Você está na página 1de 2

Portugus - TEXTOS LRICOS DE FERNANDO PESSOA e HETERNIMOS - 12 A

Ficha sobre poema de A. Caeiro


I - Leia atentamente o poema.

XLVI
Deste modo ou daquele modo,
1 Conforme calha ou no calha,
Podendo s vezes dizer o que penso,
E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,
Vou escrevendo os meus versos sem querer,
5 Como se escrever no fosse uma coisa feita de gestos,
Como se escrever fosse uma coisa que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora.

Procuro dizer o que sinto


Sem pensar em que o sinto.
10 Procuro encostar as palavras ideia
E no precisar dum corredor
Do pensamento para as palavras.

Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.


O meu pensamento s muito devagar atravessa o rio a nado
15 Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.

Procuro despir-me do que aprendi,


Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoes verdadeiras,
20 Desembrulhar-me e ser eu, no Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.
E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.
E assim escrevo, ora bem, ora mal,
25 Ora acertando com o que quero dizer, ora errando,
Caindo aqui, levantando -me acol ,
Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.
Ainda assim, sou algum.
30 Sou o Descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta das sensaes verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-prprio.

Isto sinto e isto escrevo


35 Perfeitamente sabedor e sem que no veja
Que so cinco horas do amanhecer
E que o Sol, que ainda no mostrou a cabea
Por cima do muro do horizonte,
Ainda assim j se lhe veem as pontas dos dedos
40 Agarrando o cimo do muro
Do horizonte cheio de montes baixos.
Alberto Caeiro

II Aps a leitura atenta do poema, responda ao questionrio:


1. Transcreva exemplos que mostrem estas linhas estruturadoras da poesia de Caeiro.
A. Ato de escrita natural e quase involuntrio.
B. Necessidade de uma outra aprendizagem onde o sujeito potico desaprenda o
que lhe foi convencionalmente imposto.
C. A procura da verdadeira identidade.
D. A sensao como nico meio possvel de conhecimento do mundo.
2. Faa a anlise formal do poema (estrofe, mtrica e rima).
3. Transcreva os versos que, na sua opinio, melhor resumem a poesia de Caeiro. Justifique.

Bom trabalho! Elisabete Coelho

Você também pode gostar