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DA NOSSA BIBLIOTECA ASCETICA «| A Jesus 05. 5 corabee du Tinitagao’ do, Sa ra Coragto ‘de Jeu 4 partes, peld Pe, Pedro Amnoudt-S. Gre pigs, (Ard ¢ A Aiea, Cloriona se, May Por ‘Dom Fe. Henrique ‘M, — Paginas de! festa marcas oe 168) r © (Belgee) Broch, cae ‘As Atmas Confiantes, pelo Pe."Jose Schiivers CSS. R. = Traducto da. os hi) bef Hers nt iveita ca ails ea 4 se dns'proprias tltas,"senuidto 8, gt ee My = 9+ eas cere Ar ae er oA ‘e pri t 8, pelo lost Tidsot, Adaptag io: Ga so, aes Espa, gt téologia ss, por as Leurbingo 1 Bee, Now. ait. 2) se io) Pra" nw IMealitaenes para pessoas. nia? ak Esentds Me ae axle, para todos 5 His. do oe fo Bieroaun 10.9 FP Map, Trad, “antorizada, se 88 pli. oF Se ae a Deis i ‘pelo P we Pas Sy eda 186 oe © Dia do Enftrmo, vettbrerrey RABE er ie cut 5B) diwides as al i He velo he Jose eer ce ne ae & Diresio ra,viver extents eee Als elicit 0 | Divin 0.8 Pes shimento ara Fetiro, oy fe Trade de sti 3a hey Pak dias Almas Iatesiores, © ipthdio Pact Jot Grows, Ie st Ga 424 pal _. 8s Maravitlias da Diving Graea, por Alice be ‘Lovati ¢ Trad, do ing, | opor BoE, de Barros Pimentel. 149epags. hy (Alay “angeles, pelo Padre Teodoro Retisbonne, ‘Temas dk ™e= ditigéo para todos os dias do ano. 440 pags. (Aa) Be 4 * A Sania Missa eta Vide-CAst por Fr. Jodo, Jost P. de Cas f 40) _ A Vida Fit era trés principios, pelo s pags q _ Plavra Welegrifica deste volume — AVU Broah, mitros estabelecem que a porfcigio 86 pade ser adqui -auxillo di graga e que exige grandes esforcos. E itrin, catdlica adotada por todos. Os modernos, porém, nobromair & parte da vontade na agulsigio da per- ; nfo fazem mais que expor as lutas que a alma deve contra os acus defeltos e as virtudes que deve prati- 4 2 tj mis ndo se aplicem em mostrar os auxillos poderosissi- m quo sio concedidos ax nimas plonamente fiGls, @ os f 95 preciosos quo obidm. Ox autores antigos, pelo con: , salioniam prineipalments o parte da grace, 03 ¢fei aivivels que opera nas almas generogas, as luzes au © desprendimento que produz, a intimidade com inci i ‘de amor que torna possivel, com cores vivas a felicidade da vida perfelta. | € que Clemente de Alexandria, declarando ter rece- trina dos apéstoles, fala lonzamente do gnéztico, do homem siblo da elincia sobrenatural © plonamente io por Deus: faz sobressair o seu desprendimento uto, @ seu completo abandono, a paz profunda dé que Suas grandes virindes, a sun perfelta semelhanca © mistica, cuja doutrina sempre fol to apre- . pelos santos e pelos doutores, e que tanto insiatin so Perkopor!, ‘bie “cols “eebedna i Bee rettcst tastes clam meena es eT! MRT ‘rofore-e, com frequénein, & ciénoia, inexpritnivel, mas PSS EEY SAP a euueRiCUS VIER: 4 ' pee ‘gue Dens da aa\simas ‘muito ficis © a Uniae ea a i Io aunol qUC £6 estabelece entre ele ¢ essus almas, So 0, Talssaio, Hesiqulo, falar também com entuslasme tM FORT A R Por cotissko resrecndl ub Ed! hove. sk. GoW MANUEL FoR Herel catty BoP A ano, que, no entonto, sob 9 Infludnela da heresia OF 15, d-S1901, Ingiana, tonde 2 éxagerar a parte da vontade é a nuir a da graga, depois de tér afirmado a ligagao ine ia virtude, descreve um belo quadro da perfeita oracéo, em que = alma merguths na contemplagio da, Diyindade '¢ a6 tind intimamente a Deus poe uma ome%o continua, que ote fra coisa nao 6 sonde o excrvielo Wo puro amor, @ declanal que este é 0 fim a que deve tender o servo de Deus, @) 0) dom que Deus concode as almas generosas (Cont, IX ¢ 3), Bio Gregérlo, Igualiente, cxalta as vantagens da ide perfelta em que a alma comprocnde inais do quis podo expe mir, om que rocebe mais do que pode conceber, em que favorecida por uma pax profunda, livre dos desejos terres tres'e fortaleeida na/ praties, dus virtudes, i S80 Bernardo, em seu tratado ‘Da conversio”, convida 9 pecador convertide, depois de ter chorado ¢ ropatado puna faltas, a dezejar og bencticlos espirituais, o paraiso das dc-) Hels intéviores: “Patndisim veluptatis internac", Se 0 sow)! ber procuirat, eneontraré por carte ease paraiso, esse canteiro omado das mals belas flores, em que se resplram um frescon deticioso; porque, aflrma ole, nfo mente aqucle que disse: “Tollite juga meum... et invenietis requiem animahua vee) tris": Tomai o mou juge ¢ cncontrarels 0 ropouso de voRna | almas (De conversione ad cler,, cap. XT, XIU, XIV). Now Seus belos sermbes gobre o Céntloo dos C&ntoos, fala em) tormos comovedores do belfo divine; deserave muitas vers © com sutiefacas o8 énoantas que contém cass belie, m5 Isl tas que o Bsyoso divino faz & alma, a uniao, mui intima: que contral com ela, a3 gragas que Ihe concede, as virtudes com as quais a adorma, : Assim também Ricardo de Sio Vitor, que, na ldade ime dia, gozou de grande sutoridade como autor espiritunl da “Seal claustealium”, tao apreciado por Suarez, os autired dos opiisculos: “Paradisus animar, De adhaerendo Deo’) S$, Boaventura ¢ outvos, compraziam-se en Thostrar as) game es vantagens da vida interior perfetta, i Fncontramos as moeamas exortacées nos grandes misticos | fo sdcilo XIV: Ruysbrock, Tatler, Suso, Hisaés tambént gostam de comentar az palavras do Rspirito Santo: “Gus- | fate et videle quoniam suavis est Dominus’: Provai © vede| — qufio guave <0 Senhor, “Bibi adnaereve Deo bonum ests) | doce unitme 5 Dour, Tauler, principnimente, nao 0 sansa” do vopstir, nob uma forma sempre nova, esta mrande yerdadey Dat-vos a Deus ¢ Des dnt-sed todo a v65; Tenuncial a vossal vontade para fazer a sus, ¢ ele mesmo tara a vossa: aban- donai-vos a Deus em tudo, e Deus proverd a tadas a5 yoo" sas necessidades corporats, @ todos os voxsos descjor eapitle tuaia, com uma magnanimidade © uma tberalidade que to daa os criaturas juntas nio saberiam ter, © autor da “Tinitagdo” se aptaz em. tepetir que a alma, que vive da verdadeita vida interior ¢ so entrega toda & a ten | Pouls, € bom recompensada Jé neste muntlo do todos as seis “gaorlficios: “Wrequens ili visitatio eum homine interno, dul- eis wermocinntio, grata consolatic, multa pax, familiaritas atupenda nimis": Deus visita sempre o homem Interior, seus 7 bel6uuios sso ances, suas consolacdes encantadoras, sua paz ) Gimeseotavel < sua famillaridade incompreonsivel, etc, etc. livre 1, cap. 1. % 1S. Indelo escrevia, em i548, 2 S Francisco do Borgia, Toohvidiande-o a esforcaree por obter do divino Mestre seus Sidons muito santos como o dom das lagrimas... a alegria 0 repnliso eapiritual, sq consolacdes\ Intensss, ete... sem ‘€s quais os nosios pensamentos, palavras e¢ obras sfio im- perfellos, frlos e turvos"... #8. Indcio tinha certeza, quo pre dons sexlam concedidox a seus Aisciptilon, pois diz om. (sua constituicéo: “Quanta acs religlosos que receberem una | fermiagdo plens, § corto que serio ‘homens espirituais. Bles fide antinharaa ¢, sim, correrio no eaminko de Deus, Bi Bor conseruints, snutil preserever-Ines 0 quer que scla (oi matéria do oragGes, meditacdos, peniténctas; Uma dnlca |) regra thes basta: amor ¢ discricdo sob a sangao dos suparlo- ‘rer’, "3. Inacio contava, pois, conelil fustamente o padre | Glou, que seus fithos sofssem do période de formacso... de “ ‘al modo habituados A oracSo, que n&o thes fosse mais ne- GGisirin Outen direcio sentio a do Espirito Santo, controlada | pra obsdiinela’ (Sspirituatidade de 3, Inacio, TH, p. 2). 8. ©) Teresa, em todos oa seus escritos, csmerase em mostrar o Dque o autor da. “Iinitacdo” chama “os maravilhosos efeltos @o amor divin”. Falando daqueles que se dio a Deus sem Pescrya, di: “Bases #0 sous filhos predifetor a quem de- efaria vex sempre a cou Indo © dos quais ntnca se separa, “Porque esses mesmos nSo querem separarse dele. Fé-los Mar & sta mesa, dilhes os alimentos com os quals se "autre, ¢ val, por assim dizer, até a tlrar o pedaco dé propria Dirge Gara datdho! (Caminho da perfolgic, cap. XVD. 75. Soko da Cruz nic fax outra coisa em sous excrites #e- hao envinar o que 6 a vida unitiva com suas gragas pre Scns do amor infiiso, mostrando os verdadeiros melos de ingiia, de nela manterse e progredir, fazendo desse ca~ fhe, todo dc amor, elas deserledes que levam a apreclar Bfendemonte © desejar vivamente tals graces, S, Francisco de Sales compa o weu livro do Amor de “para aa ulmas agiantadas na devosto”, H um trata- 40 completa Ga vida de amor ou vida unitiya, em que o santo doutor expe quais os sentimentos, as disposleGes in- | tetiores, os étodes de oracko e também as virtudes admi- “Favela daquelés que alcancacam o perfelto amor. © Ne tabatho curto, porém substancial, em que os disci j a Puls do padre Lollemand Ihe condensaram a doutrina, tide diz respeito & perfcigao:, ve-ac-Ibe a naturesa, a excelncia, && imensas vantagens, os obstdculos que Impedem a! eu: Agulsicac, oa meios. mals segures de obt@ta; os fmutos do Espirito Sento, e as virtudes que Deus coneede As almax multe interiores, i © padre Surin, discipulo do. padre Lallemend, relembra gonstantemonts as viquezas espirituais « todos os grant beneficios que aio ovapandpio das almas perfeitas, | |) © disiago de S. Catarina de Sena, compendia des reyela- gdes feltas A santa dominicana pelo Padre lero, ¢ que ela’ fevelava durante’ ox sous Gxtases, continhn longis @ elas deacrigses do estado unilivo, doa luzes conceditas as aimag ualdas, de sums obras, de suas grandes virludes, dus admina ‘vels prerrogativas do perfelio ainor, Encontramse terabém, no complindio das revelagtes feltad a S. Madelena de Pans, ‘elas paginas sobre a disposigces das almay parfaitas.! E par que ae aplionm esses grandes mestren, @ tkntos outros cujos notes seria longo citar, em apreseniar & sous Aiscipulos a lista des favores que o Senkor concede Squeles que Ihe esto unidos por um verdadeiro amar? B= fim de jhes excltar zelo, de torni-los cornjocos @ ondyglead nad Jutns nocorsirias para adquirir a perfelgio. Quando om he breus chogaram a pequena distincin da terra premeti orlenou 9 Senhor que tossem enviados doze exploradored to pal 2 ser connuistado, Evidentemente, queria que & erigdo que flzessem ao voltar dessa terra magnifica, onde gorlem 0 Jeite © 6 mel, excitaure o ardor dos Israclilas o Thos abrasuise 0 Anim. H’ a mesma razio que lovava grandes shiestred @ ttacar tio belos aspectos da vidi perfelta, S. Teresa o declara francamente: “Com que fim pengals, mk nhas fifhas, quc cu vos tenha mostrado o terme, © feito conhecst, & vecompenaa antes do combate, dizendo-vos: quad & vantage, para o uli dq beber nneen, fonto eslenle 6 de ‘desalterarse cm suas dguas vivasT E's fim de que nao de, ganimeis com o= trabalhos 6 contradigdes qué se eneconitrant — 2) Na revista “Les dtudes”, de 5 de Malo de 1913, 0 padre de Grundmalson, $. J, fac uma Justa obserracto que contit= fna 9. que digemog gui: “Todos ov meetres da vida tual exaltaram os primelsas etupas da vida misticn ae lo éxtase) © dinigitam per csse caminko todos os seus disch Pules: Sobre case ponto nenhuma diferenca de. escola, Bu conseino divergento, Os defensores mals convictos da, imeditneio propriamonte dita, ov mals decldidos intelectanis, Un 5. Tomis de Aquino, um 3. Infcla, nfio ponéam de modo Giverso do una 8 Wranciseo de Assis on do aster da “ime taggo", & : , caminhs, © que caninhels com comagem, om coder a0 “pentiigo; pois poderia aeontecer qué, ao chegardes a fonte e faltando apenas o Ultimo esforgo de beber Agus, abando- € perdésstis tao grande beneficio, por de- aes dé atingtlo, © vos julgerdes incapazen de conse Jo (Comino da petteledo, eap, MIX, sub fine). Como o Holar alhures esaa grande sania, a necesidade dessos ) setitaulos <6 timpdo, porque a rentincia total 6 muito dura & ‘nola pobre natureza ¢ 56 0 pensamento dos bens que pro- “slifamos pode confortar-nos a alma: “Parsee bem rigoroso "/algsy que no nos deverios conceder nenhuma satisfagio no Houee Gave seis, mas 4 porque néo se fala nis docuras ¢ nas PGoliGian quo xcompanham oxsa renGinein, bem como em todas “5 vantagens que nos traces cosmo testa vida (Tid, cap VSID, | 05 autores modernos quase nunca desorevem as preciosis- (glmos fruios do amor perfelto: dio, 6 certo, excelentes con- “aslhas, maa nao oferecem As abmas ossae eaperangas to xe Beer nies, ike fac seldeW a seus, colton! pe! exptendores WG terra ‘prometida, nao thes mortram as bolns paisngens, |B. glima meno, os rutos dolictosos, raga oa regres aa ©) Wa purestiva c de ilumimativa, ensinsm a prorredir neasss TGuas vise, maz nao falam, on muito potico, da via’ unitiva, Gallo ther din 2 conhecer as encantos, niio incutem um ar- Wésrite desejo de nossuftn. ard empreger uma comparactio 215, Jodo de Criz (Subide, TI, 19, cles ensinom a auble a be Se eet ceaiea noel grec antsiod| ancora fate | de falar dos favores concedidos pelo rei Agueles que sao ad- “mitidos & sua intimidade, ou do que terfio de fazer, uma. vez “Sntroduzides no aposento do bem-amado Soberano. "Néo fa- Tieton de tudo isso, diem ctos, com recoto de ilusdea; apli- Usyos somente a subir a escada", Assim se dirigem mesmo Egucles que transpyseram os depraus dessa excada @ j4 se fcham junto do Rei © § De onde vem tio notével diferenga? Parece-nos cvidente | lle, 30 a malor parte dos autores modernos nao deseroveu GoM A tesa ntenghc dos grandes meatres 6 estado unitivo, @ que o niio comprecndoram da mesma maneira, Diszemon Salltites (Vida da tniio a Deus, as edicao), aue no séctlo ORV, te6logos de talento, apés o célchre Melquior Cama, ti- wveram prevengSes lamentAvels contra a espiritualidade em geral, ¢, em particular, contra 2 mictica, que combateram ‘com mm zclo mats ardente que prudente. Induzidos em crro [Belo temor cxecsalve do ituminismo © da quictiemo, tanga~ a @ muspeita xobte og enginamentos doa melhores auto- Pos espiritus © dizoram secola, noia data dessn época uma. como @ slteragio da doutrina tradicional. Easé movimento — Beentuouse ainda no fim do século XVII © durante todo © aSculo XVIIE Desde enti multes autores néo tivoram “a verdadeira nagéo da vis uniliva; nga viram, sobretido, a” papel importante ¢ decisivo quo Tenresentam nesta caminho og dons do Espirito Santo. Os antigos explicavam 03 promtes: sos das almas plenamente fiéls pelas grages misticas, 6 en tendiam por af grugas de luz ¢ de amor, gtagns do Inzes de vidas aos dona de inteligéncia, de cléncia, de sabedoria, que” eselarecem a