excedente do consumidor para esse
aumento de preço é dada por:
Z 3
[20 − 2p] dp = − 20(3 − 2) − (32 − 22 ) = −15.
 
∆EC = −
2

A demanda inversa para esse consumidor é dada por p = 10 − q/2. Vamos calcular ∆EC usando
a fórmula da demanda inversa:
"Z 0 #
q
p(q)dq + p1 q 1 − p0 q 0

∆EC = −
q1

15
3.1.14 Exemplo - Continuação
Precisamos achar as quantidades q 0 e q 1 . Elas são encontradas usando a demanda inversa:
2 = 10 − q 0 /2 ⇒ q 0 = 16
3 = 10 − q 1 /2 ⇒ q 1 = 14
Usando esses valores na fórmula para ∆EC acima, temos que:
Z 16 h 
qi 1 1 0 0

∆EC = − 10 − dq + p q − p q
14 2
 
1 2 2

= − 10(16 − 14) − 16 − 14 + (3 × 14 − 2 × 16)
4
= − [20 − 15 + (42 − 32)] = −15.

3.1.15 Problemas no Excedente do Consumidor


O excedente do consumidor não é adequado para medir mudanças no bem-estar do consumidor.
Quando integramos ao longo da demanda Marshalliana, o nı́vel de satisfação do consumidor pode
mudar. Logo, uma compensação baseada no EC não necessariamente manterá a utilidade do
consumidor constante.
Mais ainda, podemos afirmar que se o bem é normal, um esquema de compensação para um
aumento de preço como no exemplo acima compensa o consumidor menos do que o necessário
(i.e., ele não manterá o mesmo nı́vel de utilidade que antes).

3.1.16 Variação Compensadora e Variação Equivalente


Suponha uma mudança de polı́tica, cuja conseqüência é a redução do preço de um certo bem de
p0 para p1 (p1 < p0 ). Idealmente, a medida natural da perda (ou ganho, depende do caso) do
consumidor causada pela mudança de preço seria:
v(p1 , y 0 ) − v(p0 , y 0 )
Essa diferença é positiva, pois o preço do bem caiu, e, portanto, a mudança de polı́tica beneficia o
consumidor. Se o preço tivesse aumentado, ela seria negativa, e, portanto, a mudança de polı́tica
prejudicaria o consumidor.
Porém, essa medida é vazia de sentido. Não há significado prático nela, já que considera a utilidade
indireta.

3.1.17 Variação Compensadora e Variação Equivalente


Duas medidas de bem-estar do consumidor mais precisas do que o EC são a variação compensadora
(V C) e a variação equivalente (V E).
A V C é a quantidade de dinheiro que temos que dar ao indivı́duo depois da variação de preços,
para deixá-lo com o mesmo bem-estar que tinha antes dessa variação:
v(p1 , y 0 + V C) = v(p0 , y 0 ) (4)
A V E é a quantidade de dinheiro que temos que tirar do indivı́duo antes da variação de preços,
para deixá-lo com o mesmo bem-estar que terá depois dessa variação:
v(p1 , y 0 ) = v(p0 , y 0 − V E) (5)

16
3.1.18 Variação Compensadora
Vamos calcular V C explicitamente. Usando a igualdade (4) acima, podemos usar a função
dispêndio para encontrar V C:

e(p1 , v(p1 , y 0 + V C)) = e(p1 , v(p0 , y 0 ))

Como e(p, v(p, y 0 )) = y 0 , então achamos que:

V C = e(p1 , v(p0 , y 0 )) − y 0 .

Essa é a forma de calcular a variação compensadora: ela é a diferença entre a renda original e a
renda que, aos novos preços, mantém o consumidor com o nı́vel de utilidade inicial.

3.1.19 Variação Equivalente (V E)


Vamos calcular V E explicitamente. Usando a igualdade (5) acima, novamente usando a função
dispêndio para encontrar agora V E:

e(p0 , v(p1 , y 0 )) = e(p0 , v(p0 , y 0 − V E))

Como e(p, v(p, y 0 )) = y 0 , achamos que:

V E = y 0 − e(p0 , v(p1 , y 0 )).

A variação é a diferença entre a renda que, aos preços antigos, mantém o consumidor com o nı́vel
de utilidade que terá após a mudança de preços e a renda original.

