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RicarRDO ARAUJO PEREIRA ILusTRACOES DE JOAO FazENDA Ricarpo ARAUJO PEREIRA tem 31 anos e nasceu em Lisboa, Foi jornalista do JL -Jornal de Letras, Artes e Ideias, &, guionista desde 1998, tendo sido co-autor de textos produzidos para Herman José e Maria Rueff, entre outros. B co-autor, com Miguel Géis, Zé Diogo Quintela e Tiago Dores, do programa Gato Fedorento. Considerado a grande referéncia da nova geragiio de humor em Portugal, tocando ptiblicos muito diferentes, & colaborador da VISAO desde 2004, revista onde escreve uma crénica semanal, ilustrada por Jodo Fazenda Jodo Fazenpa tem 27 anos enasceu em Lisboa. £ ilustrador em varios jornais ¢ revistas nacionais, casos do Publico, O Independente, Icon ou Ler, entre outros. Tustrou livros infantis e é co-autor da banda desenhada Loverboy, com Marte, eda novela grifica Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, com Pedro Brito. Prepara duas curtas-metragens de animagao e estuda Pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa. Tlustra a pagina semanal de Ricardo Araiijo Pereira na revista VISAO TETULO: Boca do Inferno ~ Um ano de crénicas na VISAO AUTOR: Ricardo Aratijo Pereira ILUSTRACAO: Joao Fazenda CAPA: José Pinto Nogueira GRAFISMO; Joao Carlos Mendes PAGINACAO: Nuno Silva e Paulo Reis REVISAO: Rui Carvalho e Anténio Ribeiro ASSISTENTE EDITORIAL: Sofia Vicente IMPRESSAO E ACABAMENTO: Norprint Artes Grafieas, S. A. Zona Industrial Alto da Cruz - Fontiscos - Ap. 172 4780-583 Santo Tirso DATA DE IMPRESSAO: Margo de 2006 DEPOSITO LEGAL: 239356/06 ISBN; 989-612-223-7 VISAO Edificio 8. Francisco de Sales Rua Calvet de Magalhiies, 242 2770-022 Pago de Arcos 2 RicaRDO ARAUJO PEREIRA UM ANO DE CRONICAS NA 'VISAO pacrhcre C... calculam, é para mim uma honra prefaciar este livro. O autor é uma pessoa que prezo muito e esta é, sem diivida, uma obra maior da literatura portuguesa. Nao posso deixar de dar os parabéns & VISAO por ter tido a lucidez de contratar um cronista desta envergadura. Claro, Lobo Antu- nes e Mega Ferreira escrevem benzinho, e José Gil e Eduardo Lourengo produzem um ou outro raciocinio interessante. Mas qual deles alguma ver. abordou temas como a problematica dos coletes de seguranea, as idiossincrasias dos empregados de café, ou a carreira de José Cid? Nenhum. E chamam a si préprios eronistas... Ao contrario, Ricardo Araiijo Pereira tocou todos os pontos fulcrais da sociedade portuguesa. Ricardo Aratio Pereira sabe, em cada assunto, qual ¢ a questo essencial. Nunca nos diz qual é, mas vé-se que sabe. Ricardo Araijjo Pereira nao tem. papas na lingua. Ricardo:Aratijo Pereira é, digamos, 0 maior ~ passe o eufemismo, Durante 0 ano que passou, Ricardo Araiijo Pereirairritou - ou, pelo menos, esforcou-se por irritar ~ muita gente. Convido 0 Ieitor a descobrir se é uma das pessoas que este interessantis- simo cronista tentou aborrecer (se 0 leitor for o Vasco Pulido ‘Valente, digo-Ihe ja que sim). Confirme-o, lendo este magnifico livro de Ricardo Araijo Pereira. Ricardo Araijo Pereira Constituigao, alinea b do artigo 39 te ANDA DIFICIL de com- preender. Quando pensamos que 0 Governo esti demitido, o primeiro- -ministro convoca uma conferéncia de imprensa para anunciar que se demite ainda mais. Os jornalistas, nao pereebendo nada do que se esta 4 passat, buseam explieagdes junto dos consttucionalistas. Um constitu- cionalista é uma pessoa que recorre A Constituicio (geralmente, a alinea } do artigo 39) para confirmar que, de facto, nao se pereebe nada do que eesti passar. Quem pode explicar tudo isto? Eu nao, certamente. Mas ‘comida boa deve ser preferida em re- lagioa comida ma»; «No ser atrope- Jado por um eamiio de18 rodados faz melhor & satide do que ser atropelado por tum eamifo de 18 rodados). Tal era a originalidade da proposta que nenhum comentador tevea gentileza de lembrar ao professor Cavaco que, em Portugal, a expressio «politicos ‘competentes» niio passa, hé um bom par de séculos, de um intrigante oxi ‘moro, O maximo a que podemos aspi- rar é que os politicos incompetentes se Vio afastando uns aos outros. Foi nessa altura que o Presidente da muito curioso que o Presidente leve cinco meses para perceber aquilo que a maior parte do Pais percebe em cinco minutos (e essa é uma das lacunas da demo- cracia) ninguém me pode impedir de tentar, VAMOS POR PARTES. Primeiro, Cavaco Silvaesereveu um artigo no Expresso fem que defendia queos politicos com- petentes deviam afastar os politicos incompetentes (mais ideias para futuros artigos de Cavaco Silva: «A. Repiibliea resolveu fazer 0 que mui- tos portugueses Ihe pediram que fizesse em Julho (especialmente os portugueses residentes em Lisboa ena Figueira da For), e dissolveu 4 Assembleia, E muito eurioso que 6 Presidente leve cinco meses para perceber aquilo que a maior partedo Pais pereebe em cinco minutos. Hi uuma possibilidade muito forte de, li para Maio, Jonge Sampaio cair em st e dizer: «Espera.. Tu queres ver que sind no Geste ano que o Benfiea vai 142» Mal Sampaio anunciow a reali- zagio de eleighes antecipadas, 0 Go- verno demitiu-se. Ou seja, depois de 0 Presidente dissolver o Parlamento, Santana comecou, finalmente, a to- mar decisdes benéficas para o Pais. QUE DIABO, é vontade de contrariar. Mais: € quando jéesta demissionario que Santana desata a cumprir pro- (0 projecto da descentralizacio dos rministérios vai, enfim, ser concre- tizado, agora que cada ministro vai para sua casa, E, em tragos gerais, foi o que acon teceu Posto isto, penso que é possivel agora sim coneluir que, tendo em conta a alinea b do artigo 39 da Constituicdo, Portugal nao faz. sentido nenhum. Pergunto-me seo Ieitor conhece a sensagao de ter um romance genial escrito na cabega e mais tarde peree- ber que alguém j publicou um muito parecido. (Com todo o respeito pelo leitor, ereio que nao. Esta 6, provavelmente, uma ‘conversa para eu ter como Lobo An- tunes, a ss.) Anteontem foi langado olivro Memérias de uma Espermato- ide Irrequicto, de Maria Guinot. Nao li a obra, mas temo bem que Guinot tenha tido a mesma ideia aque eu vinha trabalhando ha anos. Era minha intengio contar a histé- ria de um espermatozéide, e também © meu tinha como trago distintivo te Of DEZEMBRO bE 2004 da personalidade a irrequietude até porque, parece-me, de livros sobre fespermatozdides mortigos andamos todos fartos. Se o bom Xavier de Maistre, pen- sava eu, tinha viajado a roda do seu ‘quarto, quantas aventuras poderia ‘um espermatoz6ide viver no interior dum testiculo? Iniimeras, sobretudo se tivermos em conta que, em pro- porgiio, oespermatoz6ide esti muito ‘ais a vontade num testiculo do que Xavier de Maistre no seu quarto. ‘A originalidade da ideia parece-me evidente: quantos romances ha cujo enredo decorra essencialmente no Ambito do escroto? Tirando algumas ppassagens dos de Margarida Rebelo Pinto, nenhum, Maldita seja, Maria Guinot. m0 S6 vejo sifoes a minha frente Pes QUE 0 PAIS esta a mudar quando ha um esendalo na Madeira eo seu protagonista no é Alberto Joi Jardim. £ um facto iné- dito que merece ser celebrado com estardalhago. Quando estamos convencidos de que as instituigSes demoeréticas do con- tinente atingiram o ponto mais alto da falta de credibilidade, podemos, «quase sempre, contar com 0 parla- ‘mento da Madeira para nos mostrar que o ponto mais alto fica ligeira- ‘mente mais acima. No entanto, no foi esse o caso na semana passada. ois deputados a Assembleia Regio trete» na discussio politica repre- senta, por si s6, uma lufada de ar freseo na vida parlamentar portu- i MEU DEVER informar os legos em louga sanitria do seguinte 0 que aqui se discute nao 6 coisa de somenos. O sifio é, provavelmente,o acessério ‘mais importante de todos quantos exercem funges no quarto de ba- Aintrodugao do tema asifdes de retrete» na discussao politica representa, por si sé, uma lufada de ar fresco na vida parlamentar portuguesa nal iniciaram um debate que me pa- rece proveitosoe sério. Jaime Ramos, do PSD, anunciou & cmara que, na sua opinido, Jacinto Serrao, do PS, cra um rinoceronte; este contrapés que o primeiro teria enriquecido a comercializar sifoes de retrete Analisemos uma eoisa de eada ver, ‘que o debate ¢ intrincado, A inirodugio do tema «sifves de re- ho ¢, se assim nio fosse, tenho a certeza de que Jacinto Serrao no 0 ‘traria a liga. A historica portaria né 11338 de 08-05-1946, que regula as ceanalizagies de esgoto, legisla abun- ‘dantemente sobre o siffio («Os sifoes , jénio émau. a : 20 a 0 Choques e DAaVOTES N. SEI se esto a par disto, ‘mas o PS propés um choque teeno- légico, o PSD anunciou que vai levar ‘cabo um ehoque de gestao e o PP defende um choque de valores. Eu, como é natural, estou chocado. Em primeiro lugar, porque Jerénimo ‘e Louga ainda nao propuseram um cchoque seja no que for, o que 6 grave. Depois admirem-se por os seus par- tidos serem os menos votados. Em segundo lugar, porque elamar por choques numa campanha que jade si ‘em sido amiudadas vezes chocante, € particularmente pleonastico. | ‘Mas, depois de uma répida consulta & ‘obra dos mais inteligentes politélogos ~e também ade Joao Carlos Espada, constato que éa primeira vez que um politico tenta atingir o seu adversi- rio com o racioeinio «Eu sou mais machio do que tu». Os jornais nao revelam se, nesse historico eomfcio de Braga, depois de proferir a tirada dos colos, Santana desceu do palan- que, algando a perna, fez chichi em. todas as arvores da redondeza, para demarear 0 seu territério, SUPONHO QUE SIM, até