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Parte I

Prefácio

Meus braços e joelhos me forçaram a uma posição defensiva. Eu estava na mais completa
escuridão. Não podia ver nada. Eu sabia que estava sendo seguido, mas estava tentando não
me mover. Sabia que se eu o fizesse, me transformaria.
Era isso que eu estava aqui para fazer. Me transformar na frente dos olhos dos meus inimigos.
Tinham armado para mim e eu era agora prisioneiro deles.
Pensei que já tivesse aprendido a controlar isso a essa altura. Mas eu estava errado, e meu
inimigo sabia disso muito bem. Sabia que eu era mais vulnerável enquanto lobisomem, porque
as mentes de todo o meu bando poderiam ser lidas de uma vez só. Minha mente licantropa
seria uma porta aberta para a destruição de todos nós. Era por isso que eles me queriam. Eu
era o Alpha. Eu era a chave para a sua vitória.
Eu lutei para controlar, mas isso estava me rasgando por dentro. Essa batalha comigo mesmo.
Eu esperei uma morte lenta e excruciante nas mãos da coisa mais cruel, mais terrível que nem
Alice poderia ter visto se aproximar. Algo poderoso o suficiente para bloquear todos os nossos
poderes. Algo que poderia destruir todos nós de uma vez só em uma fração de segundo.
O lobo dentro de mim seria o meu fim. O fim de todo o meu povo, assim como os vampiros.
Eu era uma bomba-relógio. Senti uma onda de adrenalina inflamando como ácido pelas
paredes das minhas veias. Vi as luzes na minha cabeça, as explosões em miniatura dos meus
neurônios atirando um milhão de milhas por segundo. Eu era instinto puro, uma besta pura,
pronto para lutar até mesmo à custa da minha própria vida. Não podia ver, mas eu sabia o que
estava atrás de mim. Não era um lobisomem, mas também não era um sugador de sangue.
Era algo muito mais poderoso. Um exercito inteiro nosso junto não poderia derrubá-lo. Algo que
nenhum clã que conhecíamos tinha visto antes em qualquer lugar do mundo. Nenhum vampiro
ou lobisomem sabia que tal coisa existisse de verdade. Que irônico. Nós pensamos que
éramos os únicos.
Escondendo-se dos sempre inocentes, sempre distraídos, olhos humanos. Todos os nossos
poderes juntos eram inúteis contra isso. De repente, senti algo se mexer, muito perto de mim,
quase me tocando. Todos os pelos do meu pescoço se arrepiaram. Não podia entender como
não tinha me transformado ainda. Eu tinha finalmente aprendido a controlar as
transformações?
Mas por que agora? Por que na hora da morte?

Capítulo 1 – Fogos De Artifícios Em La Push

Eu tenho tido o mesmo sonho por vários dias agora. Foi como um ciclo, se repetindo
infinitamente. Nunca nada mudava nele. Sempre acontecia tudo exatamente igual toda a vez
que eu sonhava isso.
Os mais velhos da Nação Quileutes nos alertavam sobre esse tipo de sonho. Diziam que
sonhos recorrentes não são sonhos. São visões místicas enviadas por nosso lobo ancestral,
normalmente para nos avisar de um perigo iminente.
Apenas os médicos eram capazes de entender essas visões. Todos na reserva eram muito
reservados se tivessem elas. Todos falávamos delas como se fossem coisas do passado, algo
que só nossos ancestrais experimentaram. Ninguém nunca admitiu ter visões místicas, por
medo de ser chamado de louco.
Estava numa situação bem difícil. Se o sonho continuasse se repetindo, eu teria que contar a
Sam sobre isso. Sam Uley seria a pessoa para perguntar se alguém não quisesse consultar os
curadores. Ele sabia tudo sobre os segredos místicos da Nação Quileute.
O único problema é o quão ferozmente que ele protege os conhecimentos sagrados. Ele estava
extremamente hesitante em discutir isso com alguém, até com os membros da matilha.
Seria difícil fazer com que Sam confiasse em mim o suficiente para revelar o que sabia. Sua
atitude mudou drasticamente desde o momento que ele soube que eu tive um imprinting por
Reneesme. Minha amizade com ele acabou naquele dia, exatamente cinco anos atrás.
Agora, ele é obrigado a confiar em mim como seu colega lobo, mas ele provavelmente não vai
confiar em mim como amigo novamente. Minha única chance é convencê-lo de que minha
visão pode ser, de fato, um aviso.
Como o alfa de minha matilha, eu carregava um grande fardo de responsabilidade de proteger
meu povo. Eu tentava ficar na frente do jogo quando o assunto era prevenir um possível
ataque. Por esse motivo, eu teria que engolir meu orgulho e pedir um conselho ao Sem.
Eu o peguei saindo da casa de Emily um pouco antes do anoitecer. Ele ficou surpreso ao me
ver quando abriu a porta e me viu parado ao lado do seu carro.
- Oi Sam, – eu resmunguei sob minha respiração, mal olhando para ele.
Ele coçou a cabeça e riu, depois, estava preste a falar alguma coisa, mas rapidamente mudou
de idéia. Emily veio ver o por que ele estava rindo.
Eu acenei para ela.

-Oi Emily.
- Oi Jake. Ela se despediu de Sam e fechou a porta.
Sam se dirigiu a mim, vagarosamente.
-O que está acontecendo?
- Precisamos conversar – eu fiz isso soar sério, mas não era necessário.
Sam sabia o que estava acontecendo. Era como se ele estivesse esperando que eu dissesse
pra ele. Ele se inclinou para mim, deliberando.
-Aqui não. – ele abriu a porta de seu carro e entrou.
Eu fiquei olhando hipnotizado por um momento. Olhar para o carro de Sam sempre me
desconcentrava. Era uma obra-prima. Ele mesmo o restaurou. Comprou por menos de mil
quando o achou todo batido em um ferro-velho.
Meu pai e eu rimos quando ele trouxe para casa no ano passado. Ele teve que empurrar o
carro para a garagem, por que ele nem tinha um motor. Ninguém acreditava que ele iria
conseguir consertá-lo.
Agora era uma beleza. Ele se assegurou que riria por último. Era um Thunderbird 1962,
transformado em um carro de corrida Hot-Rod. Ele tinha restaurado ele por dentro e por fora,
depois pintou de um azul-metálico. Mas o que eu mais invejava era a pintura de um petrel que
ele tinha customizado e retocado no capô.
Na lenda Quileute, o petrel era uma criatura mística conhecida por proteger nosso povo em
tempos de dificuldades. Sam esboçou um design básico dele em um papel. Era turquesa, e
suas asas iam para os lados. Ele pintou com uma tinta metálica no capô. Um pouco brilhante,
eu sei, mas eu queria ter pensado nisso antes dele.
Sam deve ter notado que eu estava babando sobre seu carro, porque ele sabia exatamente o
que dizer para me fazer parar com isso.
-Quer dar uma volta?
Meu queixo caiu enquanto meu corpo tremia por antecipação.
-Eu? – essa era nova.
-Vê alguém mais ao redor?-ele perguntou, escorregando para o banco do passageiro.
Ele não precisou dizer duas vezes. O momento que ele me atirou as chaves, eu às peguei no
ar e pulei dentro. Eu pressionei a embreagem, acelerei o motor, e o carro decolou em uma
impossível chama de velocidade. Talvez eu e Sam ainda fossemos amigos.
Quando atingi 110 o céu tinha se tornado escuro. Eu quase não podia ver a estrada à minha
frente. Mesmo no meio de julho, a estrada de Forks permanecia coberta com neblina.
O perigo me atraía como um imã; ele me seduzia. Eu contemplei a oportunidade de vencer a
morte e me senti em êxtase. Jogar com a minha vida foi a maior emoção de minha existência.
Eu sabia que era contraditório, mas me senti mais vivo quando a morte me perseguiu.
Eu não tinha medo de morrer, e dirigir rápido em condições ruins foi o meu jeito de mostrar
isso. Enquanto a praia passava por nós como um borrão, eu acelerava, vendo como a agulha
do acelerador ia alem de 100 milhas por hora.
Sam não tinha dito uma palavra desde que entramos no carro. Eu achei que ele fosse falar
antes, mas ele só ficou sentado lá, explodindo alguma música seriamente bizarra de uma
banda underground que ele tinha assistido ao vivo em Port Angeles. Foi a coisa mais estranha
que eu já tinha ouvido ¾ thrash metal com alternative Goth e um pouco de vocais de rap. Não é
o meu estilo, mas tolerável.
-Sam! – eu finalmente gritei.
Ele desligou o som e se virou para mim. Eu dei à ele uns segundos para me responder, mas
ele esperou em silêncio.
-Tem algo que eu preciso perguntar a você. ¾ e parei e estava prestes a continuar. Mas ele me
interrompeu.
- É a garota, não é?
Ele me pegou desprevenido. – Que garota?
-Aquela dos seus sonhos.
Sim, ele sabia sobre isso, tudo bem. Como eu imaginei.
- Você também a viu, não é?
Ele sorriu.
-Talvez.
Sua atitude indiferente me irritou, então, no calor do momento eu decidi testar a capacidade de
drifting do carro dele. Eu pisei no freio e desacelerei um pouco, em seguida virei o volante
ligeiramente para a direita, o suficiente para fazer o rabo do carro balançar. O carro inteiro
tremeu, os pneus traseiros travaram e cantaram, uma densa nuvem de fumaça branca nos
rondou. Nada mal para minha primeira tentativa, pesei orgulhoso.
Sam não levou isso numa boa.
- O que diabos você pensa que está fazendo?
- Como você sabe da garota? – exigi.
- Encosta o carro -Ele estava furioso.
Mas eu fiz exatamente o contrario. Eu acelerei.
- Quero respostas, Sam. Preciso saber o que está acontecendo. – Eu odiei fazer isso com ele,
mas estava desesperado. Se batêssemos nessa velocidade, provavelmente levaríamos um
bom tempo para nos recuperarmos, como toda a recuperação super-rápida e tal.
Ele estava com tanta raiva, tão agitado que eu achei que ele pudesse se transformar ali,
naquele momento. Mas ele não fez isso. Ao contrario, ele fechou os olhos e foi acalmando a
respiração. Inclinando-se no seu acento, entrou em um estado de meditação profunda.
Nunca tinha visto Sam fazer esse tipo de coisa antes. O jeito que estava dirigindo teria levado
até o lobisomem mais controlado ao frenesi. Obviamente, minha tentativa de assustá-lo para
que me contasse o que sabia tinha falhado. Teria que bolar uma estratégia melhor.
Suspirando com resignação, eu em acalmei e me inclinei para o mais perto da praia. Sam
permaneceu em transe e ignorou o barulho da porta, quando a abri para sair.
Senti a brisa fria do oceano no meu rosto, enquanto eu dava a volta para a praia, meus
pensamentos correndo. A lua crescente estava perto da água, emanando um brilho prateado
através da neblina que à envolvia. Noite perfeita para ir à caça, pensei. Não tínhamos tido
muita ação ultimamente, mas eu tinha o pressentimento de que não ficaria assim por muito
tempo.
Não tinha andado mais que uns metros quando ouvi a voz de Sam bem atrás de mim.
-Ela é um vampiro – ele disse.
Um pouco assustado, parei de andar e me virei para achá-lo a apenas uns centímetros de
mim. Ele tinha o estúpido hábito de ficar na minha cara sempre que queria me assustar. Nunca
funcionava, mas me incomodava até o fim.
Eu me inclinei para trás como um reflexo e quase perdi o equilíbrio. Mas o recuperei
rapidamente, inflamado pelo desejo repentino de acabar com ele. Firmei-me jogando meu
corpo para frente, então, comecei a insultá-lo, rosnando baixo com minha garganta, pronto para
atacar.
Sam ignorou minha reação com uma fria indiferença e prosseguiu.
- Ela não é o tipo de vampiro com que estamos acostumados a lidar. Ela é um híbrido, parte
vampiro, parte outra coisa.
Eu senti um sutil vacilo quando ele terminou de falar, o que me fez perceber que ele estava tão
aterrorizado quanto eu.
Senti-me envergonhado, tentando lutar quando ele estava prestes a me dar as informações de
que precisava. Recompus-me e reconheci o que ele estava dizendo.
- Você quer dizer como Renesmee? – perguntei.
Ele fez que não com a cabeça.
- Renesmee é meio humana. A maioria dos vampiros nasceu humana e depois mudaram. Mas
essa garota ¾ ele pausou, engolindo em seco – essa garota não nada humana. Nunca foi.
- Bem, ela é mistura com o que então? – perguntei impacientemente.
- Eu não sei o que é a outra metade dela – Sam respondeu com frustração – mas eu pretendo
descobrir.
- Como?
- Primeiro precisamos descobrir o que ela quer de nós – ele anunciou, um tom de urgência em
sua voz.
Eu senti um alivio quando se incluiu no objetivo. Isso podia ser bem mais fácil do que pensei.
-Tudo bem, o que faremos?
Ele não hesitou.Eu podia dizer que ele esteve pensando nesta resposta por um tempo.
- Nós iremos aos Guerreiros Espíritos.
Quase fiquei mudo com o choque. Meu alivio tinha sido prematuro e tinha se desfeito
rapidamente. Ele não podia estar falando sério, estremeci. Como ele se atrevia a considerar
esta possibilidade?
Mas meu espanto pareceu só aumentar sua determinação.
- Olha Jake, tem um monte de coisas que os anciões não o contam, até você estar pronto.
Eu tossi involuntariamente, depois assumi meu tom serio.
- Se você está sugerindo que nós fazemos viagens espíritas, você está seriamente desiludido,
cara. Eu nunca vou deixá-lo fazer isso, vou avisar aos anciões.
- É o único jeito de descobrir o que a garota quer fazer com a gente.- Sam continuou sem ser
afetado pela minha resistência.
- Temos que ir para cima das montanhas, como nossos ancestrais fizeram.
Não o deixei prosseguir.
- É proibido – declarei firmemente.
A prática de viagem espírita foi banida muitos anos antes por nossos ancestrais, pois era
extremamente perigoso. Envolvia descansar o corpo em algum canto secreto da floresta e
deixar o espírito viajar sozinho, sem o corpo.
Teha Aki, o último espírito guerreiro, tinha proibido esta prática depois de seu corpo ter sido
roubado enquanto seu espírito viajava.
Sam interrompeu meus pensamentos.
- Essa criatura sobre humana, esse monstro, está se infiltrando em nossos sonhos Jake. Você
realmente acha que é uma coincidência que eu e você estejamos tendo exatamente o mesmo
sonho, na mesma hora todos os dias?
Minha defesa diminuía quanto mais ele insistia. Por mais absurda que a lógica dele fosse, eu
tinha que admitir, mesmo que só para mim, que Sam tinha um ponto. Se o híbrido tinha
achado acesso para nossos sonhos, tínhamos que descobrir como, e mais importante, o por
que ela estava fazendo isso.
- Você está dizendo que ela é um espírito guerreiro também?
- Ela é mais uma fonte, eu acho. Ela conjura espíritos malvados do submundo e manipula a
energia deles. -Sam sabia a isca certa para me pegar.
Eu estava quase comprando a historia, mas ainda estava desconfiado.
-É muito arriscado. Poderíamos acabar ficando presos no mundo espiritual como Teha Aki. –
eu sabia que ele não mudaria de idéia, mas não queria desistir tão facilmente – E se for uma
armadilha? Ela poderia estar armando para cima de nós, para deixarmos nossos corpos para
trás e ela roubá-los.
-Estamos fazendo isso para proteger nosso povo, Jake. E, além disso, a matilha irá vigiar
nossos corpos o tempo inteiro.
-Ótimo, agora você quer envolver a matilha também – tentei rapidamente pensar em uma saída
– Emily sabe desse seu plano?
A expressão de Sam mudou instantaneamente, me fazendo perceber o meu golpe baixo. Eu
quase podia ver a retaliação na sua cara, então desviei seu olhar, me preparando para me
defender se ele tentasse me atacar. O que ele decidisse fazer, eu encararia como um homem.
Eu sabia melhor do que trazer Emily à tona, a garota que Sam teve um imprinting. Ela era a
razão pela qual Sam vivia, então esperava que ele ficasse furioso sobre meu comentário. De
novo, sua recentemente descoberta disciplina me assustou.
Ele respirou fundo algumas vezes e então falou num tom calmo .
- Vou fazer isso com ou sem você. Conte para os anciãos se quiser, mas ainda farei, e você
não conseguirá me deter.
Eu sabia que ele estava sério. Não havia sentido em procurar mais empecilhos. -Tudo bem,
estou dentro. -pausei por um segundo, então reconsiderei. -Mas preciso saber o que.
Eu estava pronto para bombardear ele com mais questões quando uma fraca agitação nos
arbustos nos forçou a ficar em silencio. Sam e eu reagimos bruscamente, então nos separamos
para seguir em direção do barulho. Mas no momento que ficamos próximos aos arbustos, tudo
estava perfeitamente imóvel de novo.
Olhei para Sam, e ele pressionou o dedo indicador em seus lábios. Enquanto ficávamos lá,
tentando não fazer nenhum som, eu captei um cheiro incomum. Eu podia dizer que pelo jeito
no rosto de Sam ele também havia detectado, mas ele não disse nada sobre isso. Ao invés
disso,levantou sua palma aberta pedindo silêncio.
Antes que eu pudesse saber o que estava acontecendo, uma súbita explosão de imagens me
atingiu de uma vez, com tal intensidade que fiquei tonto e tive que achar uma pedra próxima
para me apoiar.
Sam correu para o meu lado assim que ele viu que eu estava próximo de perder a consciência.
“Pare todos os seus pensamentos.” Ele sussurrou em meu ouvido.
Eu consegui falar em pedaços.
-O que … está … aconte … cendo … comigo?
-Ela está te atacando. Não permita que você pense e você ficará bem.
Mais fácil falar do que fazer. Eu podia entender o que ele estava dizendo, mas não conseguia
mais reagir. Meu corpo tremia involuntariamente enquanto a praia parecia girar em círculos ao
meu redor. Minha mente parecia um mar tempestuoso de pensamentos e emoções colidindo
uma contra a outra. Nunca tinha sentido uma coisa dessas na minha vida.
-Jake olhe para mim. – Sam pegou meu rosto e forçou ás minhas pálpebras abrirem. ¾Não
pense, está me ouvindo? Bloqueie todos os seus pensamentos.
Suas palavras vieram abafadas. Tudo desacelerou. Ele podia estar falando uma língua
diferente e eu nem perceberia. Meus ouvidos zuniam com a onda de questões invadindo minha
mente. Ela está aqui? Ela está nos espionando? Quanto ela ouviu do que a gente acabou de
falar? Ela consegue ouvir nossos pensamentos?
Eu estava fazendo o oposto do que Sam tinha dito para fazer. Eu estava pensando, e o mais
que pensava, mais vulnerável ficava para seu ataque. Estava perdendo o controle de meus
pensamentos, e talvez até minha vontade própria.
A voz de Sam parecia ter sumido. Tudo o que eu podia ouvir eram barulhos aleatórios e ecos.
Me sentia escorregando rápido para o esquecimento. Isso deve ser um aperitivo do que a
loucura parece- um esmagador sentimento de desamparo, muito parecido a um afogamento.
-Pare de pensar! – a voz de Sam comandou de novo.
Tentei seguir seu aviso mas falhei miseravelmente todas as vezes. Se houvesse um modo de
me fazer parar de pensar eu não sabia como fazer, então parei de tentar e deixei as coisas
irem. Antes de que eu percebera, uma sombra escura tomou conta de mim e desmaiei.
A ultima coisa que vi antes de perder a consciência foi uma alucinação. Tinha que ser, já que
meus olhos estavam fechados. Eu não estava acordado e também não estava dormido, então
não podia ser um sonho. Pode ter sido uma visão, mas chamarei de alucinação, pois durou
menos de um segundo.
Eu a vi. Tive um flash passageiro de minha atacante. Ela se mostrou para mim brevemente,
como uma aparição, como no sonho. Ela era a imagem vívida da morte, uma menina jovem,
com quinze anos ou menos, com pele pálida e cabelo preto brilhante.
Ao redor de seu pescoço estava um talismã que eu reconheci do sonho. Parecia uma relíquia
antiga e tinha uma pedra clara e redonda no centro, uma pedra preciosa de origem
desconhecida. A pedra era de um marrom avermelhado e parecia perfeitamente polida.
Brilhava como o sol. Meus olhos estavam presos nele como se fosse um imã.
Mas a garota desapareceu tão rápido quanto apareceu, e então tudo ficou escuro de novo.
Não tenho certeza de quanto tempo estive apagado, mas depois percebi que tinha sido pelo
menos por uma hora. A primeira coisa que lembro de ter ouvido quando recuperei a minha
sensibilidade foram muitos barulhos aleatórios, ali e aqui.
Pouco antes de abrir meus olhos,senti uma pressão inconfortável, como algo apertando meu
braço. Usando minha outra mão, alcancei para remover o que era, mas alguém bateu nela
levemente para me impedir.
-Jake, deixe. – uma voz feminina familiar chamou próxima a mim.
Imediatamente abri meus olhos para olhar para ela,e não consegui acreditar. Sentada próxima
a mim, com um aparelho de medir pressão em sua mão, estava Leah Clearwater.
-Faz tempo que não te vejo! – dei-lhe um abraço de urso assim que a vi.
O aparelho desatou e escorregou do meu braço assim que eu a abracei, então ela protestou e
me empurrou ao lado, fingindo estar incomodada. Mas a conhecia muito bem. Havíamos
crescido juntos, então podia dizer que ela estava tão feliz em me ver quanto eu em vê-la.
-Quando você chegou aqui? – sorri amplamente, me perguntando o que estava fazendo na
cama do seu irmão Seth.
-Noite passada. – ela retribuiu meu sorriso, botando o aparelho ao redor de meu braço e
começando a bombear ar dentro dele para apertar de novo.
-Estou bem, Leah. – realmente me sentia perfeitamente bem, talvez um pouco tonto, mas
deixei ela conferir meus sinais vitais de qualquer jeito só para ela se sentir importante. Sempre
uma boa coisa quando se lida com mulheres.
-Sim, por isso que Seth quase teve que atirar um balde de água fria em você para te acordar.
- Não, ele não faria isso. Ele pensaria melhor.
- Então você terminou a escola? – eu perguntei, esquecendo que ela acabou a mais de um
ano.
-Jake! – ela reclamou assim que removeu o aparelho do meu braço.
Depois de acabar o ensino médio, Leah se mudou da casa da mãe dela para freqüentar uma
escola de enfermagem em Seattle. Lembro que no dia que ela partiu, ela disse ao bando que
queria sair de La Push por um tempo.
Algumas de suas amigas do ensino médio estavam se mudando para lá também, então elas
conseguiram um incrível apartamento juntas. Leah estava morrendo para abrir suas asas para
voar do ninho, então ela tentou e foi aceita na escola de enfermagem, arrumou suas malas e
deixou La Push sem olhar para trás.
-Desculpe. Realmente quis te mandar um presente de formatura. Sério mesmo, juro. – menti
em vão.
Ela não acreditou em uma palavra do que eu disse, então me bateu na cabeça com o aparelho.
- Sempre o mesmo mal mentiroso.
- Ai!
Ela estava pronta para me bater de novo mas me esquivei na hora certa, então ela só riu e saiu
para pegar um termômetro na sua mochila.
- Ainda tenho que saber sua temperatura, então abra sua boca e diga ‘ah’.
- Mas, espere. – eu repentinamente me lembrei.- Como cheguei aqui?
Tive que perguntar até por que eu duvidava que Sam teria coragem para aparecer nessa casa.
Fazem anos que ele terminou com Leah, mas o embaraço entre eles provavelmente ainda
continuava, mesmo depois de tanto tempo.
- Embry ajudou Sam a te carregar pra cá. ¾ Leah explicou.
- Embry estava aqui, também?
Ela acenou dizendo que sim, virando quando eu disse o nome de Embry, mas ainda percebi o
beicinho tímido que ela estava tentando esconder. Sempre suspeitei que Embry gostasse de
Leah, mas nunca perguntei para evitar vergonha a ele. Me perguntei se ele finalmente teve
coragem de chamá-la para sair agora que ela está de volta. Afinal, nenhum dos dois havia
sofrido imprinting ainda.
Leah levantou uma sobrancelha para mim, e seus olhos se estreitaram suspeitamente.
-O que aconteceu hoje á noite, Jake?
Eu pausei, tentando lembrar. Então consegui. A chupadora de sangue me atacou na praia.
Pulei da cama assim que percebi que Sam tinha muitas coisas para explicar. Procurei
freneticamente meu celular nos meus bolsos mas não consegui achar ele em lugar algum.
- Aqui. – Leah disse, me dando o telefone. ¾ Caiu do seu bolso quando eles te trouxeram.
-Obrigado. – chequei ele, mas testava apagado, então o liguei, minhas mãos sacudindo
nervosamente com antecipação. Então percebi que havia ficado desmaiado por pelo menos
uma hora.
- O que está acontecendo, Jake? – Leah perguntou, com um tom duvidoso em sua voz.
Estava quase respondendo á ela quando vi a mensagem de alerta na tela. Eu tinha três
chamadas perdidas, todas da Bella. Bella era a mãe de Renesmee,e também minha futura
sogra- se eu jogasse bem minhas cartas.
- Bella tentou me ligar. Desculpe Leah, eu tenho q…
-Vá em frente e ligue para ela, – ela me cortou no meio da frase. – Mas, depois que você
terminar,vamos ter uma conversa séria.
Eu concordei e movi meus ombros, não sabendo o que responder.
Mas Leah não era do tipo que esquece as coisas.
- “Jacob Black, você está escondendo algo de mim? – me olhando nos olhos, ela parou na
minha frente, um meio sorriso em seus lábios.
Olhei para meu celular e acenei de novo, dessa vez caminhando pela porta.
Esperançosamente ela perceberia a urgência da situação.
- Estarei esperando. – ela iria me segurar ali, então não tinha outra escolha que me preparar
para seu interrogatório.
Na varanda disquei o número de Sam primeiro, procurando achar um jeito de fugir desse
predicamento. Legal. Não atende. Foi direto para o correio de voz, então ele podia estar
falando no telefone ou ele o desligou durante a noite. Estava tão estressado com ele, que iria
desligar sem deixar mensagem, mas mudei de idéia.
- Sam, – falei com raiva.- Me ligue assim que você receber isso. Tchau. – eu percebi que seria
melhor deixar isso breve. Ele saberia do que eu estava falando.
Maravilha. Agora aqui estava eu na casa de Sara Clearwater, sozinho e sob a piedade de
Leah. Nem Seth estava em casa. Ele provavelmente saiu com Sam e Embry. Todos na reserva
sabiam que Leah era uma força a ser reconhecida se ficasse nervosa.
E ainda, conhecendo Sam, tinha certeza que ele havia feito isso com um propósito especifico
em mente. Eu só queria ter descoberto qual antes de vir para cá. Isso certamente não era por
que Leah era uma enfermeira. Não, não seria isso. Havia algo mais. Eu podia sentir isso em
meus ossos.
Suspirando, disquei o numero da Bella. Já passava das onze. Esperava que Edward não se
importasse que ligasse para sua esposa tarde da noite. Que bom que eles eram vampiros, eles
não tinham que dormir nunca.
- Alô? -a voz de Bella parecia nervosa. Algo havia acontecido.
- Oi, Bella. Desculpa que eu não pude te ligar mais cedo. Tem algo errado?
- Jake, eu preciso falar com você.
Incrível. Agora outra mulher está querendo falar comigo, e não por causa do meu charme.
-Manda, – eu disse.
- Não, não agora. Amanhã, depois que chegarmos aí. – ela balbuciou.
Achei estranho que ela estivesse falando tão baixo numa casa cheia de vampiros psíquicos.
- Bells,não quero ser rude, mas tem sido uma noite realmente longa e estou exausto. Por favor
me diga que tudo está bem, a menos que você queria que eu pegue a próxima balsa para o
Canadá.
Ela riu.
-Nós estamos bem. Vamos sair amanhã de manhã e devemos estar aí de tarde.
Junto com o resto dos Cullens, Bella e Edward se mudaram para Victoria, na Ilha Vancouver,
depois de que ofereceram uma promoção para Carlisle num hospital lá. Era uma viagem de
cerca de quatro horas para ir de La Push para onde eles moravam, mas eu não tinha problema
com isso.
Primeiro de tudo, eu me importava com o bem estar de Nessie e sua família
- Tem certeza que não é nada urgente? – insisti.
- Jake, pare de se preocupar. -Bella sabia muito bem que eu faria o oposto, mas ela ainda tinha
que me fazer esperar -amanhã, ok?
Os Cullens estavam vindo para La Push para celebrar o quinto aniversário de Nessie conosco.
Seu aniversario era em setembro, mas ela amava as Celebrações Quileutes que tínhamos
todos os meses de Julho na praia. Os fogos de artifícios e luaus eram seus preferidos, então,
nos últimos anos isso virou uma tradição,celebrar o aniversario de Nessie em Julho ao invés de
Setembro,
-Nessie está bem? – Dessa vez não pude mais esconder a ansiedade em minha voz.
Bella riu de novo.
- Eu sou a mãe dela, Jake. Deixe que me preocupo com ela, tá? – depois de dizer isso, seu
tom de voz mudou subitamente -Preciso ir. Falo com você amanhã. – ela desligou antes que eu
pudesse perguntar mais.
Eu estava oficialmente preocupado agora.Julgando pelo jeito que Bella falou comigo parecia
que ela estava tentando esconder a conversa de alguém.Mas de quem? Certeza que não
deveria ser Edward.Tinha que ser outra pessoa.
Do jeito que as coisas estavam indo,minhas chances de ter uma boa noite de sono eram quase
nulas, então percebi que melhor tomar um café com Leah e superar isso. Segurar o boi pelos
chifres de uma vez, a história da minha vida.
Café teria sido legal, principalmente quando você não quer ficar vagando meio dormido por aí
como um zumbi. Mas não tenho tanta sorte. Leah sempre tinha que fazer as coisas de um jeito
não-convencional. Nada para ficar surpreso, considerando que ela foi a primeira mulher
lobisomem na historia Quileute.
Ao invés de sentar para ter uma conversa normal num café como eu sugeri, ela insistiu em nos
levar para o meio da floresta para uma caminhada de meia-noite.
- Tem algo aqui que quero te mostrar, -ela explicou enquanto me guiava por uma trilha
íngreme.
- Deixe-me adivinhar- eu interrompi – Você não se transforma a algum tempo e não pode
esperar pra fazer de novo.
Em um segundo, sua expressão mudou de descontraída e despreocupada para total pânico.
Ela sacudiu a cabeça freneticamente e parou de andar.
- Não haverá transformação hoje à noite Jake.
Agora, essa última me derrubou.
- Sem transformação? O que você quer dizer, sem transformação? Eu achei que você queria
apostar corrida.
Ela me encarou.
- É sério.
- Também estou falando sério – retruquei de volta – Quando foi a última vez que você se
transformou?
-Não é para isso que estamos aqui. – ela continuou sua subida da trilha.
Virei os olhos, seguindo-a relutantemente.
- Você está fazendo uma cena por nada, Leah. Eu desmaiei, provavelmente por exaustão, mas
me sinto bem agora.
Mas não convenci nem a mim mesmo com o que acabei de dizer. Quanto mais eu tentava
acobertar o incidente, mais a irritava.
Continuamos a avançar fundo floresta a dentro saindo da trilha,até que chegamos em uma
área densa com árvores cheias de musgo. Leah ficou em silêncio o tempo todo, suas
sobrancelhas franzidas como se estivesse ponderando algo.
Depois de uns três quilômetros fora da estrada, Leah finalmente jogou a bomba em mim.
“Jake”, ela começou num tom solene.
- Você devia estar feliz por ainda estar vivo. E é melhor você não dizer que estou exagerando.
Essa me pegou bem fora de guarda.
- O que você está dizendo?
- Você sobreviveu a um ataque psíquico gigantesco essa noite.
Ainda desconcertado pelo o que ela falou, perguntei.
-Então… Sam te contou tudo?
- Não tudo, mas estou familiarizada com os sintomas de ataques psíquicos – ela tentou soar
confiante, mas agora a mesa tinha virado e ela que estava sob interrogatório.
- Então foi isso que me apagou? Um ataque ‘psíquico’?
- Sim – ela respondeu -O híbrido usou seus próprios pensamentos contra você.
Suspirei com frustração.
- E o que isso tem haver com nossa transformação?
Um riso sarcástico escapou dos lábios dela.
- Não é óbvio, Jake? O que você acha que teria acontecido se ela te atacasse enquanto todos
nós fossemos lobisomens?
Leah estava certa, claro. O ataque teria nos abatido a todos de uma vez. Pelo menos as coisas
começaram a fazer sentido. A sanguessuga queria derrubar o bando todo, por isso infiltrou-se
na mente dos Alfas.
- Ok, entendi agora – declarei. – Sem transformação.
- Ok – Leah concordou, soando aliviada.
No entanto eu ainda não estava satisfeito. Fiquei com a impressão de que Leah tinha algo mais
na manga, então decidi colocá-la contra a parede até ela começar a falar.
- Mas porque tivemos que vir por todo esse caminho até aqui então?
Leah checou o relógio e estava prestes a abrir a boca para responder, quando uma voz
masculina chamou na distância.
- Eu pedia a ela que viesse.
Reconhecendo a voz de Sam, girei para ter certeza de que não estava ouvindo coisas. A
apenas alguns metros de nós, Sam, Embry e Seth emergiram de debaixo das árvores, cada um
segurando uma tocha acesa.
- O que vocês estão fazendo aqui caras? – eu não tinha certeza se devia estar bravo ou
agradecido pelo encontro surpresa que planejaram sem meu consentimento.
- Tem alguém que você precisa conhecer -Sam anunciou, então virando-se para Leah ele disse
– Mostre o caminho – ele acendeu mais duas tochas e nos entregou. Depois ele nos pediu para
segui-la.
- Ei, espera um segundo. Onde estamos indo? – Se queriam que eu seguisse, teriam que me
dizer o que estava acontecendo primeiro -E qual é a das tochas, cara?
Sam checou o relógio.
- Não temos muito tempo. Podemos falar ao longo do caminho?
- Vamos indo – Leah ordenou – ainda temos um bocado a caminhar até lá.
- Lá onde?- insisti.
- A Casa do Eremita dos Olhos Vendados – Seth respondeu e me deu um cutucão para me
juntar a eles.Vamos Jake,vamos te contar tudo.
Fui adiante e os segui, ainda meio séptico.
-Quem é esse?
Leah parecia ser a mais bem informada.
- É um monge da Espanha. Ele veio da Europa centenas de anos atrás para escapar de uma
sentença de morte.
- Por favor, não me diga que é outra sanguessuga – suspirei.
- Ele é um alquimista – Seth explicou – Leah e eu costumávamos vir aqui para espiá-lo quando
éramos pequenos.
Notando que Embry estava muito quieto, tentei descobrir se ele também estava nisso.
-Você sabia do monge também?
Embry sacudiu a cabeça e acelerou o passo para ficar ao lado de Leah.
- Só o que Leah me disse.
Leah olhou de relance com um meio sorriso para ele.
- Embry veio conosco uma vez, mas o eremita não estava em casa naquele dia.
Quanto a mim, eu não podia aguentar mais de curiosidade.
- Mas por que a urgência de ir até lá?
- A venda – Sam respondeu -Ele a fez para protegê-lo de ataques psíquicos.
- Ah, entendi – retruquei, rindo baixinho- Então ele vai nos entregá-la se pedirmos com jeitinho?
Minha observação deve ter cutucado o Sam, porque ele agarrou a chance de se acertar comigo
na hora.
-Você que trouxe todos nós pra essa bagunça em primeiro lugar, então é sua responsabilidade.
Você que descubra.
-Então estamos brincando de ‘quem é o culpado’ agora, é? Como de repente sou responsável
por tudo?
- Você sempre foi o responsável – Embry balbuciou.
Sempre tão leal a mim, Seth protestou entre os dentes.
-Embry – e o cutucou usando o cotovelo com força.
Leah agarrou o braço do irmão, puxando-o para ela.
- Fique fora disso, Seth.
Sam deu uma olhada feroz para Embry e Seth, então olhou de cara feia para mim. ¾ Acorda,
irmão. Você é o elo entre vampiros e lobisomens – ele pausou, permitindo que os músculos de
sua face relaxassem, então colocou a mão no meu ombro como se estivesse me dando os
pêsames – Jake, você é o alvo.
Tirando a mão dele, dei uma parada brusca.
- Deixe os Cullens fora disso. Eles não têm nada com isso!
Seth estava prestes a falar, mas Leah foi mais rápida.
- Sam, não temos certeza disso ainda.
- Você que me disse sobre a ligação de Bella – Sam disse a Leah.
Mordendo a isca de Sam, eu a ataquei. “Você estava me escutando escondida?”
-Não, Jake – Leah confessou, sacudindo a cabeça nervosamente – Só disse a ele que ela te
ligou. Só isso…
Mas não queria as desculpas dela. Senti-me traído.
-Por que você faria isso?
Embry ficou na frente de Leah em um gesto protetor.
- Páre de gritar com ela, Jake. Ela só está tentando ajudar.
Apenas nessa hora Sam levantou a voz e gritou.
- Ok, já chega! Todos calem a boca! – ele esperou até ter nossa atenção e continuou.
- Estamos dando à sanguessuga exatamente o que ela quer, não vêem? Aposto que ela está
deliciada em nos ouvir batendo boca assim. Precisamos ficar juntos.
Sentindo como derrotado, abaixei a cabeça em vergonha e fiquei em silêncio. Talvez Sam
estivesse certo sobre a ligação de Bella. Talvez os Cullens estivessem conectados nesse
quebra-cabeça de alguma forma.
Leah colocou o braço ao redor das minhas costas gentilmente, encorajando-me a segui-la.
- Por favor, confie em mim Jake. Precisamos daquela venda para proteger o bando.
Meu coração me disse que Leah queria o bem, então decidi confiar nela e ir conforme o plano.
“Tá bem, vamos com isso. Só me diga mais uma coisa”.
- Manda – ela disse, já dando passos largos. -Mas precisamos continuar. Não temos muito
tempo.
Fui depressa para alcançá-la.
-Como é que vou enxergar com uma venda?
- Não é uma venda comum, Jake – ela declarou confiantemente – Veja o eremita por exemplo.
Ele é cego, mas quando a utiliza pode ver tudo.
Sam completou.
-Eles dizem que abre os olhos da alma e o deixa ver coisas que os olhos humanos não podem
perceber.
Acenando em concordância, Leah continuou.
- É como ajuda a desviar ataques psíquicos. Deixa que você os veja antes que te atinja.
Por mais impossível que a história soasse, parecia ser nossa única esperança para nos
defender dos ataques do híbrido. E, só por essa razão, decidi que valia a pena tentar. Não
havia nada que eu quisesse mais agora do que agarrar a sanguessuga de uma vez por todas.
Um cobertor de névoa desceu sobre a floresta enquanto aproximávamos da casa do eremita.O
local não era nem uma casa como eu imaginava. Eram os restos abandonados de um velho
prédio de pedra, cinza e dilapidado com uma camada grossa de musgo por cima de tudo.
Leah e Seth estavam certos. O eremita era mesmo um alquimista. Seu laboratório, se podia ser
chamado assim, estava bem a vista, só escondido parcialmente por uma parede quebrada.
Tinha todo tipo de garrafas de vidro empoeiradas em cima de uma mesa de madeira. Seria
interessante saber qual continha o elixir da vida que o manteve vivo por séculos.
Sam checou a tocha de todos para ter certeza que estavam acesas. Depois, explicou sua
estratégia para cercar o local.
- Embry, você fica com o lado leste das ruínas, e Seth, você fica com o oeste. Leah guardará o
lado norte e eu ficarei com a entrada da frente.
Ainda quando Seth e Embry foram tomar suas posições, Leah não se moveu.
Ela ficou atrás de mim para me dar um aviso.
- O que quer que faça, mantenha a tocha queimando. Ele não poderá te ver enquanto tiver fogo
por perto.
Acenei com visível impaciência.
-Ok. Aqui vamos nós.- Inalei profundamente e corri até as ruínas.
Conforme me aproximava do que restava da entrada da frente, senti calafrios até minha
espinha. Não estou com medo, pensei comigo mesmo. Ele é só um homem velho e fraco. Só
um homem velho e fraco. Fiquei repetindo em minha cabeça como um mantra até que alcancei
o local onde ele dormia.
O primeiro olhar sobre ele encheu-me de culpa. Como ele deve ser infeliz, tão só nessa floresta
fria e úmida sem ninguém para conversar. Não podia imaginar que crime terrível ele deveria ter
cometido para merecer a sentença de morte. Ele parecia tão inofensivo, deitado lá no chão
rachado, usando uma túnica com capuz em farrapos. Perguntei-me porque ele quereria
continuar vivendo essa vida solitária por séculos sem fim.
Fiquei lá imóvel, apenas observando-o e me sentindo extremamente acabado. Quem era eu
para privar alguém de sua única defesa? Tinha de haver outra maneira.
Afinal, Sam tinha sugerido a possibilidade da viagem em espírito, então podíamos fazer isso.
Claro, era arriscado, mas era muito melhor do que roubar de um pobre e velho homem, sendo
alquimista ou não.
Tinha acabado de me convencer de voltar pra fora com as mãos vazias, quando uma súbita
rajada de vento soprou violentamente em minha direção, quase apagando a tocha. Num ato
desesperado de manter a chama acesa, fiquei de costas para o vento, mas falhei em ver um
tubo metálico saindo do chão bem atrás de mim.
Enquanto eu girava os pés, acidentalmente tropecei no cano e caí de bunda no chão. Fiz um
barulho tão alto que quando caí acordei o eremita.
Com toda a bagunça, não notei que uma pilha de folhas secas perto de mim tinha encostado
na tocha. As chamas se espalharam em segundos e o eremita começou a gritar em terror,
chacoalhando os braços selvagemente no ar. Era claro que ele não podia ver, mas tinha
certeza de que ele podia sentir o calor e cheirar a fumaça.
- Jake, a venda! – Leah gritou.
Agindo por impulso, arranquei a venda do eremita.O que vi quando descobri seus olhos me deu
um choque para a vida toda. Balançou a fundação de tudo que me era sagrado.
Remorso nem começa a descrever como me senti quando olhei aquele rosto. A área abaixo da
testa e ao redor dos olhos era completamente desfigurada por cicatrizes. Haviam tantas delas,
que pareciam galhos de árvores entrelaçados. Eu mal podia ver o que restava de seus olhos
através do tecido das cicatrizes. Ele não tinha pupilas, apenas um filme branco acinzentado
cobrindo a parte da frente dos olhos.
Era uma visão medonha, revoltante de observar, e ainda assim não podia desviar o olhar.
Antes que soubesse, Sam e os rapazes me carregavam para longe do fogo crescente.
Enquanto nos afastávamos, ainda podia ouvir o eremita gritando com todo o ar de seus
pulmões.
Havíamos atravessados alguns metros, quando parei aterrorizado.
- O que você pensa que está fazendo? – Sam reclamou.
- Não podemos deixá-lo lá sozinho – Não esperei por uma resposta.
Dando a volta, voltei para as ruínas e encontrei o eremita.Ele estava prestes a entrar em
colapso por inalar a fumaça quando o agarrei, então o levantei e joguei por cima dos meus
ombros,e o carreguei para fora em segurança.
- Meus livros! Por favor, salve meus livros! – ele implorava com um sotaque espanhol forte.
No momento em que o coloquei no chão, Seth e Leah sentaram-se ao lado dele. Enquanto
Leah checava seu pulso, Seth oferecia água de uma garrafa para parar a tosse.
- Ele vai ficar bem Jake, não se preocupe – Leah assegurou enquanto lia minha expressão
preocupada. Mas Sam não estava tão contente. – Precisamos sair daqui agora.
Eu olhei de modo desacreditado para ele, então corri de volta para as ruínas e tentei apagar o
fogo. Felizmente, o eremita tinha tanto lixo por lá, que não tive que procurar muito. Assim que
achei um cobertor, usei para diminuir as chamas.
Foi quando percebi que não estava só. Sam e Embry decidiram me ajudar no final das
contas.Juntos, apagamos o fogo bem rápido e conseguimos salvar quase todos os livros do
eremita.
Quando saímos das ruínas, o sol já começava a sair. Uma paz imensa caiu sobre mim quando
vi Leah e Seth conversando com o eremita como se ele fosse um velho amigo. Tínhamos
achado um aliado. E não qualquer aliado, mas um alquimista acima de tudo.
Minha alegria cresceu ainda mais quando Leah anunciou que o eremita havia aceitado seu
convite para a festa de Nessie. Foi então que me lembrei que ainda estava com sua venda,
então ajoelhei em frente a ele e a amarrei ao redor de seus olhos. O momento em que um
sorriso iluminou seu rosto, soube que ele podia me ver.
Sorri de volta, mas então lembrei do que havia feito e me senti péssimo.
- Por favor me perdoe. Eu estava tentando ajudar meu povo…
- Sua amiga,Leah, me explicou tudo, filho. Seu arrependimento te absolveu.
Eu me curvei em gratitude e tomei sua mão para ajudá-lo.
- Ok, garotos – Leah nos chamou – Temos uma festa para preparar. Os Cullens chegarão em
La Push hoje a tarde. Temos que ter aqueles fogos de artifício no ponto.

