Você está na página 1de 4

http://acupuntura.blogas-pt.

com/blog/

Problemas de investigação: protocolos personalizados ou fixos?

Recentemente houve uma discussão mais azeda no blog devido ao


problema da investigação científica na MTC. Este artigo vai abordar parte
desses argumentos, mais especificamente, o problema que aborda os
protocolos fixos ou personalizados.

Muitas das críticas que têm sido feitas aos estudos científicos sobre
acupunctura, é que estes se baseiam, principalmente em protocolos fixos e
a acupunctura para ter sucesso tem de se feita com protocolos
personalizados. Existem alguns pontos de discussão nestes casos:

Em primeiro lugar, estas críticas só aparecem quando as conclusões dos


estudos não são do agrado dos acupunctores. Quando um estudo refere que
a acupunctura não surtiu efeito no tratamento de determinada queixa a
razão é simples: deveria ter-se usado protocolos personalizados. No
entanto, provou-se que o ponto 6MC era bom no tratamento de vómitos ou
enjoos em pacientes oncológicos sujeitos a quimioterapia. Protocolos fixos
como o 6MC, 36E e 12VC mostraram ter efeitos clínicos observáveis no
tratamento de vómitos e das gastralgias (dor de estômago). Como são
possíveis estes resultados se a acupunctura só funciona com protocolos
personalizados?

Na obra ACUPUNCTURA MÉDICA Um Enfoque Cientifico do Ponto de Vista


Ocidental, editado por Jaqueline Filshie e Adrian White são mencionados
diversos protocolos fixos que mostraram efeitos clínicos em estudos
científicos. Muitos destes protocolos são retirados dos clássicos chineses, ou
de livros actuais, desde o 6MC para vómitos ao 57B para tratar
hemorróides.

No entanto o que ainda pode gerar mais confusão é a personalização do


protocolo. Como todos os acupunctores sabem, ou deveriam saber, a
acupunctura é maioritariamente sintomática. Ela trata (alivia) sintomas. Se
pegarmos em qualquer livro de MTC e estudarmos as funções do ponto 2VB
vemos que ele é aconselhado, essencialmente, para problemas auditivos
como zumbidos, surdez ou dor. Se este ponto se encontrar num protocolo
de acupunctura eu sei que o paciente vai apresentar uma destas 3 queixas.

Então será ou não útil assumirmos que um protocolo fixo poderá ter algum
efeito clínico (pelo menos se a acupunctura realmente funcionar)? Eu posso
pegar num conjunto de pontos sintomáticos (2VB, 17TA, 21TA, 8VB, 19ID)
para zumbidos e verificar se os zumbidos realmente desaparecem ou são
atenuados.

Caso eu faça esse estudo e conclua que a acupunctura é eficaz então não
vai surgir problema nenhum. No entanto se as conclusões forem negativas,
então, serei incompetente porque não compreendi como funciona a MTC.
Vamos então falar um pouco sobre personalizar protocolos.

Regra geral, a acompanhar uma queixa principal (zumbidos, por exemplo)


vem um padrão clínico. O padrão clínico consiste num determinado conjunto
de sintomas ou sinais clínicos que acompanham ou provocam este sintoma.
Além dos sintomas podem existir factores causais (dor agrava com
exposição ao frio, por exemplo). Os sintomas podem ser relacionais (suores
nocturnos acompanham o aparecimento de zumbidos) ou causais (zumbidos
surgem quando o paciente se irrita ou quando não dorme bem).

Vamos então supor que temos 2 pacientes com zumbidos e, em ambos eu


encontro diferentes sintomas causais. No paciente Hegu, os zumbidos são
desencadeados por estados de irritabilidade e no paciente Shufu, os
zumbidos aparecem quando ele não consegue dormir. Se o acupunctor
conseguir tratar os estados de irritabilidade no primeiro paciente e a insónia
no segundo paciente (situações nas quais a acupunctura tem mostrado
sucesso) então o mais provável é que os pacientes deixem de referir os
zumbidos (os seus sintomas causais desapareceram).

Mas neste caso nós não tratámos os zumbidos mas sim outros sintomas que
desencadeavam o surgimento de zumbidos. Podemos dizer que, em
determinados casos, a acupunctura personalizada pode realmente ser
crucial. Mas fica uma questão: será que a acupunctura alivia ou cura
eficazmente os zumbidos? E o que aconteceria se o acupunctor tivesse
tratado a insónia do paciente com um protocolo fixo? Seria considerado
válido o tratamento efetuado?

Também surgem outras questões, extra acupunctura tradicional, mas que


podem ser relevantes para se avaliar a real eficácia da acupunctura. Na
Medicina Ocidental sabe-se que existem diferentes causas para os
zumbidos. Os zumbidos podem ser provocados por traumas, por pontos
gatilho, causas metabólicas, etc…

Existem questões que deverão ser colocadas. Por exemplo:

1 – qual a real taxa de sucesso no alivio dos zumbidos quando estes são
provocados por hipertensão?
2 – qual a real taxa de sucesso no alivio dos zumbidos quando estes são
provocados pela diabetes?

Temos de considerar a hipótese de diferentes causas dos zumbidos


provocarem diferentes reacções aos tratamentos de acupunctura. Este é um
problema que afecta toda a classe de acupunctores e classe médica uma
vez que o diagnóstico é feito pelos médicos. Neste texto não vou abordar
esse assunto que já foi abordado noutros textos e será mais desenvolvido
no futuro.

Independentemente de considerarmos a necessidade, ou não, de protocolos


personalizados, uma coisa é certa: pela MTC o protocolo fixo é um ponto de
partida que serve para tratar o sintoma, ou seja aliviá-lo. E esta abordagem
não é considerada como inválida em MTC, ela é considerada insuficiente, na
medida em que o protocolo se deve dirigir ao máximo de sintomas que
compoêm o caso clínico (sintomas associados ao padrão clínico juntamente
com a queixa principal). Mas isso não significa que aquele protocolo fixo não
tenha efeitos clínicos, de acordo com a MTC. Se os estudos concordam , ou
não, essa é outra questão.

Seria difícil à MTC dizer se determinado ponto era bom para tratar
determinado sintomas caso a punctura desse ponto não mostrasse sinais de
melhora no apciente. Obviamente que a MTC é uma medicina experimental
e, como tal, muitas das coisas que defende podem não ser realmente
sustentáveis. É só uma questão de investigar.

Você também pode gostar