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%HermesFileInfo:H-1:20100523:
México
em guerra
* ESPECIAL
*
Ciudad Juárez.
Corpo de vítima fica
estendido na rua
Fausto Macedo (TEXTOS) nos a mando do narcotráfico, o tões chegarem, dali a uns minu- para-choque, de costas, braços purra a barreira, mas um escudo põe-se a correr, sem rumo.
Evelson de Freitas (FOTOS) inimigo número 1. Alguém dirá tos, quatro baleados já terão sido abertose esticados. A cabeça par- de coronhas a faz recuar.
ENVIADOS ESPECIAIS mais tarde que eram pelo menos removidospara morrer no hospi- tida ao meio. Um pouco mais Os peritos forenses estão vin- Mensagem. A noite cai em Ciu-
15ospistoleirosequeestavamar- tal Star Médica, nas imediações. atrás, ao lado do carro da polícia do pela Calle Durango. São 12h15. dad Juárez. No grande paredão
mados até os dentes e os peritos Restamquatrocorposnarua.To- municipal, três uniformizados, Abrem caminho com suas vali- branco da Calle Colômbia, rabis-
confirmarão que eles usaram fu- dospoliciais. Não há nada a fazer. quase amontoados. ses, que são quase um laborató- camumalongamensagem.Égen-
zisAK-47,riflesdeassalto AR-15e Daqui a pouco chegam os peri- rio, equipamentos de precisão e tedeLaLínea,queassumeaauto-
● O ESTADO NO MÉXICO automáticas para abater seus al- tos, para sua rotina miserável – a Vingança. Mais soldados e mais químicos para captar vestígios da ria da matança.
vos. eles cabe a missão de contar um a federais estão chegando. Capu- chuva de balas. La Línea tem sede de sangue, é
A emboscada aos federais é um os tiros que derrubaram seus zes negros escondem o rosto da Sãohorasdeumtrabalhometi- rival de “El Chapo”, comandante
maisumdurogolpedesferidope- colegas,definirânguloseidentifi- polícia.Haverávingança,ouve-se culoso em busca da pista promis- doCartel doGolfo.A pichaçãono
rezentostiros con- lo crime organizado contra o go- cardeondepartiramosprojéteis. entre eles. Estão agitados, des- sora.Doisespecialistasespalham muro acusa federais de dar apoio
T
tra a patrulha dos vernodopresidenteFelipeCalde- Corpos sangram entre a pa- controlados. O próximo ataque, peloasfaltopequenosconesama- ao oponente.
federais e o México rón,quemobilizouumaparatoes- trulha 10627, da PF, e a eles sabem, é só uma ques- relos – que servem para marcar A Secretaria de Segurança Pú-
vai abrir mais oito petacularepôsoMéxicoemguer- 367, da Polícia Munici- tão de tempo. os pontos de onde partiram as ra- blica e a Polícia Federal emitem
sepulturas. Num
entroncamento
ra contra os narcos – tanques, ba-
zucas,lança-granadase50milsol-
pal de Juárez. O san-
gue escorre pela rua
8 Lá em cima, o heli-
cóptero militar risca
jadas e estabelecer a posição dos
atiradores.
um comunicado conjunto. Atri-
buem a ofensiva dos bandidos às
CARTÉIS
tãomovimentado, o céu acinzen- dadosestão nas ruas. Oito cartéis em declive e acom- EXPLORAM, PELO o céu, faz manobras O perito mais encorpado, ócu- “contundentesdetençõesrealiza-
tado por testemunha, nessa ma- queexploram11Estados,pelome- panha o traçado da MENOS, 11 em círculo, desce los de grau, ajoelha-se a um mor- das nas últimas horas”.
nhã gelada, a morte chegou para nos, desafiam o poder legal. guia da calçada. O ESTADOS até muito perto da to. Mãos que calçam luvas reco- Os federais reafirmam seu
seis agentes federais, uma poli- O país, que mergulhou no ba- vento forte não dá MEXICANOS rua e depois sobe de lhem aqui e ali pedaços de chum- compromisso de proteger a co-
cial municipal e um civil. nho de sangue, habitua-se às exe- trégua. Castiga os novoatévirarumpon- bo calibres 3.08, 7.62, .39 e 9 mm. munidade. “Continuamos fir-
São 11h40, 23 de abril, a sexta- cuções e chacinas à luz do dia. Já mortos e levanta as to negro nas alturas. Faz cinco graus às 12h58 em mes no combate à delinquência
feira terrível em Ciudad Juárez, são 22,7 mil os mortos. Ciudad mantas brancas emborra- Uma policial estende o Juárez. para recuperar o México que nos
nafronteiracomElPaso,noEsta- Juárez é o foco mais cruel. chadas que os cobriam. Uiva e cordão que isola a cena do crime. Do lado de cá, contida pelos pertence.”
doamericanodoTexas.Cincoau- joga areia para o alto. Ela desenrola fitas amarelas e de- cordões, ela chora nos ombros
tomóveisdeslizampelaCalleDu- Comoção. Trezentos balaços. O Cinco metros separam os dois pois fitas vermelhas e fecha uma de um rapaz de boné e brincos
rango até a Avenida Santiago massacre paralisa e comove a ci- carros da polícia, o da PF à frente, área de 250m², mais ou menos, que lhe faz companhia. “Saiu ce- estadão.com.br
Troncoso. Aqui, montam guarda dadequeamorteespreita. Astro- vidros furados, três pneus no que vai do posto de gasolina até o do para trabalhar, não volta nun-
Olhar Sobre o Mundo. A violên-
os federais. Eles não pressentem pas sitiam o Bosque dos Salvár- chão porque teve bala para todos terrenodooutrolado,deterraba- camais para casa”, soluça.É uma
cia no México, em imagens
o perigo. cas,ondeosfederaisforamtocaia- os lados. tida. A multidão avança para ver menina, ainda. Ela aponta para
estadão.com.br/e/h1
Aqueles carros trazem assassi- dos. Quando os primeiros pelo- Um federal está caído junto ao bem de perto os dilacerados, em- um daqueles que está no chão. E
7 8 9 10 11 12
H2 Internacional/Especial
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O
seus mortos – eleições, o País vai eleger gover- te é que 15 milhões de armas
são 22.700 exe- nadores, deputados e prefeitos. PRINCIPAIS CARTÉIS clandestinas circulam no Méxi-
cutados à bala Opleitoestásobameaçaemalgu- co e o grosso do material vem
ou na lâmina do mas localidades. Alguns parti- l Organizações criminosas controlam 11 Estados mexicanos dos EUA, onde são vendidas li-
machado desde dos estão abrindo mão de candi- vremente.
que a guerra ao narcotráfico foi daturas. A oposição agita o Congres-
declarada, em 2007, e mergu- Calderón é um determinado, so, pede o retorno dos militares
Ciudad
C Juárez EUA
lhou o país em um banho de san- não admite capitular. Em Wa- aos quartéis, sustenta que Exér-
gue. Decidido a enfrentar o gran- shington, o subsecretário de Es- cito nas ruas é inconstitucional.
Juárez
de desafio dos cartéis da droga, tado dos EUA para o Narcotráfi- A imprensa paga um preço alto.
que plantaram raízes em 11 Esta- co Internacional, David John- Jornalistas agredidos, executa-
dos, e sob pressão dos EUA, que son, questionou o desempenho dos, por apontarem movimen-
exigem o bloqueio da entrada de do Exército do México. A Hu- GOLFO tos do tráfico ou identificarem
DO MÉXICO
cocaína, heroína e maconha em man Rights Watch, ONG mun- MÉXICO alto grau de corrupção em seto-
seu território, o presidente Feli- dialmente reconhecida, pediu Tijuana res importantes do poder públi-
pe Calderón, já no primeiro ano ao governo Barack Obama que Zetas e co – policiais graduados e admi-
Sinaloa Golfo
de mandato, partiu para o cobre do presidente mexi- nistradores desleais, a serviço
tudo ou nada. cano respeito aos direi- México dos cartéis, são desmascarados.
Convocou as for- tos humanos. O Comitê para Proteção de
ças de segurança, 5 MIL Ocentrodoconfli- BELIZE Jornalistas indica que, desde
mobilizou compul- MEXICANOS to é Ciudad Juárez, N 2006, foram 17 os profissionais
soriamente todo o MORRERAM EM ao norte. Aqui, em Pacífico GUATEMALA assassinados. Hostilizados, sob
OCEANO
contingentedaPolí- CIUDAD JUÁREZ dois anos e quatro PACÍFICO ameaça de bombas, a mídia de-
DESDE JANEIRO 0 km 340
cia Federal e das po- meses– dejaneiro de creta autocensura. “O México
lícias estaduais e mu- DE 2008 2008 até abril –, 5.002 INFOGRÁFICO/AE está perdendo a guerra”, afirma
nicipais e militarizou a mexicanos perderam a o professor Edgardo Buscaglia,
repressão. Mandou o Exér- vida. o dia a dia de um país doente. das de cocaína, 47 de metanfeta- estudioso da escalada dos narco-
cito para as ruas. Cinquenta mil O México jamais conheceu Civis indefesos golpeados, pre- minas,70milarmas,4.950grana- traficantes.
