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Você sabe o que é Xamanismo?

Nelson Neraiel - 25/01/2005

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Sempre associamos Xamanismo aos povos indígenas das poucas regiões do planeta nas quais ainda
existem, isso sem dúvida é correto, mas, na verdade, o que se passou a denominar como Xamanismo é
a capacidade natural humana de entrar em contato com outras realidades, outros reinos de consciência
como, por exemplo, a consciência das plantas, dos animais e das forças da natureza.

Xamanismo é o conjunto mais antigo de praticas e técnicas para se entrar em contato com o mundo
espiritual e tem sua origem no período paleolítico. Sua principal característica é a semelhança existente
na essência das práticas de povos muito distantes entre si, muitas vezes separados por continentes e
oceanos como, por exemplo, os Esquimós e nossos irmãos indígenas aqui do Brasil.

Sem dúvida foi essa similaridade de práticas e descrições do mundo dos espíritos, do mundo das
energias, que chamou a atenção dos modernos estudiosos para a seriedade e validade dessas técnicas.

Atualmente temos visto um grande aumento do interesse por essas práticas na busca por um contato
mais profundo e direto com nosso mundo interior, com as forças que nos guiam e protegem e com o
Criador.

Justamente por ser a mais básica de nossas manifestações mágicas é que pode ser de grande valia para
o homem moderno em busca de cura, equilíbrio e bem estar.

Não estamos tratando aqui de como se tornar um Xamã, que é uma tarefa que exige extrema disciplina,
dedicação e força de vontade, além de outros requisitos que não cabem serem discutidos aqui nesse
momento, mais sim de como utilizar esse conhecimento e essas técnicas para melhorar nosso dia-a-dia.

Algumas dessas técnicas são a utilização de nosso aliado ou animal de poder, a jornada xamânica para a
solução de problemas, o uso do tambor, do chocalho, a busca do silencio interior, o uso do sonho lúcido
e práticas para acumular energia e manter o bem estar, além da utilização das quatro direções e dos
quatro arquétipos dos Xamãs.

Essas praticas não transformam ninguém em Xamã mais proporcionam um contato real com esse
universo mágico sem fantasias desnecessárias e com a possibilidade de aumentar nossa energia
disponível e poder pessoal trazendo força, vitalidade e Paz para vivermos melhor nossa aventura
pessoal.

Liberdade, aventura e vida longa.

Desiderata Xamânica
Jaguar Dourado - 10/01/2005

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Nos primórdios dos tempos, há cerca de 10 mil anos, no Período Paleolítico, quando os homens ainda
moravam em cavernas cercadas de feras, eles viviam com medo de tudo. Mas, ao observarem o ciclo da
natureza e suas manifestações, refletiram sobre sua relação com o Universo, e, sem saber,
estabeleceram uma ponte com o macrocosmo, traçando um fio que nunca mais iria se romper. Por um
tempo adormecidos, mas não esquecidos, os rituais xamânicos voltam agora a despertar a atenção dos
homens modernos, independente de seu estágio cultural ou do fato de viverem na selva de pedra
urbana cercados de racionalidade, coisa que não existia quando os nossos antepassados se reuniram
pela primeira vez ao redor de uma fogueira.

Anterior a todas as religiões, psicologias e filosofias conhecidas, o xamanismo em si é o conjunto de


práticas e técnicas arcaicas ligadas à natureza, com o propósito de expandir a consciência para melhor.
Sua principal característica é considerar que todas as criaturas do Grande Espírito são irmãs. Os nossos
antepassados respeitavam a natureza, prestando atenção aos seus sinais, aplicando suas leis nas suas
vidas e atividades, vivendo em harmonia com o meio ambiente.

Os xamãs preservam um notável conjunto de antigas técnicas desenvolvidas ao longo dos séculos,
usadas para obter e manter o bem-estar e a cura para eles próprios e para os membros de suas
comunidades, possibilitando aos indivíduos aprenderem conscientemente a transpor o aparente abismo
existente entre o mundo físico e as esferas da imaginação e da visão. Esse conjunto de práticas e
técnicas xamânicas revelam-se de notável semelhança em todo o mundo, mesmo para os povos cujas
culturas e tradições são diferentes, e que, há milhares de anos, estão separados uns dos outros por
oceanos e continentes.