porque seria essa a atitude l6gica a tomar, depois, de semelhante discurso. E tenho a ‘Tenho a certeza de que, em Portugal, sé hd um homem com capacidade para derrotar Santana nesta campanha. Esse homem nao é José Sdcrates, nao é Anténio Vitorino, nao é Manuel Alegre. Esse homem ¢ Zezé Camarinha aplicou ao Pais um choque de viri- ‘A fazer féna eomunicagio social, ter dito, num comieio com mil mulheres: «<0 outro candidato tem outros colos. Estes colos sabem bem.» Nao raro ue, no debate politico, um candi- dato deprecie 0s outros, enquanto faz alarde das suas proprias qualidades. certeza de que, em Portugal, 96 hi ‘um homem com capacidade para der rotar Santana nesta campanha. Esse hhomem nao é.José Socrates, nio€ An- ténio Vitorino, nfo é Manuel Alegre. Esse homem ¢ Zezé Camarinha. O debate pelo qual as televisbes deviam bater-se este: de um Indo, Santana; do outro, Zené. Os dois grandes vultos do marialvismo, frente a frente E, nomeio, Judite de Sousa, a mo- derar, adoptando o tom apropriado para a gestdo da contenda, e ati- rando logo, como primeira per- gunta: «Afinal, qual dos senhores comeu mais gajas?» Enquanto esse ‘momento da ver- dade nao chega, registe-se a queda. de Santana para as referéneias a0, tuniverso infantil. Primeiro, a meta- fora da incubadora. Depois, perante a recusa de Séerates em debater, a ameaga de revelar como é que, no reereio, se chama aos meninos que 20 FEVEREIAO OE 20 no querem brincar com os outros meninos. Agora, a imagem do coli- tho, Suponho que os discursos de Santana para o dia 20 de Feve ji estardo a ser escritos. Em cas de vitéria, aposto em: «, ou «de segundos sr. engenheiro>, ouainda «dez. segundos, str» O facto de serem tam- ‘bm essa as frases com mais contetido ‘que foram proferidas no frente-a-frente simplesmente notive. E COMPETENTE porque nunca confun- diu dois candidatos que sto iguai- zinhos nas propostas © na pose. ‘mais simples, referindo-se aos can- | “direitas. Por exemplo: «Tem agora a palavra o dr. Santana Lopes da es- ‘querda», ou para permitirqueisto ceo lio substituiu, no primeirolu- que, pela minha side, rocava os vés dde Bristn, que eu quero ver de que acontega. por isso que quero desa- far da lista de Best-sellers, O Cédigo pelos és disse: «© Mara, val bus- tmodoé quem deleuzianocomodJosé _conselhar aqua leitura de Portugal, Gilolha aaa actuaidade do nosso Hoje: O Mado de Exist Embora nto pais» (Na verdade, 0 homem disse me custe reconliecer umn grande mé- Eu préprio fu, hd dias, testemunha desta cena: um casal passeava, waa uO Maria-vailabusearmais rit de José Gil que & este: esrever vestido de fato de treino, pela secgao dos legumes. Nisto, o homem ~ que, uma sacade batatas.» Mas quem tem _sobreos grandes temas comoamorte, pela minha satide, trocava os vés pelos bés ~ disse: «6 Maria, vai la bus~ ‘oma ee ee ewes penal ae deo car mais uma saca de batatas. E traz também 0 Portugal, Hoje: 0 Medo de aes cratena dagabs qua ponsedcr dovtacrereie, 6 debrocar Existir, que eu quero ver de que modo é que um deleuziano como José Gil Yiu, Eeuvi nos olhos do homem que -se sobre um tema tao desinteres- olha para a actualidade do nosso pais» tera em Gil e Deleuze que ele estava_sante erasteiro como é Portugal. 20 at 10 ve mango oF 2005 E preciso preparar o futuro. Principalmente, 0 meu missivel que Freitas, pela sua historia pessoal, aceite fazer parte de um Governo deesquerda. Porém, esteé ) + um Governo do PS, pelo ‘A IRRITAGAO 00 CDS tem al- sguma razio de ser. E inad- que nao havia raza 4, nhuma para que ele 1 J cusasse 0 convite. Mas 0 CDS tocot num pontoim- portante: 0 prof. F ‘escreveu tum longo texto de apoio ao PS, com 0 qual pareee ter com- prado o seu lugar no Executivo. Isto é bem observ: ~ pelos populares, mas, admita-se, ha alguma inveja neste argumento. Freitas precisou apenas de publica ‘um artigo num semandrio fundaientais prineia, porque do o que conriova para deta Fries eo eee tate ese ccs ie ea ‘sem tempo para escrever pecas de teatro parece-me boa ideia; segunda, quem ci dentro como irritagio do anos paraconseguir o mesmo. O des- porque irrita o CDS CDS. Que querem?, emociono-me _peito é feio. Além de que o episddio entanto, perder a independéncia o-convite a Freitas dovAmaraly pers tiada. E, desta vez, com a rabula da pode ainda vir a prejudicar o pro- © o sentido critico, Este Governo é eebemos, finalmenteyque «esquerda deyolugao da fotografia de Freitas prio Paulo Portas, Brumvexerei¢iode’ ‘© melhor de todos os tempos (aqui moderna» querdizermais‘owmenos: ~ como fazem as namoradas ressen- _ légica simples: se; por’Freitas fazer tém a fidelidade). Embora pudesse 1a antiga». tidas, no final de um namorico -,0 parte do Governo de José Socrates, ser ainda um bocadinho melhor (cd Falandoa sério, devo dizer que aprovo CDS mostrou que também ha sen- 0 CDS envia a sua fotografia para esti a critica). José Sécrates tinha, aida do prof. Freitas para o Governo, timentos na politica. Que importa PS,entéo, porter feito partedaquele essencialmente, duas hipéteses: ou por duas razdes fundamentais: pri que sejam sentimentos adolescentes Governo de Santana Lopes, Portas, 32 33 Toda a gente é esttipida menos o Vasco Pulido Valente V scare Liar inenton ‘uma extraordinaria técnica para es- crever crénicas. Primeiro, poe-se a imaginar: «O que é que qualquer pes- soa com um minimo de bom senso ppensaria sobre este assunto?» De- pois, senta-se e esereve exactamente ‘o contririo. Como escreve sem erros ce sabe coisas sobre o século XIX, as [pessoas vii fingindo que nao peree- ‘bem que o truque ¢ banal e anti Esta semana, oassunto era o episodio da fotografia de Freitas, que o CDS cenviou para a sede dos socialistas. acha um piadio a divertida gracinha de Paulo Portas ¢ censura a «pom- posa estupidez nativa» que a apodou decriancice. pidez, ao longo da vida, e, a avaliar Vasco Pulido Valente inventou uma extraordinaria técnica para escrever ccrénicas. Primeiro, pie-so a imagini 40 que é que qualquer pessoa com ‘um minimo de bom senso pensaria sobre este assunto?» Depois, senta-se e escreve exactamente 0 contrario Ainda no ha muito tempo, Pulido Valente tina escrito que Portas ha- vin redurido o CDS a sua «inaceit- Yel pessoa>, © que tinha passado 0 Sprazo de validade: o menino-pro- digio no cresceu (ou cresceu mal) ¢ os meninos velhos nao tm graca.»f 6 mesmo Palido Valente que, agora, 34 pelo curriculum, esta 6, sem divida, ‘a mais canhestra de que jé tive c0- nhecimento. (© problema desta pomposa e earran- ccuda estupidez nativa é que o Vasco dispée de um nimero limitado de cearacteres por semana para a educa. Por isso,e num acto inédito de servigo piiblico na imprensa, disponho-me a revelar, a seguir, as erénicas que Vasco Pulido Valente escreveu esta semana mas nil teve espago para publica. ‘NOS ESTADOS UNIDOS, uma erianga de ‘quatro anos baleou o irmio de dois por causa de um brinquedo, A pom- posa estupidez nativa levou as mos & ceabega. Que as armas so perigosas & os tiros aleijam. Que as criancinhas, coitadas, nao deviam ter acesso a re- vélveres eo melhor, para evitaro tio pernicioso convivio entre a malévola ‘arma de fogo © o petiz inocente, era ‘0s paps ndo as terem em casa. Ninf : Felizmente, eu estive durante uns tempos em Oxford, e tenho opinides ‘que fogem a vulgaridade. Alguém que (Clo 17 OF wanga oF 2005 ponha uma estrela de xerife no peito daquele rapaz» ‘SANTANA LOPES TEM OIANTE DE'S! urn futuro brilhante. A pomposa estu- pidez nativa jé 0 condenou & morte politica © tem a autopsia pronta. 'S6 porque nao tem credibilidade nenhuma, falhou estrondosamente ‘como primeiro-ministro © agora tem de estar @ acotovelar-se com Carmona Rodrigues para recuperar fa sua cadeira na Camara de Lisboa, ninguém da nada por ele. Tivesse a pomposa estupidez nativa estadoem ‘Oxford, como eu estive (no sei se jé ‘tinha dito), eo simples respirar do ar da civilizagao ter-Ihe-ia arrancado, & ‘vez, como fez 2 mim, a pompa, a es- tupidez ea nacionalidadezinha. (Usei aqui um diminutivo porque periodi- ccamente gosto de lembrar as pessoas ‘quesoui o mais parecido que nds hoje ‘temos com © Ega,)» a o canibalismo eas minhas filhas anos que foi apanhado pela policia mandarumabragopara Peter Bryan. nia altura em que se preparava para Escolher 0 eanibalismo:6:optar Por fetarecomer océrdrodeum amign umeaminhndedieadadess deca de 43, foi condenado a prisio perpé- tua, Até quando durara este precon- deve haver-bons restaurantes: Fos ceito contra o canibalismo? Quem vegetarianos ainda tém a lata de se nunca olhou para um colega de tra- queixa! balho e pensou para si: «A coxa do Qual de nés se atreve a criticar Gongalves, no forno com batatinhas Bryan? Cruel, 0 eanibalisino? Eu di a murro, dava um petisco bem gos- ria enternecedor: Bryan preparava-se No dia 23 de Agosto de 2003 tive uma filha. No mesmo dia, o Benfica ganhou ao Guimaraes. No dia 6 de Marco de 2005 tive outra filha. No mesmo dia, o Benfica ganhou ao Nacional da Madeira. A esta luz, parece-me evidente que a culpa das derrotas do Benfica nio é dos dirigentes, nem do treinador, nem da arbitragem. Se o Benfica nfo ganha mais vezes, a culpa é do meu método anticoncepcional toso»? (Atengao: isto era um teste. para comer um amigo. Haverd maior canibalismo é doentio. Se, de facto,é declaragao de amizade do que dizer dado aestettipo de pensamentos, con- um companheiro: «Tu, para mim, sulteum médico. Se, por outro lado,é és um amigo, és um confidente e & dado a este tipo de pensamentos e jé uma refeigto completa»? Quando tema pernado Goncalves numa tra- Bryan diz aos amigos que precisa vessa pronta air aoforno, nesse caso deles para viver nao esté a florear 0 consulte o Pantagruel, Vejacomoum discurso com sentidos figurados la~ raminho de alecrim pode dar um to- mechas esti a dizer a verdade. {que de requinte aos seus pratos de Repugnante, o canibalismo? Eu di- ria saudavel: Bryan festava a cozinhar 0 ‘eérebro do amigo. Sempre ouvi dizer que a mioleira fax bem. Quem se ali- menta melhor? N6: medores de frangos que, A forga de hormonas, trés horas depois de sairem do ovo tém o tamanho de um pas tor alemo, ou Peter Bryan, que esti em condigdes de garantir ‘que o eérebro que se preparava ‘para comer estava bom, wma vez que o viu a funcionar? Nao ha eé- rebro mais fresco do que aquele que, escassos minutos antes de ser cozinhado, manda 0 seu dono perguntar: «Porque é que estas a olhar para mim com esse serrote na mio, Peter?» Animalesco, 0 caniba- lismo? Eu diria requintado. Segundo 0s jornais, Bryan ia cozinhar 0 eére- bro do amigo em manteiga, opcao {que qualquer gastrénomo reconhece como correctissima. Eu ingiro uma ssandes de coirato sempre que vou a bola. Entre mim Bryan ha‘ um ani- ‘mal, mas nio é cle de certeza. 