Você está na página 1de 12

2

O Rock e suas Origens Míticas (1)


J. A. De Gerome*

* Nascido em Bonefro,(Itália, 1960), Joseph Antoine de Gerome é graduado


em História e Mestre em História das Religiões pela Universidade do
Quebec – Montreal. Atualmente exerce a função de Professor e Interventor
Psico-Social na cidade de Montreal - Canadá. Para saber mais sobre o
autor e suas publicações: http://www.josephdegerome.com

A música em nosso século XX tornou-se sinônimo do cotidiano. Por todos os lados à nossa volta,
uma gama de sons se faz presente em suas múltiplas harmonias quer estejamos em casa, no
trabalho, nas ruas ou em qualquer lugar. O som sempre onipresente rompe o silêncio de uma
sociedade onde reina o tédio, a solidão, e o desencanto.

Limitaremos nos aqui ao impacto e ao papel da música contemporânea na consciência moderna.


Não aprofundaremos na história detalhada da música no ocidente para não correr o risco, de pela
falta de dados e de conhecimentos, de pisar num terreno enganoso.

“A glória é identificar o que há de mais trágico em seu próprio tempo e


transformar isto em ternura” 1

Deteremos nos portanto à música dos anos 80 a 90 e nos limitaremos ao Jazz-Rock, pois em nossa
opinião ela encarna no século XX a volta do pensamento dionisíaco um retorno ao mítico fundador.

Nosso principal instrumento de trabalho será o estudo o Sr. Marius Schneider (O papel da música e
dos ritos das civilizações não-européias).

Este artigo servirá à demonstração do inconsciente mítico que habita o pensamento Rock e seus
músicos e, embora o Sr. Schneider fale de sociedades não-européias, isto não representa problema
algum. O Rock é um amálgama cultural, do qual pode desvelar suas origens em suas próprias
“harmonias”.

No entanto é preciso notar que o rock deve suas origens à música negra e, de fato através da música
latino-americana. Este aporte cultural importante colore a música ocidental dos anos 60 a 80 e é
nisto que, o estudo de Schneider toma um lugar essencial para nossa tentativa de demonstração
teórica.

“If you wanna find the truth in life don’t pass music by…”22

(“Se quiseres alcançar a verdade na vida, não deixe de lado a música...”)

Para compreender o rock contemporâneo é preciso situar seus ancestrais: o Jazz e o Blues.

Estados Unidos 1950: em nível político é o fim da Guerra da Coréia e o início da tensão entre
Estados Unidos e URSS. É também o fim da “caça as bruxas”, o que favorece ao retorno da
1
() NT1 : Artigo escrito em 1983 – Desde este tempo alguns grupos de rock se modificam atualizando suas
imagens e expressão. Traduzido por S. Kavinsky em maio de 2010.
3
liberdade de expressão. Em 1954, a Corte Suprema Americana adota uma lei anti-racista que torna
possível os mesmos meios de transportes para brancos e negros. Assistiremos também aos conflitos
no Sul e ao aparecimento de dois movimentos. Um conduzido por Martin Luther King e o outro
chamado “The Black Musilims”. Eles se diferem na origem, mas têm o mesmo objetivo, o de fazer
os negros tomar consciência de seus direitos e das desigualdades que ainda subsistem.

Este evento marcará consideravelmente a evolução do pensamento afro que engendra um retorno às
origens da população negra americana.

O acontecimento do jazz é paralelo aos seus conflitos, juntando música à suas reivindicações
rítmicas, melódicas e harmoniosas. O jazz é, no entanto uma famosa uma mistura do blues laico
com a música religiosa negra, as “gospel songs”.

Sairá daí uma música mais forte, mais agressiva que deixará do gueto de onde era prisioneira e
chegará aos ouvidos de uma nova geração de brancos graças aos mercados de distribuição (as
gravadoras). O rock nasceu.