soldados vasculham o país con- tanta dor. Os barões do tráfico, sas fáceis dos cartéis que os es- das, 28 mil carros, 470 aviões. O secretário de governo Fer-
flagrado. Tanques, bazucas e que gira US$ 24 bilhões por ano, colhem como alvo para intimi- Trinta chefões apanhados. Mas nando Gómez Mont é contun-
morteiros para destruir o inimi- não se curvaram ao cerco e res- dar e jogar a população contra tudo isso não basta para abalar a dente. “A ofensiva é uma deci-
go. ponderam com uma brutal e au- o governo. O México caótico longa era de supremacia do cri- sãoirreversível.” Calderón avan-
Calderón está convencido de daciosa contraofensiva. De pos- atinge seu limite. me organizado. ça em sua marcha e manda um
que o caminho é esse, pela hon- se de arsenal bélico – metralha- Procuradores federais ma- A grande jornada, com desfe- aviso a quem dele espera um re-
ra e resgate da soberania de seu doras Uzi israelense, fuzis peiam rotas do tráfico. São dois cho imprevisível, custa segui- cuo. “Seguiremos atuando con-
país, à beira dos 200 anos de in- AK-47, da Rússia, fuzis deassalto objetivos: reunir provas cabais dos protestos que desconfor- tra o crime organizado em todo
dependência. Por isso, preten- AR-15, granadas e outros equipa- contra os líderes do narcotráfico tam o governo. Entidades civis, o país. Temos um compromisso
de cumprir à risca os termos da mentos de alto poder de fogo –, e confiscar bens e ativos. A Pro- políticos e juristas clamam por expresso, de palavra e de traba-
famosa Iniciativa Mérida – pro- as temíveis “pandillas”, quadri- curadoria-Geral da República mudanças urgentes na estraté- lho, precisamente contra quem
tocolo de cooperação pelo qual lhas a serviço dos cartéis, asso- mostra que, de dezembro de gia. Denunciam abusos e viola- ameaça a segurança e a paz.”
o México se compromete a ani- lam o México com ações diabóli- 2006a20demarço, foram toma- ções. Do lado de lá, Obama quer
quilar os narcotraficantes, en- cas e métodos cruéis. dos dos cartéis US$ 390 milhões mais rigor contra o inimigo co-
quanto os americanos injetam e 300 milhões de pesos mexica-
US$ 1,4 bilhão para capacitação Violência. É uma época infeliz nos. Foram recolhidas 91 tonela-
e treinamento das forças de Cal- para o povo de Calderón. Cabe-
derón. ças decapitadas a golpes de ma-
A meta da qual o presidente chado, mulhe-
nãoabremãoérecuperarterritó- res e crian-
rios dos quais o crime organiza- ças calcina-
do se apossou. Cidades inteiras das, homens
caíram nas mãos do tráfico e o enforcados e
governo admite que o México, pendurados nos
em alguns episódios, guarda se- becos formam o
melhança com a Colômbia. Nas cenário macabro ao
últimas semanas, dois políticos qual o México se habi-
mexicanos foram assassinados e tua. Confrontos marcam
A cidade
enlouquecida
não descansa
Eles jogam granadas e despejam
As patrulhas, de soldados rajadas de metralhadoras.
e policiais federais, Ciudad Juárez é um território
de grande extensão que segue a
circulam noite e dia e linha da divisa com os EUA, país
montam barricadas nas do qual é separada por um rio e
vias de acesso aos EUA uma cerca sem fim, dizem de 350
quilômetros, que nasce em al-
gum ponto da periferia e avança
P
or todo o dia e por toda a por todo Michoacán, em
noite é correria de polí- Chihuaha.
cia, patrulhas circulam A cidade já conheceu dias me-
comasireneligadalevan- lhores e também as noites auspi-
do para lá e para cá homens com ciosas com suas casas e bares em
seusfuzis.Acidadeenlouquecida grande fase e faturamento certo Controle. Soldados do Exército patrulham saída de Ciudad Juárez, perto da fronteira com os EUA: abordagens peremptórias
não descansa. até que as gangues puseram de
Tanques militares varrem as joelhos os negócios e levaram à tadodoconfronto diretoentreos to, metralhadoras e lança-grana- umtanquecomdoismilita-
ruas e colônias, os bairros mais falênciacomercianteseempresá- cartéisdeJuárezedeSinaloa,que das. Homens treinados por espe- res.Veículossãointercep-
remotos e a zona urbana. Cinco rios da região. disputam palmo a palmo as rotas
VÍTIMAS DO TRÁFICO cialistasamericanos,comorezao tados.Ospatrulheirosfa-
mil federais e soldados em trajes Sob a Ponte Santa Fé, que liga do tráfico. O efetivo de soldados pacto com o vizinho – em troca zem a revista.
para a guerra ocupam Juárez, que CiudadJuárez aElPaso, primeira aumentou depois do fuzilamen- EM NÚMERO DE MORTOS da ofensiva aos narcos, o México Primeiro, exigem a do-
tem 1,3 milhão de habitantes e se cidade do lado americano, um todeumafuncionáriadoconsula- 2008 2009 recebe equipamentos e capacita- cumentação, do carro e de
situa na divisa com os Estados alerta a quem planeja driblar as do americano em Juárez, Lesley ção. Eles esperam o inimigo para seusocupantes.Ànoiteelesjo-
Unidos, ao norte do México. forças da fronteira. Na placa está Enríquez, que trabalhava na pre- oconfrontoquepareceiminente, gam o facho de uma lanterna nos
Unidades terrestres, canhões e escrito:“Perigo.Rioecanaladian- paraçãodedocumentosparacida- México
5.630 7.724 que pode ocorrer a qualquer hora olhos de motoristas e passagei-
bazucas tomam posições cru- te. Não tente cruzá-los. É muito dãos de seu país. No ataque, em porque tem sido assim desde que ros, a quem interrogam. Pergun-
ciais nos entroncamentos e nas perigoso.Cuidedesuavidaepen- janeiro, também foi atingido e a guerra foi declarada. tam de onde vêm e para onde vão
viasdegrandemovimentoquele- se em sua família, ela te espera.” mortoo marido deLesley. O con- No entroncamento do Cami- e por quanto tempo pretendem
vam às rodovias e a outros Esta- sulado fechou as portas por al- Ciudad 1.587 2.643 nho Real com Casas Grandes, ficar em seu destino. As aborda-
dos. Suas bases são endereços Obstáculo. A grande cerca, que guns dias. “Estamos fartos, se- Juárez que conduz ao Novo México, as gens são peremptórias. Civis re-
não convencionais, construções é de aço e tela, vai a 5 metros de nhorpresidente”,advertiuaman- três faixas da pista se encolhem e clamam de atos desrespeitosos.
antigaseaparentementeabando- altura. Os americanos ergueram- chete do El Diário, principal jor- viram uma só porque as outras Outros elogiam a ação, dizem
INFOGRÁFICO/AE
nadas e galpões imensos por trás na para conter imigrantes clan- nal da cidade, no dia em que Feli- duas dão lugar a um pelotão en- que se sentem seguros.
de muros altos sem nenhuma destinoseotráfico.Equemsupe- peCalderón,presidentedoMéxi- Comboios de quatro ou cinco trincheirado. Uma barricada é a No Caminho Real postes orna-
identificação – é assim para des- raresseobstáculo podedardeca- co, a visitou. O governo veio com camburões circulam num vai e pilha de sacos de areia que prote- dos com cruzes cor de rosa, que
pistar as “pandillas” (gangues), ra com outro desafio, uma polícia mais blindados que armam bar- vem incessante do cenário de ge soldados com capacete e ca- sãoparalembrarmulheresdeJuá-
franco-atiradores que passam a implacável do lado de lá. reirasnasprincipaisviasatéadivi- guerra. Soldados camuflados, puz preto. A outra é uma monta- rez assassinadas sem clemência.
bordo de carros em velocidade. A violência sem limites é resul- sa com os EUA. sobsolechuva,comfuzisdeassal- nhade pneus.No sentidooposto, Crimes sem punição.
Especial/Internacional H3
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NÚMEROS DA GUERRA
Gangues
22.700
pessoas foram executadas desde
dezembro de 2006,
tomam as ruas
vítimas do narcotráfico
das forças americanas, o que de-
Quadrilhas como Los flagrou uma batalha interna pelo
Zetas são formadas por comando do Golfo. A disputa en-
50 mil
soldados combatem as
gangues dos cartéis
policiais de elite que
se associaram ao
tráfico de drogas
volve pelo menos seis persona-
gens: Heriberto “Lazca” Lazca-
no; Jorge “El Coss” Costilla; Juan
José Esparagoza, “El Azul”; Joa-
quin “El Chapo” Guzmán; Salva-
S
em todo o país ão oito os mais podero- dor “Chava” Moralles; “El 88”; e
sos cartéis do narcotráfi- Ismael Zambada, “El Maio”.
co,quelevamdoremedo Los Zetas, de 1994, têm origem
ao México. Um relatório no recrutamento de algumas de-
Entrada de divisas por ano da Interpol dá os nomes do gran- zenas de oficiais de elite do Exér-
(Em 2009) de inimigo: Pacífico, Sinaloa, Ti- citomexicano,treinadospormili-
juana,Milênio,FamíliaMichoaca- tares israelenses e americanos.
