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—— A ENUNCIAGAO : PORNOGRAFICA 1. ExposicAo £ AFETOS PARA U possamos falar de escrita pornografica, duas condi- 0 des minimas devem ser reunidas: {a) O texto deve restituir a dimensdo configuracional da cena. Com efeito, é necessério que o leitor consiga representar para si mesmo, visualizar exatamente as operagdes dos ato- res: “O objetivo é a total visibilidade do ato sexual"'. Os rela- tos pornograficos buscam pér em cena séries de “posicdes", ou até estabelecer listas delas; a enunciacao deve ser carregada de afetos euféricos atribui- dos a uma ou varias consciéncias, que podem ser atores ou (b testemunhas. ' M. Marzano, Malaise dans la sexualité. Le pidge de la pornographie. Paris: JC. Lattés, 2006, p. 67. © pINCURSO WoRNOGRAFICO ZO DOMINIQUE AUINGUENEAL A reuniaio dessas duas condigdes nao é obrigatoria. & perfeita- mente possivel mostrar os afetos de uma consciéncia sem descrever as posi¢des que estdo ligadas a eles, ou, ao contrario, mostrar as posi¢oes sem os afetos aos quais elas se associam: a descricAo de uma posigao nao 6, em si, pornografica, como 0 mostra a leitura do Kama Sutra. A priori, as sequéncias pornogrficas podem se dividir em trés conjuntos: aquelas em que o afeto é predominante, aquelas em que a dimensdo configuracional tem a primazia, por fim, aquelas em que é instaurado um equilibrio entre os dois. E esse tiltimo conjunto que constitui a norma, a meta que deve ser buscada por uma sequéncia pornografica bem-sucedida Vejamos um exemplo de texto no qual os afetos so relegados a segundo plano: Uma vez, 0 banqueiro queria ficar no meio e meter no meu cu, enquan- to 0 jovem metia no traseiro dele; uma vez, com ele sentado em uma cadeira, eu me acomodava sobre suas coxas, e ele metia no meu cu, ¢ 0 rapaz ficava de pé entre minhas coxas e metia na minha buceta; e 0 amigo dele ficava manipulando a bunda do rapaz; era assim que nés trepavamos?. Este texto, que se inclina para o didatismo, descreve uma espécie de maquina de produzir prazer, mas relega a expressdio desse prazer ao pano de fundo. Ele é forgosamente escrito na primeira pessoa do singular, ndo mostra afeto; vé-se claramente a preocupagao de orde- nar um quadro que o ultrapasse, Isso no surpreende em uma obra que circula nos meios da prostituigdo e que se encerra com uma mi- nuciosa descrigao de 44 posigdes sexuais. O fato de o relato resumir acontecimentos passados aumenta o distanciamento. Mesmo assim, ha uma assimetria entre as duas restricdes: sem a exposicao das posi¢des, nado pode haver sequéncia pornografica, de modo algum; por sinal, é isso o que constitui, de certa maneira, a ima- gem caracteristica do pornografico em comparacao com outros modos de representacdo da sexualidade. Mas se houver dominancia do afeto, * Dialogo ai Giulia e di Madatena, op. cit., p. 95-96. earttuto SZ] AeNuNengAo ronnocnarien € todo © sistema pornografico que se desfaz. Uma escritora como F. Rey € geralmente classificada como “erética”, em vez de “pornogréfica’ porque em seus textos dominam os afetos e, sobretudo, porque nao hi relacdéo imediata entre sua intensidade e a natureza da configuragéo sexual a qual cles estdo associados. Por exemplo, em Des Camions de tendresse ["Caminhées de ternura"], a narradora evoca a emogaio inten- sa que experimenta ao dangar com dois amigos homossexuais: A misica me provoca, me eletriza e, atrés de mim, 0 corpo sarado de Mare irra to sob minhas omoplatas sua barriga musculosa, a fivela de seu cinto contra minha coluna vertebral e, na altura de minha cintura, a proemi- néncia inocente de sua braguilha, que eu gostaria de ver explodindo... Me lembro dele ontem a noite, de seu magnifico caralho procurando Tristan, achando-o, forgando-o.,, Ah! Eu me deixaria possuir do mesmo modo, se ele quisesse... Entendo perfeitamente por que eles vivem embalados pela mitisica, os dois. Trata-se de um verdadeiro principio de cumplicidade. A harmo- nia, no sentido etimol6gico do termo, Dizem que isso modera os costu- mes? Os deles sao de uma mansidao que provocaria risos em mais de um cretino, Sem deixar, as vezes, de serem bem rudes, Agora, méos diferentes esto pousadas em minhas ancas. Abro 0s olhos. Tristan esta diante de mim, se balangando também, ritmadamente... Até hoje, eu nunca percebera a felicidade de uma maneira téo material, téo tangivel, to ingénua. Filosofia... Um pedago de presunto é feliz quando est no meio do sanduiche que ele