alma e Ihe aperfelgoam @ 16, gragas de) amar infuso, amor frrefletido, parém intenso © puro quo fortifica a alma flel e a mantém estreitamente unida & Deus. Os) modernos, no contrdrio, preocupados em diminuir o entuslast to oxcessive de slgun« polos favores misticos, aplicamse em Ihes depreciar = importanela, Foram levados por aj a thes dar uma nogiio muito diferente: apresentaram-na como Brae, gas “gratis daiae”. Ora, as gracas “gratis datae", tel para o bem do préximo, néo tém lgacdo alguma com a perteicdg daquele que as ‘reccbe; podem ser eatimilos, mas, nines), melos; 98, portanto, puramente acessérias, © meamo, € Dre ciso dizé-lo, gupérfluas. Polos nossos esforgos, péla nosia fidelidade, ojudados pola gti¢a, podemon atingir ox mek mos cimos de santidade a que sao Ievadas as almas mie: tieas pela acho de Deus’, Eitas palaveas, que copinmos de um tedlogo contompo | rineo, resumem bem o ensinamento ordinério da mator pat te dos autores modernos, Por consoguinte, acrescentam €les, a alma pode clevar-se a uma grande perfeigdo, tanto pelo auxilio de uma simples meditacio, quanto pelas orag6es mals clevadas em que se cxercem as gracas misticns, ¥ssos autores foram levados a ensinar por ai que ha duas Wiss unitivas multo distintas, uma, que chamam do éxtraol- @indria, © & qual nfo quorem que aspiremos, 6 aqucla ém que a alma 6 favorecida por gracas misticas; a outra, a via unitiva ordindris, a Gnien desejével, é aquela que a alma atinge por suas préprias forgas, com o auxilio das gragas comuns, gragas que levam A pratica das virtudes cristis or” dindrlas e que s40 dadas a todos, aos principlantes 6 ads porfoites, aos feacos @ wos gencrosca. Deixando @ qué chie mam a via exiraordingria aos culdados dos autores que es crevem tratados especiais sobre os favores excepelonals, como visoos, revelagoes, ete., cles nfo querem falar senfio da via unitiva ordindria tanto nas exortaches, como nog livros de eapiritualidade. Descrevem-na como sendo aquela om que a alma submoteu plenamonta sua yoniade & de Deus, o que Marie Amédée de Jésus (T. I, cap. X, p. 104). ie 10 Maen 7.5 “& muito exato, © timitam-se = essa declatacio, nao achando Umals pada a aérescentar eo quo ja disserain quando tratn- “fim da via iluminativa, pois, na sua: oplniie, a via unitiva hao difere da iiuminativa sendo por uma onergia malor « | ma niuior firmesa ma prittica dad virtudes. “ssa mudance, no ensino da espiritualldade, nos parcos Jamentavel © julgamos muito oportuna a volla & antiga dou- tring, Nao iw pode fazer colsa methor que sogulr on grandoa Tmostres. Quanto mals\ for dado a= alma: compreender sa ‘pelezas ¢ as vantagens da perfelcio, tanto mals a desejarso, | fants mais osforcos generofon farao, @ tanto mals numezoss4 efad as que a stingivds. © fim do presente trabalho é t2- ger aspirar & vida unitlva. ©’ fazer compreender que as al- “mas unidas sio muita agradavels a Deus. E’ mostrar aque ele a3 trai como privilegiadas, ¢ Whes di gracas particulares Que conduzem iis virtudes perfeitas. 1’ fazcr ver o quanta Glas S40 poderosias para o bem, E’ ensinar o que & mecessi- ‘Ho fazer para chegar ao estado de unio. Tal & 0 nosso plano, Parece chegada. a hora em que, ségunde of desisnion la Providénoia, 0 reno do Coracao de Jesus deve cstabele- Verse no mundo, Ao Inspirar ao santo Pontifice Plo X scus | Hemoriveis decrotox sobre a comunhiio trequente, Jer Tnostrou que queris dar-se com profusdo « seus tilhos, Dai : Tesuliam grandes fvutos ¢ devemos esperar outros, male: ‘ea ainda. Mas para que Cristo dilate stu reino, 6 preciso, [antes de tedo, que o niimero \de seus verdadeiros amigos, Tasquetes de qom fon seus principals clementos de graga, B mnis pedercies auxiliares, se multipliquem na Igreja. Bib tare aictes, sno, 08 Intels Yoltardo & verdadelna £8 mul- {os pecadores se convorterio, of cristios em grande niimera je apliearao @ picdade, as almas do purgatério fieardo ali- Viadas, grande seré a alegria no céu, ¢ Deus réceberd de Keuis flihos uma imensn gidris. PREFACIO DA I EDICAO FRANCESA © movimento do retorno a espiritualidade tradicional em todos os pafses, vai crescendo, suseits, ainda certas Y contradicies. Julgamoz por isso Util colocar aqui algumay Tobisrvacdes “$i publicndas (Ami du Clergé, 8 mars, 1923), Glie sexundo excelentes juizes ao aptas a elucidar as ques IP tas doba idas Sé existe na Igreja, perpetuando-se através dos sécules, “Mia Unidade maravilncsa gue manifesta o dedo de Deus, Thi, entretanto, no decorrer dos tempos, vaviagses importan- tes = observar © gue € preciso levar om conta, a fim da ovitar qualquer erro, Embora sgmitindg aa memmna vordndon fundamentais, as rerages que so sticcdem nao veer sem~ Dre com A Menma clearer certas verdedes que m Igréja nko fmp8s rigorosamente a seus fidis, seja porque em certas épocas essat verdades afio menos estudadas, seja porque tle cam meio yeladas por preconceltos generalizados ou dou- tvinas inexates, geralmente aceliaa, As doutrinas filosétlcas dos grandes tedloges, tho necemidrias m quem desela wm ¢o- nhscimento exnto dos mosson dogmas, nfo foram também ignoradas ou desconhecidas durante séculos @ até substitul- das pelo cartesianismo @ 0, ontélogisma? Ngo, fol! a) infos Iibilidade pontitiele, que nfo tina aldo contestada na Idade média, combatidn pelos doutores galicanos? Nao vemom, Tas mesmas épocas, a moral rigorista substituir a moral mais | justa doa autores da idade médle, eos eros do liberallsmo, nfo admitides qutrora, industry em crre wm ntimere eons! aeravel de catéitcos t Desde entio cases ortos se dissiparam, a vidade adqui. rit nove brilho, © a Igreja Ierou consideravelnents com a volta as doutrinas tradlelonals. A proclamagae do dogma. da infalibilidade, tido por to portuno por oertos cristios mhuite timidos, velo entreitar a3) Tagos que uniim os fitis ao seu Pai comum, tornando-a fais Unidos ¢ mais fortes contra, seus infinigos, sobratudo em certas circunstancias, como por exemplo na Franga, por ocasiao da Lei de Separagao, Jamais, talver, em circunstan: Glas semelbantes, houvera uma unanimidade to grande, que furpreendes © dosconsertou os proprion porseruidovess | A ‘volta, & filosofia cristi xeanimou muitos espiritos vacilan- tes; facititou o satudo dos grandes teélozc: © 0 ‘Tenascityen- to to Driihante dan olfnoias sagradas, A exczese, de navo 6h ovldénoia, permite-nos conhecor melhor aue munch @ ‘verdadeiro sentido. literal dos nozsos livros santos, A historia; | esiudada em sua origem, nos mostre, com uma certeza ou: to malor, de um Indo, a mo de Deus nos acontectmentos ” © do outro, a parte tte grande deixada i miséria humana, Q cade das leis sojais, dirigido polos ensinamentos Tu minoses de Leto X01, tornon muito mais claras sa relacges aus devem existir ontte o Batado o os siditos, ontrs oa pa fGen 6 of operation, A liturgin tambéhi, astiudada com amor, Ajuda os padres 6 a3 figia a desempenhar-se ‘melhor do im portante dever da arscao, As obras do Santo Papa Pio X, proparindo uma legisiaeio {toda renovada, levando todos od fide, mono as criancinhas, n 30 unirom mais froquante- mente a5 Autor de todas as eraqas, anuncia para a Tereja dias mals belos, ; Proaontemente, 6 0 estado, di mistica que paroce estar om vigor. Se, porim, eo numerosos aqueles que so intoroasam) 12 “ aéllcor ou inquiotyo eve wnasclinento misties, “De quo vaio ‘Aliscutir tanto sobre 4 que 6 t&o misterinso, tio impossivel Me se conliecer? ou sobre aguilo que esta recervado a um Vtiimero Imitads dé Almas privilegiadis © que nada oferece 7) 88 priitico ao comum dos mortsis, J@ quo factmonte « alma Pode elevat-se & pérfeigao sem ease género de pracas?” ais objeuoes nao tem fundamento © & preciso darthes dal feponia: "Nio, nko ¢ difiel! adguirle uma juste nopie Ho cstado mistieo, das gags misticas, que sic o meio or @indiio de que Deus se serve para levar as almas & perfeicko. "Emilio importante, pelo contririo, saber como esss3 almas, jo nituero ¢ muito maior do que 26 pensa, se devem dis Bara rooebélas, ¢ como dovem comportarse quando "8H recobem. 8 doutrina mistica fol exposta por santos Doutores, eujos tos, muito recomendados pela. Santa tgrojs, fizeram ¢ Poder sempre fazer um bem imenso, Tnis sAo os Doutores | Ev#s08 ¢ latinos, Clemente de Alexandria, Dionisio o Mistico, “Cassiano, Gregirio o Grands, $ Bernardo, Ricardo de Sko Titer, Aborto o Grondo, 8, Tomis, §. Boaventura, Tauler, o ae Suso, 0 bom-aventurado Fiuysbrock, S. Te- §, Joo da Cruz, S. Francisco de Sales, 8, Joana de 8 Beef ei cave balldeian [a vanscars! etpommaan veriaae eutros, Nao seria uma injuatiga para com sor santos jones pretender que as dogcricdes que nos fazem do c3- amisties nos so pouco claras? © que seriam necessa- io# anos, EeNKO Aéculos, para chegarmos a caber o que sio gracias mistions © que relagio tém com a perfelgho? Eases grandes mestres nao sio autores confusos ¢ inin- Te que 22 graces misticas aio essas graens ominonter quo mramam diretamente na alma, som atxilio de raciocinio, ‘izes da 16, a0 mesmo tempo que um amor prético, ex- Gemamente procioso. E’ de uma ves luz ¢ amor obtidos, nlio par. mas de um modo supra-himano’, 1) Quem os nfo. compreender, que vo dirila aos contem- ‘E’ facil, pois os mostres fazem vor, ¢ S, Torcsa repetidas veges, qua sio numerosos. Bla doclara Becca cose deacricden so. obscurns para’ oa Para oles sio muito claras (Vide, X, XIE; IV Dem: D. c ‘As palayras “supra humanum modum” efio de § To se enconiram em muitos de seus trabalbos; mas a HP aide tedoe ov grandas mistions, principaimente de (Carta ao P, Rod. Alvarez, Vide, 10, 12, 14; Cami- | as) 13 A existdncia dessas graces @ oimitida presontemente por todos, ¢ isso 6 uma grande alegria pare. os autores que tanto, trebalharam. para prestigiar & doutring dos grandes fmestres, Mesmo aqueleé que ae recusam a reconhecor nelad ghagas mistices, bem como squeles que hesitam ainda, pro: clamam franeamente que ndmitem oad gragas ominentes, devidas & agao dos dons do Espirito Santo. Reconhecem que eases giagns produzem “uma contemplacdo em que a alma ge mantém mais passiva que atlya’, Bles nllo contestam = ¢ como o contestariam? — que essas grugas sig concedidas ae almas verdadeframente generoaas, © que sao elas que nos tornam) capazes de pratlear perfeltamente as virtudes. Mas 0 falam dossas gragas quando sao tevados a Ihes 1 conhéccr @ exiaténcin; goralmente, ax delxam pasar em al- Jénclo, Ora, 6 de grande importancia assinalar is almns ossas gracad| tao precioxas, para aumontarthes a cotagem ¢ 1hos ensinar como deyem proceder quando essas comicgata a Ines | aor concedidas, Sejacnos permitida agul uma slegoria, Dois bareos mavegam sobre o acesno com 0s seus Te madorog, Embora, cada embarcagio tenha um mostra, as velas nfo astiio desfraidadas, mas, sim, escondidas no tundo do pordo. O) patrao de uma das bareas, parecondo Igmorar, com os marighelros, a presenca das velas, pede @ cates que remem eorajosamente, pois o lugar cm que #6 encontram atualmente nunca 6 ‘visitado pelos ventos, © todos julgam fue 6) oceano gerd assim por toda parte aonde forem., Ox marujos remam’ por dever, mas sem) entusiasmo a, logo que sentem um pouco de cansago, diminuem © eaférgo @ a bar a pouco progride. © patrdo da outra barca, ao contranio, faz saber aos gous homens que possui um volamo excelén- te, 6 qué, Se tiverem bastante cnergia e eonstdnela pare atingin ax paragens maia distantes, 1 encontraréo ventos mals regulates. Ensina-thea também como devem eatendér as yelas © dirigir 9 herca, acrescentando que, ento, o traba- Tho #@ tornaré monon penaso @ a vingem mais agradivel © mais) tpida. Ansiosos por! gozar dessas vantagens, 08 mar ninkeitos remam com mais vigor € maior perseveranga, ¢ nho, 31, 32; IV Dem, U0); de S. Jodo da Cruz, “passim; de 8. Francisco do Sales (Amor de Deus, V, 2). Eles mostram Precisamenie essa diferenca: £6 b amor ohtidos por xaciocinio, €@ 16 ¢ amor produzidos diretamente por Deus, sein radloeh nio, frisando a distingda entre osses dole estados, So) 5. Toms nao repetiu as mesmas palavras na “Summa’, expoe no entante, om outros termos, a mésma doutrina, que 6 a doutrina tradicional, confirmada pela experitnela de todos 98 dias, 14 " nilo tardam om atingir easa regio em qua sopram ventas | favordvels; desdobram entio as velas e apertam num pais | Afortinado, que nao. seraé dado ver aos matinheiros da. ot fra embarcagio. Os amigos da mistica procedem como 0 patrio da s0- Bunda havea; a doutrina que enainam, '@ aque hauriram dos @randes doutores hd pouco citados, é muito mais animadora Ue aguela que prevaleceu do siculo XVIT até ao século KX. re Vejamos, por exemplo, S. Teresa, Bla mostra em todos (G8 seus irabalhos que 6 necessdrio aplicar-se enérgicamente Al ctuco 2, sobretida, & ofagid montal ¢ ao recolhimonto | Gus a prolongs, & mortificacdo, a humilhagao; e cla. sempre Promete aqueles que fizeram esforcos perseverantes ag. gra Gas misticns, que Ihex proporclonario entiio ossas mesma vir Uidek, porém dadas diretamente pelo Senhor ¢ muito mais | Perfiitas, © promete essas gracas misticas, nio sdmente or experiencia propria, mas porque o conhecimento que finka das almas Ihe mostrava que, de fato, easas gragas nilo Silo recusmdas aos coragGes gencronos, « também porque, Thilitas yezss, nosso Senhor as prometeu ele mesmo, convie Bahac-nos a procurar junto dole emias gracas proclosas (Jo 77/87, 38). Desejaria, declara ele, relembrar continuamente Suas filhas esse convite e esa promeasa do Salvador’. Sem cusn gio! directa de Deus, derramando els mesmo a alma a fé csclatecida ¢ 0 amor puro, que impele para, 7 BS obras santas, sem essa oragio, que ¢ também a que cm |) tabelece a alma na oragio contomplativa, a santa nfo acha Wpocsivel a prética perfelta das grandes virtudes, Mactteme-Ia: We neeesadirio, dizem certes livros, ser indifcrente 40 mal Date dizem de nds, ¢ mesmo alegrarse mais que se disses Demo bem, fazer pouco caso das honms, ser dosprendido | dos parentes... ¢ tantas outras coisas do mesmo género (Vida, 32Cx; Obras, t. 1D. “Sobrenataral” én palavra que einproga para designar a ornedo contemplative. 