1º. US$ 40 bi narcotráfico na,Golfo/LosZetas,ColimaeJuá- Eles desertaram e se associaram
2º. US$ 30 bi petróleo rez.Eles disputamaferro e fogoo ao tráfico. Parte desse efetivo es-
domínio de extensos territórios tá no comando do cartel do Gol-
3º. US$ 21 bi turismo dessepaísde110milhõesdehabi- fo. “Seus treinamentos são equi-
tantes. valentes aos dos boinas verdes”,
Trinta e dois barões do narco- assinala relatório da Interpol.
tráfico estão na lista dos homens Los Zetas usam roupas negras
214
grupos criminosos ligados
aos oito cartéis do
maisprocuradosdomundo.AIn- e atiram com fuzis AK-47. Seus
terpol, que mantém conexão em líderesintegraramoGrupoAero-
quase 190 países, os incluiu na di- móvel de Forças Especiais, Gru-
fusão vermelha, índex dos maio- po Anfíbio de Forças Especiais e
res alvos da Justiça. O México en- BrigadadeFuzileirosParaquedis-
tráfico atuam no México contra severas dificuldades para tas do Exército mexicano.
reunirprovascontraocrimeorga- Segundo a Procuradoria-Geral
nizado que se oculta à sombra de ao menos 40 ex-militares for-
negócios aparentemente lícitos. mam as fileiras de Los Zetas,
15 milhões
de armas clandestinas circulam
no México, a maioria vinda dos EUA,
O cartel do Pacífico é controla- além de soldados da Guatemala.
dopelosBeltránLeyva.OdeSina- Sua área de influência original-
loa atua sob a direção de Joaquín mente era Tamaulipas, mas ex-
Guzmán, “El Chapo”, lendário pandiu as atividades a Nuevo
traficante que teria obtido uma León e Coahuila e, mais tarde, a
onde são vendidas livremente fortuna com o negócio das dro- Nayarit, Sonora e Sinaloa.
gas. Ele é apontado como um dos Relatório da procuradoria di-
homens mais ricos do mundo. vulgado por El Universal, um
AProcuradoria-GeraldaRepú- dos mais importantes jornais
blica obteve o confisco de pro- do país, mostra 214 gangues em
priedades em nome de Griselda ação. São quadrilhas sanguiná-
López Pérez, ou Karla Pérez Ro- rias. Atacam a mando dos car-
jo, mulher de “El Chapo”. téis. Assaltam, sequestram, ex-
Sete imóveis supostamente torquem empresários, matam.
vinculados ao capo de Sinaloa fo- “Pandillas Delitivas”, docu-
ram embargados, além de cinco mento oficial, revela a ação de
cofrescomjoias,computadorese pistoleiros em 11 Estados mexi-
sete veículos de luxo – um Audi canos – Sonora, Chihuahua,
conversível, duas caminhonetes Coahuila, Nuevo León, Tamau-
Land Rover, um Cadillac, uma lipas, Baja Califórnia, Guanajua-
Toyota,umaCheyenneeumMer- to, Querétaro, Michoacán,
cedes-Benz. Guerrero e Chiapas. Na região
Nas mãos dos Arellano Félix o norte do país fica a maior con-
cartel de Tijuana. Os Valência to- centração dessas gangues. São
cam o cartel do Milênio. A família 165 ao todo – 8 delas classifica-
Amezcua dá as cartas no cartel de das de “altíssima periculosida-
Colima. O cartel de Juárez é feu- de”. O FBI, polícia federal ame-
dodossucessoresdeAmadoCar- ricana, aponta MS-3 e Barrio 18
rillo Fuentes, que morreu em como grupos “extremamente
1997depoisquetentouocultar- violentos”. São citados Los
se no Brasil e se submeteu Aztecas, do cartel de Juá-
aumamalsucedidacirur-
gia plástica. 32
CHEFES ESTÃO
rez, Máfia Mexicana,
que recruta menores
O cadastro da Inter- ENTRE OS MAIS de 12 anos a 17 anos,
pol informa que no car- PROCURADOS
Mexicles, do cartel de
tel do Golfo, de Osiel Sinaloa, e Artistas As-
Cárdenas Guillén, traba- sassinos, do cartel de
lham facções de Los Zetas, a Chihuahua.
quem o México atribui as ações A quadrilha Mara Salvatru-
maisferozes.Segundo aInterpol, cha, que atua para Los Zetas e
em julho de 1996, Cárdenas assu- para o Sinaloa, adota táticas si-
miu o poder do cartel do Golfo, milares às do Exército. Usa fu-
depois que o principal líder, Juan zis Barret, lança-granadas, ar-
García Abrego, foi capturado. mas antitanque. Procuradores
GolfofoicriadoporJuanNepo- empenhados no cerco ao crime
mucenoGuerra,ouJuan‘N’Guer- organizado destacam que os nar-
ra em Matamoros, Tamaulipas, cotraficantes criaram células “al-
que depois transferiu o comando tamente especializadas em inte-
aum sobrinho, Juan García Abre- ligência” e deixaram a cargo das
go, nos anos 70. gangues as ações de rua.
O novo dirigente passou a José Reyes Ferríz, prefeito de
transportar grandes quantidades Juárez, onde digladiam dois car-
de maconha para os EUA. Osiel téis, disse que “a luta (contra os
Violência. Corpo Cárdenas era lugar-tenente das narcos) tem tido êxito, ainda
de vítima da luta operaçõesetomouocontroleab- que obviamente este objetivo
entre cartéis no soluto do cartel. Ele recrutou Los tem sido custoso para a socieda-
centro de Ciudad Zetas. Contudo, em março de de mexicana pela perda de vi-
Juárez: tiroteio 2003, Cárdenas caiu nas mãos das de policiais e de inocentes”.
T
roncos humanos espa- soscomoosdeumcirurgião.Cor- mo a homens que amanheceram Att: La Família”, diz o cartaz em México,quantidadeagorareduzi- ções. Em 2009, mais 2.643. Juá-
lhados pelas ruas em- pos sem cabeça apavoram Juá- comasmãosamarradasparatrás, um cordão estendido sobre três da em 60%. “Juárez tem proble- rez é a cidade mais violenta do
poeiradas. Braços e per- rez. a cabeça enfiada em saco plástico homens mutilados. La Família é ma de confronto particular entre mundo, segundo a ONU. Em
nas decepados na lâmi- Nafronteiraaonorteéassim.À e o pescoço envolto em uma cor- um bando de malucos, o cartel dois grupos que estão brigando 2009, foram 191 homicídios por
naafiada do facãoou no golpepe- luz do dia, cadáveres. No breu da dapresanoaltodavigadeconcre- sanguinário.Homensquenãoco- pela praça deixando uma grande 100 mil habitantes.
sado do machado. Cortes preci- noite, cadáveres. Os esquarteja- to. A morte pode chegar nas raja- nhecem limites. Atacam por ata- quantidade de mortes.”
H4 Internacional/Especial
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Comércio
sitiado
e falido
Ação dos cartéis fecha negócios em
Ciudad Juárez, asfixiando a economia
local e acabando com a vida social
homem desolado anos estabelecimento de prestí- tudo. Tantos foram os ataques desfilampor láosCadillacseMer- tos suas em jornal, é um homem ções dos dois edifícios.
O
contempla o fim gio e fama ao norte do México, das “pandillas” (gangues), tantas cedes-Benz, as moças levaram arrasado. “Perdi tudo, não há co- Estima que suas casas de diver-
de um ciclo vito- atração certa em Ciudad Juá- foram as hostilidades à sua suas virtudes e o seu calor para mo me sustentar”, desabafa o ho- são acolhiam 25 mil pessoas em
rioso. É um em- rez. Tempos em que a casa clientela que o empresário outra freguesia e os donos da noi- me de 39 anos e cinco filhos. uma única noite. “Era incrível, in-
presário, mais
um que a violên-
faturava até US$ 22 mil 85% deu fim a La Mulata e logo
numa única noitada com DAS BOATES fechou também as portas
te renderam-se – 85% deles de-
ram adeus a Juárez.
Ele conta que veio de Monter-
rey em 2002, apostou tudo em
crível mesmo, os negócios evo-
luindo bem”, fala sobre os tem-
cia dos narcotraficantes desman- os texanos alegres de El FECHARAM de Don Quintin. Alguns puseram à venda pré- Juárez e montou com gosto e ca- pos mais gratos de sua vida. Em-
telou e levou à falência. Paso que atravessavam a Abraham Lincoln, que dios inteiros, outros querem alu- pricho as duas casas, primeiro La pregava cem pessoas, “entre pos-
Ele olha o entulho no amplo sa- fronteiraem buscade diver- um dia foi pujante e alegre, é gar. Está difícil aparecer interes- Mulata e depois o Don Quintin. tos diretos e indiretos”.
lão do bar que um dia abrigou bel- timentos e prazeres. agoraumaavenidamalassombra- sado. O criador de La Mulata, e “Não há mais nada”, protesta, en- Os problemas bateram à porta
dades faceiras que davam vida e Mas as boas temporadas fica- da. A luzde neon não pulsa láfora, não adianta insistir que ele não quantoorienta três operários que em 2008 e, em menos de dois
graça à La Mulata, por muitos ram para trás. A violência levou a música ao vivo calou-se, já não quer dizer o nome e nem quer fo- contratouparademoliras instala- anos, veio a ruína. Os negócios
A U
cuado, ele diz: “Medo, eu ço, apesar do medo que o perse- dos à bala por agentes do narco- aos narcotraficantes. “São pes- m homem crivado de
tenho muito medo.” Ele gue. tráfico. soas protegidas que estavam a balas dentro do carro
foi alvo de uma “pan- Em um sábado desses, às mando de algum cartel”, sussur- fúnebre – a carroça dos
dilla”, quadrilha de se- 14h30, em seu escritório que é Traficantes. O terror passou ra. mortos, como chamam
questradoresepistoleirosqueagea uma sala acanhada e sem janelas poraqui, emagosto de2009 edei- Os seis filhos, que ele quer ver por aqui. José Ramón Acosta Ro- Cortejo. ‘Carroça’ leva corpo
mando dos cartéis do narcotráfico. nos fundos da drogaria de esqui- xou sua marca. “Tenho medo. doutores de direito e de fato, são cha, de 32 anos, era filho do dono de José Ramón Acosta Rocha
Farmacêutico, profissão que lhe na, o homem assustado conta sua Desconfiode tudo ede todos”, re- o motivo de sua resistência em da Funerária Latina. Na noite de
confere prerrogativas de doutor história. Mas avisa que não dirá peteo homem, com os olhosarre- permanecer na região de Ciudad 22 de abril, às 23h30, ele estava de para um lado. A polícia chega, iso-
por estas bandas de Ciudad Juá- seu nome e não adianta insistir, galados atrás dos óculos. Juárez. Não guarda esperanças saída da loja de caixões mortuá- la um quarteirão inteiro da Rua
rez, por três dias e três noites fi- senão não fala com ninguém so- Dois sujeitos chegaram à loja. nas autoridades nem nas institui- rios quando os pistoleiros o pega- Pedro de Alba, Colônia Emiliano
cou amarrado e amordaçado em bre a vida de angústias que leva. “Logo vi que era a minha vez.” O ções mexicanas, mas ainda assim ram. Zapata. Toma os procedimentos
algum lugar que jamais descobriu Colada à parede, a TV exibe um primeiro estranho apontou uma considera que não deve fechar a Dois estranhos, talvez três, em de praxe. Não há pistas.
onde fica e nem quer saber – ape- clássico do futebol mexicano. O arma. O outro deu a volta e cobriu drogaria. um carro que ninguém viu as pla- UmchorocortaanoitefriadeCiu-
nas “agradece muito ao Senhor” Vera Cruz vai batendo o Chivas seus olhos com uma tira de pano “Todas as noites, peço muito a cas nem anotou a marca. Um de- dad Juárez. É uma mulher. Ela
por estar vivo agora. por1a0, são23 minutosdosegun- preto, da qual só se livrou depois Deus que mantenha longe de lessaltou,apontouaarmaedispa- veio há pouco. É a mãe do morto.