Até os anos 60, o rock de BilI ltaley, de Elvis, Chuck Berry e Little Richard é que se impõem como
essencialmente negro. Com Bob Dylan o roque desvela uma nova alma, a da contestação social.

Ele introduz a cultura folk no rock e pode-se dizer que ele abre uma via para a América. Este
julgamento é justo. Dylan é talvez dentro de toda a história da música contemporânea, o músico-
trovador-revolucionário dos anos 60. Aos olhos de muitos ele é o herói civilizador.
.

Depois em 1964 vem o jazz-rock que recupera o ritmo e é consumido nos melhores mercados.
Privilegia-se o ritmo às críticas sociais. Para alguns o jazz-rock tinha por objetivo recuperar os
brancos perdidos para o jazz. Em 1970 a música rock conhece uma nova orientação. Esta
influenciada pela revolta dos jovens da costa oeste dos EUA (Luz Angeles). É o rock-flower-power
ou acid-rock (também chamado hard rockNT2).

De Greenwich Village a Los Angeles, inova-se a experiência comunitária (hippies) cujas bases
eram a música, os alucinógenos e o amor livre.

Estes movimentos nascidos na Costa-Oeste são pouco politizados, contrariamente aos movimentos
“undergrounds” que sacudiram São Francisco. Um exemplo é a Universidade de Berckley onde
protesta-se entre outras causas, contra a Guerra do Vietnam mas, propõe aqui duas alternativas à
cultura americana em direção a severidade e a justiça.

O que o movimento Underground ignorava, por sua utopia, era a musica exemplar da comunidade
da costa oeste (representada pelo grupo Gratful Dead, embaixador global em nível de idéias
musicais sociais e políticas revolucionárias, assim como por Jefferson Airplane, Big Brother. Janis
Joplin e outros) era apenas uma subproduto do contexto político sem apresentar soluções. Na
realidade como diziam sobre Gratful Dead: “Eles não estão interessados em política, isto nunca os
interessou. A única política deles é se dizerem apolíticos!”. 3

Porquanto, esses grupos vivendo em comunidade tornaram-se para toda a juventude norte-
americana e mesmo a européia, o núcleo de “conexão cósmica”, eles encarnavam a o modelo, o
ideal da juventude mundial.

Garcia Jerry, Músico da Costa Oeste dos USA dizia que a vida em comunidade era mais por razões
4
materiais que para revolucionar uma cultura.

O mito se desmorona como um castelo de areia e a lenda que coloria o flower-power do movimento
de contestação cai por terra também e o power-flower se extinguiu.

A partir dos anos 70, o rock está procurando a si mesmo. É uma época mística. Os Beatles
romperam entre si e o “beat” parece estar perdendo o fôlego. A desilusão da juventude ocidental é
fortemente sentida, como colocado em evidência por Jean Marie Le Luc e Didier de Plaige, os anos
70 descobrirão o “poema do êxtase, o poema do fogo”.

Descobre-se a tradição sonora e vocal extra-européia, indiana, árabe, ou africana. A música não
pertence ao mundo profano: ela é a serva sagrada que exprime o invisível. E as cerimônias
cotidianas ou sazonais têm uma força de evocação e de mobilização. 4

Uma nova idade da música faz sua aparição: a música “planante” (as vezes chamada cósmica) e a
escola alemã da eletroacústica. É uma síntese entre a música folk (descontraída) e o jazz-rock, que
reabilitam o corpo, a alma, e o instinto, tudo dentro de harmonias rebuscadas.

Pink Floyd certamente é o grupo que ilustra melhor a música “planante”.

Na África Steve Reich, Terry Rickley, Joan Barbara são os inovadores do novo gênero. Ele postula
a evasão pelo som e pela “planagem”. Percebe-se já a idéia de vacuidade (perda do ego).

