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opunyy O D}LOQIT OUNVS OLLN}asa OG Valosad va aNoo! oO Introdugao Ser cristo niio é algo solitario. Muitas vezes, porém, pensa- ‘mos na vida espiritual em termos muito individualistas, Somos treinados a ter nossas pr6prias {déias, a expor nossas opinioes € 10 ocidental coloca tanta seguir nosso proprio caminho. A educa énfase no desenvolvimento de uma personalidade independente «que passamos a ver as outras pessoas mais como conselheitos, guias © amigos potenciais no caminho de nossa satisfacio prépria do que como membros, como nds, de uma comunidade de f6 Na intimidade de minha telagio com Deus, ainda me vejo pensando miais a respeito de minha fé, de minha esperanga e de meu amor do que em nossa fé, em nossa esperanga © em nosso amor. Preocupo-me com minha vida de oragao, especulo sobre mew futuro como'homem instruldo rellito sobre quanto bem ew fiz ou farei pelos outros. Em Ludo isso, é minha vida espititual indivi dual q recebe a maior parte da atengio. “A Deseida do Espirito Santo”, um icone russo pintado por volta do fim do século XV, lembrou-me vigorosamente que uma ida no Espirito é na esséncia, uma vida em comunidade, Embora ex sempre tenha sabido disso intelectualmente, um longo € pro= fundo encontro com este {cone do Pentecostes, da escola russa de Novgorod, gradualmente perm mente se tomasse um conhecimento do coragio. iu que esse conhecimento da 49 tA 50 O fato de que Deus revela.a plenitude doamor divino primei- ramente na comunidade e de que a proclamagio das boas novas cencontra sua fonte principal ali tem conseqiténcias radicais para a nossa vida, Porque agora a questo nao é mais: Como posso desen- volver melhor minha vida espititual e compartilhé-la com os outros? Mas: Onde encontramos a comunidade de fé sobre a qual desce 0 Espirito de Deus ¢ da qual a mensagem de esperanga e amor de Deus possa ser trazida a0 mundo como uma luz? Assim que essa questo se toma nossa principal preocupagio, nia pod separar vida espiritual e vida em comunidade, pertencer a Deus € os mais pertencer uns aos outros ¢ ver Cristo € ver uns aos outros nele. A medida que passava mais tempo com esse fcone do Pente- costes, gradualmente fui percebendo muitos aspectos novos da vida espiritual que outros icones nao me haviam revelado, Primeiro, vi como Deus € revelado a nés no Pentecostes como o Deus interior. Entao percebi como esse Deus interior eria uma nova comunidade de fé, na qual a unidade e a diversidade aprofundam-se mutuamen- te. Finalmente, descobri como essa comunidade de fé forma um centro vital, do qual pode se originar a libertagio do mundo, Agora, mostrarei mais detalhadamente como esses tres aspectos da vida spiritual so expressos na “Deseida do Espirito Santo”. O Deus interior que me impressiona em primeiro lugar nesse fcone € sua serenidade, Os doze apéstolos e evangelistas, sentados com gran T. Nesta meditacio, usei os seguintes estudos: Paul Muratoff,Trente-cing Prinitife Russe, Collection Jacques Zolonitsty, 4 la Vieille Russie, Pars, 18 Faubourg Saint-Honoré, 1931 . Ouspensky e V'Lossky, op. cit Daniel Rousseau, L'loone, Splendeur de Ton Visage, Pais, Théophanie, Deselée de Brouwer, 1982, de calma em uma disposigdo semi-oval, radia ordem, paz ¢sole= nidade. Sua presenca harmoniosa reforea a simetria e o equilfbrio do icone todo, Hissa serenade coloca-se em nitido contraste com a propria histéria do Pentecostes, La (At 2,1-13) lemos sobre um som re- pentino vindo do céu, um vento violento, linguas de fogo, palavras racio, e, numa obser- io mostra nada disso: faladas em linguas diferentes, assombro, adn vagio sarcastica, “vinho demais”, O icone nenhum som, nenhuma palavra, nenhum diseipulo