Em Ciudad Juárez, são muitos dotempo.Norádio,sobreumapa- que sua família pagou um resgate mim esses bandidos”, é sua pre- rou. Seis tiros certeiros, calibre TantosforamosmortosqueRa-
os empresários que fecharam rador atrás do balcão, Roberto de US$ 50 mil e os bandidos o ce, enquanto receita “unguento 45, de pistola automática. món levou. Agora, é ele quem jaz
suas portas e deixaram a cidade Carlos declama, em espanhol, abandonaram em um matagal. vitacilina” para a freguesia. A cabeça de José Ramón pende em sua carroça.
● ● ● ●
1980 1985 1988 1993
O México
México, fornecedor de Enrique Camarena, Presidente Carlos Joaquín “El Chapo” Guzmán,
contra o
maconha e heroína, agente secreto da polícia Salinas de Gortari líder do cartel de Sinaloa, é
narcotráfico
transforma-se em ponto dos EUA antidrogas, assume, prometendo preso na Guatemala e
de distribuição da é sequestrado, acabar com os enviado para o México;
cocaína colombiana torturado e morto traficantes de drogas foge da prisão em 2001
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 23 DE MAIO DE 2010 Especial/Internacional H5
O
grande troféu que o Seu nome é associado à produção tel dos Beltrán Leyva separou-se
México mostra para o de metanfetaminas ice, ou cris- do cartel de Sinaloa e “El Indio”
mundo chama-se José tal, em laboratórios clandesti- assumiu “a responsabilidade pela
Gerardo Álvarez Váz- nos, para posterior remessa aos aquisição de armas e munições
quez. “El Indio” ou “Chayanne”, Estados Unidos, atividade que desdeos EstadosUnidosparaam-
como é conhecido o famoso capo exercia para diversas organiza- pliarsua empresacriminosa etrá-
dos narcotraficantes, foi preso ções, como a dos Beltrán Leyva e fico de drogas – cocaína, maco-
por um comando militar na últi- o cartel do Pacífico. nha, heroína e metanfetaminas”.
ma semana de abril. Era um dos É citado também em averigua- O bando de “El Indio” também
homens mais procurados em to- ções prévias sobre crimes contra é suspeito por sequestros, tortu-
do o país. Por ele, os Estados Uni- a saúde, operações com recursos ras, assassinatos e outros atos de
dos ofereciam recompensa de de procedência ilegal e falsifica- violência “contra numerosos ho-
US$ 2 milhões. ção de documentos. É acusado mens,mulheresecrianças noMé-
Os americanos querem sua ex- por uma série de violências nos xico”, assinala relatório da polí-
tradição. “El Indio” está na lista Estados de Guerrero e Morelos. cia.
negra do Tesouro americano. O O México atribui a ele o papel de Aprisãodocapofoicomemora-
supertraficante será enviado pa- contato com cartéis da América da pelos Estados Unidos, que
ra a Califórnia, mas antes investi- Central e da América do Sul. cumprimentaram o governo de
gadores da Subprocuradoria de Contra ele pesa uma ordem de FelipeCalderóne“osvalentessol-
Investigação Especializada em prisão com fins de extradição para dados do Exército mexicano”, se-
Delinquência Organizada que- os Estados Unidos, emitida pela gundo anunciou El Universal, im-
rem interrogá-lo. CortedoDistritoSuldaCalifórnia. portante jornal da capital. Emno-
Acaptura de“El Indio”ocorreu O Departamento de Estado dos me do governo americano, o em-
emmeio aum confronto com efe- EUA informa que “El Indio” en- baixador no México, Carlos Pas-
tivos da Secretaria da Defesa Na- frenta processos desde 1997 por cual, transmitiu mensagem em
cional em Huixquilucan, Estado narcotráfico, primeiro ligado ao que felicitou Calderón, as Forças
do México. Ele é suspeito de con- cartelde Sinaloae, depois,aservi- Armadas e unidades federais me-
trolar atividades de narcotráfico ço dos Beltrán Leyva. xicanas “pela prisão do capo que
en Naucalpan e Huixquilucan e O capo, de 45 anos, é qualifica- éconsideradoumdoslíderes ope-
também nas regiões da Costa do como “um membro-chave do racionais do cartel”.
‘Para a Igreja,
todos são
inocentes’
rinta e oito cruzes espe-
afundaram. Quadrilhas promo- varam sua caminhonete de 290 restrições aos Estados Unidos.
viam invasões e tumultos. Houve mil pesos (cerca de US$ 27 mil) “Na Califórnia compra-se drogas Vinteeumdeabril,22h15.Anoi- tam-se. Eles são discretos. Que-
ocasiões em que cadáveres de de- quenemtinhabatidoos100quilô- como aqui se compra los burritos Duas irmãs te de Ciudad Juárez é muito escu- rem alguma testemunha do fato,
safetos dos narcotraficantes metros de rodagem. A segurado- (tortilhas de farinha com carne), ra,asruasdacidadesãomalilumi- alguém que lhes dê uma indica-
eramdepositadosaolongodaave- ra vê alguma trama por trás da lá oferecem maconha a cada es- assassinadas na nadas. Os técnicos usam lanter- ção.
nida. Emissários dos cartéis vi- ocorrênciaenãoquercobriropre- quina, a cada 100 metros.” nasna CalleManuelAcosta,Colô- Perguntam a uma mulher o que
nhamcobrarimposto,umaparce- juízo. “Eles tomaram o carro de Voltar a Monterrey nem pen- praça da cidade nia Insurgentes, na periferia, de- ela sabe, se viu alguma coisa, se
la do faturamento, para fazer ces- mim, eram uns meninos arma- sar. Disseram a ele que lá, onde pois da linha do trem. anotou características do carro
sar a pressão. “Não há mais saí- dos”, conta o empresário. nasceu e foi criado, gangues estão Ninguém chega perto. Ordens dos atiradores. Depois, abordam
H
da”, ele não se conforma. A corrupção o deixa indignado. usandogranadasearmasparader- á um corpo estendido da polícia e da Procuradoria de umrapaz, que afirma nada ter vis-
Nãoconfiaemninguémeoceti- Acha que o México “é muito mais rubar até helicópteros. “Vale no chão. É Sandra Yor- Justiça. Um perito bate fotos do to, que apenas ouviu “estampi-
cismo é ainda maior agora que le- corrupto que a Colômbia”. Faz mais a vida.” me Rosales Benítez, corpo, das casas ao redor e até do dos”. A polícia descobre que San-
de 20 anos. Os peritos asfalto onde encontrou algum si- dra e uma irmã, Wendy Arely Ro-
da polícia, que são três, vascu- nal, alguma evidência. Fitas ama- sales, de 18 anos, saíram de casa
lham tudo. Um rabisca o caderno relas e vermelhas isolam a cena paraumpasseio até apraça.Estão
Rosélio Salvador Cioñeros, o lhos que se desviaram do bem” e que segura com a mão esquerda, do crime. dizendo que elas queriam “tomar
Fervor religioso pastor, empunha o microfone e atende às “almas desgraçadas” anota os tiros que a moça levou. Fotógrafos dos jornais buscam um ar fresco”.
dá início a seu ofício. Gesticula que recorreram às drogas. Foram oito. Do lado de lá da rua, bons ângulos. Amanhã, as pági- Um carro aproximou-se vaga-
substitui vício com veemência, grita, saltita e Muitos desses que agora ba- outro perito mira a calçada, na nas policiais publicarão mais um rosamente. Tiros. As duas atingi-
diz a todos que o caminho é um tem à porta do El Pescador fo- busca paciente por fragmentos crime em Ciudad Juárez. Mas das. Sandra morre ali, Wendy
em cocaína só: “El corazón de Dios”. ram rechaçados pelo vizinho, a de balas e vestígios de pneus do nem eles têm permissão para se morre no hospital. Ciudad Juárez
Homens enfraquecidos pela potência que ergueu uma mura- carro que os atiradores usavam. aproximar.Ospoliciaismovimen- conta mais dois óbitos.
miséria, mal ajambrados em ban- lha de cinco metros de altura por-
À
s margens do Rio Bra- cos de plástico ou em pé, ouvem que não quer em seus domínios
vo, os dez metros de a mensagem. “O Senhor mostra os clandestinos do México.
água que dividem as raízes da compaixão a to- Expulsos pelos americanos,
o México dos dos os irmãos.” de volta a seu país, os mexicanos
EUA, drogados de Na cozinha, fer- enjeitados encontram algum am-
Ciudad Juárez bus-
cam a paz divina.
150 vem os panelões
com comida para
paro e conforto aqui.
PESSOAS
Eles se acomo- 150 famintos, Pregação. Antes da refeição,
PARTICIPAM DE
dam em uma cons- mais água que co- uma hora de meditação.
CULTO EM
trução tosca, de al- mida, mas não im- O pastor vai em frente com to-
CENTRO DE
venaria esfarelada, porta, pois bendi- da a sua vibração. Ele ensina o
REABILITAÇÃO
onde fica o Centro to é o prato que à caminho da fé. “Quando a men- Morte.
