CONEXÃO ÁSIA

{Milton Pomar*}

A grande oportunidade
da Expo Xangai 2010
A exposição Durante os seis meses de duração do even- um ritmo de 20 a 25 milhões de pessoas por

mundial vai
to (de maio a outubro de 2010), estima-se que ano, o que poderá acrescentar às cidades, até
70 milhões de pessoas visitem os estandes dos 2030, a fantástica quantidade de 500 milhões de
reunir pelo 239 países e organizações internacionais que pessoas. Esse número impressionante equivale

menos
haviam confirmado participação na Expo Xan- a urbanizar toda a Região Sul a cada ano –
gai até o início de julho deste ano. Com o lema construir milhares de escolas, conjuntos
239 países e Melhor Cidade, Melhor Vida, a exposição tra- habitacionais, instalações esportivas, viadutos,

70 milhões
rá para o primeiro plano dos grandes desafios avenidas, ruas, hospitais, praças.
mundiais do século 21 a problemática urbana. Ocorreu isso na China, em escala crescen-
de pessoas. Certamente, a China é hoje o país mais ade- te, nos últimos 30 anos: migraram do campo

Em pauta, a
quado para sediar esse debate, principalmente para as cidades quase 500 milhões de pessoas.
pelo fato estonteante de que o trajeto rural- Nesse período, segundo o Banco Mundial, o
vida nas urbano no país, no período 1980-2030, deverá percentual de pobres no país caiu de 84% para

cidades
ser trilhado por 1 bilhão de pessoas.
Ainda predominantemente rural, a China
de 2010 terá 650 milhões de pessoas nas cida-
des – 47% da população, quase a média mun-
dial (49%), mas muito distante da taxa de urba-
nização do Brasil (83%) e de países mais desen-
volvidos, como Alemanha (73%), Estados Uni-
dos e Japão (79%). Entretanto, em 1980, no iní-
cio das reformas, havia somente 128 milhões
de pessoas nas cidades chinesas, 13% da popu-
lação. A China continuará se urbanizando a
16% – um total de 627 milhões de pessoas que
saíram dessa condição e entraram no mercado
consumidor. Muita gente se pergunta como a
China conseguiu produzir essa transformação
em tão pouco tempo. O ingresso no mundo
urbano foi decisivo para o aumento do poder
aquisitivo desses migrantes. A “explosão urba-
na planejada” é causa e efeito do crescimento
espantoso do país, de 9% ao ano em média des-
de 1978. Essa explosão planejada teve, tem e
terá, por muito tempo, papel determinante no

Complexo viário em
Xangai, cidade mais
populosa da China:
desafio da Expo é
debater saídas para os
efeitos negativos da
urbanização

Julho 2009 | AMANHÃ


desenvolvimento econômico chinês.
Daí a importância estratégica da
questão urbana na China: o processo
massivo, acelerado e planejado é res-
ponsável direto por parte significativa
do crescimento do PIB através da cons-
trução civil, da energia, da logística, do
saneamento, das telecomunicações e
tudo o mais. Cidades industriais foram
criadas ou ampliadas em várias pro-
víncias, na implantação das Zonas de
Desenvolvimento Econômico, e atraí-
ram dezenas de milhões de famílias de
agricultores. Shenzen, na província de
Guangdong, é um bom exemplo des-
se fenômeno: há 30 anos, praticamen-
te não existia. Hoje, tem 9 milhões de
habitantes.
Difícil de acreditar?
Construir bairros e cidades, re-
construir as existentes, reformar ou
restaurar os milhares de locais históri-
cos, da Cidade Proibida aos palácios e
tumbas imperiais, dá um trabalho con-
siderável. Ainda mais em se tratando
de 59 municípios com 200 mil a 500 mil
habitantes na área urbana, 106 com 500
mil a 1 milhão, 80 com 1 milhão a 2
milhões, 24 entre 2 e 4 milhões e 13
acima dos 4 milhões. Visitar a China é
entrar em um canteiro de obras. E isso
explica a condição de responsável por
metade do cimento e do aço consumi-
dos no mundo e de campeã na quanti-
dade de gruas em operação.
Ao se esforçar tanto para sediar a
Exposição Mundial (foi o primeiro país
a se apresentar como candidato, em
2001), logo após a realização da Olim-
píada de 2008, a China dá mais uma
demonstração para o mundo de que o
seu ritmo frenético não vai parar ou
diminuir muito – não pelo menos an-
tes de 2030. Segundo a organização do
evento, será a primeira vez, depois de
150 anos, que a exposição terá o urba-
nismo como tema central. Da mesma
Com alta
forma, pela primeira vez em sua histó-
ria, a Expo ocorrerá em um país em
desenvolvimento. Não por acaso, a média de 9%
no PIB desde
China. E não por acaso em Xangai, a
cidade mais populosa do país, polo de
uma região com mais de 100 milhões 1978, a China
deve seu
de habitantes, integrada por muitas ci-
dades “pequenas” e algumas grandes:
Hangzhou, Suzhou, Changzhou, crescimento
econômico à
Ningbo e Shaoxin – coincidentemen-
te, todas com cidades-irmãs no Brasil:
Curitiba, Porto Alegre, Caxias do Sul, explosão
urbana
Santos e Belém, respectivamente.
Esforçando-se para tornar esse
evento tão memorável quanto as Olim- planejada
píadas e buscando atrair a atenção do
mundo, a China trabalha com a pers-
pectiva de receber 3,5 milhões de visi-
tantes estrangeiros durante a Expo.
Pelo que já foi anunciado até agora, o
evento oferecerá ao mundo um espe-
táculo inédito e grandioso, integrado
por mais de 200 pavilhões de países,
competindo entre si para apresentar
de maneira mais interessante, criativa
e bonita, conceitos de cidades e vidas
melhores sob cinco diferentes en-
foques: pluralismo de culturas urbanas,
prosperidade da economia urbana,
inovação tecnológica das cidades, re-
forma de comunidades urbanas e
interações entre campo e cidade.
Xangai apresentou sua candidatu-
ra ao governo central chinês em 1999.
Tal antecedência é resultante da cultura
do planejamento estratégico que norteia
o desenvolvimento do país. A cidade terá
um ganho extraordinário com esse even-
to, assim como as entidades e países ex-
positores. Empresas e governos de cida-
des, Estados e países vão se encontrar e
fazer negócios, muitos negócios. Para o
Brasil, estão reservados 3 mil metros
quadrados de espaço, a cargo da Agên-
cia Brasileira de Promoção de Exporta-
ções e Investimentos (Apex).
Milton Pomar é diretor de negócios da BWP S/
A, empresa Brasif especializada em China
AMANHÃ | Julho 2009