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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

ESTUDO SOBRE O MONITORAMENTO ELETRÔNICO DE PESSOAS


PROCESSADAS OU CONDENADAS CRIMIALMENTE

Senhores Conselheiros,

Tendo em vista a atualidade do tema em face da existência de


diversos projetos de lei em trâmite no Congresso Nacional a respeito do tema e
considerando a importância deste Conselho Nacional como órgão formulador
da política penitenciária nacional, tomei a iniciativa de produzir um estudo, de
modo a servir de subsídio à reflexão dos demais pares.

1. O PANORAMA LEGISLATIVO

O debate do tema no Congresso Nacional se iniciou em 2001,


com dois projetos de lei, mas não prosperou. Neste ano de 2007, ressurge,
com outros três projetos na Câmara dos Deputados e dois no Senado Federal,
estes últimos votados recentemente na Comissão de Constituição e Justiça e
unificados.

1.1 – Projetos de 2001.

PL nº 4342 de 2001
Proponente: Deputado Marcus Vicente
Processo MJ nº 08027.000940/2001-00
Objeto: Alteração do artigo 43 e acréscimo do artigo 48-A ao
Código Penal; alteração do artigo 313 do Código de
Processo Penal.

PL nº 4834 de 2001
Proponente: Deputado Vittorio Medioli
Processo MJ nº 08027.001030/2001-36
Objeto: Alteração do artigo 36 do Código Penal.

Substitutivo da Relatora Dep. Zulaiê Cobra


Objeto: Alteração do artigo 33, § 1º, alínea “c”; inclusão dos
§§ 3º, 4º e 5º ao artigo 36 do Código Penal.

Tramitação no CNPCP

Os projetos receberam parecer contrário do Conselheiro


Ricardo Silva por conta de seu alto custo, tendo o
Conselheiro Maurício Kuehne solicitado a conversão da
votação em diligência para aprofundamento do debate.
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1.2 – Projetos de 2007.

PL nº 337 de 2007
Proponente: Deputado Ciro Pedrosa
Processo MJ (n/c)
Objeto: Altera o artigo 36, § 1º, do Código Penal.

PL nº 510 de 2007
Proponente: Deputado Manatto
Processo MJ (n/c)
Objeto: Acresce o artigo 115-A à Lei de Execução Penal.

PL nº 641 de 2007
Proponente: Deputado Edio Lopes
Processo MJ (n/c)
Objeto: Altera a redação dos artigos 35, 36 e 83 do Código
Penal e 50, 122,124 e 151 da Lei de Execução Penal.

PLS nº 641 de 2007


Proponente: Senador Aloísio Mercadante
Processo MJ (n/c)
Objeto: Altera a redação do artigo 36 do Código Penal; 312
do Código de Processo Penal; e 66, 115,123 e 132 da Lei de
Execução Penal.

PLS nº 175 de 2007


Proponente: Senador Magno Malta
Processo MJ (n/c)
Objeto: Altera a redação do artigo 36 do Código Penal; e
115 e 132 da Lei de Execução Penal.

1.3 O Substitutivo da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal

Dos projetos de lei em curso no Senado Federal, resultou a


análise conjunta da Comissão de Constituição e Justiça, decorrendo diversas
emendas, abaixo reproduzidas, a partir das quais elaborei meu posicionamento
sobre o tema.

EMENDA Nº - CCJ
Dê-se ao art. 1º, do PLS n º 165, de 2007, a seguinte
redação:
“Art. 1º. Esta Lei altera os arts. 37, 66, 115, 123 e 132, da Lei
nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal),
os arts. 35, 36 e 85, do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), e o art. 312 do Decreto-

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Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo


Penal).”
EMENDA Nº - CCJ
Dê-se ao § 2º, do art. 312 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de
outubro de 1941 (Código de Processo Penal), de que trata o
art. 3º do PLS nº 165, de 2007, a seguinte redação:
“Art. 312. (...)
§ 2º . A medida prevista no parágrafo anterior dependerá da
anuência do acusado e não poderá ser adotada nos crimes
hediondos e os a eles equiparados.”
EMENDA Nº - CCJ
Corrija-se a remissão ao art. 66, da Lei de Execução Penal,
constante do art. 2º, do PLS n º 165, de 2007, a fim de
especificar que a nova alínea i integra o inciso V vigente, nos
seguintes termos:
“Art. 66.(...)
V – (...)
i) a utilização de monitoramento eletrônico.(NR)”
EMENDA Nº - CCJ
Acresça-se a Seção VI, ao Título V, da Lei nº 7.210, de 11
de julho de 1984 – LEP, e a ela os arts. 146-A com a
seguinte redação:
“TÍTULO V
Seção VI
Do Monitoramento Eletrônico
“Art. 146-A. O monitoramento eletrônico, consistente no uso
da telemática e de meios técnicos que permitam, à distância
e com respeito à dignidade da pessoa a ele sujeito, observar
sua presença ou ausência em determinado local e período
em que ali deva ou não possa estar, será aplicado mediante
as condições fixadas por determinação judicial que:
I – deferir a liberdade provisória;
II – determinar a prisão domiciliar;
III – aplicar a proibição de freqüentar determinados lugares;
IV – conceder livramento condicional ou progressão para os
regimes aberto ou semi-aberto;
V – autorizar a saída temporária do estabelecimento penal,
sem vigilância direta, ou a prestação de trabalho externo;

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V – decretar a prisão preventiva, na forma do § 1º, do art.


312 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941
(Código de Processo Penal).
§ 1º. A determinação do monitoramento eletrônico, sempre
por decisão judicial, será precedida de oitiva do Ministério
Público e dependerá de consentimento do acusado ou
condenado, que será presumido quando requerer essa
providência, diretamente ou representado por seu defensor.
§ 2º. A qualquer tempo caberá a retratação do
consentimento previsto no § 1º deste artigo.
Art. 146-B. Presentes os demais requisitos da medida, o
monitoramento eletrônico será obrigatório quando se tratar
de condenação por tortura, genocídio, tráfico ilícito de
drogas, terrorismo, crimes decorrentes de ações praticadas
por organizações ou associações criminosas de qualquer
tipo, consumados ou tentados, ou por algum dos seguintes
crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal, também consumados ou
tentados:
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica
de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só
agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e
V);
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art.
159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);
V – estupro (art. 213 e 214 e sua combinação com o art.
223, caput e parágrafo único);
VI - atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação
com o art. 223, caput e parágrafo único);
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o);
VIII - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de
produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273,
caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei
no 9.677, de 2 de julho de 1998);
Parágrafo único. Quando se tratar de condenação por
infração penal mencionada neste artigo, o monitoramento
eletrônico poderá ser dispensado, motivadamente, se o juiz
da execução, apreciando o caso concreto, considerá-lo
desnecessário ou inadequado.

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Art. 146-C. A decisão que determinar o monitoramento


eletrônico especificará os locais e os períodos em que será
exercido, que poderão ser modificados, quando necessário,
pelo juiz da execução.
Art. 146-D. O monitoramento eletrônico será revogado:
I - quando se tornar desnecessário ou inadequado;
II - se o acusado ou condenado violar os deveres a que fica
adstrito durante a sua vigência ou retratar-se do
consentimento prestado.
Art. 146-E. O monitoramento eletrônico se iniciará após a
instalação dos meios técnicos necessários à sua execução
e, conforme o fim a que visar, será realizado no âmbito das
atividades de segurança pública ou de administração
penitenciária.
Art. 146-F. O acusado ou condenado será advertido,
pessoalmente e por escrito, quanto ao sistema de
monitoramento eletrônico e, enquanto estiver submetido a
ele, sem prejuízo das demais condições fixadas na decisão
que a determinar, terá os seguintes deveres:
I - receber visitas do servidor responsável pelo
monitoramento eletrônico, responder aos seus contatos e
cumprir suas orientações;
II - abster-se de qualquer comportamento que possa afetar o
normal funcionamento do monitoramento eletrônico,
especialmente atos tendentes a impedi-lo ou dificultá-lo, a
eximir-se a ele, a iludir o servidor que o acompanha ou a
causar dano ao equipamento utilizado para a atividade;
III - informar de imediato ao órgão ou entidade responsável
pelo monitoramento eletrônico, se detectar falhas no
respectivo equipamento;
IV - apresentar justificativa para seu comportamento
aparentemente irregular, descoberto durante os períodos de
monitoramento eletrônico e incompatível com a decisão
judicial que o determinou.
Parágrafo único. A violação dos deveres previstos neste
artigo configura falta grave e será motivo suficiente para:
I - a revogação da progressão do regime de cumprimento da
pena, da liberdade provisória, do livramento condicional, da
saída temporária ou da prestação de trabalho externo;
II – o recolhimento em estabelecimento penal comum.
Art. 146 – G. Compete ao ente federativo responsável pelo
monitoramento eletrônico:

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I - planejar sua implementação progressiva;


II - adquirir os meios e sistemas tecnológicos necessários
para realizá-lo;
III - providenciar o apoio logístico e administrativo para seu
funcionamento.