falando, nenbu- ‘ma multidao excitada, nenhum observador cético, nem mesmo linguas, apenas doze raios curtos, descendo de uma parte de um circulo que representa o céu, O que vemos € tranqtilidade, harmo- nia e ordem completas. O icondgrato esqueceu o que realmente havia ocorrido? Nio, le escolheu pintar o significado mais profundo do Pentecostes. Ele quer expressar 0 acontecimento interior, Como a maioria dos _gtandes fcones, “A Descida do Espirito Santo” é menos a ilustragao de tuma narrativa bfblica que a representagio de uma verdade teol6- gica. A verdade revelada poresse {cone é2 de que Deus completa a revelagio da vida interior divina dando-nos oalento divino, para que Deus possa tornar-se verdadeiramente para nds 0 “Deus interior”. No infcio, na histéria do éxodo, Deus é revelado como um ‘Deus para nés, guiando-nos para fora de nossa escravidiio com uma columa de nuyens durante o dia e uma coluna de fogo a noite (Ex 13,21). Mais tarde, na histéria de Jesus de Nazaré, Deus é revelado como 0 Deus-conosco (Me 1,24), acompanhando-nos em solidarie- dade e compaixao. Finalmente, na histéria do Pentecostes, Deus 6 revelado como um Deus dentzo de nds, que nos capaci im, o Pentecostes com- pirar a vida divina por nds mesmos. As pleta o mistério da revelagio de Deus como Pai, Filho ¢ Espirito Santo € nos convida a nos tomar parte da vida interior de Deus plenamente. Ao se tomar no apenas um Deus para nés € um 31 32 Deus-conosco, mas também um Deus dentro de nds, Deus nos oferece o conhecimento pleno da vida divina, conforme a promes- sade Jesus: “O Paraclito, o Fspirito Santo que o Pai enviaré em meu nome vos ensinard todas a8 coisas” (Jo 14,26). O icone do Pentecostes nos leva ao mago do mistério da re- velagdo de Deus. A maneira como os apéstolos e evangelistas reunidos manifesta a presenga do Deus interior. O espaco aberto retratado entre as figuras centrais de Pedro ¢ Paulo, assim como 0 espaco aberto criado pelo semi-oval em que esto sentados os doze apdstalos indicam o espaco interior novo em que os seus seguidores podem receber a plenitude do Espirito. O proprio Jesus os preparara esto “EE de vosso interesse que eu parta; com efeito, eeu nio partir, © Pardclito [o Espirito] nao vird a vs; se, pelo contririo, eu partir, eu voro enviarei.. Ble vos conduziré a verdade plena” (Jo 16,7.13) om estas palavras, Jesus aponta para a nova vida no Espirito, que serd revelada no Pentecostes, Serd uma vida vivida na “verdade plena’”. Intimamente relacionada com a palavra “noivado”, a “verda- de plena” significa intimidade plena com Deus, um noivado no qual nos ¢ dada a vida divina completa Os doze raios visiveis no topo do icone simbolizam a plenitu- de do Espirito que os discipulos receberam, O perfodo cle confusio, incompreensio, descrenga e medo acabou, Deus jé nao é um foras- teiro, um guia imprevisivel ou um estranho enigmatieo. Deus é 0 Espirito do Cristo ressuscitado, que vive dentro de seus di os enche de nova esperanca, coragem € que cos faz dizer: “Jesus €0 Senhor” (1Cor 12,3), e lamar: “ABBA, Pai” {Gl 4,7). E esse espirito que Ihes da palavras para dizer diante de magistrados © autoridades (Le 12,12), que Ihes oferece sabedoria {At 6,10} e que orienta suas decisdes (At 15,18). esse Espirito que Thes di forca para continuar a misso de Cristo de perdoar os pecados {Jo 20,23) e de trazer a boa nova do amor ¢ da miserieérdia ines- gotveis de Deus pela humanidade (Mc 16,20), A serentidade ea paz. do feone do Pentecostes expressa melhor do que qualquer texto escrito a vida nova que o Expirito oferece. uma vida de amordivino, vivida no mesmo Kspirito em que Cristo viveu a stia. Assim, Paulo pode dizer: “Vivo, mas ndo sou mais eu, 6 Cristo que vive