1NO DIA 23 DE AGOSTO DE 2009 tive uma filha, No mesmo dia, 0 Benfica ga- hou ao Guimaraes. No dia 6 de Margo de 2008 tive outra filha. No ‘mesmo dia, o Benfica ganhiou ao Na~ cional da Madeira. A esta uz, parece -meevidente que aculpa das derrotas do Benfica nao é dos dirigentes, nem do treinador, nem daarbitragem. Seo Benfica nfo ganha mais vezes, a culpa. 6 do meu método anticoncepcional. ‘Tivesse eu filhas to- dos os domingos € 0 Glorioso, nesta altura, seria pentacampeao da Europa. Foi por isso que decidi ingressar nna Opus Dei e, simul- ‘taneamente, conver- ter-me aoislamismo: \ seeuestiver proibido deusar métodos an- ticoncepcionais e, 0 ‘mesmo tempo, puder ter varias mulheres, creio que serei eapar de ter filhas todas as sema- ENQUANTO ISSO NAO ACON- TECE, porém, devo confessar quesou, neste momento, um pai angustiado. _perguntow ainda: que sio:fandos -desinvestimento doBPI. E eu tenho vindo a reparar que os bebés dos dias de hoje tém muitas inquietagoes ‘econdmico-financeiras. Fstouatento a puublicidade e, a0 que me é dado ver, 0 ‘mundo é constituido por mulheres que {querem ser mais magras e ter a pele mais macia, eque so casadascom ho- ‘mens que gostam de bebercervejafres- quinha e de ter a barba mesmo muito bem feta. Os filhos, ainda no sairam do ventre da mie ej esto interessa- dos em saber qual €a melhor maneira de poupar einvestir. As minhas flhas nada. Os dias vao passando e as miti- das continuam mais interessadas em bolsar do que em investir na bolsa. Seri normal? = 24 De mango or 2008 a Um roupao para José Sécrates H ‘OJEEM DIA, todos os grandes rnomes da Ciéncia Politiea mundial concordam que os programas de Governo sio como os programas da ‘TVI: mesmo antes de os vermos ji desconfiamos que nao vao ser grande coisa. No entanto, o programa deste Governo foi muito menos eritieado do que é costume. Isto deve-se a um facto politico importantissimo, que € o seguinte: o Benfica est no pri- ‘eiro lugar do campeonato com seis, pontos de avango, Boa parte do povo portugués, comigo ineluido, nie quer saber de mais nada. Enquanto 0 Glo- rioso tiver hipéteses de ser campedo, verno ou pela oposigo, pelos patrdes Du pelossindeatos, pels inteeetuas ou pelos militares. NOwtenentens: der, quem pode salvar Portugal sao ~ adivinharam - as pessoas que vio “apadariaem roupao. Em cadabairr, Ta Wes ou quatro pessoas que, todas ts mantis vaod padarivem roupio. i tempo de essa pessoas vicer para pola SEI BEM QUE ESTA é uma opinido po- lémiea (algumas pessoas diriam parva». Eu no aprecio essas pes: soas). Conheco as reservas que costume colocar a este tipo de ¢ As pessoas que vao a padaria em roupao esto a dar um claro sinal ao Pais. Dois, se contarmos com 0 sinal da falta de sentido estético. Estas pessoas esto a dizer-nos «Eu quero um pao da Mafra, e quero-o agora © programa de Governo até pode determinar que eu tenho de andar descalgo sobre vidros partidos trés, vezes por semana, que por mim esti aprovado. Mas a solugio para os nossos proble- mas niio se encontra, evidentement no programa de Governo, Nao creio ‘queeste pais possa ser salvo pelo portamento, De facto, & partida, ir A padaria em roupao faz tanto se tido como, digamos, ir & oficina et ccuecas. (Agora que penso nisso, ir & oficina em euecas faz ainda menos sentido. E muito perigoso contemplar 0s ealendérios das oficinas quando se esté em cuecas.) Mais: deve hav poueas coisas mais desrespeitosas do 31 DE ARGO DE 2005 {que aparecer frente de um padeiro 1 roupio. Nao Gbonito irparajunto eisamos de ter no’Governo. No di de uma pessoa que passou a noite em que Séerates se apresentar em S. em claro e esfregarthe na cara que Bento em roupao, este seri um pats se esteve a dormir até ha trinta se- melhor. «, dird cle, provavelmente com um péssimo halito. E, nesse dia, este pais eome- gard a caminhar para o futuro com passos firmes mas suaves uma vez que serio dados por gente que esta em pantufas. dios admiriveis que frequentam as nossas padarias, E 7@sse"empenho cobstinado, essa determinagao firme Exijo Salarios de miséria! A NTES DE MAIS, quero estabe- lecer um ponto prévio. Tenho estado com atengio aos nossos melhores colunistas e quase todos eles estabe- ecem pontos prévios com frequén- cia. O Pacheco Pereira estabelece ‘uma média de nove pontos prévios por semana. O José Anténio Saraiva estabelece apenas dois ou trés, mas ‘compensa langando questdes. Numa préxima oportunidade, também lan- Ggarei questdes. Por ora, niio possuo capacidade técnica para estabelecer pontos prévios e langar questdes no ‘mesmo pardgrafo. ‘PONTO PREVIO LESTE: | tado de graga do Governo nio tem graca nenhuma, Toda a gente gosta do Governo, Nesta altura, o Governo io toma medidas: dé sinais muito positivos; ni prejudica a economia afastando os empresérios: enfrenta monopélios com firmeza; nfo obriga, © povo a apertar cinto: toma, eo- rajosamente, decisdes impopulares. ‘Tanta virtude, num Governo, atécha- teia. Se um Governo merece elogio, serd que pode continuar a consi- derar-se um Governo? (Para quem esti distraido: acabei de langar uma questi. E é das profundas.) Nao é ara isto que servem os governos. Um Governo que nao faz asneiras nao pode ser vilipendiado. E a pos- sibilidade de vilipendiar é um dos direitos fundamentais da demo- cracia, Eu, sempre que posso, vili- pendio, Mas, seo Governo governa bem, quem se sentir no direito de ir para a porta da Assembleia da Republica gritar, demoeraticamente, «Chulos!», «So todos iguais, pé>, «Vio trabalhar, malandros»? Nin- ‘guém dotado de bom senso, certa- Estas primeiras semanas de Governo sao muito atribuladas para os membros do Executivo, Ha todo um trabalho de adaptagao para fazer, e rninguém tem ainda tempo nem paciéncia para se envolver em escndalos de corrup¢ao, por exemplo, Quem se lixa, como sempre, é 0 povo 40 mente. Eu set porque tenho estado laa gritar sozinho, COPROBLEMAE QUE estas primeirassema- nas de Governo sio muito atribuladas para osmembrosdo Executivo. Hiitodo ‘um trabalho de adaptacio para fazer, ceninguém tem ainda tempo nem pa- céncia para seemolver em escndalos Se fossem todos como ele, ~ eurvasi» Se a Lusomundo vendesse bilhetes na berma da estrada, fazia mais dinheiro do que com os de Hollywood. a 5 oe walo ve 200s Ser do Benfica: manual de instrucdes O BENFICA TEM boas hipéteses ainda assim, literariamente possi- de ser campeii, este ano, een con- vel. © que impede uma equipa que fesso que niio consign pensar noutra _esteja a liderar 0 campeonato, num coisa, Devo aereseentar que, mesmo determinado momento, de abdicar quando 0 Benfica no tem hipéteses do titulo a favor do Benfica, por ser renhumas de ser eampedo, eu ndo aequipaque pratica o melhor futebol consigo pensar noutra coisa. Mas es-_e veste o equipamento mais bonito? tou longedeser um fanitico,atengio. Nada. Benfica. Nao nos contentamos com E um benfiquista a sério é um benfi- Detesto fanaticos do Benfica. $20 in- sermos os maiores. Sabemos que quista a sério. Nao ¢ simpatizante do suportaveis, Osfanéticas'aeham que) UM BENFIQUISTARSERIO tem aspiragdes podemos ser ainda melhores do que Benfica. 