Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
QUINTA-FEIRA
Mas nem todo o temor é bom. Existe em primeiro lugar o temor mundano2,
próprio dos que temem sobretudo o mal físico ou as desvantagens sociais
que possam afecta-los nesta vida. É o temor dos que fogem das
incomodidades, mostrando-se dispostos a abandonar Cristo e a sua Igreja
mal prevêem que a fidelidade à vida cristã lhes pode causar dissabores. É
desse temor que nascem os “respeitos humanos”, bem como inúmeras
capitulações e a própria infidelidade.
Este temor filial, próprio de filhos que se sentem amparados por seu Pai, a
quem não desejam ofender, tem dois efeitos principais. O mais importante –
pois é o único que se deu em Cristo e na Santíssima Virgem – é um profundo
sentido do sagrado, um imenso respeito pela majestade de Deus e uma
complacência sem limites na sua bondade de Pai. Em virtude deste dom, as
almas santas reconhecem o seu nada diante de Deus. Repetem com
frequência, confessando a sua nulidade, aquilo que tão amiúde repetia São
Josemaría Escrivá: “Não valho nada, não tenho nada, não posso nada, não
sei nada, não sou nada, nada!”5, ao mesmo tempo que reconhecia a grandeza
incomensurável de sentir-se e de ser filho de Deus.
Durante a vida terrena, este dom produz ainda outro efeito: um grande
horror ao pecado e, se se tem a desgraça de cometê-lo, uma vivíssima
contrição. À luz da fé, esclarecida pelos resplendores dos demais dons, a
alma compreende um pouco da transcendência de Deus, da distância infinita
e do abismo que o pecado cava entre ela e Deus.
Hoje em dia, muitas pessoas parecem ter perdido o santo temor de Deus.
Esquecem quem é Deus e quem somos nós, esquecem a Justiça divina e
desse modo se animam a continuar nos seus desvarios11. A meditação dos
fins últimos do homem, dos Novíssimos, dessa realidade que nos aguarda – o
encontro definitivo com Deus –, prepara-nos para que o Espírito Santo nos
conceda com maior amplidão esse dom que está tão próximo do amor.
(1) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 40, 1; (2) cfr. M. M. Philipon, Los dones del Espíritu
Santo, pág. 325; (3) Eclo 25, 16; (4) São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 45, a. 1, ad. 3; (5)
Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, pág. 449; (6) João Paulo II, Carta de
apresentação do “Instrumentum laboris” para o VI Sínodo de Bispos, 25-I-1983; (7) São
Josemaría Escrivá, Caminho, n. 326; (8) 1 Jo 4, 18; (9) São Gregório de Nissa, Homilia 15;
(10) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 243; (11) cfr. São Josemaría Escrivá,
Caminho, n. 747; (12) João Paulo II, Discurso aos novos cardeais, 30-VI-1979; (13) Ef 4, 10;
(14) cfr. M. M. Philipon, op. cit., pág. 332; (15) Santa Teresa, op. cit., 40, 2; (16) Sl 118, 136.