recheia? Sinto a tentagao de dizer que sim..." um calor de fornalha. Minhas costas o decifram, eu sin- Aqui, a énfase esté na mtisica na qual se banha a cena e nao na configuragéio sexual, que permanece muito fluida. A histéria chega a ser interrompida por uma comparacao digressiva e ltidica com o san- duiche. Sao as emogées da narradora que servem de fio condutor, ¢ nao ‘a construgao de um quadro, Propriamente falando, nao podemos de- tectar aqui cena pornogréfica: a danca nao desemboca em uma série de agées que levam a um orgasmo em regra, que estruturaria o episédio. F, Rey, Des Camions de tendresse, Paris 1989), p. 97-98. Jo]. Pauvert e La Musardine, 1996 (1! ed. opucunso roRNOGRAFICO “ZZ> DOMINIQUE MAINGVENEAU ‘A imensa maioria das sequéncias pornograficas buscam equili- brar-se entre exposicdo e afetos. 'Tem-se dois grandes procedimentos para chegar a isso. © procedimento mais elementar é a simples justaposicao de uma passagem que permite ver uma operacdo e de uma passagem que exprime os afetos: Eu desabotoara sua cueca e batia punheta com uma mao, enquanto acariciava por instinto 0 saco do outro. Ele gritava de prazer: “Deusal... Prostituta sagradal... Acaricia meu saco! Oh! Oh! Que delicial... Gos- tosal... Putal... Vadial.., Divindade!... Vou gozar... vem!" Quando ouvi isso, engoli o caralhao, espremendo-o entre a lingua e o palato*. Os enunciados no imperfeito e no passado simples atribuidos 4 narradora, situados no comego e no fim da passagem, descrevem uma série de operagdes. Eles enquadram o discurso direto de um perso- nagem que exprime violentamente suas emogées. A descontinuidade entre os dois planos de enunciagao é, porém, relativamente atenuada pela utilizagdo no relato de agdes de um léxico fortemente marcado pela subjetividade: "bater punheta", "saco", "caralhéo", “espremendo” O outro procedimento consiste em integrar os afetos na exposigao. Essa integracao pode ser feita por diversos procedimentos. Por exemplo, pode haver integracdo das operagdes no discurso direto de um ator. No extrato a seguir, um dos atores comenta e orienta as acdes em curso; desse modo, as operagdes sao facilmente visualizaveis, mas elas sao reportadas a consciéncia de um personagem particularmente excitado: Vamos, deusa, recomecou Traitdamour, imagine que cabe a vocé fazer trés quartos da obra... Mexa-se!... Bom... Ah! Isso é que é amizade e vocé mexe 0 cu como uma princesa... Vamos, ancas macias!... Com sua bucetinha acetinada, vocé leva seu macho ao terceiro céul... Roide, meu senhor! Sirva-se... Sua linda montaria vai como uma égua barbo... Gzee... gzee... Uma chicotada... Ah! Que corcoveios! Palavra de hon- ra! Ela despeja... Esporeie duplamente! Como ela dal... Vou acariciar + LAnti-fustine, p. 178-176. CAPITULO S "7B A ENUNCIAGAO PORNOGRAFICA suas bolas para vocé corresponder! Vai gozar? Que chave de cul... que suspiros!... Ela vai gozar de novol...’ Mas a situagdio mais comum é aquela em que hé a integragao dos afe- tos na propria descricao das operacées. Vejamos, a seguir, um exemplo, no qual é essencialmente a escolha de um léxico carregado de subjetividade ("bolas", "buraco do cu", "fodedor’...} que permite exprimir os afetos. Lavou-se 0 caralho monstruoso; duas ou trés putas sustentaram Vitnégre, uma de cada lado, oferecendo-lhe seus peitos; Rosemauve lhe acariciou as bolas e 0 buraco do cu; Traitdamour estendeu-se no chao, de costas, por baixo de minha menina ajoelhada, e passou a fodé-la; Mile. Linguet beijou cinco a seis vezes o grande caralho, correspondendo aos movi- mentos de seu fodedor. Quando estava para gozar, ela engoliu, fazendo ir e vir 0 enorme caralho da beira de seus labios de coral ao fundo de sua garganta acetinada. Gozando, ela mordeu. 2. UMA EUFORIA NECESSARIA Esclarecemos acima que devia se tratar de afetos "euforicos", Esse é um esclarecimento necessario. Com efeito, basta que a cena esteja carregada de afetos negativos para que o dispositive pornogra- fico gire em falso. 