0 Benfica no desperta senti- irrealizéves, Um spoetinguista a sévio Aquilo. Podemos ser «o Benfica». E mentos menores, como a simpatia. S “Umbenfiquistaasériopensadeoutro’ quer que a equipa do Sporting jogue temos todas as condigées para sé-lo, gerade amor para cima. E¢ um amor “modorinaoréumaquestiodeachar;, bem. Um portista a sério quer que a ‘uma vezque,curiosamente, somos exclusiva. Lembro~me de, um dia, ter “nésitemosacertezadequeo Benfica equipa do Porto seja aguerrida. Um ‘0 Benfica. Nao sei se me fago enten- _tido esta conversa com o meu pai: Ele ‘Gomelhorclubedomunde: Os fand-— benfiquistaa sério quer que aequipa der. £ provavel que nio. Eu proprio Mis noticias, iho. Quando vinhamos ticos so uns maricas do Benfica seja «o Benfica». E ser «0 estou um bocado a nora. para casa, a seguir ao empate do Ben- Um benfiquista a sério exige aos jo- fica, a tua mae cau e partiu 05 dois Um sportinguista a sério quer que a equipa do Sporting jogue bem. Um gadores que sejam mais do que sto, bragos eas duas pernas, portista a sério quer que a equipa do Porto seja aguerrida. Um benfiquista Titiewras Reba greianie a Stent © : a sério quer que a equipa do Benfica seja «o Benfican. E ser «o Benfica» & eget am eis es EXEL MIGICRSTTI.O Benton quase impossivel especialmente para o Benfica aeMamml: rekaniiauah eae Mac cen, f um exagero que ev uso aul, nel Fernandes e que tenha ainda a com fins estilistcos. A minha mae Um benfiquista a sério continua a Benfica» é quase impossivel especial- forga do Coluna e a visio de jogo do nao tinha partido os dois bragos mas acreditar na conquista do campeo- mente para o Benfica. Isto porque Sheu; e exige ao Paulo Almeida que _s6 uma das pernas. Estava Optima. rato, mesmo quando isso j4 € ma- um benfiquista a sério é seriamente vaparacasaenio-saiadeli Umben- Apesar disso, est tipo deatitudetem- tematicamente impossivel. Porque é doente. O Benfica bem pode ganhar Fiquista a sério & bastante eruel. A -me eausado dissabores, ao longo da que hide ser a matemiticaaditar a _um{jogo por quatro ou cinco, que n6s rmenos que o Paulo Almeida marque vida. Euseiperfeitamentequenunca possbilidade de sesercampcio? Por- saimosda Luza dizer: «Nao jogimos trés golos ao Porto. Nessa altura, 0 cantina {ue nio aliteratura? Otitulo podeser nada, pi» Isto, evidentemente, um Paulo Almeida fara o que quiser de» Rewsoufilho tinicoyportanto, vejam) ‘matematicamente impossivel mas, elogio. E por isto que nds somos 0 tum benfiquista a sério, "bem o que isto fiz uma pessoa. 4 49 Nobel da Paz para Manuel BR STOU CONVENCIDO de que Ma- rnuel Aedecio, 0 moderador do pro- grama radiofonieo Férum TSF, é 0 Acacio Ouvinte: © Manuel Acacio, esti a fazer muito eco. A TSF devia ver isto, porque assim no se ouve nada. Ou- Gandhi portugués. Osiintervenientest™ tro género de pessoa que acaba por nar para um programa de opinides no tendo opiniao nenhuma é um acto de ceoragem que merece 0 nosso respeito e admiragéo. Hi varias maneiras essi- ‘eas de nio exprimir opinio nenhuma ‘no Férum TSF. Por exemplo, por mott- vos téenioos: Manuel Acécio: Vou pedir The que baixe © seu rio, por favor: Ouvinte: © qué? Manuel Acdcio: Peco-Ihe que baixe o volume do rio. Ouvinte: Nao percebo. ‘Mannel Acdeio: Diga? Ouvinte: Ha? ‘Manuel Acicio: Nao oico. Ouvinte: Como diz? Manuel Acécio: Se no baixar 0 seu radio, no o conseguimos ouvir, por causa do eco, Ouvint nao exprimir pensamento nenhum €o chamado ouvinte-legislador, que telefona para sugerir normas de con- {uta aos outros intervenientes: Ou- ‘vinte: Ost, Manuel Acicio, eu vou ser ‘muito rapido, muito coneiso e muito breve. E, pelo sim pelo nao, vou ser uum bocadinho sintético, também. Porque hi ouvintes que ligam para cae perdem-se em pro-legdmenos e contextualizagdes que nao servem para nada, em ver de irem ao cerne ‘da questo edeixarem falar os outros, que também tém direito. Fiea uma pessoa is vezes horas e horas aespera ‘que um palerma qualquer esteja para aqui a desbobinar um grande relam- Dorio sem interesse nenhum. Isto € ‘como diz o outro: eles falam, falam, endo dizem nada, nao é? Eh, eh, ch. (pausa) Estou? ‘Manuel Acéeio: Sim, estamos a ouvilo. Ouvinte: Ab! E que por momentos vei sem sinal, Capaz de ser do tele- 1, Manuel Acdcio, é para dizer que sou contra. ‘Manuel Acdcio: Ouvinte: Qual é 0 tema de hoje, sr. Manuel Acacio? 50 fone, ow assim. Jé:me tem acontecido 0 _mesmo em conversa com malta amiga. Estes telefones novos. Dava uum tema para 0 vosso programa, um dia destes. (Orabem, éa segunda vez que participo no Forum TSE. Ou &a terocini? Nao, mito, 6a terveira. Assim & que & $6 ‘que numa das vezes eu eheguci a en- ‘rar no ar mas a chamada eaiu. Fieot s6 aquele pi, pi pi, pi, pi. Por isso, nd sei se cont Manuel Acécio:. Ouvinte: E capaz de nao contar. Pronto, ¢ s6 a segunda vez.que par- ticipo, digamos assim. Vou entio ex- planar a minha opinio. Ora bem, antes de mais nada, muito bom dia ao audit6rio, mais ou menos por esta altura que se acabam os dois minutos a que 0 duvinte tem diteto, Outro dos meus preferidos ¢ o ouvinte-relimpago, fae fica horas & espera para dizer stualquer coisa deste gener Ouvinte: Sr. Manuel Acaeio, € para dizer que sou contra. Manuel Acacio: Ouvinte: Qual é o tema de hoje, st. Manuel Acai? Manuel Acéeio: fa questio das pescas. iz pe malo or 2008 Ouvinte: Pois, sou contra, Obrigado bom dia, Outro dos mais fascinantestipos de ouvinte & 0 que, embora no tenha piniao nenhuma sobre o tema do dia tem varias sobre os temasde dias anteriores, Também a esses, Manuel “Acici responde com a sua impertur- bivel bonomia ‘Ouvinte: En queria era falar sobre as reformas, que era o tema de onter. E que eu sou reformado ‘Mane! Aeacio: Lamento, mas otema de hoje &« questio das pescas. ‘Tem opiniao sobre este tema? Guvinte: Hom. Tenho, tenho. Manuel Acicio: Diga, entio. Ouvinter “Hium...As nossas peseas estdo,.. muito mal. Quase t&0 mal como os reformados. Eu sow reformado e tenho uma re- fe forma de miséria. Manel Acieio: As reformas ram o tema de ontem. Hoje ‘io as pescas, Se nao tem “a opiniso sobre o tema das peseas, terei de passar a ou- ‘tro ouvinte. Ouvinte: Nao, nao, eu falo sobre as pescas. A minha opiniao sobre as peseas é esta: as pensdes de reforma sio tio baixas que eu nem tenho dinheiro para ira pesca. Nio sei ha quantos anos Manuel Acicio apresenta este programa. Mas ul Nobre Guedes a Presidente A CONFIRMAR-SE QUE, quatro dias depois de ter perdido as eleigdes, Nobre Guedes assinou um despacho a permitir o abate de 2 600 sobrei- +08, este homem é0 melhor ministro do Ambiente que Portugal ja teve. Primeiro, pelo brio profissional: a0 contrario do que toda a gente diz, os politicos nfo sio - ecito toda a gente ~ «uns ealdes que s6 querem é poleiro para depois nao fazerem nada». Nao. i Segundo, pelo modo como defende a natureza, Vem ai a 6poca dos ineéndios. Por causa de No- bre Guedes, hé 2 600 arvores que, partedas anedotas sobre alentejanos, hd pessoas a descansar debaixo de chaparros. ‘ORA, SE DEPENDESSE le Nobre Guedes, nao haveria um tinico chaparro em todo o Alentejo, pelo que se tornaria muito dificil descansar debaixo de tum, Claro que a preguiga dos alen- tejamos é uma ideia falsatransmitida por pessoas de outras provineias do Pa{s que, provavelmente, se deixaram estar debaixo de chaparros a inven- tar anedotas enquanto os alenteja- nos trabalhavam. Mas 0 ministro pode muito bem ter sido induzido ,ento, por todas estas qualidades Vem ai a época das incéndios. Por causa de Nobre Guedes, ha 2 600 rvores que, com certeza absoluta, nao vao arder neste Verio. Este homem & 0 melhor ministro do Ambiente que Portugal jé teve ‘com certeza absoluta, nao vao arder neste Verio. Se isto niio é ter visio de grande estadista, entao nao sei oqueé. A iniciativa de Nobre Guedes tam- bém pode ser entendida como um incentivo a produtividade. Na maior politicas que estarei na primeira li- noha de uma campana para eleger Nobre Guedes como Presidente da Repiiblica, embora haja quem pense {que o antigo ministro do Ambiente revele mais vocaco para Papa. Por~ que, dizem as més-linguas, Nobre FACO NOTAR aos advogados de Luis Nobre Guedes que no sow ew o autor desta tltima frase. Sa0, como penso ter deixado elaro, as mas ~ eu aproveito para cond muita veeméncia, Alifis, nio me pas- saria pela cabega fazer um jogo de pa- lavras tao estafado, Se é para recorrer ao trocadilho, eu talvez preferisse ‘uma reflexio sobre o modo como, em Portugal, as divindades se relacionam ‘com a nossa flora, uma ver que Nossa Senhorade Fatima apareceu em eima de uma azinheira e 0 Es} rito Santo fez desaparecer 2 600 sobreiros. Véem? Continua a ser uma di vertida brineadeira com 1 duplo sentido da pressio «Espirito Santo», mas inelui fo contraste entre uma divindade que aparece © ou- tra que faz desaparecer, mais uma interessante referéneia & diversidade botinica do Pais. Dito isto, fiea claro, tanto para os advo- gados de Nobre Guedes como para oleitor, que a diferenga entre mime ‘as mas-Linguas é que eu, através de pequenas subtilezas de linguagem, designadas no jargio extremamente téenico da escrita humoristiea por «aldrabices», consigo livrar-me de processos judiciais. Pelo menos, as- sim 0 espero. 19 DE MAID DE 2008, Le Portugal, , Zero points enorme. Ba musicalidade destas frases cera, por vezes, mais bela que a melo- dia da cancio vencedora. Este supliio culpa éde0s6 Cid. Um pais precisa portugués na Eurovisioteve, als um de tradigdes, de referéncias, de segu- _ sibilino prentincio quando, em 1964, ranga. E um dos mais belos rituais nos estreiimos no festival com um que nds tinhamos, enquanto povo, era cantor chamado Calvario que ficou assistir As nossas fulgurantes derro- em tltimo lugar com (adivinharam) tasno Festival BurovisiodaCangio.E zero pontos. raro, neste mundo imprevisivel, haver Quando Portugal nfio aeabava com algum momento, por breve que seja, zero pontos, a culpa era dos espa- tem que podemaos ter 0 conforto de sa nhéis. No festival, os paises votavam ber, com certeza absoluta,comoacaba. nas nagdes amigas: Portugal votava ‘Quando Portugal nao acahava com zero pontos,a culpa era das espanhéis, No festival, os paises votavam nas nagdes amigas: Portugal votava em Espanha, Espanha votava em Portugal; as paises nérdicos votavam uns nos outros; @ 0s franceses, mais que uma vez, tentaram no votar em ninguém ‘Mas sentarmo-nosafrentedatelevisio em Espana, e Espanha votava em sabendo, de cigncia certa, que a can- Portugal; os paises nérdicos votavam ‘elo portuguesa ia ficarem iltimo com uns nos outros; e os franceses, mais zero pontos, era um desses momentos que uma vez, tentaram nao votar em = que eu acarinhava. A frase que mais se ouvia, no Festival da Eurovisio, era Nos altimos tempos, porém, a ma- Portugal, zero