Comunitário El Pes- mesa será servido. te é perversa, a balança dos céus Sandra
cador. É meio-dia. César Quiñonez Lo- inclina para o mal.” Homens can- Rosales,
Dependentes de maconha e pez, coordenador há nove tam e batem palmas, no ritmo do assassinada
cocaína, e também reféns do ál- anos do centro de reabilitação, pregador. É assim, em Ciudad na rua com 8
cool, vêm para o sermão e tam- diz que a casa oferece “serviço Juárez, todo o santo dia, de do- tiros
bém para o almoço. bíblico e apoio completo aos fi- mingo a domingo.
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1996 1997 2004 2006 2007 2008 2009
Juan García Amado Carrillo Fuentes Presidente Vicente Fox Presidente 2.600 pessoas Congresso Arturo Beltrán Leyva e três
Abrego, líder do morre na Cidade do lança o plano “México Felipe Calderón morrem por americano aprova membros de seu cartel
cartel do Golfo, México durante uma Seguro” para combater declara guerra causa do a Iniciativa Mérida são mortos; ele é o mais
é preso e enviado cirurgia plástica para o tráfico e o crime contra o tráfico de para combater o importante capo morto no
para os EUA mudar sua aparência organizado narcotráfico drogas tráfico no México governo Calderón
H6 Internacional/Especial
%HermesFileInfo:H-6:20100523:
● O que fazer?
O México tem de adotar medidas
que estão bem explicadas na Con-
venção das Nações Unidas. Entrar
em Durango, por exemplo, é como
entrar no Afeganistão. Tem autori-
dade formal que não é respeitada e
narcotraficante que tem autorida-
de. Há um Estado falido nesses pe-
quenos pedaços. Ingovernabilidade,
empresários que colaboram para
Sem saída. Buscaglia faz projeção pessimista para o futuro da segurança pública no México e diz que saída não depende do envio de reforços militares não ser sequestrados e assassinados
e pagam impostos a grupos crimino-
sos. O México não é um Estado fali-
cartéis que já controlam governos municipais e ameaçam o poder central no México ● Os cartéis financiam políticos?
Há financiamento ilegais de campa-
nhas eleitorais, mas essa violência
só vai preocupar as elites quando
seus filhos forem sequestrados e
massacrados, como ocorreu na Co-
México está uma disputa desordenada, principal- ● A participação dos Estados Unidos no lômbia. Quando a elite começar a
“O
perdendo a mente entre correntes partidárias que combate aos cartéis acirrou ainda mais sentir a mesma dor que as mães e os
guerra”, de- formam parte de grupo político que os confrontos nas ruas do México? ‘Aliança com os EUA e pais de Juárez sentem, aí vão aplicar
creta o pro- não tem uma visão comum de Estado. A participação dos EUA era basicamen- medidas. Não é um problema de ig-
fessor Edgar- Municípios mexicanos estão à deriva, te por meio da DEA (agência de comba- Exército na rua são norância do México. As elites estão
do Buscaglia, sem controles políticos, patrimoniais te às drogas). A partir da intervenção dois tiros no pé’ comprometidas. O México foi trans-
respeitado estudioso das questões e administrativos. Partidos políticos do presidente (Barack) Obama é que formado num foco mundial de paraí-
que atormentam seu país, notada- não submetem suas finanças a audito- há uma ideia mais clara para poder pre- so patrimonial para muitos grupos
mente aquelas relacionadas à ofensi- rias, os sindicatos tampouco. Há um venir e combater grupos criminosos. ● Sob ameaças, o homem que defende criminosos de outros países. E isso
va dos narcotraficantes. vazio de pacto de governabilidade polí- Mas há necessidade de uma política o que restou de direitos humanos em dá muito dinheiro a políticos e a em-
Presidente do Instituto de Ação tica no México. muito ativa de desmantelamento patri- Juárez não se cala. “A pior estratégia presários que nunca estarão dispos-
Cidadã para Justiça e Democracia, monial e econômico de empresas me- que o México poderia ter adotado é a par- tos a combater o problema.
assessor da ONU, professor de Di- ● Quais os motivos dessa violência? xicanas nas mãos de grupos crimino- ceria com os EUA porque repete erro
reito e Economia do Instituto Tec- A competição entre cartéis para captu- sos, como galpões de armazenamento, grave de outros países ao declarar guer- ● O crime infiltrou-se no poder?
nológico Autônomo do México rar municípios e unidades da federa- frotas de transportes, centros de pro- ra ao tráfico em troca de ajudas meno- A corrupção é de alto nível em pre-
(Itam) e também professor da Uni- ção. Policiais são emboscados e assassi- dução de insumo para indústrias sinté- res.” Para Gustavo de la Rosa Hickerson, feituras, governos estaduais e entre
versidade Columbia (EUA), Busca- nados. A população sofre atos de terro- ticas. Empresas legais do setor farma- diretor da Comissão Estatal de Direitos legisladores. Não se investiga a cor-
glia faz um alerta: “O crime organi- rismo. Métodos violentíssimos para cêutico, mineiro, agropecuário, finan- Humanos de Chihuahua, o México nunca rupção. Campanhas políticas estão
zado está assumindo o controle de apavorar e mostrar que quem manda ceiro e imobiliário. Todo o dinheiro deveria ter aderido à Iniciativa Mérida. infiltradas por grupos criminosos. E
segmentos importantes do Estado.” são eles. Terror para que possam extor- que os Estados Unidos injetarem não “O Exército é incapacitado para ações eles não querem que a festa termi-
Intensa dedicação ao tema fez dele quir, para que a população pague im- trará resultados se o México não ado- típicas de polícia. Juárez vive a mãe de ne. O México não cumpre 77% das
analista reconhecido das origens postos a eles. Aí começam a cortar ca- tar medidas efetivas. O México não todas as batalhas. Cerca de 7.500 viola- cláusulas do plano Mérida. O presi-
dos cartéis e seus males. beças. A escalada da violência é produ- precisa de dinheiro para mais tanques, ções graves e mais de 100 casos de tor- dente Calderón está muito preocu-
to da competição entre grupos para mas de capacidade para adoção de pac- tura. É uma cidade em choque.” pado, mas muito pouco ocupado.
● Por que os narcotraficantes cresce- capturar os Estados e para controlar to político e terminar com a impunida- Apenas 1% dos bens do tráfico sofre
ram tanto? mercados ilícitos que vão desde tráfi- de. Necessita de melhores políticos e confisco. Com boas intenções e
Nos últimos dez anos, o país convi- co de seres humanos, extorsões, pirata- melhores políticas. te ao tráfico de drogas. A diversidade preocupações não se soluciona o
ve com um governo cada vez menos ria, contrabando, sequestro, pornogra- de delitos organizados não permite so- problema. De retóricas estamos to-
capaz de tomar decisões de caráter fia infantil, até drogas. O comércio das ● A mobilização militar não é suficiente? luções simplistas. Tanques não ata- dos cansados. Se o México não com-
coletivo e institucional. As organiza- drogas é uma das 21 modalidades deli- O problema não vai ser resolvido com cam a estrutura empresarial, o patri- bater patrimonialmente as empre-
ções do crime debilitam o Estado, tuosas. Os cartéis competem para con- mais soldados e mais tanques. É pro- mônio dos grupos criminosos. Utiliza- sas criminosas, o país vai continuar
aproveitam-se de sua incapacidade. trolar territórios e municípios com efe- blema de estratégia. O México não es- se o Exército simplesmente para deter sendo o paraíso não só para grupos
Querem capturar o Estado. Temos tivos policiais cooptados. tá diante de grupos dedicados somen- pessoas, mas os negócios permane- mexicanos como para estrangeiros.
F
elipe Calderón Hinojo- demonstra toda a sua disposição assevera o presidente. “Tem si- organizado, se registram 12 ho-
sa, presidente do Méxi- no combate aos mais poderosos do necessário contar com todo o micídios para cada 100 mil habi-
co, está convencido de cartéis. “Nossa batalha é para apoio, e o apoio generoso e deci- tantes, quase metade do que se
que trilha o caminho que o governo, e só o governo, dido das Forças Armadas, por- registra no Brasil.”
certo. Ele compara o narcotráfi- reconhecidoconstitucionalmen- que onde as Forças Armadas e o Calderón não se curva. Ele
co a “um câncer que destrói so- te em quaisquer de seus níveis, Estado não estão presentes com mandou um duro recado aos ca-
ciedades e governos”. “O gover- exerça o monopólio da força, e a sua força, os delinquentes posdonarcotráfico.“Nãoimpor-
nodoMéxico,atravésdaaçãode- Calderón. ‘Militares também têm de prover segurança interna’ única lei que prevaleça entre os atuam com impunidade e atuam ta quem seja o inimigo do Méxi-
cididaquetemtomadoparacom- cidadãos seja a que o Legislativo contra pessoas inocentes, as ex- co,nãoimportasuafama,suafor-
bater o crime organizado, agiu a seu país, o mandatário informou um quadrimestre”. Eleito em emita em cumprimento de suas torquem, as sequestram, as rou- ça, nem sua crueldade, nem suas
tempo, independentemente dos estasemana,emviagemdetraba- 2006 para mandato de 6 anos, normas constitucionais.” bam,cobram dinheiroporprote- ameaças ou o poder que detém,
custos que isso implica, como é lho aos Estados Unidos, que o semreeleição,Calderónestá dis- Sua defesa à atuação dos mili- ção egeram umaviolência crimi- porqueem cadamexicano há um
dito insistentemente, em recur- México criou nos primeiros me- posto a superar sem tréguas o tares é enfática. Ele rechaça as nosa da qual todos somos teste- patriotadispostoadefenderana-
sos e vidas humanas.” sesdoano mais de400 milnovos maior obstáculo de seu povo, o críticas. “Existe em alguns seto- munhas todos os dias”. ção e a bandeira, um soldado em
De bem com a economia de empregos, “a cifra mais alta para crime organizado. res a percepção de que a partici- Ele destaca a importância da cada mexicano.”
