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AUTORES
DIONYSIO BORGES DE FREITAS JUNIOR
Universidade Federal de Lavras
dionysiofreitas@uol.com.br
Resumo
Este trabalho tem por objetivo identificar se a preferência dos alunos do curso de graduação
em administração de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES) encontra-se mais
inclinada para as técnicas administrativas, formação humanística ou pesquisa, buscando
investigar as possíveis causas de tal preferência. Buscou-se inicialmente apresentar uma
discussão acerca dos agentes que exercem influência um curso de graduação, considerando-se
a atuação de forças como o mercado, com sua racionalidade instrumental, e a sociedade, a
partir de uma racionalidade substantiva. Traçou-se um breve histórico do ensino de
administração no Brasil, bem como uma discussão sobre o ensino de técnicas administrativas,
formação humanística e pesquisa nesses cursos. Para a consecução do objetivo, foi aplicado
um questionário estruturado junto alunos do curso. As análises apresentam um breve perfil
sócio-econômico dos respondentes, os resultados referentes à preferência dos alunos em
relação ao curso e, por fim, uma análise de clusters. A principal conclusão que pode ser
auferida é que os alunos preferem um curso que integre técnicas administrativas, formação
humanística e pesquisa, e que esteja voltado para o atendimento das necessidades das
empresas.
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Abstract
The purpose of this paper is to identify if the preference of students from a Federal University
Management course is directed to the learning of administrative techniques, to a humanistic
formation or to research training, and finding possible explanations for such preference. First,
we present a discussion about the agents that make influence upon a Management course,
considering the action of agents like market and its instrumental rationality, and society and
its substantive rationality. Second, we made a brief of the Management education in Brazil,
and discussed the teaching of administrative techniques, humanistic formation and research
training in these courses. In order to accomplish the purpose of this paper, a survey was
applied to the students in the case. As the results, we present the economic and social profile
of the students, the results related to their preferences about the course, and a cluster analysis.
The main conclusion of this paper is that students prefer a Management course that integrate
both administrative tools, humanistic formation and research training, and that this course
should be directed do the attendance of business purposes.
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1. Introdução
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2. O ensino de administração no Brasil
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Logo após 1968, o governo militar passa a promover uma reforma educacional no
país, e um dos principais componentes dessa reforma é a promoção da expansão do ensino
superior (COVRE, 1982).
Um elemento a ser destacado nessa reforma consistiu em um plano de assistência
técnica financeira, em diversas áreas (FÁVERO, 2006), construído a partir de acordos
efetuados entre o Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency for International
Development (USAID). Na área educacional, particularmente no que se refere ao ensino
universitário, Covre (1982) destaca que tais acordos possuíam três elementos.
O primeiro elemento refere-se ao controle dos trabalhos das universidades, por meio
da burocratização de sua estrutura – reflexo de reformas que aconteciam à época, no sistema
educacional norte-americano. No que se refere ao segundo elemento, a autora destaca que a
idéia era que a comunidade fosse representada pela escola e que esta correspondesse à
satisfação de suas necessidades. No entanto, a representação da comunidade estaria a cargo de
setores do patronato brasileiro, tais como as federações das indústrias e do comércio. O
terceiro elemento refere-se à democratização do ensino, buscando conferir uma certa
“racionalidade instrumental em termos de eficiência tecnoprofissional, que tem por
conseqüência o aumento de produtividade dos sistemas econômicos” segundo aponta o
relatório do grupo de trabalho sobre a reforma universitária, em 1968, citado por Covre
(1982).
Dessa maneira, pode-se ver onde se encontram as raízes de nosso atual sistema
educacional, que obedece apenas a uma “lógica de reprodução” (AKTOUF, 2005) do
mainstream. Para essa corrente central, o que pode ser considerado válido é o pragmatismo
pedagógico, o treino técnico-científico, voltado exclusivamente para o fundamentalismo de
mercado (FREIRE, 1996).