points, em inglés, exa-_sica portuguesa nao nos tem dado as fequo com a frase Le Portugal, zero _alegrias de anos anteriores. Nao me ‘points,em francés. A tranquilidade que _interpretem mal: no festival da Euro- tudo isto transmitia ao espectador era _ visio deste ano, Portugal teve, de facto, 54 uma mé prestagio eeu sou 0 pri- meiro a louvé-lo, Mas isto de nao se poder afirmar, com propriedade, que fi- ‘cdmos em iiltimo Iu- gar, deixa um sabor amargo na boca. Ficar pela pré-eli- minatéria deixa- nos metidos no mesmo saco que meia diizia de Lituanias sem que nos consigamos Aistinguir por sermos «os itimos». E, ‘como € ébvio, s6 ha um artista com ‘condigdes para compor uma eanclo suficientemente boa para passar das climinatérias, e suficientemente ma para ficar em dltimo no festival pro- priamentedito, Esse artista, apesar da nédoa no curriculum deter ficado uma ver em sétimo ~ coisa que nunca Ihe perdoet ~ é José Ci OSMAISPRESTIGIADOS economistas do Pais fizeram mestrados, doutoramen- tos e MBAS, sendo que alguns deles estudaram num sitio que confere par- ticular prestigi ¢ que se chama «li fora». Quanto a mim, nio perecbo rigorosamente nada de finangas. ois ‘no momento.em que eserevo, nem et nem os mais prestigiados economis- tas do Pais sabemos qual 6, a0 certo, o valor do défic. Eu nio sei, sequer, ‘o que é 0 déice. Isto é 6ptimo para o até aos mais ignorantes leigos, pos~ AAT pede de ter destas com Vi tor Constiincio: Eu: Entio, Vitor? Estis bom? Afi ‘como é que esti o détce, ou 0 que é! Constancio: Parece-me que esti na ‘orem dos sete por cento. Mas ainda 86 estou ha oito meses a trabalhar nisto. E cedo para dizer. En; Olha que en acho que é menos. Constiineio: Mas haseado em qué Eu: Cala-te, pa. Cé esti. Qual de nés é 0 economista respeitado e qual é0 tipo que, embora possuidor de grande belezafisica, nio sabe nada de contas piiblicas? Quase impossivel dizer. Nenhum de nds faz ideia do valor do défice. Por isso, ¢ ‘tendo em conta que 2 minha opiniao vale tanto como a do governador do Banco de Portugal, gostava de langar aqui algumas directivas para o futuro. ‘Vivemosanoseanosa fiver contengaio de despesas ea apertaro cinto ~e dea nisto: o défice aumentou. Proponho mudarde tictica. Vamos viver & tripa- forra. Vamos alargar 0 einto. O défice fica alto na mesma, mas a gente di- verte-se. 1S O intrigante caso dos coletes de seguranca Ha. Suponhamosquetemosumfuro: ALEM DE QUE VESTIR os bancos da ‘Suponhamesaindaqueumdosban frente com os coletes de segurana ‘cos'da frente querirlivforwlavaliar faz tanto sentido como, digamos, ‘ostestragosie:mandarunypalpiteso= pendurar o pneu sobresselente no bre a melhor rianeiradeimanusear! espelho retrovisor o que nos leva ao ‘omacaco/Umaver quetem oeolete problema da estétiea. E, aqui, im- _vestido, esta devidamente equipado poe-se a pergunta: quem éo-génio Vestir os bancos da frente com os coletes de seguranca faz tanto sentido como, digamos, pendurar o pneu sobresselente no espelho retrovisor Wqeeslotuciadsietenccs sonnet Cee tar que nfo é assim to frequente 03 baneos quererem sair do carro para mével? Quem langou,por exemplo; ajuda a mo ‘Mas nio seria a coisa m aque jise vin nas estradas portugve- tris? Quemestove na origem daten= Sas, e a prevengao nunca fez mal a déncia-Outono/Inverno, em 2002, ninguém. do CD pendurado no retrovisor? F Por outro lado, a colocagio dos co- quem foi oi letes nos bancos levanta questoes de porcelana de cabecinha bamba, que abana o focinho a cada solavanco? Notem: o inventor deste bibelo au tomavel sabia que boa parte do povo portugués gostaria de andar com um edozinho de cabega bamba na chapeleira. Ele nfo inventou um 0 bambo,, J “Te gato de cauda bamba. Foi um cio- zinho de eabeca bamba. E preciso saber muito sobre o povo portugues para adivinhar qual 60 animal que nés queremos pér na chapeleira © {que parte do seu corpo queremos {que esteja bamba. 208 yunmo oF 20 CONFESSO A MINHA predileceio por este adorno, uma vez. que, além de inegdveis vantagens estéticas, faz ‘mais pela seguranga do que muitas ‘campanhas da Prevengiio Rodovidria Portuguesa. Quantas vezes no fui su ppreendide, enquanto conduzia, por um estes cachorrinhos que, na chapeleira cdo carro da frente, parecia dizer-me, 30 ‘mesmo tempo que fazia que sim coma cabeca: «sts a conduzir bem, esti. ‘Vélisetenseuidadinho, pa»? A moda dos coletes, contudo, é, para ja, ‘uma das maisbem sucedidas de sempre. Sem contar ‘com os retardatarios do costume, ainda presos moda da bandeira nacional atada aos encostos de cabega (Prima- vvera/Veriio, 2004), a generalidade das pessoas esta aderir cemforga. Suspeito que boa parte desta gente nem compraria 0 colete se ni fosse para o ter em expos Agora, basta evitar que, porinver- slo do raciocinio, as mesmas pessoas queusam 0 eolete de seguranga como foro do banco, usem o forro do bat ‘como colete de seguranga, Detestaria ver um automobilista a mudar um pneu envergando uma cobertura de pele de carneiro. Ou um taxist a colocar um trifngulo vestido com ‘uma daquelas esteiras de bolinhas de madeira, A nio ser que Ihes que mesmo bem. 9 no banc da frente. 87 io Isto precisa édeum Saldanha Sanches em cada esquina ccs UM esedndalo que Campos ¢ Cunha acumule o salario de ministro das Finangas com uma pensiio de reforma. Acho queé pouco. Como é possivel que, neste pais, um ministro nao acumule também, além da reforma edo salario, uma earteira de tickets-refeigaio ¢ dez ou vinte se- nnhas de gasolina, pelo menos? Eesta ‘amensagem que queremos transmitir ‘a0 Pafs? Se um ministro ~ ainda para as Gnicas pessoas que pagam impos- -tosem Portugal sio o mew interlocu- ‘tor'e ui. O resto do povo portugué (ou, como nds 0 designamos, «essa ‘malta») foge aos impostos e vive de scesquemas», Creio nio estar longe da vyerdade se disser que alingua portu- _guesa é a inien em que a palavra «es- quema» também designa «vigarice» mas que écerto é que, naverdade, eu $6 conhego a lingua portuguesa, $6 ficarei satisfeito quando José Sécrates disser: «Sobre aquilo de arranjar 150 000 empregos, devo confessar que me enganei. Eu vou arranjar é 150 000 reformas - 10 O00 para cada ministro. Foi um lapso, desculpem la maiso das Finangas,- quedevia per ceber do assunto 6 consegiue safar- Sse com um salério e uma reforma, 8 ‘que équeo resto do pow pode asp rar? O motivo da minha preocupacio 6 estes sempre que filo com alguém sobre assuntos fiseais (nao é assim: 10 frequente;admito) deseubro que’ valia tratarem-nos pelo no ‘e mal. Seja como for, uma vez que, neste momento, & consigo que estou a falar, amigo leitor, somos nés os dois os tinicos que pagamos impostos em Portugal. Ja viu isto? Quando se fala de contribuintes, na televisio, 6a nds que se estilo a referir. Mais aacha? Somos s6 dois, que diabo. Ns temos os impostos todos em dia. Sabe porque é que este pafs nao avanca? Claro, é por causa dessa malta. Essa malta arranja esquemas para nio pagar impostos, e quem se lixa é 0 contribuinte. Nos os dois, portanto. © problema é que essa malta sio {9.999 998 pessoas. E essa malta, por muito que nos custe, tem de viver (Ora, seo ministro das Finangas, que esti numa posigio privilegiada para ~ através, evidentemente, de esque #06 JUNHO DE 2005 mula duas reformas com o seu venci- mento, mas mesmo assim nao chega. 6 ficareisatisfeto quando José Sécra- tes disser: «Sobre aquilo de arranjar 150 000 empregos, devo confessar {que me enganei. Eu vou arranjar & 150 000 reformas~10 000 paracadami- nistro, Foi um lapso, deseulpe ki.» _spiot? Os franeeses votam «ndo» 20 mas ~ viver & grande, 36 consegue ‘acumular um salirio com uma pen- sio de reforma, essa malta nio po- derd ter ambigdes muito elevadas. ssuposto sermos um pais de espertos, ‘© 08 ministros devem ser, como é 6b~ vio, os mais espertos de todos. Ecerto que, entretanto, ficdmos a saber que (0 ministro das Obras Pablicas acu- ‘Tyatado Constitucional, os holande- ses também, os ingleses acham que jidmem vale a pena fazer 0 referendo, ‘a Itélia quer abandonar 0 euro para voltar & lira. Enfim, nés bem avisie ‘mos. Despachar o Duriio Barroso: es, ‘o Gnico parametro em que Portugal € superior aos outros paises da Europa. Convenhamos que ja nao é mau. m Carta aberta aos bandidos com relatorios do Ministério da Ad- sede dav ‘ministragio Interna, acriminalidade —trazido 0 eofte-fortean ola. Duzentos dos gangs aumentou 460% em sete e cinguenta de eada lado e levavam anos. Creio ser seguro afirmar que _aquilo em peso para casa. nenhuma outra aetividade teve, em Portugal, um sucesso que sequer se AASSALTARUMA PRAIA parece-me db- assemelhe a este. Se alguma classe vio quedeveriam ter escolhido praias profissional tem levado a sério ode gente rica, como dos Tomates, a apelo patriético do Presidente da do Ancio ou as de Vilamoura, Num Repiiblica para fazer um esforgo no di sentido de dar o melhor de siao Pais, helicéptero de Manuel Damasio. Eaves ia praia de Careavelos, meus ami- Nio posso, no entanto, deixar de co- 20s, 0 que & que tem para roubar? locar fortes reservas & vossatiltima Por mais que me esforce, no consign inieiativa. Eeerto ques noticiacorreu deixar de talvez conseguissem palmar aginar a vossa reuniio Vamos la dividir 0 produto do roubo desta tarde. Este bronzeador solar de factor 30 fica para mim. Maozinhas, ficas com este par de raquetes. Aqui o fupperware de pataniscas de bacalhau 6 para 0 Zé Naifas. E os outros 497 dividem este tacho de arroz de tomate embrulhado em papel de jornal mundo, ¢ ¢ inegdvel que isso, junta- apts o arrasto como uma cena pa- mente