6 0 que acontece, por exemplo, no romance de C. Breillat, que conta uma espécie de anti-iniciagaéo de uma adolescen- te: apesar de suas experiéncias sexuais, ela nao alcanca o desejo. As iiltimas palavras do livro sao significativas disso: “Nao ha nada que me diga respeito. Nada” (p. 247). Algumas sequéncias poderiam ser pornograficas, se os afetos fossem euféricos. Maurice sentou-se sobre mim, com seu barrig&o bronzeado cheio de dobras e me aperta entre suas coxas exultando horrivelmente, tipo um garoto que agora vai fazer coisas sérias! Dissimuladamente, com sua LAntiJustine, p. 116. © LAnticjustine, p. 218. SCURSO PORNOGRAFICO ZA) DOMINIQUE AAINGUENEAU méo direita, por tras, ele tenta tirar minha calcinha pelos pés, puxando como um surdo. E como nem sempre a forca é a solugdo, cle brocha. Seu sexo, que poderfamos chamar de molusco, como esses tipos de mariscos baratos, meio repugnantes, mas deliciosos quando sao comidos depois de extir- pados com uma agulha — Porra, 0 que vocé esta fazendo? — JAbrincamos o suficiente, é 0 que diz o idiota, conseguindo arrancar minha calcinha depois de ter brochado completamente” Uma passagem dessas subverte nitidamente o dispositive porno- grafico. O que predomina é o cardter distanciado, até agressivo, do olhar. Temos claramente descricdo de operacées e focalizacdo sobre uma consciéncia, mas os afetos so negativos e é o fracasso que & mostrad : ndo se estabelece a menor cooperacao entre o homem e a mulher. Contrariamente As regras da pornografia canénica, um dos parceiros toma uma iniciativa — no caso, 0 homem —, mas nao ob- tém a menor resposta, para imenso prejuizo dos dois participantes. Poderiamos, entdo, nos indagar por que, em um texto como Os in- fortunios da virtude, do marqués de Sade, no qual a narradora manifesta sua rejeigdo aos atos que os homens a obrigam a fazer, 0 dispositivo pornografico esta pelo menos preservado. Ao que parece, estariamos na mesma situacdo que temos em C. Breillat, visto que 0 relato 6 conduzi- do pela vitima e segundo seu ponto de vista. O exame do texto mostra que as coisas sdo mais complicadas. Analisemos a seguinte passagem: Antonin me agarra com um braco seco e nervoso, e entremeando suas frases e suas ages com juramentos aterradores, em dois minutos, faz minhas roupas pularem e me expde nua aos olhos da assembleia. — Eis aqui uma bela criatura, diz Jérome, que o convento me esmague se, em trinta anos, eu tiver visto uma mais bela. — Um momento, diz 0 guardiao, ponhamos um pouco de ordem em nossos procedimentos: caros amigos, vocés conhecem nossas formulas de recepcdo; que ela seja submetida a todas, sem excecao de nenhuma, C. Breillat, 36 filletie. Paris: Carrere, 1987, p. 230, CANTO JSP A ENUNCIAGAD PORNOGRAFIC que durante esse tempo, as trés outras mulheres fiquem em torno de n6s para atender a nossas necessidades ou para excité-las. Imediatamente um circulo se forma, sou levada para o meio, e ali, durante mais de duas horas, sou examinada, avaliada, apalpada por aqueles quatro libertinos, experimentando a cada vez, de cada um de- les, clogios ou criticas. A senhora me permitiré, madame, diz nossa bela prisioneira enrubescendo prodigiosamente aqui, poupd-la de al- guns dos pormenores obscenos que se observaram nessa ceriménia’. Aqui © dispositive pornogrdfico esta preservado porque a narra- dora nao é, apesar das aparéncias, a referéncia tiltima dos afetos. A narracao esté organizada de modo a restituir 0 ponto de vista dos atores que organizam a exposicao visando sua prépria conveniéncia. Encontramos, de maneira desviada, a légica da passagem do Roi des fées evocada anteriormente. A partir do momento em que 0 leitor pode adotar 0 ponto de vista de um sujeito desejante que manipula os ou- tros segundo sua conveniéncia, os afetos negativos da heroina contri- buem para 0 prazer sadico do agenciador. Os pormenores "obscenos" que ela se recusa a contar, dessa forma, infringindo aparentemente as regras da exposico pornogréfica, transformam-se em afetos positivos para aquele que adota o ponto de vista dos monges Itibricos. Contudo, nao se pode dizer que se tem aqui um modelo de eficacia pornografi- ca, diante da vaguidade da representagéio das operagoes. Além disso, os afetos mostrados pela escrita pornografica devem ser funcionais, restritos aos limites da atividade sexual. Bastaria que a complexidade efetiva dos sentimentos, ou muito simplesmente a dimensao passional, se esgueirasse para o dispositivo para que ele se tornasse ineficaz. Esse € um traco ressaltado por G. Molinié no elogio da pornografia com 0 qual ele conclui 0 livro que a ela dedica: Com o pornografico puro, nada de tratamento sentimental, nada de pulsao de destruigao, nada de tormentas de citime, nada de movimento de posse, nada de dinamismo de morte, nada de deterioragao por sus- peita — trés caracteristicas da paixao. Op. cit., p. 116-117. © DICUIGO FORNOGRIFICD JG _ DOMINIQUE MAINGUENTAL © pornografico é simplesmente corajoso, claro, limpido, em sua repeti- Gao indefinida de gestos, do sexo ao olhar: ele € luminoso*. O que, desse modo, se celebra € a utopia que a pornografia traz consigo. Mas esse sentimento de transparéncia que ela da a seus con- sumidores é resultado de todo um trabalho: se nao ha “nada disso...”, “nada daquilo...", € porque o texto se constréi metodicamente sobre certo ntimero de elisdes, dentre as quais a menos significativa nao é a da diferenga sexual. 