Especial/Internacional H7
%HermesFileInfo:H-7:20100523:
E
rnesto Plascência San dele,passouporCuritibaumcer- e Toyota – foram confiscados. A Bustos foi militar do Exército Steven Soderbergh, que ganhou Afirma que ele nunca foi denun-
Vicente, distinto em- to Amado Carrillo Fuentes, nú- PF constatou que o patrimônio mexicano, mas desertou depois o Oscar em 2001. Fuentes en- ciado por qualquer crime no Mé-
presário mexicano, de- mero 1 do cartel de Juárez.. do ex-dirigente do cartel de Juá- que seu envolvimento com car- trou no Brasil com o nome de xico e que na única vez em que
sembarcou no Rio de Bustosfoicondenadoporlava- rez foi registrado em nome Cín- téis foirevelado. Ele chegou a ser Juan Antônio Arriaga Rangel foi processado nos EUA, há mais
Janeiro, em 2006, aparentemen- gem de dinheiro. Pegou 7 anos e tiaPlascência,brasileira,sua mu- preso nos EUA por conspiração em 6 de fevereiro de 1997, se- de 27 anos, o júri o absolveu. Se-
te para fazer turismo, mas logo meio de prisão em sentença im- lher.AvarreduramostraqueBus- para o tráfico de drogas. Acabou gundo relatório da DEA, a agên- gundoadefesa, aJustiçabrasilei-
foi para Curitiba, que escolheu posta pelo juiz Sérgio Fernando tosexpandiunegóciosparaoBal- absolvido com o álibi de que cia americana de combate às ra,paraaponta-locomotrafican-
para explorar o mercado imobi- Moro,da 2.ª VaraCriminal Fede- neário Camboriú (SC) e Catan- estava agindo como agen- drogas. Depois veio Bus- te, “numa inadmissível revisão
liário. Trazia na bagagem US$ 30 ral de Curitiba. A condenação foi duva e São José do Rio Preto, in- te infiltrado do Exército tos, ou San Vicente. Poli- deumadecisãofirmadaporauto-
milhões que investiu no setor – confirmadapelo Tribunal Regio- terior de São Paulo. –para aJustiçabrasilei- 7 ciais civis do Paraná o ridade soberana, afirmou que os
prédios, casas em condomínios nal Federal da 4.ª Região, mas a A internação do dinheiro do ra ele disse que foi aos ANOS E MEIO FOI descobriram. Para se li- juradosamericanosforamlogra-
fechados,chácaras etambémau- defesa de Bustos recorreu. A pe- tráfico mexicano em território EUA comprar gado e A PENA DADA vrar da prisão ele pagou dos”. A defesa destaca que na
tomóveis de luxo. nafoireduzidapeloSuperiorTri- brasileiro pode ter ocorrido a alegou que seus capto- A BUSTOS propina. Acabou captu- sentençaSan Vicentefoi classifi-
O império de San Vicente ruiu bunal de Justiça. Agora ele está partir de 2001. O rastreamento res teriam confundido, rado quando a PF investi- cado de primário e de bons ante-
quando a Polícia Federal desco- em regime semiaberto. fiscal de Cíntia revelou que ela na interceptação telefônica, gavaospoliciaisque corrom- cedentes, “o que contradiz a
briu sua identidade de fato, Lú- A PF concluiu que Bustos in- era “pessoa de modestos rendi- gado com droga. peu – os tiras foram condena- aventada relação com o Cartel
cio Rueda Bustos, e a verdadeira gressou no Brasil com “produto mentosepatrimônio”.Suadecla- Em Juárez, Bustos associou- dos. A PF suspeita que outros in- de Juárez”.
atividade que escondia por trás de tráfico de drogas” – a fortuna raçãode2002apontarecebimen- seaAmadoCarrilloFuentes,len- tegrantes do cartel buscaram re- Os advogados de San Vicente
dosnegócios–tráficointernacio- que empregou em contratos for- to de “doação” de R$ 500 mil. dário fundador e capo do cartel fúgio no sul do Brasil depois do anotam que “todas as transa-
nal de entorpecentes. A PF está malmente lícitos com a intenção Em 2003, nova “doação”, no de Juárez. Fuentes morreu em acirramento da guerra dos nar- ções financeiras realizadas por
convencida de que Bustos é o elo de ocultar recursos do narcotrá- montante de R$ 1,69 milhão. Os 1997apósfrustradacirurgiaplás- cos nas fronteiras do México. ele entre México e Brasil foram
dos cartéis do México com o cri- fico.SeusbensnoBrasil–20imó- repasses foram realizados por tica. Ele inspirou o personagem A defesa de San Vicente recha- feitas por meio do Banco Cen-
me organizado no Brasil. Antes veis e 7 veículos Mercedes, Audi Bustos, segundo a PF. Escorpião no filme Traffic, de ça com veemência as acusações. tral, tudo transparente e lícito”.
Blanca relata
com as ações as últimas
reportagens do
jornalista policial
dos cartéis ● “Uma semana antes de seu
assassinato, Armando El Choco
Rodríguez havia escrito uma re-
conta.O seguro foi concedido há portagem sobre um jovem que
Censura, pressão, poucos dias – 10 mil pesos, ou foi assassinado em Ciudad Chi-
ameaças e assassinatos US$ 900 mensais –, mas a paz huahua. Ele era sobrinho da pro-
lhe parece distante. “A morte foi curadora do Estado, Patricia Gon-
são as armas do consequência de seu trabalho. O zález. Esse jovem foi morto quan-
narcotráfico contra a México deve se conscientizar da do viajava em um veículo de pro-
liberdade de expressão importânciadeprotegerseusjor- priedade do governo do Estado,
nalistas”, argumenta Blanca, mas ele não trabalhava para o
O
s jornalistas da cidade também jornalista. governo.
assombradapelosnar- Entidades de direitos huma- Outra reportagem que Arman-
cotraficantes pedem nos contabilizam 17 jornalistas do escreveu dias antes de sua
“Justícia para El Cho- eliminados nos últimos anos no morte era sobre a presença, em
co”. “Sin periodistas no hay de- México pela violência do narco- Ciudad Juárez, de agentes minis-
mocracia”,alerta a faixa estendi- tráfico. “São muitas as vítimas teriais que chegaram para cum-
da à porta do El Diário, principal inocentes. É uma guerra que te- Luta por direitos. Blanca diante da faixa que pede justiça pela morte de seu marido prir algumas ordens de apreen-
jornal de Juárez. mos de enfrentar”, diz Blanca. são contra integrantes de um
Armando El Choco Rodri- Ela conta que, em 2008, Choco vésperas de sua morte, Choco ocorrências que envolvem nar- de Blancornelas foi morto. O grupo de delinquentes que se
guez, repórter, três filhas, foi fu- confidenciou-lhe sobre recados eraumhomem entristecido. Um cotraficantes. Ano passado, El jornalista sobreviveu. O gover- chama “Los Aztecas” e têm rela-
zilado na porta de casa na manhã sinistros que vinha recebendo amigohavia sido sequestrado e o Diário desvendou uma célula no do México outorgou à famí- ção com o crime organizado no
de 13 de novembro de 2008. A por mensagens de texto no celu- corpo atirado em um beco. da delinquência que lavava di- lia um serviço de proteção espe- México.
seu lado, a menina de 8 anos, que lar.“Abaixaotom”, diziaum des- Ficou a mesa de trabalho de nheiro dos cartéis em casas de cial a cargo de um batalhão do Antes de seu assassinato, Ar-
levariaparaa escola.Nove dispa- ses avisos. Choco – é a homenagem da dire- câmbio e instituições financei- Exército. Autoridades suspei- mando também assinou outra
ros de grosso calibre explodiram ção do El Diario a seu repórter. ras. A primeira reportagem saiu, tam que o ataque foi uma rea- reportagem sobre um homem
a cabeça e o peito de Choco e Fuga. Uma procuradora de Chi- “Choco está aqui”, escreveu um a segunda foi para o arquivo – ção do cartel de Tijuana. que foi decapitado e teve seu cor-
silenciaram para sempre o expe- huahua o aconselhou a deixar colega.Sobreamesa,ocomputa- muitos foram os telefonemas Documento produzido pelo po pendurado em uma ponte im-
riente jornalista policial. Juárez por uns tempos. Choco dor, dois retratos dele e mais um avisando que a retaliação estava Centro de Jornalismo e Ética portante da região, que fica sobre
A polícia jamais chegou aos até pensou em se mudar para El em que aparece com os amigos, a caminho. “A publicidade caiu Pública mostra que a violência um dos cruzamentos mais movi-
bandoleiros que o tocaiaram na- Paso, onde vive uma de o telefone, três pequenos 40%no pior momento da violên- contra jornalistas e meios de co- mentados de Ciudad Juárez”
quela manhã nem identificou suas irmãs, mas decidiu vasosdeplantas,ogave- cia”, lamenta Torres. municação aumentou 10% em
mandantes. A suspeita recai so- ficar.Tudooqueama- teiro, o calendário de Sua equipe de repórteres é in- 2009 em relação ao ano ante-
bre Los Astecas, facção mafiosa va estava ali – o tra- 17 2008. cansável. José Luís González e rior. Integrantes de corpora- dade de expressão, mas não há
ligado a um cartel da fronteira. balho, a escola das JORNALISTAS Pedro Torres, Ernesto Rodriguez Neto Pedro- ções policiais e militares são condições e garantias para o
Choco se foi, tinha 40 anos, crianças, o trabalho FORAM MORTOS prestigiadojornalis- za,fotógrafos,atravessamasnoi- acusados de abusos. exercício desse direito funda-
masseunomeficoucomosímbo- da mulher, os ami- NO MÉXICO ta mexicano, há no- tes de Juárez em busca de mor- mental”, ela revela. “O Estado
lo da imprensa que ainda não se gos e o ciclismo nas NOS ÚLTIMOS ve anos editor chefe tos. Integra a equipe o repórter Direitos humanos. Segundo a não garante a segurança dos jor-
curvou ao crime organizado. montanhas. ANOS do El Diário, revela Teófilo Alvarado Campa, de 37 entidade no ano passado foram nalistas e dos meios de comuni-
“Minha luta é por Justiça”, diz Ficou e não abriu que as ameaças a sua anos,hásetenacarreira. Elesfor- registrados 140 incidentes ca- cação.”