com os éxitos de José Mouri-_tética do tipo: Bandido: Muito bem, nnho, eontribui para prestigiaro nome vamos lé dividir o produto do roubo “dePortugallafora: Masmobilizar500° desta tarde. Este bronzeador solar “marmelosparwassaltartumavpraia‘é de factor 30 fica para mim. Maazi- "simplesmenteestipide-Commeiomi= has, ficas com este par de raquetes. “Iharde:metiantes bem/organizados, Aqui o tupperware de pataniseas de 60 te be gunwo De 2005 bacalhau é para 0 Zé Naifis. Eos ou- tros 497 dividem este tacho de arroz de tomate embrulhado em papel de joa IDICULO, NAO VOS PARECE? Sei que ‘a minha opiniao de leigo, provavel- mente, conta poueo, mas niio faria ‘mais sentido dividirem: de 50 (que ja assustam) € ez. praias em vez de uma? uma questo de aritmética simples. Se me permitem a observacio, estou con- ‘vencido de que yoots; muito mais coisas valiosas para rou- -tuguesesie-digosistorsem pretender bar; segunda, eu vow i praia de verem “ofender-vos de modo algum. Tém quando, mas nio jogo gole. iativa, sim senhor, mas falta-vos. Pensem li bem nisso e continuagdo oestratégicae,sobretudo, forma- de bom trabalho. ‘Glo. Pois no é evidente queos vossos Um abrago para todos do Ricardo negécios se desenvolvem menos ber ; i na praia do que, diga-mos, no campo? PS: Nio sei qual de voeés ficou, aqui hit Refiro-me, especialmente, a campos tempos,com 0 meu auto-ridio. Seainda de golfe. Mantém-se 0 contacto com nao foi vendido, uma dica: li dentro ia ‘a natureza e o trabalho ao ar livre um CD do Sérgio Godinho, o Rivolits. que, pelos vistos,voeés tanto prezam —Tenham isso em atengio na altura de ~e tem duas vantagens que entendo fazer o prego, porque éum belo élbum como fundamentais: primeira, hé aovivo.m im Orgulho ‘beige’ D EVO CONFESSAR que @ mani- festagio de extrema-direita do pas- sado sibado me fez ter orgulho de ser portugués. Estavam ali 200 pessoas 4 gritar palavras de ordem contra os estrangeiros e a fazer a saudagio romana, de modo que eu s6 podia ficar muito orgulhoso dos 9.999.800 Dortugueses que se recusaram a por 6 pés em semelhante fantochada. Nao me interpretem mal: alguns ar- sumentos daquela gente ~ passe a gente que niio gosta de trabalhar. 16m me tirada eabega que sto ladrdes. Digamos que sou, com or- sgulho, um supremacista oleoso. Este pais no hi-de avangar enquanto 0 poder nao for detido pelas pessoas a pele oleosa. POR OUTRO LADO, alguns argumentos destes nazis sio apenas ridiculos. Por exemplo, um portugués a dizer que tem orgulho de ser branco é0 mesmo expresso ~ até fazem sentido. Dizemi™ que 0 Bob Marley a dizer que tem i “sos vindoslidefora, que lhes podem tirar o lugar no sempre competitive muito gosto de ser sueco, Nas niio somos brancos, meus amigos. Bran- cos so os ingleses. Nés, se formos um bocadinho a praia, fieamos logo mais escuros. Mas um inglés esti cinco minutos ao sol e parece uma lagosta com escarlatina. Isso é que é ser branco, Outro exemplo: nos Jo- 'Nés somos pretos. Ha muitos anos que estou convencido disto: a Gnica azo pela qual os skinheads portugueses rapam a cabega é para que nao se perceba que eles tém carapinha ‘mundo da eriminalidade. Além disso, ‘eu até sou sensivel a discriminagio de pessoas por causa da pele. Como nto ligo muito Acor, diserimino com base no tipo de pele. Nao confio em pes- soas que tém a pele seca, por exemplo. .208 Olimpicos, nés $6 ganhamos nas provas de fundo e meio-fundo, junta- ‘mente com os quenianos eos etiopes. Os braneos ganham é na nataglo ¢ no hipismo, Portanto, n6s somos pretos. Hi mui- 22 DE JuMMo be 2008 -Reparem na transformagaio por que “spassowoiMichael Jacksonvenquanto P.S.: Lembrei-me agora do | feiprotojeraumigrandeartistwesabia scguinte: o meu tio Vitor, que tem | eantaredangarsDerepenteramedida uma cirrose,é bordeaus, sobretudo | -aique'foi/embranquecendojeomegou na zona do nariz, Coitado do -—qeantareadaver pioreadormireom —homem. 63 Estou Optimista quanto ao pessimismo V inuspessons andarama fazer sondagens e apuraram que os portu- _gueses esto pessimistas. Se me ti- ‘vessem perguntado, teriam poupado muito trabalho, ‘"iuito antes, Cinco minutos depois de ‘Afonso Hentiques assinar o'Tratado de Zamora, é havia um portugues a dizer: «Hum, este pais nunea hi-de ira lado nenhum, pa, em galaico- -portugués. Isto 6 e sempre foi, uma choldra, uma piolheira, um sitio mal requentado €, como tudo 0 que é ‘mau, dura muito, Estamos nisto hd mais de 850 anos. justamente por isso que eu ni estou pessimista. Era preciso muito azar para que, depois de 850 anos de agonia, Portugal aeabasse agora. Du- rante cto séculos e meio ji fomos go- ‘vernados por loucos, por patifes, por vigaristas, por incompetentes, por adolescentes imaturos (¢ isto s6 du- ranteo consulado de Santana Lopes) safimo-nos. Nao hi-de ser agora ‘que vamos deitar tudo a perder. ‘AO LONGO DESTES GUASE 900 ANOS, so- brevivemos até aos nossos herdis que, sejamos sérios, deixam um tanto a desejar. Com todo o respeito, Mar- tim Moniz, ~ foi é imitil negi-lo ~ primeira testemunha de Jeova da His- t6ria, Foi a primeira pessoa a bater & porta de gente quenao partilhavaa sua is quando os desgragados ten- ar a porta, meteu-thes 0 pé na ombreira, para nos deixar ir para dentro em paz. Foi ee que inaugurou ssa pritica irritante. Aposto que as ‘itimas palavras do bom Martim, antes de levar com a porta no peito, foram: «<6 mugulmanos, é tém o tiltimo mi- mero do Sentinela?» O José Mattos bem podia investigar ist. Era preciso muito azar para que, depois de 850 anos de agonia, Portugal acabasse agora, Durante oito séculos e meio ja fomos governados por loucos, por patifes, por vigaristas, por incompetentes, por adolescentes imaturos (e isto sé durante o consulado de Santana Lopes) e safémo-nos. Nao ha-de ser agora que vamos deitar tudo a perder. 64 Hi Cambes era um brincalhio. A ra- “io pela qual os mitidos rejeitam Os Lusiadas, na escola, nao tem a ver com 0 facto de os decassilabos he- roieos serem dificeis de dividir em coragées. O problema é que as pessoas sentem que esti a fazer poueo delas. Ha muito «peito ilustre Iusitanon, muito «e julgareis qual é mais ex- celente, se ser do mundo rei, se de tal gente, e depois nés abrimos 0 Jornal e vemos que o Avelino Ferreira Torres foi reeebido apoteoticamente em Amarante. O que é que ha de ex- celente nisto, Luis Vaz? Portanto, no se preocupem. E preparem-se para mais 850 anos de pessimismo, 20 DE JUNKO DE 2005 VEJAM BEM COMO ESTA o jornalismo portugués. Uma das noticias de pri _ meira pigina do Expressode sabado -passado dava conta de queaimperial “da Sagres vai passaraserservidatrés » graus mais fria, At aqui tudo bem. NNo estado em que esti o pais, bem preeisamos de boas noticias e saber ue a imperial pode ser ainda mais fresquinha é uma alegria que agra~ ego, penhoradissimo, ao Expresso. (© que ja nao se perdoa é que a noti- cia seja preguigosa. Dé a novidade, rede anova temperatura imperial, fe despede-se sem mais. Nio hi in- estigagio, nio ha contextualizacio, rio hé nada, Por exemplo, 0 que vai acontecer ans tremogos? Salgam um. ppouco mais, dado que a fres- cura acentuada da imperial mata melhor a sede, ou fieam na mesma, para- dos no tempo, alheios a0 progresso e moderni- dade? Sobre isto, nem uma palavra. O tremogo 6 mais negligenciado pela comuni- ‘eagao social portuguesa ‘do que o Partido da Nova Democracia. ‘Mas, no easo da po- bre leguminosa, sso 6 uma injustiga. Live 8 Ou 8O Fe DISPOSTO a fazer um esforgo para acabar com a fome no mundo, desde que possa continuar sentado a ver televisio enquanto 0 fago. Ainda assim, sou contra o Live 8. Acho um mau prineipio que os isieos se metam na politica, por- ‘que isso legitima que os politicos se metam na mtsica e quem se lembra do Mendes Bota a eantar e do Du- arte Lima tocar piano compreende ‘bem as razdes do meu reeeio. Além disso, pareee-me que esta iniciativa 6 ofensiva para todos nés. Que seja ‘Acho um mau principio que os mi mente severo na fiscalizagio desta regra, e so frequentes os diflogos deste género: ~ Fiscal do sindicato: 6 Bono, hi ‘mais de dez minutos que néo bebes ‘um whisky. Que brineadeira é essa? ~ Bono: Desculpa, estava distraido, ~ Fiseal dosindieato: B, pelas minhas contas, devias ter tide uma overdose 1h4 15 anos. O que é que ainda estis a fazer vivo? Estes tltimos élbuns ja sto fraquinhos, pa. = Bono: ‘Tens taziio, Passa-me ai a seringa, 18 Se metam na politica, porque isso legitima que os politicos se metam na musica e quem se lembra do Mendes Bota a cantar e do Duarte Lima a tocar piano compreende bem as razbes do meu receio uum grupo de miisieos a preocupar-se ‘com as questdes mais importantes da nossa vida é bem revelador do estado ‘aqueomundo chegou. Notem: aquilo € gente que faz miisiea rock: TRATA-SE DE UMA PROFISSAO em que abusar do alcool e das alucinogéneas. O sindi- ceato dos misicos roek é particular- Portanto, quem teve a ideia de orga- nizar gratuitamente uma produgio sgigantesea para tentar acabar com a pobreza no mundo foi um grupo de toxicodependentes embriagados, Isto envergonha-nos a todos. E a mim, ue sempre fui adepto de julgar as pessoas pelas aparéncias, deixa-me desconcertado. Seum tipocomo.as~ ecto do Bob Geldof ¢ uma pessoa decente, e alguém impecavelmente _vestido, como 0 George Bush é um canalha, entio, tenho andado a es- ‘colher mal o sitio do metro em que ‘me'sento. Tendo tudo isto em con- sideragao, fico com medo de que 0 Live 8 resulte. DEFENDO QUE TODOS deviamos ape- lar aos membros do G8 no sentido de que niio se deixassem pressionar pelos coneertos do