Sem o nível de tecnologia médica atual, esses povos chamados primitivos tiveram excelente razão para
se sentirem motivados a desenvolver capacidades não tecnológicas da mente humana para a saúde e
para a cura. A uniformidade dos métodos xamânicos em todas as partes do mundo, da Sibéria até a
Patagônia, da China até as Américas, da Escandinávia até a África e a Austrália, sugere que por meio de
tentativas e erros os povos chegam às mesmas conclusões.

O xamã é escolhido a partir de um chamado divino, por herança ou por aprendizado. Em qualquer um
desses casos, ele teria que passar por experiências iniciáticas e um árduo aprendizado, no qual o futuro
xamã experimentava sua própria morte e renascimento, penetrando nos outros mundos, aprendendo a
linguagem dos animais, das plantas, das pedras e encontrando os Guardiães e os Mestres das outras
dimensões. Abrindo as portas da sua percepção, o xamã recebia os conhecimentos e o poder para
ajudar e curar os outros. Ao final, seu corpo é refeito, porém, sempre faltará um ossinho, perdido e
jamais encontrado, para dar a ele a dimensão de sua imperfeição e, portanto, de sua humanidade.

Os xamãs não seguem nenhum dogma ou religião, todos acreditam na rede universal de poder que
sustenta toda vida. A origem de sua fé reside em sua própria experiência com a natureza. Segundo o
xamanismo, todos os elementos do meio ambiente estão vivos e todos possuem sua fonte de poder no
mundo espiritual. Pedras, plantas e animais estão carregados de vida e devem receber o devido respeito
para a manutenção da harmonia e da saúde. Para os xamãs, todas as formas de vida estão interligadas,
e o equilíbrio mutuamente sustentador entre eles é fundamental para a sobrevivência da humanidade.
Nosso trabalho no Clã Lobos do Cerrado, em Brasília, consiste em compreender este equilíbrio e viver
em harmonia com ele, levando sempre a natureza em consideração. A rede de poder da natureza é o
doador da vida e a fonte de toda atividade bem-sucedida.

Com o advento da Revolução Industrial e, um pouco antes, no século 16, com a fundação das igrejas,
das empresas e do expansionismo branco, quando culturas nativas foram massacradas, a humanidade
distanciou-se da natureza, criando um mundo onde há poluição, violência e desequilíbrios. Vendo a terra
apenas como fonte de rendimento e os minerais, vegetais e animais como meios para servir seus
interesses, o homem cortou os laços que o ligavam à Mãe Terra, tornando-se solitário, desvitalizado,
desencantado e desequilibrado. É, provavelmente, devido à perda desse sentido arcaico de ligação
estreita com o universo primitivo interno, que o homem contemporâneo desrespeita a natureza, levando
à catástrofe ecológica tanto externa quanto interna.

Todavia, milhares de pessoas procuram resgatar esse elo perdido com a Mãe Terra, restabelecendo seu
próprio equilíbrio. Estas práticas xamânicas estão retornando hoje como autêntica força viva, em meios
sofisticados como o das terapias alternativas contemporâneas. Tal penetração deve-se também ao
interesse que o assunto despertou em estudiosos de outras áreas, como é caso da antropologia, da
etnologia, da história das religiões.

A partir da década de 60, o antropólogo americano Michael Harner, ao pesquisar a civilização dos índios
da Amazônia Peruana, submeteu-se voluntariamente a uma iniciação xamânica. Nesse processo, ele
entrou em contato com o universo do xamã. A partir daí, percebeu que as técnicas multimilenares dos
xamãs poderiam ser trazidas ao homem racional e utilizadas para o restabelecimento da energia vital e,
conseqüentemente, do equilíbrio psicológico e corporal.

Por outro lado, de forma análoga ao que busca a moderna psicoterapia, a cura xamânica também
objetiva o estabelecimento de uma ponte entre o consciente e os conteúdos do inconsciente profundo.
Não há, praticamente, diferenças substanciais entre uma postura e a outra. As psicoterapias seriam
sistemas formais de pesquisa e cura do inconsciente. No xamanismo, isso ocorre de uma forma natural e
empírica, nos moldes consagrados de uma sabedoria multimilenar que a pesquisa moderna vem
resgatando.