EMENDA Nº - CCJ
Dê-se ao parágrafo único do art. 85 do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a seguinte
redação:
“Art. 85 (...)

Parágrafo único. Sem prejuízo de outras condições que a


sentença especificar, o livramento só poderá ser concedido
ao condenado que aceitar submeter-se ao monitoramento
eletrônico, sempre que venha a ser determinado” (NR)

EMENDA Nº - CCJ
Dê-se ao art. 37 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei
de Execução Penal), a seguinte redação:

“Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada


pela direção do estabelecimento, dependerá de aptidão,
disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo
de 1/6 (um sexto) da pena, da aceitação do monitoramento
eletrônico, sempre que venha a ser determinado, e do
cumprimento de suas condições.” (NR).

EMENDA Nº - CCJ
Acresça-se o inciso IV ao art. 123, da Lei nº 7.210, de 11 de
julho de 1984 (Lei de Execução Penal), de que trata o art. 2º,
do PLS nº 165, de 2007, com a seguinte redação:
“Art. 123
(...)
IV – aceitação da vigilância eletrônica, sempre que venha a
ser determinada” (NR)

Assim

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2. VOTO

Analisando a matéria, posiciono-me contrariamente à adoção


do sistema de monitoramento eletrônico de pessoas no Brasil. Os motivos são
os seguintes:

2.1 – Violação à intimidade; risco à integridade física e moral; estigmatização


do portador.

Ao justificar a elaboração de seu projeto de lei, o Senador


Mercadante afirmou que “o uso de pulseiras ou tornozeleiras eletrônicas,
facilmente ocultáveis, é alternativa bem menos ofensiva aos direitos individuais
do que a privação da liberdade nas masmorras que são nossas prisões”.1

Ocorre que – talvez não o saiba o parlamentar – as


tornozeleiras não são “facilmente ocultáveis”, constituindo mecanismo de
exposição pública à sociedade das pessoas que estejam respondendo a
processo-crime ou que sejam condenadas criminalmente.

Como se teve a oportunidade de constatar quando da visita de


demonstradores da fabricante do produto ao CNPCP, o equipamento é
claramente visível no pulso ou no tornozelo (onde fica ainda mais evidente)
além de ser obrigatoriamente acompanhado de unidade portátil medindo 12 X
7,5 X 4 cms. pesando 275 gramas (conforme material de propaganda - anexo).

Assim, para evitar que outras pessoas percebam a existência


do equipamento, o portador deverá portar calças compridas e ainda um casaco
para colocar a unidade móvel. Esta, por suas dimensões, pode ser
armazenada no bolso traseiro de uma calça mas, ao se sentar, o portador deve
necessariamente removê-la, provocando sua exposição.

Logo, não é verdade que o sistema seja “facilmente ocultável”.

A ocultação do material torna-se mais complicada a pessoas de


baixa renda, visto que dispõem de parcos recurso para adquirir vestimentas
mais elaboradas, notadamente na maioria das regiões brasileiras, em que a
temperatura é usualmente alta.

No que diz respeito ao perfil sócio-econômico dos presos, o


Senso Demográfico da População Carcerária do Estado de São Paulo,
realizado pela FUNAP em 2002, revelou que 48% dos presos do sexo
masculino ganham até R$ 20,00 ao mês e 32% auferem de R$ 21,00 a 80,00.

No que diz respeito às presas, há discreta melhoria, sendo que


22% ganham de R$ 81,00 a 120,00 e 60% de R$ 121,00 a 200,00.

1
Jornal Folha de São Paulo, edição de 5 de maio de 2007, p .3.

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Seja como for, o fato é que a pessoa presa é pobre e se torna


ainda mais pobre na prisão, o que explica o fato de que raramente se trajam
com algo mais que sandália de borracha, bermuda e camiseta, perfil esse que
não se altera posteriormente.

No meio livre, o uso de vestimenta mais formal, como a calça


comprida, é reservada para momentos cerimoniais ou àqueles que, por dever
religioso, não expõem pernas e braços, comportamento esse que é reforçado
pelo clima quente na maioria das cidades brasileiras, tais como Rio de Janeiro,
Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus e mesmo em São Paulo (na maior parte
do ano).

Portanto, o sistema somente seria facilmente ocultável para


alguém que tenha o costume e a possibilidade de portar trajes sociais
cotidianamente, o que não é verdadeiro para boa parte da população-alvo do
sistema.