8, ‘Tomas teria dito: “supra humanum modum.” Em segulda declara quo, quando a alina. ost. longo de ter essas disposicdes, em Yer de desanimar, 4 nocessdrio confiarse a Deus ¢ aplicar- 8) Gaminho da perfelgio, XIX, XX, XXI, XXL Hssas bélas pslavras de Jesus prometem, por certo, as almas de- wojouas dos bens celestes — “Si duis pitit” — gracas emi Tentes & muito superiores As gragas comuns, mas gracas con Sedidas regularmente & fldelidade © A generosidade. Aqucles que jilgam que 8, Teresa, a exempla de tantos autores mo- Mornay, entendia por vssas gragas contemplativas os favores Aoeasdrios, extracrdindrios, ¢, portanto, dostinados sémonte ® alguns privilegiados, atribuem-lhe uma contradi pois, como afirma todas as veres que tral da se a oracii Orage, quem we aplicn & oragio © ne esforca. por viver! sans | je) aleanga ag orngéee contempiativas que poem todas famiente) fea ha alma’, “Quando Deus vos tizer, bebe? det Sa dgua — Isto 6, quando ele vor der as gragas contompla: tivas — havels de compreonder que o vordadeiro amor ie Deus... @ senhor de todos of elementos e do proprio min> do" A meditacdo, declara aqui a santa, ajuda-not um pou: ‘to; porém imperfeitamente © memo se, pelo nosso racioele ni, chegarmés @ gezar das|doguras espiritunia, ¢oino, Keo {eee, por exomplo, na oragio atotlva, nao 6 esa o. Giun vive’ da fonte celeste; 6 uma agua misturade. com’ lodor iia o7aeo sobrenatural, ao contraria, o Senhor aproxitnd dé si a alma, #, num momento, the ensina male vordades, @ the da mais luzes sobre o nada das coisas, do que poder\a cbter em Jongos anos’ pela via ordinatia" (Caminho, XE; Obras, & TIE), Bln ja havin dito: “Quem tiver mpego is Honras e acs bens temporais, em yo praticara durante anos E oraedo, ou melhor, a meditacho, pols nunca progredirG qnulto. A. perfeita oragio, ao contrario, desombaraga des#es Gefoitos” (Caminho, X41; Obras, t. TED). E, repetidas’ vezes, ela indica a pratica das virludew como send @ melhor pro. ya de quo a alma ota na via contemplative e misticn, Soisn cersissima, diz cla ainda, que quando a nosst alma 30 Savasia de tudo por amor a Deus, o Senhor a encherfi Tor: Gosaménte dole mesmo”, Ei entao, sempre segundo S Teresn Gpera-se a unido mistics, © uniao a0 Hepirito ineriado, que produz na alma efeitos preclotos, virtudes porteltas, ‘Tal 6 e bolissima doutrina de §, Teresa, Apelamod Dare ela, porque os que se querem manter fidis 2s teorlas mo; Gernas, segundo as quals as gracan misticas #40 thyores poosdrios, fora da via normal, que Deus nao promoter a Peston alguma 6 AS qhals néo devemos aspirar, serven-se Eo nome dessa grande santa @ dizom representa’ a o#colt feresiana, Nao. A sua doutrina nfo. é certamente/s de 8 Teresa. Nem tde pouco a de S. JoKo da Gruz, E nisto os moder- nos estiio do acordo © roconhecem que "gravitamos em tor no de S. Tomas e de 8. Joao da Cruz”, Fazemos mais do qué gravitar em torno delts: repredusimos os seus ensina- Mentos, ropetizes 9 que diskeram,, No primeico livro: da, Bul. pida do Carmelo, 8. Jofio da. Cruz exorta forterente a alma: que almeja a perfelcao a praticar a mortificag&o de todas as fnelinagdes naturaia, Depots, com 5. Teresa, afirma que a alma, pelos cus proprios esfotcos, mesmo com o auxilio da grace comum, pelas euas reflexes, mesmo apoladas na £6, iio atinge a perfeigio. Mas duande, por uma rontineia ge- 16 navosa, s¢ despe do natural, entio. Deus a enche de sobrena- tural, isto 6, do supro-humano, das gragas misticas', Hats sobrenetural, a santo nfo se cansa de repetir, 6 um novo conhecimento de Deus, um conheelmento afotive “polo qual Dena se une & alma num grau clovado™ (Subida, 4, 22), “Deus jamais comunica a sabedorla sem Ihe acrescon- tar’o mmor” (Noite, If, ct passim). “A alma sente-se pone- frada scm raciocinar, sem produzir atos” (Viva flama, str. 8 y. 8, § + et passim). “Se nfo receber, no Mspirito Santo, eae novo renascimento, nfo poderf possulr esse reino de Des, que 6 0 estado da perfeigho” (Subida, 1, 4), De fate, com 9 trabalho do raciocinio e da imaginac&o, ndo se pode Odter seni um pequeno resultado (Viva fiama, str. 3, ¥. 3, $4). Também, antes de reecher esse novo conhecimento 6 e586 amor infuso. a alma se mantém multe fraca; as virtu. ea que pratica, misturamae ainda numerosas imporfelgéos (Noite, T, T, passim). Mas quando Deus derramou na alma um novo conheclmento tirado de sl mesmo © um novo amor, polo qual mari a Deus em Deus, a sima 6 revestida de uma forca nova, sobrenatural, em todas aa suas faculdades, tanto ue, em_vez de agir humanamente, agiré divinamente (Su- bida, 1, 5). Wis por quo S. Joao da Cruz diz que, polo efeito deasas gracas, 2 alma ‘se transforma no estado de perfel- gio (Subida, 1, 15), ¢ @ mostra tornando-se cada yez mais Passiva sob a agdo do Dous que a faz praticar perfeltamente 8 6, a esperanca, 0 amor e todas as virtudes. Hite mesma doutrina quadra perfeltamente com o que ensina S. Francisco de Sales, Esse santo Doutor mostra bem na ‘Vida Devota" como se praticam as virtudes antes que fenham sido dadax az gragas mistioas, No Tratade de amor de Deus, ole deolara primeiro que “o leite, que 6 um alimento Cordial toda de amor, representa a clénela @ a teologia. mis- fica, into 6, % doco suavidade provoniente do prazer afotivo, {il @ capitito recebe, © que ‘vale muito mais do que o vi- fho que encontramos nas reflexées humanns” (Livro V, eap, 1). No VI livro, ote mostra o quo esse amor mistico, 4) Bess luz, que d& uma {déia muito elevada, porém goral, das perfeicsos do Deus, nunca falta A alma. Cate é evidente, pois a alma em estado de graca possui os dons do Mapirito Santo, dos quals procede essa luz). Mas as imagens © A® nuvens, que envolvom © embaragam a alma, opdemse & sua divina efasio, Se a alma tizer desaparecer os obsté- eulo#... cla so transformaré ne simples @ pura saBedoria Mo Deus... Com efeito, quando a almn apaixonada pelo amor @ivino 3¢ desprende do natural, logo o elemento divino so Gorramaé sobre ela naturalmente, (normalménte) © sobrena- turalmente” (Subida, 11, et passim). © Meal —~ 2 rr stan = contemplat”: pertel y ‘Gaul tondom todos os exercicloa” (cap. Vi). Dopois 9 santo “Doutor explica admfravcimente o que & essa contemplagio: desereve o recolhimento imiuso, a qulctude, doliciosa ou seca, — Produsindo a soneagho da presonca de Deus, ou “nfo dan: So sinal algum de sua presenca’ Descreve, cm seguida, a5 virtudes perfeltas que o janto que aqueles que: “fulados pelo Espirito ee ‘© caminho do simploe, i onto, pratieam o bem com uma alegria © um fervor © dignos do Espirito Santo e, com combater, aleangarie glorie- vitérias, ou, se for necossiria combater, fd-lo-fe com * (ibid. cap. V, art, 1). "Sem a contemplacdo, fa- “nos adlantaremon striamonte na. virtude, © jamais nos diving fax pratlear, pola “elo vivities todas as virtudes, tor Beets tine cs ocsad theciciae’ c ievcrachn eae nando-ns staves, amaveis, e sobremanciramente améyeir Meee G spepadas a tactd; er iacokik cow pleveconioa uate (XH, 18), Pelo amor se exercem os dons do Hspfrito Santo. acima dos sentimentos de natureza, Jamals poderemoa “avelm a cazidade nos serd qual outra excada de Jacob, Miia needs one eee fey Sona Contemplgte composta dos sete dong, como de outros tanto degraua, pe- Jos quaia os homens angélicos subirao da terra ao eéu para unirse ao Coragéo de Deus todo-poderoso... No alto dessa ¥ escada, Deus, inelinando-se, dar-nos<& © beijo do amor 6 nos comunieara o foge abrasador de sua propria caridade “fFendo gozado plenamente as delicias dessas gragas”, excree- Teries junto ao préximo oi exerciclon do zeta e do amor fra terno (XI, 15). Enfim, o santo Doutor nos mostra que @ ca- vidade é alegre, tranquila, paciente, benigna, bondoge, tole- rante, suave, fiel, modesta, pura, inocente, isto 6 que 0 amor diving 44 uma alogria 6 um consolo interior a per de uma grande psz do coragéo” o desse modo torna facil a pritles, de todas as virtudes (Xt, 19). Esta 6 ainda a doutrina casinada pela admirével a 2). Resumimos a sua doutrina, que 6 também a de Teresa, de S. Jofio da Cruz, de 'S. Francisco de Sales, ido que a5 podemos obter a perfeigio pelo oxercicio dos do Espirito Santo. Poderfamos mostrar também que os outros mestres j@_ / OW ehainam explicitaments 4 mesma coisa, ou apre- uma doutrina perfeitamente de acordo com etta. is tarde admente aparece uma nova escola, que susten- toorias opostas, Foi em seguida & rengio anthmfstion e comecou na Espanha, no fim do séoulo XVI, © que aca- jor doininar nos séeulos sogvintes, Um dea principios fun- mnisilen que durante o serio XVII {01 a gléria da Companhia Ho convém prometer as gracas nilsticas is almas feist de Jesus. “O caminho mais curto e mals seguro para alean- we a maior parte nem scquer permite o desejo: des arc meet ae ny padre, Salsas Eo ee a “griicas, Evidentemente, sc eles contradizem tio manifes is que so ex , BO mestres, ni - BS Wifi cba et ae a Ste a on Sie a ek Be de que a isso nii@ penkamey obstieulos’’ (Dout, es & mesma nocdo das oragdes contemplativas. Princ, art. 2, § 2). “De duas pessoas qué Re consagram janta ‘Teroen, para apices on ate modos de ora- esmo tempo ao servigo de Deus, uma dedieando jescrevin as varias maneltas de se regar uma planta. Vobras, ¢ a outra aplicandose tntelrainente om purifloar MoM EV Nis ats de Penicicoaca tecattaae cae “soragio ¢ suprimir tudo quanto nole se porsa opor uldade de um pogo, veprescnta a oragho meditaliva © da graga, osta ilima chegard duns vezes mals depressa a stica, A nora, quo di uma abundancia de égua mul- | perfelgo’ do que @ primeira’ (VI Prine, c II, art, 1, $0). — rior 20s «forces emplegadas, representa a. oracio “Aguelea quo tondom & poxfeicdo por melo daa praticas © dos wetude ou oracho mistiea; como também a rego que exerciclos met6dioos sem se abandonar intelramente & | tem levando por canais a agua de um _regato. Enfim, | g80 do Espirito Santo, nunca obterio essa suavidade € Pai GUE. vai lo cau, roprégenta a oragio extSllea, em que essa perfelgiio da virtude; sentirlio sempre difleul i alma recebo sem nada ter que fazer. Rodriguez (Da © repugmineias; taro sempre que combater; serio muit ‘cTV) emprega o mosma comparacio, mas ele a6 — i 4 os doix mites extremos: A rega pelo trabalho do 5) Silo Franct de Sales, como alifa as outros brag FE Sa ee cae ee, que tire a dgua do pogo e que chama, também de me- |“ prasenga de Deus ¢ fax comproender claramente que hi 6: tados mistlees em que esa sensache no existe, “18 % Se modo transporiado ¢ absortido om que nio di mals acordo de of mesmo, nfo sabe pare 19 onde val, nem de onde vem" Suprime, portant, 63 melos intermedidcios, ou seja a oragdo mistica ordindéria, a mais eomum. da todas, No aéeulo XVII, Searamelll, quo 6, como Rodtiguor, um doa representantes mais autorizados da. esco- Ja mederna, fala longamente, no Diretéria Ascético, da meditagiio, para 2 qual da. diversos métodos. Tratando da. eontemplagio no seu Diretério Mistico, apresenta-a como uum estada inteiramonte extraordindrio, afirmando ser teme- rério © muito contrdrla & humildade desejéto. E tal ¢ a Soutrina que nos foi ineulcada a todoa nés que reccbemos a nossa formagio sacerdotal no século passado, pols este era entio, por toda a parte, claramente anti-miatica. Quan do esscs mesmog autores, desfavordveis & mistica, falam das virtudes, moatram og esforgos a ompregar para obtO-las, mas munca falam dos grandes efeitos das gracas mistleas e do” amor infuso, E! pela repetigao dos atox que a alma deve, segundo eles, olovar-se A préitica perfeita das virtues. “Aque- Je que adguiriu uma arte qualquer, diz Rodriguez, sabe pela em préticn com presteza @ facilidade admirdvels” © ‘cita o exemplo dum excelente tocador de slatde. Di-se 0 mos- mo, acrescenta ele, com aqueles que adquitiram a préticn das virtudoa; sabem pratied-lar sem diffeuldade” (Da humil @ade, cap. XVI). Lelamos todo esse tratado sobre a humil- dade, @ veromos como Rodriguez 44, alls com muita raziio, oa motives que temos para nos julgarmos ¢ nos mantermos humildes: scm todavia acrescentar como Santa Teresa! ‘'Co- ragem, Dous saberfi recompensar os vossos esforgos, dan da-vos cle mesmo m humildade ¢ isto de um modo que as vossas pobres reflexées nunca poderiam conseguir” (Vida, — cep. XV). as Dii-se o mesmo com Scaramelli, Falando sobre o terceiro — grau da paciéneia (cap. VI) que consiste em suportar a tri- bulugio eom alegin, oste autor diz: “So nos: exercitarmos cavajosamente nos doia primelvos graus, se considerarmos miuitas vezes as razdes que ji examinamos aeima e que nos mosiram a adversidade como descjdvel, conseguiremos tam- bém a graga de Deus para atingir o tercelro grau’. 8. Toresa, vomo vimos, ensina que as virtudes assim praticadas sao um dom de Deus, dom todo sobrenatural, isto 6, acima dos melos humanes; enquanto Searamelll quer que sejam fruto dos nossos esforcos. Ele quer que alcancemos ease ponto, a santa, so contrdrio, pensa que mada conseguiremos cn- quanto o #opro divine nilo impollr a nossa barca. On diretoros de experiéncia si da opinido de §. Teresa: ¢ notam que 86 nquoles que reeeberam as gracns tio precioas da £6 © do amor misti¢o, do recolhimento infuso, da constante uniao com Deus, obtém essag virtudes perfeltas. Nilo queromos, 6 certo, desconhecor os grandes servigos prestados as almas 20 " plodosas por eases autores célebres ¢ por tantos outros dos —Gitimos séeulos que pensam da mesma maneira', mas quem jodoré contestar que a doutrina dos santos Doutores misticos ja mais exata, mais complota, mais consoladera, minis ant- jora, mais fcunda? A utilldade dos eatudos misticos esti em tornarem mals 5 © mais yivamente desejado o ideal que deve atingir {tod hima piedosa, Esté om fazorem eonter com evans gra "a5 poderosas, em ensinarthes se prepararem para rece- Wiles, ¢ em saber discerni-ins qunndo so concsbidar, © cm poder aprovelté-tas bem. Ao contréric, a doutrina de tantos Autores miodernos, que apresentam essas grages como gragas “de Juxo, fora do eaminko normal, faz desaparecer todas es “#8 wantagens, Assim todos subem que durante muito tem- “Ro ¢ até ao fim do séeulo XIX, os grandes mestres da mis- lon, por exemple, 8, Teresa © sobretide S. JoRo da Crux, forem® polico estudados; era desaconselhada essa lcitura Bs . crsclhes dito que op llvros dosses santos autores no convinham genio &s alms favoreoidas por ex- _ fases ou revelagées, e que as outrns encontrariam all grande “perigo do ilusio', | Basa desconfianca em relagéo aoa autores misticos cau- ‘sow grandes prejiizos, pois muita almas que teriam, gracns A Jeltura desses livros preciosos, levantando 0 yoo para a “vida perfoita, pormanecetmm as csferas inferiores, Quem “milo guizer reeonhecer que os estados contemplativos descri- “tos por esse1 grandes santos — exeluidos os éxtases © arre- ‘Datamentos — sio relalivamente frequentes, maz ensinar que io ektados extraordinivlos, préprios a elevar a alma ao ‘nivel dos anjos, impedirdé de novo que esses livros scjam lidos © cstudades como dovem ser, 6 que muitos conselhos ee Ue Galan cnessaladet poh idl & aun, cone iviam perfeltamento, prejudicando assim a muita alma fer- yoross, Nao nos devemos esquecer das queixas amargas da §. Torvsn, de 8. Joo dn Cruz, do S$, Joana do Chantal con- tra os diretores que, ignorande as regras da vida mistica, 6) Entretanio mesmo nesses filtimos séculox em que a mifstica esteve eaquecida, autores de grande valor desereve- am muito bem, sem empregar as mlesmas expressOes, as grngas superiores que Sluminam a alma, a abrasam, a them Deus ¢ a transformam mele, ¢ ensinaram elaramente que iM groeas slo conecdidaa a quem quer que xe disponba & - Feeebé-lag. Entre outros, o padre Cloriviére, o padre Grou, "© Yonerfvel Liberman, etc, Multas vezes as palavras varla- vam, mas o ensino cra o mesmo baseade na experléncis, ] Ver o que diz Scaramell “1 sap. 7, n.