Capítulo 2 – A Festa de Renesmee

Uma miríade de luzes coloridas explodiu no céu acima de La Push quando os fogos de artifício
começaram. Excitação encheu o ar todo em nossa volta. A praia estava cheia com recém-
chegados, muitos deles carregando câmeras para tirar fotos do espetáculo iluminando o céu da
noite. Além do povo Quileute, muitos turistas de países do mundo inteiro e visitantes de outros
estados também viriam para se juntar à celebração todo verão.
Todo mundo se reuniu em grupos em volta das fogueiras, onde os anciões Quileute faziam
performances de danças tradicionais e cantavam mantras antigos para a terra. A minha parte
favorita era o sagrado rufo do tambor. Velho Quil Ateara disse que isso tinha o propósito de pôr
os bailarinos em um transe para que eles pudessem receber visões dos antepassados.
Velho Quil Ateara era o ancião que tinha vivido mais tempo entre a nossa gente, então todos
nós tínhamos por ele uma grande reverência. Ele era um homem velho sábio,com muitos
segredos. Na verdade, a maior parte do que Sam sabia sobre o oculto conhecimento Quileute
tinha vindo do Velho Quil.
Eu não sabia muito sobre essas verdades secretas, porque eu ainda era considerado indigno
de confiança. Ainda tinha que me provar como um alfa verdadeiro aos olhos dos anciões que
guardavam esse conhecimento. Mas podia dizer que o que quer que eles soubessem lhes
davam grande poder para ganhar os sentimentos das pessoas em sua volta.
Eles pareciam estar rodeados de um campo de eletricidade que, somente olhando suas
silhuetas se movendo em círculos em volta do fogo, você era imediatamente atraído.
O som mágico do rufo do tambor sagrado afetava todo mundo lá. Funcionava em qualquer um
que viesse para perto dos que o tocavam, não apenas nos Quileutes. Não importa qual a cor
de sua pele ou sua cultura, todo mundo que nos visitava caía no feitiço quase imediatamente.
Parecia com uma língua universal que unia a todos nós. Algumas pessoas ririam, outros
chorariam, enquanto os outros apenas olhariam como se estivessem assistindo a um show de
aberrações.
A prática tinha sido passada de geração para geração desde que os Espíritos Guerreiros
tinham visto o que estava além do mundo dos vivos. É onde eles aprenderam todos os
segredos que hoje chamamos de o Oculto Conhecimento Quileute.
Verifiquei meu celular para ver se Bella tinha ligado, mas não tinha. Senti a inquietude se
acumulando na boca do meu estômago, então me esforcei para aproveitar os fogos de artifício,
mas não podia tirar a nossa última conversa da minha cabeça, especialmente depois do ataque
psíquico que eu tinha sofrido.
Afinal, sabia que Edward poderia ler os meus pensamentos, mas apenas se ele
especificamente fizesse questão para sintonizar neles. Ele poderia ter estado sintonizado aos
pensamentos de outra pessoa na hora que aconteceu, e, se ele esteve, então ele teria perdido
tudo.
E ainda assim não podia evitar de me perguntar porque Bella tinha me ligado três vezes em
uma hora, e não apenas em um tempo qualquer, mas precisamente durante a hora que eu
tinha estado inconsciente.
Olhei em volta de mim e vi Leah e Embry em algum lugar na multidão, dançando. Eles não
estavam nem se tocando, mas eu podia dizer pelo modo que se olhavam nos olhos um do
outro que talvez eles estivessem apaixonados.
O que eu, de todas as pessoas, sabia sobre o amor? Com certeza não podia negar que eu
normalmente conseguia uma quantidade decente de atenção feminina, mas meus sentimentos
por Nessie sempre me retinham. Eu era destinado a permanecer virgem, pelo menos até que
Nessie fosse velha o suficiente para ficar comigo.
Era confuso pensar em Nessie desse modo, sabendo que ela completava apenas cinco anos
esse ano. Em anos humanos, ela tinha cinco, mas em anos de vampiro, ela já era uma
adolescente totalmente desenvolvida, curvas e tudo.
Me sentia em conflito, para dizer o mínimo, e por essa razão, minha amizade com Bella tinha
se tornado mais forte no momento que Nessie nasceu. De alguma forma senti que apenas
Bella entendia como me sentia sobre sua filha.
Edward tinha sido bastante sossegado com isso também, mas ele e eu nunca poderíamos ser
amigos próximos.
Afinal, Bella e eu tínhamos nos beijado uma vez – há muito tempo, quando eu era estúpido
bastante para pensar que era apaixonado por ela. Não pude ter estado mais errado todo esse
tempo. Bella era a esposa de Edward, e sempre seria. Quanto a mim, eu era destinado para
estar com Nessie um dia.
Ainda assim, não podia evitar de sentir que cada vez que estava perto de Bella, era uma
situação constrangedora para Edward ter de aceitar.
Não podia me queixar de Edward. A atitude dele em direção a mim tinha ido do ódio ao
respeito, e até talvez um pouco de lealdade, por ter ficado ao lado de sua família contra os
Volturi.
Sempre cavalheiro, Edward sempre foi muito educado e amistoso comigo desde então. Mas
havia muitas vezes um tom realmente sutil de animosidade que os olhos deixavam escapar
quando eu estava em qualquer lugar perto de sua esposa.
Isso é provavelmente parte da razão porque os Cullens se tinham mudado para o Canadá.
Bella nunca admitiu, mas algo me disse que ela era bem consciente dessa preocupação
corroendo a fachada de mármore fria de seu marido.
Eu mesmo nunca ousei trazer isso à tona também. Imaginei que era sortudo o suficiente por
ser permitido visitar Nessie uma vez por mês até que o tempo para estar com ela para sempre
chegasse.
A minha consolação cada vez que o desejo batia em mim com força era ligar para Bella e
descobrir como Nessie estava. Às vezes Bella deixaria Nessie vir ao telefone, mas nem perto
das muitas vezes como eu esperava, sobretudo quando Edward estava em casa.
Edward tinha aceitado o fato que eu tinha sofrido um imprint com filha dele, pelo menos até
certo ponto, mas ele tinha estabelecido limitações na nossa amizade. Algo sobre ele querendo
deixar Nessie ter uma infância “normal” antes que ela despertasse para as tentações do amor
romântico.
Tanto faz. Ele era o pai. Eu tinha de obedecer a suas regras não importa o quanto doía estar
longe dela. Enquanto eu cavava meus pés descalços na areia, a inquietude veio gritando pelas
minhas entranhas de novo. E, apenas segundos depois, percebi que tinha sido uma
premonição.
Meu celular vibrou dentro do meu bolso, enviando um frio súbito de cima para baixo na minha
espinha. Era uma curta mensagem de texto de Bella. “Estamos aqui,” ela dizia.
Apenas tive tempo o bastante para terminar de ler quando os vi. Parecendo perfeitamente
esculpidos e pintados como esculturas, os Cullens fizeram sua grande entrada.
O meu batimento cardíaco acelerou no momento que os meus olhos encontraram Nessie. A
aniversariante estava aqui, e a festa apenas tinha acabado de começar.
Antes de ver Nessie pela primeira vez, eu pensava que toda essa idéia de imprinting fosse um
mito estúpido, uma epidemia irritante que havia infectado quase metade dos caras do bando.
Mal sabia eu no momento que também seria sugado por esse furacão. Agora eu entendia
porque Quil, neto do Velho Quil Ateara, não namorava nunca. Como eu, Quil havia sofrido
imprinting com uma garotinha e agora estava preso tendo que esperar até ela crescer.
Claire, a garota com quem Quil teve a impressão, tinha oito anos de idade, quase nove. Ela era
sobrinha de Emily, e Quil estava nas nuvens por ela, só que como um irmão mais velho, pelo
menos por agora.
Claro que a situação dele era bem diferente da minha. Claire era completamente humana,
então, sem confusão aí. Ela realmente aparentava a idade que tinha, e ainda era muito
inocente para perceber o que a adoração de Quil ultimamente significava. Como resultado, Quil
achou fácil ficar perto dela sem potencialmente ofender os pais dela.
Queria poder dizer o mesmo sobre Nessie e eu. Estar perto dela era um grande alívio de certa
forma, também me enchia de culpa e me fazia sentir como um completo anormal.
Eu podia ver nos olhos dela que ela também estava atraída por mim. Mas, ao invés de facilitar
para mim, saber da atração dela me fazia sentir dividido entre duas forças opostas, e
igualmente fortes. Simplesmente não sabia como me comportar perto dela, ainda mais quando
Edward estava próximo.
Desespero silencioso era a melhor forma de exemplificar. Com minhas mãos suando, dei
alguns passos na direção deles. Evitei o olhar examinador de Edward. Eu sabia que ele estava
intencionalmente focado em ler cada pensamento meu, então fiz um grande esforço para
pensar em batata frita, ou algo bobo assim.
Sabendo que minha estratégia o aborreceria imensamente, segurei uma risada e tentei pensar
sobre coisas ainda mais absurdas, como uma árvore de Natal falante ou um gato louco,
correndo em círculos, tentando morder o próprio rabo.
Jasper e Emmett, os dois irmãos vampiros de Edward, deram um passo a frente de forma
protetora e pararam imóveis, um de cada lado de Edward. Juntos, os três lançaram olhares de
aviso para mim, me encarando como se estivessem dispostos a acabar comigo se eu passasse
dos limites.
Você não tem com o que se preocupar, pensei, conscientemente projetando meus
pensamentos em suas mentes, e bem ciente de que Jasper captaria minhas emoções e
temperamentos com exata precisão. Ela é apenas uma criança para mim.
Eu posso não ser vidente em minha forma humana, mas, tem uma coisa que me tornei muito
bom desde que comecei a lidar de perto com os Cullens. Me tornei um especialista em ler sua
linguagem corporal.
Não importa quão sem expressão ou inflexível eles podem parecer aos outros, eu ainda podia
perceber como eles se sentiam com relação a mim. Não confiavam em mim. Isso era claro,
mas eu não ousaria confrontá-los, pelo bem de Nessie.
O primeiro a falar foi o Dr. Carlisle Cullen, pai adotivo deles e líder do clã. “Olá, Jacob,” ele
disse com um sorriso que pareceu sincero.
De todos os homens na família, o que sabia como quebrar o gelo nas situações mais
constrangedoras era Carlisle. Dando um passo a frente de seus garotos, ele apertou minha
mão, um largo sorriso em seu rosto o tempo todo. Ele realmente parecia feliz em me ver.
Eu não poderia descrever quão aliviado me senti ao descobrir que Carlisle não me achava uma
ameaça. Honestamente queria me dar bem com eles, de verdade. Tudo por Nessie. Meu
compromisso para com ela era tão real para mim que queria que ela fosse feliz a qualquer
custo.
Como eu suspeitava, a próxima a se aproximar de mim foi Alice, irmã de Edward. De acordo
com as lendas Quileutes, cada vampiro supostamente tem um super poder. O seu era a
clarividência. Ela frequentemente tinha visões do futuro. Sempre a mais alegre das mulheres
Cullen, Alice era também a mais faladeira. “Oi, Jake, onde estão seus sapatos?” ela perguntou
com sua habitual voz de fada.
Depois que Alice me deu um abraço, Bella e Nessie vieram em minha direção. Eu desejei tanto
poder abrir meus braços e abraçar a ambas, mas, ao invés disso, me controlei e permaneci
parado, tentando mostrar a Edward que não tinha intenção de desrespeitar sua família.
Contudo, enquanto Bella lia meu gesto claramente, e limitou sua saudação a um aceno e uma
piscadela, Nessie não podia se importar menos com o que sua família pensava. Parecendo
uma deusa em um vestido de verão, ela se jogou em meus braços e se apertou contra mim.
Eu imediatamente me afastei, o desespero quieto prestes a explodir em meu peito. A meus
olhos, a beleza de Renesmee era sobrenatural, mas estes pensamentos eram proibidos para
mim. Pense em batatas, pense em batatas, repeti para mim mesmo, tentando ignorar Jasper e
Emmett, que estavam com dificuldade em manter a cara séria enquanto me observavam. Ah,
bom, era melhor fazê-los rir que lutar com eles, raciocinei.
Foi horrível decepcionar Nessie. A última coisa que queria era magoar seus sentimentos, mas
com Edward lá, eu estava andando em gelo fino. Meu único consolo era a lealdade de Bella
comigo. Em algum lugar dentro de mim, eu confiava que ela me ajudaria.
Esme, esposa de Carlisle, deve ter notado como eu estava me sentindo podre por me afastar
do abraço de Nessie, porque ela veio até mim e descansou sua mão em meu ombro.
- É muito bom vê-lo, Jake. ¾ Seus olhos cintilando afeição maternal, ela sorriu para mim e
levemente beijou minha testa.
A única que mantinha distância era Rosalie, a outra irmã de Edward, que permanecia no fundo,
o tempo todo me dando o mesmo olhar de aviso que seus irmãos. Mesmo ela não sendo
exatamente a minha pessoa favorita, Rosalie amava e protegia Nessie como se ela fosse sua
própria filha. Só por isso, ela tinha meu respeito. Ela era uma tia dedicada, então, toda vez que
sentia tentação de odiá-la, eu tentava vê-la pelos olhos de Nessie.
Eu preferia chamá-la de Loira do que Rosalie. Ela era bem difícil. Ouso dizer que ela amava
Nessie tanto quando ela não gostava de mim. Eu podia ver que ela odiava a idéia de Nessie
namorar comigo algum dia, mesmo que nunca tenha dito uma palavra sobre isso.
Não que falasse comigo de qualquer forma. Na maior parte do tempo, quando ela não estava
me encarando como adagas, ela fingia que eu nem estava lá. O bom disso é que era mais fácil
de tolerá-la quando ela me ignorava, porque eu podia apenas ignorá-la de volta.
Hoje a noite, ela decidiu me notar, mas só para me lembrar do quanto ela me desaprovava.
Enquanto tentava me libertar do seu olhar travado comigo, notei que Nessie foi ficar ao lado
dela.
Por um segundo, as duas me olharam, e pensei ter visto ressentimento nos olhos de Nessie.
Infelizmente, conhecia aquele olhar muito bem, tendo crescido com duas irmãs. Ou eu estava
sendo muito paranóico, ou a Loira esteve fazendo lavagem cerebral em Nessie para afastá-la
de mim.
Afinal, eu que tive sofri um imprinting com Nessie, e não o contrário. Quando um lobisomem
tem um imprinting com alguém, ele será completamente comprometido à essa pessoa
enquanto ele viver.
Porém, não era sempre o mesmo para a outra pessoa. Imprinting não podia tirar o livre arbítrio
de ninguém. Nessie sempre teria uma escolha, e a Loira sabia muito bem disso.
Eu nem queria imaginar o que seria de mim se Nessie escolhesse outra pessoa quando a hora
chegasse. Esse pensamento era doloroso demais para considerar, então eu apenas o afastei
para continuar são.
Só então, ouvi a voz de Leah chamando atrás de mim.
-Alice!
-Oi, Leah! – Alice respondeu com a mesma animação.
Duas garotas que deveriam ser inimigas naturais – Alice por ser vampira e Leah por ser
lobisomem – tinham na verdade se tornado grandes amigas nos últimos anos.
Olhei por cima do meu ombro e vi Seth e Leah se aproximando. Seth sempre foi amigável com
os Cullen, mas tinha demorado um pouco de tempo para Leah se aproximar deles. Isso até que
Alice conseguiu de alguma forma deixá-la animada com planejar festas. Daí em diante, a
atitude de Leah com os Cullens mudou para sempre.
- Bem-vinda novamente. – Leah saudou Alice com um abraço, e então foi abraçar o resto da
família.
Seth também estava muito animado em vê-los, mas isso não era novidade. Todos gostavam de
Seth, e o bando o apelidou de Pomba Branca, por ser o único pacifista entre nós.
- Vamos, pessoal,- Seth disse, ¾os anciões estão esperando.
Meu pai Billy e o Velho Quil convidaram Carlisle e Esme para sentar perto deles na cabeça do
circulo. Sam e o Heremita Vendado também foram chamados a se sentarem perto dos anciões
junto com o pai de Bella, Charlie, e Sue Clearwater, mãe de Seth e Leah.
De acordo com as tradições Quileute, era uma grande honra sentar próximo aos anciões, e
apenas os que haviam conquistado uma posição de liderança eram convidados a se juntar.
Eu, também, algum dia, seria reconhecido como um líder, mas, nesse momento, eu não tinha
muita certeza se queria a responsabilidade.
Junto com o restante dos Cullen, sentei com Seth, Embry e a namorada de Sam, Emily.
Formamos um circulo ao redor da fogueira, enquanto os outros garotos do bando, Paul, Quil e
Jared estavam em algum lugar na multidão, assistindo os fogos de artifício com suas garotas.
Edward sentou ao lado de Bella, as costas dele encostadas contra uma pedra, enquanto Bella
contemplava silenciosamente as chamas dançando a sua frente. Enquanto a madeira
queimando crepitava, e a fumaça levantava em direção ao céu, os olhos de Bella pareciam se
movere junto com as pequenas centelhas que voavam em todas as direções.
Eu podia dizer que algo a estava incomodando. Ela não precisava me dizer. Tinha certeza de
que tinha haver com a ligação dela. Outra coisa que estava me preocupando era o tom de sua
pele. Parecia tão pálido que era quase cinza. Deveria ser normal para um vampiro, mas
nenhuma das outras mulheres Cullen parecia tão cadavérica e doente quanto Bella.
Com todo mundo meio pra baixo, ninguém dizia muita coisa, exceto Leah e Alice que
continuavam a falar e falar de designers de moda em Seattle.
-Falando em Seattle, – Leah anunciou de repente, – você devia ver o que eu trouxe de lá para
você, Nessie.
Abrindo seus olhos amplamente, Nessie se levantou num salto da cadeira de jardim onde
estava descansando e bateu as mãos de excitação.
- Quero ver. Onde está?
- Na casa da minha mãe, – Leah respondeu.
- Mamãe, -Nessie disse para Bella, -posso ir até a casa da Sue, por favor?
Antes que Bella pudesse responder, Alice cantarolou.
- Eu vou com elas.
- Eu também,- Rosalie adicionou.
Bella trocou olhares com Edward, provavelmente projetando seus pensamentos na mente dele.
Edward moveu seus ombros e acenou indiferente.
- Claro, não vejo por que não.
Enquanto as quatro garotas deixavam o círculo, me veio a idéia de que Seth deveria ir com
elas apenas para estar seguro.
- Seth – eu murmurei.
- Huh?
Lhe dei um aceno.
- Vá com sua irmã.
-Deus, Jake, Leah sabe como se cuidar.
- Sim, mas todos estão na praia no momento e já está escuro. Vá com elas, Seth.
- Você me deve uma. -Chutando um pouco de areia pro meu lado, Seth levantou e foi atrás das
meninas.
Essa era a oportunidade perfeita para que eu conversasse com Bella, mas primeiro teria que
passar por Edward. Inventei uma desculpa para chamar a atenção de Edward no exato
momento que estava tirando um grande pedaço do meu bife.
- Edward.
- Sim? – Ele perguntou, olhando para o sangue pingando da minha carne mal-passada.
- Com fome? – Mordi outro pedaço suculento e ofereci a ele um pedaço, mesmo sabendo muito
bem que vampiros nunca comem.
Ele balançou sua mão e disse,
- Não, obrigado, – então sorriu, como se eu tivesse acabado de falar algo engraçado.
- Então, Edward, – comecei casualmente, – Bella me disse que vocês dois tem aprendido
dança de salão.
Caindo exatamente na minha, Edward sorriu orgulhoso e se gabou,
- Estou levando ela para Argentina no verão para aprender tango. Não é, meu amor? ¾ Ele mal
olhou para ela enquanto dizia isso.
-Pensei que você havia dito Brasil primeiro, – Bella respondeu.
Nesse momento pulei na chance.
- Você não importaria se ela me ensinasse alguns passos. Se importaria,Edward?
Edward sorriu completamente confidente, nem sequer um pingo de ciúmes em seus olhos.
- Nem um pouco. Mostre à ele o que você tem, amor- ele disse à Bella enquanto beijava sua
mão.
Ofereci minha mão para ajudá-la a se levantar, mas antes que eu soubesse, ela já estava
parada ao meu lado.
- Certeza que você quer fazer isso? – ela perguntou com um sorriso confiante como se
estivesse a ponto de arrasar.
-Positivo. – A tomei em meus braços, e de repente ela começou a mostrar alguns passos de
dança de salão impressionantes.
Bella como vampira era bem diferente da atrapalhada garota humana que antes se mudou para
Forks, antes que se formasse na secundária.
Antes que Edward a mudasse.
Como vampira, ela agora se movia com grande precisão e elegância. Ela se tornou bem
exigente com seu cabelo, maquiagem, sapatos e roupas. Em seu próprio jeito imortal, ela
parecia uma super modelo.
- Você disse que precisava falar comigo, – a lembrei.
- Primeiro, quero que você saiba que já tomei conta de tudo, ok?
Ok era o oposto do que ela estava falando, mas entrei na dela.
- Ok.
Ela engoliu em seco e me olhou.
- Edward quer mandar Nessie para a Europa.
As notícias me acertaram tão forte que congelei por alguns segundos.
- Europa. – Repeti sem pensar.
- Paris, -Bella adicionou.
- O que diabos está em Paris? ¾Minha raiva explodiu de mim sem aviso. Eu estava perdendo a
cabeça.
- A Oculta Escola de Vampiros.
Eu sabia que não tinha ouvido mal. Meu super sentido de audição nunca tinha me falhado,
mesmo em forma humana.
- Jesus, – respirei, balançando minha cabeça. – Odeio te perguntar isso, Bells, mas o Edward
pirou total?
- Ele diz que ela estará a salvo lá.
- A salvo de que?
- Dos Volturi, – foi sua resposta. Ela não estava brincando.
- Por que ele está tão paranóico? – E então acordei. -Bella, -Eu disse,segurando seu olhar. –
Tem alguma coisa acontecendo que você não está me contando?
Ela balançou a cabeça.
- Não estou tentando esconder nada de você. Estou te dizendo tudo.
Eu sabia que ela estava sendo honesta, mas ainda tinha de testá-la.
- E você está falando que tem tudo sob controle?
- Não preciso de sua ajuda, se é isso que está tentando me dizer. ¾ Ótimo, agora ela está na
defensiva.
- Os Volturi já fizeram algo? – Tinha de perguntar.
- Não. – E então ela adicionou. -Ainda não.
- Ainda não? – eu disse chocado.
- Você quer a verdade, estou te falando a verdade. Eles ainda não fizeram movimento.
- Então porque Edward está com tanto medo por Nessie?
Seus olhos lacrimejaram um pouco. Um sofrimento de mãe nos olhos de Bella que eu nunca
havia visto antes.
- Ela não tem autocontrole.
Não queria trazer o assunto à tona, mas não conseguia lutar contra a vontade de perguntar.
- Ela já matou humanos?
Bella evitou meus olhos.
- Jake.
Peguei ela pelos ombros.
- Responda minha pergunta.
Ela balançou a cabeça, então explodiu.
- Não sei ainda, ok?
- Mas você suspeita que ela tenha, não é?
Ela finalmente soltou.
-Edward suspeita.
Agora era eu quem estava engolindo seco. Com certeza não vi isso chegando. Fechei meus
punhos.
- Ele está enganado.
-Não sabemos nada ainda com certeza – Bella insistiu.
- Ela é sua filha, você deveria acreditar nela. – eu estava tão perdido, não sabia nem o que eu
estava dizendo.
- Jake, isso é tudo o que tento fazer, mas…
- Você me pediu pra me afastar dela. Foi você quem me convenceu a esperar até ela ficar mais
velha. -Eu mesmo não entendi porque a estava punindo daquele jeito. Ela só estava tentando
me contar a verdade, e tudo o que pude fazer foi colocar a culpa nela.
Mas ela obviamente se sentia culpada porque ela continuava tentando inventar desculpas.
- Edward e eu apenas queríamos que ela tivesse uma infância normal.
De repente, eu fui apanhado neste argumento com ela e não achava uma saída. -Escute voce
mesma, Bella. Normal? Como a criança da América do Sul que matou a mãe dele no parto?
Como ele?
- Nessie não é como Nahuel. – ela protestou.
- Ela é meio-vampira, meio-humana, exatamente como ele. – Eu não podia evitar de ser duro.
Assim, como eu deveria ter esperado, ela atirou novamente de volta pra mim.
- E ela teria se tornado tão diferente se nós não tivéssemos te pedido que se afastasse, certo?
O golpe me incapacitou por um momento, mas eu merecia.
- Eu nunca disse isto – foi a melhor defesa que eu consegui arranjar .
- É culpa de todo mundo – ela disse em um tom apagado, enquanto soltava sua última
respiração. Minhas palavras a tinham ferido também.
- Nessie não matou nenhum humano. Vamos ficar assim. – Me sentia confortável deixando isso
em negação.
Mas Bella não iria me deixar nisso.
-E se ela matou?
- Bella! – eu protestei.
- Edward pode estar certo. Ele diz que dois anos em Paris a ensinará auto-disciplina, além
disso… os Volturi não podem tocar nela se ela estiver lá.
- Os Volturi exigem evidência para acusar. Se não há nenhuma evidência do crime dela, então
ela é inocente.
- Jake, não posso acreditar que você seja tão cego. – Até ela podia ver, mas não me importei.
- Então você acredita nisso também? Você acha que Edward tem motivo para suspeitar?
- Não, não é isso, Jake, eu…
- Então o que? – eu insisti.
- Ela tem sonambulado de noite. Nós perdemos seu rastro por várias horas e por mais de uma
vez, feliz agora?
Ótimo. Eu não tinha me recuperado do primeiro golpe ainda, e agora ela me joga mais.
- Por que você não me disse isso antes?
- Eu estava tentando, mas você não me deixava falar
- Você deveria ter ficado em Forks, Bella. Perto da reserva, onde o bando pode proteger Nessie
e toda sua família- Os humanos estavam começando a suspeitar.- Ela não iria ceder
facilmente.
- Ah, então se ela atacar um humano no Canadá, eles não vão perceber?
- Não se Rosalie estiver com ela, não perceberão. Rose é uma especialista em apagar
evidência.
Fiquei em choque.
- A loira está no meio também?
- Nessie não deixa mais ninguém tomar conta dela.
- Mas você é a mãe dela.
Ela encontrou meu olhar, e notei que seus olhos estavam além de preto, com fome. Ela não
tinha caçado, eu tinha certeza. Isso explicaria porque ela parecia muito mais como um cadáver
do que qualquer um de seus companheiros vampiros. A sede por sangue humano a estava
matando também.
- Não é tão simples assim ¾ ela finalmente disse.
Coçei minha cabeça em descrença.
- Ela não gosta de sangue animal?
- Você renunciaria completamente carne para comer apenas vegetais, Jake? – Ela tinha um
ponto.
- Sim, mas,-Uma risada escapou acidentalmente, como o que eu estava a ponto de dizer era
totalmente óbvio. ¾Estamos falando de humanos aqui.
- Edward matou humanos quando acabava de ser transformado.
Senti um enjôo em meu estômago, mas eu tinha que perguntar o inevitável.
-Você matou?”
Ela não tinha, eu podia dizer.
-Não – Ela balançou sua cabeça.
Todo esse tempo, eu estava tão focado em nossa conversa que não tinha reparado o que
estava acontecendo à nossa volta. Eu estava tão confuso, tentando entender tudo, que não
ouvi as vozes que nos chamavam. Então, de repente, ouvi uma comoção vindo do círculo onde
os anciões estavam se sentando com os Cullen.
Bella congelou no lugar, assim agarrei sua mão e a puxei junto comigo para o círculo.
Na hora que chegamos lá, Jasper estava gritando “Alice, Alice!” Seus olhos selvagens estavam
com o que apenas poderia descrever como loucura, ele se jogava violentamente como se
estivesse tendo um ataque epilético. Ele estava fora de si e ninguém sabia o por quê.
Carlisle e Emmett lutaram para contê-lo, mas eles pareciam estar tendo muita dificuldade para
conseguir tranqüilizá-lo. Ele estava totalmente fora de si mesmo.
- Alice está em problemas- Edward disse a Bella e a mim. – Jasper está agora mesmo sob a
influência do humor dela. Algo está realmente errado.
- Nós temos que ir lá. Ela está com a Nessie. – Eu nem tinha terminado de falar, quando ouvi
alguém chamando meu nome.
Era Seth. “Jake!” ele chamou de longe. Ele tinha saído da casa de Leah para vir nos avisar.
-Por que você deixou as meninas sozinhas? – Eu lhe perguntei.
-É Alice, não é?”- Edward perguntou a Seth.
Seth acenou com a cabeça sem dizer uma palavra.
- Pensei que você pudesse ouvir os pensamentos dela, – reclamei para Edward.
- Eu não estou ouvindo nada. É como se ela estivesse inconsciente agora, ¾ foi a resposta de
Edward.
O eremita veio até nós, sua voz tremendo.
-Leve-me até ela.
- O que está acontecendo com eles? – Eu perguntei, ainda confuso.
Mas Bella me interrompeu.
- Não temos tempo para perguntas, vamos. – Ela agarrou uma motocicleta que estava
estacionada na praia e saltou em cima, então ela foi para a casa de Leah.