Na base da técnica xamânica de cura está a retomada do contato com as fontes de energia primordiais:
animais, vegetais, minerais e a energia dos quatro elementos, fogo, ar, água e terra. Todas essas
energias existem no mundo natural e, em estado latente, no interior de nossa psique. As técnicas
tradicionais xamânicas preconizam o uso de substância alucinógenas para produzir o estado alterado de
consciente, que será a ponte de ligação entre consciente e inconsciente. Para o homem civilizado, em
geral prisioneiro de um sistema neurótico de vida e não habituado cultural e organicamente à ingestão
de tais substâncias, a experiência quase sempre produz resultados que põem em risco a saúde.

A grande contribuição de Michael Harner foi criar um método de entrar em estado alterado de
consciência sem o uso da droga alucinógena. Harner afirma que o que consideramos realidade subjetiva
no estado comum de consciência é realidade objetiva, naquilo que ele batizou de estado xamânico de
consciência. Assim, se numa experiência xamânica encontrarmos um dragão, ele terá, para o xamã,
realidade plenamente objetiva e não mítica. A partir daí, Harner concluiu que, para se conseguir um
efeito objetivo no estado xamânico de consciência, bastaria um estímulo subjetivo no estado comum de
consciência. Esse estímulo é o som produzido por batidas rítmicas de tambores e chocalhos,
instrumentos tradicionais do xamã.
O primeiro passo que deve ser dado logo após a entrada no estado xamânico de consciência é a
descoberta do túnel xamânico. Esse túnel, que corresponde à ponte de ligação entre o consciente e o
inconsciente, levará ao mundo xamânico, onde, a nível simbólico, toda a experiência xamânica se
desenvolve. A viagem através desse túnel é feita sempre sob o estímulo do som de tambores, e é
geralmente precedida por uma dança similar àquela praticada pelos índios.

Ao começar a viajar entre os mundos o xamã deve buscar seus aliados espirituais: guias, mestres,
auxiliares e animais de poder. No mundo superior é onde encontramos os nossos mestres e ancestrais,
que nos dão conhecimentos, poder, equilíbrio e saúde, visando a nossa evolução como Ser. No mundo
inferior encontraremos nosso animal de poder e os animais auxiliares. O primeiro, em termos
simbólicos, corresponde à nossa parte animal preponderante. Como todos os símbolos, esse também
apresenta uma bipolaridade. Tem um aspecto de energia vital curativa - que, como todo bom anjo da
guarda, está sempre disponível para nos ajudar e proteger - e também a sua igual e contrária parte
destrutiva.

O animal de poder não é nada mais que um parente de outro reino ou nível energético, confirmando,
assim, que todos nós somos irmãos e filhos do Grande Espírito. Neste momento do despertar de uma
nova consciência ecológica, é importante lembrar-nos deste parentesco, para evitar a destruição e
poluição desses outros planos da existência. Várias outras etapas se sucedem, numa seqüência
gradativa que obedece a uma metodologia perfeitamente estruturada. Segue-se, por exemplo, a etapa
da busca do animal de cura, que servirá para a autocura e a cura dos outros, a cura à distância, a
restauração do poder animal e, entre outros, a busca da parte perdida da alma, numa clara analogia
com o trabalho dos psicoterapeutas. A cura xamânica é simplesmente uma ampliação da consciência
buscando a mobilização do fator de autocura. Todo arquétipo pressupõe uma contraparte. O curador
contém o doente e vice-versa.

Com a prática do xamanismo nós nos tornamos co-criador na vontade coletiva da natureza. Nos
tornamos agente da mudança no drama da evolução. Mas do que isso, nos libertamos da ilusão de
isolamento e adentramos na realidade da inter-relação de toda vida. O xamanismo é uma jornada
mental e emocional, onde tanto o paciente quanto o xamã ficam envolvidos. Através de sua heróica
viagem e de seus esforços, o xamã ajuda seus pacientes a transcender a noção normal e comum que
têm acerca da realidade, inclusive a noção de si próprios como doentes. Faz sentir aos seus pacientes
que eles não estão emocionalmente e espiritualmente sozinhos em suas lutas contra a doença e a
morte. Faz com que eles partilhem de seus poderes especiais, convencendo-os, em profundo nível de
consciência, de que há outro ser humano desejoso de oferecer seu próprio Eu para ajudá-los. A
abnegação do xamã provoca no paciente um compromisso emotivo correspondente, um senso de
obrigação de lutar ao lado do xamã para se salvar. Zelo e cura caminham juntos. Finalmente, a prática
do xamanismo leva-o, conseqüentemente, a alinhar-se com as forças de cura da natureza. Encontra-se
equilíbrio e integração. Sabemos quem somos e para onde estamos indo.

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