3. UM FOCALIZADOR A consciéncia focalizadora é, em ultima instancia, 0 autor, que selecionou para seus leitores o que ele julga excitante. Mas nao é diretamente com o autor que o leitor se confronta, € com um nar- rador. E necessario que esse narrador esteja suficientemente distan- ciado para dispor as operacdes em um quadro, mas também que ele encontre solucdes para reduzir ao maximo a distancia, para restituir os afetos. A priori, 0 autor dispde de duas grandes opgdes: ou fazer do narrador o focalizador, ponto de vista que organiza a perspectiva e que é fonte dos afetos, ou fazer de um ou de varios personagens os} focalizadore(|s). Também se podem mesclar os dois procedimentos, se © narrador passar de seu préprio ponto de vista para o ponto de vista de um ou de varios personagens. De fato, é preciso levar em consideracao, em um texto determi- nado, 0 conjunto de parametros que poem em relacdo a situac&o de enunciacdo e a cena representada. Duas dimensées a levar em conta: a dimensao referencial e a dimensao modal do texto. Quando abordamos a dimensio referencial, observamos particularmente se 0 narrador € um ator, se os processos representados se passam simultaneamente a G. Molinié, De la pornographie. Paris: MIX, 2006, p. 76. eanerutoS ZZ APNUNCHEAG PORNOGKANICA enunciacdo, ou em um passado préximo, ou ainda se eles so contados por um narrador de fora da situagdo de enunciagdo. Nesse caso, siio antes de tudo as pessoas, os tempos verbais, os indicadores de tempo e de lugar que esto implicados. Ja na dimensao “modal”, levamos em conta sobretudo a distancia que se estabelece entre o enunciador ¢ 0 enunciado, as marcas de subjetividade (juizos de valor, emocées. Muitos relatos pornogréficos sao narrados por um “eu”, Mas essa aparente regularidade mascara, de fato, grandes disparidades. Um re- lato narrado por um “eu” que conte fatos anteriores pretérito perfeito com poucos afetos (6 0 caso do Diélogo de Jiilia e Madalena), é muito diferente de um relato narrado por um "eu" no presente do indicativo, que simule estar acompanhando a acéo que esta ocorrendo. Contudo, essas escolhas nao sao exclusivamente da alcada do autor. Qualquer que seja a época em que escreva, um autor de relato pornografico nao desenvolve técnicas narrativas particulares: ele se contenta em seguir as rotinas dominantes em sua época. E 0 caso de Anti-Justine, que faz alternar pretérito perfeito e pretérito imperfeito, do Didlogo de Jiilia e Madalena, que faz alternar 0 perfeito e 0 imperfeito. Do mesmo modo, se o presente narrativo invadiu os relatos pornogréficos recentes, isso se deu porque ele também invadiu 0 conjunto da produgdo romanesca. Nao podendo abordar 0 conjunto dos casos possiveis, vamos ape- nas evocar sinteticamente alguns exemplos significativos. As séries de devaneios, como na parte pornografica do Roi des fées, constituem um caso-limite. Efetivamente, ndo apenas o narra- dor €, ao mesmo tempo, 0 ator e 0 Gnico focalizador, como também © tempo verbal no presente é performativo: ele faz acontecer tudo 0 que afirma, Isso resolve de maneira particularmente econémica as restrigdes as quais o dispositivo pornografico esta submetido, O “eu" prescreve automaticamente ao leitor o ponto de vista que ele deve ocupar e, visto que se trata de devaneios, toda operacao dita € neces- sariamente carregada por uma subjetividade desejante. Portanto, nao ha necessidade de multiplicar as marcas de subjetividade, visto que 86 se expe aquilo que é desejado pelo tinico ator/voyeur/agenciador. opiscurso roRoGRAHCS "ZB BOMINIQUE MAINGUENEAY Eu a prendo a uma cadeira apertada as maos e comeco a acariciar seus seios bem tesos porque ela esté com as maos presas atrés do encosto e a masturba-la carinhosamente ela tenta fechar as pernas mas as reabre automaticamente porque ela comeca a se excitar mesmo eu a chupo também precisa ver depois reabro minha braguilha e enfio meu sexo em sua boca". © texto evoca discretamente o caréter fantasmatico dessa enun- ciacao, introduzindo uma