Esta música saída do rock parece tomar certo espiritualismo. “Alexandre Nikilaievich Scriabini,
emerso de idéias teosóficas, procura a harmonia universal.”3

John Coltane se lança em direção à gnose afro-americana; o regae retorna à superfície, musica
jamaicana que se associa aos pobres e às seitas, aquela dos rastafaris, que se opõem à cultura
britânica e européia.

Os rastafaris desenvolveram uma dança ritmada que, nos dizeres deles possue um sistema mágico e
religioso. Ela lhes foi dada pelos seus ancestrais da África. Nas reuniões dos rastas, dança-se o
regae fumando-se o hashiche, esperando o dia da libertação: “Hallelujah time”. O grande
representante desta seita foi Bob Marley, o rei do regae. Sobre Bob Marley nos anos 70-80 criou-se
uma verdadeira lenda. Ele conseguiu impor seu ritmo dentro de quase toda a música rock.

Para os fãs do reggae, ele não morreu. Ele voltará, ele voltará... Do lado anglo-saxônico, nós
encontramos o Mood Blues, com sua música “In Search Of The Lost Chord” (Em busca da corda
perdida) . Pete Tomshend apresenta uma das mais belas óperas-rock. “Tommy”, da qual seu guru
escreveu as palavras.

Donavan, que fez a música do filme de Zefirelli, “Irmão Sol, irmã Lua”. Paul Horn assim como
todos aqueles mencionados acima tem em comum o Maharishi. Leonard Cohen e David Browie, o
grande dramaturgo de imagem bissexual, estão freqüentemente ligados aos templos zen e tibetano.
Carlos Santana, que introduz o ritmo latino-americano no rock, e é discípulo de Srichinnmoy; Cat
Stevens hoje mulçumano ortodoxo inspirava-se na música e no pensamento budistas. Certos grupos
tomaram emprestadas bandeiras religiosas para fazer sua autopromoção.

“Black Sabbath” e os Rollingstones se declaram discípulos de Satan. Sua música e seus shows eram
euforias puras para o público. Quase toda vez que os Rollingstones organizavam turnês, aconteciam
confrontos, brigas, às vezes mortais.
5
Alice Cooper também servia-se de uma imagem demoníaca. Eis o testemunho deste Vincent
Fournier, que se apresentava como Alice Cooper:

“Há alguns anos eu fui numa sessão de espiritismo onde Norman Buckley
pediu que o espírito baixasse. O espírito finalmente se manifestou e falou
comigo. Ele prometeu, a mim e ao meu grupo de músicos, a gloria e a
dominação mundial através música além de riqueza em abundância.”4

Foi depois desta sessão que Vincent Fournier assumiu o legendário nome de uma velha bruxa, Alice
Cooper.

Para os fãs de Alice, seu personagem sua imagem continuaria ser um grande mistério, seus
concertos uma verdadeira “ópera rock.” A cada entrada em cena ele simulava a execução na qual só
ele sempre fazia o papel de vítima.

Não esqueçamos também o trabalho de George Harrison, ex-beatles que espalhou a mensagem de
Krishma na Inglaterra, ele mesmo um simpatizante do pensamento indiano. Ele gravaria “My Suíte
Lord” nada além de um hino a Krishma, e em seguida “Devotion” e “All things must pass.”

Este retorno ao religioso para os músicos dos anos 70 tem um sentido capital. Para compreender
bem os anos 70, é preciso saber que a juventude ocidental era “toda ouvidos”NT3. aos ensinamentos
dos gurus, dos yogies, swamis, etc. Seus “ídolos” se voltariam para o oriente.

Os líderes mais influentes na juventude dos anos 70 seriam seguidos, muito mais por causa dos
músicos do rock que em função de seus “mestres”.

Eis aqui o que completa o primeiro capítulo sobre a história do rock. Daqui para frente abordaremos
os seus aspectos interpretativos. Este segundo capítulo tenta demonstrar que as origens da música
são essencialmente linguagens (Míticas), um meio de comunicação com o mundo sobrenatural,
enfim, uma magia que somente os músicos iniciados na linguagem do universo podem transmitir
aos homens...

