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Aniversário da Revolução

Da coragem para fazer Abril

Este mês de Abril traz sempre à


memória a Revolução que
derrubou um regime e abriu o
coração de um povo. Os
militares de Abril, liderados
pelo capitão Salgueiro Maia que
“farto de quase 50 anos de
opressão, farto da
incompetência, farto de fabricar
carne para canhão… farto de
ajudar meia dúzia de glutões a
comer à conta do orçamento,
farto de lutar por causas
perdidas”1, tiveram a coragem
de dar um passo muito
significativo na história de
Portugal, levando atrás deles
toda uma nação. Ninguém
levantou um braço para
defender o regime deposto, o
que foi revelador da sua
delicada situação.

Logo após a Revolução e com a


queda do império defendido
pelo antigo regime, o país entra
num dos períodos mais agitados
da sua história contemporânea. Os governos sucedem-se a um ritmo vertiginoso, as
alterações em todas os pilares da sociedade são repentinas, os partidos políticos surgem
no cenário social, o povo reivindica, revolta-se, toda a gente vive ao sabor das emoções
do momento, tanto nas fábricas, como nas escolas e universidades. “Em apenas dois
anos Portugal sofreu a mais profunda mudança da sua história, não só do ponto de vista
do sistema político, mas também nos aspectos fundamentais das concepções, estruturas
e relações sociais e económicas. A independência dos territórios coloniais, ocorrida
entre Outubro de 1974 e Novembro de 1975 (com excepção de Macau e Timor),
consubstanciou a grande e decisiva mudança entre o Portugal anterior e posterior à
Revolução do 25 de Abril”.2

1
MAIA, Salgueiro “Capitão de Abril”, Ed itorial Notícias, Lisboa, 1994
2
MEDINA, João e Outros “História de Po rtugal”, Sape, A madora, s/d
Com a Revolução, a sociedade foi mudada por muitos impulsos e principalmente por
uma atitude forte de coragem, uma atitude de querer mudar e de ser parte activa nessa
mudança. Ninguém parecia querer ficar fora do processo revolucionário, todos se
interessavam pelo que se estava a passar e queriam deixar também a sua participação.
“Nada lhes passava ao lado, de nada se demitiam, em tudo tinham uma intervenção.
Havia confrontos diários, conflitos por causas incompatíveis”.3

Apesar da coragem demonstrada em épocas


anteriores, a sociedade actual parece ter-se
esquecido do significado dessa palavra e
antigos sentimentos de medo, ainda não
completamente banidos de uma sociedade
livre, continuam a existir por debaixo da pele
dos portugueses, como se os reflexos do
regime deitado abaixo com a Revolução de
Abril ainda estivessem vivos. José Gil,
filósofo, refere em entrevista ao jornal
Correio da Manhã, que “do ponto de vista
espiritual, da capacidade de ter força no
pensamento, da capacidade de autonomia, da
liberdade, nesses aspectos, Salazar teve uma
profunda acção mutiladora” e essa sensação
certamente não desapareceu só porque o
regime foi derrubado.

As novas gerações, já nascidas após o 25 de


Abril não deveriam ter recebido esta espécie
de código genético, por isso devem ter a
coragem de reivindicar e de construir o seu
próprio futuro, participando na sociedade que
é a sua, “e a abrir o microfone sem medo. Se
o descontentamento existe, é preciso falar nele. Se a crise é grave, é urgente assumi-la.
Se a corrupção campeia é imperativo que se reconheça que assim é” 4.

A.M. Santos Nabo


Abril 2005
3
XA VIER, Leonor “Tempo de Pa ixão”, Círculo de Leitores, s/l, 1999
4
CORREIA, Clara Pinto “Trinta Anos de Democracia – E Depois, Pronto”, Relógio de Água, Lisboa, 2004

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