Blanca Alicia Martinez de la Ro- mão de sua linha de ação e equipe são constantes, mam um grupo de correspon- racterizados como atos de viola- Ela considera que “a impuni-
cha, viúva de Choco, que cuida princípios. Avançou ainda mais mas não o intimidam. “Não se dentes de guerra sem medo de ção à liberdade de expressão dade converte o Estado em
das três filhas, a mais velha agora nas apurações e no levantamen- pode viver assustado”. bala perdida nem da truculência contra pelo menos 183 jornalis- cúmplice de quem comete os
com 10 anos, a do meio tem 8 e a toestatístico sobreocrime orga- DesdequeperdeuChoco,ojor- da polícia. tas e 19 meios de comunicação. ataques porque a omissão tam-
menor 3. nizado. Era referência e era sem- nal adotou medidas para preser- Maria Idália Gomez, concei- bém é responsabilidade”.
Blanca passou 2009 atrás do pre consultado por colegas e au- var a redação. Os jornalistas que Atentados. Em novembro de tuada jornalista com 17 anos de Idália condena a pressão de
seguro social, direito que consi- toridades. cobrem o setor policial não assi- 1997, Jesús Blancornelas, funda- experiência na cobertura sobre “grupos de poder, vinculados
deraelementar, mas que lhe cus- Estimado, com boas fontes na nam mais as reportagens e nem dor e diretor do semanário Zeta temas de segurança nacional, ao crime organizado” no norte
tou noites de sono. “O governo polícia, o jornalista voltou a ser os fotógrafos assinam suas fo- de Tijuana, sofreu um atentado Justiça e direitos humanos, é do país. “Praticamente contro-
entendia que a morte de Choco ameaçado quando fez reporta- tos. O crédito sai para o “staff”. – pistoleiros do cartel Arellano freelancer e trabalha para a So- lam a agenda dos meios de co-
não estava relacionada a seu tra- gens sobre o assassinato do pa- Há casos de autocensura. O Félix o balearam quatro vezes ciedade Interamericana de Im- municação em temas que po-
balho, que fora um acidente”, rente de uma procuradora. Às jornal não investiga a fundo com uma AK-47. O motorista prensa. “No México existe liber- dem afetá-los.”
Artigo
N
O líder mexicano não soube as duras estatísticas da crise gar às relacionadas à segurança. Metade teguerrilheiro de1994. Nãofoiestabele- rança em um regime democrático.
desegurançaqueoMéxicoen- dos mexicanos se sente ameaçada pela cida a agenda de uma reestruturação Talvez a análise de certos setores
aproveitar a confiança que lhe frenta desde 2006 é preciso violência e – o que é mais significativo – das polícias estatais e municipais. Em americanos – como o do general Bar-
foi dada na fase inicial do notar o contraste entre o que começa a duvidar da eficácia do gover- vez disso, criou-se uma polícia nacional ry McCaffrey, ex-czar anti-drogas
combate ao tráfico; ao restrin- dizo governo e o que não está no discur- no. Em 2009, 41% acreditava no discur- – que em dois anos já pode ter sido infil- dos EUA – de que o México está a
so oficial. Por um lado, há uma marcada so oficial de que a reação violenta dos trada pelo crime. O saldo para o gover- ponto de tornar-se um Estado falido,
gir sua estratégia ao uso do tendência a exaltar os grandes volumes narcotraficantes é sinal da eficácia da no é negativo. Não se restabeleceu a or- seja exagerada por não considerar
Exército, selou seu fracasso deconfiscos de drogas, armase proprie- estratégia do governo. Agora, a porcen- dem e as estruturas de segurança nas que a crise de segurança é restrita a
dades dos narcotraficantes, que supe- tagem é de 29%. Essa é a batalha que o quaisse baseava a estratégia do governo algumas regiões. Isso, entre outras
ramnesses trêsanosdegoverno deFeli- governo já perdeu – a da percepção. começam a dar sinais de fratura. Há coisas,impede,por enquanto,umco-
pe Calderón o que foi feito no governo A razão da persistência da crise de se- 500% mais queixas de violações e abu- lapso do Estado, como se observa em
anterior, de Vicente Fox (2000-2006). gurançano México seencontra noenfo- sosaos direitoshumanoscometidospe- outras latitudes. Mas não há dúvida
Por outro, o saldo de mortes também queeminentementepunitivodaestraté- lo Exército. Isso sem falar no conteúdo que,pormuitos anos,– emesmo com
cresce de forma exponencial: desde giadogoverno enouso políticodoExér- dealgumasacusações:sequestros,desa- a Iniciativa Mérida e a ajuda dos EUA
2006 foram 22.700 vítimas do tráfico. cito, cuja ação não está sujeita a julga- parições e execuções extrajudiciais. – o México será incapaz de garantir a
A população já não está tão convenci- mentos dentro e fora do país. Inicial- A comparação da situação na qual o segurança para a sua população.
da de que a estratégia do governo é a mente, Calderón ganhou popularidade México está hoje com a da Colômbia
●
✽ correta, o que mina a popularidade de
Calderón.Desde2009,segundopesqui-
por enfrentar os narcotraficantes. Mas
as suas ações se limitaram a colocar o
nos anos 80 e 90, antes da ajuda dos
EUA, é rechaçada oficialmente. Mas é
✽
É COORDENADOR DOS ESTUDOS DE SEGU-
ERUBIEL
TIRADO sas Buendía & Laredo, as preocupações Exército na rua – um total de 75 mil ho- preciso dizer que o governo mexicano é RANÇA NACIONAL DA UNIVERSIDADE IBE-
econômicas dos mexicanos deram lu- mens, o dobro do mobilizado no levan- quem só aceita parâmetros colombia- RO-AMERICANA, NO MÉXICO
H8 Internacional/Especial
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N
várias notícias so- sado. mento nas fronteiras e mais de-
bre americanos portações. Eles acham que a imi-
mortosnafrontei- Omissão. Mesmo assim, ainda gração ilegal está aumentando a
ra entre o México há muito a ser feito. Quando criminalidade.
e os Estados Uni- Obama visitou o México logo Jáos defensoresda reformada
dos por traficantes de pessoas e apóssuaposse,em 2009,elepro- imigração dizem que é preciso
de drogas ganharam as páginas meteu aprovar a Convenção In- ter algum caminho para a legali-
dos jornais. Com a violência do teramericanacontraamanufatu- zação dos 11 milhões que já estão
México ultrapassando cada vez ra e tráfico de armas de fogo, co- emterritórioamericano.Eles di-
mais a fronteira, os Estados Uni- nhecida pela sigla Cifta. Os Esta- zem que verificar no local de tra-
dos resolveram assumir sua par- dos Unidos são um dos quatro balho a legalidade dos funcioná-
celaderesponsabilidadenaguer- países-membros da Organiza- rios é mais eficiente do que na
ra contra as drogas. Em março, o ção dos Estados Americanos fronteira,enãoadiantasódepor-
governo americano promoveu (OEA) que não ratificaram o tra- tar gente.
uma viagem de alto escalão ao tado, de 1998. O grande medo é que, sem
México para discutir relações bi- O Cifta é um passo essencial uma reforma da imigração, leis
laterais,comfocoespecialemse- para conter o fluxo de armas dos estaduais como a do Arizona
gurança. E a secretária america- Estados Unidos para o território multipliquem-se – Estados co-
na de Estado, Hillary Clinton, mexicano.NoMéxico, nãose po- mo Texas, Georgia e Oklahoma
fez questão de enfatizar: “Os decomprar armaemnenhum lu- já anunciaram medidas seme-
EUA reconhecem que o tráfico gar. Mas nos Estados Unidos, lhantes. A reforma da imigração
de drogas não é um problema só em qualquer supermercado Wal tem poucas chances de ser vota-
do México, é também dos Mart perto da fronteira, é da ainda este ano no Congresso,
EUA”. Ela falou nova- possível adquirir arma- já que as eleições legislativas de
mente sobrea corres- mento. Mas, apesar novembro deixam senadores e
ponsabilidade ame- dapromessadeOba- deputados sob enorme pressão.
ricana, já que tanto
a demanda pelas
US$1,4 bi ma, até hoje o Cifta
nãofoiaprovadope- Muro. Para completar, alguns
É A AJUDA
drogasquantoas ar- PROMETIDA lo Senado, vítima de senadores estão tentando res-
mas usadas pelos PELOS EUA pressões do lobby suscitar o muro na fronteira –
narcotraficantes vêm pró-armas nos Esta- faz parte de uma proposta do se-
dos EUA, funcionando dos Unidos, principal- nador Jim De Mint completar os
como combustível para a menteda National RifleAs- mil quilômetros que faltam para
guerra travada atualmente em sociation. No Congresso, até de- terminar a cerca. Se o muro vol-
solo mexicano, que já matou fensores do tratado, como o se- tar a ser construído, e os EUA
3.800 pessoas só neste ano. nador John Kerry, admitem que endurecerem leis de imigração,
“Não se trata apenas de retóri- oCiftaestánofimdafiladeproje- sem uma reforma que preveja le-
ca”, diz a pesquisadora do centro tos a ser considerados. galização de alguns dos milhões
de estudos Council on Foreign A Iniciativa Mérida passou de mexicanos ilegalmente no
Relations Shannon O’Neil. “Mu- dois anos a passo de tartaruga. país, isso vai azedar a relação
dou mesmo a abordagem e os Es- Até hoje, só liberaram US$ 300 com o México.
