Fichamento do texto: PIQUEIRA, Maurício Tintori. “Vêm para essa festa”- As Telenovelas da Rede Globo como um meio de mediação social para a constituição de uma identidade nacional. Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP – Franca. 06 a 10 de setembro de 2010.
Fichamento do texto: PIQUEIRA, Maurício Tintori. “Vêm para essa festa”- As Telenovelas da Rede Globo como um meio de mediação social para a constituição de uma identidade nacional. Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP – Franca. 06 a 10 de setembro de 2010.
Fichamento do texto: PIQUEIRA, Maurício Tintori. “Vêm para essa festa”- As Telenovelas da Rede Globo como um meio de mediação social para a constituição de uma identidade nacional. Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP – Franca. 06 a 10 de setembro de 2010.
Telenovelas da Rede Globo como um meio de mediao social para a constituio de uma identidade nacional. Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de Histria: Histria e Liberdade. ANPUH/SP UNESP Franca. 06 a 10 de setembro de 2010. Resumo: O presente artigo exposto pelo mestre de Histria pela PUC/SP tem como objetivo analisar as telenovelas da Rede Globo como um meio de mediao social responsvel pela constituio de identidade nacional moderna, cujo norteador seria a crena na possibilidade de incluso social atravs da insero do individuo na sociedade de consumo. Tal funo demarcada a partir de 1969, ano em que a Rede Globo assumiu a liderana de audincia em todo o pas, fruto de benefcios das polticas de telecomunicao da Ditadura Militar e da organizao como uma empresa que tem por finalidade a lucratividade, tendo como o intuito formar uma programao para atrair a classe mdia e dessa forma aproximar a entrada do mercado publicitrio para vincular suas diversas formas de propaganda na emissora. Sendo o principal gnero de sua programao, a telenovela tornou-se o maior smbolo dessa fase de crescimento e poltica conferida pela emissora1, mas para que isso chegasse s vias de fato, foi necessrio romper com o padro do formato das telenovelas latino-americanas, marcadas pela sua inverossimilhana, com tramas que continham dramalhes e o descompromisso com a realidade social, caractersticas presentes enquanto o ncleo de teledramaturgia da emissora era liderado pela Glria Magadan2. Com a demisso de Magadan, Jos Bonifcio de Oliveira Sobrinho, na poca diretor-artstico da Globo (conhecido como Boni) colocou Daniel Filho na direo do ncleo. Com a mudana ficou incumbido Daniel Filho de fazer com que o gnero continuasse popular e, ao mesmo tempo, ser reconhecido por sua qualidade e atrair nichos de audincia que, at ento, desprezavam o gnero, como era o caso do pblico jovem e masculino. E para conseguir isso, foi preciso mesclar as experincias realistas/naturalista realizada anteriormente na novela Beto Rockfeller, exibida pela TV Tupi em 1968 e 1969, com o melodrama tradicional, e assim conseguiriam atrair um pblico novo sem perder o pblico j existente, composto em sua maioria por donas de casa, segundo as pesquisas de audincia. 1 Fase denominada como Padro Globo de qualidade 2 Seu verdadeiro nome era Mara Magdalena Iturrioz y Placencia, nascida em Havana, foi para Miami aps ser exilada e depois se mudou para o Brasil.