Capítulo 3 – Desaparecida

Eu ouvi os gritos e corri para a casa da Leah com o eremita junto. Ouvir uma garota gritar
daquela forma era extremamente torturante e partia meu coração. O lobo dentro de mim
ameaçava despertar a qualquer momento. Ele reagia à adrenalina dentro de mim.
Eu conseguia ouvir as palavras de Leah ecoando dentro da minha mente, “sem transformações
hoje a noite … sem transformações … sem transformações.”
Respirando fundo, eu tentei calar a minha mente, mesmo pensando que eu não seria forte o
suficiente para lutar contra isso, especialmente se fosse para proteger Renesmee.
Mas era Alice que estava gritando. Minha audição ultra-sensível conseguia detectar até
mesmo as pequenas diferenças entre vozes familiares, então eu sabia, sem sombra de dúvida,
que era Alice. Ela parecia estar se contorcendo de dor. Minha tolerância para dor e desconforto
era extremamente alta, mas, mesmo assim, o som dos gritos fez com que os pêlos de todo o
meu corpo se arrepiarem. Eu não queria nem imaginar a agonia que ela devia estar passando.
Eu podia ouvir a voz da Bella vindo de dentro da casa da Sue. “Meu escudo não está
funcionando,” ela dizia para Leah no momento que eu e o “eremita” chegamos à porta.
Logo atrás de mim estavam Edward e Seth, enquanto os outros ficaram na praia, tentando
entender como ajudar Jasper. A primeira coisa que eu vi quando eu entrei foi Alice se
contorcendo violentamente no chão da sala. Ajoelhadas ao seu lado, Bella e Leah a seguravam
com um olhar de puro pânico nos seus rostos.
Então eu reparei na Loira parada no canto, seu olhar perdido na distância. Ela estava
paralisada e não reagia a nada do que acontecia a seu redor.
Tirando sua venda, o “eremita” rapidamente cobriu seu rosto com o capuz e então entregou a
venda para Leah. “Coloque isso nela”, ele instruiu.
No momento que Leah vendou Alice, os gritos cessaram e, de repente, tudo fez sentido para
mim.
“Onde está Nessie?” eu perguntei, olhando para os lados, o lobo grunhindo dentro de mim.
Bella levantou rapidamente e procurou desesperadamente por uma resposta no rosto de cada
um.
Todos nos olhamos, completamente perplexos.
Nessie não estava em nenhum lugar.
Rosalie continuava em seu estado de transe zumbi, não reagindo a nada.
“Rose!” Edward gritou na cara dela, mas ela não se mexeu. “Rose, fale comigo!” ele insistiu,
dessa vez sacudindo para acordá-la.
Nada.
“Tudo aconteceu tão rápido”, disse Leah.
“Onde está Nessie, Bella?” eu perguntei. “Você a viu quando chegou aqui?”
Enquanto seus olhos se moviam entre mim e Leah, Bella abanou a cabeça que não. Lágrimas
jorraram dos seus olhos enquanto seu instinto maternal tomava controle. “Você consegue ouvi-
la?” ela perguntou a Edward, sua voz tremendo com urgência.
Abaixando sua cabeça de derrota, Edward encolheu os ombros. “Não” ele murmurou.
“Nós estávamos tão preocupados em ajudar Alice”, Leah disse.
Nesse momento, uma onde de culpa tomou conta de mim de repente, e eu comecei a pensar
comigo mesmo, Isso é tudo minha culpa, eu devia ter avisado sobre a híbrida! Eu podia ter
prevenido isso -
“Que híbrida?” Edward berrou ao vir para perto de mim, bufando como um touro.
Minha super velocidade de lobisomem era um bom páreo para a velocidade vampira dele, até
mesmo estando na minha forma humana, mas eu estava tão preocupado com Renesmee que
eu não reagi rápido o suficiente para esquivar-me dele.
Antes que eu percebesse, ele me acertou bem no queixo e o impacto da sua fúria me lançou
de encontro a uma parede.
Eu estava fazendo tanto esforço para manter o lobo acuado que eu mal conseguia ouvir a Bella
gritando no fundo, “Edward, pare com isso!”
Assim que eu levantei, eu vi seu punho de mármore vindo na direção do meu rosto de novo,
mas dessa vez eu sabia o que esperar então eu pulei em um flash e fui para o lado na hora
certa.
Ele errou por muito pouco e, em vez disso, seu punho duro feito rocha entrou com tudo na
parede. Rosnando como uma fera, ele tirou seu braço do buraco que ele tinha acabado de fzer
na parede.
Ele estava se preparando para me atacar novamente quando Carlisle e seus rapazes, Emmett
e Jasper, entraram.
“Edward!” Carlisle chamou.
Eu já conseguia sentir a “transformação”. Somente um milagre poderia me impedir nesse
momento. Meu autocontrole tinha um limite e, se Edward me atacasse de novo, eu teria que
revidar.
O milagre que eu precisava desesperadamente veio de Carlisle. De alguma forma, a
compaixão do bom médico tinha um estranho poder sobre mim. Ela me embalou e acalmou. Se
não fosse por ele, o lobo dentro de mim poderia facilmente rasgar as gargantas dos seus três
meninos de uma só vez.
Mas Carlisle encurralou Edward muito mais rápido que eu poderia imaginar, sabendo
perfeitamente que seu filho nunca o desobedeceria. “Controle-se, Edward”, ele repreendeu com
sua voz calma mas firme.
Enquanto isso, Emmett e Jasper formaram uma barreira na minha frente, seus rostos
mostrando, silenciosamente, que eu teria que passar por eles primeiro se quisesse chegar
perto de Edward.
“Jake, você está bem?” perguntou Bella quando me viu puxando os pedaços da parede que
ainda estavam presos na minha roupa.
“A culpa é minha” eu adimiti, ainda respirando com dificuldade. “Eu mereci”.
“Não há razão para se sentir culpado, Jake. Estamos todos sob ataque aqui.”, Leah declarou
enquanto ela ajudava Alice a se levantar.
A essa altura, Billy, o Velho Quill, o chefe Swan e Sam tinham chegado junto com Esme e Sue.
Emily continuava parada na porta, olhando timidamente para dentro. Até onde eu sabia, essa
era, provavelmente, a primeira vez que ele colocou os pés na propriedade dos Clearwaters
desde que tinha começado a namorar Sam.
Enquanto lia a expressão de choque no rosto de todos, Esme seguiu diretamente para o sofá
onde Leah tinha acabado de colocar Alice. “O que está acontecendo?” ela perguntou com seus
olhos inspecionando rapidamente a sala de estar. “Onde está Nessie?”
“Ela simplesmente … desapareceu”, explicou Leah com uma hesitação óbvia.
Levantando minha voz defensivamente, eu perguntei, “O que você quer dizer com
desapareceu?”
Bella colocou sua mão gelada como gelo no meu braço e falou com um tom tranqüilizador. “Eu
disse que ela já fez isso antes.” Ela suspirou com resignação e completou “várias vezes.”
O comentário da Bella deve ter conseguido tirar a Loira do seu estupor, porque ela interveio
como se alguém tivesse acabado de espertar seu rosto perfeito de boneca. “Ela não estava
sonâmbula dessa vez, Bella –”
“Você devia estar tomando conta dela”, protestou Edward em defesa de Bella.
De repente a Loira ficou furiosa e vociferou com Edward. “Algo aconteceu conosco, seu idiota!
Você não ouviu os gritos da Alice?”
“Rose, por favor, deixe que eu resolvo isso” Carlisle disse enquanto começava a examinar
Alice.
“E você, Leah?” eu perguntei. “Tudo isso foi idéia sua”. Eu me esforcei para não parecer que
estava incriminado ela, mas por alguma razão não consegui.
Naturalmente, a defesa de Leah se ergueu. “Você estava se culpando a um minuto atrás. Qual
o seu problema, Jake?”
“O ataque contra Alice foi uma armadilha” opinou Sam ao chegar mais próximo a mim.
Ele esperou que alguém o contrariasse, mas todos ficaram em silêncio. Ninguém parecia ser
contra essa teoria. Eu mesmo tive que admitir que ele era o único que estava fazendo algum
sentido até agora.
Sem hesitar, chefe Swan pegou o celular e anunciou, “Eu estou ligando para o posto, nós
precisamos enviar uma equipe de busca o mais rápido possível. Ela não deve estar longe.”
Mas, quando ele começou a discar, Bella se lançou até ele e o fez desligar. “Espere, pai. Eu
não acho que seja uma boa idéia.”
Chocado, chefe Swan encarava Bella como se ela tivesse acabado de ficar louca. “Porque?”
Então Carlisle interveio. “Charlie, nós realmente apreciamos sua oferta, serio mesmo, mas eu
concordo com a Bella. Não há necessidade de envolver a polícia.”
“Acredite em mim, pai, é melhor se nós mesmos fizermos a busca. Nós podemos nos dividir em
grupos e –“
“Bella!” chefe Swan interrompeu. “O que está acontecendo com você? Sua filha está
desaparecida, pelo amor de Deus. Nós precisamos de unidade de cães farejadores e um
helicóptero, pelo menos.”
Eu não queria dizer nada, mas eu sabia porque os Cullens insistiam em deixar a policia fora do
assunto. Eles não podiam arriscar ser expostos, especialmente com as suspeitas que eles
tinham sobre Nessie. Se ela realmente estivesse caçando humanos, seria desastroso se os
policiais fossem pegos em sua ação.
De repente, eu me lembrei de quando eu me transformei na frente do chefe Swan só para
mostrar quão fundo vai o buraco do coelho (*referência a Alice no País das Maravilhas). Ele
ficou tão abismado com o fato ao estilo “não estamos mais em Kansas” (*referência a O Mágico
de Oz), que ele desistiu de me perguntar qualquer coisa.
Eu sabia exatamente o que tinha que fazer para tirar os Cullens desse apuro, então eu puxei o
chefe pro lado e sussurrei no seu ouvido, “Acredite em mim, cefe, essa é uma daquelas
situações que você não quer se enfiar.”
Isso foi o suficiente para acabar com a discussão, no mínimo da parte dele, mas ele ficou
visivelmente frustrado com o assunto. “Então está bem,” ele disse com um sinal de resignação.
“Não precisam me explicar mais nada. Eu vou voltar para o posto, caso haja alguma notícia
sobre isso.”
Bella piscou para mim. Era seu jeito silencioso de me agradecer. Ela abraçou seu pai e o levou
para fora, acompanhado da sua futura madrasta, Sue.
No momento que ele viu eles saírem, Edward veio até mim com um olhar sombrio em seu
rosto. “Você sabe de algo e não está nos contando, Jacob. O que é?”
Eu não tinha interesse em esconder nada deles, então eu falei sobre os estranhos sonhos que
e Sam vínhamos tendo sobre a híbrida, o talismã e o ataque psíquico que eu tinha sofrido na
noite anterior.
Ao ouvir minha explicação, Alice finalmente falou. “É a mesma coisa que aconteceu comigo.
Ela usou minhas visões contra mim. Foi como se eu tivesse perdido controle da minha mente e
todas essas visões inundaram minha mente de uma só vez. Nem mesmo o escudo da Bella
conseguiu me proteger.” Ela ainda estava usando a venda, provavelmente com medo da
loucura voltar se ela retirasse.
“Eu vi o talismã”, a Loira anunciou.
Surpreso, eu perguntei para ela, “Então você também está tendo esse sonhos?”
Ela acenou que não. “Nessie projetou a imagem na minha cabeça várias vezes. É exatamente
o mesmo talismã que você está descrevendo.”
Eu abaixei minha cabeça me perguntando se a minha relação com Nessie poderia estar
prejudicando ela. Eu não me preocupei se Edward podia ouvir meus pensamentos. Tudo que
eu queria era a felicidade de Nessie, mesmo que significasse sacrificar minha própria vida para
salvar a dela.
Então algo pareceu surgir no rosto de Carlisle. “Isso explica muitas coisas. Talvez essa seja a
razão dela estar sofrendo de sonambulismo. Ela deve estar sob a influência da híbrida.”
“O lado negro pode ser muito sedutor,” o eremita replicou, seu rosto escondido na sombra do
capuz. “Me parece que ela está sendo atraída.”
“Nós temos que encontrá-la agora,” eu os apressei, “não podemos perder tempo.”
“Mas alguém precisa ficar aqui e tomar conta da Alice”, protestou Leah.
“Nós ficamos com ela”, ofereceu o velho Quill, enquanto ele e Carlisle ajudavam a tirar meu pai
da cadeira de rodas para sentá-lo mais perto de Alice.
O eremita acrescentou “Eu vou ficar com eles também. Eu não quero atrasar vocês.”
Edward olhou furiosamente para a Loira, obviamente em resposta a algo que ela estava
pensando. “Não, Rose. É melhor você ficar para trás.”
“Eu estou perfeitamente bem” ela retorquiu com os dentes cerrados. “Você precisa de mim de
qualquer maneira. Se Nessie decidir mostrar para alguém o que está acontecendo com ela,
definitivamente será para mim. Eu sou sua confidente.”
Justo quando ela disse isso, eu percebi a Bella parada na porta de entrada, Deus sabe a
quanto tempo ela estaria parada ali. E, a julgar pela expressão dos seus olhos pretos como
piche, eu sabia quão fundo as palavras da Loira machucaram ela. Eu tive que, literalmente,
morder a minha língua para não xingar a Loira.
Edward passou correndo por mim para ficar ao lado de Bella. Provavelmente, ele esperava que
ela não tivesse ouvido o que aquela vaca, mas o desespero no rosto da Bella era impossível de
ignorar.
“Nós vamos achá-la, meu amor. Não se preocupe, está bem?”
Enquanto ele abraçava Bella, Edward virou para Carlisle. “Se você deixar Rose vir, eu não
quero ela no grupo.” Edward mal tinha acabado de falar quando aconteceu.
Emily, que estava parada o tempo todo na varanda, começou a gritar de repente, chamando o
nome de Sam. “Sam! Sam!”
Sam correu como um raio para a porta da frente. Menos de um segundo depois, Seth e eu
estávamos na porta, caso ele precisasse de nós.
Quando eu olhei para Emily, ela estava em um estado de pânico que eu nunca tinha visto ela
fica antes. Ela estava histérica, tentando falar entre soluços, mas ela não conseguia nem falar.
A única coisa que ela conseguia fazer era apontar repetidamente para um grande arbusto
próximo à parte de trás da casa.
Sam a pegou nos seus braços e a levou para dentro. Irônico que isso teve que acontecer aqui,
na casa dos Clearwaters.
Mas, em uma situação de emergência, ninguém tem tempo para pensar em ironias, então
Carlisle e Leah agiram por instinto e foram atender Emily. Eles procuraram por machucados ou
sinais de lesões físicas, mas ela parecia estar bem.
Então Sam os interrompeu. “Ela não está machucada. Ela viu algo lá fora.”
Ouvir a voz de Sam pareceu acalmar Emily, então ela arranjou forças para nos dizer o que ela
tinha visto do lado de fora. “Eu vi um enorme cão preto com brilhantes olhos vermelho
escaldante. Ele saiu das sombras atrás do arbusto, rosnando e babando, como se ele
estivesse prestes a me atacar.”
Assim que ela descreveu a besta que tinha visto do lado de fora, o eremita sobressaltou-se.
“Quão perto ele chegou?” ele perguntou a Emily.
Ainda tremendo, Emily explicou como o cão parecia ter um estranho charme nos seus olhos,
similar a uma cobra. Ela disse que ficou paralisada quando sentiu a força daquele olhar vindo
do arbusto. Ela nos disse que tentou se mexer, mas, por um segundo, ela parecia ter perdido o
controle do seu corpo.
“Estava se alimentando do seu medo”, o eremita disse através das sombras que seu capuz
lançava sobre o seu rosto, escondendo suas horrendas cicatrizes. O confiança da sua voz
mostrava que ele sabia exatamente qual animal era.
“Um cão de guarda”, acrescentou Carlisle, também dando a entender que sabia o que estava
acontecendo.
A essa altura, eu tinha certeza que alguma coisa estava tentando nos deixar presos dentro da
casa para que não pudéssemos sair para procurar Nessie. Tinha sido a armação perfeita, todos
nós tínhamos caído nela. Ninguém precisava me dizer o que a criatura lá fora era. Eu soube
institivamente.
Edward se virou para mim. Ele estava ouvindo o que eu estava pensando de novo.
“Um cão de caça do inferno”, nós dois dissemos ao mesmo tempo
“O que é isso?” Emily perguntou, seus olhos ainda molhados das lagrimas.
“Cães do inferno não são reais,” Jasper comentou. “Eles são só um mito.”
“Ah não, eles são reais sim,” o eremita respondeu. “Eles agem como o portão entre o mundo
dos mortos e o mundo dos vivos.”
Eu mal tinha colocado o pé para fora quando Sam segurou firmemente o meu braço e disse
“Jake, espere!”
“Sam, você precisa ficar com a Emily agora,” eu respondi, libertando meu braço do seu aperto.
“Droga, Jacob, você está colocando todos nós em perigo!” Ele parecia estar muito zangado
dessa vez.
Mas ele não ia me intimidar.
Eu ia me manter firme. “Ninguém está pedindo para você vir comigo.”
“Quem disse que eu vou? Eu estou falando para você levar o Seth. Se aquele animal atacar,
vocês dois com certeza vão se transformar.”
“Você não diria isso se Emily estivesse lá fora sozinha” eu protestei. “Você iria para salvá-la,
não importa o que pudesse acontecer.”
“Nós podemos fazer isso de forma segura, sem dar à híbrida o que ela quer-“
“Não temos tempo para estratégias!” eu lembrei.
“Você não entende? Se o que a Emily viu realmente for um cão do inferno, ele vai te destruir
antes que você consiga encontrar Nessie.”
“O que você faria se Emily estivesse desaparecida?” Eu o desafiei.
“Eu lidaria com o espírito do mal diretamente, não com sua forma animal.”
“E como eu devo fazer isso?”
“Da mesma forma que nossos ancestrais guerreiros-“
Sem deixar ele terminar, eu zombei e rapidamente virei minhas costas para ele. Então, eu
comecei a andar, murmurando baixo, “boa tentativa, Sam.”
Então, quando eu vi que Seth estava quase saindo junto comigo eu disse, “Seth, você fica com
o Sam.”
“Mas Jake,” ele estava prestes a insistir, mas eu não deixei.
Eu olhei diretamente para os seus olhos e disse, “Nem pense nisso.”
Ele deve ter visto a minha determinação na forma como eu olhava para ele porque ele
simplesmente deu alguns passos para trás e abaixou a cabeça.
Eu odiava desapontar ele já que ele era o único irmão cuja lealdade a mim nunca vacilou, mas
eu não queria machucar ninguém junto comigo. Se o cão atacasse, eu iria lidar com isso
sozinho.
Eu devia saber melhor. Assim que eu me aproximei dos arbustos onde Emily tinha visto o cão,
eu ouvi claramente várias pessoas correndo atrás de mim. Eu olhei por cima do meu ombro e vi
que eram Emmett, Jasper e Edward.
Era só o que eu precisava, eu pensei, virando os olhos.
“Nós vamos com você,” Edward disse.
E eu achei que tinha me livrar do maior problema ao convencer Seth em ficar na casa. Agora
eu estava preso com os Cullens.
“Nós devemos nos dividir em dois grupos para cobrir uma área maior.” Jasper sugeriu.
Edward concordou com Jasper através de um aceno e disse, “Emmett, você vai com o Jacob.
Se tiver um confronto, você assume. Nós não podemos arriscar que ele se transforme.”
“Eu sei cuidar de mim mesmo, Edward,” eu argumentei.
“Não vamos correr riscos desnecessários.” Eu juro que o Edward estava parecendo cada vez
mais com o Sam.
Mas a essa altura, eu não tinha tempo ou energia para ser orgulhoso. Eu não ia perder mais
nenhum minuto discutindo, até porque, eles não iriam me ouvir mesmo.
Quando estávamos prestes a nos separar, eu ouvi um barulho vindo das árvores logo acima de
nós. “Esperem!” eu gritei.
A julgar pela cara de perplexos que eles fizeram, eu tinha certeza que mais ninguém tinha
ouvido o barulho além de mim. Nenhum dos Cullens conseguiam captar os sons sutis que
meus ouvidos conseguiam.
Eu assinalei para todos ficarem quietos e ouvir com atenção. Nada.
É claro que tinha que ser o Emmett quem ia quebrar o silêncio. “Provavelmente é só um
esquilo, cão” ele riu.
“Lobo. Não cão. Lobo” eu repeti, tentando parecer feroz, depois virei par air embora.
Eu não dei cinco passos quando eu ouvi o barulho de novo, dessa vez mais perto. Então eu vi.
Antes que eu pudesse alertar eles, um vulto preto se lançou do topo das árvores e pousou
perto dos Cullens. Eu voei como um morcego para ver o que era, mas no momento que eu
cheguei lá, a besta já estava no pescoço do Edward.

