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O sociólogo francês Alain Touraine, diretor de estudos da Escola de Altos Estudos em Ciências
Sociais de Paris, foi professor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e conhece o presidente
Lula há bastante tempo, a ponto de ter atuado para que a transição de poder entre os dois se desse
da maneira como ocorreu, que ele classifica de “generosa” por parte do tucano.
O consenso entre as forças políticas sobre a necessidade de combinar políticas realistas na economia
e preocupação com a melhoria social tem prevalecido nestes últimos 15 anos, e a isso o professor
francês atribui a continuidade dos avanços.
Mas Touraine acha que depois de um presidente com tanta força pessoal como Lula, “há uma certa
necessidade de se retomar um processo político mais substancial”.
Ele comenta que não conhece “essa senhora” (referindose à candidata Dilma Rousseff), “mas dizer
apenas que é a candidata do Lula é uma definição vazia, é preciso preencher com uma ação
política”.
Pelo que tem acompanhado, Touraine acha que a figura pública de Dilma está sendo apagada pela
de Lula, e não acha que essa seja uma crítica a Lula: “Ele é muito bom para ter um sucessor”.
O professor francês ressalta que no Chile aconteceu a mesma coisa, Bachelet saiu com 80% de
popularidade, e “o outro lado ganhou porque teve uma ação política mais substancial”.
Na análise de Alain Touraine, o Brasil vem desenvolvendo um processo muito bem sucedido de
ampliar seu espaço, de construir não mais um EstadoNação, “mas um Estado no mundo”.
Depois de Lula ter dado ao povo a sensação de que estava realmente no poder, depois de um
governo tão popular, há que se tratar de outros problemas, adverte Touraine, que defende que é
preciso retomar o projeto exitoso de reorganização do país.
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Touraine: Serra é continuidade — Portal ClippingMP http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/5/1/tour...
Ele admite que substituir um líder carismático como Lula “por um político do tipo sério como o
Serra” pode ser um problema, se bem que ressalva que seu amigo Serra está menos sério do que nos
primeiros anos de carreira política como economista.
“Agora no segundo governo houve menos PT e mais Lula, e deu mais certo do que antes. Com Lula
fora do governo, é um perigo o PT voltar a ter poder.
Seria melhor que ganhasse o Serra, que tem mais experiência, mais pulso forte”, comenta Touraine.
O sociólogo francês continua preocupado com a reforma do Estado, que considera que avançou com
Fernando Henrique e sofreu um retrocesso com o clientelismo e o empreguismo para “os
companheiros” do PT.
Touraine acha que é hora de retomar as reformas estruturais de modernização do Estado brasileiro
para atingir uma capacidade administrativa que ele vê no Estado chileno, para dar o exemplo
regional.
Na visão de Touraine, o sentido de continuidade das políticas públicas tem marcado os últimos anos,
mas os governantes não podem se satisfazer em apenas acelerar as reformas sociais que foram
feitas.
O próximo governo teria que fazer reformas de estruturas nas grandes cidades, sobre o transporte,
habitação, medidas que Touraine já cobrava do atual governo Lula, e Serra está mais capacitado
para essa tarefa depois de ter sido governador de São Paulo.
O Brasil, após a fase que ele já chamou de “socialdemocrata moderada” e o êxito de Lula na sucessão
de Fernando Henrique, está entrando na modernidade, o que permitirá uma continuidade de
políticas em um ambiente institucional organizado.
Alain Touraine está convencido de que tanto Fernando Henrique quanto Lula usaram o conjunto de
forças de centro-direita para organizar um sistema político que está funcionando muito bem.
A continuidade dessa política, mesmo que com diferenças de estilo de agir, é o que garante o sucesso
do país, e ele considera que o candidato tucano, José Serra, pode perfeitamente representar essa
continuidade mesmo sendo de oposição.
Ele acha que, já desde o governo de Fernando Henrique, o Brasil viu ampliarse sua ação no mundo,
colocando-se como um dos protagonistas da nova estrutura de poder internacional. Ele vê o Brasil
como uma exceção na América Latina, mas cita o Chile e a Colômbia como países da região que
estão bem colocados no novo mundo globalizado, embora não tenham a dimensão política nem
econômica do Brasil, que, por isso, surge como a grande potência regional. (Amanhã, o Brasil e o
mundo)
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