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Análise do conto

“Assobiando à Vontade”
in Dia cinzento e outros
contos (1967)
de Mário Dionísio
Mário Dionísio
Escritor, pintor, professor e crítico de arte português.
• Mário Dionísio nasceu em Lisboa a 16 de julho de 1916 e faleceu
na sua cidade natal em 17 de novembro de 1993.
• Licenciou-se em Filologia Românica em 1940 na Faculdade de
Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Foi professor do ensino
liceal/secundário e depois da Revolução dos Cravos da Faculdade de
Letras.
• Colaborou em diversos jornais e revistas.
• Foi poeta, ficcionista, ensaísta e pintor. Enquanto artista plástico usou os
pseudónimos de Leandro Gil e José Alfredo Chaves.
• Morre, aos 77 anos, de doença cardíaca, no Hospital de Santa Marta, em
Lisboa. Não quis velório nem flores, nem a presença da mulher e da filha
no funeral. O corpo terá sido cremado no cemitério do Alto de São João no
dia seguinte.
• Em setembro de 2009 abriu ao público a Casa da Achada – Centro Mário
Dionísio, em Lisboa.
A sua obra – Prémios

 •Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de


Críticos Literários, 1981 (Terceira Idade).

 •Grande Prémio de Ensaio da Sociedade Portuguesa


de Escritores, 1963 (A Paleta e o Mundo).
Obras literárias – Poesia e Ficção
 •Poemas (1941)
 •O Dia Cinzento (1944)
 •As Solicitações e Emboscadas (1945)
 •O Riso Dissonante (1950)
 •Memória dum Pintor Desconhecido (1965)
 •Poesia Incompleta (1966, onde reuniu toda a obra
publicada até então)
 •Le Feu qui Dort (1967)
 •Não Há Morte Nem Princípio (1969)
 •Terceira Idade (1982)
 •Monólogo a Duas Vozes (1986)
 •Autobiografia (1987)
 •A Morte É para os Outros (1988)
Atividade

Vamos ver se leste bem o conto.


Carrega aqui.
Resumo

Este conto fala da habitual e apressada rotina diária da cidade, num dia de
trabalho.
No meio de todo esse caos, há alguém que permanece “intacto”, não parecendo ser
tocado pelo stresse. Entra num elétrico cheio, insistindo para que o deixem passar, e,
vendo um lugar desocupado, lá se senta, despertando toda a multidão que se
encontra no transporte, por achar aquele homem um tanto estranho. Essas pessoas
ficam então a observar o sujeito que acaba de se sentar e este, sentindo-se já
confortável no seu lugar, decide começar a assobiar, para grande espanto de todos.
Indiferente à reação dos outros passageiros, o indivíduo cada vez se entusiasma
mais, deixando todos perplexos e até indignados perante tal situação ( invulgar
naqueles tempos). Desde a sua entrada até à sua saída do elétrico, contam-se
reações, pensamentos e gestos das outras personagens, dependentes da presença da
personagem principal.
Naqueles tempos, qualquer um que não agisse como uma maioria, era visto de
forma crítica e pejorativa. E hoje?
Ação - Estrutura Interna

• Identifica as 3 partes que dividem este conto.

a. Introdução/situação inicial – ll.1 – 58

b. Desenvolvimento/peripécias – ll.59 – 134

c. Desenlace/situação final – ll.135 - 149


Introdução

 Descrição da rotina lisboeta, em hora de ponta,


vivida numa viagem de elétrico.
Desenvolvimento

 Aparecimento de uma personagem (um homem)


que vem atrapalhar a rotina dos viajantes habituais
do elétrico;
 Ele incomoda os passageiros para se sentar;

 Começa a assobiar, sem qualquer preconceito;


Desenvolvimento (cont.)

 Os passageiros ficam perplexos e indignados;

 No elétrico, uma menina gosta de o ouvir assobiar


e bate palmas, sendo repreendida pela mãe;
 A dada altura, ele sai, indiferente a tudo e a todos.
Desenlace

 Depois da saída do “outro”, todos se riem;

 Apercebem-se da sua “quebra de compostura”;

 Voltam ao seu estado inicial e habitual.


Organização das sequências narrativas:

 Encadeamento: as sequências sucedem-se segundo


a ordem cronológica dos acontecimentos.