Parte II
Capítulo 4: O Cão do Inferno
Em questão de segundos, o cão do inferno atacou Edward violentamente, imobilizando-
o no chão. O sangue jorrou em todas as direções quando a besta raivosa fundou suas
presas em seu pescoço. Eu nunca pensei que seria possível que a pele de Edward ficasse
mais pálida do que já era, mas eu estava completamente errado. Sua pele tinha um novo
tom de pálido.
A besta estava sugando o sangue do corpo de Edward e fazia isso rapidamente.
“Chame o Carlisle!” Emmett gritou, seus olhos corriam rapidamente em minha direção
e na de Jasper. Mas ele deve ter notado que estávamos perplexos e sem ideia alguma do
que fazer, assim como ele também estava, ele simplesmente o atacou ou assim pensou.
Ele nem havia tocado o cão, foi quando seu rabo o levantou no ar e o jogou contra o
tronco de uma árvore que estava há alguns metros.
Eu não precisei ver outra demonstração da força do cão do inferno para perceber que
nós estávamos em desvantagem, mas Jasper aparentemente discordou de mim.
Sem perder tempo, ele soltou um grito e se jogou contra a besta, mirando seu pescoço.
Mas, como eu suspeitava, a criatura tinha outros planos para ele.
Com apenas um balançar de seu rabo, ele parou Jasper e o arremessou no ar. Jasper
bateu as costas em uma pedra, e tenho absoluta certeza de que ouvi seus ossos
quebrarem.
Enquanto isso, Emmett havia se recuperado parcialmente do ataque, ele se levantou e
rapidamente foi ao encontro de seu irmão. Mais uma vez, o cão parecia ter olhos na
parte de trás da cabeça pois nem precisou se virar para ver que Emmett o atacaria
novamente.
Antes que pudéssemos perceber, Emmett estava sendo jogado novamente no ar. Só que
desta vez, ele não teve sorte. Ele se feriu ao se chocar contra um galho de uma árvore, e
pelo que parecia, perdeu a consciência no mesmo instante.
E Edward parecia indefeso entre as garras da criatura, sua pele estava cinza e enrugada
por causa da perda de sangue. Olhando Edward indefeso e sem força alguma daquele
jeito, eu só conseguia pensar em Nessie. Ela nunca me perdoaria se seu pai morresse
daquele jeito.
Àquela altura eu sabia que seria inevitável me transformar. Eu não iria ficar lá parado,
deixando que aquela criatura acabasse com os Cullens. Eu já havia presenciado o
suficiente para ver que os vampiros não conseguiriam acabar com esse demônio, não
havia mais volta. Eu tinha que salvar a família da Nessie, ou ao menos morrer tentando.
Eu me preparei para aquilo que poderia ser a última batalha da minha existência e
pensei no rosto de Nessie enquanto a fúria dentro de mim me transformava em lobo.
O tempo pareceu parar durante minha transformação. Pensei no que minha decisão
envolvia. Eu sabia que havia escolhido sacrificar a minha vida e a vida da minha
matilha apenas para tentar salvar os Cullens. A única coisa que esperava era ter tempo
suficiente para acabar com essa besta.
Minha pele agora estava coberta de pêlos, eu fiquei sob as quatro patas e uivei para
atrair a atenção do cão do inferno. Meu coração batia como se houvesse uma centena de
tambores martelando contras as minhas costelas, e meu sangue fervilhava com a
adrenalina.
Logo quando eu estava pronto para atacá-lo, o demônio se virou rapidamente, seus
olhos vermelhos furiosos me encararam. Agora eu tinha entendido o que Emily quis
dizer, já que eu havia começado a sentir o que ela descreveu. Meu corpo inteiro
sucumbiu com o olhar do cão, eu não conseguia me mexer, não importava o quanto eu
tentasse. Como a loira, eu também estava paralisado. Por um momento, pensei que meu
sacrifício havia sido em vão e que trai minha matilha por nada. Até algo interromper
meus pensamentos.
Jake! Uma voz soou. Era a voz do Sam, mas eu não a ouvia com meus ouvidos. Eu
estava ouvindo seus pensamentos, o que só podia significar uma coisa. Ele também
havia se transformado.
Sam, que diabos você está fazendo? Eu respondi em minha cabeça.
A matilha está segura, ele explicou. O eremita achou um jeito de proteger a todos, mas
você deve voltar para casa antes que seja tarde demais.
Apesar de estar aliviado ao saber que todos estavam seguros, eu ainda estava com o
corpo paralisado. E mesmo que eu pudesse me mover, me recusaria a deixar os Cullens
para trás. Deveria haver um jeito de acabar com esse monstro, e eu estava determinado a
descobrir como.
Mas então, Sam deve ter ouvido minhas intenções porque parou de insistir e apenas
disse, Encontre sua fraqueza, Jake. Chame nossos ancestrais para te ajudar.
Quando ele mencionou nossos ancestrais, algo me ocorreu. Eu lembrei que o velho Quil
disse uma vez, durante uma fogueira, que verdadeiros guerreiros devem aprender a
controlar seus pensamentos para assim poderem pedir a ajuda dos ancestrais. E isso
finalmente fez algum sentido para mim. Foi isso que Sam estava tentando me falar
quando me disse para parar de pensar.
Foi quando a criatura começou a andar ao meu redor. E, julgando pelo seu olhar, eu
poderia dizer que ela estava escutando a minha conversa com Sam. A maldita besta
conseguia ler meus pensamentos, eu tinha certeza disso.
Mas eu sabia o que tinha que fazer. Eu não conseguia lutar com meu corpo, eu teria que
usar a única arma que me restava – minha mente.
Ao invés de tentar me mexer, eu respirei fundo e me livrei de qualquer pensamento.
Apesar dessa tarefa parecer algo impossível quando Sam a mencionou pela primeira
vez, em tais circunstâncias, eu sabia que era minha única chance de vencer essa batalha,
então eu parei e foquei toda a minha energia em silenciar minha mente.
Ainda andando ao meu redor, o cão balançava sua cabeça, mas não tirava os olhos de
mim. Eu conseguia ver o sangue de Edward pingando de suas presas.
Surpreendentemente, percebi que ao bloquear meus pensamentos, eu também bloqueava
o medo que sentia. Não importava quanto o demônio tentasse me intimidar, eu não
conseguia sentir medo porque não estava pensando nisso.
É assim que acontece? Me perguntei. O medo é apenas um pensamento que provoca
uma reação emocional?
O cão se aproximou de mim e farejou, aparentemente procurando por um cheiro que
não estava ali. Enquanto eu o encarava, eu tive a impressão de que minha estratégia
parecia funcionar porque ele parecia confuso.
Eu lembrei o que o eremita havia dito à Emily. “Ele estava se alimentando de seu
medo.”
Era o cheiro do medo que ele estava procurando. O cheiro do meu medo. Eu demorei a
acreditar nisso. Mas então, eu senti meus batimentos desacelerarem, percebi que meus
músculos lentamente pararam de se enrijecer. Eu estava completamente errado. Não era
o olhar do cão do inferno que havia me paralizado. Era o meu próprio medo. Ele estava
apenas usando o meu medo contra mim, refletindo isso como se seus olhos fossem
espelhos, ou escudos que desviam os ataques contra ele.
Ainda me encarando, ele parou de andar ao meu redor, e um uivo escapou de suas
presas ensanguentadas.
Alguma coisa que dizia que isso era mais um uivo de frustração do que uma tentativa de
me intimidar, então eu tentei dar uma passo à frente para testar a minha teoria. E foi o
suficiente, como eu pensei, eu havia retomado o controle total do meu corpo e
conseguia me mover livremente. Mas nem ao menos uma vitória poderia se comparar
ao poder que eu senti. Foi algo que rapidamente percorreu todo o meu corpo como se
fosse droga em minha veia. Eu me senti poderoso como nunca havia me sentido. Sem
dúvida alguma, as cartas na mesa viraram, e agora era eu que me alimentava do medo
da besta.
A criatura foi se afastando, colocando seu peso nas patas traseiras.
Eu não tinha certeza se ela estava se preparando para atacar ou para fugir, mas eu
permaneci do mesmo jeito. Venha seu covarde, eu pensei, zombando dele. Mas já que
não conseguia mais ouvir o que eu pensava, eu continuei mostrando ao cão que estava
pronto para atacá-lo.
Eu queria destroçar tanto aquele demônio e sentir o gosto de seu sangue. Na forma de
lobo, eu era alguém muito diferente de quando humano. Como lobo, eu era um
assassino selvagem. Uma besta. Pura adrenalina. Uma máquina de matar. Eu jurei que
se aquele monstro fizesse qualquer coisa que machucasse a minha Nessie, eu lutaria
com ele até a morte para vingá-la. Eu estava pronto para tudo, até mesmo se isso
significasse morrer para que Nessie pudesse viver.
Mas o cão não parecia estar mais tão ávido para lutar, especialmente quando o resto da
matilha apareceu sem avisar.
Para minha surpresa, os garotos que participavam da fogueira na praia repentinamente
saíram da escuridão, cada um em sua forma de lobo. Paul, Embry, Jared e Quil se
juntaram a nós. Sue e Charlie devem ter perguntado o que eles iriam fazer quando
pegaram o carro de Charlie emprestado.
Eu mantive os meus olhos fixados no cão enquanto os lobos o cercaram. Cuidado com
seu rabo, eu os alertei, sabendo que todos conseguiam me ouvir quando eu estava na
forma de lobo.
Formamos um círculo ao seu redor e estávamos prontos para atacá-lo quando, do nada,
o demônio se transformou em uma mulher. Ela estava toda vestida de preto e tinha um
talismã em seu pescoço, o híbrido dos meus pesadelos se materializou diante de meus
olhos, me encarando com aquele mesmo olhar penetrante da besta.
Nenhum de nós se moveu, os outros pareciam esperar pelo sinal verde para atacar. Eu
ainda estava perplexo com sua transformação, precisava de um momento para recuperar
minha respiração. Que diabos era aquilo? Seria ela uma metamorfo também, assim
como nós?
Eu estava pronto para atacá-la, mas então ela disse meu nome e foi isso que me deteve.
Ela disse, “Se você me matar, nunca saberá onde a Renesmee está.”
E eu já não sabia mais o que sentir nesse momento. Eu estava muito confuso, e não
sabia o que dizer. Mas a híbrido queria falar, e eu a ouviria. Não importava quanto
tempo demorasse, se isso fosse fazer com que ela me dissesse onde eu poderia encontrar
Nessie.
Eu ignorei o olhar de dúvida dos meus irmãos e voltei à minha forma humana. Então, eu
tentei conversar com ela com uma voz calma. “O que você quer com a Nessie?”
“Ela pediu minha ajuda,” respondeu.
“Sério?” Eu perguntei, sem acreditar em nenhuma palavra que dizia. “E porque ela faria
isso?”
“Nessie não é a criança feliz que você pensa que é, Jacob.”
Ela me respondeu com raiva, juro que eu poderia tê-la estrangulado naquele momento,
mas sabia que tinha que me controlar, e isso estava começando a parecer uma
negociação. “Me diga onde ela está.”
Certa satisfação apareceu em seus olhos, ela sorriu e balançou a cabeça como se
zombasse de mim. “Você realmente não acha se será simples assim, né?”
Eu respirei fundo para não me transformar novamente, mas sabia que teria que fazer seu
joguinho, senão não conseguiria as respostas que queria. Eu deveria ter percebido isso
no momento em que Nessie desapareceu. Ela não estava caçando humanos. Ela foi
capturada por um monstro que deixava estragos por todos os lugares que passava. Mas o
que a híbrida queria com a Nessie?
“Apenas me diga o que você quer em troca,” foi a única coisa que consegui pensar.
Pouco convincente, eu sei, mas eu estava desesperado. Eu olhei para meus irmãos lobos
e não precisei ouvir seus pensamentos para saber que eles estavam tão frustrados quanto
eu.
Nesse meio tempo, a híbrida continuou a me torturar com seu joguinho sádico. “Ela
pediu que eu a levasse comigo, Jacob. Me implorou pelo presente de aniversário que os
pais negaram a ela.”
“Que presente?” Eu perguntei bruscamente, já temendo sua resposta.
Ela deve ter antecipado minha reação sobre o que iria me dizer porque levantou seu
talismã e disse, “Nessie quer ser uma vampira assim como o resto de seu clã.”
Eu nem tive a chance de me transformar e atacá-la, foi quando uma luz branca saiu da
pedra que havia no centro de seu talismã, nos cegando. Quando consegui me recuperar,
vi que essa explosão de luz fez com que voássemos da mesma forma que o rabo do cão
do inferno fez com Emmett e Jasper.
Enquanto conseguíamos nos levantar, eu vi que a híbrida havia sumido junto com a luz.
Olhei ao meu redor, ainda perplexo com a explosão, mas não consegui encontrá-la. Ela
se foi e, junto com ela, a minha esperança de encontrar Nessie.
Voltei à minha forma humana, assim como os outros lobos. Com tudo que acabara de
acontecer, eu não estava com saco algum para escutar as reclamações de como eu lidei
com as coisas, então me virei e fui em direção à casa da Leah. Minha noite já deu o que
tinha que dar e minhas energias tinham se esgotado. A última coisa que eu queria era
discutir com alguém.
Mas deixe isso com o Paul…como sempre, ele veio me provocar. Ele foi atrás de mim,
parou na minha frente e me encarou. “Ei, cara, qual é o seu problema?” ele disse, me
empurrando.
“Sai da minha frente,” eu disse e o empurrei bem na hora que me desviei de um soco
que facilmente deslocaria minha mandíbula.
Paul era o mais rápido da matilha e vivia escolhendo com quem brigar, especialmente
comigo. Infelizmente, algum dia eu o teria como meu cunhado, já que ele sofreu um
imprinting por minha irmã Rachel. Acho que isso não era o suficiente para fazer com
que ele parasse de desafiar minha autoridade sempre que podia.
Em outras circunstâncias, eu teria prazer em quebrar o seu nariz do mesmo jeito que fiz
um dia quando ele apareceu em minha casa sem ser convidado. Mas dessa vez ,eu não
deixaria que ele me chateasse. Para minha sorte, nossas brigas passadas me ensinaram
algumas coisas. Eu aprendi a antecipar seus movimentos, prevê-los e saber qual seria o
seu próximo ataque antes mesmo dele fazê-lo.
“Por que você não faz algo de útil e vai ver como a Rachel está, seu idiota?” Eu disse a
ele quando chegamos à varanda da casa da Leah. E continuei a andar. “Ei, ela não te
falou daquela quedinha que tem por turistas europeus? Sabe…aqueles loiros,
bronzeados, olhos azuis, ricos. Aposto que ela deve estar tirando fotos com eles agora.”
Paul parou e uivou alto, com os braços no ar. O que eu disse o atingiu feio, bem onde eu
queria.
Antes de fazer o caminho de volta à praia, ele virou e disse, “Isso ainda não acabou, seu
babaca!”
Eu iria dizer onde ele poderia enfiar esses insultos estúpidos, mas eu não queria
desrespeitar Bella, que tinha acabado de sair da casa, assustada. Logo atrás dela veio a
loira, Carlisle e Esme. Sam, Seth, Leah e os outros permaneceram dentro da casa,
provavelmente cuidando da Alice e da Emily. Seja o que for que o eremita tenha feito lá
salvou nossas vidas, apesar de eu não ter muito certeza quanto ao caso do Edward.
“Jake, o que foi aquela explosão?” Bella perguntou, seus olhos estavam em pânico.
“Cadê o Edward?” Ela passou por mim, percebeu que ele vinha em direção à casa e se
encolheu ao vê-lo. Ela desviou o olhar como se não aguentasse olhá-lo naquele estado,
mas logo reuniu forças para encarar o que havia sobrado de seu marido. “Edward, fale
comigo,” ela gritou ao sacudi-lo. “Edward, por favor!”
Enquanto isso, a loira ajudou a remover o galho do peito de Emmett, e Esme foi checar
como Jasper estava, já que ele estava consciente, mas não conseguia se mover da cintura
para baixo.
Carlisle permaneceu calmo sob tais circunstâncias. Apesar de tudo, ele foi treinado para
agir dessa maneira nessas situações. Ele observava a cena da varanda, e eu conseguia
ver os pontos de interrogação que surgiam nele apenas de olhar para seu rosto
pensativo.
Eu percebi que ele analisava os estragos para assim poder ver qual de seus filhos
precisava de um cuidado mais urgente. E logo, assim como suspeitei, ele se ajoelhou ao
lado de Edward e começou a examinar as feridas em seu pescoço.
Eu me sentei ao lado de Bella para lhe dar o meu apoio, mas decidi me calar já que sua
atenção estava voltada em decifrar a expressão de Carlisle.
Um silêncio pairou sobre nós. Foi o silêncio de saber – apenas de saber – que algo
trágico estava acontecendo. Edward não parecia nada bem. Seus olhos estavam
fechados e ele não se mexia. Todo o sangue que tinha havia acabado. Foi sugado.
Sugado até chegar aos seus ossos. Toda a atenção foi voltada a Edward.
“Foi aquele cão do inferno, não?” Carlisle me perguntou ao ver as marcas de dentes no
pescoço de Edward.
Meu olhar se perdeu, eu confirmei com a cabeça sem dizer palavra alguma. Eu não só
havia perdido Nessie, como também falhei ao salvar Edward. Nem ao menos conseguia
olhar para Bella, então fiz o que qualquer covarde faria. Me afastei dela e tentei conter
toda a raiva que tinha dentro de mim.
“Ele ficará bem,” Bella disse em um tom não muito convincente. “Ele não pode morrer
a não ser que seja cortado em pedaços e… queimado.” Sua voz saiu como um sussurro
quando percebeu o rosto de desespero do bom médico. “Não é isso, Carlisle?”
“Temos que fazer uma transfussão de sangue para ele assim que possível. Não restou
sangue algum em seu corpo.” Carlisle respondeu em um tom nada bom para mim.
“Jake, você pode me ajudar a levá-lo para dentro?” ele continuou.
Sem perguntar, fiz o que Carlisle pediu, apesar de ter a impressão de que ele deixara de
falar alguma coisa. Eu olhei para sua mandíbula e percebi que todo o seu corpo estava
tenso enquanto levantávamos Edward.
Bella nos acompanhou e trocou olhares comigo. Ela também ficou insatisfeita com a
explicação de Carlisle. “O que acontece quando um vampiro perde todo o seu sangue?”
ela perguntou.
Carlisle abriu sua boca para falar quando Emmett e Jasper, acompanhados de Esme e da
loira, apareceram para ver como Edward estava. Agora os dois irmãos já estavam
recuperados como se nada tivesse acontecido.
Os vampiros têm a habilidade de se recuperar rapidamente, quase igual aos lobisomens.
Eles conseguem se recuperar até se algumas partes de seus corpos forem cortadas fora.
Literalmente. É por isso que só cortar o vampiro em pedaços não é suficiente para matá-
lo. Você tem que queimar seus pedaços e enterrar as cinzas em sete “covas” separadas,
como os ancestrais Quileutes diziam.
Essas covas, é claro, não significam o sentido tradicional da palavra, mas buracos que
fazíamos nas montanhas para manter as cinzas de cada vampiro longe de poderem se
unir novamente. Era apenas uma medida preventiva, mas ao mesmo tempo um ritual
importante. Nossa espécie vem passando isso para todas as gerações das matilhas. Os
imortais eram difíceis de matar, então tínhamos que ter certeza de que eles
permaneceriam mortos.
Desde que descobri que conseguia me transformar em lobisomem, eu passei a confiar
mais naquilo que era passado para nós sobre nossos ancestrais. Eu passei a acreditar que
sabíamos muito sobre tudo o que havia sobre os frios.
Nunca vi quão ingênuo eu era até aquela noite.
O que aquela criatura fez com o Edward me deixou com muitas dúvidas. E, pelo que
pude ver, teve o mesmo efeito em Carlisle, que parecia ter tantas dúvidas quanto eu,
senão mais.
Eu deixei os Cullens na casa da Leah, esperando que o velho Quil ou o eremita pudesse
esclarecer esse mistério. E, cara, eu estava pedindo muito!
A sala da casa dos Clearwater mudou muito nesse tempo em que estivemos fora, tanto
que eu tive que esfregar meus olhos para ter certeza de que estava no lugar certo. Todas
as luzes estavam apagadas e os móveis foram retirados para que fosse feito um grande
círculo com um pó vermelho no chão. A única luz que havia vinha de algumas velas em
volta do círculo.
À primeira vista, o lugar parecia um ritual de bruxas, com um pentagrama desenhado no
chão. Alice estava sentado no estilo indiano no centro do pentagrama, com Leah, Seth,
Sam, Emily e o eremita posicionados uniformemente entre o círculo. Eles estavam de
mãos dadas e olhavam para o centro do círculo, cada um deles ficava em uma das
pontas do pentagrama.
Eles permaneceram parados, mesmo após termos entrado na casa carregando Edward.
A coisa toda parecia meio assustadora para mim. Mas, novamente, quem sou eu para
falar? Eu não prestrei muito atenção aos livros de Edgar Allan Poe na escola, então não
sou um perito no assunto.
“É um círculo de proteção,” Bella explicou ao ver meu rosto impressionado.
Foi quando vi que Sam usava uma faixa sob seus olhos. Ao menos entendi o que ele
quis dizer mais cedo quando me falou que era seguro para a matilha se transformar
novamente.
“E a Alice?” eu questionei.
Leah deve ter antecipado minha pergunta pois rapidamente respondeu, “Ela insistiu em
dar a faixa ao Sam, então tivemos que achar outra maneira de proteger sua mente.”
“Enquanto ela estiver no círculo, estará livre de qualquer ataque psíquico, não
importando a sua força,” o eremita continuou.
De qualquer jeito, isso significava que a Alice teve que sacrificar sua sanidade para nos
dar uma chance de lutar, e que eu tinha falhado com ela também. Eu já me sentia mal
antes, agora me sentia pior.
Eu balancei minha cabeça em gratidão e disse, “Obrigado, Alice. Você salvou a
matilha.”
“Quando precisar, Jake,” ela disse com aquele sorrisinho que já era sua marca
registrada.
Apesar de seu otimismo, eu não conseguia enxergar uma luz no fim do túnel. “Eu queria
poder dizer o mesmo sobre mim,” eu confessei.
“Ah, qual é Jake,” Bella resmungou. “Se dê algum crédito pelo menos. Você foi muito
corajoso de ir lá.” Ela pausou, provavelmente percebendo a cara que eu fiz, mas eu
podia jurar que pelo jeito que seus lábios se moviam quando falava comigo, ela tinha
muito mais a dizer.
Eu a parei antes que ela continuasse. “Deixa quieto, Bella, eu não quero escutar.”
Conhecendo Bella, eu tinha certeza de que ela tinha as melhores intenções e só queria
me ajudar. Ainda sim, o tom de sua voz era apaziguador, quase maternal. Isso me
frustrava, me deixava com um nó na garganta. Eu não queria que ninguém sentisse pena
de mim, especialmente a Bella. Ela tinha boas intenções, eu sabia disso, mas, ainda sim,
eu me sentia um lixo, e havia algo em mim que ela não poderia curar. Nem em um
milhão de anos. A não ser que ela pudesse me dizer onde encontrar Nessie.
Eu ajudei Carlisle a deitar Edward no primeiro sofá que encontramos, logo após isso eu
fui à varanda, com a vergonha estampada em meu rosto.
No instante que fiquei do lado de fora da casa senti um frio estranho no ar. Fiquei com a
pele arrepiada, e um calafrio percorreu minha espinha. Tive uma estranha sensação,
como se alguém estivesse a me observar.
Eu vasculhei ao redor da casa várias vezes.
Nada.
O único movimento que detectei foi o das folhas das árvores e dos galhos que
balançavam com o vento. Aqui e ali, um grilo cricriava ou um cachorro latia ao longe.
A música vinha das ondas da praia, o volume ficava alto e sumia repetidas vezes.
Nada de estranho registrado por minha super audição. E o meu sexto sentifdo? Bem,
isso é outra história. O instinto de sobrevivência de um lobo sentia a presença de
alguém por perto. Eu sabia que alguém – ou algo – estava me observando, ou pior, me
seguindo.
Ainda em posição de guarda, eu sentei nos degraus, com os cotovelos nos joelhos, e o
queixo na palma das mãos. Apesar de eu ter deixado a porta fechada, eu conseguia
escutar o que acontecia do lado de dentro da casa, era como se eu estivesse lá.
“Aonde ele está indo?” Bella sussurrou, e eu escutei seus passos ao se aproximar da
porta da frente.
Os passos pararam de repente e Esme falou. “Dê um minuto a ele, querida. Ele passou
por muitas coisas esta noite.”
Ate mesmo a loira reclamou, “Nós todos passamos.” Nossa, que previsível! Ela não
podia deixar outra pessoa ser o centro das atenções.
Pare de falar como se eu não pudesse te escutar, eu pensei, desejando poder dizer isso
na sua cara. Ao invés disso, voltei minha atenção para os estranhos sons que vinham da
floresta. A loira é uma pessoa tão vazia, que valeria mais a pena conversar com um
macaco. Pelo menos os macacos têm cérebro.
Por algum tempo, eu não ouvi mais ninguém conversando. O silêncio me arrepiou, me
lembrou como eu me sentia inútil de ficar sentado ali, tentando me defender de algo.
Então eu escutei novos passos, mas esses eram diferentes do que eu havia escutado
antes. Eram mais demorados do que os de Bella, como se fosse uma pessoa mais velha
tentando andar.
“Eu vou falar com ele,” disse o velho Quil quando abriu a porta e saiu da casa.
“Obrigado por sua preocupação, velho Quil,” eu disse em um grunido, “Mas, por favor,
poupe o sermão. Eu sei que eu deveria ter matado aquela criatura quando tive a chance.”
Após fechar a porta, o velho Quil foi até os degraus da varanda e sentou-se perto de
mim. “E quem disse que eu estou aqui para te passar um sermão?” perguntou,
colocando suavemente a mão em meu ombro.
No mesmo instante, eu senti como se eu fosse um garotinho que precisasse do colo de
alguém. “Eu sei, sou um covarde, mas não quero a pena de ninguém,” resmunguei.
“O único aqui que está sentindo pena de alguém é você mesmo, Jacob.” Eu juro que
teria doido menos se ele tivesse me dado um saco na cara.
“O que eu devo fazer?”
As linhas de seu rosto ficaram mais promerientes quando ele sorriu. “Quais são suas
opções?”
Eu balancei a cabeça e revirei os olhos. “É sério, velho Quil, estou te pedindo um
conselho, e tudo o que você faz é responder minha pergunta com outra pergunta!”
“Então é melhor algum de nós começar a dar algumas respostas.” Ele pausou e esperou.
“Certo?”
“Ok,” eu disse a ele e rapidamente me lembrei de tudo que havia acontecido. Não
demorou muito para a resposta aparecer.
Seus olhos se iluminaram quando ele percebeu a mudança em minha expressão. “Bem?”
“É o talismã!” Eu exclamei. “É a fonte do seu poder. É isso que faz com que ela se
transforme, desapareça e confunda nossas mentes.”
“Ah, o talismã, é claro,” disse o velho Quil como se ele sempre soubesse da resposta.
Eu deveria ter ficado zangado por ele não ter me dito isso antes, mas, na verdade, eu
estava agradecido por ele ter feito com que eu encontrasse a resposta. “Eu sei o que
tenho que fazer,” eu disse a ele enquanto me levantava. “Eu tenho que pegá-lo dela.”

