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FICHA DE TRABALHO

ESCOLA SECUNDÁRIA DE VAGOS Disciplina de Português


403880
12º Ano Turmas B/C
Fevereiro de 2010

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia 50 Pra a efeito horas depois)
Tinha não sei qual guerra, É ainda entregue ao jogo predilecto
Quando a invasão ardia na Cidade Dos grandes indiferentes.
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam Caiam cidades, sofram povos, cesse
5 O seu jogo contínuo. A liberdade e a vida.
55 Os haveres tranquilos e avitos
À sombra de ampla árvore fitavam Ardem e que se arranquem,
O tabuleiro antigo, Mas quando a guerra os jogos interrompa,
E, ao lado de cada um, esperando os seus Esteja o rei sem xeque,
Momentos mais folgados, E o de marfim peão mais avançado
10 Quando havia movido a pedra, e agora 60 Pronto a comprar a torre.
Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava Meus irmãos em amarmos Epicuro
Sobriamente a sua sede. E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Ardiam casas, saqueadas eram Aprendamos na história
15 As arcas e as paredes, 65 Dos calmos jogadores de xadrez
Violadas, as mulheres eram postas Como passar a vida.
Contra os muros caídos,
Trespassadas de lanças, as crianças Tudo o que é sério pouco nos importe,
Eram sangue nas ruas... O grave pouco pese,
20 Mas onde estavam, perto da cidade, O natural impulso dos instintos
E longe do seu ruído, 70 Que ceda ao inútil gozo
Os jogadores de xadrez jogavam (Sob a sombra tranquila do arvoredo)
O jogo de xadrez. De jogar um bom jogo.

‘Inda que nas mensagens do ermo vento O que levamos desta vida inútil
Lhes viessem os gritos, Tanto vale se é
25 E, ao reflectir, soubessem desde a alma 75 A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Que por certo as mulheres Como se fosse apenas
E as tenras filhas violadas eram A memória de um jogo bem jogado
Nessa distância próxima, E uma partida ganha
Inda que, no momento que o pensavam, A um jogador melhor.
30 Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga, 80 A glória pesa como um fardo rico,
Breve seus olhos calmos A fama como a febre,
Volviam sua atenta confiança O amor cansa, porque é a sério e busca,
Ao tabuleiro velho. A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
Quando o rei de marfim está em perigo, 85 O jogo do xadrez
35 Que importa a carne e o osso Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Das irmãs e das mães e das crianças? Pesa, pois não é nada.
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca, Ah! sob as sombras que sem querer nos amam,
O saque pouco importa. Com um púcaro de vinho
E quando a mão confiada leva o xeque 90 Ao lado, e atentos só à inútil faina
40 Ao rei do adversário, Do jogo do xadrez
Pouco pesa na alma que lá longe Mesmo que o jogo seja apenas sonho
Estejam morrendo filhos. E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
Mesmo que, de repente, sobre o muro E, enquanto lá fora,
Surja a sanhuda face 95 Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
45 Dum guerreiro invasor, e breve deva Chamam por nós, deixemos
Em sangue ali cair Que em vão nos chamem, cada um de nós
O jogador solene de xadrez, Sob as sombras amigas
O momento antes desse Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
(É ainda dado ao cálculo dum lance 100 A sua indiferença. Ricardo Reis
Em síntese:

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