Indo adiante, é de se considerar que há situações em que a


pessoa obrigatoriamente deve expor seu corpo a terceiros, como é o exemplo
do exame médico para admissão em emprego. Caso o portador tenha ocultado
o fato de ser condenado criminalmente – fato que por si só relega muitos ao
desemprego formal -, a revelação se dará quando for analisado por médico.

O mesmo pode acabar ocorrendo em outras situações, como


no vestiário da empresa, numa ocasião festiva, durante uma partida de futebol,
ao ir à praia etc. etc. Finalmente, considerando que a criação de vínculos
afetivos e familiares é passo importante rumo à ressocialização, é evidente que
ao portador será deveras mais difícil ganhar o afeto de outrem se, desde os
primeiros encontros restar evidente que se trata de alguém com condenação
criminal.

Em conseqüência, o monitorado ficará sujeito ao escrutínio


público, o que viola o direito fundamental do cidadão à preservação da
intimidade, previsto pela Constituição Federal de 1988, que dispõe serem
invioláveis “a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas”.

Poder-se-ia argumentar que a condenação criminal definitiva


retira da pessoa alguns dos direitos que lhe são inerentes, a começar pela
liberdade de locomoção, passando também pela intimidade. Indo além, na linha
do que expôs o Senador referido, a intimidade seria menos violada com o
sistema em questão do que o verificado nos promíscuos presídios nacionais.

Pode ser, mais é igualmente certo que o sentenciado preso em


celas coletivas não corre o risco de ser identificado na rua como um “bandido”
e de sofrer toda a sorte de ofensas à sua honra e, mais grave que isso, à sua
integridade física, podendo facilmente ser linchado por uma população movida
pelo pânico social e pela sensação de impunidade.

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Ora, se é verdade que o Estado está longe de cumprir os


direitos do preso, não se pode imaginar que crie mecanismo que ponha em
risco a vida e a integridade física e moral do condenado.

Bem por isso, não tenho dúvida, a Convenção contra a Tortura


e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (ONU,
1984) contém inescapável vedação a sistemas como o previsto, tendo em vista
a realidade de países como o Brasil.

Perigosa, a meu ver, a relativização do conceito de intimidade,


aplicando-a hoje aos criminalmente envolvidos, como se não fossem
portadores de direitos fundamentais, situação essa que certamente se
espraiará aos demais, ditos “cidadãos de bem”.2

Nunca é demais lembrar a função limitadora da atividade


punitiva estatal desempenhada pelos Direitos Humanos, desde seu surgimento
nas Dclarações de Direitos francesa, inglesa e norte-americana, dos séculos
XVIII. A história se repete e, de tempos em tempos, a humanidade abre espaço
para excessos estatais, de gosto amargo, porém de curta memória.

A respeito, a Corte Interamericana de Direitos Humanos já teve


oportunidade de se pronunciar sobre os limites do exercício do jus puniendi
pelos Estados, restando consagrado que “um Estado tem o direito e o dever de
garantir sua própria segurança, mas deve exercê-los dentro dos limites e
conforme aos procedimentos que permitam preservar tanto a segurança
pública como os direitos fundamentais da pessoa humana”.3

De mais a mais, é objetivo indeclinável do cumprimento de


pena a reintegração social do condenado, como previsto em diversos tratados

2
Veja-se que o mesmo Reino Unido que aplica o sistema a condenados, pensa em expandi-lo
a outros grupos sociais vulneráveis, como noticiado na Folha on-line
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u21981.shtml):

Reino Unido quer controlar idosos com pulseiras eletrônicas (da Ansa, em Londres)

O ministro britânico da ciência, Malcolm Wicks, quer obrigar todos idosos do Reino Unido a
usarem uma pulseira magnética para localizá-los a qualquer hora. De acordo com o ministro,
uma nova tecnologia via satélite permite que as famílias saibam onde seus parentes estão. Em
uma entrevista fornecida ao jornal inglês "Daily Mirror", Wicks afirmou que a iniciativa foi
lançada como conseqüência das preocupações de muitos britânicos sobre o paradeiro dos
idosos e sobre sua segurança. "Os satélites monitoram o planeta de formas distintas. Eu
proponho agora que coloquemos pulseiras magnéticas nos anciões", diz o ministro. "Nós temos
uma população envelhecida e muitos deles sofrem de fragilidade, demência e até do mal de
Alzheimer. Como podemos balancear a liberdade individual e a segurança de nossos avós, por
exemplo, no caso de eles saírem para fazer compras?", acrescentou Wicks. No Reino Unido,
as pulseiras magnéticas são utilizadas para identificar criminosos e detidos em prisão
domiciliar, por meio de tecnologia avançada dos satélites.
3
Caso Castillo Petruzzi e outros vs. Peru. Sentença de Mérito. J. em 30 de maio de 1999, Série
C, n. 52, par 90. Apud. RAMOS, André de Carvalho. Direitos humanos em juízo. Max Limonad.
São Paulo, 2001. p. 322.