glosa na qual ela se comenta a si mesmo ("precisa ver' desse modo, o leitor nfo pode ignorar que a cena exprime os desejos de um agenciador todo-pederoso, cujo ponto de vista ele € forcado a adotar. Mas podemos obter um efeito préximo a 3" pessoa, por menos que 0 texto mostre que, na realidade, ele projeta diretamente as fan- tasias do narrador. E 0 que vemos em LiAmie de G. de Saint-Avit. Vejamos 0 inicio do relato intitulado La cuisine ("A cozinha"): © amante de La alcanca na cozinha, Vestida com uma blusa que vai até os joclhos, ela esté de pé, encostada na mesa, preparando alguns pratos. Ele se aproxima dela, apoia-se em suas costas ¢ passa as méos em seus seios. Levantando wm pouco mais a blusa, ele Ihe acaricia o yentre e os seios. Ela continua suas atividades, ¢ ele sente sua vagina se intumescer. Depois, ela passa a mio para trés de si e desabotoa a braguilha que ainda esconde 0 sexo que ja est4 duro. Fla pega o cacete e lhe bate punheta enquanto seu amante continua a acaricid-la’'. © cardter abstrato dos designadores dos dois protagonistas ("o amante", "L") permite ao leitor ocupar mi facilmente lugar do su- jeito focalizador, aquele que vé a mulher o tempo de costas. Como o quadro é o de uma fantasia, um enunciado como "L sente sua vagina se intumescer" nao restitui o ponto de vista de L, mas é interpretado sobretudo como uma decisao daquele que esta fantasiando: eu decido que L sente sua vagina se intumescendo. Le Roi des fées, op. cit., p. 111-112. Op. eit., p. 60. canivulo SZ) ALNUNCIAGAO PoRNOGRAFICA Para medir 0 carter fortemente pornografico desses textos, basta comparé-lo a uma fantasia feminina extraida de Vénus erdtica, livro cuja autora, é preciso lembrar, pensava tratar-se de um titulo parcial- mente pornografico: Esse homem vai me despir lentamente, uma pega atras da outra. Isso me dara tempo de senti-lo, de sentir suas maos em mim, Ele come- cara tirando meu cinto, me tomara pela cintura com as duas maos, dizendo: Depois, ele desabotoaré meu chemisier bem mansamente, e eu senti- “Que cinturinha vocé tem, téo bem desenhada, téo final", rei suas maos abrindo cada botaéo, tocando meus seios mais e mais, até que eles despontem sob a blusa aberta; entdo, ele faré amor com eles, mamando no bico como um bebé, me arranhando um pouco com seus dentes, Eu 0 sentirei recobrindo todo 0 meu corpo, liberando cada nervo teso até o abandono total, Ele perdera a paciéncia ao subir minha saia, rasgando-a um pouco. Seu desejo o tornaré mais ¢ mais violento. Ble deixaré acesa a luz, Continuara a me olhar, ardendo em desejo, admirando-me, me adorando, aquecendo meu corpo com suas caricias, aguardando que eu desperte completamente, até na menor particula de meu corpo". Perceberemos aqui duas caracteristicas: a importancia dada a lentidao, a erotizacao do corpo em seu conjunto e sua valorizacao. O parceiro masculino 6 chamado a dizer sua unicidade e sua perfeicao. A diferenca entre os tempos verbais empregados também chama a atencado: 0 texto de Chodolenko esté no presente e visa a uma per- formatividade absoluta de um sujeito onipotente; em contrapartida, o futuro simples preserva uma descontinuidade irredutivel com a si- tuacdo de enunciagao: o enunciador assume a distancia entre sua situacao atual e a situacdo fantasiada. Contrariamente ao sistema enunciativo estabelecido por Le Roi des fées, encontramos sequéncias pornograficas nas quais um narrador invistvel mostra os atos dos atores em terceira pessoa, com verbos no pretérito perfeito ou imperfeito. Nao se trata, entao, de fantasias dire- Venus erotica, "Lilith", p. 67-68. fo piscunso roRNOGRAtICO BO DOMINIQUE MAINGUENFAU tamente expressas. O fato de o narrador e 0 personagem focalizador se- rem distintos apresenta vantagens para a exposicao das operagoes, mas torna mais indireta a expressio da subjetividade. Nesse caso, € preciso que ele, de certo modo, compense essa distancia enunciativa por diver- gos meios, O narrador dispée, a priori, de varias possibilidades: (a) ele pode nao privilegiar nenhum ator da cena, circular entre todos, retornando em alguns momentos a uma posicao de ex- terioridade; (b) ele pode privilegiar um; (c} ele pode se contentar com uma visio do exterior € nao contar com nenhum focalizador, No texto a seguir, a solugdo (a) foi a escolhida: Bla acabou perdendo o controle e se ajoelhou diante dele, na altura do sexo erguido, Mas nao o tocou. Contentou-se em contemplé-lo ¢ mur murou: "Que lindo!” Ble ficou visivelmente emocionado com isso. Seu sexo ficou ainda mais altivo de prazer. Ela se aproximou ainda mais — quase tocando-o com sua boca —, mas, outra vez, contentou-se em dizer: “Que lindo!" como ele nem se movia, ela se aproximou ainda mais, abriu doce- mente o8 labios e, delicadamente, muito delicadamente, passou a lin- gua pela glande. Ele ficou imével. Ele continuava a olhar seu rosto € maneira com que sua lingua hesitava entre seus labios antes de tocar com dogura a extremidade de seu sexo. Ela o lambia docemente, com a delicadeza de um gato, depois ela to- mou tm pedago dele em sua boca e fechou os labios. Ele tremia!’