O primeiro currículo mínimo do curso de administração foi estabelecido em 1966
(BRASIL, 1966), refletindo toda a diretriz política aqui referenciada. Tal currículo esteve em
vigor até 1993, quando um segundo currículo mínimo foi então estabelecido (BRASIL, 1993).
Este segundo currículo vigorou até 2005, quando foi substituído pelo atual (BRASIL, 2005).
Os currículos variaram durante o tempo em função da própria evolução da
administração e, ainda, em função da evolução tecnológica. Cabe destacar no currículo atual a
presença dos “Estudos Opcionais de Caráter Transversal e Interdisciplinar”, que legitimam a
questão da interdisciplinaridade e conferem certa liberdade às instituições de ensino quanto ao
desenho e oferta de novas disciplinas (BRASIL, 2005).
Chanlat (2000), em sua discussão sobre as ciências sociais e o management, aponta
certas transformações nas sociedades contemporâneas relacionadas justamente ao domínio do
econômico, à atribuição de um espaço central à empresa e à influência do pensamento
empresarial sobre as pessoas. Essas transformações remetem a Weber (1996), que já em sua
época apontava a invasão da racionalidade econômica para esferas além da vida empresarial.
Ainda, Alcadipani e Bresler (2000) consideram que:
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3. Direcionamentos de ensino: técnicas administrativas, formação humanística e
pesquisa
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a valores”, como uma crença consciente no valor absoluto, algo independente do resultado
(WEBER, 1996).
Serva (1997), baseando-se em Habermas e Ramos, cita alguns aspectos importantes da
racionalidade substantiva, como auto-realização, entendimento, julgamento ético,
autenticidade, valores emancipatórios e autonomia. Tais aspectos contrapõem-se a
características da racionalidade instrumental, sendo estes: cálculos, fins, maximização de
recursos, resultados, desempenho, utilidade, rentabilidade.
Ramos (1966), fundamentado em Weber, considera que, apesar dessas duas
racionalidades serem “irredutivelmente opostas”, elas possam coexistir.
Ramos, na mesma obra, ao discorrer sobre os problemas éticos de uma organização,
faz correspondência entre os conceitos weberianos de “ética da responsabilidade” e “ética do
valor”, com os conceitos de racionalidade instrumental e racionalidade substantiva. Para ele,
“as duas éticas não são necessariamente antagônicas”, podendo-se admitir congruência entre
elas.
Gondim et al (2006, p. 3), corroboram com esta visão ao afirmarem que:
“apesar de Weber tecer uma análise crítica das referidas racionalidades, reafirma
que todas se fazem presentes na ação social, e a racionalidade com relação a fins e a
racionalidade com relação a valores não seriam necessariamente excludentes,
embora alguns teóricos que lhe sucederam tenham interpretado desta maneira”
(GONDIM et al., 2006, p.3).
4. Metodologia de pesquisa
Neste trabalho, foi utilizada abordagem quantitativa, que pode ser classificada como
descritiva segundo a definição utilizada por Hair Jr. et al (2006). O procedimento de coleta de
dados adotado foi o questionário estruturado.
A pesquisa teve por inspiração o trabalho de Covre (1982). Esta autora, em trabalho de
campo junto a alunos e ex-alunos da EAESP/FGV, buscou identificar, entre outros aspectos
de sua pesquisa, a questão da formação em administração encontrar-se mais voltada para a
técnica ou para um lado mais humanístico, na preferência de seus respondentes, havendo,
portanto, objetivos em comum com este trabalho.