3.1.20 Variação Compensadora eVariação Equivalente


Pelo modo como definimos V E e V C, os dois terão sempre o mesmo sinal. Mais ainda, se a
mudança ocorrida melhorou o bem-estar do indivı́duo, então V C < 0 e V E < 0. Se a mudança
ocorrida piorou o bem-estar do indivı́duo, então V C > 0 e V E > 0.
Observe que o sinal de V C e V E é o oposto do sinal da variação do EC: se a variação de preços
melhora o bem-estar do consumidor, então V C < 0, V E < 0 e ∆EC > 0; se a variação de preços
piora o bem-estar do consumidor, então V C > 0, V E > 0 e ∆EC < 0.

3.1.21 Variação Compensadora eVariação Equivalente


A função e(p1 , v(p2 , y)), usada para calcular ambas a V C e a V E, mede quanto dinheiro o con-
sumidor precisa aos preços p1 para estar tão bem quanto estaria aos preços p2 e renda y. Ela é
chamada de função indireta da métrica do dinheiro.
Essa função tem a propriedade desejável de conter apenas variáveis observáveis e de não existir
nenhuma ambigüidade quanto a transformações monotônicas da função utilidade.

17
3.1.22 Variação Compensadora e Variação Equivalente
A V C e a V E usam preços bases diferentes: a V C usa o preço após a mudança e a V E usa o
preço antes da mudança como preço base.
Tanto V C quanto V E são medidas do efeito no bem-estar do consumidor devido a uma mudança
de polı́tica. Como discutimos, as duas medidas terão sempre o mesmo sinal (ou seja, se a mudança
de polı́tica beneficiou o consumidor, as duas serão negativas. Se a mudança de polı́tica prejudicou
o consumidor, as duas serão positivas). Porém, elas terão magnitudes diferentes em geral, já que
o valor de uma unidade monetária depende dos preços relativos.

3.1.23 Variação Compensadora e Variação Equivalente


Qual medida é mais apropriada? Depende do que queremos medir. Se queremos calcular um
esquema de compensação aos novos preços, então V C é mais adequada. Se queremos calcular o
quanto o consumidor está disposto a pagar por uma mudança de polı́tica, seja para evitar essa
mudança, no caso em que ela piora o seu bem-estar, seja para implementar essa mudança, no caso
em que ela melhora o seu bem-estar (”willingness to pay”), V E é mais adequado.
Como calculamos na prática V C e V E? Elas podem ser calculadas se observamos as demandas do
indivı́duo, e se essas demandas satisfazem as condições impostas pela maximização da utilidade
(problema de integrabilidade).

3.1.24 Caso Geral - V C e V E


Suponha uma mudança de polı́tica de (p0 , y 0 ) para (p1 , y 1 ). Como vimos, a V C é a quantidade
de dinheiro que temos que dar ao indivı́duo depois da variação de preços, para deixá-lo com o
mesmo bem-estar que tinha antes dessa variação:
V C = e(p1 , v(p0 , y 0 )) − e(p1 , v(p1 , y 1 )) = e(p1 , v(p0 , y 0 )) − y 1 .

A V E é a quantidade de dinheiro que temos que tirar do indivı́duo antes da variação de preços,
para deixá-lo com o mesmo bem-estar que terá depois dessa variação:
V E = e(p0 , v(p0 , y 0 )) − e(p0 , v(p1 , y 1 )) = y 0 − e(p0 , v(p1 , y 1 )).

3.2 Relação entre as Medidas


3.2.1 Falhas de Mercado
Suponha que o preço do bem 1 mude de p01 para p11 , e a renda e os preços dos outros bens
permaneçam inalterados. Nesse caso, simplificando a notação, temos que:
V C = e(p1 , v(p0 , y 0 )) − e(p1 , v(p1 , y 0 )) = e(p1 , v(p0 , y 0 )) − y 0
V E = e(p0 , v(p0 , y 0 )) − e(p0 , v(p1 , y 0 )) = y 0 − e(p0 , v(p1 , y 0 ))

Denote u0 = v(p0 , y 0 ) e u1 = v(p1 , y 0 ). Usando essa notação, obtemos:


V C = e(p1 , u0 ) − e(p0 , u0 )
V E = e(p1 , u1 ) − e(p0 , u1 )

18
3.2.2 Variação Compensadora e Variação Equivalente
Usando o Teorema Fundamental do Cálculo e o lema de Shepard, obtemos:
Z p1 Z p1
1 0 0 0 ∂e 0
V C = e(p , u ) − e(p , u ) = (p, u )dp = q h (p, u0 )dp
p 0 ∂p 1 p 0
Z p1 Z p1
∂e
V E = e(p1 , u1 ) − e(p0 , u1 ) = (p, u1 )dp = q h (p, u1 )dp
p 0 ∂p 1 p 0

Portanto, a variação compensadora é a integral da demanda Hicksiana calculada no nı́vel inicial


de utilidade u0 e a variação equivalente é a integral da demanda Hicksiana calculada no nı́vel final
de utilidade u1 .