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internacionais, a começar pela Convenção Americana de Direitos Humanos, e


na Lei de Execução Penal.

Logo, se o sistema é de difícil ocultamento, ou bem o portador


se furta ao convívio social, ou bem se expõe a que seja publicamente
identificado como infrator, situação essa que certamente gerará o opróbrio dos
demais e não resultará em benefício social algum, além do precitado risco à
integridade moral e física do portador.

Neste ponto, não custa lembrar do famigerado Sanbenito, traje


a que os condenados pelo Tribunal da Inquisição eram obrigados a portar e
que expunham sua condição de infiéis arrependidos e penitentes às demais
pessoas, resultando numa condição de vida marginal e desonrada.

Bem por isso e outras trágicas experiências da história humana


(a estrela de Davi bordada nas roupas, a marcação a ferro do escravos etc.) é
que o moderno direito penal não pode admitir qualquer elemento que
caracterize o condenado externamente aos muros do cárcere, visto que tal
medida colide com o primado da ressocialização.

Em suma, entendo que o sistema constitui meio degradante de


punição, incompatível com o princípio da reintegração social como finalidade
moderna da pena e violador da intimidade do ser humano, assim conflitando
com diversos dispositivos da Constituição Federal de 1988 e de tratados
internacionais de Direitos Humanos ratificados pelo Brasil.

2.2 – Redução do encarceramento ou criação de maiores entraves?

Assevera-se que o emprego do monitoramento eletrônico


gerará sensível redução na quantidade de pessoas aprisionadas, com
evidentes vantagens, quer para o administrador, quer para os que poderão se
livrar das péssimas condições de parte significativa dos estabelecimentos
penais.

Contudo, da análise do projeto decorrente das Emendas


aprovadas na CCJ do Senado Federal, não é o que me parece, eis que o
monitoramento eletrônico configura um plus à obtenção da liberdade no curso
da execução penal, hoje inexistente. Vejamos:
As referidas emendas prevêem o monitoramento para o caso
de se deferir a liberdade provisória; determinar a prisão domiciliar; aplicar a
proibição de freqüentar determinados lugares; conceder livramento condicional
ou progressão para os regimes aberto ou semi-aberto; autorizar a saída
temporária do estabelecimento penal, sem vigilância direta, ou a prestação de
trabalho externo; decretar a prisão preventiva, na forma do § 1º, do art. 312 do
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).

Todas as medidas acima referidas hoje são regularmente


deferidas sem que se faça necessário o emprego do sistema eletrônico. Logo,

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a modalidade não caracteriza qualquer facilitador para que se logre colocar


alguém em liberdade, antes ao contrário.

Considerando-se que a CCJ do Senado incluiu normas aos


textos hoje vigentes, segundo as quais o “benefício em execução penal”
somente pode ser concedido se o sentenciado aceitar o uso do monitoramento
eletrônico (vide, acima), vê-se que criou-se evidente complicador para a
retirada de pessoas da prisão, para além dos problemas atuais.

A respeito, importa atentar para o fato de que a


indisponibilidade do sistema, decorrente de problemas administrativos ou
orçamentários do Poder Executivo, poderá mesmo acarretar a manutenção da
prisão de pessoas que, hoje, sairiam livres.

Deveras, recentemente era comum encontrar-se decisões das


Justiças Estaduais vedando a progressão ao regime semi-aberto ante a
ausência de vagas respectivas, situação essa que somente se alterou graças a
centenas de hábeas corpus impetrados perante o Superior Tribunal de Justiça,
que reconheceu o direito do preso aguardar em regime aberto a liberação de
vaga no intermediário.

Diante de tal precedente, é razoável antever a não concessão


de benefícios a presos que a tanto faça jus diante da inexistência ou
inoperância total ou parcial de sistemas de monitoramento eletrônico.