* 10, 1, No Direttoria Mlstico, Tratt, 21 dsaviavam ns almas do esminho que Dows Ihes tragara, cau sandodhes um prejuizo ineomensurdvel, a Folizmonto, a tendéncia 6 do voltar cada vex mais 3 verdadeira nocio dor estados contomplativos © unitivos, que os santos tanto exaltaram, apresentando-os como o desfe- ‘eho normal da vida espiritual : AAtunimento, {4 0 dissemos, todes reconhecem a existéncis denins gragas ominentes de {6 ¢ de amor concodidas dire tamente pelo Espirito Santo sem o auxilio do raciocinio. (Aqueles que, reeonhecendo~as, se reousam a ver melas gragas Gnisticas, ou alegarem que sé multo mais tarde saberdo se, Ge fato, ao gracas misticas, més diremos: Por favor, nfo cspereis anos au séculos para aperfeicoar, ou antes, vollar f doutrina dos grandes mectros. Revelal as almas a hondade) de nosso Deus; mastrat-lhea as facilidades que thes reserva se forem verdadelramente generosns; nic as delxcis erer quie hao de remar sempre avancando lentamente. 0 que era ver dade no tempo de S, Teresa, nig © & menos nos nossos ding ‘pide um rigor exagerado dizer que nao nos devomos con-/ ceder satlsfagio algume, s¢ Rio mop falarem no mesmo tem-| $o daa doguras que neompanbam eas roninela © das vane {agens que nos proporelonam mesmo neata vida". 1, no on tanto, prooiso inaistir na rentncin completa, sem a qual nig id satisfagio possivel. Davernos, pois, trabalhar para nos venecrmor em tudo, 0 ncoitar o principio de nao dar a maturcea senfo nquile que Deus quer que The demos @ re- cusarthe tudo quanto procura fnfcamente por satisfacto prépria: divertimentos, viagons, passelos, lelturas, fumo, Dra Zeres dos sentides, £6'no2 pormitindo essas doguras, quando mm motivo razodvel as justificar®, Para chegar = @s8a Te mincia, devemos praticar a mortitieagio sob todas as for mas. Tal & a doutrina dos grandes misticns de todos os tem- pos © do todos os pafses. : Aqueles que pregam essa doutrina integral ¢ animam ax lmas, mostrandothes que Deus vind ajudé-las com suas gracas infusas, verificam, para grande congolo eu, efcltos Maravithogos, As almas que visirem mals alto © tiverem maior confianea, olkando mals para Deus que para sl mes: nse, zero mais corajosns; e nfo demorario em receber maio- yee gragas, nem tie pouco — 0 vonerivel Libermann 34 0 observava ‘nos seus geminarivias (Carta 190) — om provar fs prinicias daa gracas misticas. Depois de terem sido fa- ‘yorecidas por ese recolhimento tio procloso que a8 man- im, sem esforgo nombum de sun parte, sensivelmente wnidas 8) Ver sobre esse ponto o artigo Imperfection, do padre Ht Hugneny, no Dict, de Théologie eath,, t. ‘VIL, col. EY muito augestivo, 22 . x Deus durante di2g; meso no melo de seus trabathos, ter: Tam-s0 ginda mais generosas. Quando souberem, mais tar de, que as dificuldades que experimentam na meditacHo thea oo Ue grande ulllidade para purified-las ¢ leviles a um enero de orngio mais simples ¢ mals proveltoso, niio se Geixaréo abater ¢ serio multo mals constantes. Entlio, co- mo observam nnulto bem 8, Teresa ¢ 8. Joio da Cruz, ‘sem Taio de pelavras, © Senor as instrul’” (Caminko da perfel- cho, MXV; CAntico caplr. str. 20). Faxem de Deua uma idéia faulto mais elevada enquanto thos & dado um cenhecimen- fo raulto mals vivo de maa préprias misérina; percebem multo mether as bélezag, s extenstio das virtudes, 0 valor fos soffimentos, a, utilidade dor sacrificlos, E Deus cada yer mals age sobre a aa yontade, comunicands-lhe amor © forga. Assim chega & vida unitiva, em que as virtudes sao pratiendns com mais facilidade e com mais perfeigho, Pres iam entio a Deus uma gléria muito melor, eo seu poder parn fazer o bem, conhecido ai desconheclde deles mesmas, % ouso dizé-lo, centuplicado. Sel de um bom mimero de sa cerdotes zelosos © cholos de experiéncia, que Verifleam com fmengo consol csses efeitos da pura doutrina dos santos" TE com o tim de obter csses frutos de gracas, ¢ ver raultiplicarem-se as almas multo' unidas a Deus, que uss frende nimero de autores eontemporfineos trabalha para prestigiay of estudos misticos, enquanto por preces ardentes [mploram wma divulgaese eada vex malor da doutrina tea- dictions, 3a se verificou também no clero que numerosos padres, a quem nfo fol aprescntade case iden, nem permitidos exsos ‘awxilios, abstiveram-so de visar muito alto. Néo fazem bas- tantes esforcos para venser-ss 9 santifiear-se, enquanto ce- em muito & nntureza, Hmborn sejam hons @ virtuosos, man- tém-se Jonge da perfeicao, que nao @ para eles, segundo pen- sun. E so vierom a dirigir outras almas, também chamadas it perfeigio, nio saberfio apresentar-thes um ideal elevado, hom as cxortar & rentincln total, 86 Nosso Senhor determinon tiie a elite deve arrastar a massa, isto s¢ aplica mais ainda hin ordem sobrenatural que na ordem natural e os escolhides for Deus, of privilogindos, eacerdotes, religiosos, religiosas, tue deveriam todos ser apéstolos poderosos, ao menos pela oragéo ¢ pelo saeritielo, fazem, pela extensiio do reino de ‘Deus, wiuito menos de que deverlam fazer. De 1700 milhbes do habitantes que existem sobre a torra, apenas 200 milhdes Blo eatélicos, © quantos entre eates nfio slo fidis! Se o no. 8) Em geral os pregadores de retiros que seguem cate doutring si¢ mals apreciados pelas almas. fervoronas, @ thes. farom cerlamente um bem mauito mator. ‘ * ‘i 23 mero dos perfeitos, das almas perfeitamente interlores em, quem é verdadciramente Jesus que vive, fosse o que deverin ser, quanto cresceria o nfimero dos bons cristfos! Niko haveri algume sombra nesso bolo quadro dos frie tos produzidos pelos estudos mistices? E nllo poderd o en- tusiasme por esses cstudos projudicar certas almas? Tal /pe- rigo ja foi assinalado. “lstarA bem provado, escreveu na “Révue axcétique et mystique” (Abril, 1921, p. 187), 0 R P. de Guibert, na oricntaggo atual das almas para a vida mistica, 2 possa negligenciar ou considerar como secundd- ries os perigos do echtusiasme passageiro, do snoblsmo, da voidade ¢ da preguiga espiritual, que levamn as almas a aban- donar os penosos deveres de ascese o atirarse, ao acaso, na mistien? © autor tem raziio; ease perigo existe, e foram abu- sos desse género que contribuiram, no século XVI, para aquilo que o padre Brémond denomitia muito bem "“o re tiro dos misticos”. Esso perigo existiré sempre, pois haverd gempre pessoas spaixonadas por um belo ideal © que, nfo querendo empregar os meios indisponsdvels, © praticando mal ag virtudes do recolhimento, da humildade, da mortiti- cago, serio pouco esclarecidas « tomario por estado mistico aguile que o nfo € EH porque aqueles que ensinam essa doutrina, © 08 diretores em geral, devem insistir muito so- bre cssas virludes fundamentais, e sobre a guerra sem pie- dade» fazer contra a natureza. Seria, porém, laucura re- nunelar, por isso, 4 doutrina; nem as quedas mortais de tantos avindores, nem as catéstrofes de estrada de ferro, nem os acidentes de automével, faréo jamais com que re- nunclemos a esses. meios de locomosie para voltarmos as diligéncias dos séculos passados, ol aos earros dos rels me- rovinglos. Quem adotar plonamente os ensinamentos dos santos, encontraré também os romédios para essas ilusées. Sejamos, pois, desta oscoln e sigamos o caminho que tie bem nos souberam tracar. Isto seré de todo proveitoso para a Tgreja para nda o serviré certamente para maior gloria de Deus, PRIMEIRA PARTE DO FIM A ATINGIR: A PERFEICAO CAPITULO I Das almas virtuosas e das almas perfeitas 1. Diferenca entre almas perjettas e almas virluosas Sera o nimero das almas perfeitas o que deveria ser? serA esse numero aquele que o Senhor teria o direito do esperar? Infelizmente muito falta para isso, e nunca o lamentaremos bastante. EH’ certo que se encontram, em nossos dias, muitas slmas virtno- sas e solidamente piedosas. Por este mundo afora, @, com maior razio, no clero, nas ordens religiosas Gos dois sexos, so numerosos os servidores de Cris- to, em quem se nota um forte apego ao dever, um sincero amor a4 orac&o e aos exercicios piedosos, um grande zelo e uma verdadeira dedicagao. es bons. servidores do Senhor Ihe defendem bem os intere: Ses, esclarceem, sustentam, ¢edificam os outros cris tHos; entre esses e os vulgares, que se contentam em evitar os pecados graves ¢ em cumprir os deve- res essenciais do cristianismo, a diferenca é imenga. Mas como 6 grande também a diferenea entre essas almas virtuosas, porém imperfeilas, e os ami- gos perfeitos de Deus! A alma perfeita vive cons- tantemente em presenca de seu Deus e nao obedecc mais, na diregao de sua vida, a consideracées hu- manas. Os motivos de fé lhe sao tio habituatmque inspiram, por assim dizer, todos os seus atos; o amor OT. de Deus, que se tornou.o grande, o tnleo mével de sua vida, leva-a a praticar muitas boas obras, atos santos, oragées, trabalhos e sacrificios. Enquanto a alma piedosa, que osella entre 0 amor de Deus e o amor de si mesma, produz muito menos atos de virtude e se, em sua vida, muitos atos sio ho- nestos e corretos, no ebedecem no entanto a uma orientagio sobrenatural. Além disso, a disposieao basica, em que se acha habitualmente a alma perfelta, tem uma influéncia multe grande, mas que ela prépria nem sempre per- cebe, sobre todo o conjunto de seus atos. A disposicSo ordinarla da vontade varia muito segundo as pes- soas. Na pessoa embebida do amor divino, a disposi cdo fundamental é uma vontade firme de n&o viver senéo para Deus e de ndo conceder A natureza se- néo aquilo que Deus quer que Ihe dé, aquilo que Ihe € necessério para bem eumprir eom seus deveres, E essa resoluedo n&o é o fruto de um entusiasmo passageiro e¢ de uma imaginagao viva; manifesta- se © firma-se por intimeros atos de remincia e de mortificagdo, penetrando até ao Amago da vontade. Assim é que persiste sempre, mesmo quando nfo expressamenté formulada, e os atos minimos da vida, feltos com essa dispasigdo, que é a do amor perfei- to, adquirem por esse meio um grande valor aos olhos de Deus. A alma sdlidamente virtuosa, mas nao perfeita, praticou em sua vida muitos atos que Ihe custaram: lutas contra os préprios defeltos, pritica fiel do re- gulamento que adotou, ou da regra que abragou, cumprimento exato de seus deveres de estado, mul- tas vezes bem penosos. Esses esforgos, esses atos de rentinela, desenvolveram-Ihe a pledade e fortifica- ram-lhe a virtude. Mas ela nao tomou a peito en- cher sua vida de sacrificios; nao timbrou com ar- dor e perseveranca em refrear a atividade de sua imaginag&o, em reprimir os impulsos de seu coragdo, 28 come sejam desejos humanos, preocupagdes tempo- vais, alegrias ou tristezas puramente naturais; tam- bém néo conseguiu ainda dominar perfeitamente a sua natureza; cede-lhe muitas vezes, ¢ de pleno con- sentimente, as exigéncias e repugndnelas; procura a propria satisfagie, foge cuidadosamente do que a Incomoda, preocupa-se com a estima e os favores das criaturas, teme-lhes as censuras e as criticas, agira, portante, em muitas circunstAnclas, e quase sem 0 notar, por amor de si mesma e nio por amor de Deus. Sua disposiggdo fundamental 6 muito menos eleyada que a da alma perfeita: € a resolucde de agradar a Deus e de trabalhar para ele, sem, porém, renunciar muito a si mesma e essa disposigio habi- tual da aos atos ordinirios da vida um valor muito _ Menor. Essa alma 6 como uma serva fiel, décll, ape- @ada a seu senhor, porém mais zelosa dos préprios Anteresses do que 05 do seu amo. A alma perfelta 6 mais que uma aneila; é, para Jesus, uma esposa, ¢ para as almas, uma mae, A mie de familia, bondosa ¢ dedicada, nfo vive senio para o marido e os filhos; pensa neles sem cessar, trabalha para eles, por cles sé cansa, se sacrifica, n§o conta as penas ¢ as iadigas, nunca se queixa dos trabalhos, nio mede o que dd, nem o que sofre. Acha muito natural trabalhar e sofrer porque ama, pouco lhe importa o que disserem a seu respelto, contanto que aqueles que ama sejam felizes. Assim a alma unida a Deus pelo puro e perfeito amor n&o vive sendio para ele, tem constantemente em vista seus interesses, esta sempre pronta a imolar-se pe- la sua gléria, d& tudo de si mesma, pensando sem- pre que nunca faz bastante pelo Bem-Amado. Esses atos de amor, que tanto merecimento tém, ‘a alma unida a Deus os multiplica sem esforge no decorrer do dia. Bem diversos das almas pledosos, mas no unidas, que se aborrecem quando est&o s6s, que prociiram as clsiragdes, as conversagies, as no- 29 yidades, as leituras fiteis, as almas unidas tem um grande amor pela solidao, onde encontram seu Deus, @ nunca tém tempo suficiente para conversar com ele Intimamente. © amor da alma unida cresce constantemente pela multipticidade dos atos que produz, pois o amor aumenta com o exercicio, e esses progressos sho tanto maiores quanto mais perfeito for esse amor. Com efelto, A medida que o amor dilata a alma, as dispostedes da Providéncia produzem um amor sem- pre maior, as oragdes, os exerciclos pledosos, 08 50 cramentos, as provagdes io como falscas elétricas que poem fogo nas minas: se a polvora for de qua- lidade inferior e pouco abundante, a explosao ser& fraca; se for um montSo de melinite, a explosao sera formiddvel. Assim as contradi¢ses, as humilha-~ gGes, as doencas’, os lutos, sto incidentes providen= ciais destinados a provocar na alma fiel atos de amor, mas cujo valor varia muito, A alma boa € — pledosa sentir’, e algumas vezes mui vivamente, tudo” 3 que ihe contraria a vontade, ou Ihe fere o amor” propria, e, pensando longamente em tudo isso, refle- tindo em tudo quanto Ihe causa tristeza, saberd ra- clocinar ¢ aplicar-se a ver, na provagao, & vontade | de Deus; consideraré as vantagens do sofrimento e — assim praticara, umas vezes rapidamente, outras com — difieuidade e lentamente, atos de resignagdo sincera. Tp “Pauel ex infirmitate meliorantur": sio poticos as que a onformidade tarna melhores, diz a Imitagio (1, 28). & Safermidade € geralmente a pedra de togue da verdadelta @ Bias vittnde: o doente, tlado de seus habitos, contrarlado secmous gostos, privadg, dos pasia-tempoo a daz, satistacoes Saturais pelas quais padia esquecer sua tristeza, & como que petttvangido a revelar © intimo de seu coragdo, Se ele for Strfeltamente derprendide de ai mesmo, notarseé © dominio” Bie tem sobre sua maiurexa; #¢ sinda nAo morreu a i TCH Gs, mostraré hem depremsa, pela tristeza, pela falta de pa. hein © pelas indmern exigénelas, qué sum natureza tao yonelde, que sua virtude & pouco profunda,,que o seu ainor par Deus ainds & frac © pequena. 