passado dia 2 de Julho, Porque, se os homens mais 7 oe vuLMo oe 2008 poderosos do mundo aceitarem a sugestao dos miisieos ¢ perdoarem a divida aos paises africanos, ja al- _guém imaginou como serao 0s livros de Historia do futuro? Eu dou uma ajuda: «Em 1454, a imprensa é in- ventada por Gutenberg. Em 1879, Edison inventa a limpada eléetrica E, em 2005, a fome no mundo acaba devido & nego de Mariah Carey, dos Pet Shop Boys e da Shakira.» Deus nos livre. Os vindouros nunca nos respeitariam. m 67 psht, O chefe ec caeciiae, ‘mesmo empenho que teria se fosse ele a desejé-la, Trata-se, porém, de um ‘tactocomempregadosdecafétendea deseo platénico, porque oempregado -aumentar, Hiimais tempo de perma- sabe que, embora deseje a tosta mista nnéncia em esplanadas, e o eonvivio com amesma intensidade do cliente, com aquele tipo de profissionais pode quem acaba por comé-la somos nos. causar danos irreversiveis na nossa Vejam como ha mais drama nisto do auto-estima. Em primeiro lugar, faz que parece & primeira vista. Estou falta um estudo sério que distinga conveneido de que, se Shakespeare os empregados de café quanto & sta _fosse vivo hoje, todas as suas tragé- ideologia. Basicamente, ha quatro dias se passariam em snack-bares ‘grandes tipos de empregado de café. Ha, também, o empregado pueril. He frio-platénico, que grita £0 que exclama «Dé uma bifanat», para dentro da cozinha ordens como ou «Dé molotov!». A dogura inocente Ha, também, o empregado pueril. Eo que exclama «Dé uma bifanal», ou «Dé molotov'y, A docura inocente da ordem é tal que no podemos deixar de pensar que se trata de uma versio abreviada de «Da uma bifana ao bebé! ou «Da molotov ao menino!». E isso também enternece, evidentemente ‘ m 13 Urano, Neptuno, Plutao eZe Carlos Pia: com muito inte resse 0 trabalho dos cientistas. As descobertas cientificas de hoje sio fundamentais, porque so elas que ‘vio ser desmentidas pelos cientistas de amanha. As'descobertas’cien- Maso fascinio que tenho pela ciéncia nnio me impede de criticar projectos cientificos que me parecem menos cles pegavam numa ovelha ¢ lé com ‘os métodos dees faziam outra ovelha, (Ou seja, os cientistas andavam a tirar cursos Superiores complicadissimos para conseguirem fazer o mesmo que carneiros que nem sequer tinham a quartaclasse (conhego meia dizia de carneiros, e a maior parte deles no tem, de facto, a instrugéo priméria ‘concluida) ‘Outro campo que no me convene astronomia. Neste momento, creio Que nome dar ao novo planeta? Normalmente, os planetas so baptizados com nomes da mitologia romana, mas ndo me parece que o astro agora descoberto merega essa honra. Nao respeito um planeta que andou séculos a fugir aos telescépios dos mais prestigiados astrénomos. Por isso, proponho que 0 novo planeta nao tenha um nome pomposo de deus romano, mas sim um nome corriqueiro como, por exemplo, Zé Carlos nteressantes, Por exemplo, a clona- gem. Durante uns tempos, as eien- tistas celebraram com estardalhago ‘uma nova capacidade: conseguiam pegar numa ovelha e fazer outra ove~ ha, Nao fiquei particularmente in pressionado. Era da minha vista ou (0s earneiros jé faziam exactamente ‘a mesma coisa hé séculos? Também ™ que sei meia diizia de coisas sobre stronomia das quais Copérnico nao fazia a minima ideia, Reparem: Copérnico deseonhecia por eompleto imo planeta do sistema solar, ceuja descoberta foi confirmada na se ‘mana passada. 4 eu, estou completa ‘mente a par do assunto. Ainda assim, astrénomos de todoo mundo teimam, em considerar Copérnico um grande sdbio e em considerar-me a mim um palerma. Enfim, jé se perecbeu que isto, no mundo cientifico, tudo base de cunbas. APESAR DE TUDO, continuo disposto a colaborar com a eiéneia nagquilo que me for possivel. E sinto que é mew ever participar na resolucio do pro- Dlema que agora se eoloea: que nome dar a0 novo planeta? Normalimente, ‘0s planetas so baptizados com nomes da mitologia romana, mas nio me parece que o astro agora descoberto mereca essa honra, Nao respeito uum planeta que andou séeulos a fugir aos telescépios dos mais prestigiados astronomos. Por ( isso, proponho que 0 novo planeta ndo tenha um nome pomposo de deus romano, ‘mas sim um nome corriqueiro ilk tanto a Zé Carlos, como a todos os outros corpas ce- estes que andem a fugir ‘com o rabo &seringa. A nossa mensagem seri «melhor que se apre- sentem, meusmeninos, senio nio ha nomes prestigiantes para ringuém.» Imaginem 4 af Agosto oF 2005 a vergonha que, daqui a uns anos, se- iam noticias do tipo: «Sonda espacial da NASA acaba de aterrar na superfi- ie de Zé Carlos», «Descobertas das fuas em Zé Carlos. CIENTISTAS ponderam chamar-Ihes Fand e Quim», ete. Creio que todos ‘0s outros planetas que nos andam a fugir desde Galileu até mudariam de 6rbita para passarem a frente do Hubble. w 15 Isto s&io quatro palavras C¢ (MO E POSSIVEL que a festa do PSD no Pontal tenha passado quase despereebida? F.verdade que a maior parte dos jornalistas esta no terreno, a atrapalhar o trabalho dos bombei- 10s, mas a festa do Pontal merecia ter transmitida em directo pela tele- visio. Que se passou na festa do PSD de tao importante? Isto: 0 pilpito em que Marques Mendes falou tinha Inscrito o slogan «O Algarve é uma regidlo». Isso faz com que, no meu entender, este comicio entre para a 8) depois de ler a frase nao ficamos ‘com a sensagio de que os impostos vio aumentar, ALEM DO SIGNIFICADO politico que en- cerra, 0 slogan vale também pelo seu caracter informative. Declarar que o Algarve é, na verdade, uma ‘0s cidadaos que estavam conven- eidos de que o Algarve era, vamos ‘supor, um microondas. Era o mew caso, aliés. Pereebo agora os olhares 0 piilpito em que Marques Mendes falou tinha inscrito o slogan «0 Algarve é uma regio». Isso faz com que, no meu entender, este comicio entre para a Histéria da politica em Portugal. 0 magnifico slogan «0 Algarve é uma regio» contém trés caracteristicas que nao é frequente encontrar no discurso politico. Sao olas: I) a frase corresponde A verdade; 2) a frase nao contém a palavra «efectivamenten; 3) depois de ler a frase nao ficamos com a sensagao de que os impostos vao aumentar Historia da politica em Portugal. O magnifico slogan ; 76 de surpresa das pessoas com quem fui contactando, ao longo da vida, sempre que eu dizia: «A tua comida esta fria? Poe o prato durante um minuto no Algarve, pi.» Sendo 0 Algarve uma regio, nada disto faz particular sentido. Como é6bvio, no volto a cair nesta asneira. Vou pas- 1a dizer «P6e 0 prato durante um minuto na Beira Interior, pi.» Mas ha mais ilagdes que podemos tirar deste slogan dos soeiais-democratas. ‘A primeira 6 que, claramente, o PSD 4 emprego a pessoas que nao con- clujram com aproveitamento os seus ceursos de marketing, e isso é bonito. ‘Quem magicou esta frase fo a tantas aulas de marketing como eu (cerca de zero). Posto isto e como, ao que parece, fenho as hablitagBes neces- sérias, gostaria de ofereeer ao PSD (os meus servigos como inventor de ‘um pais.» Cheira-me a sucesso. AMENDS QUE a ideia do slogan no sejaexplicar ds pessoas a na- tureza de cada localidade, mas sim fornecer apenas uma indieagao util. Nesse caso, proponho que o pillpito em que Marques Mendes fala tenbaa frase: li é i noite» Ou: «: tnha-a-Nova, o melhor & segui pelaestrada nacional 802 ¢ apa- nnhar a A23 em Lardosa.» Outra hipdtese €0 slogan reflectir apenas ‘uma mensagem pessoal que 6 lider gostaria de trans- mitir ao povo. No Pontal, “Marques Mendes, polémico 11 DE AGosTo ve 2008 como sempre, quis dizer-nos que, na sua perspectiva, o Algarve & uma regio, Sendo assim, sugiro que, no futuro, Marques Mendes use uma frase como «Eu gosto de filetes de pescadas, ou, se pretender um pouco renosde formalidade, qualquer coisa do tipo «PSD: E este ealor, hem?» Entretanto, esti a dizer-me que & Boira Interior também é uma regio. Ab, ah, ah! Quem é que julgam que ‘enganam. Agora é tudo regides, que- Fitima Felgueiras, autarca INO elo autirquicas, Fatima Felgueiras po- as inauguragies. As plaeas dos edifi- deri serforgada a tomar posse como _cios piiblicos terao, a partirde agora, presidente da cdmara na priso. Acho _inscrigSes do género: «Inaugurado uma ideia extraordiniriae, parabem no dia tantos do tal sem a presenga dda nossa democracia, proponho que _ da presidente da camara por Sua Ex- todos os autarcas sejam obrigados a celéncia se encontrar no xelindr6», 0 que é, evidentemente, refreseante, Operigo de fuga é quase inexistente, ‘mesmo em reclusos com vocaciio para construir tiineis, como seria o caso de Santana Lopes ou Rui Rio. Creio que Ginheiro, Além disso, haveré poticos ficou provado que nenhum deles é sitios melhores do que a prisio para _capaz de coneluir um tinel no espago l A corrupgao pode nao acabar, mas pelo menos fica democratizada Toda a gente passa a ter capacidade financeira para comprar um autarca. Por dois ou trés magos de tabaco, qualquer presidente da camara nos autoriza a fechar a marquise desenvolver trabalho autérquico. de um mandato, pelo que a pena de Por exemplo, nao ha distraegdes que _prisio expiraria antes que eles esti- se interponham entre o presidente _vessem em eondigdes de fugi da cimara eo trabalho, Tirando os ppasseios no patio as deze meia da A CORRUPCAO pode niio acabar, mas ‘manha e as quatro da tarde, Fétima _ pelo menos fica democratizada. Toda Felgueiras poder concentrar-se ex- a gente passa ater capacidade finan- clusivamente na sua cidade. ceira para comprar um autarca. Por 7 dois ou trés magos de tabaco, qual- ‘quer presidente da camara nos auto Flea a feehar a marquise. OUTRA VANTAGEM: acabam as audién- cias com o presidente da camara em almogos interminaveis. O Presidente 6 pode eontactar com os cidadaos durante 0 horario de visitas e atra- vés de uma grade. Torna-se bastante ‘mais facil despachar servio. : ‘melhora bastante, £ muito mais di- fieil serem apunhalados pelas costas por esta gente. 