Outro aspecto a ser considerado é o descrédito judicial no


sistema, a partir do momento em que sentenciados passarem a romper a
braçadeira e abandonarem o uso do equipamento, produzindo o aumento do
ceticismo judicial quanto à punição de criminosos em nosso país.

Logo, tenho para mim que o monitoramento eletrônico


acarretará ainda acréscimo da população carcerária, contrariando as
expectativas existentes.

2.3 – O caso da liberdade provisória

Neste ponto, creio inconstitucional o emprego do


monitoramento eletrônico, tal como hoje se apresenta, visto que significa a
criação de um grave constrangimento à liberdade de pessoa meramente
suspeita da prática de crime, protegida pelo manto constitucional inviolável da
presunção de inocência.

Se são verdadeiras as afirmações relativas à possibilidade de


identificação da pessoa pela sociedade ao portar o equipamento, no caso dos
meramente acusados de crime isso significará uma prévia condenação, eis que
o réu não terá como explicar, a cada um, que o equipamento foi nele instalado
apenas para garantir que não se furtará a comparecer ao fórum nas datas
designadas. Será visto, isso sim, como pessoa envolvida com a Justiça,

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decorrendo daí sua evidente estigmatização, com a decorrente ruptura dos


vínculos sociais e econômicos que o sustentam.

A única lógica possível para o emprego da vigilância eletrônica


ao acusado de crime seria na modalidade de prisão preventiva domiciliar,
inexistente no Brasil, pois o portador dos equipamentos não estaria sujeito ao
escrutínio dos demais.

É o que vem sendo utilizado na Argentina e em Portugal, que a


introduziram após reformas de suas leis penais e processuais penais.

No Brasil, o Código de Processo Penal disciplina as


modalidades de prisão antes da condenação, a saber, a prisão em flagrante e a
preventiva. Em ambos os casos o preso deverá ser encaminhado para um
estabelecimento carcerário distinto daquele destinado aos condenados e, se o
preso puder ser enquadrado no rol do artigo 2954, terá direito à prisão especial,
que consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da prisão
comum. A legislação brasileira não prevê prisão domiciliar para quem encontra-
se aguardando julgamento.

Portanto, para que se possa utilizar o monitoramento


eletrônico, há que ser elaborada alteração legislativa para permitir sua
aplicação como modalidade de prisão preventiva. Dependendo de como se der
a previsão legal da matéria, a lei poderá propiciar ao juiz brasileiro uma
modalidade intermediária entre a prisão (muitas vezes em estabelecimento
superlotado) e a liberdade plena (que pode por em risco a sociedade).

Na realidade, a superlotação dos presídios decorre do fato de a


grande maioria dos presos ter sido flagrada no momento da prática delituosa,
assim como pela tendência judicial de entender que a soltura do réu, para que
responda ao processo em liberdade, impossibilitará sua eventual prisão
posterior, como resultado da quase certa condenação.

4
Art.295 - Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade
competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva:
I - os ministros de Estado;
II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios, o prefeito do Distrito Federal,
seus respectivos secretários, os prefeitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia;
III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Economia Nacional e das
Assembléias Legislativas dos Estados;
IV - os cidadãos inscritos no "Livro de Mérito";
V - os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios;
VI - os magistrados;
VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da República;
VIII - os ministros de confissão religiosa;
IX - os ministros do Tribunal de Contas;
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado, salvo quando
excluídos da lista por motivo de incapacidade para o exercício daquela função;
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e Territórios, ativos e inativos.

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Dizem os estudiosos do direito penal que a prisão preventiva


deveria ser a exceção, prevalecendo a regra da liberdade do réu no curso do
processo. Porém, o artigo 312 do Código de Processo Penal5, ao prever as
hipóteses de prisão preventiva, acaba tornando o encarceramento a regra, uma
vez que esta é cabível quando houver ameaça à ordem pública ou por
“conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal”.
Nestes casos, entende a maioria dos magistrados brasileiros, que a soltura de
quem foi preso em flagrante pode propiciar ao réu que intimide a vítima e
eventuais testemunhas. Além disso, há a crença de que o réu fugirá e voltará a
cometer crimes, eis que foi preso nesta situação.

Soma-se a isso o fato do mesmo artigo legal prever que a


prisão preventiva é cabível “quando houver prova da existência do crime e
indício suficiente de autoria”, situações presentes em caso de flagrante delito.

