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Ensino Fundamental Pen eae cee lazaré Baia Coelho Mey fod ae eee aed & (oriacan fe Proessores Relacdes Etnico-Racais Copyright © 2017 Kitna Livearia Agradecimentos Educagio Continuada, Alfabetizagio, lo (SECADD — programa UNIAFRO, io dos cursos de Gera, em 2010 é 0 presente momento; Ao CNPq polo fomento a bolsa de produtividade no projeto Sociabilidades Adoles cor e hierarquias no ambiente escolar, 0 qual viabilizou orientagées do gradua- 40 e pés-graduagao, os quais estiverem presentos nas agbes efetivas do Curso de Espocializacio, nosta 2* edigao. A pré-teitoria de graduagio ¢ dit profossoras Marl Ao senhor Joao Griséstomo, da PROEG-UFPA, pelo suporte técnico as duas edigdes do Curso de Especializacao; ‘Aos funcionérios da Fundagio de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) Patricia, Carla, © Marcolo Moraes, mpromisso na Expocializacao; ‘Aos membros do conselho editorial da Colegio Formagao de Professores Ktnico-raciais, pela confianga e pela parceri Aos professores interno: interlocugio_proficua ‘Aos integrantes do N |, pela contribuigéo & ada um com seu quinhao, de todas e todos Sumario Wilma de Nazaré Bafa Coelho, Carlos Aldemir Farias da Silva, Nicelma Josenila Brito Soares 1. 0 protagonismo social contomporaneo dota) ) na midia televisiva em debate na escola ..23 Ecita Evelin Silva Barbosa, Mirna Monaliza Braga Santos, Wilma de Nazaré Baia Coelho, Nicelma Josenila Brito Soares, e Alex Santiago Cruz 2, Formagao continuada de professores para as relagdes 6tnico-raciais no Ensino Fundamental.....45 Antonio Lis Parlandim dos Santos, Keila de Jesus Morais Lobato, Wilma de Nazaré Baia Coelho, Nicelma Josenila Brito Soares, Felipe Alex Santiago Cruz 3. Os povos Indigenas como agentes histéricos no processo de ensino/aprendizagem ‘Marcus Vinicius Valente Barar ‘Mauro Cezar Coelho, Fernando Hoque Fernandes 4, Hist6rias em quadrinhos na escola: diversidade © personagens na Amazonia... 7, Leonardo Castro Novo, Marcus dos Reis Ferreira, Mauro Cezar Coelho, Fernando Roque Fernandes 5, Escola, meméria, identidade e histéria a partir das Relagdes Iitnico-raciais comunidade Quilombola: uma interagao sociocultural por meio da Lei n. 10.639/2003 .....117 Marta Inés Ferreira Lima, Silvandra Cardoso Goncalves, Breno Baia Magathdes, Thaiana Bitti de Oliveira Almeida 7. A Lei n, 10.639/2003 © as praticas pedagégicas no {ino fundamental : ww 1387 e da Silva Carvalh 8. A simbologia do cabelo como possibilidade de afi da identid Josus de Nazaré de Lima da Costa, Thats Pimenta Pimentel, Rosa Maria Lourengo Arraes, Jonas Monteiro Arraes 9. As contribuicdes lingufsticas africanas para portugués brasileiro Euder José Soares da Silva, Fernanda Paula Souza de § Sérgio Cardoso de Mé 10. Educagio Etnico-racial: a ludicidade por meio dos jogos africano! 195 Aline Duarte de Souza, Sonia Hoana do Socorro de Souza Pantoja Soares, Marcio Antonio Raiol dos Santos 11. Literatura afro-brasileira: formagio afirmativa de identidades o memGrias de criangas no Ensino Fundamental . 211 Evillys Martins de Figueiredo, Nilzi Regina Santos Cunha, nia Maria Brioso Tavares 12. Memérias ¢ saboros om narrativas Quilombolas.... 231 Patricia de Fétima Goncalves Marques de Oliveira, Odaleia Barros de Queiroz, Jane Felipe Beltrao, Ruan Carlos dos Santos Lopes Sobre os autores e autoras.. 253 MemOrias e saberes em narrativas Quilombolas mealves Ma Odale, Rhuan Carlos dos Por que Memérias e Saberes? dos pardmetros (GomEs, 2009) primeiras autoras, sob orientagao dos tltimos. A propo- tanto na pré- tica escolar, quanto ao longo do Curso de Especializaga em Relagées Etnico-raciais para o Ensino Fundamental, viabilizado polo Nicleo de Estudos ¢ Pesquisas sobre Formagio de Professores o Relagdes Etnico-Raciais (GERA) da Universidade Federal do Paré (UFPA). O desenvolvi- mento do ages pedagégicas, pela primeira autora, em uma escola do municipio de Santa Izabel, no nordeste do estado do Pard, subsidiou as consideracdes que apresentaremos a soguir. Como tantos outros municipios brasiloiros, Si Tvabel do Paré tom sua formagio sécio-hist6rica ensejada na presonga de