 Alternância: Duas ou mais ações vão sendo


narradas alternadamente.

 Encaixe: uma ação é introduzida no meio de outra.


Organização das sequências narrativas:

Neste conto, o narrador utilizou o


encadeamento para narrar a rotina dos
passageiros e as peripécias com o
“homenzinho”.
Também utilizou o encaixe, quando
narrou as lembranças da infância da mãe
da menina.
Personagens
Faz a caraterização das personagens a nível:

homem passageiros

físico

psicológico

social
O processo utilizado
na caraterização
psicológica e social
é indireto: Os traços
Caraterização
característicos das
personagens são
deduzidos a partir homem passageiros
das suas atitudes e
comportamentos.
Vestido de forma modesta
“Era um homenzinho
física insignificante, ainda novo e já Bem vestidos
de cabelos grisalhos, chapéu
coçado e sobretudo castanho
muito lustroso nas bandas.”
Personagem diferente: não Não tendem a demonstrar os
psicológica toma as suas decisões em seus sentimentos e
função da maioria, empenham-se em manter a
exterioriza sentimentos e “compostura” própria do seu
luta pelos seus direitos. nível social.

Comportamento Comportamento
social considerado desadequado: socialmente correto,
empurrou as pessoas para remetendo para distinção
ricos/pobres.
se sentar e assobiou.
Após a leitura da caraterização do
“homenzinho” e dos outros passageiros,
apercebemo-nos que ele não tem nada
a ver com os outros – ele é o oposto
dos passageiros.
As únicas que conseguem identificar-se
com ele são a criança e a sua mãe.
Personagens - relevo

Homenzinho – personagem principal (sem ele esta história não


existiria, é ele que despoleta as ações e reações presentes no
conto).

Criança, senhora bonita e restantes passageiros- personagens


secundárias ( agem e reagem, embora não sejam tão
importantes como o homenzinho).

Multidão que se juntava a esta hora na baixa - figurantes


(ajudam na criação de um determinado ambiente e na
veracidade da história)
Personagens - composição

Personagens redondas ou modeladas

(evoluem ao longo da ação, não são previsíveis)

homenzinho e criança.

Personagens planas

(com comportamentos previsíveis, sem alteração


significativa das suas atitudes)

restantes passageiros
O narrador

O narrador é um ser imaginário, criado pelo autor, a


quem cabe contar/narrar os acontecimentos do texto
narrativo.

Classificação do narrador quanto à sua participação na


ação:
a)Narrador participante: participa na história como
personagem (autodiegético ou homodiegético).
b)Narrador não participante/heterodiegético: não participa
na história como personagem.
O narrador (neste conto)

 Classificação do narrador quanto à sua


participação/presença na ação:

 narrador não participante/heterodiegético,


porque não participa na ação

(narração na 3ª p.)
O narrador

 Classificação quanto à sua posição /ao seu


ponto de vista:

a) Narrador subjetivo: narra os acontecimentos,


declarando ou sugerindo a sua posição, é parcial.

b) Narrador objetivo: não toma posição face aos


acontecimentos, é imparcial.
 Classificação do narrador quanto à sua
posição/ao seu ponto de vista

Após a leitura destas expressões/frases, diz se o


narrador é objetivo (imparcial) ou subjetivo
(parcial)?

a. “Que fazer senão empurrar, furar, pisar e barafustar


também?”(ll.26-27)

b. “como é fácil compreender”(l.67)

c. “Toda a gente o olhava. Com desprezo? Com ironia? Com


inveja?”(ll.133-134)

d. “Tudo voltou, pesadamente, a encher-se de silêncio e


dignidade.”(l.149)
É um narrador subjetivo,
revelando um espírito crítico, de
censura e, por vezes, irónico.
Recursos expressivos

a) “Felizmente, ainda havia alguns homens corretos na cidade e


algumas mulherezinhas que conheciam o seu lugar.”

Ironia
b) “mais lhe apetecia rir, rir, rir.”
Repetição expressiva
c) “Com desprezo? Com ironia? Com inveja?”
Pergunta retórica
d) “…a senhora nova e bonita…”
Dupla adjetivação
Mensagem do conto

“Este conto pretende alertar os leitores


para a consciência da injustiça social
e criar neles a necessidade de agirem
contra essa mesma injustiça.”

Mário Dionísio

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