Capítulo 5: O Talismã
Meu coração estava explodindo de emoção antecipadamente. Eu não podia esperar para
embarcar numa busca pelo talismã, eu sabia que acabaria a me levar pra Nessie. Pela
primeira vez em vários dias, eu sabia que além da sombra de uma dúvida que eu tinha
encontrado o tendão de Aquiles do híbrido. Uma vez que tivesse o talismã em minha
posse, o híbrido seria forçado a me dizer onde estaria Nessie.
Uma única possibilidade me assombrava agora. A possibilidade de o tempo estar
acabando. E, se eu não tivesse pressa, seria tarde demais. Recusei-me a acreditar que o
híbrido tinha dito sobre minha Nessie. Que ela chamou o híbrido a partir de sua própria
vontade, de modo que ela pudesse se transformar em uma vampira completa. Só o
simples fato desse acontecimento fez todos os pelos do meu corpo ficar em pé.
Ele pendurou meu pescoço como um albatroz, pesando-me para baixo com visões
terríveis de Nessie beber sangue humano, seus olhos vermelhos carmesim, e os lábios
ensopados com a evidência do seu crime. Sam e o resto dos lobos nunca iriam tolerar
isso. Se Nessie estava prestes a se transformar em uma sanguessuga totalmente
desenvolvida, com um apetite insaciável por sangue humano, o antigo tratado entre os
Cullens e os Quileutes estaria terminado. Especialmente agora, com o destino de
Edward tão incerto, os Cullens seriam forçados a prolongar sua estadia.
E se Nessie matou todos os seres humanos nas terras do tratado, uma guerra seria
inevitável, então. Eu me vejo no meio dela. Forçado a escolher um dos lados. Divido
entre defender a menina que eu amava e cumprindo o meu dever, de proteger o meu
povo. Claramente, a falha não foi uma opção para mim.
O preço para isso seria muito grande e eu não estava disposto à paga-lo. O Talismã
tinha que ser meu mesmo que isso significasse ir ao fim do mundo para encontrá-lo. Eu
só tinha certeza de que fiz tudo bem na hora de parar Nessie de cometer o maior erro da
sua existência. Eu tive que roubar o talismã do hibrido antes que ele pudesse
transformar Nessie em uma vampira completa, e só havia uma maneira de fazê-lo.
Agarrando com apreensão o braço do velho Quil, eu tentei ajudá-lo a sair da varanda,
mas ele riu, balançando a cabeça e acenando com uma mão um gesto de recusa.
“Vamos, filho”, ele riu com benevolência, tendo o seu tempo de se levantar por conta
própria. “Eu poderia ser o mais antigo entre nós, mas eu ainda posso cuidar de mim. Vá
lá dentro.” Ele fez uma breve pausa enquanto se recompôs e olhou em volta. “O
amanhecer está se aproximando.”
Eu não gostei da maneira como ele baixou a voz e falou as ultimas palavras. Eles
levaram um tom distinto de apreensão que eu senti quase que imediatamente. Eu podia
pela forma como os seus olhos estavam observando as arvores, que realmente havia
algo lá fora, perseguindo-nos. Não era eu o único paranóico.
“O que é isso, velho Quil?” Eu pedi apenas para verificar novamente.
Em vez de responder a minha pergunta, ele soltou um estridente apito que eu conhecia
muito bem. Nosso antepassado lobo tinha ensinado para nós como podermos nos
comunicar com os outros a qualquer momento enquanto estávamos em forma humana e
não poderíamos nos comunicar telepaticamente. Cada um de nós poderia ouvi-lo a
milhas de distância, não importa quão disperso que estejamos. Nosso povo é usado
apenas em momentos de angustia, e ele foi criado para reunir todos.
“Eu vou encontrar Sam”, eu disse, pegando a maçaneta da porta.
Com apenas a porta da frente aberta, Bella saiu com Sam após fechar a porta. Ele ainda
usava a venda, mas não parecia ter nenhuma dificuldade em se movimentar, o que
significava que ele podia ver perfeitamente bem.
Como os dois saíram para a varanda, eu dei uma olhada dentro da sala de estar e
observei o Dr. Cullen tinha corrido com o mesmo circulo que Sam. Então, mesmo antes
de Sam fechar a porta de novo, eu vislumbrei o rosto de todos dentro da sala. Eles todos
ouviram o apito de alarme do Velho Quil e estavam visivelmente chateados por ele,
especialmente Seth E Leah.
Eu poderia dizer que estavam morrendo de vontade de sair, mas, a menos que alguém
tomasse seus lugares no circulo, eles estavam lá para proteger Alice. A porta da frente
fechou, mas eu ainda conseguia ouvir o barulho interior. Suas vozes falando ao mesmo
tempo, e eu mal podia fazer o que estavam dizendo, assim que meu mecanismo de
defesa surgiu na minha cabeça, eu tive que ajustá-los.
“Jake, preciso falar com você agora”, Bella exigia e seus olhos dispararam para os lobos
que já começavam a se reunir em volta da casa.
Eu hesitei. “Mas, Bells, há algo lá fora. Temos que ir patrulhar a área.”
“Isso pode esperar?” Sam perguntou incapaz de esconder sua impaciência.
“Não, não pode”, ela retrucou, então pegou minha mão e me puxou para perto o
suficiente pra sussurrar no meu ouvido, “Você esqueceu-se do Edward?”
Sam teve a mesma audiência supersensível, exatamente como eu, então eu sabia que ele
ouvira o que Bella acabou de me falar. Ainda assim, ele ignorou a coisa toda e
perguntou: “Jake, você vem ou o quê?”
Eu dei a Bella uma rápida olhada, e a angustia em seu rosto me pegou realmente de
surpresa. Não havia nenhuma maneira que eu poderia dizer não a ela. Por um instante,
eu percebi o quão profundamente ligado estávamos. Literalmente, eu me peguei
sentindo a mesma dor que ela. E, no entanto, ao mesmo tempo, eu odiava ter que deixar
a matilha. Então, eu simplesmente estava ali, pensando em minhas opções por um
segundo.
Quando eu estava pronto para dizer algo, o Velho Quil bateu em minhas costas e falou:
“Tenho certeza que os meninos podem patrulhar muito bem sem Jacob”, disse a Sam.
Isso é foi tudo para levar a concentração pra longe de Sam. Velho Quil representava
tudo que Sam estava tentando se tornar um dia. Desde que eu podia lembrar Velho Quil
tinha sido mentor de Sam, modelo, ídolo. Sam o tinha colocado em um pedestal a partir
do dia que ele descobriu que as histórias de todas as lendas sobre nosso antepassado
lobo eram realmente verdadeiras.
“Sem problemas”, Sam murmurou, com uma pontada de amargura. “Nós vamos cuidar
dele.” Para evitar os nossos olhos, ele abaixou a cabeça em direção ao Velho Quil para
se desculpar e depois foi se juntar a matilha com o rabo entre as pernas.
Isso era tudo, pelo menos por agora. Eu sabia que mais tarde iria ter que escutar sobre
isso, especialmente sabendo que Paul tinha me tido isso, também. Eles foram se juntar a
matilha assim que acabou, mas eu não tinha o luxo de me preocupar com isso agora.
Vou ter que lidar com isso quando chegar a hora.
Bella apertou a mão do Velho Quil, forçando o sorriso mais triste que eu já vi em muito
tempo. “Obrigada, Velho Quil. Você é muito gentil”.
Sorrindo com uma satisfação clara, Velho Quil respondeu: “Estamos todos juntos nisso,
criança.” Depois, ele voltou pra dentro da casa e me deixou sozinho com Bella na
varanda.
“Aqui”, Bella disse me dando a chave que Edward alugou em Port Angeles.
Eu me assustei assim que vi a etiqueta no chaveiro. “Bentley GTC, huh?” Carros
exóticos sempre foram meu fraco, especialmente conversíveis. Eu poderia me imaginar
dirigindo a mais de 200 quilômetros por hora, correndo com policiais dos dois lados, e
indo até o fim do mundo para encontrar Nessie.
Se Bella tinha me dado uma chance para se divertir um pouco mais de um segundo,
entanto passou no momento que ela me disse o que iríamos fazer quase me fez jogar as
chaves. “Nós precisamos encontrar um cadáver humano, Jake”.
Examinei – muito bem examinado – seu rosto, a espera do slogan, que eu podia pensar
que sua idéia era uma piada. Mas não chegou a hora do riso.
Bella estava mesmo falando sério. “Precisamos de sangue novo para a transfusão”
Eu bati minha cabeça? “Mas, espere, porque tem que ser sangue humano? Não
podemos simplesmente ir encontrar um leão da montanha em algum lugar? Um urso,
talvez?”
“Carlisle diz que tem que ser sangue humano.” Ela se aproximou de mim e
deliberadamente inalou meu perfumo. “Sangue fresco humano, Jake”.
Eu não tinha percebido a quão sedenta ela própria estava por isso. Antes, era apenas
uma suspeita que eu tinha, agora eu sabia com certeza que essa era a razão pela qual ela
não tinha caçado. Sangue animal simplesmente não a agradava. Seu corpo de vampira
exigia a coisa real, e me pareceu que seu autocontrole estava diminuindo.
“Ok,” suspirei com resignação. “Sangue humano então. “Eu tinha que me render a ela,
mesmo estando com uma pressa louca para ir encontrar o talismã. Afinal de contas, que
bem faria encontrar Nessie se eu fosse trazê-la para casa para um pai morto?
“Bom,” Bella começou, e antes que eu pudesse nem mesmo piscar, ela continuou a me
explicar brevemente os detalhes de seu plano. “Rose nos levará ao lugar. Você só tem
que nos deixar lá, e nós te ligaremos quando estivermos prontos para colocar o corpo no
porta-malas… ”
“Ei, ei, espere, calma aí, Bells, pare um segundo. ”
“Não temos tempo a perder! Temos que ir agora!” Sua voz oscilou.
“Onde exatamente é este lugar, de qualquer forma?” eu tinha que perguntar.
Sua linguagem corporal a traiu antes que ao menos pudesse fazer uma tentativa de
explicar. E pelo olhar nos seus olhos, eu podia dizer que ela sabia que eu não iria gostar
da resposta. “Isso não devia importar para você, Jake. Tudo que estou pedindo é que
você nos leve até lá. Rose já providenciou tudo, e eles estão nos esperando. Temos que
correr.”
“Olha, eu sei que você acha que eu sou burro e tal, mas eu não sou tão burro, Bells. Eu
sei o que vocês estão aprontando.”
Ela rolou os olhos como se eu fosse a pessoa mais estúpida que ela conhecia. “Ah,
mesmo? E o que é?”
“Vocês vão a um traficante do mercado negro. Muito conveniente, eu sei. Vocês pagam
a eles um preço absurdo, e eles fazem o trabalho sujo para vocês. Assim, vocês não têm
que matar ninguém em si, mas ainda assim vocês estarão na posse de uma recém vítima
de assassinato.”
Ela zombou de mim. “Você teve uma longa noite, Jake. Vá descansar um pouco. Pedirei
a Emmett para nos levar, então. ”
“Não!” declarei firmemente, batendo meu pé forte no chão de madeira. “Tem que haver
um jeito melhor que não envolva matar humanos. Direta ou indiretamente, ainda
assim é assassinato, Bella!”
Uma única olhada para seu rosto foi o suficiente para me mostrar que minhas palavras
tinham entrado por um ouvido e saído pelo outro. Nada que eu pudesse dizer ou fazer
iria significar nada para ela. Eu sabia tão bem quanto ela, e ainda assim, aqui estávamos
novamente, discutindo inutilmente em círculos e chegando a lugar nenhum.
Ela estendeu a mão e exigiu, “Me devolva às chaves.”
“Não posso deixá-la fazer isso, Bells, me desculpe. ” Não que eu estivesse amolecendo
nem nada, mas de alguma forma o que eu tinha acabado de dizer saiu como uma súplica
tola. “Você é minha melhor amiga, ” eu acrescentei, praticamente implorando para
evitar um confronto que já parecia inevitável.
Minha recusa a irritou tanto, contudo, que ela começou a bufar como uma fornalha.
“Devolva, eu disse!” ela insistiu, sua mandíbula presa em um gesto ameaçador.
A idéia dela sequer tentando me intimidar me partiu por dentro, mas eu ainda consegui
manter uma feição séria, pois eu sabia que rir só iria empurrá-la para o limite. Meu
rosto se endureceu, acenei não com a cabeça e escondi as chaves atrás das minhas
costas. “Sobre o meu cadáver. ”
Mas Bella estava em completo modo de ataque nesse momento, então ela retraiu os
lábios sobre seus dentes e rugiu enquanto se lançou contra mim. Eu não a tinha visto tão
furiosa desde o dia em que ela tentou arrancar minha garganta por apelidar Renesmee
com o monstro do Lago Ness.
“Ei, uou, você vai arruinar seus belo vestido” adverti brincando.
Mas ela não pareceu se importar. Antes que eu percebesse, ela tinha me arremessado
pelos degraus da frente abaixo, e estávamos ambos rolando no chão, lutando pelas
chaves. Eu sabia que ela jamais me machucaria, não importa o quão ferozmente ela
tentasse agir. Então, enquanto ela me derrubava, eu não consegui me controlar mais e
explodi em gargalhadas.
Vamos apenas dizer que ela não encarou isso gentilmente. Nem um pouquinho. A
próxima coisa que eu me lembro era que eu estava vendo estrelas. Ela me deu um tapa
forte no rosto e teria me dado um murro também, se eu não a tivesse distraído jogando
as chaves para longe dentro dos arbustos.
“Jake, você é tão idiota!” ela protestou.
Tirei vantagem do segundo que ela levou para seguir as chaves com seus olhos e a tirei
de cima de mim. Então, enquanto eu me levantava, senti uma pontada aguda no meu
braço. Olhei para baixo para o lugar de onde vinha a pontada e percebi o que tinha
causado aquilo. Eu tinha acabado de me cortar, e agora meu braço estava sangrando.
Eu sabia que só levaria alguns minutos para cicatrizar, mas apenas para ter certeza, eu
rapidamente escondi a ferida, esperando que Bella pudesse estar distraída demais para
sentir o cheiro do meu sangue.
Sem tanta sorte. Tão selvagem como ela estava agora, este era um cheiro que ela não
perderia no mundo. Esquecendo totalmente das chaves, ela se virou em minha direção,
seus olhos penetrando em mim. Ela arfou suavemente, quase desejando, e eu dei um
passo para trás, incapaz de tirar meus olhos dos dela.
“Fique aí, Bella,” a adverti, todos os músculos no meu corpo se tensionando.
“Meu veneno não pode te ferir. Não se eu não morder, certo?” O tom cru de sua voz era
impossível de ignorar.
“Eu não saberia. ” Meu pulso acelerou, me fazendo me sentir vulnerável demais. Nesse
momento, eu estava ofegante e me sentindo incrivelmente atraído para ela. De onde
diabos vinham todas essas sensações? Meus joelhos enfraqueceram, eu quase não queria
mais falar, eu estava tão envergonhado.
“Você sabe que eu jamais te machucaria. ” O tom de confiança na sua voz tornou tudo
muito claro. Ela estava bem consciente do efeito que sua sede estava tendo sobre mim, e
isso estava apenas deixando as coisas piores para nós dois.
Uma enorme onda de culpa se abateu sobre mim de repente. “Não se aproxime mais, ”
eu disse sem entusiasmo. Só que dessa vez eu não me mexi. Uma coisa era o que diziam
minhas palavras, e uma coisa muito diferente era o que o meu corpo mostrava. Eu senti
um impulso urgente de quebrar isso, apenas correr sem parar ou olhar para trás e
colocar tanta distância entre nós quanto eu pudesse.
Ao invés disso, permaneci lá e a observei avançar lentamente em minha direção. Era
inútil tentar evitar mais. Como o meu peito se levantava e se abaixava mais rápido com
cada passo que ela dava em minha direção. Como eu tinha que engolir seco, porque
minha boca estava cheia d’água de antecipação. Me chocou perceber que eu queria que
isso acontecesse tanto quanto ela. Algo dentro de mim simplesmente queria avançar e
pegá-la, abraçá-la e pressioná-la forte contra mim.
“Apenas relaxe, ok?” ela sussurrou sua voz ríspida com sede de sangue.
“Bella. ” Um gemido engasgou na minha garganta quando eu disse seu nome.
Ela pressionou seus brancos dedos gentilmente contra meus lábios e disse “Shhhh. ”
Meu coração bateu um milhão de quilômetros por minuto enquanto ela pegou meu
braço ferido em suas mãos. De repente, todos aqueles flashbacks vieram voando na
minha mente, destruindo o forte que eu construí ao meu redor ao longo dos anos.
A noite que nós tínhamos passado na barraca, seu corpo congelando e envolto no meu
corpo febril. Meu rosto queimou vermelho só de lembrar as fantasias que eu tinha tido
com ela naquela noite. Pensei no beijo que ela me deu anos atrás, quando ela ainda era
humana, e nós estávamos sozinhos no alto das montanhas. Como ela tinha me dito que
me amava e foi sincera em cada palavra.
Ela ainda me amava. Eu sabia com certeza, só que era um tipo diferente de amor agora.
Ou não era?
Eu tinha me enganado esse tempo todo pensando que ter o imprinting com Nessie tinha
apagado tudo que eu sentia por Bella?
O tempo parecia ir mais devagar enquanto ela levantava meu braço sangrando em
direção à sua boca. Seus lábios não tinham nem sequer tocado minha pele ainda, e eu
já me sentia tonto, intoxicado com a fome selvagem que eu via irradiando dos seus
olhos. Eu queria poder me deitar perto dela como tínhamos feito aquela noite na
barraca.
Pensei em levá-la para casa, para o meu quarto para ter um pouco de privacidade.
Minha casa ficava a uma curta distância da casa de Leah, então podíamos ter chegado lá
num picar de olhos. Mas na minha tentativa desesperada de me prender àquele
momento, eu acabei estragando tudo.
Eu devia ter agido mais rápido. Eu devia apenas ter pego a sua mão e a levado para
algum outro lugar, um lugar onde pudéssemos ficar a sós e sem sermos incomodados.
Mas acho que algumas coisas simplesmente não são para acontecer não importa o que
você faça.
Bem na hora que Bella abriu seus lábios sobre minha ferida, a porta abriu e a Loira saiu
da casa, seu lábio inferior tremendo de raiva.
“Opa, desculpe!” ela exclamou sarcasticamente. “Estou interrompendo alguma coisa?”
Surpreso além da minha capacidade de raciocínio, puxei meu braço das mãos de Bella e
deu um pulo para trás. No momento em que aterrissei de volta no chão, eu estava
parado a pelo menos alguns metros de distância dela. Podia ter sido qualquer um para
nos apanhar nessa posição comprometedora, mas tinha que ser a Loira. Agora eu sabia
com certeza que Nessie iria ficar sabendo disso, assim como Edward. Se ele
sobrevivesse, quer dizer.
Bella sibilou contra a Loira. “Cuide de sua vida, Rose.”
“Perdoe-me Sra. Cullen,” a Loira disse com uma ênfase sardônica na parte do Sra.
Cullen. “Mas eu tinha a impressão de que sua filha está desaparecida e seu esposo está
em necessidade urgente de uma transfusão de sangue. E você está aqui fora fazendo
exatamente o quê?”
Se eu fosse Bella, eu juro que teria dado um soco na Loira por ser tão víbora. Mas tudo
o que Bella fez foi permanecer em silêncio, provavelmente tentando arranjar uma boa
explicação para o que sua cunhada tinha acabado de vê-la fazendo.
Percebi que o melhor que podia fazer nessas circunstâncias era manter minha boca
fechada e apenas deixar Bella resolver isso. Mas, enquanto eu via a Loira se aproximar
balançando a cabeça, eu apenas sabia que eu tinha que dizer alguma coisa.
Eu queria ter pensado com mais cuidado sobre isso antes de falar, contudo, porque o
que eu acabei dizendo à Loira fez o queixo de todo mundo cair, até mesmo o meu. “Eu
estava oferecendo meu sangue à Bella,” eu disparei. “Para a transfusão, quero dizer.”
Bella e a Loira lançaram olhares furtivos uma à outra e em seguida se viraram para me
encarar, aparentemente intrigadas com a minha oferta.
Aliviado por ter capturado a atenção delas, eu prossegui. “Não será necessário comprar
o cadáver humano. Eu posso produzir todo o sangue de que Edward precisa contanto
que eu faça intervalos entre as transfusões para me recuperar da minha perda.”
“E o fedor de cachorro?” A Loira discordou e estava prestes a reclamar mais se alguém
não a tivesse interrompido.
“Vampiros podem se adaptar a qualquer coisa.” Era o Dr. Cullen. Mais provável que ele
tenha pego o final da nossa conversa e tenha decidido intervir.
Com uma expressão de preocupação em seu rosto, Bella interjetou, “Mas, Jake, o
veneno… ”
“Veneno de vampiro só é mortal para os lobos se penetrar em suas veias,” Dr. Cullen
esclareceu. “Isso não acontecerá durante uma transfusão. Jake estará perfeitamente
seguro.”
Mas então, Bella pareceu ter esquecido completamente da nossa briga e estava olhando
fixamente para mim, com olhar inocente de gratidão. “Ainda assim, você não tem que
fazer isso, Jake. Você sabe disso, certo?” ela sussurrou em uma voz confortante.
“Eu apenas quero ajudar Edward, ” eu a assegurei, embora lá no fundo de mim eu não
podia evitar pensar sobre em que diabos eu estava me metendo.
Dr. Cullen me agradeceu com um aperto de mão. “Não somos capazes de lhe agradecer
o bastante, filho.”
“Sim, Jake, é muito nobre da sua parte, sério,” Bella acrescentou com a maior
sinceridade.
Fazendo o meu melhor para ignorar como a Loira estava franzindo as sobrancelhas para
mim, respondi “Sempre feliz em ajudar.”
“Certo, certo!” a Loira reclamou pela enésima vez. “Podemos pular para a parte de
realmente começar a maldita transfusão?”
Até mesmo o pacifista Carlisle interferiu. “Não há necessidade de ser rude, querida. ”
Eu silenciosamente o agradeci com um aceno da cabeça apenas para ser educado, apesar
das más maneiras da Loira é a menor das minhas preocupações. Eu tinha que admitir
que eu não estivesse exatamente ansioso para ter uma agulha enfiada na minha veia,
nem mesmo por um curto tempo. Ainda assim, eventualmente, o desejo de colocar as
mãos no talismã ganhava de qualquer ceticismo ou apreensão restante que eu pudesse
ter.
Eu sabia que, uma vez que tivesse trazido Edward de volta de qualquer limbo
vampiresco em que ele estava preso, eu finalmente estaria livre para ir a busca do
talismã. Eu traria Nessie de volta para casa com segurança, de onde quer que a híbrida a
tivesse enganado para estar, e tudo voltaria ao normal.
Comparado ao que estava por vir, uma agulha na minha veia não pareceu sequer algo
importante de jeito nenhum. Então marchei em frente em direção a casa, sentindo como
se um enorme peso tivesse acabado de ser erguido dos meus ombros. O plano do
mercado negro da Loira tinha ido para o lixo, e isso era vitória o suficiente para mim,
pelo menos naquele momento.
“Algo assim já aconteceu alguma vez com algum vampiro que você conhece?” ouvi
Bella perguntando ao Dr. Cullen enquanto nós quatro entrávamos na casa.
Ele hesitou por um instante, como se estivesse tentando se lembrar de alguma coisa. Em
seguida ele respondeu “Não com alguém que eu conheci pessoalmente, mas eu me
lembro de ler sobre um caso em um livro medieval da coleção particular dos Volturi.
No tempo em que eu estava ficando com eles em Roma. ”
“O que dizia?” Bella perguntou.
“Ele contava sobre uma série de estranhos ataques a vampiros,” ele explicou. “Clãs
inteiros foram completamente drenados de sangue e deixados ao relento para serem
dilacerados por bestas selvagens.”
Não pude evitar perceber que as perguntas de Bella estavam deixando o Dr. Cullen
desconfortável. Ele não estava mantendo contato visual com ela, e continuou andando
ao redor da sala de estar, olhando em volta como se procurando por alguma coisa. O
que tinha nesse assunto que o deixou tão desconsertado? Ele estava escondendo alguma
coisa de nós?
Esme, que estava ocupando o lugar de seu marido no círculo, deve ter observado a