Este estudo, trata com efeito, da comparação dos grupos e cantores atuais, para poder demonstrar
que o rock se alimenta de arquétipos que transformam os músicos em “heróis civilizadores”.

Os Heróis Civilizadores

“Na cidade dos sons, a música é um templo e os degraus da fama são suas
portas e janelas”(Composição de Ilurad, Séc. XII)5

Não é fácil voltar às origens do pensamento humano. Nós somos limitados pelo tempo. As teorias
formuladas sobre os povos “primitivos” podem neste caso, ser objeto de novas interpretações. Esta
análise deve ser então empreendida com prudência no que concerne aos mitos, pois estes são por si
mesmos sujeitos as revisões.

Nós sabemos que nos povos mais “primitivos” existe a idéia de não-substancia “que forma o
substratum do universo”. Ela se reencontra no mito da criação. Eles têm “todos” como elemento
acompanhador, no momento da criação, a força acústica.
6

Esta força acústica se interpreta como uma manifestação de um Deus se dando a vida ou, como uma
intervenção divina superior, criando um demiurgo a fim de que este realize a criação do céu, da
terra e do homem. Que seja o Deus que emerge, a criação é ” sempre” vista como sendo a gênese de
um som, um suspiro, um canto, um berro, um sopro nos mitos da criação, os deuses dos músicos
tocam e dançam no universo.

Certas mitologias, como a dos Esquimós, dos Upanishads ou do Tao dos antigos chineses, dizem
que o mundo se emana do vácuo (éter), de não-ser de onde surge o sopro do criador. Aquilo que
emerge partir do vácuo e é concebido como sendo um prolongamento de um pensamento que faz
vibrar o nada e cria o espaço. O invisível se manifesta no abismo primordial e sua ressonância é
considerada na maioria das mitologias como a primeira força criadora. Ela é frequentemente
personificada pelos deuses Chantres, músicos divinos.

Na mitologia indiana, Brhama significa “força mágica, palavra sagrada, hino”. Os antigos egípcios
e algumas tribos “primitivas” percebem seus deuses como grandes gritadores (que urram).

Na África e na Ásia, associa-se o barulho da chuva, do vento ou dos trovões com manifestações do
Deus. No entanto, a mais bela figura do músico divino se encontra em Schiva, que é um dançarino
que guarda a harmonia do mundo tocando tambor, flauta ou cítara. O mundo sendo a criação de um
canto, a existência das coisas torna-se puramente acústica. O criador, dá nascimento ao mundo pelo
seu sopro e todas as coisas tornam-se a sua imagem.

“Que a luz se faça e a luz se fez”

Como na tradição bíblica, os mitos primitivos consideram os primeiros cantos da criação como o
nascimento da luz. O Kâthaca Upanishad designa Atna (o ser supremo), potencia luminosa.

As sociedades “primitivas” atribuem ao som e à luz uma força supranatural responsável pela vida,
pela noite, pelo dia, pela obscuridade e pela clareza das representações intelectuais.

O que leva as várias cosmologias, entre outras, nas Védicas e Pérsicas, onde uma guerra surge entre
os deuses e os demônios, pelo controle da potencia dos sacrifícios sonoros e dos luminosos.

O Papel dos Heróis Civilizadores

No universo mítico, nós simbolizamos por heróis civilizadores o intermediário entre os deuses e os
homens.

O herói civilizador, nem Deus nem homem, é um mágico que tem como função espantar os
demônios e manter as relações com a humanidade através da mediação junto aos espíritos e as
almas dos mortos. Estes assombram e possuem aquele que se torna mediador entre os vivos e os
mortos.

Frequentemente, nosso herói, em sua maneira de falar, de se vestir ou de cantar, toma a imagem de
um hermafrodita para imitar melhor os deuses.