Diante disso a eventual reforma legal que poderá introduzir a


prisão preventiva domiciliar deverá ser cuidadosa a ponto de estabelecer em
que circunstâncias é ela cabível, especialmente tendo em vista os crimes de
menor potencial ofensivo. a idéia é criar um paralelo entre a prisão preventiva
e a provável modalidade de pena, de modo que se a modalidade de prática
criminosa indicar que a pena aplicada será de natureza não detentiva, a prisão
processual também tenha este caráter.

Evidentemente há o risco de que a prisão preventiva domiciliar


seja empregada não para aqueles presos que hoje superlotam as delegacias
de polícia e cadeias públicas, uma vez que estes em geral foram capturados
durante a prática de roubo qualificado (geralmente pelo uso de arma de fogo)
ou tráfico de drogas.

No entanto, nada impede que a prisão preventiva domiciliar,


monitorada eletronicamente, seja destinada a pessoas que cometeram crimes
aos quais possivelmente será atribuída pena privativa de liberdade, desde que
alguns requisitos sejam estabelecidos, como a primariedade e o máximo de
pena em abstrato fixada na denúncia. Pode-se pensar, também, num sistema
que estimule o réu a observar a prisão domiciliar, como a possibilidade deste
comportamento ser levado em conta para a fixação de um regime mais brando
de cumprimento da pena, eventualmente com a continuidade da prisão
domiciliar.

Em suma, creio inconstitucional a fixação da liberdade


provisória monitorada, ao passo que seria possível, mediante alteração
legislativa, falar-se em prisão preventiva domiciliar monitorada eletronicamente.

Alternativamente, seria o caso de se adotar duas medidas


legislativas que poderiam minorar o problema da prisão preventiva.

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Artigo 312 - A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei
penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.

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De um lado, seria o caso de se determinar que a pessoa presa


em flagrante fosse interrogada judicialmente em prazo não superior a cinco
dias, muitas vezes a real causa da sua manutenção na prisão.

Ocorre que muitos juízes temem o fato de colocar o acusado


em liberdade antes de o haverem interrogado e citado, causando gravames o
transcurso do processo penal.

Ocorre que o interrogatório pode demorar semanas para


acontecer, o que vai desde a demora na formalização do inquérito policial e/ou
oferecimento de denúncia, chegando á falta de datas para a primeira audiência.

Segundo penso, seria muito mais conveniente a todos se a


pessoa presa em flagrante fosse levada sem demora à presença do juiz, assim
como do promotor e do defensor público (ou do advogado, se o caso). Na
verdade, é o que prevê a Convenção Americana de Direitos Humanos, cujo
artigo 7º, inciso 5, prevê que “toda pessoa presa, detida ou retida deve ser
conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade permitida
por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo
razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o
processo.”

Considero a simplificação do inquérito policial para os casos de


prisão em flagrante, assim como dos procedimentos de oitiva e início do
processo crime, como solução para minorar a quantidade de pessoas presas
processualmente.

Ocorre, porém, que muitos são os casos em que o juiz forma


uma prévia convicção quanto à culpa do acusado, já antevendo sua
condenação, não havendo o que o faça colocar o suspeito em liberdade.
Nestes casos, porém, ocorrerá a detração, sendo mais produtivo agilizar os
meios de cálculo da pena e de formação do processo de execução penal que
investir em onerosa tecnologia.

O outro caminho é a edição de lei vedando a manutenção da


pessoa presa cuja pena máxima in abstracto permita a aplicação de pena ou
medida alternativa. Somando-se a isso eventual ampliação das hipóteses de
cabimento das alternativas À prisão poderia gerar uma redução do contingente
de presos provisórios em nossos cárceres.

2.4 – O custo e a operação do sistema

A empresa que vem realizando lobby pela implantação do


sistema afirma que seu custo é inferior ao do preso encarcerado.

Primeiramente destaco que não foram realizados estudos a


esse respeito, a ponto de hoje se estar construindo uma nova modalidade de
controle penal baseado exclusivamente nas palavras de alguém que detém
notório interesse comercial quanto à sua implantação.

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Realmente, não foram apresentados a este CNCPC planilhas


detalhadas a respeito da formação dos custos, assim como o que se refere à
margem de lucro estimada, a economia de escala e outros dados referentes à
viabilidade financeira do sistema.

Da mesma forma, a operacionalização do sistema, pelo que foi


exposto, continuaria nas mãos da empresa detentora da tecnologia, com clara
violação do direito exclusivo do Estado de aplicar a sanção penal.

Observe-se que a prestação da segurança pública é


prerrogativa estatal desde o surgimento do Estado Moderno, situação essa
consubstanciada a partir das revoluções liberais dos séculos XVII e XVIII e hoje
mantida pela nossa ordem constitucional.

