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24/06/2010

Obama dispensa McChrystal do


comando da guerra no Afeganistão
Helene Cooper, Thom Shanker e Dexter Filkins
Em Washington (EUA)

General Stanley McChrystal, quando foi indicado como novo comandante das
forças dos EUA no Afeganistão, em reunião com Barack Obama

O presidente Barack Obama dispensou o general Stanley A. McChrystal do comando


das forças americanas no Afeganistão na quarta-feira, nomeando como seu substituto o
chefe deste, o general David H. Petraeus, o arquiteto do aumento de tropas de 2007 no
Iraque.

Obama, ao lado de Petraeus e do vice-presidente Joe Biden no Jardim das Rosas da


Casa Branca para ressaltar a continuidade e solidez de sua política para o Afeganistão,
disse que aceitou com pesar a renúncia de McChrystal.

Ele também disse que o fez não por se sentir insultado, mas porque um artigo de revista
contendo citações insolentes do general e seus assessores a respeito de altos
funcionários do governo não atendia aos padrões de comportamento para um general de
comando e ameaçava minar o controle civil das forças armadas.
“A guerra é maior do que qualquer homem ou mulher, seja um soldado, um general ou
presidente”, disse Obama. “Por mais difícil que seja perder o general McChrystal, eu
acredito que seja a decisão certa para a segurança nacional.”

“Eu aprecio o debate entre a minha equipe”, ele disse, “mas não tolerarei divisão”.

Obama destacou que a mudança na liderança não sinaliza uma mudança em sua
estratégia geral no Afeganistão, onde milhares de novos soldados americanos têm
chegado nos últimos meses em meio ao aumento das baixas e crescentes dúvidas a
respeito do progresso da guerra.

“É uma mudança de pessoal, mas não é uma mudança na política”, disse Obama.

Na quarta-feira, McChrystal se reuniu com Obama por cerca de 20 minutos.

Ele e Obama iniciaram sua reunião pouco antes das 10 horas da manhã, após o general
ter se encontrado com líderes militares no Pentágono. O artigo na revista “Rolling
Stone” citava McChrystal e seus assessores fazendo críticas a praticamente todos os
membros da equipe de segurança nacional do presidente, dizendo que Obama parecia
“desconfortável e intimidado” durante seu primeiro encontro com o general, e
desprezando Biden como “Bite Me” (me morda).

O artigo provocou uma tempestade que foi alimentada pelas crescentes dúvidas –até
mesmo nas forças armadas– sobre se é possível uma vitória no Afeganistão e pelo
colapso do apoio público à guerra que já dura nove anos, enquanto crescem as baixas
americanas. E os comentários também expuseram o desarranjo e a inimizade em uma
equipe de política externa que está tendo dificuldades com a guerra.

O secretário de Defesa, Robert M. Gates, antes aquele que mais apoiava o general,
criticou McChrystal por “um erro significativo”, e o almirante Mike Mullen, o chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas, foi descrito por um importante assessor como
“profundamente decepcionado” com os comentários. Mas Hamid Karzai, o presidente
afegão, e seu poderoso meio-irmão, Ahmed Wali Karzai, saíram em defesa de
McChrystal.

A equipe para o Afeganistão sofreu muitos conflitos internos, incluindo queixas do


embaixador americano, Karl W. Eikenberry, a respeito de Richard C. Holbrooke, o
representante especial para o Afeganistão e Paquistão.

Em um episódio que acentuou as crescentes animosidades, o general James L. Jones, o


conselheiro de segurança nacional, escreveu para Eikenberry em fevereiro,
demonstrando solidariedade para com suas queixas a respeito da visita feita por
Holbrooke ao Afeganistão. Na nota, enviada por canais não seguros, disseram
funcionários, Jones tranquilizou o embaixador ao sugerir que Holbrooke seria em breve
afastado de seu cargo.

A nota de Jones levou a secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton, a se queixar com
Obama, e o apoio dela a Holbrooke o manteve no cargo. No artigo, que foi postado no
site da revista na terça-feira, um dos assessores de McChrystal é citado se referindo a
Jones como “palhaço”.
As brigas internas têm se intensificado devido à situação cada vez mais perigosa em
solo. A violência no Afeganistão está em ascensão. A missão para pacificar Marjah e
Kandahar está extremamente fora de rumo. E o esforço para criar um governo afegão
viável está cada vez mais em dúvida, devido à corrupção disseminada.

NYT acompanha soldados dos Estados Unidos em batalha no Afeganistão

As críticas estão crescendo no Capitólio, mesmo entre os aliados do presidente, muitos


dos quais anunciaram que estão procurando por uma saída, com outros provavelmente
fazendo o mesmo nos próximos meses.

McChrystal provou ser a autoridade americana que melhor conseguiu lidar com Karzai
de forma diária. Além disso, a estratégia de guerra de Obama é, de muitas formas, uma
estratégia de McChrystal. O general concebeu o plano, que pedia por milhares de
soldados adicionais para combater a insurreição e, talvez mais importante, criar uma
sensação de segurança para o povo afegão.

Há um vigoroso debate dentro do governo sobre como proceder no Afeganistão, mas


McChrystal e seus assessores não criticaram abertamente a política do governo.

Em vez disso, as diferenças eram pessoais e manifestadas publicamente. Um


funcionário do governo descreveu Obama como particularmente furioso por um
assessor de McChrystal tê-lo caracterizado como não parecendo “muito engajado”
durante o primeiro encontro deles na Casa Branca.

No geral, o artigo da revista descreveu McChrystal no comando de um pequeno círculo


de assessores envolvidos em conversa insultuosa de vestiário enquanto discutiam
política externa, os franceses, sua lealdade uns para com os outros e as preocupações
deles com o andamento da guerra.

O conselheiro de comunicações civil que organizou a entrevista, Duncan Boothby,


renunciou.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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