O músico cantor é belo e um homem de verdade diferente é claro. Sendo um ressonador cósmico,
sua potencia crece à medida em acreditam que ele ouve os sons cósmicos. Ele possui também uma
potencia dominadora sobre os homens, pois ele é interprete dos deuses e deseja ele mesmo se
7
tornar semelhante aos deuses, e tem possibilidade de fazer a iniciação aos mistérios do universo..
Isto oferecendo ao seu Deus ou a seu espírito alimento acústico sob forma de cantos e de louvores.

Classe Social do Músico

A mitologia atribui aos primeiros músicos nascimentos maravilhosos. Pela importância cósmica de
seu papel, o músico é criado para além dos mortais, como aponta a tradição veda:

“O músico traz a luz da música em seu coração” Aquilo que lhe dá o direito de adquirir no seio da
sociedade um lugar à sua escolha.

Segundo Seu-na Tsieng (pensador chinês), "o verdadeiro músico é um sábio”. Os Iakutes dizem
que “os músicos sofrem”, pois eles são obrigados a cantar por vocação. O músico levando sempre a
felicidade, perde a sua. Ele é só diante de seu sofrimento, ninguém o ajuda e ele é constantemente
atormentado pelos espíritos.

Compreende-se claramente que no pensamento “primitivo”, todo ser em contato com o mundo
sobrenatural torna-se ele mesmo misterioso junto aos seus semelhantes. Sseu-Mat’Ien diz:

“a música e os ritos manifestam a natureza do céu e da terra. Eles


penetram até o vértice das inteligências sobrenaturais. Eles fazem descer os
espíritos do alto e fazem sair da terra os espíritos do baixo; eles realizam a
substancia de todos os seres, a música se exerce do interior , os ritos são
estabelecidos no exterior. A música corresponde ao céu, os ritos
correspondem à terra. A música unifica (imagem e som), os ritos os
diferenciam.”6

Será que podemos fazer um paralelo entre o pensamento ”primitivo” e o rock? Em minha opinião
sim. Como previsto por Bill Haley, o músico de jazz dos anos 50, a música é bela e tornou-se um
meio de comunicação em escala planetária. Pelo fato mesmo de ser o alimento acústico de toda a
geração mundial dos anos 60 a 80. O ritmo parece enraizado nas profundezas do psicológico
humano. Ele é desde agora imanente a nossa natureza através das idades.

Na música rock, focalisa-se enormemente sobre o “beat”, a fim de conduzir o público à descoberta
das pulsações emotivas, físicas e psicológicas. As músicas rock, entre outras as de Mike Jagger e
Alice Cooper procuram de afrontar os tabus da sexualidade em cena. Eles se se metamorfoseiam em
hermafroditas, como os heróis civilizadores das mitologias antigas.

É preciso lembrar que a palavra “rock in roll” é originada do blues dos guetos. Dá-se a ela três
significados: “O barulho do chiado e ritmado de um trem. A figura rítmica que nos toma... e a
relação sexual.”7

Os músicos como Mike Jagger, são conscientes do papel da sexualidade no rock e servem-se disto,
pois eles podem pela sua “arrogância” fazer emergir o desconhecido, o inconsciente que habita cada
membro da platéia. Mike Jagger diz a respeito de sua música: “Nós trabalhamos sempre para dirigir
o pensamento e a vontade das pessoas e a maior parte dos demais grupos musicais fazem o
mesmo.”8

A música, para estes músicos rock, é um meio de satisfazer suas próprias pulsões, colocando idéias
novas. Na revista dos Rolling Stones, pode-se ler que “O rock é mais que música, é o centro
8
energético de uma nova cultura e de uma juventude em revolução”. Eis aqui o que Graham Nash,
grande músico, diz da música:

“A música Pop é um meio de comunicação que condiciona o pensamento


das pessoas que a escutam. Eu creio também que os músicos, através desta
música, a aproveitam de modo fantástico. “Nós podemos dirigir o mundo,
Nós temos à nossa disposição e o potencial necessário."