7 ‘Mais: na prisio os autarcas terio 1 of Agosto oe 2005 inebriar pelo poder. A guarda preto- riana do imperador César divia-lhe muitas vezes: «Lembra-te, César, de que és mortal.» Se constantemente nos disserem coisas como «Sr pre- sidente da camara, vi fazer acama», fou «Passe a esfregona na ala C do Bloco 1, st# presidente da cdmara»,é ‘muito dificil esquecermo-nos de que somos humanos. Sobretudo, esta iniciativa de encar- cerar todos 0s nossos presidentes de cimara representaria um es- forgo importante do ponto de vista da reinsergo social: estes reclusos comecam a trabalhar como autar- ‘cas mas, quando sairem da prisio, podem perfeitamente conseguir um emprego digno. = 19 0 25 DE AgosTo DE 2005 , = ‘como dizer?, palermas, nem por em apetite pela contemplagio de fogos Parabéns, caro lteItor ca opi dain ems 3 uma fogueira? Que conversas se tém uma fogueira A porta de cada museu entre amigos comestas fotografias nae biblioteca de Portugal pode, eviden- no ineéndio de Carrazeda de Ansides, ral do nosso povo. Seemeada guichet cm 98, Ja viste aquele pinheiro em déxepartigio desinangas houver um S chamas, quase a chegar-the fogo ao galhorde euealipto a/arder; suponhio cabelo? Hi coisas giras. Nesta estou que sregularizagao’das dividas fis- EESTAALER ESTAS LINHAS, isso so, ou com indignagio e soltando eno resealdodo ineéndio de Castelo eas poderd'sermais rida. ica que conseguiu sobreviver as brados de «Bandidos, era meté-los no Branco, em 2001. Tivemos que trar frias, o que é cada vez mais dificil. meio do fogol» se dio pela presenca a fotografia assim de lado porque os ESTA NAALTURA de fazermos de Por- Nio ser apanhado por um acidente das cimaras bombeiros queriam passar com 0 tugal um grande pats. J4 se perce- de viagdo, um incéndio, ou um aci- ‘autotanque. A teimosia das pessoas, be qual é 0 caminho. Vio buscar os dente de viago provocado por um — AFLUENCIA DE POVO CURIOSO de ver pi. S6 estao bem a estragar as férias voss0s isqueiros que eu vou busear ineéndio costuma ser tarefa quase cucalipto a crepitar tem sido tal que ‘dos outros.» Parece-me claro que este 0 meu. impossivel, eeste Verio nio foi dife- as corporagdes de bombeiros foram . rente. Mas mesmo no meio da mais obrigadas a rogar publicamente & funesta desgraga é possivel achar populagio o especial favor de nto. ‘uma pérola de esperanca, se se for comparecer nas florestas em chamas, perspicaze, sobretudo, se adesgraga para que no prejudiquem o traba- ‘nio nos acontece a nés. Iho dos desgragados que muitas vezes Munidos de maquina fotogréfica, e com o aff de japoneses ante a Mona Lisa, os populares disparavam na direcgao do fogo de modo que nao era possivel indicar de onde vinha 0 claro maior: se do fogo em si, se dos flashes dos fotégrafos amadores ‘A verdade é que os ineéndios mo-tém de optar entre repelir 0 fogo ou bilizaram o povo portugués. ASSim a populaca qual dees oinimigo mais cruel e mais dificil de controlar. Mu- nidos de miquina fotogréfica, ¢ com afiidejaponeses antea Mona Lisa, 0s populares disparavam na direegio ‘alqualquershora'do dia. E impres- do fogo de modo que nioera possivel sionante ver as imagens dos fogos: _indicarde onde vinhao elario maior: ‘entenas de pessoas assistem tran- se do fogo em si, se dos flashes dos ‘quilamente ¢ em siléncio se nao se fotdgrafos amadores. apereebem dos repérteres de televi- Mas, ¢ nao querendo ofender estes, i 20 a Jornalismo do bom Sherdesorpochigsediiiwiescvceat wo tat pata, du wads ciate parting SSAUUEARA- Gonicuaeceperdacts; Kisanpee tate que no tenbo dado ap leitor um tarsta la dentro. Este nfo era opie ecgmpede gee eagle. sacieasunirim nce Tin, SEROMOCUMOTOIEE, , «fartosn ste- Sinhos.» ou wfirmes»,embora nio em. Simultaneo, Sio ras os seios «enor ese tesinhos!!>, ou «muito grandes fe firmes» Os anunciantes sabem evitara publicidade enganosa, atitade de uma honestidade quese lowva. Os segundos, dquase sempre designa- dos através de termi- 27 DE autuaRo ve 2008 nologia de sabor brasileiro, vio desde ‘6 «bumbum esealdante.», como 0 da Elsa, em Leiria, até ao abum-bum es- pectacular», de uma outa leiriense, passando pelo «bumbunzinho fo- sgosol!!», de uma profissional de Tor- res Vedras, pelo ebumbum marotol!!» dda Carina, da Avenida de Roma, ou pelo cbumbum empinadinho» deuma senhora que assina, com alguma imo- déstia, «a gostosa do Saldanha». Precisamos urgentemente de um desastre A © que parece, antes do ter ramoto de 1755, Lisboa era uma ei- dade suja, com ruas congestionadas e habitada por gente que, por causa do transito caético, nao hesitava em atropelar quem Ihe passasse a frente da carroga. Pouco mais ou menos o que ¢ hoje, portanto. Mas, depois do sismo, a cidade foi reconstrud durante um periodo que 0s historia dores estimam ter durado cerca de dduas semanas, chegou a estar habité- vel. Ou seja, o terramoto acabou por rado obra de Deus. 0 eélebre padre Maladriga (um padre da época que ‘© Papa Bento XVI considera «um bocado pri frentex») afirmou que 0 terramoto era um castigo do Todo- Poderoso aplicado a essa capital do pecado que era a Lisboa do século XVIII que, a fazer f6 nas palavras do padre, era bem mais di que € hoje. Estas declaragées vale- ram ao padre Maladriga um eonvite para um churrasco organizado pela Si rtida do 2 Inquisigiio, uma vez.que os pa- Depois do sismo, a cidade foi reconstruida e, durante um periodo que os historiadores estimam ter durado cerca de duas semanas, chegou a estar habitdvel. Ou seja, 0 terramoto acabou por fazer mais por Lisboa do que a maior parte dos presidentes da Camara que tivemos até hoje fazer mais por Lisboa do que a maior parte dos presidentes da Camara que tivemos até hoje. Sugiro ques devora em diante, os candidatos a autareas ‘troquem a campanha eleitoral por _um teste de sismégrafo. O candidato iqueacusarsnacscalade Richtenters “omeu voto, Tendo o terramoto tantas e tio lou- viveis qualidades, nio espanta, por isso, que haja quem o tenha conside- 100 dres do Santo Oficio levavam a mal {que houvesse alguém que parecesse mais reaccionario do que eles. cede que, segundo relatos da época, © sismo arrasou meia diivia de igre jase deixou imtacta a rua dos bordéis facto que teria levado a Inquisiglio a langar o proprio Deus na fogueira, 1ndo fosse o problema de nio 0 con seguirem apanhar. Mas certo é que Deus optou por ni fazer sentir o sex brago castigador nos antros da luxti- ria, Portanto, de duas uma: ou Deus se enganou (hipétese em que até eu, que sou ate mesmo isto que Ele queria fazer nesse caso, eu gostaria de sair a noite com o Altissimo. do homer). Mas os jorna- listas, quando querem, s2- bem ser muito persuasivos eesacam furos destes. O meu ‘maior sonho 6 um dia, ser en- trevistado por um assalariado meu. Infelizmente s6 tenho uma funcionéria ameu cargo. fa Pa- Joma, uma simpstiea brasileira sem a qual a minha casa ter ior aspecto que Lisboa em 1754 3 0E Noveweno of 2005 Infelizmente, as tinicas questies que 1a Paloma tem para me colocar sio ‘almporta-se de se levantar, que € quase meio-dia e eu quero fazer a cama? ou «lsto sitio para deixar as eueas, seu badalhooo?» E egre geral, a verdade é que eu nao tenho ‘uma boa resposta para da. Vandalismo em Franga: pros e contras E ERANTE AS CENAS DE VIOLENCIA {que assistimos em Franga, muitos Portugueses preocupados comeca- ‘ram jf a fazer a pergunta Obvia: «Sera que isto vai contribuir para baixar 0 prego das viagens para Paris? E que © Bentica joga la no préximo dia 22 ‘eeu gostava de ir ver.» Minto. Isto é ‘apergunta que cu tenho feitocAlper> i ‘éaSei/ligipixe Mas, franeamente, vemos na televisto, depois de van- dalizados continuam a ter melhor aspecto do que um veieulo que tenha andado durante 20 minutos numa estrada portuguesa. Tenho, aliés, sérias dividas de que um portugues 4 quem tivessem incendiado 0 auto mével durante a noite desse por isso rma manha seguinte, na altura de sair para o trabalho. Creio que entraria no carro e, no méximo, comentaria consigo: «Tenho mesmo que deixar de fumar aqui dentro, Cheira um bocadinho a queimado.» Segundo, Porqueao precoa que a gasolinaesti, ninguém tem dinheiro para andar a fazer cocktails-molotov, especial- E com alegria que registo que a maior parte dos vandalos que esto a ccausar distirbios em Franga so, a0 que se diz, de origem arabe. Talvez isso contribua para melhorar a imagem dos imigrantes portugueses em Franga, que néo ora famosa. E a verdade é que estes imigrantes arabes fazem com que os imigrantes portugueses paregam imigrantes suecos Parece-me que no, Duvide queo que esti’a acontecer em Franca possa vir a passar-se cd. Por varias razies. Primeiro, porque nao faz sentido vandalizar automéveis em Portu- «gal. Muitos dos earros franeeses que oz mente nos subsitios. Enquantoo pe- tréleo estiver a este prego, ninguém 23 Junho 2005 «Quantas vezes no vimos jé, no programa National Geographic, um urso a chegar a toca, cansado de um dia de trabalho, apenas para encontrar a ursa mergulhada numa banheira de espuma enfeitada com pétalas de rosa e velas a toda a volta, convidando o macho para uma noite de simples prazer animal? Tantas» 24 Fevereiro 2005

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