em mim” (Gl 2,20}. Fsse Fspfrito do Cristo eruci- ficado ¢ ressuscitado torna possivel para nés viver no mundo como. ele viven, sem pertencer a0 mundo. A comunidade de fé O Espirito interior, o Espirito do Deus do amor, o Espirito do Cristo vivo é0 Espirito Santo que cria uma nova comunidade entre ‘os que eréem, Este € 0 segundo aspecto da vida espiritual expresso pelo ne muito 0 que o {cone do Pentecostes nos cmos em um tempo de grande solidi icondgrafo. Comove: diz sobre a comunidade. €, portanto, tendemos onde podemos ser vulneraveis, onde poclemos nos revelar comple- tamente, conhecer os outtos profundamente e desenvolver selacio~ namentos duradouros, tines. Como ansiamos portal comunida- de! f um ideal, muito vivo em nossos sonhos mas fugidio na rea- pensar na comunidade como um lugar lidade cotidiana de nossas vidas. ial 33 ea 54 "A Descida do Espirito Santo”, embora nao negue a impor- tncia das relacdes interpessoais, retrata a comunidade sob uma luz inteiramente diferente, Lembra-nos dle que essa comunidade é antes de mais nada, um dom do Espirito Santo, nao construido sobre a compatibilidade miitua, a afeicio compartilhads ou os interesses comuns, mas com base em todos terem recebido 0 mes- mo alento divino, um coracao inflamado pelo mesmo fogo divino e oabrago do mesmo amor divino. E 0 Deus interior que nos coloca em comunhao miitua ¢ nos tora um. Essa mensagem nos confron- tac nos consola, Confronta-nos com nossa ineapacidade de curar nossa pr6pria fragmentac2o com solugdes pré sola com a revelagao de que Deus realmente quer a unidade pela qual ansiamos. Os doze disefpulos retratados no icone formam uma comuni- dade perfeitamente harmoniosa, Sua unidade é graficamente refor- iar entre n6s ¢gada pelo uso da perspectiva inversa, que faz.as figuras ficarem mais altas quando nossos olhos se movem para o fundo, e pelos halos dourados que cireundam a cabeca dos disefpulos. Forma realmente tum corpo unido por um Espirito. Mas eles nao estio othando um para 0 outro, conversando ou trabalhando juntos. Esto escutando juntos o Deus interior. Nao é sua constituicio psicolégica comum que os une, Como sio diferentes! A esquerda, vemos Pedro, Mateus, Lucas, André, Bartolomeu ¢ Tomé. A diteita, Paulo, Jodo, Marcos, lipe. As historias do Evangelho deixa imo, Tiago ¢ claro que esses homens nfo se uniram por causa da compatibilidade de suas personalidades. © que os liga na unidade sao 0s raios do Espirito divino que desce sobre eles. Esse Espirito abriu o coragio deles para que compreendessem a pakvra que receberam de Jesus, Isso explica por que Paulo e os quatro evangelistas tém livros nas maos ¢ todos os outros tém rolos de pergaminho. A palavra de Deus, dada a eles como um dom comum e reeebida poreles camo uma tarefa comum, une-os em uma comunidade sagrada de f Aqui, o mistério da Igreja € revelado. O que esse icone mos- tra tio convincentemente & que a lgreja é a unidade na diversida- de, Um olhar cuidadoso para os doze mostra que cada membro dessa comunidade é uma pessoa tinica. O iconégrafo deu laboriosa- mente a cada apdstolo ¢ evangelista uma individualidade inimité- 10s das cabegas, os gestos ¢ as vel. Seus cabelos, olhos, as movim Ianeitas como cruzam pemas ¢ pés sio tio diferentes que é bastan- te ficil lembrar cada figura individualmente. Essas diferengas graf cas sdo notavelmente reforcadas pelo uso de uma variedade de cores profundas, plenas, O ambiente em que estio sentados é pin tado em tons modestos de ocre, mas veja os vermelhas, os verdes profundes, os amarelos, piirpuras, castanhos ¢ cinzentos dos ¢tiinicas! Ainda assirn, enquanto cada veste € diferente, ju cexibem uma bela harmonia, Nenhuma cor domina outta, embora 0 vermelho de