80 * * ‘ A alma unida néo tem necessidade de tant: = elderagies; antes mesmo de raciocinar, j4 eer al mesma, na parte superior, uma alegria de amor, ou, a0 menos uma satisfagio de amor, uma aqwies- cénela de amor, produzida, nao pelos seus esforcos, mas pelo Espirito Santo, que a governa. A natureza sofre, mas a alma se alegra, Oh! como esse’ amor simples, abandonado, mas esponténeo, pleno e ale tem valor aos olhos de Deus! i Ree Toda oracio produz também efeito de em. relagio aos sentimentos de £6, de contianigareied amor daquele que reza. Os perfeitos, com f¢ tao viva, confianca tio grande, amor tio puro, retlram, de seus exercicios de pledade, frutes muito mais abun- dantes que os imperfeitos. A diferenca ¢ maior ainda na recepesio dos sacramentos. A peniténcla e a Euca- ristla, cujos efeitos varlam segundo as disposicdes de eada um, derramam nas almas unidas uma quan- lidade de graga imensamente superior aquela que reeebem os crisidos bons e pledosos, mas que nao se deram inteiramente a Deus, A alma perfeita se impressiona muito mais com as grandezas de Deus A com as silas perfeigdes do que a alma. piedosa; toma-se de admiracdo por um Deus tio amante e amdvel ¢ as Inzes que recebe sobre as amabilidades divinas dio ao seu amor multo maior elevacdo € ‘ulto mafor mérito, Torna-se também mals confian- cee mais familiar: Jesus é, para ela, ndo um rei ou senhor, mas um amigo muito carinhoso; sua oragéo néo 6 uma série de consideragdes préprias @ levé-la as boas resolugdes. E’ 0 encontro suave com o Bem-Amado, fonte, para ela, de grande fe- licidade, Sabe que Jesus, que a ama multo mais que ela a ele, goza também mais do que ela por ve-la a0 seu lado. E enquanto a alma piedosa, ordinaria- mente fiel 4 sta meditagao, a deixaré por um mo- tivo insignificante, a alma perfeita, pelo contrario, nfo deixar sua oraefio sendio quando.essa Ihe for 31 * de todo impossivel. Procurara, e conseguird, fazer de toda a sua vida uma oragéio continua, ‘kao 6 somente sobre os encantos de Deus ue a alma perfelta recobe preciosas 1uzes; recebe-as também sobre @ sua propria miséria, sobre 0 S°% nada, de que se persuade muito mais do que & alma simplesmente pledosa. Possui também uma humil= Gade muito mais profunda, que @ torna ainda mais querida de Deus é atrai sobre ela intimeras gragas. Enfim, o Espirito Santo, que a ilumina, lhe faz com- preender mais rapide e seguramente todos 05 meios que deve empregar para agradar a Deus, percebe, Muito methor do que as pessoas de uma pledade Co mum, as ocasides de renuneia, que se lhe oferecem tada dia, ve melhor o que agrada ao amigo divino, fo amigo infinilamente santo, ¢ também o que ihe desagrada; a alma perfeita tem todas a6 delicade- zas do amor. BY por que quem atingiu a perfeledo, compa: rado ao eristio bom e virtuoso, porém imperfelto, est. sempre na disposicao habitual de fazer mais para o sett Deus. Ele quer mats enérgicamente e quer por motives mais elevados; seus atos de al0E sho mais generosos, mais intensos, mais nobres; sho tam: — bam mais ternos € mais delicades, sdo principal: mente mais numerosos. Ora, como Deus mede tudo pele amor, ele se compraz mais em uma s6 alma Nerfelia do que em um grande nimero de alma® piedosas; Oo hhomem piedoso ¢ virtuoso é um servo fe Deus, decile flel; mas o homem perfelto & para Deus um amigo intimo. Ora, um amigo afetuoso ¢ dedicado d& muito mals alegria ao coragao do que mill sprvas bons. 2, Podemos ¢ devemos esforear-nos Bor nos tornarmes perfeitos. ‘Mas néo sera pretenstoso aspirar & perfeighio- Quem é perfeit 32 ‘o sobre a terra? In multis offendi- | i oie mus omnes: “Pecamos todos em multas coisas", dn 0 apdstolo S, Tiago (3, 2). N&o, nBo ha tel em visar A perfeleso. A perfeicao cugese nase perfelgao do céu; ela exclu as faltas de pura tragili- dade, sentidas ¢ reparadas, apenas cometidas, e cuja Tepetie¢do procuramas evitar. Os religiosos devem ten- der a perfelco, eujo compromisso assumiram a0 pronunciar os votos que visam, justamente, ‘facili- tarelhes essa aquisigao. Os sacetdotes do Senhor, chamados 2 reprodusir Jesus, — 0 sumo saccrdote, ae pastores das almas, todos deverlam possui-la, se devem, podem, O empreendimento é, portanto, menes dificil do que mulios o imaginam. “Aquele que uma vez entrou no caminho da perfelcao e nao © ahandona, diz S. Afonso, pode estar certo de que oon ee o conseguira" (Obras eompl., vol. X, an wae eae, ee Jha tantas almas perfeltas REBEMEn GG an videt E iueimo cavern oe onde a formacdo a vida espiritual ¢ bem dirigida, 80 (instante numiarosss ad elmas unidns @ Dens € prendidas de si mesmas, Desapegaram-se a io ‘Bfeieho desregrada, como Tevomends 3.8 Glo; {Si nso tem, diz 8, Francisco de Sales, o amor a iidades; renunciaram a tudo quanto impe- le © coracdo de entregar-se inteiramente a Deus, a condic&o e a esséncla da perfelcéo, segundo 8. To- ms, em uma palavra, tendo-se despojado de toda Tatas arse, essas alias mantém-se na dispo- aio Sas tual de nao querer mais senao o que Deus Tals almas nem sempre s&o apreciadas es conseiente: “Vés me fazels saber, eserevia 8, Vicente de Paulo, que a virtude de N, e N. ¢ um poueo pesa- da aos outros, e eu 0 ereio, em relagio Aqueles que tem menas conformidade a regra e menos vigilan- cia para o seu proprio adiantamento e o de seus Ideal — $ a irmiios, © zelo e a pontualldade fazem sofrer aqueles, que nao m tais virtudes, porque o fervor thes condena a fradtieza... Acham o que censurar no me~ recimento dos outros porque néo thm a coragem de os imitar” (Vida, por Abelly, 1. IM, cap. XXIV): ‘Acontece também que essas almas corajosas déem © ocasifio a juizos menos favoravels. Por vezes conser vam algum defeito exterior, em que a vonitade nao” toma parte, Outras vezes, embora senhoras de si mesmas ¢ dominando as paixdes, resta-Ihes & SUpOr- tar certos assaltos violentos, porque os demonios se — irritam contra elas; essas lutas, que Ihes silo, como para todos, melos de progresses e de grandes w= {orlas, ocasionam tambem ligeiras fraquegas, que a8 mantém no conhecimento de suas misérias; esses desfalecimentos, que diminuem & medida que s¢ tor- nam mais amantes e mais fortes, sio-Ihes, porém, quais nuvens na virtude. Por causa cessas imperfel- Ges, n&o Ihes devemos desconhecer a pureza, a ‘fir- meza, a generosidade do amor. Mas quantas outras, que teriam podido elevar-se até af, permaneceram num estado inferior, Algumas, embora piedosas, mis- | turam um grande amor de si mesmas ao amor de Deus. Outras, mais adiantadas que as almas de uma piedade comum, mais mortificadlas, mais desprendi- das e que mas provagbes se mostram fortes € re- signadas, aproximam-se das almas perfeitas sem ter, todavia, com o Senhor essas relacées constantes, in- timas, cheias de famillaridade e de abandono, que tanto agradam ao Coracho de Dens. ‘Umas © outras, as ultimas principalmente, tra= balhatam, entretanto, na obra de sua santificacao, aplicaram-se em combater 03 seus defeltos, conta= ram fielmente suas vitdrlas ¢ derrotas, leram muitos livros espirituats em que encontraram proveltesos — ee Seus esfor¢os nfo foram initels & progredi+ rath na virtude. Por que, ent&o, nao vivem de um J modo habitual, na prética do puro e perfeito amor? = 34 Pensamos que muitos desses ser i vos de De quem nao falta boa yontade nem coragem, cea néceram nes destaus Inferiores porque nBo visaram @ alto: desejaram a virtude, néo aspir: 4 perfeigho, o¥, se tiveraim esse deselo, nae fol nem forte nem constante. Em geral essas pessoas vit. ‘tuosas evitam, de caso pensado, ler os trabalhos que aeham elevados demais parg elas, 8, Teresi, Joao da Cruz, 0 Tratado do Amor de S, Franelseo de Soles) ¢ outros semelhantes, td animadores, tio ‘oveitosas licGes, Ihes parecem demi o ; masia= do misteos. 4 malor parte dos iivros espitituals re limentam, so aqueles que trac : cam bei Mee ne ee e iluminativa, mas ve via Unitiva e perfeita, de uma formacao coi aUaSS ica mveniente, as almas ni © caminho que conduz mais dire CS aaaa tamente e = Gaeattatk @ unido com Deus, como a recdnaaant Sean © recollilmento continuo, a intimidade cheia de fernura com Jesus. Nao se aplieam bastante er de contlanca e de amor; refletem demais ¢ Pensain ém al de preferéncla. a Deus, Hm se tratando alinas mals generosas, quando esto preparadas elevadas © que De chama a ‘entrar um caminho mais anise ae po mals proveitoso, nAo ¢ € preciso repousar afctt te cin Deut ¢ wate uosamente em Deus Se & acio que o Espirito San Pie to deseja exe: elas, devendo, portanto, m: rrasiad: ae i . to, moderar a demasiad vidade de suas faculdades n aaa atures, retrea imaginagio e evitar o al eae eae buso das reflexes e das Por outro lado, muito numeros a , 108 So 08 pad os educadores, as educadoras de almas que neo ape: sentam aquelas que formam A vida de pledade um eink bastante elevado. Por vezes, Mesmo, encon- ram-se alguns que, desconfiando demais ‘da ima- ginacdo de seus discipulos, preoeupam-se antes de tu- s* 35, do em cortar-Ihes as asas. 8. Paulo dizia: “N&o apa- gueis o Espirito Santo” (1 Tes 5, 9); mas esses sus | postos sabios, que tém um temor excessivo de tudo quanto 6 mistico e taxam de imprudencia a morti- ~ ficacio, transgridem absolutamente esse conselho di- yino e tendem a apagar o Espirito Santo nos corns ‘Ah! se eles soubessem o bem que farlam a& al; mas inspirando-Ihes a generosidade, persuadindo-as de que Deus, que as ama com wm amor lmenso, as ghamna no desprendimento perfelto, a uma doce en Constante Intimidade! Esses diretores desejAm, eh tretanto, que seus diseipulos progridam no amor de Deus, Ora, a medida desse amor, disse S. Bernardo, & nfo ter medida, For que entéo reté-los em Y6%" de Impedi-los? Ailmentemo-nos, pols, ns mesmos de santas ambigies e saibamos inspird-las aos ou= tros, © amor perfelto nos ¢ possivel, nos € propasto e, se pusermos toda a nossa boa yontade em obté-lo,_ certo é que nos seré concedide, Aqueles que arteq messam a almas para os climes do amor, propor” cionam a Jesus o mais agradavel dos prazeres. Uma ‘i crite religiosa que, tendo recebido de Deus grandes luzes, havia impelide e dirlgido 5. Afonso na fun = tagio do Instituto dos Redentoristas, Soror Maria Celeste, transmitiu-Ihe um dia — 0 santo achava-se entéo em luta contra horriveis temores de danagso Sima mensagem muito consoladora. Ela vin o trono de gléria que Ihe estava preparado no eéu © ouviu Jesus dizer-Ihe: “Anuncia-Ihe de minha par-— te que tenho por agradaveis os trabalhos que ele empreende para converter os pecadores, @, princl= palmente, os incomodos que sé d4 para levar os Jus tos & perfeicho do amor divino, pols é por esses eS peclalmente (pelos perfeltos), que eu sou glorifiendo, @ 6 por eles que concedo ao mundo minhas gran- des misericordias” (Vida, pelo P. Berthe, LT, cap. TX). 36 CAPITULO De quanto as almas perfeitas slorificam a Deus 1. AS almas perfetias manifestam as perfeicdes divinas, “aquele que faz esforgos constantes para ad- quirir a perfeigao pode ser conslderado perfeito: Jugis conatus ad perfectionem perfectio reputatur”’ Estas palavras de 8. Bernardo (Bpist. 