A população alvo foi o conjunto dos alunos de graduação em administração de uma
IFES localizada no Estado de Minas Gerais. A amostra foi obtida por conveniência,
representado cerca de 40% do universo dos alunos, e optou-se por excluir os alunos do
primeiro e do último período do curso. Deve-se observar que os resultados obtidos
restringem-se à amostra investigada. Devido ao fato dos questionários terem sido aplicados
em início de semestre, julgou-se que os alunos do primeiro período não estariam
suficientemente preparados para fornecer informações a respeito de algumas questões
relativas ao curso. Com relação aos alunos do último período, estes se encontram em estágio
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supervisionado em empresas da região, o que dificultou o acesso aos mesmos. A tabela 1
relaciona o número de alunos respondentes na pesquisa:
PERÍODO RESPONDENTES
2º 20
3º 11
4º 13
5º 18
6º 22
7º 10
Em Branco 1
TOTAL 95
Fonte: dados da pesquisa
8
TABELA 2: Número de respondentes por idade
IDADE RESPONDENTES
18 7
19 19
20 22
21 26
22 12
23 5
24 1
25 1
Em Branco 2
TOTAL 95
Fonte: dados da pesquisa
No que tange ao tipo de atividade remunerada pessoal dos respondentes, pode-se dizer
que nenhum deles possui emprego com carteira assinada. A maioria, 55 respondentes (57,89%
do total), não possui nenhuma atividade remunerada (TABELA 4):
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Quanto ao gênero, a amostra compõe-se de 43 homens (45,23% do total) e 51
mulheres (53,68%). Em relação ao tipo de instituição de ensino em que os alunos cursaram o
ensino médio, percebe-se, que 69 deles (72,63% do total) cursaram o ensino médio totalmente
em escolas particulares, enquanto apenas 11 respondentes (11,58% do total) fizeram o ensino
médio totalmente em escola pública, como pode ser visto na tabela 5:
A segunda parte desta análise, sobre a preferência dos alunos por um curso mais
voltado para as técnicas administrativas, formação humanística ou pesquisa, pode-se dizer
que, ao serem diretamente questionados sobre como deveria ser a formação de um
administrador, colocando quatro opções na ordem de sua preferência, os alunos responderam
como mais importante (TABELA 7):
10
E, como item menos importante para a formação do administrador, os alunos
responderam (TABELA 8):
E, por sua vez, as opções apontadas como menos importantes foram (TABELA 10):
TABELA 10: Tipo de profissionais que o curso deve formar – menos importante
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5.3. Análise de Clusters
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empresas e cuja principal pretensão profissional também se encontra dividida entre prestar
concurso público, trabalhar em empresa, abrir negócio próprio e fazer pós-graduação.
A partir de uma análise agregada dos dados, observa-se que os integrantes do Cluster
1 e do Cluster 2 possuem um posicionamento político mais tendente à direita em termos
percentuais, e encontram-se nos períodos finais do curso. Por outro lado, o Cluster 3
caracteriza-se por um posicionamento político em parte mais tendente à esquerda, e em parte
mais tendente a uma visão apolítica. Esse mesmo Cluster 3 é composto por estudantes que
encontram-se nos períodos iniciais do curso. Desse modo, seria possível supor que o período
de estadia na universidade pode alterar o posicionamento político dos estudantes?
O Cluster 2 apresenta uma preferência por um curso mais voltado para as técnicas
administrativas. Em concordância, considera mais importante que o profissional de
administração deva atender às necessidades das empresas. Levando-se em consideração que
este cluster é o que apresenta um maior índice de posicionamento político tendente à direita,
em comparação com os outros clusters, seria possível afirmar que a preferência por técnicas
administrativas no curso encontra-se associada a um posicionamento político mais à direita,
por parte dos estudantes?
Paralelamente, considerando-se esse posicionamento político do Cluster 2, o fato de
que esse cluster valoriza o atendimento às necessidades das empresas, e o fato de que existe
nele um maior percentual de estudantes que pretendem fazer pós-graduação, questiona-se:
seria possível supor que existem relações entre a valorização do atendimento às necessidades
das empresas e a intenção de cursar uma pós-graduação, dado que essa formação pode
fornecer um diferencial competitivo no mercado de trabalho?
O Cluster 3 apresenta uma menor concordância, em relação aos outros dois clusters,
quanto à afirmativa de que o profissional em administração deve atender às necessidades das
empresas. Tendo em vista que tal grupo assume um posicionamento político mais à esquerda
e apolítico do que os demais, seria possível inferir que este posicionamento político é
responsável por esta menor concordância?