3.2.3 Variação Compensadora e Variação Equivalente


Vamos mostrar que
V E ≤ −∆EC ≤ V C,
se o bem cujo preço mudou for normal.
Se o bem for inferior, a relação contrária vale:
V C ≤ −∆EC ≤ V E.
Para mostrar isso, vamos usar a equação de Slustky:
∂q(p, y) ∂q h (p, u∗ ) ∂q(p, y)
= − q(p, y)
∂p ∂p ∂y

3.2.4 Variação Compensadora e Variação Equivalente


Usando a equação de Slutsky, obtemos:
∂q(p, y) ∂q h (p, u∗ )
1) < , se o bem é normal
∂p ∂p
∂q(p, y) ∂q h (p, u∗ )
 
ou seja, > ,
∂p ∂p

∂q(p, y) ∂q h (p, u∗ )
2) > , se o bem é inferior
∂p ∂p
∂q(p, y) ∂q h (p, u∗ )
 
ou seja, <
∂p ∂p

3.2.5 Variação Compensadora e Variação Equivalente


A curva de demanda Marshalliana q(p, y) é mais inclinada do que as curvas de demanda Hicksiana
q h (p, u0 ) e q h (p, u1 ), quando o bem é normal. A curva de demanda Marshalliana cruza essas duas
curvas nos preços p0 e p1 , pois:
q(p0 , y) = q h (p0 , v(p0 , y)) = q h (p, u0 )
q(p1 , y) = q h (p1 , v(p1 , y)) = q h (p, u1 )

19
Suponha que o preço aumentou: p1 > p0 (a mudança piorou o bem-estar do consumidor: V C, V E
e −∆EC são positivas). Como a função de utilidade indireta é decrescente nos preços, temos que
v(p0 , y) = u0 > u1 = v(p1 , y). E como u0 > u1 , então a demanda Hicksiana para u1 está acima da
demanda Hicksiana para u0 .

3.2.6 Variação Compensadora e Variação Equivalente


Z p1 Z p1 Z p1
h 1 0
⇒ q (p, u )dp < q(p, y )dp < q h (p, u0 )dp,
0 0 0
|p {z } |p {z } |p {z }
VE −∆EC VC

Ou seja, temos que:

V E < −∆EC < V C.


se o bem for normal.
Relação análoga vale para bens inferiores, e é provada do mesmo modo acima, lembrando que
nesse caso a derivada da demanda Marshalliana é maior do que a derivada da demanda Hicksiana.

3.2.7 Funções Quase Lineares


Quando as três medidas serão iguais? Quando a utilidade for quase linear no bem. Nesse caso,
a demanda do bem depende apenas do preço desse bem, se a renda for grande o suficiente.
Portanto, o efeito-renda é zero e, pela equação de Slutsky, a demanda Marshalliana é igual à
demanda Hicksiana.
Vamos supor (hipótese (?)) que a renda é grande o suficiente para que o consumo de ambos os
bens seja positivo (em particular, queremos garantir que y seja positivo).

3.2.8 Funções Quase Lineares


O problema do consumidor para utilidade quase linear é:

maxg(x1 ) + x2 , sujeito a px1 + x2 = y


x1 ,x2

Esse problema é equivalente ao problema

maxg(x1 ) + y − px1 .
x1

Por (?), a solução é interior e a CPO é dada por:

g 0 (x∗1 ) = p

3.2.9 Funções Quase Lineares


O problema dual do consumidor é dado por:

minpx1 + x2 , sujeito a g(x1 ) + x2 = u


x1 ,x2

20
Esse problema é equivalente ao problema

minpx1 + u − g(x1 )
x1

Por (?), a solução é interior e a CPO é dada por:

g 0 (xh1 ) = p

3.2.10 Funções Quase Lineares


As demandas Hicksiana e Marshalliana são portanto iguais. Essas duas demandas são funções
apenas dos preços. Essa é uma propriedade geral das funções quase lineares (na verdade, a
demanda Marshalliana não será independente da renda para todos os valores da renda, se a renda
for muito baixa, o consumidor não comprará nada do bem).
O efeito-renda para o bem 1 é então nulo: uma variação na renda não altera a quantidade consum-
ida do bem 1. Então o efeito total de uma mudança de preços é igual ao efeito substituição. Como
as curvas de demanda Marshalliana e Hicksiana são iguais, então temos que V C = EC = V E.

