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Escola Martinho Lutero

ESCOLA LUTERANA DE ENSINO MÉDIO MARTINHO LUTERO


Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio

Crianças e adolescentes crescem sem limites na era do “tudo pode”


por Shirley Hunther1

Estamos vivendo na "era" do tudo é "normal". Crianças e adolescentes crescem fazendo e


consumindo tudo que veem, principalmente aqueles ditados pela moda através dos veículos de comunicação.
Uma "era" em que as informações chegam rápido demais, por uma questão de segundos às notícias
mudam. O que vimos, lemos e o que ouvimos a pouco já "era", outras notícias estão lá, prontas para
deixarmos "bem informados" e "enfeitiçados".
É nesse jogo de que tudo tá na moda, tudo é normal, tudo pode que esquecemos de preparar nossos
filhos e filhas para as conseqüências do que esse "tudo pode", pode acarretar. Se pensarmos na palavra
"normal" como um conceito, podemos designá-lo como "uma categoria do pensamento popular porque o
povo sente - de maneira profunda, apesar de confusa - que sua situação social não é justa", seguindo a teoria
de CAGUCHEM, 2002. Ou seja, o termo "normal" chegou à língua popular e nela se banalizou.
Podemos pensar, também, que se todo valor surgir a partir de um antivalor, podemos acreditar que
nele está implícita insatisfação de modo de vida antiquado.
O que me chamou a atenção para colocar em pauta a minha indignação em relação à ERA do "tudo é
normal", "tudo pode" foi o acontecido no último dia 31 de março, na cidade de Londrina. Uma adolescente
de 13 anos foi violentada por quatro rapazes num terminal urbano de transporte coletivo depois de ter saído
da escola. De acordo com os policiais da Delegacia do Adolescente de Londrina, umas pulseiras coloridas
foram a causa da agressão à menina.
Esse acessório, aparentemente inocente, começou a ser usado pelos jovens na Inglaterra e ganhou
destaque no mundo afora, porém no Brasil, essas pulseiras passaram a ser usadas como acessórios da moda.
A mídia cria moda, dita regras que passam a ser "norma". O que é fabricado tem que ser consumido.
É claro que se pode forçar a lógica da normalização até atingir a normalização das necessidades de consumo
por meio do estímulo da propaganda.
Mas essa normalização não passa de um jogo. O que a garotada desconhece é que para cada cor
dessas pulseiras existe um significado e aquele que tem a pulseira arrebentada por outro, tem que realizar o
que a cor determina. Em outras palavras, criaram-se novos conceitos, novos significados para as cores e
seguem como "normas" e que passa a ser "normal" sua prática. As prendas variam de um simples abraço até
sexo propriamente dito. No Brasil grande parte da meninada usa sem saber o significado e compram por
achá-las bonitinhas e estarem na moda. Muitas escolas preferem acreditar que isso é apenas um modismo e
que vai passar, assim ignoram o assunto.
Um dos perigos desse modismo que a publicidade acaba de jogar na mídia é que o uso desses
acessórios deixa a criança e o adolescente vulneráveis. O uso de tal artifício, que aparentemente pode parecer
uma rebeldia, pode tornar-se chamariz para as mentes doentias e psicopatas. Esta é uma situação que merece
atenção dos pais e da escola, já que essas pulseiras além de estarem na moda são de fácil acesso e valor
baixo.
O que penso é que não basta proibir, nem tão pouco deixar no "tudo pode", é necessário que se
explique a gravidade às crianças e aos adolescentes, porque elas não sabem o risco que estão correndo. É
preciso levar isso a sério porque envolve situações de abuso sexual, de relações de poder, de banalização de
sexualidade e das relações afetivas no universo infanto-juvenil, do direito do outro de dizer não. E que os
fenômenos sociais trazidos pela mídia de outros países não podem ser absorvidas como cultura popular e
pratica "normal". Aristóteles diz que a arte imita a natureza. Imitar não é copiar, e sim procurar reencontrar o
sentido de uma prática levando em consideração o espaço histórico e cultural de cada sociedade.

FONTE: http://www.adital.com.br, retirado em 08/04/2010

1
Formada em Comunicação Social, pós-graduada em Lingüística do Texto e do Discurso, e jornalista da ONG Graúna Juventude,
Gênero, Arte e Desenvolvimento.

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