povos indfgonas, afrodescendentes, euro- peus, além dos migrantes nacionais, notadamente os de origem nordestina. Contudo, na sobre a hist6ria de Santa Isabel do Pard, o indigena tem sua participagio rolegada a um papel de transounte, visto que fa regio 6 citada apenas como um varadouro dos indios ‘Tupinambés, som nenhuma profundidade quanto A sua participagiio na historicidade Jocal. Sobre os negros, as refordncias dizom respeito as praticas escravagistas @ A for- magio dos quilombos. Os indigenas também sao tratados como se nfo fossem importantes nesse processo de formagio sécio-histérica d , ocupando um lugar de invisibilidade dentr contrapondo-se a par- dentro da histéria de clite intelectual e tr Os imigrantes nordestinos, que chegaram em sucessi- -vas migrat6rias, vieram com a perspectiva de sobre- ca ¢ foram 0s colonizadores que, de fato, do lugar, a partir do século XIX, jantes ¢ principais fontes de naio de obra em Santa Isabel do Pard. Por fim, temos as jas quanto & chegada dos japoneses, que desembar- 1 regido em meados dos anos de 1930, por meio de © Japao, desenw as sociais no municfpio estao assontadas em que favorece as memérias de determinados ‘pos sociais em detrimento de outros, 0 que se reflote dirotamente no ambiente escolar. Torna-se evidente, entao, ia das discussdes sobre memérias e saberes, bem essidade do um olhar que so langa prim da realidade contextual desses estudant de como essa realidade pode ser compreendit ida. Nesse sentido, a presente proposta protende probl ar, sobretudo, as questoes raciais quanto & prosenga dos povos afrodescendentes em Santa Izabel do Paré. Para isso, nos deteremos nas memGrias ¢ saberes, preservados nas narrativas orais de comunidade remanescente de qui- lombo local. 234 Reacts encoracs pra Esino Fundamenak projets de interven exon “Quem vocé pensa que 6?” — As questdes Etnico-raciais no Espaco Escolar O Complexo Educacional Conexao existe ha jio. Hé seis anos, quando a pri sua atuagio docente na escola, dey um cendrio as questées 6tnico-raci de nossos interlocutores, © apesar dos esforgos da oq pedagégica para amenizar os conilitos, os resultados eram em abranger a Os mais afetados, frequentemente, eram estudantes negros, s deles oriundos de familias cuja ascendéncia vi alguma drea rural do municipio e essa area rural 6, grande parte, composta por comunidades quilombolas. Assim, percebfamos, entio, dois tipos de comport mento: o do estudante negro, que se tornava a “persona, ‘engragada” da escola, por se fazer piada o tempo tod sua condigao; @ 0 estudante negro retrafdo, que se isol num canto da sala de aula e ineorporava sua invisil Dentre esses estudantes, os mais afetados, consid: mente, eram os do sexo feminino, meninas que vi cabelos presos por serem crespos e que * cavam-se a circular pelos corredores ¢ éreas em com: convivéncia. Observévamos a tudo, atentamente, pensar em algumas estratégias que envolvessem o qua docente da escola, esbarrévamos sempre nas adversi que se propunha. recem o silenciamento diante do pro- reconhecem a real dimensao do racismo favorecem a despolitizagio da ques- e, como demonstrado em outros tos raciais da sociedade brasileira (COELHO; SILVA, 2015; LOPES; SILVA; ROCHA, 2011). Soma-se a contemporineas para o exercfcio docente, além dos impro- visos em sala de aula, ow no aml todo, dificultando “reflexdes sistematizadas o profissional- ‘mente encaminhadals]” (COELHO; COELHO, 2008, p. 111), A partir do problema, a implementagio da Lei n. 19/03 introduziu a obrigatoriedade do ensino de toria e cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas do pats. O que nos incomoda 6 o fato de essa legislagio ser interprotada pelos gestoros das instituigdes do ensino como algo restrito a uma disciplina da grade curricular, no fazondo parte de um Projeto Politi ‘ mais um contetido a ser ostudado pelos discontes, Entende-se que a identidade const a partir do conhecimento da forma como os grupos sociais de porte viveram e se organizaram no passado, mas também da vi ficagio da forma como se estruturam para fazer face aos problemas do presente, tendo componentes que apontam para 0 futuro, pelo modo como este se prepara por meio da fixagiio de objetivos comuns (MANIQUE, PROENGA, 1994, . 