254) surpreen- dem a principio; sao justas, entretanto, pois a ex- periéneia mostra que sd aqueles que J tém um gran- de, um perfelto amor, continuam a trabalhar para aumenté-lo sem jamais desanimar. Os outros, de- pols de um periodo de esforcos e de Iutas, sentem uir 0 desejo da perfcigho e acham demais pe- hosa a reniineia constante; deixam em breve de combater com a mesma energia do principio, con- tentando-se com as virtudes ja adquiridas. Mantém. se, porém no progridem mais. ~ : Importa, portanto, alimentar em no: Bun aie ee ce eer ean ane tes, pois, como muito bem disse 8. Francisco de Sa- les: “A medida que o desejo do amor vai crescendo, © amor tambem vai aumentando. Quem deseja ar- dentemente o amor, amard em breve com ardor (Tratado do amor de Deus, XII, 2). A comparacko que estabeleeemos entre as almas perfeltamente amantes e as almas simplesmente virtuosas é de 37 ordem s inspirar um vivo desejo de petfetcao, mas conyém insistir e mostrar mais clatamente as yan- “tagens da perfeigAo, a fim de excitar as almas a prossegui-la com ¢oragem © perseveranca. ‘Aalma perfeita rende uma grande gloria a Deus, que se compraz imensamente nela. Bssa alma 6 para 0 Coracio de Jesus doce consoladora; 6 para Jesus ‘uma auxiliar fiel, que trabalha poderosamente com ele para o bem da Igreja, para a salvactio é santifi- cagho das almas. Goza, aqui na terra, de uma paz profunda, encontra no set amor a tinica felicidade Ppossivel. No purgatério sofrera pouco e achard ale- gria em expiar e sofrer, ¢ no céu a sua sorte sera Magnifica, pois compartilha numa larga medida da sabedoria, do amor, da felicidade de seu Deus. “Deus nos escolheu antes da cring¢io do mundo, a fim de que féssemos santos... ¢ servissemos ao louvor de gloria de sua graea” (Ef 1, 4-6), Sio Paulo tem tanta certeza de que devemos, pela nossa santidade, con- tribuir para realear a glria divina, que repete trés ve- zes em poueas linhas: ir laudem gloriae. Glorificar a ‘Deus pelas nossas virtudes, eis o fim da nossa vida, eis a razéo de tantas gracas com que Deus nos cu- mulou, els o que Deus espera de nés em troca de seus intimeros beneficlos. Um ato sobrenatural 6, com efeito, o que ha de mais belo no mundo, é a obra prima de Deus. Uma criatura humana ou angélica, quando faz um ato de virtude sobrenatural, ¢, nfo digo somente um mi- Iho de vezes, mas ineomparivelmente mais bela do que tudo quanto ha de mais belo no mundo ma-_ terial, do que os lagos, os rios € o Oceano, do que 0s vales e as montanhas, do que os astros e todo 0 es- plendor do firmamento, que no entanto cantam a gloria de Deus ¢ lhe proclamam a onipoténeia: Cae- Hi enarrant gloriam Dei. O espirito é, com efeito, incomparavelmente superior & matéria, A matéria nao € bela sendo porque reflete de certo modo 0 38 espirito; @ © ideal que se nos apresenta sob a for- ma sensivel quando contemplamos com delicia os espetéctilos da naturena; é a ofdem, o poder, a praca, que lemos nesse livro do mundo fisico. Quanto mais belo, porém, sera o ideal, nio mais simplesmente refletido num espelho imperfeito, mas visto em si mesmo, no mundo espiritual! Demais, essas obras esplrituals, to belas em si mesmas, sio0 ainda mais belas por serem livres, O mar, a8 montanhas, os céus, nAo sfo livres de ser o que n&o sho; a alma. virtuosa 6 bela porque quer ser bela: essa beleza, por ser o fruto da sua Mherdade, 6 ainda mais admiravel. O Senhor fez marayilhas tirando do nada este grande universo, mas © mundo material nao Ihe podia opor resisténcia alguma. Deus opera maravilha muito maior, fazendo a criatura inteligentce praticar um ato de virtude, quando tem liberdade de nfo o praticar, i Esse ato pertence A eriatura que o praticou livre- mente; entretanto vem de Deus, e lhe proclama bem alto @ poder, a bondade, a sabedoria. B procla~ ma, ¢ manifesta-os tanto melhor, quanto esse ato sobrenatural é praticado, o mais das vezes, contra as tendéncias da natureza. HA também geralmente mator mérito no exerefclo da virtude, do que malicia no pecado. O pecado nada eusta e o peeador nso faz senfo ceder 4s suas inclinacdes, Assim eomo o bar- queiro que, para descer um rio, nfo preeisa remar nem fazer esforgos para levar ‘@ sua barca, assim também © pecador nSo precisa senio seguir a cor- rente de sua natureza corrompida para entregar-se ao vicio. H’ muito diferente o que sé da com a alma que quer permanecer ficl ao seu Deus, Que luta de- vera travar contra si mesma, que violéncia deverd empregar, principalmente se quiser chegar 4 perfel~ 80 do amor! Deus, que a sustenta nessa luta, retira Muito maior gléria de uma alma sdlidamente vir- tuosa, do que a que o pecador the pode fazer per- der. 30. Ms Os atos de virtude sobrenatural, por serem efel- to da graca, manifesta o poder e a sabedorla de Deus, assim como a obra salienta a habilidade, o talento, as boas intengdes do operario que a fez Além do mais, sio uma participacio neasas perfei- des divinas que produzem. Em toto ato sobrenatu- Tal ha forea, santidade, sabedoria divinas. Ora, ha- ‘vera algo de mais belo que o divino? Uma alma. fiel €, pois, um espeticulo marayilhoso aos olhos dos anjos e dos eleitos, Eles yéem brilhar nessa alma todas as virtudes que jA praticou, todos os atos so- brenaturais que cumpriu; véem qual a parte da alma hessas obras santas ¢ qual a parte de Deus. A Deus pertence a gloria; ¢ Dens que aparece admirdvel em seus santos: Mirabilis Deus in sanctis suis, Glo- via também a Jesus que, por suas humilhacdes € Por seus sofrimentos, merecen a todas essas almas a5 gracas que 2s santificaram; cada alma salva é um troféu para o Salvador, cada alma santa é uma — yitérla do seu amor, ; Toda alma. em estado de graca d4 alguma gl6- tla a Deus. Mas quanto o glorifica aquéla que nao se limita aos desejos humanos, e cnja vida se passa na pratica do pura amor! Deus se compras nessa alma flel, de quem diz, guardadas as devidas pro- Doresbes, © que disse de seu divino Filho: Hie est Filius meus dilectus in quo miht bene complacut. “Este € 0 meu Filho dileto, no qual ponho todas as minhas complacéncias”. $6 o divino é digno das di- vinas complacéncias e por toda parte em que se acha, atrai e encanta a Deus. Ora, na alma perfelta gue n&o cede mais voluntitiamente as InclinacSes da hattteza, os minimos atos sio valorizados pela unitio completa de sia vontade 4 vontade de Deus e re- produzem, com fidelidade mais exata, as perfeleGes divinas. E, porque os dons do Espirito Santo se exer- cem plenamente nessa alma, a parte de Deus, nas virtudes que pratica, 6 muito maior, Pode-se dizer — 40 ¥ estd. toda impregnada do divine. Que gldria en- Lio nao proporecionard ao Deus que a criou, a Cristo que a remiul 2, Os perfeitos so os prediletos do Senhor, Oh! quanto essa alma agrada a Deus! Esse Deus (io bom, que ama as mais indignas ¢ as mais ingra- tas de suas criaturas; que, para elas, como para todas, enviou o seu Filho a terra e quis que Jesus passasse por horriveis tormentos; que, aos pecado- ves mais culpados, deseja conceder o perdao e abrir © eéu, esse Deus tem pela alma plenamente fiel um amor muito mais terno e carinhoso, E Jesus que, em sua alma santa, tem os mesmos sentimentos que seu Pai celeste, alimenta também pela alma gene- rosa-uma afei¢io ardente; ama, é verdade, todos os seus irm§os, por todos derramou o seu sangue e pe- jos mais miseraveis estaria pronto a passar de novo por todos os ultrajes e por todas as dores de sua paix@o. Mas os pecadores Ihe ferem o Coracao e mes- mo as almas piedosas, que tanto receberam dele, the causam grandes decepeSes pelas infidelidades, traquezas, negligénelas. 86 as almas ardentes e chelas de amor o consolam e o compensam da ingratidio dos homens, e essas consolagées so tanto malores quanto mais forte, mais constante, mais pure for © amor. Elas so muito mals caras ao seu Coragdo, pois, sendo ele justo e sante, mais ama aqueles que mais oamam, Ego diligentes me diligo. Quem sera, pois, indiferente 4 idéia de poder dar a Jesus doces con- solacdes e de se tornar um seu amigo querido? Aos seus amigos dedicados, Jesus concede, j4 neste mun- do, uma honra e um insigne favor: associa-os a sua obra redentora, fa-los seus auxiliares prediletos. Como ele, ¢ com ele, esses se tornam salvadores de almas, porque Jesus se serve sempre de seus ami- 41 05 para realizar suas obras, B ele, entretanto, qiem ge, escondendo s sua acho para manifestar a dos Amigos € ocupando-se suavemente em presenca dos que Ihe so caros. N&o disse ele: “Aquele que cré em mim, fara as obras que eu faco e as fara ‘maio- ves ainda”? (Jo 14, 12), Com efeito, Jesus, quan- do subiu ao céu, tinha apenas algumas centenas de amigos fiéis. Ele quis legar a seus apostolos a glé- ta de operar conyers6es mais nuunerosas, fundar igrejas, conguistar 0 mundo. E ainda no decotrer dos séculos serviu-se sempre das almas generosas como instrumento de suas gracas, Assim, toda alma perfeita opera na Igreja um bem imenso, € poderosissima pelas suas obras, pro- fusamente abencoadas por Deus, e, se passar a vida. na contemplacéo, suas oractes atrairao imensas gra- gas sobre os pecadores, para fazé-los voltar ao dever; sobre os bons, para tornd-los melhores, ¢ sobre 0s operarios evangélicos, para Ihes fecundar o aposto- ado. Essas almas fervorosas fazem muitas vezes mals para o bem das paréquias e das comunidades, do que aguelas que trabalham diretamente © que, 80s olhos dos homens, obt¢m malor gloria. De fato, quanto mais sobrenatural for uma obra, tanto mator Seré a parte do Senhor e menor a da natureza, Nos empreendimentos humanos, no coméreio, na indis- tria, nas artes, os dons naturais, que Deus distribui fos homens, garantem-lhes o éxito; mas nas obras Givinas de conversio, de santificacso, 6 a graca que opera, ¢ @ graga. nfio se obtém pela inteliganeia, pela eloguéncia ou pela habilidade, e sim pela santidade da vida, Deus as concede aos filhos segundo 0 va- lor de suas oragSes ¢ o mérito de suas yirtudes, Aque- le que nada recusa a seu Deus, que nfo viva senfo Para cle, a quem sacrificou todos. os gostos, todas as vontades, obtém em troca, para si mesmo, e para seus irm&os, auxilios poderosissimos, luzes muito vi- Vas, como jamais poderfio obter as pessoas virtuosas, 42 ee Jorém muito amigas de si mesmas. “Uma alma jus- te, deed eeu ee Margarida Maria — por justa ontendia sem diivida, como entende sempre a escri- \ura sagrada, os perfeltes — obtém o perdéo para mil eriminosos”. Néo vemos claramente neste mun- do @ grande superioridade dos perfeltos na ordem lo apostolado; os efeitos produzidos por eles per~ manecem, em grande parte, ocultos, operam-se mui- tas venes de longe sem o conhecimento dos proprios interessados, mas nfo deixam de ser consideravels serio conhecidos por todos na eternidade, Oh! como esse maravilhoso poder para o bem € uma razio instante para que trabalhemos a fim de obter a perfeigio! CAPITULO IIL Das vantagens da perfelcio 1, Paz de que gozam neste mundo as atmas perfeitas. E’ preciso muito trabalhar e sofrer para atingir a perfelcdo. ““Néio é trabalho de um dia, diz a Imi- taco, nem brinquedo de crianca, renunciar-se per- feitamente, mas quem deixa tudo, encontra tudo; quem renuncia a toda concupiscéncia, encontra o verdadeiro repouso” (L. IIL, c. KXXIT). Na verdade, ja neste mundo, quem teve a co- ragem de lutar corajosamente contra suas inclina- g6es naturals e de morrer a si mesmo, ja encontta @ sua paga. E’ muito mais feliz que as almas menos Benerosas qite querem servir a Deus, poupando a natureza. No esta, mais que os outros, isento das dores e¢ tribulagées da vida. Aos amigos de Jesus cabe larga parte na sua cruz divina, mas porque séo muito desprendidos e humildes e tornaram-se pouco sensiyeis 4s contrarledades, aos reveses, As hhumilhagdes. Todas e&sas tristezas e outras ainda, como as afligGes, os Iutos, podem torturar-Ihes a na- ° ~ tureza, mas sua vontade, que esta como que perdida na vontade de Deus, nfo é contrariada; ao contrario, como os sofrimentos sio permitides por Deus e glo- rificam a Deus, a yontade se sente feliz em supor- ta-los, A alma amante, que conserva apegos naturals, wr 44 desejos puramente humanos, sofre, niio somente em sua natureza, mas também em sua vontade, que € muites yezes contrariada, melindrada, irritada, @ precisaraé fazer esforcos para resignar-se. A resig- nagio & acalmaré, sem, porém, the causar alegria alguma. As almas imperfeitas nio gozam, pois, dessa paz, que possuem as almas desprendidas, paz pro- funda, inalteravel. “Eu vos deixo a minha paz. Eu yos dou a minha paz” disse Jesus aos seus apésto- los em seu belo discurso de despedida (Jo 14, 27). H preciosa a paz de Jesus, aquele que Isains ja ha- via chamado o principe da paz. Essa paz de que Jesus gozava e da qual faz participar os seus ami- gos, ultrapassa todo sentimento, diz-nos S. Paulo. Reside no centro da alma, e, assim como o fundo do oceano n&o é perturbado pelas tempestades que the agitam a superficie e o cume da montanha con- tinua a receber as luaes vivificadoras dos astros en- quanto reina em baixo a neblina, as chuvas e os temporais, assim também a alma que nao tem outra vontade sendo a de seu Deus, cujo amor é intenso e cuja confianga é invencivel, permanece calma, abandonada, embora sinta na parte inferior dificul- dades, assalto das tentagGes, tristezas de toda sorte. ‘As angiistias mesmo que Ihe causam © seu zelo pela gloria de Deus e pelo bem perturbam a paz interior, pols sabem que essas apreensées sio permitidas por Deus e revértem em sua gldria. E' mais do que a paz, 6 a alegria, ¢ a felicidade perfeita que encontra a alma plenamente fiel, ale- gria que Jesus desejava a seus apéstolos: “Eu vos disse essas coisas (permanecei no meu amor, obser- vai os meus mandamentos), a fim de que a vossa alegria seja perfeita” (Jo 15, 11). Essa alegria, Je- sus a prometia a seus apdstolos, se eles quisessem rezar bem! “Pedi e receberels, a fim de que a vossa alegria seja perfeita” (Jo 16, 24), Essa alegria, ele 45 mesmo a pedia a seu Pai para os seus amigos inti- mos:. “Pai, peco por eles, a fim de que tenham em sia plenitude da minha alegria” (Jo 17, 14). A alegria é¢ 0 contentamento da vontade que ob- tém o objeto de seus desejos, a alegria ¢ o amor satisteito. A alma perfeita tem desejos muito ar- dentes e muito santos, tem wm amor muito puro: suspira pela gloria de Deus, e ama intensamente a yontade de Deus, sempre sabia, boa ¢ paternal, Ora, ela sabe que esse Deus, a quem tanto quer yer glo- rifleado, recebe de seu Filho, de seus santos, de seus eleitos, uma glérla digna dele, Sabe que essa vontade divina, que preza ardentemente, é sempre cumprida, que esse Deus tao poderoso quanto sa- bio alcanga sempre os seus fins. Isto lhe 6 uma fon- te de alegria que, ordinariamente, noo @ transbor- dante, nem ruidosa, mas profunda, calma e suavis- sima, H para si mesma, que deseja essa alma, que ja chegou ao completo cesprendimento? Deseja seu Deus e 36 a ele procura. Ora, quem nfo procuta se- néo a Deus, encontrar Devs sempre em toda parte. E quéo agradavel é a essa alma voltar-se para ele, entreter-se com cle, pensar em suas grandezas, em sua bondade, em sua felicidade infinita; quéo agra- déyel 6 sabé-lo ao Indo, e dentro do seu corag&o, quéio doce ¢-Ihe unir-se a ele por um amor sit- ples e tranguilo, porém intenso, Aqueles cuje coragio esta dividido, e que néo esto desprendidos de sl mesmos nem das cria- turas, estéo longe de gozar dessas docuras do amor. Muito menos esclarecidos sobre as perfcicdes e as amabilidades de seu Deus, sentem-se muito menos atraidos a ele. Por outro lado, as inclinaeées natu- rais, de que nao se despojaram, os levam a procurar 98 objetos crindos, a se apegarem aos seus afazeres @ trabalhos prediletos, a se recolherem demais em si mesmos, impedindo que o coragio ponha suas de- liclas em Deus. Mas quanto aos que tém um amor 4G intenso, ah! quao felizes sto em amar e em saber- se amados! Todas as coisas concorrem para o bem das almas amantes: Diligentibus Deum omnia coo- perantur in Bonum, A Providéncla divina preparow tudo, desde a eternidade, para o seu provelto. Quan- to as almas incompletamente fiéis, fazem muitas yezes falhar os designios de Deus a seu respetto. Nas provacdes, se impacientam ou nfo se resignam sen&o em parte, e acontece-lhes, as vezes, repassat no espirito as suas penas. Flcam entio deseontentes irritadas. Outras vezes, so resistem As tentagdes com certa moleza, e deixam passar infmeras oca- sides de praticar a virtude, porque nao tém coragem de oferecer a Deus todos 05 sacrificios que ele Ihes pede. A alma plenamente flel se apraveita de tudo, © catia dia acumula para a eternidade novas e imen- sas riquezas. 