Mesmo no caso de unidade penais privatizadas, a direção do


estabelecimento é – ou deve ser – sempre do gestor público, assim como os
aspectos relacionados à segurança da unidade penal.

No caso em tela, ao invés de simplesmente comprar um


produto ou serviço, que passa a administrar, a Administração passará a ficar
nas mãos da empresa, eis que a gestão do sistema continuará com esta última.

De outro lado, segundo a legislação proposta, o preso somente


será beneficiado em execução penal se monitorado eletronicamente. Assim é
que o Poder Executivo restará premido pela necessidade de contratar os
serviços de monitoramento, sem a possibilidade de dispor de meios próprios
para dar conta da demanda.

Ademais, uma vez implantado o sistema, haverá dificuldade em


sua desativação ou troca por outro fornecedor, salvo se os monitorados
puderem ser convocados para fazer a migração. Daí que o Estado terá maior
dificuldade em escolher livremente entre as empresas oferecidas pelo
mercado.

Logo, corre-se o risco de se fazer alterações legislativas sem


os devidos estudos técnicos, criando-se sistemática que pode tornar o Estado
verdadeiro refém de uma ou poucas empresas detentoras da tecnologia, com
ampla possibilidade de cartelização do mercado, com a decorrente majoração
do preço, notadamente quando da renovação dos contratos.

2.5 – O suposto efeito inibitório do sistema

Os defensores do monitoramento afirmam que ele pode gerar a


redução do número de crimes praticados, o que é duvidoso.

Ocorre que o sistema permite, quando muito, saber ONDE se


encontra a pessoa mas jamais saber O QUE ela está fazendo ou com quem
está se relacionando. Logo, não há garantia alguma de que a pessoa que
esteja em livramento condicional, saída temporária, regime aberto etc. deixará

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de cometer nova infração penal pelo fato de estar portando o equipamento.


Assim, mesmo que um crime ocorra nas proximidades e horário em que um
monitorado ali se encontrasse, isso não faz dele um suspeito.

Ao contrário, pode haver, inclusive, a falsa imputação de crime,


considerando-se os métodos pouco ortodoxos de nossas polícias quando se
trata de investigação criminal. Neste caso, o monitorado torna-se o “suspeito
natural”, bastando que tenha o azar de estar na região quando ocorrer uma
prática criminal, o que não é incomum nas grandes metrópoles superpovoadas.
Deste ponto em diante, poderá sofrer toda a sorte de violações, infelizmente
comuns em unidades policiais, e mesmo ver-se sujeito a responder a novo
processo criminal, salvo se a vítima tiver a coragem de enfrentar o sistema e
inocentar o acusado, o que nem sempre ocorre, mormente em se tratando de
pessoa já condenada.

2.6 – Ampliação das penas e medidas alternativas : A verdadeira solução

Este Conselho, de há muito, vem defendendo o emprego


ampliado das penas e medidas alternativas como forma de diminuir o
encarceramento. A respeito muito foi dito e o próprio DEPEN propugna tal
solução, conquanto ainda hoje poucas verbas são destinadas ao
desenvolvimento do sistema, comparativamente ao que se gasta com o
sistema punitivo convencional.

E, diante do monitoramento eletrônico, as penas e medidas


alternativas mostram-se muito mais vantajosas, visto que são muito mais
baratas; provocam a reintegração social do condenado; geram benefícios aos
órgãos públicos e privados que se valem de prestadores de serviços; afastam a
cultura da prisão como única forma de sanção possível; proporcionam a
contratação de profissionais voltados à reconstrução do tecido social rompido
pela prática criminosa, em contraposição ao crescente número de guardas,
agentes penitenciários, etc.; gera um salutar envolvimento do Poder Judiciário
com a comunidade, entre outras tantas vantagens.

Ao contrário, o monitoramento eletrônico é ainda bastante caro;


estigmatiza a pessoa, dela afastando a sociedade; não gera o desenvolvimento
de qualquer vínculo social ou econômico produtivo; não envolve o Poder
Judiciário com a construção de soluções duradouras para o problema da
criminalidade e; por fim, deixa o Estado nas mãos das poucas empresas
detentoras da tecnologia disponível, dele retirando o poder exclusivo de punir,
como expressão máxima da Soberania.

3. Conclusão

Por tais motivos, posiciono-me contrariamente à adoção do


sistema em nosso país, com a rejeição do pacote de segurança do Senado
Federal, neste aspecto.

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