Joao, 0 amarelo de Pedro ¢ 0s verdes de André, Simao e Filipe formem contrastes notiveis. E uma alegria gastar tempo com cada um dos doze. Cada um tem a sna propria maneira de contar a hist6ria, Paulo senta-se ereto parece bastante severo c intelectual. Pedro est um tanto curvado parece mais disposto a escutar. Joao inclina a cabega ¢ oferece afeigio, enquanto Mateus ¢ Marcos esto ansiosos por explicar tudo com seus bragos estendidos. Filipe, de pemas eruzadas no canto diteito, poderia estar disposto a participar de uma conversa mais informal, e Tomé, 8 esquerda, parece tio jovem que voce se pergunta como ele vai expressara sua experiéncia com Jesus. Todos tem sua propria mancira de viver e de falar da boa nova que entrou profundamente em seus coragoes. Quanto mais me aproximo, mais diferengas vejo, mas, toda ‘vez que recuo alguns passos, percebo novamente que eles perten- cem a uma comunidade, que formam um corpo ¢ so unidos pelo nico Senhor, Jesus Cristo. Espirito de seu 35 i] 56 Libertando 0 mundo A comunidade de fé formada pela Deus interior, 0 Kspitito Santo, niio € formada simplesmente para 0 bem-estar de seus ‘membros, mas para alibertagio do mundo, Esse é terceiro aspecto da vida espiritual tornado vistvel no icone A Deseida do Espirito Santo, O icone lembra-nos de maneira vigorosa como o Espirito de Cristo, que nos reuniu em um corpo, envia-nos ao mundo para gue todas as pessoas possam compartilhar os frutos da redengio produzidos pela morte e ressurteigio de Jesus A figura semelhantea um tei, na parte inferior, de pé no portio escurecido dessa cena do Pentecostes, fala da necessidade de liber- tagio do mundo, Essa figura é essencfal para a compreensii deseidia do Espirito, Quando vi o feone pela primeira ver, senti-me Perturbado por essa pessoa rigida, enigmatica, com uma coroa de aspecto pouco natural, um rosto impassivel, uma vestimenta sem britho e um longo pano braneo estendido sobre os bracos abertos. Fm contraste com as figuras vivazes dos apéstolos e evangelistas, esse homem me parecia uma marionete sem vida. E por que essa estranha porta oval que nao da para nada além da mais completa escuridao? Sentia que a elegante cena do Pentecostes retratada era vialada por essa “ccna” feia na parte de baixo. Porque oespago aberto formado pelos diseipulos nao foi mantido completamente aber to? Teria sido tio mais harmonioso e sereno. Quando comecei a ler pecialmente os de Paul P Muratoy, Leonid Ouspensky ¢ Daniel Rousseau, gradualmente percebi que meus desejos romanticos es- as coment ios sobre 0 icone, es- tavam longe das intengdes do icondgrafo, ( rei rigido no portio escuro precisa estar Ia. O Pentecostes nao é o belo fim da histéria da salvagao, mas 0 inicio de uma missao de sair a0 mundo, fazer diseipulos de todas as nagées, batizé-los em nome do Pai, do Filho € do Espirito Santo e ensiné-los a observar todos os mandamentos LIBERTAR O MENDO que Jesus Ihes deu (ver Mt 28,19-20). O mesmo Espirito que une 0s diseipulos de Jesus em uma vibrante comunidade de fé envia-os ‘a0 mundo pata libertar os que moram nas “trevas € na sombra da morte” (Le 1,79) Nos feones de Pentecostes mais antigos, as multiddes vindo de todas as diregdes a0 som do Espirito (ver At 2,5) eram setratadas 1a parte de baixo do feone. Mas icandgrafos posteriores, para man- tera serenidade solene da composigao inteira, substitufram a multi- dao por uma figura simbélica, Essa figura muitas vezes usa gio: “Cosmo”. Fsse Cosmo, um homem mais velho e sombrio, re- presenta todlos os povos que vivem nas trevas, aos quais foi trazida a luz do ensinamento dos apéstolos. Quando li essa interpretagav, © ‘mensao para mim. Tornou-se ngo apenas um feone de grande har- monia e paz