tados Unidos estão enfatizando milhões dos US$ 1,4 bilhão auto- Segundo analistas, há ainda
a corresponsabilidade.” rizados pelo Congresso. Final- uma grande nuvem de incerteza
Antes,osamericanosnãoassu- mente, os EUA prometeram en- pairando,porque oopositor Par-
miamessaresponsabilidadeetra- tregar os três helicópteros Black tido Revolucionário Institucio-
tavam o problema das drogas no Hawk, em outubro. Havia gran- nal (PRI) está na frente nas pes-
México como uma coisa para os deinsatisfação entreoficiaisme- quisas e pode vencer a próxima
mexicanos cuidarem. “Os gover- xicanos com a ineficiência do eleição presidencial. “Estamos
nosdoMéxicoedosEstadosUni- programa. E agora começa uma diante de uma potencial regres-
dos vêm trabalhando bem juntos segundafase,defendidaporOba- sãonapolítica”, dizDeniseDres-
nos últimos quatro anos, melho- ma, com plano de fortalecer ins- ser, professora de ciência políti-
rou bastante”, diz Shannon. tituições em vez de privilegiar ca do Instituto Tecnológico Au-
Em parte, esse cenário come- apenas a compra de equipamen- tônomo de México,
çou a mudar com a chamada Ini- tos militares. Antes, durante o domínio do
ciativa Mérida, assinada em ju- O lado da demanda por drogas PRI (1929-2000), havia uma co-
nhode2008peloentãopresiden- também precisa de muito traba- Sem auxílio. Na Colonia El Carmen, em Ciudad Juárez, grafite faz referência à violência local nivência entre membros do go-
te George W. Bush e pelo líder lho. “O nível de engajamento en- verno e as gangues. Quando Cal-
mexicanoFelipeCalderón. Aini- treEUAeMéxicomelhoroumui- deilegaisaquinopaís.Temosfra- Imigração. O problema dos imi- do estadual, entra em vigor em derón iniciou sua guerra contra
ciativa prevê o investimento de to, há muito mais cooperação”, cassado na tentativa de reduzir o grantes ilegais – há 11 milhões julho, caso não seja derrubada onarcotráfico,em2006,aviolên-
US$ 1,4 bilhão para combater o disse David Shirk, diretor do ins- consumo de drogas aqui”, afir- nos EUA, a maioria mexicanos – nos tribunais. Para os críticos, a cia explodiu.
tráfico de drogas e a lavagem de titutodefronteiradaUniversida- ma Shirk. “Se não cortarmos o voltou ao foco com a lei aprova- lei vai levar a um “perfil racial”, “As pessoas aprovam o fato de
dinheiro,principalmenteno Mé- de de San Diego. “Mas precisa- consumoepusermosmaisrecur- da pelo Estado do Arizona. A lei ou seja, qualquer pessoa com ca- o presidente Calderón travar a
xico, com recursos para equipa- mos nos concentrar no ponto de sos no combate às drogas aqui exige que policiais estaduais ra de hispânico que for pega sem guerracontraosgruposdenarco-
mento militar e treinamento de vendas, ou seja, no consumo das nos EUA, não adianta ter guerra questionem e prendam suspei- documentos pode acabar presa. traficantes, mas ninguém acha
pessoal, além de cooperação en- drogasnosEUAe,nocaso deimi- contra os narcotraficantes no tos de ser imigrantes ilegais. A Algumas entidades já declara- que ele esteja ganhando”, disse
tre as polícias dos dois países. O gração ilegal, nos empregadores México.” legislação, proposta pelo Sena- ram boicote contra o Arizona. Dresser.
cia como o 7.º homem mais rico ram US$ 6 bilhões no Plano Co- sumidanomundo.SaidaColôm- Na Colômbia, desde os anos 90,
Apesar de ajuda dos EUA, do mundo – chegou a assassinar
três candidatos presidenciais.
lômbia desde 2000. E é difícil
pensar em um governo que cola-
bia boa parte da droga que cruza
a fronteira dos EUA com o Méxi-
o negócio vem se dispersando. O
Cartel do Norte del Valle conse-
Bogotá faz avanços lentos Só ele, faturava US$ 30 bilhões
por ano – quatro vezes o PIB da
Bolívia –, o suficiente para apli-
borou tanto com os EUA como o
do colombiano Álvaro Uribe.
Tropasdopaísreceberamtrei-
co e da que abastece capitais bra-
sileiras.Recentemente,foidesar-
ticulada uma base das Forças Ar-
guiu conquistar espaço até
2007, quando foram presos dois
deseuslíderes–JuanCarlosAba-
car em larga escala sua política namento e equipamentos de madas Revolucionárias da Co- día, o “Chupeta”, detido no Bra-
Ruth Costas cia. Para os colombianos, é uma do “plata o plomo” (dinheiro ou ponta. Foram registrados avan- lômbia em Manaus, que coorde- sil,eDiegoMontoya,o“Don Die-
lembrança triste de um período chumbo). Escobar foi morto em ços – como a queda de 18% na nava a venda de cocado lado bra- go”. Desde então, grupos meno-
O
termo“colombianiza- em que o país chegou perto de se 1993. A Colômbia é um exemplo área de cultivo de coca, segundo sileiro da fronteira. res se multiplicaram. “Aqui, esse
ção” designa hoje o transformar num narcoestado de que a luta contra drogas é, em relatórioda ONUde2009 (parte Oproblema,explicamosespe- já é um negócio antigo. Quando
processo no qual o nas mãos dos poderosos cartéis geral, muito mais um processo do negócio migrou para Peru e cialistas, é a lucratividade sem a polícia mata um chefão da dro-
narcotráfico infiltra- de Cali e Medellín. Entre os anos lento, com avanços e retroces- Bolívia). Ainda assim, os colom- igual do negócio da droga, que ga, há três para substituí-lo”, diz
se no Estado e declara guerra aos 80 e 90, o traficante Pablo Esco- sos, do que uma guerra definiti- bianos continuam produzindo arregimenta de pequenos cam- Alejo Vargas, da Universidade
que nele resistem a sua influên- bar – que na revista Forbes apare- va. Só os americanos já investi- mais da metade da cocaína con- poneses a grandes empresários. Nacional da Colômbia.
ENTREVISTA
Vanda Felbab-Brown mico e político que diz isso. Cla- tráfico de ópio e heroína? mitados. O terreno é acidenta- ● Até que ponto a ditadura de
PROFESSORA DA UNIVERSIDADE GEORGETOWN E ANALISTA ro que há um envolvimento Não acredito que o cultivo da do e pouco fértil. Não há recur- Mianmar também se serve do
DO BROOKINGS INSTITUTION com o tráfico, mas as Farc nun- papoula, matéria-prima do ópio sos naturais. Sob essas circuns- tráfico de ópio e heroína?
ca obtiveram mais de 50% de e da heroína, represente mais tâncias, é difícil empreender Em Mianmar, muita gente fatu-
suas receitas com a cocaína. As do que 50% de sua receita. A ló- um projeto de desenvolvimen- ra com a produção de papoula,
‘A droga não é a única fonte de drogas foram mais importantes
para os paramilitares da AUC
gica é a mesma do México e da
Colômbia. O Taleban também
to econômico, ainda mais com
a insurgência. Primeiro, é preci-
até mesmo a junta militar que
governa o país. Mas, nos últi-
renda dos grupos insurgentes’ (Autodefesas Unidas da Colôm- tem outras fontes de renda: con- so limpar o terreno. É impossí- mos três anos, os militares têm
bia), que tomavam mais de 70% trabando, extração de madeira vel promover desenvolvimento tentado combater a produção,
Cristiano Dias da pela demanda, que está nos de suas receitas do tráfico. A ilegal e tráfico de pedras precio- debaixo de bala. muito por causa da pressão fei-
EUA. Mas esse não foi o único maioria dos cocaleiros colom- sas. A droga é importante, mas ta pela China. O cultivo de pa-
Em conversa com o Estado, azar do México. O país foi atin- bianos não tem alternativa, ex- não é a única fonte de receita. ● Não seria o caso de transfor- poula decaiu, mas boa parte dis-
Vanda Felbab-Brown, professo- gido dessa forma pelo narcotrá- ceto a coca. Por isso, a política O problema é mais grave por- mar uma pequena parcela dos so foi por causa do aumento da
ra da Universidade George- fico porque permitiu que seu de erradicação do plantio só ser- que quase a metade do PIB afe- gastos militares em subsídios produção no Afeganistão. Infe-
town e analista do Brookings sistema judiciário se corrompes- viu para aumentar a popularida- gão vem da droga. Nenhum agrícolas para os afegãos? lizmente, a junta nunca deu
Institution, fala sobre o impac- se e muitas de suas instituições de das Farc com eles. país no mundo é tão dependen- O orçamento para esse tipo de uma alternativa para os agricul-
to do comércio ilegal de drogas se enfraquecessem. Cerca de te da droga quanto o Afeganis- programa já é alto. São cerca de tores, que foram forçados a aca-
nos principais movimentos in- 30% da população mexicana vi- ● É o mesmo problema de Peru tão. US$ 230 milhões por ano. É bar com as plantações e a viver
surgentes do mundo. A seguir, ve na extrema pobreza e é atraí- e Bolívia: a falta de uma alternati- muito dinheiro para a agricultu- na absoluta miséria. Diante da
os principais trechos da entre- da para a economia informal ou va agrícola? ● Qual a dificuldade em substi- ra, até mesmo para os EUA. situação, para muitos, a única al-
vista. ilegal. É claro. O mesmo problema tuir a papoula? Não acho que seja justo tirar di- ternativa foi recorrer ao comér-
tem o Afeganistão, só que mais O Afeganistão é o segundo país nheiro dos militares. Afinal, se cio ilegal de madeira, ao contra-
● Por que o México é tão afetado ● A droga ainda é a maior fonte grave. mais pobre do mundo. Só a So- eles não conseguirem limpar o bando de animais silvestres, de
pela violência do tráfico? de receita das Farc? mália é mais miserável. O capi- terreno, nenhum projeto social pedras preciosas e a outras ativi-
A oferta de drogas é determina- Nunca foram. Tem muito acadê- ● Quanto o Taleban lucra com o tal e os recursos humanos são li- será viável. dades criminosas.