Daniel Filho, era grande conhecedor dos filmes de Hollywood e dessa
forma, queria realizar uma telenovela que envolvesse o estilo de filmes norte-americanos. E foi dai junto com Janete Clair, que nasceu Vu da Noiva (1969-1970), que tinha como novidade o cenrio do automobilismo, as cenas de beleza do Rio de Janeiro, a linguagem mais coloquial, a trilha sonora com alguns nomes consagrados da MPB, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Vinicius de Morais, e a insero de uma temtica social. Com a entrada dessas temticas prximas a realidade social nas telenovelas, o gnero passou a se tornar rentvel para a emissora e passa a ser o principal veculo de propagao de comportamentos consumistas na sociedade brasileira tendo como padro os hbitos da classe mdia urbana do Rio de Janeiro. A diferena da telenovela desenvolvida pela Rede Globo a partir de 1969 est na sintonia do cotidiano da sociedade de consumo, em uma poca em que acontecia o crescimento econmico, resultante de uma politica que visava atender os interesses do capital multinacional e de seus scios nacionais. Poltica essa realizada pelo general Costa e Silva (1967-1969) que consistia no aumento da produtividade industrial, com mo-de-obra barata e com baixa qualificao, e no estmulo de consumo a partir de crditos do governo atravs de suas instituies bancrias e financeiras. Esse perodo foi conhecido como o milagre brasileiro e causou um mercado consumidor numericamente restrito, mas que era capaz de sustentar financeiramente as indstrias, e ao mesmo tempo, solidificar uma estrutura social com altos graus de excluso. Portanto, Vu da Noiva deu origem teledramaturgia moderna, cujo formato mais adequado publicidade moderna, pois torna possvel, por exemplo, a insero do merchandising, ou seja, da propaganda de um produto ou marca no meio da histria, sem a afet-la, aparentemente, sendo abordada de uma forma subliminar. Cada vez mais as telenovelas buscavam no s se assimilarem com a realidade social, mas como tambm reforarem a brasilidade a partir das imagens das belezas naturais do Rio de Janeiro e, principalmente, pela trilha sonora, que foi a primeira a ser explorada comercialmente, como no caso de Vu da Noiva que teve a venda de LPs chegando acerca de 100.000 discos vendidos3. De certa maneira, as trilhas sonoras nas telenovelas criaram um novo campo para msicos divulgarem seu trabalho, j que os Festivais Musicais de Televiso estavam em franca decadncia, decorrente das perseguies feitas pelos agentes da represso. 4. Desta forma, a emissora lanou telenovelas nacionalizadas em mais dois horrios: s 22 horas e, por fim, s 19h. Na poca, a diferena de horrios 3TOLEDO,2007,p.8 4 NAPOLITANO,2004
da emissora seguia as orientaes da Censura Federal. De fato, a partir de
1968, a Censura comeou a interferir mais sistematicamente na elaborao da programao da televiso, instituindo uma faixa de horrios e utilizando como padro a faixa etria permitida como audincia para determinado programa.. No ano de 1970, ao mesmo tempo em que passava Vu da Noiva s 20h00, no dia 4 de maro s 19h00 estreou Pigmaleo 70, de Vicente Sesso. O enredo contava a histria de uma ricaa que tentava refinar os hbitos de um feirante e no final, acaba se apaixonando por ele. No horrio, a Globo queria colocar histrias leves, que adequassem s exigncias da Censura para o horrio e que concorressem com o principal horrio das telenovelas da Tupi, que lideravam a audincia at ento com Nino, o Italianinho. De qualquer forma, a telenovela se tornava um referencial para a classe popular, de falas, costumes e hbitos de consumo das classes mais favorecidas, principalmente por representar o universo da classe dominante, mostrando assim, de certa forma, como as classes mais populares deveriam se portar para conseguirem serem includo e at ascenderem socialmente. Ao retratarem o modo de vida das classes mais favorecidas chamaram a ateno dos telespectadores de classe mdia ascendente, e ainda revigoram o estilo luxuoso e consumista dos mais favorecidos, que eram esses os consumidores que realmente importava para os publicitrios para divulgar seus produtos, marcas, maneiras e formas de consumir. Por fim, quando a telenovela criou uma identidade com um pblico-alvo, ela acabou se identificando com o pblico massivo, a Rede Globo em especial, tornou-se agente mediador da construo de uma identidade nacional, sendo essa baseada na crena de que a ascenso social possvel a todos, materializando no s no em enriquecimento, mas como tambm a implicao de determinados padres de consumo. Ou seja, em um contexto de milagre econmico e pelo autoritarismo da Ditadura Militar, a insero das camadas excludas da sociedade brasileira no mercado consumidor de bens restritos s classes mais privilegiadas seria a soluo imaginria para as grandes diferenas sociais existentes no pas..