interiores, mas também portador de um chamado. Um apelo urgente a acao foi acrescentado, Muitos vivem nas trevas ¢ esperam pela luz da palavra de Deus. Agora vejo claramente que Cosmo eartega no pano de linho braneo os doze pergaminhos em que a palavra divina pregada pelos doze foi eserita. Sua cor branca cone assurmiy uma now di contrasta nitidamente com a escuriddo em que Cosmo se encan- tra, A luz da palavra de Deus precisa ser levada ao mundo cativo. Assim, essa calma cena do Pentecostes toma-se um chamado pro- fundo a libertacao. Os rolos de pergaminho ¢ os livros colocados nas maos dos doze niio devem ser mantidos ali para a sua ilumi- ago, mas colocados nas maos dos povos de todos os tempos ¢ Tugates, para que também eles possam participar da nova vida que Espirito trax Quando me lembro do materialismo e do hedonismo de meu pats, da pobreza da Asia, da Africa ¢ da América Latina, da violén- cia no Libano, na Landa, na América Central e em tantos outros lugates, e quando penso nos prisioneitos e nas pessous deticientes atras das grades de grandes instituigdes impessoais, nos dloentes iat 7 38 CONTEMPLA A FACE DO SENHOR que recebem pouco ou nenhum cuidado, nes jovens que nao tem oportunidade de educagao ou trabalho decente, nos moribundos que ficam sozinhos em suas tiltimas horas ¢ em todos os que estio sozinhos e com medo — entio, o rigido rei-marionete na porta escutecida assume dimensdes proféticas e toma-se 0 representan- te da humanidade, preso em uma rede mundial de pecado indivi- dual e social, A cayemna escura na parte inferior do {cone no pode ser ignorada, Ela fala da amarga luta em nosso planeta, um planeta cuja existéncia é cada vez mais posta em risco pelos poderes des- trutivos inventados ¢ acumulados por uma humanidade “esclare~ ida”, Aquele velho governante sombrio precisa permanecer i para assegurar que a descida do Espirito Santo nunca seja sentimenta- lizada, mas permaneca sempre uma deseida a um mundo que anseia por lihertacdo. Quem pode assumir essa tarefa de libertagio? Se tentarmos responder is necessidades gritantes do mundo como indiv logo nos veremos rodeados por “potestades e principados” muito além de nossa campreensiio ede nosso controle. Entio, o desespero ‘com certeza esperar por nds. Mas “A Descida do Espirito Santo” tevela que uma comunidade formada por Deus pode realmente cenvolver-se ma luta por justiga e paz sem ser destrufda por ela, Em- bora essa comunidade seja composta de frigeis seres humanos, com capacidades muito limitadas, é© Espirito de Deus que Ihe da © poder libertador. Assim, esse fcone oferece esperanga para a liber tagio do mundo e encoraja-nos a trabalhar por ela, Conclusiio “A Deseida do Espirito Santo”, tal como retratada pelo icond- grafo russo no fisn do século XV, mostra uma nova comunidade de LiBERTAR o MUNDO fé formada pelo espirito de Deus que habita em nosso coragao € nos incumbe de libertar nosso mundo cativo. © icone retine prece € istério, contemplacio e agio, desenvolvimento sereno no Fspirito «ena missio para o nosso mundo inquieto, Ele proclama que a comu- nidade da fé € uma habitagso segura, mas também um centro do qual se irradia um chamado para libertar 0 mundo. Leonie Ouspensky conta-nos que dois fcones sao especialmen- te venerados nas grejas russas no clia de Pentecostes: o da Descida do Espirito Santo eo da Santissima Trindade, Portanto, mostra-se aia ligacio intima entre © nascimento da comunidade de fé € 0 mistério do Deus trino, Na verdade, 0 eirculo harmonioso no qual 1 disefpulos esto sentados é um reflexo da harmonia entre as trés pessoas divinas, retratadas de maneira belissima por André Rublev em sew icone da Sant(ssima Trindade. A iconografia tussa ajuda-nos a