2, O fuizo particular da alma perfeita. Quando soa a hora do juizo, a alma perfelta encontra em Jesus antes um amigo que um juiz. Aqueles que n&o morreram a si mesmos, que con- seryam, sem as combater, multas inclinagées natu- rais, que procuram o bem-estar, que tem apego as erlaturas, que pOem @ seu prager nes objetos e nas ocupagGes naturais, que se preocupam com a estima e a aprovactio dos homens, embora pratiquem sin- ceramente a virtude, cometem numerosas faltas, fal- tas veniais, sem divida, mas que ferem a infinita santidade de Deus, Nio se passa um 56 dia em que nfo tenham que se acusar de diversas negllgéncias, impetos mal reprimidos da natureza, procuras de satisfagio puramente humana. A soma de todas es- sas faltas, fraquezas e negligéncias, forma, no fim de sua vida, um total assustador, E nfo menos assusta- dor é 0 total dos melos de santificacdio; oracbes, ™editacdes, sacramentos, lelturas, santas inspiracdes, aT de yirtude, que Ihes foram concedidos e cone no souberam aproveitar-se. “A quem mul- — to foi dado, muito sera pedido”, disse Jestis. AS” gracas intimas jA tio abundantes que receberam, 4 contras se terlam acrescentado, que levariam essas glmas a uma grande yirtude, se, por suas infidell- ~ dades, nfo as tivessem afastado. Reconhecé-lo-Ao, apenas mortas, e entdo quantes remorsos ressenti- , vio? Para reparar todos os seus pecados, todos 08 abusos da graca, esse5 cristdos, pouco generosos na — pritica da mortificagéo, terdo feito muito pouea pe- niténcia e embora as provacdes pelas quais tiverem passado os purificaram wm pouco, no entanto, por terem sido aceitas com um amor demasiadamente fraco, terao perdido muito do seu valor real. ‘i Essas pessons se tranquilizam, as veses, persua- dindo-se que farfio na hora da morte um ato de puro amor, em yirtude do qual desaparecerfio todas as manchas do pecado. Existem, por certo, atos de amor de grande mérito, como aqueles que fazem os santos; 0 poder purificador desses atos heréicos se- ria o bastante para apagar as dividas de numero- sos pecados, mas 56 as almas verdadelramente san- tas produzem semelhantes atos. Os atos de puro amor so. com efelto, de valor muito diferente, conforme as disposigbes intimas da- queles que os fazem. Sdo Pedro parece ter feito um ato de puro amor quando declarou a Jesus que estava pronto a morrer com ele. Fez outro, com mais calma, mas também com maior generosidade, quando se deixou conduzir A morte pelos esbirros de Nero, e nessa tiltima circunstancia seu amor teve um valor bem diverso. Para que um ato de amor tenha ve grande mérito n&o basta que se diga sinceramente: ‘feu Deus, eu vos amo de todo o meu coracso, porque sois infinitamente bom e infinitamente ama- vel”. Este é realmente o amor puro, mas esse amor puro até onde val na vontade daquele que o formu- 48 y (ra Rptrien Aibereas ctrl: HPP tron ta? Que sacrificios estara disposto a fazer? até on- de querera ir no caminho da imolagho, na aceitagao dos sofrimentos? Com que ardor abragaré, as cru- ues pela gloria de seu Deus? E mesmo que, nese momento, suas disposigdes sejam desinteressadas, de grande dedicagdo, qual sera a parte da vontade € da imaginacio, qual serd a intensidade, a firmeza, & profundeza dessas dispesigées? 56.0 Senhor 0 sabe, 80 ele pode pesar o valor purificador desses atos, Sabemos, no entanto, que esses ates, embora sejam sempre atos de puro amor, tornam-se mais merité~ tios e mais satisfatorios & medida que a alma se esprende de si mesma e tem maior admiracde por Deis, € & medida também que aumenta o desejo 6 se firma # resolug&o de se sacrificat e de sofrer mul- to por ele. E nao é fazendo grandes esforgos de ca- _beea, nem enrijando a vontade, que se chega a dar Mais forca a0 amor. B fazendo Senerosamente mui- tos sacrificios, ¢ aceitando de bea yontade as prova- ges, que se aumenta o amor, que se adauire e se _obtém o amor infuso; isto 6, 0 amor perfelto. Deus © communica, & medida que a alma, por sua genero- sidade, destrdi os obstdculos, Segue-se dal que as _ Bessoas |pledosas que, embora amem a Deus sit- ceramente, se concede muitas satistagoes, podem fazer aios de puro amor e ter, entretanto, que so- fier longas ¢ dolorosas purificactes. aati 3. O purgatério das almas perfeitas, As almas generosas e desprendidas podem tam- “bém ter dividas para com a justiga divina, pois, lisse Jesus, todos havemos de pagar até a ultima parcela, Se Nosso Senhor faz passar os seus amigos Por sofrimentos que acabem de purificd-los, fa-lo ‘constrangido, e nfo deixara de conceder, a essas al- mas tio queridas, consolagdes que thes suaylzem a5 penas 0 Tdeal —~ 4 49 peek Molsés havia pecado. Sua falta ndo era, por certo, uma falta mortal. © Senhor castigou-o, entretanto, rigorosamente, condenando-o a nfo entrar na terra prometida, que era, havia:quarenta anos, 0 objeto — de seus desejos. Moisés, segundo nos conta, pedi perddo, mas 0 Senhor, em vez de lho concedler, irri- tou-se e disse-Ihe: “Basta, nunca mais me fales nisso” (Dt 8, 23-26). Quando chegou, povém, para egse servo, esse santo amigo de Deus, o momento — de pagar o seu tributo A morte, Javé o fez subir no cume do monte Nebo, e de 14 the fez ver todo o pais tanto a leste do Jordao, como a oeste desse rio; Yoda a regifio, de Canaan até ao mar, de Galaad / até Dan e da terra de Nefiali até a de Juda. Deus aumentou entéo, por um grande milagre, o poder — visual de Moisés, a fim de que pudesse avistar to- do aquele pais ¢ apreciar-lhe a beleza. Mais de seis- centos mil Jsraelitas haviam sido condenados a nio entrar na terra prometida; para nenhum deles fez Javé semelhante milagre. Deus, porém, para seus amigos, envolve as severldades de sua justiga nos fayores de sua misericordia, e, mesino a0 castiga-los, os consola e deieita. a E isso nos faz crer que no purgatério as almas — generosas receberao consolagées, Nosso Senhor po- de, por exemplo, mostvar-lhes imediatamente o — quanto a sua generosidade Ihe agradou, quio fe- — cunda fo] para os outros, e quao proveitosa Ines serd eternamente. O anjo da guarda, cujo papel parece ser o de visitar ¢ auxillar a alma que sofre, nfo po- de delxar de se mostrar mals afetuoso e compassivo — para com aquela que fol a amiga intima de Jesus. Por outro lado, as dividas das almas perfeitas para com a justiga divina sao evidentemente menos pe- sadas, porque pecaram muito menos, e expiaram muito mais. Fizeram, com efeito, imameros sacrificios em vida, e cada um desses sacrificios, proveniente 50. iN de almas tAo agradsvels a Deus e praticado com dis- - posigGes tho santas, teve multo valor. Apesar desse alivio e dessa diminuigio de so- Srimento, tais almas terao ainda muitas dores que padecer no lugar das expiacdes, porém as suporta- TAo com maior amor. Sao Lourenco, sobre a grelha, sentla dores horriveis, mas o fogo do seu amor tor- nava-as ligelras; outro, menos amante, as teria acha- do mui penosas, No purgatdrio, a alma, livre dos Obstaculos que proyém da carne, elevada & altura dos puros ¢spiritos, vé aumentar imensamente a sua capacidade de gozo e de sofrimento; por conseguinte aS suas dores podem ser mais eruéis que as da ter- ra, As almas que evitaram aqui os sofrimentos, en- contrario penas mais terriveis no outro mundo, e estarfo expostas a arrependimentos amargos, ao me- “nos no principio de sua expiacio. A alma perfeita que amou 0 sacrificio e abra- gou generosamente a cruz, tem apenas faltas le- ¥es a cxpiar, sofre muito menos e, logo no inicio, sofre no purgatorio com um amor intensissimo, amor que, n&o sendo mais estorvado pelo corpo nem per- turbado pelos obstaculos que preduzem nas outras tantos pecados nao explades, pode exercer-se livre © poderosamente, Esse amor, que se torna de uma in- tensidade extrema, Ihe faz amar imensamente a Vontade de Deus e accitar com alegria transbordan- te os santos rigores de sia justica, Ty EAP CAPITULO IV Do céu das almas perfeitas 1. Esplendor @ gozo dos eleitos. ‘As diferencas que acentuamos entre as almas piedosas e as almas perfeitas, diferenca de felicidade | na terra, ¢ de tratatento no lugar de expiacio, nfo duram seno um certo tempo. HA, porém, otitra que — dura eternamente. “Nosso Senhor me fez conhe cer a grande designaldade que existe no eéu entre a félicidade de wns e a felicidade de outros”, disse 8. Teresa (Vide, cap. XXXVII). De fato, essa desi- gualdade 6 grande, é prodigiosa, j4 que Deus conta | todos os méritos e que os méritos de uma alma per- feita ultrapassam de muito os das pessoas de piedade comum. A alma perfelta, repetimos, faz um niimero incomparévelmente maior de atos meritorios. Demals, © valor de um ato de virtude aumenta quando o amor — que o inspira é mals nobre e mais puro, quando ¢ 7 mais intenso, quando, firialmente, ¢ mais firme. Ora, 7 a alma perfcita tem um amor. incompardvelmente” mais pure, mais generoso, mais intenso, mais firme} cada um dos atos que praticou tem, pols, e por to- dos esses titulos, um valor incomparavelmente maior que os de wma alma comum. Assim um nimero imensamente superior de atos de virtude, e cada” wm desses ates de um valor imensamente superl aos de uma alma simplesmente pledosa, els o q faz a riqueza da alma perfelta. Em que consistiré a recompensa eterna de at 52 f tho mumeroses © tao altamente meritorios? A re- compensa est nos muitos bens: gloria exterior, goz0 intimo, prineipalmente gozo de amor: alegria de ha- ver glorificado a Deus © de o glorifitar para sem- pre, alegria de haver trabalhado e sofrido por ele, alegria de haver feito bem as almas, alegria de Thes fazer ainda bem, ¢, enfim, alegria suprema de contemplar a Deus, de admira-lo, de vé-lo feliz, ale- gria de amar e de ser amado por ele, alegria ine- favel, incompreensivel, de possui-lo. ‘A gloria exterior: “Tm € o esplendor do sol, ou- tro 6 0 esplendor da Iva, ¢ outro ainda o esplendor das eatrelas; uma estrela difere também em esplen- dor de outra estrela: assim seré na ressurrelefio dos eorpas” (1 Cor 15, 41). Se os corpos dos eleitos de- vem brilhar com esplendor bem diverso, como nos diz aqui S, Paulo, as almas que comunicaram aos corpas 0 seu brilho e que, por serem espirituals, se- ¥0 muito mais belas, brilharso também com espien- dor maior. “Aqueles que tiveram sido inteligentes, disse 0 anjo a Daniel — Isto ¢, aqueles que tiverem tido a prudéncia de permancecer fitis a Deus; — outros terio sido insensatos — aqueles que tive- rem sido inteligentes brilhardo como o firmamento, e agueles que tiverem conduzido muitas almas & . justica brilhar&o como astros” (Dn 12, 8). EB quan- to mais almas tiverem santificado, tanto mais mara- vilhoso sera o seu resplendor. Cada virtude terA o seu brilho, digo mais, cada ato de virtude praticado aqui na terra daré no céu um acréscimo de beleza & alma e ao corpo. Trabalhemos todos os dias para @ nossa beleza eterna, como um pintor de talento, que fizesse um quadro muito grande e que 0 embe- Jesasse cada dia com um novo trago ou como uma ramalhetelra habil, que todos os dias acrescentasse novas flores aos seus ramos, Nossas orag6es, nossa fi- delidade, nossa vigilancia, nossos saecrificios princi- palmente, acrescentam um novo raio de Iuz ao nos- 53 80 futuro esplendor, e cada raio yarla segundo a virtude que o produziu. No mundo, obtém-se efeitos maravilhosos pela combinagéo das cores. A reunifo dos raios luminosos forma o branco; reduzida a seus _ prineipios, a luz 44 trés cores primitivas: 0 amare- lo, 0 vermelho, o azul, e trés compostas: o verde, pela mistura do azul e do amarelo, o alaraniado formado pelo amarelo e o vermelho, e 0 roxo, pro- duzido pelo vermelho e o azul. Com a mistura desses tons, forgando ou diminuindo estas ou aquelas, ob- tém-se uma gradagio infinita e essas cores variam ainda quando se Jhes acreseenta o preto ou 0 branco. Val da habilidade do artista o saber combinar bem todas essas cores. Assim as raios espirituals de nossas almas, bem como os raios menores, porém também brilhantes, que emanar&o de nossos corpos, € sero © efelto dos atos de virtude que tivermos praticado, nos comunicario uma beleza de uma va- Tiedade maravilhosa, e da qual nada sobre a terra poderé dar uma idéia. Cada virtude terd o sew bri- tho, e a unifio de muitas virtudes num mesmo ato Produzizaé um novo tom. Tal raio, para empregar uma comparacio vulgar, sera mais elnzente, porque @ intengdo tera side menos pura; tal outro sera mais palido, porque a energia tera sido menor; outros, enfim, serao mais brilhantes, porque os atos terao sido mais generosos ¢ mais santos. Assim a vida de cada um seré reproduzida em sua pessoa, E todos esses esplendores serao diyinos. Deus, que se dara as almas, e que sera tudo em todas, ut sit Deus omnia im omnibus, fard ele mesmo todas essas belezas: cada ato de virtude, por ser uma par- ticipac&o num de seus atributos, reproduzir4 esse tributo na alma, que sera. transfigurada, misterlosn- mente transformada em Deus. E nfo serA um brilho exclusivamente exterior, como a beleza da terra, que pode encontrar-se em ‘uma pessoa aflita e doente; esta participacfo nog 54 catributos divinos, que apareceré aos olhos de todos, © ser para a alma um magnifico adorno, e Ine cau- sarf, ao mesmo tempo, no mais intimo recesso, uma. alearia inefavel, profunda, inalterdvel; o menor de nossos atos de virtude produzird assim eternamente © seu brilho € 0 seu gozo. ie sero esses gozos? Como poderfamos conce- bé-los, se nunca experimentamos nada capaz de nos dar a mais ligeira idéia? Neste mundo, nfo podemos fazer compreender a um cego a beleza e a diversi- dade das cores, nem a um surdo a suavidade e a variedade dos sons, nem a quem quer que scja 0 sabor de um fruto que nunca provou, Neste mundo 4 840 maravithosos o poder e a bondade de Deus que soube, como aue brincando, proporcionar aos homens tantas colsas eapazes de alegra-los: espe- tdculos magnificos ¢ varlados, harmonias doces que encantam 03 ouvidos, perfumes suaves ¢, nos ali- mentos, tantos gostos diversos, tio agradAvels 20 paladar. Incalculavel é a varledade dos prazeres que 08 nossos sentidos podem experimentar. E esses n&o slo sendo prageres pequenos, incompletos, passagei- ros, multas vezes vis e grosselros, nos quais o cor— po, 8 parte menos nobre da natureza humana, tem a maior parte. No céu, o poder divino cria outras maravilhas, dA aos eleitos gozos espirituais e nobres muito mais variados e ainda mais deliciosos. Ora, es- sas alegrias tio inefavelmente suaves, tao inebriantes e eternamente durdvels, séo distribuidas de muitos modes, e em medidas prodigiosamente desiguais, Aqueles que obedeceram ao Senhor como fiéis servido- res € foram os seus amigos do coracio aqui e que du- rante toda a eternidade serao os seus intimos. 