24), Assim: Flags nica pra Faso Fundamental poets de tren escolar A Lei n’ 10,639/03, sem uma context laglo de como se pode alcangar s resolve as préticas racistas. Hé a necessi estratégias, fundamentadas teoricamente, para tar representagao simbélica das cult afro-brasileira como agao de subver des rac frasos aos cologas negros, decidimos utilizar a fomentar as discussdes sobre as questdes étnico-rac ido > revel de maneira substancial, da escola, observou-se 0 aum de estudantes autodeclarados negros, cor ¢ identidade. P -racial bra politico. No da prosenga do negro na s 2010), combatendo a visio romar relogadas ao passado associadas aos esterestipos © imagens nogativas recorrentes 1 It, Macapazinho, Jaquarequara, Apeteua e muitas out comunidades (SOUZA, 2012). prépria evolugio jurisdicional do municfpio de Belém’ 51). remonta ay tempo da escravidao, a pi » do varios processos como fugas tas ¢ resisténcia no tempo da Cabau jem dos engenhos, aboligio da escrav por fim a negociagao da heranga das terras que 0 rnas mais diversas formas (PAZ, 2007, p. 19). Apesar desse protago cobe-se no cotidiano da cidade lombolas, via narrativas ses conhecimentos. A mer instrumento educa tidades (COELHO; SANTOS; BARBOSA e 2015, p. 121), As narrativas quilombolas fazem par responsiveis pola perpe tumes e tradigdes da comunidade qui de preservar 0 conhecimer {pio, ressignificand tos e representagdes do algo que est no passad parte de suas vivéncias cotidianas. Essas narr orna-se olemento fundam do proceso hist sua resist6ncia cultural, incluido a foco nas discussdes acerca de identidade, importancia com Portanto, dentro deste panorama, langamos olhar sobre a realidade local, levando om consideragio a relevancia do contexto no qual 0 estudante esté inserido eo avivar do sentimento de pertenga até enti silenciado. Se os estudos do local si relevantes no proceso de construgio das ider cagio escolar, deve pautarse na realidade em que 8° esse processo, na edu- reada pela plu- tages nico ras por o Ensino Fundamenta projets de intervenao exclu em impor, no processo educative nas escolas, ‘moméria das elites dominantes locais © 1 (FONSECA, 2006, p. 133) O reconhecimento das mais diversas manifest Por intermédio das narrativas o1 0 Questoes tedricas e metodolégicas No ambito educacional, sram a diversidade, aumes dosigualdades e acarretando mazelas sociais, no bojo das relagdes sociais que se c ismo da populagao negra que freq escola (PADINHA, 2009, p. 18). A partir do problema, a implementagio tro la por parte dos profes- Sores e gestores oscolares (MULLER; COELHO, 2013). Por outro nossa experiéncia docente tom demonstrado que enquanto a sendo interpretada por alguns profis algo encerrado em ipos afastar do ambito osco! Partindo da fa a0 espaco iscentes no veem 242 aes aca pao Erin Fundamental: projets de interven ades que permitam aos protagonistas, em momento diferonciado que nos t sarem como sujeitos de sua propria Hit lugares e pessoas quo, nfo estando prosentes, nos imaginar, viajar! ras 6 urgonte ¢ necessario aos jovens estuda © nés, docontes com possibilidade de formar opiniao, podemos concordar com o racismo que afronta a todo: cada um do nés. Permanecor de bragos cruzados d {ao grave problema nao nos parece adequado. Narrar e ensinar Eram seis dias, quando era dia de festa todo mundo comia, todo mundo bebi quando era de feito aquele café na lata, nessas exposto, urge transformar a pratica poday sa res os ig da soeen, pondake tazao pola qual se reconhece as narrativas orais Contes aos quilombolas como ferramenta {mp: ensino-aprendizado, espe rodeado por quilombos. Essas narrativas fazom parto vivencia de alguns dos estudantes, além de roproduzi de festa no quilombo onde cresceu. A grande fostividade, as mombrias @ saberes dessas comunidades até entio explicita nas palavras de Dona Catarina, também deixa gadas da histéria do lugar. entrever os aspectos de comunhfo entre os participantes da fosta em que “todo mundo comia”. A fartura era grande, lo com café em cima da mesa, bandoja com biju”. Desse pequeno