. ‘A vantagem de um relato desse tipo, que adota um modo classico de narracao (3° pessoa, pretérito perfeito/imperfeito), é que ele permite ao leitor circular entre o ponto de vista de um espectador externo ¢ 0 ponto de vista de um ou de outro participante. fi claro que a simples WS Venus erotica, p. 75. canna SB) A ENUNCIAGAO rORNOGHATICA evocacéo de operacées sexuais é potencialmente excitante, mas 0 nar- rador deve fazer sentir o proprio desejo quando adota um ponto de vista externo. E esse 0 caso aqui. Quando se trata de exprimir os afetos dos atores, 0 narrador utiliza dois procedimentos distintos, mas conver- gentes: a mulher solta exclamagées, ¢ 0 homem se torna centro de per- cepeao, como se destaca na frase: “Ele continuava a olhar seu rosto", que indica retrospectivamente que o homem é 0 focalizador da descri- cdo precedente. O enunciado exclamativo: “Que lindo!" apresenta duas vantagens: faz reconhecer pela propria mulher aquilo que constitui o centro do dispositive masculino, a eregao, e dé acesso aos afetos de um personagem conforme as exigéncias da cooperagdo sexual. De maneira geral, a escrita pornogrdfica privilegia a exclamacio, por se tratar de um tipo de enunciagao que implica uma adesio do corpo do enunciador, que se apresenta como arrancada ao locutor pela intensidade do afeto, Mas a simples utilizagao, pelo narrador, de termos avaliativos positives, como é 0 caso no texto de Anais Nin ("docura", "docemente”, "delicadamente", "delicadeza"), é também de grande eficécia, na medida em que essas palavras podem ser reporta- das nao apenas aos dois parceiros, mas também a atmosfera na qual © conjunto da cena se banha. Em muitos aspectos, um procedimento comodo, para satisfazer mecanicamente as restrigées do dispositivo pornogréfico é fazer do narrador uma testemunha da cena, muito frequentemente um voyeur. Isso permite, ao mesmo tempo, atribuir uma referéncia subjetiva ao ponto de vista e arrumar um lugar para o leitor, que, de toda maneira, é situado na posigao de voyeur pelo dispositivo da leitura pornografi- ca, O ideal 6 quando 0 narrador esté na posigao de voyeur interessado, © que, sobretudo em um processo de iniciaco, é uma maneira de ser ator. Por exemplo, em O diéilogo de Jiilia e de Madalena, a primeira eta- pa da iniciagao da narradora, & época com 11 anos, é 0 voyeurismo: Achei a porta fechada, e ouvindo um ruido de fricco, olhando de certo lugar, vi Frédéric, meu primo, que estava sentado e que segurava seu onneunoronecsinics a vommate AAAINGUFINENO negocio reto nas maos € 0 manipulava; me assustando com aquilo, f- quei atenta ao que se passava. Ele, achando que nao estave sendo visto por ninguém, tendo se deitado estirado de costas © se apoiado na cadei- ra, segurava seu membro viril com a mao direita {.~1"* Em um texto como este, presume-se que © leitor extraia prazer nao tanto dos afetos expressos pela adolescente, que S80 inexistentes, mas do carater tendencioso da propria situagao de voyeurismo; uma jovem inocente (para @ época, uma garota de 11 anos nao € mais uma crianga de fato} espiando um rapaz Se masturbar. De todo modo, mesmo que nao haja uma situacao de voyeurismo, mesmo que nao haja ator focalizador, 0 narrador nao pode se apresentar verdadeiramente como completamente estranho ao mundo que ele d4 a ver. Ele adota a atitude de um »narrador-testemunha” , ‘ou seja, de al- guém que participa do mundo dos personagens representados, sem Ser um personagem. Entio, ele se situa entre © narrador externo € 0 Perso” nagem"®. Sua presenca Se manifesta particularmente nos fenémenos de “contaminagaio Jexical", quando 0 narrador utiliza as palavras que 0s per sonagens tém costume de empregar em determinado tipo de situacdo. 