mesma coisa que eu, porque ela perguntou a ele, “Tem alguma coisa que eu posso fazer
por você, querido?”
“Sim, meu amor,” ele respondeu. “Preciso que você ligue para Sue e peça a ela para
providenciar equipamentos de transfusão do hospital.”
Sue tinha recentemente sido promovida a enfermeira encarregada da UTI do Forks
Hospital, então ela tinha acesso a qualquer coisa e tudo o que eles pudessem precisar em
relação a suprimentos médicos.
Todavia, graças a Leah, não tivemos nem mesmo que ligar para Sue no fim das contas.
“Tenho quase certeza de que tenho um kit portátil no porta-malas do meu carro.” Leah
ofereceu quando viu Esme pegando o celular.
Sabendo muito bem que Leah não podia deixar o círculo de proteção, me voluntariei
para ir buscar, mas a Loira rapidamente interferiu.
“Emmett,” ela chamou, lançando a Bella um olhar suspeito, e em seguida fazendo o
mesmo comigo. “Por que você e Jasper não vão lá fora e dão uma olhada?”
Bella estava ocupada demais erguendo as mangas da camisa de Edward para perceber a
expressão amarga do rosto da Loira, mas eu peguei suas intenções imediatamente. A
Senhora Quero-Ser-A-Barbie ainda estava pensando sobre o que ela tinha visto nós dois
fazendo lá fora. Claramente, ela não tinha engolido minha história e, agora, ela tinha
tornado manter Bella longe de mim sua missão. Aposto que ela queria ser a heroína
apenas que para mais tarde ela pudesse se gabar sobre isso para Edward.
Nada surpreendente vindo da ego maníaca que todos sabíamos que ela era, com seu
desespero para roubar o brilho de todos e tudo mais. Ainda assim, pessoalmente, eu
ainda achava isso um pouco irônico, considerando o fato de a própria Loira nunca havia
superado a rejeição de Edward, em primeiro lugar.
Antes de Bella aparecer, os Cullens tinha intenções de que a Loira e Edward se
tornassem um casal. O problema com isso foi a objeção de Edward ao plano deles. Para
diminuir uma longa história, Edward nunca chegou perto de se aproximar da Loira, pelo
menos não desse jeito, então foi assim que Emmett veio a ser seu companheiro.
Até onde eu sabia, a Loira ainda tinha uma queda por Edward, e essa era a verdadeira
razão por trás de sua hostilidade em relação a Bella. Mas essas eram apenas as minhas
especulações interiores, e eu tinha que admitir que poderia muito bem estar errado. Não
que eu me importasse, de qualquer forma.
A única vez que a Loira jamais estaria na minha lista de prioridades era se ela de fato
tentasse prejudicar Bella. Eu sabia de fato que ela sempre estaria para ajudar Nessie,
então eu não tinha nada com o que me preocupar nesse departamento. Mas com Bella
era uma história inteiramente diferente. Sempre desde o nascimento de Nessie, eu sentia
essa rivalidade velada entre elas que poderia transbordar a qualquer momento, e sempre
me deixava nervoso pensar sobre isso.
Eu estava tão profundo em pensamentos, que mal notei quando Leah tirou as chaves de
seu carro do bolso e as jogou para Emmett. Ele as apanhou no ar sem mais que um
movimento de onde ele estava parado, e então saiu com Jasper para ir encontrar o kit de
transfusão.
Nesse meio tempo, Bella voltou a torturar o Dr. Cullen com mais de suas perguntas.
“Então, eles algum dia encontraram quem atacou os vampiros?”
Até aquele momento, Dr. Cullen estava sentado quieto em uma cadeira próximo ao sofá
onde Edward estava deitado, focando toda sua energia em preparar o braço de seu filho
para o procedimento. No momento em que ele ouviu a pergunta, entretanto, seus gestos
faciais se tornaram visivelmente aborrecidos. “Vampiros,” ele repetiu depois dela, suas
sobrancelhas franzidas como se ela tivesse acabado de sacudi-lo de um transe.
“Os clãs que eles atacaram no Leste Europeu.”, Bella esclareceu. “Ele descobriram
algum dia quem fez isso?”
Levantando-se da cadeira, Dr. Cullen andou até a janela e verificou seus outros dois
filhos. “Acredito que a pergunta não seja muito quem, mas por quê.”
“Informação?” o eremita perguntou do nada. Ele havia estado em pé tão quieto em seu
lado do círculo bem no fundo da sala, que eu havia quase me esquecido do quanto ele
provavelmente sabia e não estava dividindo.
Dr. Cullen acenou positivamente com a cabeça, incapaz de esconder sua surpresa. “Está
certo! Informação e poder” ele respondeu, e em seguida pensou por um momento e
acrescentou, “Você leu sobre isso também?”
“Os ciganos na Espanha costumavam falar disso o tempo todo,” o eremita apontou.
Uma vez que ele disse aquilo, ele capturou minha completa atenção, e, antes que eu
percebesse, era eu quem estava fazendo perguntas. “Então vocês estão basicamente me
dizendo que a híbrida sugou o sangue de Edward para descobrir tudo o que ele sabia?”
Dr. Cullen ficou nervosamente inquieto, mudando seu peso de pé para pé enquanto
olhava com os olhos arregalados para Esme. Isso deixou bem óbvio para mim que
ambos estavam deliberadamente omitindo informações de nós. E ainda assim, pela
minha vida, eu não conseguia compreender por que.
“É claro!” Alice exclamou. “É mais ou menos como o que Aro fez com ele aquela vez
em Volterra. Apenas tocando a mão de Edward, ele pôde ver tudo o que ele já tinha
pensado, todo pensamento que ele já tinha ouvido —”
Interrompendo-a no meio da frase, Dr. Cullen disse a ela em um tom solene: “Gostaria
que fosse tão simples assim, querida.”
“Bem, o quão pior pode ser?” Bella perguntou. “A híbrida sabe tudo sobre nós agora.”
Em sua gentil e maternal voz, Esme respondeu, “Vocês está certa, querida, mas essa não
é a pior parte.”
Já enfraquecida pela falta de nutrição, Bella pareceu tão abalada pela notícia, que quase
perdeu seu equilíbrio. “O que vocês estão dizendo?”
“O sangue é a vida,” Carlisle começou. “Mesmo para os morto-vivos. Tudo o que fazia
Edward ser quem ele é: sua personalidade, suas habilidades de ler mentes, suas
memórias. Tudo estava contido em seu sangue. Você poderia até ir tão longe a dizer que
o sangue de um vampiro é sua alma.”
Eu não poderia predizer bem para onde isso estava indo, mas agora eu estava finalmente
começando a entender porque Dr. Cullen e Esme estavam tão relutantes em revelar toda
a verdade. O que quer que seja que eles soubessem poderia provar ser demais para Bella
lidar.
Ignorando o olhar fixo e observador da Loira, peguei Bella pelo braço e a auxiliei até
uma cadeira. Então, sob o risco de bancar um completo bobo, tentei confortá-la sendo
otimista. “Não se preocupe, Bells, a transfusão deve consertar isso. Ele voltará ao
normal num piscar de olhos, tenho certeza.”
Ela sorriu para mim, mas a angústia em seus olhos permanecia tão sem profundidade
quanto antes. Sua mão apertando forte a de Edward, ela observou o rosto do Dr. Cullen
para uma reação para o que eu acabara de dizer. “Isso é verdade, Carlisle?”
“Queria eu saber,” ele respondeu lamentando. “Nunca fiz uma transfusão em um
vampiro antes. “Ele deve ter sentido que todos os olhos estavam sobre ele depois do que
ele havia dito, porque ele abaixou sua cabeça e de alguma forma conseguiu apagar todas
as emoções de seu rosto.
Bem nesse momento, a porta da frente se abriu, e Jasper entrou com o kit de transfusão
em sua mão.
“Onde está Emmett?” a Loira perguntou.
Entregando o kit para o Dr. Cullen, Jasper resmungou relutante, “Ouvimos alguma coisa
espreitando lá fora, e ele foi checar. ”
“E você o deixou ir sozinho?” A Loira disparou de volta enquanto se dirigia diretamente
para a porta.
Jasper revirou seus olhos. “Ei, relaxe irmãzinha. Ele pode se cuidar sozinho. E, além do
mais, os lobos estão lá fora também.”
Resmungando algo furioso sob a respiração, a Loira abriu a porta e estava prestes a sair,
quando o Dr. Cullen parou-a.
“Rosalie, acho que é melhor se você esperar aqui, ” ele disse à ela em uma voz gentil.
“Se Emmett pode cuidar de si, então eu também posso. ” Ela não esperou pela resposta
do Dr. Cullen e saiu, batendo a porta atrás de si.
Dr. Cullen e Esme trocaram olhares de desaprovação.
Quanto a mim, eu teria aplaudido e vibrado para celebrar sua partida, mas eu não queria
ser rude, então guardei isso para mim e agi como se nada tivesse acontecido.
“Jasper,” Esme disse. “Você se importaria de manter os olhos neles dois, querido?”
Eu podia dizer pela forma com que Jasper suspirou, como se ele estivesse esperando
que isso acontecesse e não estava exatamente louco pela idéia. Ainda assim, no fim das
contas, ele concordou. “Certo,” ele murmurou enquanto arrastava seus pés no seu
caminho para a porta.
Alice atirou-lhe um beijo. “Tenha cuidado querido.”
Bom, pensei comigo. Um vampiro a menos para me preocupar. Eu confiava no
autocontrole do Dr. Cullen, mas eu com toda a certeza não podíamos dizer a mesma
coisa sobre Jasper. Eu tinha ouvido a história sobre a noite do ultimo aniversário
humano de Bella na mansão dos Cullen. Como Jasper teve que ser segurado porque ele
tentou atacá-la depois que ela teve um corte com papel enquanto abria seus presentes.
Eu sabia que o cheiro do meu sangue deveria ser repulsivo para os vampiros, mas ainda
era sangue humano, quem sabe qual teria sido a reação de Jasper se ele estivesse
presente durante a transfusão. Eu tinha uma leve suspeita de que Dr. Cullen e Esme
tinham pedido para ele sair por aquela exata razão, e eu não tinha nenhum problema
com isso.
Assim que Jasper saiu, Dr. Cullen me pediu para sentar de volta no sofá perto de
Edward e se moveu junto para me dar instruções. “Ok, vamos precisar de muito sangue
seu, Jacob. No mínimo dez bolsas. Então o que vou fazer é, vou tirar duas bolsas de
cada vez, e então te dar alguns minutos para se recuperar. Depois disso, repetiremos o
processo até termos coletado todo o sangue de que precisamos.”
“Espere. Dez bolsas?” Leah protestou. “Não tenho intenção de duvidar do senhor, Dr.
Cullen, mas isso não é um pouco demais?”
Dr. Cullen sorriu. “Para um humano comum, sim, mas acho que Jacob consegue doar
no mínimo duas vezes a quantidade usual. Certo, Jake?”
“É claro,” assegurei a ele, embora por dentro eu pudesse sentir a ansiedade aumentando
em mim. Eu nunca tinha doado sangue antes na minha vida, então eu não tinha a menor
idéia de como eu iria reagir a isso, menos ainda de como o meu sangue poderia afetar
Edward. Mas eu confiava no Dr. Cullen e entendia que se ele não estava preocupado,
por que eu deveria estar?
Amarrando uma tira de borracha ao redor do meu antebraço, Dr. Cullen começou a dar
tapinhas na dobra do meu cotovelo para encontrar uma veia. “Vamos ver como você se
sai com as primeiras duas bolsas e então vamos a partir daí. É muito importante que
você me diga se sentir tonto ou sentir que está prestes a desmaiar. Como isso soa?”
“Ok.” respondi como se não fosse nada de importante. “Estou pronto para começar.”
Minha confiança no Dr. Cullen acabou fazendo o processo muito mais fácil do que eu
tinha antecipado. Eu quase não senti nenhuma dor. Até mesmo minhas preocupações
sobre Bella possivelmente saindo de si ao ver meu sangue foram deixadas de lado, já
que a presença do Dr. Cullen parecia ter um efeito calmante sobre ela também.
Ainda assim, quando ele terminou de coletar a segunda bolsa e me perguntou como eu
estava, eu tive que admitir que estava me sentindo com a cabeça leve e meus membros
estavam um pouco trêmulos. Ele e Bella, então, me ajudaram a levantar e me levaram
para o quarto de Seth.
Deitei-me na cama e fechei meus olhos, enquanto o Dr. Cullen e Bella mantiveram
vigília. Mesmo eu estando dormindo, fiz o meu melhor para me manter atento à
conversa deles, especialmente quando ouvi que Bella ainda estava com suas tentativas
de chegar ao fundo das coisas.
“O que você acha que a híbrida quer fazer com toda a informação que ela roubou?” ela
perguntou.
Um tom de resignação em sua voz, Dr. Cullen parecia que poderia finalmente se render
à persistência de Bella e despejar toda a verdade feia sobre ela. “Isso depende de atrás
do que ela estava. Se é tudo uma questão de ela tentar persuadir Nessie a se juntar à ela,
ela mais certamente usará o conhecimento de Edward para manipular a situação e virar
as coisas para sua vantagem. ”
“Qual era o nome daquele livro que você leu, novamente?” Bella perguntou
Dr. Cullen engoliu com dificuldade, tanto que eu pude ouvir mesmo com meus olhos
fechados. “Você quer dizer o da biblioteca dos Volturi?”
“Sim!” Bella soou esperançosa.
“Bella,” ele começou. “Há verdades nesse mundo que são perigosas demais para saber.
Elas poderiam te amaldiçoar, há um preço doloroso a se pagar por saber delas. Para
mortais, tudo termina quando eles morrem, mas para nós, é para toda a eternidade.”
“Nós já estamos condenados por toda a eternidade, Carlisle, ” ela relembrou. “Já
estamos amaldiçoados. Você não vê?”
Eu não podia acreditar no que eu estava ouvindo. Eu queria tanto dar uma espiada, mas
eu não queria interrompê-la, então mantive meus olhos fechados e fingi estar dormindo.
“Ter que caçar e matar criaturas vivas com nossas próprias mãos apenas para
sobreviver,” ela prosseguiu. “Ter que beber sangue de um animal vivo, com cuja vida
você está acabando. Ter que ansiar pelo sangue humano e não poder bebê-lo.”
Não ouvi nenhum som por um tempo depois que ela disse isso. Aquilo foi
provavelmente uma tapa na cara do Dr. Cullen. Ouvir Bella falar daquela forma depois
de tê-la recebido em seu clã e a amado como uma filha.
Eu tinha muito respeito pelo Dr. Cullen e podia empatizar com ele até certo ponto, mas
eu tinha que admitir que estava com Bella nessa. Eu podia entender a agonia dela.
Matou-me perceber o quanto ela vinha sofrendo todos esses anos e o quanto ela vinha
mantendo isso tudo preso dentro dela. Agora eu podia ver seu dilema correr muito mais
profundamente do que eu pensava.
“Eu quero saber qual é o nome do livro, Carlisle. Por favor, me diga. ”
“Estou apenas tentando te proteger. ”
“Do que você tem medo?” ela exigiu.
Dr. Cullen suspirou profundamente e manteve o silêncio por algum tempo. Então, em
seguida, ele declarou, “O que que você poderia querer fazer depois que eu te contar.”
Bella disparou “Realmente sinto muito, Carlisle, mas se você não me contar descobrirei
de uma forma diferente. Irei até os Volturi se for preciso. Eu sei que tem algo a ver com
o desaparecimento de Nessie e eupreciso que você me diga o que sabe, o que eu preciso
saber.”
Por mais que eu odiasse admitir isso, eu concordava com cada palavra que Bella havia
acabado de dizer. Por sorte, nesse momento, eu tinha bastante certeza de que eu tinha
totalmente me recuperado da perda de sangue, então abri meus olhos e me sentei na
cama. Posso ter me apressado nisso um pouco demais, todavia, porque o quarto
imediatamente começou a rodar ao meu redor, e as paredes pareceram começar a se
fechar.
“Jacob, o que você está fazendo?” perguntou Dr. Cullen. “Deite-se ou você irá
desmaiar.”
Fiz como ele disse, mas eu não ia deixar uma pequena vertigem me desviasse do meu
foco. “A híbrida está por trás daqueles ataques no Leste Europeu, não está? Foi ela que
sugou todos aqueles vampires até drená-los, da mesma forma que ela fez com Edward
na noite passada.”
Uma das mais extraordinárias virtudes do Dr. Cullen era sua paciência. Mas, nesse
ponto, estava muito claro para mim que Bella e eu estávamos testando-o até o limite
com nosso interrogatório, e ele estava prestes a perder. “Ela poderia ser um deles, ok?”
ele finalmente admitiu. “Mas isso é apenas uma teoria. Não é um fato.”
“Es-espere um segundo, ” Bella interrompeu. “Deles? Você está dizendo que existem
mais de um?”
Sua mandíbula enrijeceu, ele se levantou de sua cadeira e, por fim, o fizemos confessar
o que ele estava escondendo. “Eles são uma ordem secreta na Romênia. A Ordem do
Dragão. Esse é o título do livro. Eles começaram como um clã nômade de vampiros,
mas eles evoluíram ao longo dos anos. “No momento em que ele disse aquilo, ele
andava nervosamente em volta do quarto e em seguida olhava pela janela como se
estivesse com medo de que alguém pudesse estar lá fora ouvindo.
Tudo estava finalmente começando a fazer sentido para mim agora. “Então é por isso
que eles roubam o sangue, certo? Para evoluir, se tornarem mais poderosos?”
Ele acenou positivamente com a cabeça. “Sim, Jake, mas isso é apenas a ponta do
iceberg. Ninguém sabe realmente o quanto eles evoluíram porque eles vivem em
cavernas subterrâneas. Eles têm caçado clãs de vampiros desde as eras sombrias, e
quanto mais poderosos eles ficam, mais secretos eles se tornam.”
“Como os Volturi colocaram as mãos naquele livro, então?” Bella perguntou.
Dr. Cullen parecia um pouco mais relaxado agora que ele tinha compartilhado seu fardo
conosco. “Eles tiraram do clã romeno quando tomaram seu império 1. 500 anos atrás.
Então é um livro antigo. Até mesmo ultrapassado. Ele apenas traz crônicas sobre os
primeiros ataques, que foram bastante desleixados. Houve testemunhas que encontraram
a evidência que eles deixaram para trás, e foi assim que a história sobre a ordem se
espalhou. Hoje, eles são tudo menos desleixados. ”
“Assumo que eles refinaram suas técnicas?” perguntei.
Ele riu sombriamente. “Você não faz ideia. E sabe de uma coisa? Nem eu faço, porque
eles são tão elusivos que são impossíveis de serem rastreados. Eles podem se
transformar e assumir a forma de árvores, rochas, bestas selvagens, qualquer coisa. Eles
são camaleões e podem se tornar imperceptíveis em qualquer lugar. ”
A manhã chegou e nós ainda estávamos indo e vindo entre fazer as transfusões, duas
bolsas de cada vez, e em seguida voltar para o quarto de Seth para conversar mais sobre
essa tal Ordem do Dragão.
Foi apenas quando atingimos a nona bolsa de sangue que todo o trabalho duro foi
recompensado. Assim que a luz do sol brilhou através da cortina da sala, Edward abriu
seus olhos.
“Edward!” Bella gritou de excitação, pendurando-se em seu pescoço e pressionando
seus lábios contra os dele. Seu sorriso rapidamente se desfez quando Edward não reagiu
a ela e, ao invés disso, se portou frio e indiferente, como se ele nem mesmo a
conhecesse.
Seus olhos varreram cada ângulo da sala como se ele se sentisse perdido e não tivesse
nenhuma ideia de onde diabos ele estava. Era muito perturbador e mesmo um pouco
sinistro ver Edward agindo dessa maneira. Ele tinha a aparência de um estranho que
tinha sido abandonado em um lugar onde ele nunca havia estado.
Seus movimentos eram todos frios e não naturais, ele meio que me lembrava Cesare, o
zumbi morto-vivo em The Cabinet of Dr. Caligari, um filme realmente legal, preto e
branco, da era do cinema mudo que eu havia assistido na escola.
Como um espírito vagante que havia acabado de possuir o corpo de alguém, Edward se
levantou, sentando-se, e examinou a palma de suas mãos primeiro. Em seguida, ele as
virou para ver as costas, o tempo todo ignorando Bella e todo o seu redor.
Isso não pode ser bom, meu sexto sentido ficava me dizendo, mas eu não queria ser
quem iria levantar a bandeira vermelha, então eu apenas fiquei no fundo e observei em
silêncio. Meu primeiro impulso foi tentar falar com Bella. Talvez oferecer a ela um
ombro para chorar ou algo assim, mas o constrangimento no ar pesava tanto sobre mim
que eu mal podia sequer me mover. Ocorreu-me que dizer qualquer coisa nesse ponto
apenas tornaria as coisas piores, especialmente para Bella.
Todos ali devem ter pensado a mesma coisa que eu, porque ninguém estava falando.
Sem chamar nenhuma atenção para mim, capturei relances de cada um de seus rostos, e
isso me deu a impressão de que eles todos estavam tão sem palavras e pasmos quanto eu
estava, se não mais.
A primeira a quebrar o silêncio foi Bella, que se virou em direção ao Dr. Cullen e
perguntou, “O que está errado com ele?”
“Deveríamos dar-lhe um momento,” Dr. Cullen respondeu em uma voz baixa, quase
sussurrando. “O corpo dele precisa de algum tempo para se ajustar.”
Bem nesse momento, o som de altas pegadas se aproximando de fora me causou um frio
na espinha. Um forte mau pressentimento tomou conta de mim, e instantaneamente
senti uma repentina urgência em me transformar. Eu sabia que era o lobo interior, me
alertando que algo estava errado, então reagi rapidamente e me dirigi para a porta.
Quando eu disparei pela porta e pulei sobre a cerca da varanda em um salto, Sam gritou
“Jacob, pare!” Ele continuou gritando, freneticamente jogando seus braços para cima no
ar. “Não se transforme! Por favor, não se transforme!”
Pela minha vida, eu não podia entender por que ele havia tirado a venda e se
transformado de volta à sua forma humana. Então, no canto do meu olho, vi algo se
mexendo atrás das árvores à minha direita. Eu estiquei meu pescoço para ter uma visão
melhor e vi a Loira rompendo através dos arbustos como um torpedo.
“Saia do caminho!” ela gritou e virou sua cabeça agudamente para olhar para trás como
se estivesse sendo seguida.
Eu mal tive a chance de notar as marcas de garras sangrentas no ombro de Sam, quando,
de repente, uma sombra escura mergulhou de cima e veio direto para a Loira. A criatura
parecia ter voado do vento, e era uma aberração da natureza tão repulsiva, que apenas a
mera visão daquilo feito minha pele arrepiar.
Tinha o formato de uma mulher com o corpo completamente coberto de pêlos negros,
similar ao de um macaco. Assim como o cão do inferno, aquilo tinha ardentes olhos
vermelhos, só que esse tinha enormes asas de morcego que saiam de suas costas e
faziam um barulho de trovão quando batiam.
Tudo aconteceu tão rápido que Sam e eu pudemos apenas assistir em choque enquanto o
monstro enfiou suas garras de formato crescente nos ombros da Loira e violentamente a
arrancou do chão. Uma vez que ela estava suspensa no ar, o horrendo morcego-macaco
voou em direção ao céu e então desapareceu em uma grossa camada de nuvens que
estava suspense diretamente acima de nós.
Fiquei tão frustrado depois do que eu tinha acabado de testemunhar, que descontei em
Sam e disparei para ele. “Dê-me a venda!”
“Eu não estou com ela!” Ele respondeu.
“O que você quer dizer? Você está não está com ela?” perguntei defensivamente.
Abaixando o olhar em um gesto de derrota, ele murmurou, “Aquela coisa a tirou de
mim.”
“Droga, Sam! Como você pôde deixar isso acontecer?” enfatizei através de dentes
cerrados.
“É o talismã, ” ele disparou de volta. “Enquanto a híbrida o tiver, não temos a menor
chance. Você não vê? Estamos sendo massacrados aqui!”
“Eu sei o que fazer para pegá-lo dela, ” assegurei a ele.
“Diga-me.”
Respirei fundo para recobrar minha compostura e então revelei meu plano. “Eu irei aos
Espíritos Guerreiros.”