perceber como 0 mistério da Igreja e mistério da revelagio da vida interior de Deus nunca podem ser separados. ‘Mas Deus — Pai, Filho e Espirito Santo —e a lgreja, a comunidade onde a vida é vivida em nome do Deus trino, pertencem ao Credo dos Apéstolos, Se mantivermos essa ligagao interior diante de nossa mente ¢ de nosso coragio evitaremos tratar a Igreja como apenas ‘uma organizagio humana que pode ou niio nos ajudar em nossa vida espiritual. A ligagio entre o mistério de Deus e mistério da Igieja é belamente deserita pelo arcebispo Antonio: Assim, a semelhanga da Santissima Trindade, indivisa € distinta, € formado um novo ser, a santa Igreja, una em seu ser, mas mnltipla nas pessoas, cuja cabeca é Cristo ¢ enjos membros sio 0s anjos, profetas, apdstolos, mrtires € todos aquéles que se arependeram na fe EL. Ouspeniby e V, Lossky; op. cit, p. 208 3. Areebispo Ant6nio, Collected Works, vol. Il, pp. 75-76, cil. em L, Ouspensky eX. Losshy, op. cit. p. 208. 39 A Essa visio trinitria da Igrejaajuda-nos a compreendero signifi- cado pleno do amor fratero. Jesus dissera aos diseipulos que 0 seu amor por eles era como 0 amor do Pai por ele, ¢ que o amor deles cada um devia ser to pleno quanto o amar de Jesus por eles. “Assim como o Pai me amou também cu vos amei Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,9.12). No Pentecostes, ele Ihes envia 0 Espirito Santo, 0 espirito do amor com o qual o Pai € o Filho se amam, eriando, assim, uma comunidade a semelhanga da vida divina. Assim como Adio ¢ Eva foram eriados a imagem de Deus, a Igreja foi criada A imagem da vida trina de Deus revelada por Jesus, o Cristo, Portanto, é signi- ficativo que as palavras de Jesus: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” sejam dirigidas a seus amigos mais intimos, os disct pulos, Os que conhecem Jesus so chamados a manifestar 0 seu amor na vida em comum e, assim, tomar-se um sinal de esperanca no meio de um mundo temivel. “A Descida do Espirito” é uma porta que nos leva ao mistério da vida interior de Deus. Quando o vi pela primeira vez, nito me sentiatrafdo. Mas, quando dispensei tempo para estar com o icone € orar com ele, gradualmente ele se abriu para mim ¢ contou-me a historia de nossa redeneio. Espero que toclos os que lerem esta reflexdo com o {cone diate de si passem a ter con: plena da “impenetravel riqueza” de Cristo ea perceber mente “como Deus realiza o mistério mantido oculte desde sempre nele, 0 eriaclar do universo” (EE 3,8-9), cia mais ais chara Conclusao Os icones reunides neste livra vém se tomando familiares para mim ao longo do tempo. Vi muitas reproduces deles em igrejas, conventos, centros de retito e lares. Mas foi apenas quando comecei a vé-los como 0 icondgrafo pretendeu — nao como decoragio, mas como lugares sagrados — que cles me desvelaram seus segredos. Eles me contaram que somos chamados a entrar na comunhao amorosa entre Pai, Filho ¢ Espirito. Eles me revelaram que a Virgem. Maria, escolhida por Deus para tornar-se a Area da Nova Alianga, convida-nos delicadamente a escolher Jesus como o caminho para pertencer plenamente a Deus. Fles me fizeram enxergar que Jesus, que vé as profundezas de Deus, assim como as profundezas do corago humano, é a manifestacao plena da presenga salvadora de Deus entre nds, Finalmente, revelaram-me que, por intermédio de uma nova comunidade formada pelo Espirito, os eristdos so m, trabalhar pela chamados a tomar visivel o amor de Deus e, as libertacaio do mundo. Embora originalmente eu tera visto esses icones indepen- dentemente um do outro, eles gradualmente comegaram a formar turna unidade. Juntos, eles retratam um movimento, da comunida- ot

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