Esta citação me parece bastante reveladora. Ela nos demonstra o pensamento “mágico divino” de
alguns músicos. Como na mitologia primitiva, o músico moderno se coloca acima dos mortais.

Girl Rubin pensa que a música rock foi uma verdadeira revolução.

“Elvis revelou nosso corpo, mudando tudo do todo, até o fim. O hard rock
animal que detém seu segredo nos “beat” energéticos penetraria
calorosamente o interior de nossos corpos. O ritmo embala fazendo surgir
todas as paixões que eram retidas. A poltrona de trás dos automóveis era o
teatro da revolução sexual, enquanto o rádio dos carros serviam de meio a
esta subversão. O rock marcou o início da revolução. Nós fundimos uma
nova vida política com o estilo de vida psicodélico. Nossa maneira de viver,
nosso ácido, nossas roupas aberrantes, nossa música, foi esta a verdadeira
revolução!”9

Para toda uma geração, estas palavras foram proféticas. Nos anos 70, os movimentos hippies (raiz
da palavra hippi-hip que significava “na moda”, “iniciado”) acreditavam sinceramente que pela
música, tudo podia ser mudado. Mas a música rock era também associada às drogas. Ginsbourg e
Timothy Leary, “o papa do LSD” considerava as drogas, entre outras o LSD, como um meio para a
consciência atingir o sobrenatural. Por este pappel do LSD, o músico que mais encarnava a intuição
sobrenatural era Jimmy Hendrix. Este, sob efeito de drogas fazia amor com a guitarra. Eric Clapton
dizia a propósito das drogas: “um músico sem drogas é a metade de um homem”. Leonard Cohen:
“a droga é para mim como um remédio”. 10

Um outro aspecto do rock, que é importante sublinhar é que, em vários músicos, o gosto excêntrico
e a lenda são primordiais. O grupo Jethro Tull emprega tanto em cena quanto em gravações as
legendas da idade média. O espetáculo que o grupo apresenta é sempre acompanhado de decorações
incríveis, que nos remontam no tempo através de suas “óperas rock” nos iniciando nas lendas e
mitos antigos.

Outros, para transmitir suas mensagens, vão ao ponto de tocar os arquétipos demoníacos. Alguns
entre eles se dão nome “satânico”como o grupo Black Sabbat, AC/DC, grupo punk cujas iniciais
“significam anticristo/cristo morto” (Anti-Christ/Christ Dead). O grupo Kiss significa: Kings in
Satan’s Service (reis a serviço de Satan). Isto não significa que eram satânicos no entanto, que eles
procuravam apropriar-se de uma potencia, de uma força sobrenatural. Ozzy Osbourne, do grupo
Black Sabbat, acreditava-se sob mediunidade quando escreveu uma canção:

Parece ser um médium por uma potência exterior a mim mesmo, eu espero
que não seja a força de quem eu suspeito: Satan. Existe uma força
sobrenatural que me utiliza para escrever o rock’n’roll. Espero que esta
força não seja do diabo, Satan, mas...”·”.

A Harmonia
9

Os “mestres” da música rock, grandes sacerdotes do templo do som, simbolizam em cena o local
palco da tragédia. Os espectadores que esperam impacientes para ver seus heróis são
frequentemente na expectativa de receber alguma coisa. Aos olhos dos expectadores, a cena onde se
desenvolve, o sacrifício sonoro representa o lugar onde o abismo primordial dá nascimento ao
mundo. Depois, ao som da música, a luz aparece. É o festim sonoro que se inicia. Uma harmonia se
instala em cumplicidade entre os músicos e a platéia. O ritmo das canções nos impulsiona
diretamente ao instante psicológico do instinto e da pulsão, com um pouco de droga nós viajamos
para a velocidade do som, descendo cada vez mais longe, até o momento onde a música e nós nos
tornamos uma só e única harmonia.