Capítulo 6 – Viagem ao Mundo dos Espíritos


Eu tinha me decido. Estava cansado de deixar o híbrido controlar o show. Ela poderia
ter um exército inteiro de monstros se escondendo entre as árvores pelo que eu sabia,
mas depois de ter testemunhado o que ela tinha feito com Blondie e Sam, eu sabia que
tinha visto o suficiente. Aquela era a última gota para mim. Agora eu podia ver
claramente o que a sanguessuga estava aprontando.
Ela esta nos derrubando um por um.
Primeiro fora Nessie, depois Edward, e então Sam, e agora Blondie. Entretanto, eu sabia
que ela não iria parar aí. Se seu padrão de ataques tinha me ensinado alguma coisa, eu
diria que ela estava apenas começando. Sua missão era nos caçar até que ela tivesse
matado o último de nós. Não havia nenhuma dúvida em minha mente em relação a isso.
Havia apenas um pequeno obstáculo que ela tinha subestimado. Eu. Eu, Jacob Black,
iria pará-la. Jurei solenemente aniquilar aquela aberração da natureza de uma vez por
todas, nem que eu tivesse que sacrificar minha própria vida para isso.
Todo titã tinha sua fraqueza. Eu não era de modo algum um expert em mitologia, mas
tinha lido o suficiente para saber isso e pretendia usar esse conhecimento em minha
vantagem. Não importava o quão poderosa metamorfa ela fosse, ou até quantos
sugadores de sangue ela tinha sob seu comando.
O lobo dentro de mim tinha previsto meu destino, e agora não havia mais retorno. Eu
seria o Davi de seu Golias, o Perseu de sua Medusa, o assassino de seu dragão. Você
entendeu.
O importante é que eu estava certo que usando o talismã contra o híbrido seria minha
única chance de derrota-la. Mas eu ainda tinha que descobrir como. É claro, deveria
haver um segredo nisso e, até agora, tudo parecia indicar que a resposta que eu
procurava me aguardava no Mundo dos Espíritos.
Eu me virei rapidamente e estava para voltar para a casa quanto me dei conta que Sam
estava definhando, tropeçando como se ele estivesse prestes a desmaiar. Foi aí que eu
me conscientizei da inflamação ao redor das marcas de garras no seu ombro.
Os ferimentos não pareciam estar se curando tão rápido quanto deveriam. Na verdade,
eu até duvidava que eles estivessem se quer curando. Eles estavam inchados e
infectados, com um tipo de fluido escorrendo deles.
Fazendo o melhor para não me encolher a essa visão, eu só podia esperar que o volume
fosse nada mais que pus inofensivo, algo que podia ser tratado em casa com qualquer
antibiótico comprado sem receita. Eu nem sequer queria considerar a possibilidade que
fosse veneno de vampiro, porque, se fosse esse o caso, Sam ia cair morto em menos de
uma hora. Veneno de vampiro era a única coisa nesse mundo que podia matar um
lobisomem.
Enfiando meu ombro por baixo do braço bom de Sam, eu caminhei a passos largos para
a casa enquanto o arrastava junto. “Onde estão os outros irmãos do bando?” eu o
questionei, tendo que sacudi-lo mais de uma vez para que ele abrisse suas pálpebras
pesadas.
“Eu os perdi.” Sua voz soava tão fraca que eu mal conseguia entender o que ele tinha
dito. “Nós nos separamos.”
Como se eu já não tivesse minhas próprias preocupações! Entretanto, mesmo naquele
momento, eu segui inventando, tentando com todo o meu controle ignorar as visões de
carnificina que continuavam invadindo minha mente.
Eu subi os degraus da frente em pânico, me perguntando que droga eu deveria dizer ao
Doutor Cullen sobre Blondie, Que eu tinha deixado uma gárgola alada qualquer sair
voando com a filha dele? Só a idéia já me enchia de tanta vergonha que o sangue correu
para minha face, tingindo as minhas bochechas de vermelho.
Mas eu sabia que o Dr. Cullen era o único que podia me dizer se Sam tinha sido
infectado com veneno de vampiro ou não, então eu juntei toda a minha coragem para
abrir a porta e rapidamente arrastar Sam para dentro.
“O que aconteceu com ele?’ Emily gritou, disparando para seu noivo machucado.
Atordoado demais para falar, eu fiquei pasmo de choque ao ver o que estava
acontecendo. O círculo de proteção havia sido rompido, e Esme estava ajudando Alice a
guardas as coisas deles. Os Cullen obviamente estavam se aprontando para partir, mas
aonde eles iam? Nessie ainda estava desaparecida, Emmett e Jasper não tinham voltado
da floresta, os olhos de Edward ainda estavam com a mesma expressão vazia de antes e
eu ainda tinha que contar sobre Blondie.
Eu congelei quando vi Bella, sentada na mesa de jantar, seus olhos mudados de um
preto profundo para um vermelho brilhante. Isso significava que ela tinha bebido sangue
humano. Evitando o meu olhar, ela levou uma taça de vinho aos lábios e, em um único
gole, bebeu o líquido borgonha. Me perguntei de quem seria aquele sangue que ela
estava tomando, mas estava com medo de me perguntar.
Acabou que eu não tive que perguntar a ninguém, porque a resposta estava bem na
minha frente. Sentado na frente de Bella estava o ermitão, sua manga enrolada para dar
espaço para o tubo intravenoso conectado ao seu braço. A outra ponta do tubo estava
ligado ao saco de plástico transparente cheio de sangue, igual aos que nós usávamos
para coletar o sangue que doara a Edward.
“O que está acontecendo aqui?” Eu finalmente consegui perguntar, engolindo com
força.
“Jacob,” o Dr. Cullen respondeu enquanto retirava o tubo do braço do eremita e
pressionava um bola de algodão contra a ferida minúscula deixada pela agulha. “Venha
comigo, filho, eu vou explicar tudo.”
“Vocês não estão indo embora, estão?” eu olhei para Bella, esperando que ela ficasse do
meu lado, mas eu podia ver em seus olhos que sua única preocupação era como
conseguir tornar a encher seu copo vazio.
Sacudindo a cabeça de maneira gentil, Dr. Cullen esvaziou o sangue do saco dentro do
copo e o entregou a Bella. “Vamos conversar,” ele me disse.
“Vocês não podem ir embora!” Eu levantei minha voz, incapaz de disfarçar minha
frustração. “Diga a eles, Sam! Diga a eles o que acabou de acontecer com Rosalie!”
Mas Sam continuava a entrar e sair da inconsciência, então ele simplesmente grunhiu
alguma coisa indistinta e desmaiou nos braços de Emily.
“Eu vi o que aconteceu com ela,” Alice interferiu, seu tom de voz estranhamente calmo.
“É por isso que temos que ir embora.”
Eu estreitei meus olhos com suspeita enquanto Esme e Bella ficavam uma de cada lado
de Edward, o segurando pelos braços para ajuda-lo a se levantar do sofá onde estiver
sentado. Junto com Alice, cada uma delas trocou abraços de adeus com Seth e Leah e
então, guiaram um Edward muito confuso para a porta da frente. Alice as seguiu como
se Edward fosse um prisioneiro que elas estivessem escoltando.
“Bella!” eu implorei mais uma vez, embora já soubesse em meu coração que era inútil
até mesmo tentar mudar sua opinião. Seus olhos carmesim me mostraram que ela estava
determinada a ir embora não importasse o quê.
Ela abanou para mim, e sua pele brilhou como milhares de diamantes minúsculos
quando a luz do sol penetrou pela porta. “Ouça o que Carlisle tem a dizer e você vai
entender tudo.” Com isso, ela me lançou um beijo e saiu.
Eu literalmente senti como se um dos meus membros tivesse sido amputado
abruptamente e sem anestesia. Doía muito vê-la ir, especialmente naquelas
circunstâncias. Pelo o que eu sabia, aquela podia ser a última vez que eu iria vê-la.
Dr. Cullen gesticulou para eu segui-lo pelo corredor, e foi o que eu fiz relutantemente,
já que nenhuma explicação no mundo, não importava o quão lógica, poderia me
convencer a deixar Bella ir embora.
Primeiro, ela era minha ligação mais forte com Nessie, mas havia também a ligação
emocional que dividíamos – uma ligação que só tinha ficado mais forte com o tempo.
Sem dúvida, Bella era minha melhor amiga. E, ainda sim, com todas as emoções
confusas que ela provocara em mim recentemente, eu suspeitava que as coisas iriam
ficar bem complicadas entre nós dois…
Se nós sobrevivêssemos para ver um ao outro novamente.