4, O VYOCABULARIO Efetivamente, 4 dimensao modal, em ‘um texto pornografico, esta ligada ao vocabulario mobilizado pelo narrador, O dominio da sexuali- dade, como todo dominio da atividade jaumana, circunscreve determi- nada area do léxico, aquela que serve para designar as partes do corpo eas operacées diretamente ligadas as atividades sexuais, B isso € tanto mais evidente no caso da literatura, pornografica, que, diferentemente da imagem fixa ou dinamica, tem de construir suas cenas Com palavras. % p. 59-60. 1s Bobre essa nogdo, ver D. Mainguencatt LLinguistique pour le texte literatre. Poris: ‘Armand Colin, 2005, p. 184 Cantruto SBR) A ENUNCIACAD PORNOGRAFICA Mas a literatura pornografica néo é um campo de atividade que langaria mao de um vocabulario especializado como é 0 caso da mar- cenaria, da caga a cavalo ou da informatica. Propriamente falando, ela nao utiliza uma terminologia, constituida de termos univocos, mas termos que recaem amplamente sob o dominio de tabus. Para aquilo que ela deve designar frequentemente existem varios termos concor- rentes, segundo o tipo de pratica em pauta; o "mesmo" 6rgao nao tem estatuto idéntico em um tratado de medicina e em uma atividade sexual, mesmo que esse tratado seja um volume de sexologia. Se a linguagem fosse apenas um simples instrumento de decalque neutro de uma “realidade" tinica, 0 vocabulario “tendencioso"” nao existiria. © vocabuldrio especializado das ciéncias médicas seria suficiente. Mas a literatura pornografica faz um uso extremamente parcimonioso do vocabulario médico, que implica uma relagdo com 0 corpo pouco compativel com a de seu préprio dispositivo. Termos como "cunilin- gua", “felacéo", "introdugao"... supdem uma posicéio de observador neutra dificilmente compativel com a atitude de um participante de cena pornografica. Bastaria substituir termos como “buceta”, “cacete", “caralho", “bater punheta’... por termos médicos para que se desvane- cesse boa parte dos afetos suscitados pelos textos pornograficos. Es- tes tiltimos nao se opdem a utilizacdio de termos de origem cientifica, desde que eles nao ostentem exageradamente sua pertinéncia a um vocabulario especializado. Nos textos pornograficos, um termo como “clitoris” podera muitas vezes ser objeto de abreviacao, "clito”, e sera empregado com "palavrées" (Ycacete", "xoxota", ‘comer 0 cu...) que, assim como a pornografia, tém um estatuto “atopico": de um lado, eles sao efetivamente utilizados e fazem parte do léxico (os dicionarios de lingua os registram, assim como os catdlogos das bibliotecas ficham os livros pornogréficos}, por outro, ndo “deveriam" ser empregados. Na escrita pornografica, nao se deve exceder a apreensao do corpo que uma subjetividade presa do desejo pode fazer. Com efeito, a por- rografia 86 designa no interior de sua prépria ordem, Todo e qualquer OvIScURSOPORVOGRAFICO Bde DOMINIQUE MAINGUENEAU 6rgdo que nao pode ser objeto de uma percepcdo imediata esta fora de seu alcance. Por isso, todo esclarecimento anatémico rigoroso é exclui- do. Estamos aqui no extremo oposto dos romances didaticos como os de Zola ow os de Jules Verne, que se esforcam para enriquecer considera- velmente o vocabulario de seus leitores. Mas isso nao significa dizer que a literatura pornogréfica nao tem valor didatico; mas é que esse valor €indireto. Com efeito, € por meio dessa literatura — mas também pela frequentacao de outras praticas verbais atépicas — que os locutores armazenam certo ntimero de palavras com as quais passam a ter fami- liaridade e que eles s6 poderdo utilizar em situagdes muito particulares. Em matéria de vocabuldrio tendencioso, uma das particulari- dades do universo pornografico € que ele estabelece como normal justamente 0 que é proibido na vida ordinaria. Consideremos, por exemplo, as duas passagens a seguir: ‘Traitdamour ficou com tesdo de novo, como um furibundo; ele avangou para cima dela. Coma o meu cu, por favor, meu senhor, Ihe diz ela, acho que isso me fara bem... — Goze, gritou o tipo. Vocé tem uma bu- ceta muito lasseada, e Ihe comeu 0 cu sem lubrificar. — Bu vou... gozar de novo, disse-Ihe ela, continuando a tocar siririca"®. Ha uma que tem esperma lhe correndo da boca ¢ toda a série com os mesmos 0s outros onde a moga toda vestida se pée o tipo em pelo sen- tado em uma cadeira a mesma onde a moga lambe ao mesmo tempo a buceta de sua colega 0 caralho do tipo que a fode ela segura 0 caralho ela tem também de bater punheta pra ele. [...