trecho, podemos vislumbrar a meméria de um tempo que parece distante, mas que esta marcado nas Jembrangas narradas por Dona Catarina. festa, era uma iemandade, ina, em Macapazinho, agosto de 2009) No excerto acima, Dona Catarina rolembra dos dias Sendo assim, estabelecemos como referencial t @ pesquisa de Maria do Socorro Padinha (2009). Para autora, as narrativas quilombélas podem deflagrar os cessos educacionais, ressignificando categorias, inc sobre 0 ser quilombola. £ prociso ainda, lovar em co ~Fagdo os elementos subjetivos que fazem parte a releviincia do fato, o significado afe Foi em busca dessas narrativas que, em 13 de junho de 2015, a primeira autora deste texto juntou-se com seus estudantes no quilombo de Macapazinho, no municfpio de Santa Izabel do Paré. Aos estudantes do primeiro ano do ensino médio cabia a tarefa de entrevistar os moradores, entendendo as diferentes maneiras de produzir um toxto. A entrevistada, dos: i fs do indivfduo, mas que se n tivos. Enfim, acredita-se na importincia quo as mem: 's Oliveira, as se fagam presentes, eles nica para sin Fenlsmenta: projets de interven eso Diante do gravador, Dona Isafra nfo pareceu demonstrar timidez, perguntando sobre a hora para comegar a falar, A conversa comegou com a aprosontagio dos estu- dantos e se es na Comunidade. Logo Dona Isafra informou que nao era nascida em Macapazinho. Sua entrada no quilombo ocorreu ap6s o sou casamento com morador local, hd 24 anos. Antes disso, nossa interlocutora morava em outro quilombo. Como a pergunta feita polos entrevis tadores era sobre o cotidiano dos quilombolas, Isaira questio de ressaltar que Macay tradicional, mosmo quo alguns visitantes teimem om contrério. Como diz Dona Isafra: “s6 que quando os visi tes chegam, eles jé percobem que 6 um quilombo jé assim. moderno. Nao é aquele quilombo antigo, né?” Provavelmente, nossa interlocutora esta fazondo aos bens industrializados que fazem parto do dia da comunidade ¢ que provoca estranhamento nos visi tes. Mas, como ela deixa bem claro, 0 quilombo ni der As expectativas dos transeuntes. Afi {foi muita luta pra gente chegar no que a gon! lossa luta diz respeito ao direito a escolar. Quando se pergunta sobre 0 modo de apre transmitido oralmente, D. Isaira afirma que fo coisas que em muitos livros nao ensinam". Contudo, ¢ aca que eles também nao tiveram a oportunidade a escola. ante interpretar que D. est4 chamando atengao dos interlocutores para as Ges no acesso a diroitos. Deixar de estudar pa sido uma opgao. escola, com a dignidade que merecemos! © acesso & educagio formal, nosse caso, parece estar relacionado com a prépria sobrovivéncia fisica do quilombo. Segundo conta D. Isafra, na medida em que as criangas ¢ os fovens quilombolas t8m acesso a escola, oles podem por ‘inho. Mesmo que safam para estudar do ensino nao ofertados no quilombo, eles podem voltar ¢ trabalhar no loca 10, ocorria o contréri “antigamente, a maioria dos nossos filhos safam daqui nio queriam voltar Mais do que je © povo de Macapazinho ode mais sor tratado como analfabeto ou semianalfabeto, Também nfo podem mais fazer o que querom da gente, por, que a gente tem estuda”. Esse empoderamento faz Dona {salma afirmar que o povo de Macapazinho tem orgulho de afitmar sua origem. © empoderamento referido por Dona Isaira se trans- forma em mais uma arma no combate ao racismo enfrentado fora do quilombo. 0 acosso a educagio de nivel superior, via politicas afirmativas, 6 relembrado por nossa intorlo. cutora como uma conquista de direito: “Nao foi o gove que dou de méo-beijada", como ola afirma. Por isso, dost ue 08 quilombolas esto mudando, mas isso no implica om deixar de ser quilombola. A mudanga esté no sontido das diferentes estratégias de Iuta por direitos ¢ na melho. ria nas condigées materiais de existéncia. Por isso, Dona Isatra ¢ onfitica a0 afirmar que sor quilombola nfo 6 por- manecer dentro das mesmas roalidades passadas: “mas nao @ gente va permanecer I4 na antiguidade Id 246 Weagdestncocaas para sino Fndsmena projets de interven eso alrés, entdo hoje, a gente sabe que onde entra um branco, ‘um nogro também pode entrar, né Talvez as respostas de