Por mais que eu odiasse admitir, tinha chegado a hora de encarar a situação. A festa de
Nessie tinha oficialmente acabado, embora eu mal pudesse distinguir a provação da
noite anterior à festa, mas enfim. Seja lá como nós escolhêssemos chamar isso, depois
dos Cullen anunciar que estavam indo embora, todo mundo disperso, eu acho que tudo
correspondia à mesma coisa no final.
Com ou sem festa, estava acabado de qualquer jeito, e agora tinha uma senhora bagunça
deixada para trás para limpar.
Seth levou o Velho Quil para casa, enquanto Leah levava meu pai em sua cadeira de
rodas para nossa casa. Emily correu para a loja, para comprar alguns ingredientes para o
eremita, para que ele pudesse fazer uma de suas poções mágicas, de modo a ajudar os
machucados infectados de Sam a sararem.
Eu não podia dizer que as coisas estavam se ajeitando, porque nossos irmãos do bando
ainda estavam espalhados pela floresta com Emmett e Jasper, mas pelo menos o velho
Quil e o meu pai iriam tirar um merecido descanso.
Correndo o risco de me sentir um completo idiota por ser tão egoísta, eu tinha que
confessar – pelo menos para mim mesmo – que era meio que um alívio saber que o
hibrido tinha abduzido Blondie. Isso porque eu desejava com todo o meu coração que o
híbrido levasse Blondie para o mesmo lugar para o qual Nessie tinha ido.
Nessas circunstâncias, isso me deu um pouco de paz, porque ao menos eu sabia que
Nessie não teria que enfrentar a Ordem do Dragão sozinha. De fato, se minhas suspeitas
estivessem corretas, as chances de Nessie escapar tinham crescido exponencialmente
agora que Blondie estava com ela.
Mas, no fim, essas eram só teorias flutuando pela minha mente inquieta. Depois de
duas noites sem dormir, eu estava em frangalhos, sem mencionar o fato de ter perdido
todo aquele sangue estava fazendo na minha cabeça.
“Jacob, eu sei que você está preocupado,” Dr. Cullen disse enquanto puxava uma
cadeira e se sentava perto da pequena mesa da cozinha, no fundo da casa. “Mas você
poderia por favor se sentar e me ouvir por um momento?”
O ar na cozinha dos Clearwater estava duro e, além disso, a luz da manhã machucava
meus olhos a cada vez que eu tentava olhar pela janela. Não havia como eu me acalmar
o suficiente para me sentar quieto, nem que fosse por um segundo. Havia tanto em jogo
para mim que eu sentia como se estivesse me afogando em meu próprio desespero.
Minhas mãos úmidas e frias de preocupação, eu andei em círculos, para frente e para
trás, marchando com uma besta enjaulada. “Você não pode levar Bella para longe.
Nessie precisa dela. Eu preciso dela. Nós temos que nos unir contra esse monstro. É a
única maneira—“
Ele me cortou. “Não posso permitir que essa aliança continue, Jake,” ele murmurou,
esfregando os olhos com as palmas das mãos.
Endurecei meu maxilar, tentando me controlar. “Por quê?”
“Por que a híbrida—“ ele pressionou os lábios um contra o outro para se impedir, então
hesitou. Tive a distinta impressão que ele estava escolhendo suas palavras com cuidado.
“A híbrida não está atrás de você… ou do seu povo.” Fazendo outra pausa, ele suspirou
e olhou nos meus olhos. “Ela está atrás do meu clã.”
“Como você sabe disso?” inquiri e de repente, todo o conceito de limpeza aguda que eu
tinha dele começou a ruir.
Seus olhos brilharam com uma intensidade dura. “Não importa como eu sei disso—“
“Sim, importa!” Agora tinha sido eu que o interrompera. “Eu sabia que você estava
escondendo algo, Dr. Cullen, e isso é muito injusto.”
Mas ele não recuou. “Eu não que ninguém mais se machuque. Como isso é injusto?”
“Eu faço parte do seu clã,” declarei, pouco disposto a recuar. “Se Bella ou Nessie se
machucarem, eu me machuco também, e você não pode negar isso.”
Eu podia sentir que ele estava dividido. Ele podia tentar mentir para mim com suas
palavras, mas a hesitação em seus olhos o traia. Ainda, mesmo assim, ele insistiu. “Não
deixarei você arrastar seu povo para isso, Jacob. Seu trabalho é protégé-los, do mesmo
modo que o meu trabalho é proteger os meus.”
“Por que ela quer destruir o seu clã?”
Baixando os olhos, ele deliberou, mas se recusou a dizer uma única palavra.
Frustrado até o limite, eu ergui meu tom de voz e aproximei meu rosto do dele. “Me
diga! O que ela está procurando?” Eu me odiava por desrespeitá-lo daquele jeito. Sabia
que ele estava tentando cuidar de mim e do meu povo, mas, ao mesmo tempo, ele não
estava jogando limpo. Manter segredos não iria nos ajudar. No mínimo, iria derrubar a
nós todos por estarmos divididos.
Então, depois de um tempo, ele finalmente admitiu. “Ela está atrás de mim.”
A confissão dele me atingiu com tanta força que eu pensei por um momento que o chão
tinha se aberto como uma boca e que agora um imã enorme estava me puxando para o
fundo, tentando me engolir inteiro. “E você sabia disso o tempo todo?”
“Eu suspeitava, mas tinha que ter certeza. Não queria nenhuma conclusão precipitada.”
Fosse qual fosse sua explicação, eu perdera toda minha fé nele e sabia que ele podia
sentir isso em meu tom de voz. “Você a deixou levar a Nessie. Você a deixou drenar o
sangue de Edward. Você deixou seus filhos serem atacados pelo cérbero. Você a deixou
lever Rose! E você não nos avisou sobre ela?”
Ele baixou a cabeça envergonhado e cobriu suas orelhas. “Estou fazendo algo a esse
respeito agora. Estou dissolvendo a aliança para que o seu povo esteja a salvo.”
“Você está muito atrasado, Dr. Cullen. A única coisa que pode nos salvar agora é a
verdade. Você deve isso a todos nós. Por que a híbrida está atrás de você?”
Ele nem sequer teve tempo de me reponder. Eu mal tinha acabado de falar quando
fomos interrompidos abruptamente.
Era o eremita que tinha entrado na cozinha, gritando muito alto. “Ele está morto!” ele
nos disse. “Eu não pude impedir o veneno de se espalhar. Sam está morto.”
Minha mente ficou em branco do choque, e eu reagi automaticamente. Por reflexo e
sem pensar, eu fui para a sala de estar tão rápido que quase pareceu que eu tinha me
teletransportado para lá. Ainda em negação, senti como se eu tivesse virado pedra
quando olhei para Sam. Tinha que vê-lo com meus próprio olhos para acreditar.
O encontrei deitado no chão, seu rosto para cima, com moedas para o barqueiro¹ em
seus olhos fechados. O mais provável era que as supestições do eremita o tinha feito
colocar as moedas nos olhos de Sam, como eles costumavam fazer na Idade Média para
evitar que um espírito ficasse vagando pela terra.
Eu podia notar que Sam não estava respirando, especiamente depois que notei o tom
mortal de seus lábios, e como a palidez estranha de seu rosto estava começando a se
espalhar por seu corpo. Eu nunca tinha visto um irmão do bando morrer antes, mas
sabia, só de olhar para ele, que o eremita estava certo. Sam estava morto.
Dr. Cullen chegou lá tão rápido quanto eu. Se ajoelhando, ele pressionou dois dedos
contra o pescoço de Sam para sentir seu pulso, e eu vi o mesmo olhar de compreensão
em seu rosto. Sacudindo sua cabeça negativamente, ele me lançou um olhar penetrante
que confirmou o que eu já sabia.
Eu tinha deixado Sam morrer.
Me odiando e desejando que tivesse sido eu ao invés dele, cai em uma poltrona e cobri
meu rosto para que ninguém pudesse ver as minhas lágrimas.
Sam Uley, o Alpha do nosso bando, o primeiro de nossa geração a mudar de homem
para lobo. Aquele que tinha ajudado cada um de nós fazer a transição depois dele
mesmo ter sido forçado a enfrenta-la sozinho. Ele tinha estado lá para nós nos bons e
nos maus tempos, nos mostrando o jeito de um metamorfo e ajudando a nos adaptar às
dolorosas mudanças em nossos corpos que vieram com as primeiras transformações.
A despeito de nossos vários desentendimentos, nenhum de nós podia negar que todos o
admirávamos. Não importava o quanto reclamássemos de suas decisões às vezes, no
fim, ele era sempre o único que procurávamos quando não sabíamos o que fazer.
Aquele era Sam. Aquele era o nosso Sam.
E agora ele tinha se ido. Morto pelo veneno da hibrida, tudo por causa da minha
estupidez egoísta.
A visão de seu corpo enviou-me um arrepio na espinha, senti como se soubesse a vida
inteira que eu seria destruído em um instante. Talvez o Dr. Cullen tivesse razão sobre
tudo que tinha acabado de me dizer. Se eu tivesse o escutado desde o início, talvez Sam
ainda estivesse vivo.
Talvez, de alguma maneira, eu pudesse ter poupado a sua vida. Eu sabia que o veneno
de vampiro espalhava-se incrivelmente rápido em um lobisomem. Embora não
fôssemos filhos da lua, nossa espécie era inimiga mortal dos vampiros por uma razão
muito poderosa. O veneno de vampiro tinha um efeito muito diferente em um
lobisomem, quando comparado a humanos.

Para nós ele era letal. Era nossa primeira e única fraqueza, e também, ao mesmo tempo,
era o nosso mecanismo de defesa, o mesmo que nos impedia de nos tornarmos
vampiros. Nossos poderes de cura nos tornavam imunes ao veneno, o que significa que
lobos metamorfos como nós não éramos capazes de nos tornarmos vampiros. Nosso
sistema reagia de forma a se fechar ao veneno, nos matando no processo. Pelo menos eu
sabia que Sam estava protegido de se tornar um vampiro.
Porém o fato de que Sam estava morto ainda permanecia, e eu não podia fazer nada a
respeito, nada para tentar salvá-lo.
Todo esse tempo, eu estive tão focado em resolver meus próprios problemas, que no
processo acabei por esquecer de todos os demais. O que aconteceria com Emily agora?
Quem iria tomar o lugar de Sam como Alfa do bando? Como eu viajaria para o Mundo
dos Espíritos a fim de consultar os Antepassados Lobos?
As perguntas não paravam de chegar à minha cabeça, acumulando-se. Nesse instante,
lembrei que Sam era o único capaz de me contar como se viajava em espírito. E agora o
segredo tinha morrido com ele. De jeito nenhum o Velho Quil ou até mesmo meu pai
iriam me falar como se viajava ao mundo dos espíritos. Consideravam essa viagem fora
de cogitação. Sendo assim, se eu quisesse fazer isso, teria que descobrir sozinho.
Assim que comecei a pensar em quem poderia me ajudar, o eremita interrompeu meus
pensamentos.
“Ele está aqui”, ele sussurrou.
Rapidamente, limpando minhas lágrimas, pulei para cima da poltrona e olhei ao redor
confuso. “Quem?”
Percebi que o ermitão era o único presente, já que o Dr. Cullen não estava em nenhuma
parte do meu campo de visão.
“Onde está o Dr. Cullen?” perguntei, meu estômago em nós. Dentro de mim, em algum
lugar, eu já sabia o que o ermitão ia me dizer, mas eu tinha que ouvi-lo dizer em voz
alta.
A resposta que ele me deu doeu tanto, que senti como se alguém tivesse me apunhalado
no coração com uma adaga gelada. “Ele partiu”.
Recusando-me a encarar a verdade, eu balancei a cabeça freneticamente e declarei:
“Não! Ele ainda está aqui!” Esforcei-me inutilmente para acreditar na minha própria
mentira. Mas logo que abri a porta da frente, uma onda de angústia brotou dentro de
mim. Ambos os carros dos Cullen, que tinham sido conduzidos de Port Angeles até
aqui, tinham desaparecido.
“Mas você disse que ele estava aqui”! Queixei-me ao ermitão assim que voltei para
dentro e bati a porta atrás de mim.
“Eu não me referia ao Dr. Cullen “.
Não havia ninguém mais lá. Eu não tinha idéia do que o ermitão estava falando, mas eu
também não gostei do tom misterioso de sua voz quando ele disse aquilo. Mais uma
vez, me senti tão derrotado e sem esperança, que invejei Sam por estar morto. Ainda
assim, eu não quis dizer ao ermitão o que eu realmente pensava dele, porque eu meio
que entendia como alguém poderia enlouquecer depois de tudo o que tinha acontecido.
De repente, tive uma sensação estranha, que me mostrou que poderia ter sido precoce
em assumir que era loucura o que o ermitão havia me dito. A menos que loucura fosse
contagiosa, é claro, eu poderia jurar que alguém, ou algo, estava naquela sala de estar
conosco.
Eu nunca tinha experimentado nada parecido com isso, portanto não tinha a que
comparar. Tudo o que eu sabia era que o ermitão e eu não estávamos a sós. Eu poderia
claramente sentir uma presença, que de alguma forma, tinha deslocado a energia ao
nosso redor. Quase senti como se ele quisesse fazer a sua presença notada. O que quer
que fosse, ele queria chamar nossa atenção.
“Você também sente isso, não é?” perguntou o ermitão.
Em outras circunstâncias, eu ficaria muito envergonhado em admitir isso em voz alta,
mas já que o ermitão era um alquimista imortal e tal, de certo modo me senti à vontade
o suficiente para confiar nele.
Engolindo em seco, perguntei-lhe, “Isso é. . . o espírito de Sam?”
“Sim”, respondeu o ermitão como se fosse a coisa mais normal do mundo. “Ele ainda
está aqui.”
Só levou um minuto para descobrir o que Sam queria. Ele sabia tão bem quanto eu que
a nossa única esperança de derrotar a híbrida seria eu me consultar com os Espíritos
Guerreiros. Dessa forma, ele recusou-se a mover-se em direção à luz no final do túnel,
assim como devem fazer os espíritos depois da morte de seu corpo físico, apenas para
que pudesse me guiar.
Mesmo na morte, Sam era um homem muito melhor do que eu. Ele não só tinha
sacrificado a própria vida e sua futura felicidade ao lado de Emily, mas agora, acima de
tudo, ele também estava se arriscando a um terrível destino.
Nossos ancestrais haviam nos deixado esta mensagem em nossa mente a partir do
momento em que cada um de nós possuísse idade suficiente para compreendê-la. A
morte era apenas um ritual de passagem, uma transformação, um novo começo.
Qualquer espírito que demorasse ou se recusasse a mover-se em direção à luz no
momento da morte poderia acabar preso entre os dois mundos.
De acordo com os ensinamentos ancestrais, esse destino era pior que a morte
propriamente dita. Muitas culturas se referiam a esses espíritos presos como espíritos
errantes. Almas perdidas que vagavam pela terra por centenas, ou até mesmo, milhares
de anos.
Eu não poderia deixar que isso acontecesse com Sam. Eu já o havia deixado morrer,
então, agora a minha única chance de me redimir era ter certeza de que ele faria uma
passagem segura para a sua pós-vida, onde agora ele pertencia.
Uma parte de mim só queria saltar sobre a moto e ir atrás de Bella. Eu ainda acreditava
que eu poderia convencê-la a ficar, para que pudéssemos encontrar Nessie juntos.
Porém, no final, suprimi esse meu desejo e acabei por aceitar a decisão do Dr. Cullen
sobre o destino de Bella.
“Preciso de sua ajuda”, disse ao ermitão. “Eu preciso que me leve ao lugar mais
escondido na floresta que você conhece”
Embora não pudesse ver seu rosto debaixo do capuz, ainda conseguia ouvir o choque
em sua voz quando me perguntou: “Pra quê?”
“Eu preciso de um lugar seguro para esconder meu corpo, para que ninguém possa
encontrá-lo.”
Agora, provavelmente, ele pensou que eu tinha enlouquecido de vez. “E por que você
quer fazer isso, filho?”
“Vou viajar para fora do meu corpo e eu preciso que você me diga como fazer isso.”
O que faz você pensar que eu posso dizer-lhe como fazer isso?” o ermitão perguntou
defensivamente.
“Eu vi os títulos de seus livros, quando os resgatei do fogo.” Senti-me confiante de que
ele sabia exatamente a que eu me referia, e então pressionei. “Lá em cima, nas
montanhas onde encontramos você.”
Ele deve ter ouvido em minha voz o quão determinado eu estava, porque não disse uma
palavra. E ainda percebi por sua maneira de mexer na pele ao redor das unhas que eu
tinha atingido seus nervos com as minhas palavras.
Tirando proveito de seu silêncio, prossegui, “Viagens fora do corpo, projeção astral,
visão remota. Soam familiares?” Fiz uma pausa esperando uma reação, mas ainda ele
não tinha nada a dizer, então continuei. “Eu sei o motivo pelo qual você estava
preocupado com seus livros se queimarem. Você vem fazendo experimentos com eles
há séculos. Eu sei que você pode dizer-me como fazer isso, porque você já o fez.”
Eu estava bem na frente dele para que ficasse claro que eu não tinha intenção alguma de
parar. Eu iria continuar a pressioná-lo, até que ele acabou cedendo.
Mas, aparentemente, ele foi inteligente o bastante para brincar com meus pensamentos,
ou pelo menos fazer com que eu pensasse que ele o estava fazendo. “Você está certo”,
ele admitiu erguendo a voz. No entanto, com tom que ele falara, ele bem que poderia ter
dito: “É suficiente!”.
Eu quase cedi ao impulso de bombardeá-lo com mais perguntas, mas recuei um pouco e
esperei a fim de ouvir o que ele queria me dizer.
“É verdade”, afirmou. “Eu já viajei em espírito muitas vezes.”
Meu lado otimista inclinou-me a pensar que havia ganhado esta batalha, certamente eu
ultrapassara mais um pequeno obstáculo. Bom, assim pensava eu. Agora, tudo que eu
tinha que fazer era sentar e ouvir como o enigmático monge realizara suas façanhas
corajosas e tudo mais que aprendera durante suas viagens ao mundo invisível. Tudo
parecia bastante simples. Eu não tinha motivos para crer que ele, de todas as pessoas, se
recusaria a me ajudar.
Mas, como ultimamente vinham acontecendo coisas estranhas com demasiada
freqüência, o otimismo não me fizera bem algum até agora. Pelo contrário, eu estava
preparado para receber qualquer outra surpresa sinistra.
Ao invés de me dar uma lista prática de instruções passo-a-passo, a qual eu aguardara, o
ermitão aproximou-se da janela da casa onde o sol brilhava com mais intensidade.
Então, sem aviso, retirou seu capuz, descobrindo o seu rosto.
Uma vez mais, exatamente como na noite em que eu arrancara sua venda, eu me vi
olhando diretamente para o emaranhado de cicatrizes retorcidas ao redor de seus olhos.
Dizer que não eram muito bonitas já teria sido um eufemismo. Só que desta vez, não foi
apenas o suave brilho da luz do fogo que iluminou sua feiúra. Agora, eu tinha de
suportar tudo isso em plena luz do dia, sem sombras noturnas para mitigar o impacto do
choque. Caramba! Foi um despertar bem desagradável!
“Você vê essas cicatrizes, Jacob?” Ele apontou para seus olhos com seus dedos
enrugados e trêmulos, seus movimentos frágeis e fracos. No entanto, ele falou com tanta
autoridade, que me fez sentir insignificante em sua presença. “Eu preciso que você dê
uma boa olhada nessas cicatrizes”, insistiu, orientando o seu rosto em minha direção
como se pudesse sentir exatamente o local onde eu estava.
Mesmo enquanto eu me erguia sobre ele com minha forma alta e imponente, ainda
assim, não encontrei a força necessária para olhar a camada branca que cobria suas
pupilas. Supostamente, ele não podia ver nada sem a venda nos olhos. E ainda, por
alguma estranha razão que eu não poderia explicar, minha pele rastreou a sensação de
que ele poderia ser capaz de me ver de algum modo. Ou, pior ainda, ver através de mim.
Incapaz de conter-me mais, explodi: “Eu já vi!” Pronunciei muito mais alto do que eu
esperava. “Eu vi as suas cicatrizes, OK? E agora o quê?”
“Você não gostaria de saber como eu as ganhei?” o ermitão perguntou enquanto dava
um passo em minha direção.
Deixando meu instinto de lobo assumir, eu agi sem pensar. Hesitei para trás e desviei o
olhar horrorizado, incapaz de tolerar as visões macabras mexendo-se dentro de mim.
Estava tão irracional naquele momento, que a idéia que passou pela minha cabeça era de
que talvez suas cicatrizes apresentavam algum tipo de efeito “Medusa” em alguém que
pusesse os olhos sobre elas.
Por um segundo, eu fui tão longe em meus pensamentos, que examinei meus braços e
mãos só para me certificar de que eu não me transformara em uma estátua de pedra.
Pelo menos, eu tinha que dar crédito ao ermitão por tirar minha ousadia e coragem de
uma forma tão rápida e completa. Da próxima vez, eu pensaria duas vezes antes de levá-
lo além do limite de sua tolerância.
“Não se preocupe”, ele riu, imitando a minha atitude sarcástica de antes. “Minhas
cicatrizes não tem poderes mágicos.” Agitou as mãos na frente do meu rosto, enquanto
pronunciava as palavras num tom de zombaria assustadora. “Você não será eternamente
amaldiçoado se olhar para elas.” Ele estava realmente tirando sarro de mim. Um homem
velho e deformado, quem diria?
A súbita explosão de raiva disparou bem diante do meu rosto, e, antes que eu
percebesse, meu rosto estava em chamas. “Ouça-me, Padre,” disse-lhe no tom mais
ameaçador que eu poderia lidar. “Terá que ter um inferno cicatrizes iguais a essas para
me assustar.”
“Você realmente acha que eu estou fazendo isso só para assustá-lo, filho?” Desta vez,
seu tom de voz soou diferente, muito mais grave do que antes, mas também com
compaixão e sinceridade. “Eu estou tentando adverti-lo para que não termine ficando
igual a mim”.
Meu queixo caiu em descrédito enquanto eu tentava entender o que ouvira. “Você quer
me dizer…?” Um suspiro ficou preso em minha garganta, forçando-me a parar
abruptamente para recuperar minha compostura. Eu tive que dedicar um momento para
digerir o que acabara de deduzir. “Claro!”, exclamei. “Alguém fez isso com você.”
Ele acenou em afirmação e lentamente puxou o capuz por cima da cabeça para cobrir as
suas cicatrizes novamente.
Agora eu entendi porque ele queria que eu olhasse suas cicatrizes. “Eles o atacaram
enquanto você viajava em espírito?”
“Sim”, ele confirmou. “Eles estavam me espionado e esperaram até que meu espírito
estivesse fora do meu corpo. Então, eles queimaram os meus olhos para provar que eu
não podia sentir dor.”
Era difícil acreditar no que estava ouvindo, mas eu sabia que o ermitão dizia a verdade.
“Quem eram eles?” perguntei.
“Meus companheiros, os monges. Eles acreditavam que era um pecado mortal ler livros
sobre o sobrenatural. Foi assim que me tornei um fora da lei. A Igreja me acusara de
praticar bruxaria e me condenara à morte na forca.”
“Mas você escapou,” eu adicionei.
Ele assentiu com a cabeça. “Certamente… Porém, de alguma forma, ainda sou um
prisioneiro.”
Fiquei em silêncio, entendendo muito bem o que ele quis dizer. Devia ser terrível
possuir o segredo da imortalidade, quando você tem que passar sua vida inteira
escondendo o rosto sob um capuz.
Enquanto baixava a cabeça, desviando meu olhar para o chão, lembrei-me do que
acontecera a Taha Aki, o último grande Espírito Chefe da Nação Quileute.
Seu corpo tinha sido roubado da floresta, num lugar escondido que acreditara estar a
uma distância segura. Quando tentou voltar para ele, descobriu que seu inimigo, Utlapa,
tomou-o e usurpou seu lugar como chefe da tribo.
Algum tempo depois, Taha Aki conseguiu assumir a forma de lobo para que ele pudesse
retornar ao seu povo. A primeira coisa que ele fez após seu retorno foi eliminar as
viagens em espírito de nossas tradições, proibindo sua prática para o bem de todos.
Eu já estava bem ciente dos perigos potenciais de um espírito viajante. Mas, agora, as
cicatrizes do ermitão apenas simbolizavam a realidade de um ser muito mais experiente,
especialmente porque sabia que a híbrida e seus lacaios estavam lá, esperando por nosso
deslize, para que pudessem nos caçar.
No entanto, assim mesmo, a possibilidade de desistência estava completamente fora de
questão. Eu tinha que continuar lutando. A morte de Sam não seria em vão, e eu
certamente não iria desistir de Nessie. Mesmo se ela tivesse fugido por conta própria,
ainda assim, precisaria revê-la, e só havia um jeito de descobrir a verdade.
Depois de alguns instantes de reflexão, anunciei minha decisão final ao ermitão. “Eu
vou correr o risco.”
A julgar pela maneira como ele suspirou, sacudindo a cabeça, eu poderia dizer que o
anúncio não fora uma surpresa para ele.
Não pude evitar sentir uma pontada de culpa por ter sido tão rude com ele antes. “Padre,
eu aprecio sua preocupação, realmente aprecio, mas há algo que não faz sentido para
mim. Você é um alquimista. Quero dizer, se você descobriu como inventar o elixir da
vida, eu tenho certeza que você pode encontrar uma poção para curar a sua pele,
também. Certo?”
“Você realmente acha que é assim tão simples, não é?” ele perguntou como se a minha
ignorância o tivesse ofendido.
“Claro que não”, repliquei, “mas o tempo está passando e estamos perdendo um tempo
precioso. Podemos discutir isso ao longo do caminho? Nós realmente precisamos ir.”
Ele refletiu sobre aquilo por alguns instantes, então respondeu: “Ótimo, se você
insiste… Com apenas uma condição.”
“Diga-me seu preço”, eu respondi sem medo.
“Você deve se tornar meu aprendiz.”

¹Essa tradição de colocar moedas nos olhos do morto remonta aos gregos antigos. Para
eles, ao morrer, a pessoa deveria ir para o reino de Hades, o reino dos mortos, que era
separado do nosso mundo pelo rio Estige. Para atravessar esse rio, precisariam dos
serviços do barqueiro Caronte, cujo pagamento eram as tais moedas. (Nota da Tradutora

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