|"” Para 0 leitor, a multiplicagao de termos marcados ("buceta", “bater punheta”, “caralho" particularmente claro no trecho extraido de Restif de la Bretonne, onde a expresso “comer o cu” encontra-se inserida em uma frase ("coma 0 ) tem como efeito tornar natural seu uso. E isso é meu cu, por favor, meu senhor") que, por sinal, respeita todas as nor- mas da civilidade. A licdo é clara: é necessério imaginar um mundo %6 LAnti-Justine, p. 144. "Le Roi des fees, p. 138. carte SBS A ENUNCIAGAG roRNOGRATICA no qual 0 uso de “comer o cu" seria tio natural quanto o de “dormir” ou o de "partir". Por tras disso se entrevé o sonho de poder exibir aber- tamente sua sexualidade em sociedade. Mas, ao mesmo tempo, esse efeito natural s6 é uma fonte de excitacéo porque é transgressor: se esse tipo de vocabulério fosse efetivamente utilizado na conversagao cotidiana, ele perderia seu poder de catarse e de estimulacdo sexuais. Contudo isso nado quer dizer que o eufemismo seja totalmente banido pela escrita pornografica. Em um contexto abertamente se- xual, o eufemismo tem como efeito, sobretudo, aumentar a excitagdo, se for utilizado de modo apropriado. E o mesmo principio do strip- tease, que aumenta a excitagdio com um jogo de ocultar ¢ de mostrar. © eufemismo partilha com a palavra tendenciosa © poder de marcar 0 desejo, mas o faz contornando-o. Compreendemos que Sade faca um uso profuso dele quando 0 personagem focalizador é uma vitima. Em Os infortinios da virtude, a infeliz Sophie relata as sevicias as quais os monges depravados a submetem: Ele [= Clément] me faz ajoelhar diante dele ¢ se mantém de pé; colado a mim nessa posigdo, suas paixdes pérfidas se exercem em um lugar que me impede, durante o sacrificio, de poder me lamentar de sua irregularidade. Jérome segue, seu templo é o de Rafact, mas cle nao penetra o santuario". A metafora para sacrilégio (sevicias sexuais = sacrificio religioso) permite encadear as designagées veladas. Em um primeiro nivel, essa eufemizacao generalizada pode ser justificada por uma preocupacao com a verossimilhanca: quando ela narra suas infelicidades, a vitima inocente nao usa um vocabulario tendencioso, que implicaria de sua parte uma cumplicidade com 0 mundo dos depravados. Esse € um pro- blema de ethos: Sophie deve mostrar sua inocéncia mediante seu modo de dizer, Mas, em um segundo nivel, esse véu eufemizante esta a servigo da excitacdo do leitor, que extrai prazer da distancia entre o referente ¢ T Sade, Les infortunes de la vertu, op. cit., p. 117-118. OPICINEO PORNOGRANCO BE vonmique maincueneau a designagiio; 0 caréter inocente, mostrado pelas designacées indiretas, reforea o prazer que existe em degradar o objeto desejado. ooo Em todos esses niveis, a escrita pornografica visa satisfazer, nos dois sentidos da palavra: exaustao do desejo, saturacéo de todas as aberturas possiveis do corpo. Essa satisfagao é atestada pelo orgasmo compartilhado, signo tangivel que marca a fronteira da cena e cons- titui a prova da plena validade — legitimidade e eficdcia — do dispo- sitivo pornografico. Trata-se também de uma escrita que, a imagem daquilo que ela mostra, da-se como desnudada, sem artificio engana- dor, que vai ao essencial. Ela pretende se desembaragar de todos os véus, permitir ver tudo. A metafora central do hard core (nticleo duro) € reveladora: a pornografia se vale do pressuposto de que podemos, eliminando progressivamente tudo 0 que seja obstaculo para o gesto e para o olhar, atingir o lugar onde se manteria a sexualidade. Na trama do relato pornografico, esse ntcleo central se materializa na "cena", que €, ao mesmo tempo, o lugar onde os corpos sao postos a nu € 0 lugar onde se manifesta e se satisfaz o desejo. Existe, portanto, um escalonamento e um jogo de espelhos entre o mundo representado e a enunciagao, entre o que € dito ¢ a maneira de dizé-lo: esses persona- gens estruturados por uma sexualidade falica, que desnudam e mani- pulam os corpos, sao instituidos por uma enunciacdo pornogréfica que pretende desnudar a linguagem, arrancar-lhe seus adornos intiteis. Desse modo, a enunciagao de cada cena reafirma que o desejo é homogéneo de um sexo a outro, que a sexualidade pode ser encerrada em fronteiras e oferecer solucdes yariiveis para todos, em todas as circunstancias, Evidentemente, de nada adianta objetar, como geral- mente se faz, que a sexualidade efetiva nao pode ser dominada e que, portanto, a pornografia é iluséria, porque é exatamente da negacao dessa realidade que se alimenta 0 consumo de pornografia.

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