Isaira nao tenham sido 0 quo 5 ostudantes esporavam. Mas ela esclareceu muito mais afirmando 0 modo contemporaneo de vida dos quilombolas Provavelmente, Dona Isafra quis mostrar aos vistadores quo o passado 6 importante na constituigaio quilombolas, mas que sua cultura 6 dindmica. As quilombolas de hoje nao sao exatamente como os qu recom descritos nos livros didaticos. Afinal, como ¢ Dona Isafra, nem toda histéria fica no papel, algumas ireadas na nossa alma, no nosso corpo. hist6rias, vérios relatos que a minha avé cont minha mae ainda conta até hoje, que a gen junto com eles, né? Entdo assim pra nés, tificante nés jd ta sendo reco ter nosso territério re ‘nossa hist6rial” ~Aliados as gigantes Catarina e Isaira ;ando da metéfora adotada em outro texto (BE sobre os ombros do obsorva-se como Dona Catarina © Dona Isai ram aos olhos dos estudantes, que talve Macapazinho nao imaginaram encontrar pesso madas sobre direitos e experientes no enti racismo. Pelas narrativas, 6 possivel obsorvar 0 das mulhores que 1 1m em denunciar, ensinar refletir sobi las, com suas histori podero: empo modestas, mas comparam. 6s que podem ler ¢ os que podem narrar infinitamente sem abrir um livro, exatamente porque os livros nao contam todas as hist6rias @ os bancos escolares nao ensinam tudo que se pode aprender. Elas nos dizem que hé entre a tradigfio oral o a tradi- ‘gio escrita uma equivaléncia © ao mesmo tempo uma com- plementaridade. Portanto, Dona Catarina e Dona Isafra nos ensinam a nio padecer de nanismo—a nio se comportar de forma pequena, mesquinha. O interessante do encontro é que os quilombolas, sem fazer qualquer alegacao de autori- dade e sem ropreender os estudantes, demonstram, a par das narrativas, 0 que 6 ser quilombola e como “guardam” orgulho em ser quilombola. © exemplo das mulheres deve ter surpreondido os jovens em visita ao quilombo, pois o mundo da escola 6, muitas vezes, sexista (desconsidera as mulheres), homo- Jobico (nao recepciona orientagées sexuais diferenciadas), racista (discrimina pessoas indigenas ¢ quilombolas), ¢ elas apontam um mundo que acolhe, faz fosta, vive suas tradi- to quanto eles. ~ historias que ensinam poderfamos afirmar quo nao se precisa procurar um gigante para subir nos ombros. Pessoas bem préximas a nés, por serem expo- Fientes, so gigantescas, néo em tamanho, mas nas ideias, ©, como diz.o refro do samba de Haroldo Barbosa, “... isso hilo se aprende na escola, ai nfo...". O samba remete a0 fontexto no qual se busca combater o racismo, pois é uma 248 Relcoesentcoacas para o Eni name: projets de interven solicitagio implicita aos professores de artes, 1i hist6ria, entre outros. O sambar transforma o espa aprendizagem em um lugar de respeito aos diferente: saberes que se encontram portinho da escola, logo do muro. urgente buscar equilibrio e, no caso, 1 antropélogos: pense pelo “ponto de vista nativos”, como informa Geortz, (1998); e nés complet use da verve das narradoras quilombolas, pois nossos res hist6ricos devem ser descolonizados para que as fi da diversidade surjam do apagamento ao qual foram metidos (BELTRAO; LOPES; BARATA, 2016). Além de se aliar as gigantes, compreender a sit politica o emocultural de Santa Izabel do Par nos p cantar com 0 samba de Haroldo Barbosa: Semente dé um broto Diz a histéria wral Obroto dé uma encrenca Quase sempre desigual nto que guarde na cachola Em lugar de apena letra completa d cantar, sugerimos que pro angio e, como as gigant em didlogo © dosconstn as pessoas somelhant repetem e nao pi dosigualé-las. Tonte rabalha, pense no que m ica: respeito 6 bom e eu gosto! Referencias BARBOSA, Muryatan Santana, Histéria da A\ ciéncia. Sankofa. Revista de Hist6ria da Africa e da Didspora Africana. Il, n. 6, p. 89-98, 2010, Estudos ; LOPES, Rhuan Carlos dos $: stelo Branco. Aprender e Ensinar Africa: didlogos entre docentes. In: Coelho, Wilma de Nazaré Bafa; Silva, Carlos Aldemir Farias da; ‘Soares, Brito (Org.). A diversidade em discussao: firmativas, formagao ¢ priticas docentes.S0 Paulo: Ed. Livraria da Fisiea, p. 93-110, 20: CHAU, Marilena. Convite a Filosofia. 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