3.2.11 Exemplo - Funções Quase Lineares


Seja u(x, y) = ln x + y. Suponha que a renda seja grande o suficiente para que a solução seja
interior. A CPO para o problema primal do consumidor é:
1
g´(x) = p ⇔ =p
x
Se o preço do bem 1 aumenta de p0 = R$2 para p1 = R$3, então x0 = 1/2 e x1 = 1/3, o que
resulta em: Z p1 Z 3
1
∆EC = − x(p)dp = − dp = ln(2) − ln(3) ∼
= −0, 41
p 0 2 p
Ou seja, para compensarmos o indı́viduo pelo aumento do preço do bem 1, devemos aumentar a
sua renda em R$0, 41.

3.2.12 Exemplo - Funções Quase Lineares


Vamos calcular a V C para esse exemplo. A utilidade indireta dessa função utilidade quase linear

v(p, y) = ln(1/p) + (y − 1),
já que x2 = y − px1 (p) = y − p(1/p) = y − 1.
Pela definição implı́cita de V C, temos que:

v(p1 , y + V C) = v(p0 , y) ⇔ ln(1/p1 ) + (y + V C − 1) = ln(1/p0 ) + (y − 1)]

Portanto:
⇒ V C = ln(1/p0 ) − ln(1/p1 ) = ln(1/2) − ln(1/3) = ln(3) − ln(2)

21
3.2.13 Exemplo - Funções Quase Lineares
Vamos calcular a V E agora para esse exemplo. Pela definição implı́cita de V E, temos que:
v(p1 , y) = v(p0 , y − V E) ⇔ ln(1/p1 ) + (y − 1) = ln(1/p0 ) + (y − V E − 1)

Portanto:
V E = ln(1/p0 ) − ln(1/p1 ) = ln(1/2) − ln(1/3) = ln(3) − ln(2)

Ou seja, V E = −∆EC = V C, como esperado.

3.3 Excedente do Produtor


3.3.1 Excedente do Produtor
O Excedente do Produtor (EP ) é a área acima da curva de oferta, e abaixo do preço do bem. A
curva de oferta diz a quantidade ofertada para cada nı́vel de preços.
No caso da firma competitiva, a curva de oferta é dada pela curva de custo marginal. Então o EP ,
a área entre essa curva e o preço de mercado, mede o quanto a firma está ganhando ao receber o
mesmo preço por unidades que custaram mais barato do que o custo marginal da última unidade
vendida.
Custos
6

CM g CM e
pM CV M e

EP

-
y

3.3.2 Excedente do Produtor


Observe que vale a seguinte relação:
EP (y) = py − CV (y),
Ry
pois a área abaixo da curva de CM g mede o custo variável da firma, CV (y) = 0 CM g(x)dx.
Como o lucro da firma é dado por π = py − CV − CF , obtemos a seguinte relação entre EP e
lucro:
EP (y) = Lucro(y) + CF
Podemos então medir o impacto no lucro da firma causado por uma alteração no nı́vel de produção,
utilizando apenas a curva de CM g e o CF de produção (ou seja, sem ter nenhum conhecimento
sobre o CM e de produção).

22
3.3.3 Excedente do Produtor
Custos
6

p
∆EP
Se o preço aumentou de p para p̂,
então ∆EP é o ganho de EP dessa mudança
-
y
3.4 Eficiência e Peso Morto
3.4.1 Melhora de Pareto
O princı́pio de Pareto diz que uma alocação social A é Pareto-dominada pela alocação B se a
alocação B é factı́vel e nenhum agente fica pior, e pelo menos um fica melhor, na alocação B que
na alocação A.
Uma alocação factı́vel C é Pareto-ótima se ela não for Pareto-dominada por nenhuma outra
alocação factı́vel.
Portanto, em uma alocação Pareto-ótima não é possı́vel melhorar um agente sem ter que,
necessariamente, piorar algum outro.