Ao mesmo tempo, tendo em vista que o Cluster 3 se diferencia dos demais por atribuir
menor importância ao fato de se trabalhar em empresas, seria possível supor que o
posicionamento político desse grupo pode influenciar tal preferência?
Por fim, resgatando as análises acima efetuadas e retomando a discussão sobre
racionalidades, pode-se dizer que o Cluster 2 apresenta características de uma racionalidade
mais instrumental. O Cluster 1 também possui traços de instrumentalidade, apesar de serem
menos acentuadas do que o Cluster 2. Em contrapartida, o Cluster 3 possui características
relacionadas à presença de uma racionalidade mais substantiva. Dessa forma, pode-se dizer
que essas categorias permitiram verificar se esses clusters encontram-se dentro de uma lógica
mais voltada para a racionalidade instrumental ou mais voltada para a racionalidade
substantiva, ou seja, se os mesmos apresentam uma inclinação maior ou menor para o
atendimento das necessidades do mercado.
6. Considerações finais
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discussão acerca dos tipos de racionalidade. Posteriormente, foi apresentada a metodologia
adotada na construção dessa pesquisa e os principais resultados alcançados.
De maneira geral, partindo-se da questão apresentada: o que é mais desejável para
estudantes, um curso voltado para técnicas administrativas, formação humanística ou
pesquisa?
Verificou-se que os estudantes preferem um curso em que os elementos técnicas
administrativas, formação humanística e pesquisa encontrem-se integrados. Outro aspecto
relevante a ser considerado é que este curso deva atender às necessidades das empresas,
embora a formação de um administrador não deve se restringir ao aprendizado de técnicas
administrativas.
Adicionalmente, foram realizadas análises de cluster com o objetivo de verificar a
existência de grupos de alunos com perfis semelhantes. Considerando-se a existência de 3
clusters, verificou-se que o Cluster 2 apresenta características de uma racionalidade mais
instrumental, enquanto o Cluster 1 também possui traços de instrumentalidade, apesar de
serem menos acentuadas do que o Cluster 2. Não obstante, o Cluster 3 possui características
relacionadas à presença de uma racionalidade mais substantiva. Dessa forma, quando
consideradas as forças atuantes – mercado e sociedade – pode-se dizer que os grupos
apresentam uma inclinação maior ou menor em relação à lógica de reprodução, característica
do mainstream.
As questões levantadas a partir da análise dos resultados podem se constituir como
possibilidades para a realização de futuras pesquisas a respeito da problemática envolvida
nesse trabalho, na medida em que podem fornecer subsídios para uma melhor compreensão
desse “jogo de forças” que incide sobre o ensino em administração. Algumas pesquisas
suplementares poderão ser realizadas, buscando a ampliação da amostra, bem como a inclusão
de outras instituições de ensino, fornecendo um parâmetro maior de comparação e aplicação
dos resultados. A realização de pesquisas qualitativas e de estudos longitudinais com
elementos da amostra também poderá auxiliar no detalhamento das conclusões e fornecer
subsídios para novas pesquisas.
Uma agenda de pesquisas deverá considerar também a questão das forças atuantes no
desenho de um curso de administração, conforme visto na introdução deste artigo, buscando
investigar a questão da inclinação dos cursos a uma perspectiva mais mercadológica ou social,
estudando-se outros atores como professores, instituições e a regulamentação governamental.
Não obstante, os resultados da pesquisa podem fornecer importantes indicações em relação a
diretrizes para o ensino em administração.
Referências
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BRASIL. Conselho Federal de Educação. Parecer n. 307/66: Currículos mínimos de
administração: Parecer n. 307/66. Brasília, 1966. Disponível em:
<http://www.cfa.org.br/html/c_gestor/Par307_66.pdf>
RAMOS, A.G. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações.
Rio de Janeiro: FGV, 1989.
15
RUIZ, J. A. Metodologia científica : guia para eficiência dos estudos. São Paulo: Atlas,
1991.
WEBER, M. A ética Protestante e o espírito do capitalismo. 11ª ed. São Paulo: Pioneira,
1996.
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