Em nossa cultura ruidosa - não só os aviões a jato acima de nossas cabeças ou dos enormes
caminhões sobre nossas estradas, mas também os ruídos psíquicos originados da falibilidade das
“instituições”, das convenções, da moral, tudo isto crescendo de uma civilização que perece na
cultura do ruído, parece que só podemos encontrar a paz no meio de um fragor ainda maior, no qual
se cria um som particular e uma possibilidade nova e maior de comunicação.”11

Conclusões

Nesta pesquisa, nós dedicamos o primeiro capítulos a história do rock e à sua evolução. Nós
aprendemos que a música rock possui uma linguagem tipicamente adaptada à juventude
“iniciada”ao mundo do rítmico. Sua evolução é paralela à emancipação das minorias étnicas. Esta
música parece bem ser nascida de uma síntese entre a música branca, a música negara e outras
minorias étnicas.

Este amálgama de culturas associadas ao jazz-rock é que fez deste uma verdadeira revolução
durante os anos 60. Somente nos anos 70 que o rock ocidental tornou-se um porta-voz do
movimento underground. Os músicos se politizaram, as canções exigiram: o eco da juventude
ocidental. O rock passa em 10 anos, de uma música de “iniciados” a uma música de contestação
social. Depois da contestação, eles descobrem o psicodélicismo. Os Beatles introduzem no mercado
sua célebre “Lucy in the Sky with diamond” que é um elogio ao LSD.

No entanto, este movimento se acaba tão rapidamente quanto viu o dia. Era preciso encontrar um
outro meio para legitimar o papel da música. Este meio era belo e bem atual, escondido nos acordes
dos músicos dos mitos. George Harrison foi um dos primeiros a dar à sua música um aspecto
mítico. Para seus fãs, a cítara de George escondia segredos perturbadores.

O fascínio pelo sobrenatural não se dá unicamente pelo seu nascimento nos anos 70. Os Beatles
bem antes, à moda mística, declararam durante um concerto: “Nós somos mais célebres que Cristo”.
Em minha opinião, eles tinham razão. Os Beatles deram vida a uma nova “religião” que nos anos 70
se exprimiria pela música “Planante”.

A acústica torna-se fundamental. A escola alemã introduz o sintetizador, que é na realidade um


computador para o som. Graças a esta tecnologia, tenta-se harmonizar os barulhos do universo para
fazer som, e dele música. Os músicos querem encher o vazio primordial dominando a força
criadora. O barulho faz dos músicos intermediários entre o desconhecido e o conhecido.

O rock se orienta, com estas tecnologias, em direção a uma música espiritualista colorida de mistos.
Em discos ou em cenas, os sons e as luzes devem tocar as raízes do nosso inconsciente coletivo. O
grupo Led Zeppelin, dentro dos envelopes dos discos e nos seus espetáculos, criava uma decoração
10
mística. Os músicos convertiam-se em trovadores da idade média e derramam uma mensagem
esotérica. Com a música “Stars way to heaven” (Escadarias para o Paraíso), os Led Zeppelin
servem-se de imagens puramente esotéricas para revelar a ascensão aos mistérios do universo.

“Há uma senhora que acredita


Que tudo o que brilha é ouro
E ela está comprando uma escadaria para o paraíso
Quando chega lá ela percebe
Se as lojas estiverem todas fechadas
Com uma palavra ela consegue o que veio buscar
E ela está comprando uma escadaria para o paraíso

Há um cartaz na parede
Mas ela quer ter certeza
Porque você sabe que às vezes as palavras
têm duplo sentido
Em uma árvore a beira do riacho
Há um rouxinol que canta
Às vezes todos os nossos esforços são em vão

Isto me faz pensar


Isto me faz pensar

Há algo que sinto


Quando olho para o oeste
E meu espírito chora para partir
Em meus pensamentos tenho visto
Anéis de fumaça atravessando as árvores
E as vozes daqueles que ficam parados olhando
Isto me faz pensar
Isto realmente me faz pensar