3.4.2 Excedente Total


Uma medida usualmente usada para medir o bem-estar dos agentes econômicos é o excedente total,
a soma do excedente do consumidor com o excedente do produtor:
ET = EC + EP
Essa medida é precisa se os consumidores possuem utilidade quasi-linear. No caso geral, ela fornece
uma aproximação entre os valores obtidos usando a V C e a V E.
O excedente total é igual à: Z q̄
ET = [p(q) − c0 (q)]dq
0

3.4.3 Excedente Total


Vamos escolher a quantidade q que maximiza o excedente total:
Z q̄
max [p(q) − c0 (q)]dq
q 0
A CPO resulta em:
p(q ∗ ) = c0 (q ∗ ), (6)

ou seja, a solução é o nı́vel de produção q de competição perfeita.
Sempre que a condição (6) não for satisfeita, haverá espaço para uma melhora de Pareto na
economia. Porém essa melhora de Pareto pode ser de difı́cil implementação.

23
3.4.4 Ineficiência do Oligopólio de Cournot
Suponha J firmas idênticas e denote por c o custo marginal de cada firma. Seja p = a − bq a curva
de demanda inversa. Quando cada firma produz q/J, o excedente total será:
Z q Z q
b
ET (q) = p(q)dq − J c0 (q)dq = aq − q 2 − cq
0 0 2

O nı́vel de produção que maximiza o excedente total, ET (q ∗ ), é menor que o excedente total
calculado no nı́vel de produção do equilı́brio de Cournot:

(a − c)2 (a − c)2 J 2 + 2J (a − c)2


 
∗ c
ET (q ) − ET (q ) = − = > 0,
2b 2b (J + 1)2 2b(J + 1)2

A diferença ET (q ∗ ) − ET (q c ) é chamada de peso morto. Um mercado oligopolista, onde as firmas


competem via quantidades, é Pareto-ineficiente, pois apresenta uma dissipação de valor econômico.

Essa dissipação diminui quando o número de firmas aumenta, e se o número de firmas tender ao
infinito, o peso morto desaparece.

3.4.5 Peso Morto


Logo, em uma situação de ineficiência econômica, dizemos que existe um peso morto - um valor
econômico que é dissipado na economia.
Por exemplo, em um monopólio, vimos que o preço cobrado é maior do que o custo marginal. Isso
leva a uma situação de produção sub-ótima no mercado: a firma produz menos do que o socialmente
ótimo. Fazendo isso, o monopolista cobra um preço maior e aufere um lucro econômico positivo.
Porém, ocorre uma perda econômica que é dissipada na economia.

3.4.6 Decisão de Produção do Monopolista

custo,
preço 6
c0 (q)
Q
SQ
S Q
S QQ
Q r
p(q ∗ )
S
S Q
Q
S Q
S DWQ LQ
S Q
c0 (q ∗ ) Sr Q
Q
S Q
S Q
QQ
S
S p(q)
r -
q∗
S
0 (q ∗ = 1
S
q

24
3.4.7 Decisão de Produção do Monopolista
Em um monopólio, temos que:

• Quantidade produzida é menor do que a quantidade socialmente ótima,

• O preço cobrado é maior do que o preço socialmente ótimo,

• Existe uma perda econômica dissipada.

Portanto, o monopólio é uma situação indesejável do ponto de vista social.

3.4.8 Decisão de Produção do Monopolista


O preço de monopólio é superior ao custo médio, logo o monopolista poderia obter lucro na
margem ao produzir mais uma unidade do bem caso ele pudesse cobrar um preço especı́fico por
esta unidade, superior ao seu custo marginal, e este item seria consumido por um consumidor
marginal.
O monopolista ao não fazer isso gera a ineficiência de monopólio, pois existem consumidores
dispostos a pagar pelo bem um preço maior que o seu custo de produção, mas, mesmo assim, este
bem não é produzido, pois se o monopolista produzir mais essa unidade, terá que baixar o preço
de todas as outras unidades vendidas.

3.4.9 Discriminação de Preços


Em muitas situações, o preço cobrado pelo monopolista depende de quem compra e da quantidade
vendida. Nesse caso, dizemos que o monopolista está discriminando preços.
Três graus ou tipos de discriminação de preços:

1. Discriminação de primeiro grau: discriminação perfeita

2. Discriminação de segundo grau: preços não-lineares ou descontos de quantidade.

3. Discriminação de terceiro grau: preços diferentes para diferentes tipos de pessoas.

3.4.10 Decisão de Produção do Monopolista


Se discriminação perfeita fosse possı́vel, a ineficiência do monopólio desaparecia. Discriminação
de segundo e terceiro graus diminuem essa ineficiência. Nesse caso, ocorre uma redistribuição de
riqueza que pode não ser aceitável para a sociedade (todo o excedente do consumidor vai para o
monopolista, no caso de discriminação perfeita).

25

Você também pode gostar