E um sussurro avisa que cedo


Se todos entoarmos a canção
O flautista nos levará à razão
E um novo dia irá nascer
Para aqueles que suportarem
E a floresta irá ecoar gargalhadas

Se há um alvoroço em sua horta


Não fique assustada
É apenas limpeza de primavera da rainha de maio
Sim, há dois caminhos que você pode seguir
Mas na longa estrada
Há sempre tempo de mudar o caminho que você segue
E isso me faz pensar

Sua cabeça lateja e não vai parar


Caso você não saiba
O flautista te chama para se juntar a ele
Querida senhora, pode ouvir o vento soprar?
E você sabe
11
Sua escadaria repousa no vento sussurrante

E enquanto corremos soltos pela estrada


Nossas sombras mais altas que nossas almas
Lá caminha uma senhora que todos conhecemos
Que brilha luz branca e quer mostrar
Como tudo ainda vira ouro
E se você ouvir com atenção
Ao menos a canção irá chegar a você
Quando todos são um e um é o todo
Ser uma rocha e não rolar

E ela está comprando uma escadaria para o paraíso....”12

Encontra-se este gênero de letra em quase todos os grupos “planantes”. Eu escolhi como citação a
canção de Led Zeppelin. “Stars way to heaven” porque esta canção encerra toda uma mitologia do
sobrenatural. Ela nos recorda os arquétipos profundos do nosso inconsciente. Esta canção apresenta
uma enorme dificuldade de entendimento pois fala por grupo diz eles serviram de métodos
“subliminares”.

Após ter comparado a música rock e as mitologias “primitivas” sobre o papel da música, eu estou
ainda mais convencido de que a música rock com seu ritmo e harmonias tocam nas raízes míticas
escondidas na profundeza humana. O rock e seus músicos foram mais que uma simples música de
moda. Ela é o resultado de uma sociedade em falência moral, nos seus valores e suas utopias. É esta
falência de valores, que fez dos músicos heróis civilizadores enviados dos deuses para semear a
harmonia no seio do qual se encontra o mundo.

Para falar nos termos de Pierre Boudot, “o rock soube perceber o que há de
trágico em nossa época e tentar fazer disto ternura”., graças à suas novas
harmonias.

Tradução: S. Kavinsky
Brasília, maio 2010
Original: Le Rock et ses Origines
Mythiques de Joseph Antoine De
Gerome

Citações Bibliográficas
1

1. Pierre Boudot: Filósofo, Encontro, em 29 de novembro de 1983.

2. François Roy: Dix ans de rock, Petite Aurore Ed. Montreal, 1977. Page. 2.

3. Eric Burton, Montrey (1967) apud, Raoul Hoffman. Rock babies. 25 ans de Pop Musique. Seuil Ed.
Jean Marie Le Luc. 1978. Page 100

3
Jean- Marie Le Luc. Les Nouveaux prophètes, Buché Ed./Chast Didier 3eme ed. Chastel Didier de
Paige. Paris 1978. Page 14
5. Ibidem page 14
4

5
Jean-Réginbald1 o.s.s.t.; Le Rock in Roll Saint Raphael Ed. 1983, page 24.
6

7
La course autour du monde, le 5 octobre 1983.

8
Marius Schneiier: Encyclopédie de la Pléiade, Histoire de la nusique I Gallinard Ed. 1960, page
192.

9
Op. Cit.: Rock babies, page 26.

10
0p.Cit. Rock in Roll, page 18.

11
Op. Cit. page 18

12
Op. Cit. page 19

13. Op.Cit.: Rock Babies, page 124

14. Op.Cit.: Rock Babies, page 26

15. Op.Cit.: Rock Babies, page 7

16. Op.Cit.: Rock in Roll Page 50

Você também pode gostar