2, Alegrias produzidas pelo amor e proporiconadas ao amor. Se n&o podemos compreender o que sero esses gozos espirituais tio variados © tAo delicados, sa- 65 | bemos, porém, que terio a sua origem no amor, al muito santo ¢ incompreensivelmente intenso [Os eleitos, Eles gozaréo, com uma suavidade inexprimi- vel, @ alegria de haver glorificado a Deus sobre a terra pelas suas boas obras, de glorificd-lo ia Muito melhor no céu ¢ de. poder glorificd-lo duran- te toda a cternidade, pelo esplendor das virtides | gue souberam praticar. Os perfettos 8&0 muito mais sensivels a esta alegria porque amam muito mais & se ja na terra tem um to grande desejo de glo- ritiear a Deus, esse desejo, sempre satisfelto, ¢ mul- to mais ardente no céu. De pom grado consenti- ‘iam em passar por todas as torturas a fim de pro- curar a Deus um pouco de gloria. Embora nfo lhe dessem senio uma gloria igual, gozarlam de uma felicidade maior que a dos outros eleitos menos amantes. Ora, a gliéria que lhe proporeionam nfo ¢ igual. E’ uma gloria incomparavelmente maior que a das almas menos merecedoras. Mais um mo- tivo para que a sua felicidade seja incomparavel- mente superior’, No céu os eleitos sabem, sem ilus&o posstvel, que todos os bens provém de Deus, mas sabem tam- bém, sem a menor vangldria, todo o bem a que ser- viram de instrumento ea medida em que foram, se- Gundo a palavra do apdstolo, os auxiHares de Deus. Véem como seus trabalhos, suas exortages, seus exemplos, seus sacrificios ¢ suas oragdes aproveita: Yam as almas que ora compartilham de sua felici- 2) Santo Afonso Rodrigues conta (Vida, n. 149-51) que, tendo rezado por um novigo, o irmfo Anglade, forteimente tentade contra sua vocngie, © tendo gbtide de Maria, & forca de insisténcia, uma graca poderosn que reconfortou o im méo e lhe valeu 2 vitoria, reasentiu, por duas ou trés vozes, a alegria extrema de que gezavam os bem-aveniurades pela vitéria do navigo. Nosso Senhor nox ensina também que hd grande nlogria no céu quando um pecador se converte, Todas essas slegrias, que nakeem do amor divino, si éyi dentemente proporcionadas a esse mesmo amor, 56 ET mY Me Seis " : . ‘dade, B amam a escas almas com uma intensidade © dé amor que na terra nunca terlam sequer suspel- tado. Quiio felizes sfo por té-las ajudade a santi- ficar-se! E n&o fol pequena a vantagem que lhes proporcionaram. Mesme que as tivessem levado ape~ nas a praticar um Hgelro ato sobrenatural, essas almas thes ficariam devendo um acréscimo de fe- licktiade eterna. Que sera, pois, se, fazendo-as pro- gredir na virtude, as levaram a aumentar conside- Tavelmente 03 seus méritos? Imaginemos, se 9 pu- dermos, a alegria que experimentarfio por esse mo- tivo as almas ardentes, enja vida se passou intel- ramente no exerelelo do apostolado, ¢ de um apos- tolado todo de abnegacio © de pura caridade, € ‘compreendamos o quanto essa alegria 6 incompara- velmente maior que a das almas menos zelosas. E esse poder benfazejo exereido durante os dias de provacho, com o gual os eleltos se sentem tho felizes, nfo o perdem quando se acham diante de Deus. “Passarel 0 meu céu a fazer o bem sobre a terra”, dizia a meiga e herdica Teresa do Menino Jesits. A Sagrada Eseritura indiea com efeito que no céu os amigos de Deus compartilharao do seu poder. ‘No Livro da Sabedorla esta dito (3, 8) que os justos que Deus tiver provado na terra ¢ achado dignos de si, aqueles que tiverem sido purificades como o ‘ouro no erisol, julgaric as nacSes", A mesma pro- messa € feita no Aporalipse: “Aguele que for ven- cedor e guardar os meus preccitos até ao fim, eu The darel poder sobre as nagbes” <2, 26). Aos apos- tolos, pordue deixaram tudo para seguir a Jesus, o Senhor declara que serdo seus sucessores quan- do vier a julgar as tribos de Israel. Deduz-se de to- dos esses textes que aqueles que tiverem praticado 0 verdadelro desprendimento, cuja alma tiver sido purificada por provacées corajosrmente suportadas, os soldados de Cristo, valentes e constantes, que ti- yerem Jutado até ao fim e conseguido uma completa 57 exercer#© @lSS mesmos grande poder sobre os po- vos da ‘erta. E como o exercerdo, sen auxillan- do os fils _€ subjugando os maus? A esses amigos intimos © Senhor concedeu outrora, quando passa~ vam pef® Provacao, a maior prova de amor, fazen- do-os cOMpartilhar das obras que mais agradam ao seu COraeso, obras de misericérdia e de bene- ficéncia, Retlraré entéo essa doce alegria quando vierem % compartilhar de seus trlunfos e de sua glérla? E nfo ser’ somente sobre os irmfos da terra que poderao “erramar beneficios. Os tedlogos, apds Dio- nisio, 9 Mistico, nos dizem que os anjos das altas Hierarquias derramam, sobre os cores menos eleya- dos, IuzeS © Alegrias. Nao exercerdio também os elei- tos ‘sua fHfluenela benética, e beatifica sobre os com-_ panheird® @e felicidade colocados mais baixo na hie- rarquia celeste? Engvanto espalham seus dons sobre os eleites que se PCham nas fllelras inferiores, encontrando na. pratie?. desse beneficio indescritivels alegrias, re- cebem —* tanto mais quanto mais elevados estio — dons enfitentemente preciosos por parte dos elel- tos que #& cham nas fileiras superiores. No céu to- dos os aMiges de Deus compartilham de seus sen- timentos! @stimam, admiram de modo particular, mas prin¢ipalmente amem, os que foram mais fiéis, que mei Serviram e mais amaram go diyino Mes- tre, A ajM@ perfelta €, pois, mais querida dos san- tos do g#@ aquela que vivew'na imperteictio, e esse amor, qué 240 6 nem inativo e improducente, porém fecundo, @4-Ihe alegrias proporcionadas & sua inten- sidade. F’ 2™ulto querida de Maria, sendo, mais do que as al™Ma5 menos santas, o objeto das ternuras dessa m#® “40 carinhosa; 6 também mais querida de Jesus, © £078 muito mais de suas divinas intimi~ dades ¢ santas caricias, 58) “ 4 bees ame _ Em compensagéo — e isto é para a alma perfeita mais um motivo de felicidade — ela causa uma ale- gria muito maior a csses santos atnigos de Deus que, amando-a na proporcdo de seus méritos, re- Bouijam-se altamente com suas perfeigdes de san- Hidade e seu jubilo. Assim ¢ que causa também a Maria, sua boa mée, uma alegria muito mais doce do que se tivesse tido menores meérifos. Assim tam- bém — 6 felicidade indizivel! — Jesus, que a amou tanto e tanto sofreu para Ihe merecer gracas, sente, em sua alma humana, india{vel prazer pelo que fez, belo ‘que sofreu por ela, prazer tanto mais suave quanto mafor fol o seu provelto, quanto mais ela a vé santa e@ feliz. Resta falar sobre a suprema felicidade do céu: Ver @ Deus, amar a Deus, possulr a Deus. Essa fe- licidade, que é a felicidade essencial, snerente ao pa- taiso, € incomparavelmente maior pata os perfeitos do que para as almas de piedade comum. Cada ato que tiveram praticado Ihes teré aumentado, ¢ cada qual segundo o seu valor, sua ecapacidade de visio ede amor, Deus ¢ visto face a face tal qual ele ¢, € Mio mais em suas obras téo diferentes dele, ¢ que 580 apenas vestigios ¢ sombras. Nao*é visto to pou- co através as idéias ineutidas por ele nas criaturas, Bor mais alta que seja a concepeio que essas pos- sam dar de Deus, Decerto, durante a sua prova- Ho, os anjos superiores tinham de Deus uma con- cepeio muito elevada, mas, como diz S. Paulo, ante @ realldade, as nogées sio puros enigmas. Deus, o Sér infinito, ¢, portanto, visto em si mesmo: a alma vé A sua cléncia incompreensivel, a sua inteligéncia sem limites, que de um sé golpe de vista abraca to- dos os seres presentes, passados, futuFos, e mesmo slmplesmente possiveis; a sua sabedoria infalivel que tudo previu, ¢ tudo ordenou num unico ato eterno; o s¢u poder criador, ao qual nada é impossivel, a Sua bondade inefavel, o seu amor, esse amor que ct) Pe PRGA Wee te} os este " a explica todas as suas obras, amor que seria a mais encantadora de todas as suas perfcicGes, se em Deus uma perfeigo pudesse ser mais bela que as outras. Ora, todas essas perfeigbes, tao bem unidas, e fundidas juntas, que n@o fazem scnio uma 56, sho vistas de modos diversos pelos eleitas, segundo — © poder de visio de cada um; e a alma perfeita pe~ netra muito mais profundamente que a alma imper- feita nesse abismo infinito de belevas, e encontra alegrias muito superiores no espetéeulo de tama- nhas maravilhas. A vista de um Deus tfo perfeito, tio inefavel- mente encantader, acendeu no corag&o do eleito um’ amor proporcionado; a medida que admira, ama, € por um maravilhoso retrocesso, & medida que ama, deseja contemplar, ¢ essa contemplacso corres- ponde ao seu amor, como esse amor corresponde & sua contemplag&o. Demals, a forga do seu amor au - meéntou em cada ato sobrenatural que praticou @ segundo o valor desses atos, como aumentou igual- mente sua capacidade de visio. O foga de amor que, no céu, abrasa a alma perfecita, é, em relacio 20 da alma imperfeita, como um brasciro imenso, ‘ou como o fogo que invade uma floresta em relacao ao do humilde fogareiro. E todas as alegrias cau- — sadas por éssé amor sio proporcionadas a esse mes- mo amor: a alegria de ver esse Deus t&o perfeito e de vé-lo tho sablo, tho poderoso, tio santo; a alegria principalmente de o ver tho feliz; a alegria de ver as trés Pessoas divinas gozarem infinitamente de seu amor mifituo, de sua doacho reciproca, de sua unifo inefavel. O amor tende & un¢fio. Os eleitos de- sejam sempre, de acordo com o seu amor, possuir a Deus. E esse desejo, sempre ardente, é sempre — satisfelto, pols Deus se da, — e é esta a fonte das maiores alegrias celestes — e cada um dos eleitos © recebe, segundo a capacidade e a grandeza do seu. amor. 60 WAGE) fete eae As almas que receberam grandes gragas, que sio- amadas & perfeigio ec nio a atingem porque nfo querem viver de uma vida toda de sacriffcios, hu- mildade e caridade, jamais compreenderao, agui na terra, tudo quanto suas Infidelidades, suas resistén- _ "clas As inspiragGes celestes Ihes fazem perder para @ elernidade. E esses bens, de que poderlam gozar em maior abundancia, mas que, devido 4 sua moleza, nfo poderéo obter senio em medida muito inferior, & © conhecimento inefavel, ¢ o amor, é a posse de seu Deus! CAPITULO V De Jesus vivendo em nés 1. Unido intima entre Jesus e a alma fiel. Quem 1é as epistolas de S Paulo, nota logo as formulas de saudagio que ele emprega com tanta trequéncia, A episiola aos colossenses é dirigida “a todos os santos e Aqueles que sio seus fiéis irmaos em Jesus Cristo”; a epistola aos corintios, “aos fiéis santificados em Jesus Cristo”; aos fillpenses, “Aque-_ les que sio santos no Cristo Jesus"; e aos efésios, “aos fiéis em Jesus Cristo”. _S. Paulo foi o primeiro a empregar essa ma- neita dé falar e emprega-s constantemente: “Fomos batizados em Jesus Cristo, diz alhures, fomos sepul- tados com ele pelo batismo, sepultados em sua mor- te... fomos incorporados a ele pela semelhanga com a sua ressurrel¢iio (Rom 6, 3, 4, 5). Doravante nfo haveré mals condenacdo para aqueles que es- tio no Cristo Jesus (8, 1). Chama Aquila Priscila, Urbano, seus cooperadores em Jesus Cristo (16, 3 9); Andrénico © dtinio estiveram em Cristo antes _ de mim (7). Saudai aqueles da casa de Narelso, que estao no Senhor (3). Eu nao era conhecido de vista nas Igrejas da Judéla que estavam no Cristo” (Gal 1, 22). “E’ pela graca de Deus que estais no Cristo Jesus” (Ei 2, 10), Seria longo eltar todas as passagens em que o santo apéstolo se refere aos fiéis como que ligados ao Cristo, mais do que isso, 62 como que vivendo nele, incorporados a ele, ndo fa- gendo senio um com ele, Bis aqui algumas passa- gens que exprimem mais claramente ainda tedo o seu pensamento: “Ignorais que 0S Yossos corpos sho os membros de Jesus Cristo? (1 Cor 6, 15). Assim como o corpo é um, embora tendo muitos mem- bros, © como tados os membros, apesar do seu nu- mero, nio formam senio um 86 corpo, assim ¢ 0 do Cristo (13, 12). Cristo é nossa eabega. Por ele 0 corpo forma um todo harménico e sélido, cujas par- tes, ligadas e unidas entre si, prestam-se um awxilio miitue, cada membro agindo segundo sua medida de atividade; assim o corpo, crescendo, torna-se 0 ediffeio cristae fundado sobre a caridade (Bf 4, 16). EY da cabesa, diz ele alhures, com o auxilio das arti- culag6es que lhe retinem as diversas partes, due 0 corpo inteiro recebe a vida e cresce pelo incremento que Deus Ihe d&” (Col 2, 19). Antes de 8. Paulo, o Salvador mesmo havia empregado uma comparacso * que demonstra claramente a unido intha que exis- te entre ele c as almas: “Eu sou a vide & vés sols os ramos... aqueie que permanece em mime eu hele produz multos frutos, pols sem mim, separadds de mim, vés nada podels fazer” (Jo 15, 5). 2. Jesus, fonte e instrumento de graga. Essa uniéo intima que existe entre Jesus e as almas ¢, pois, o principlo da vida sobrenatural em nés, Essa vida sobrenatural esi em Jesus, como cm seu principio, em sua fonte inesgotavel; dele se der- tama em hossas almas e nés todos participamos de sua plenitude: De plenitudine efus omnes nos acce- pimus (Jo 1, 16). “Cristo, nos diz S. Joio Crisésto- mo, néo tem rival para dar; 6 ele mesmo a fonte, a ralz de todas os bens; ¢ a vida, a luz, a verdade; n&io guarda suas riquezas em seu seio, mas as €8- palha sobre todos: e depois de té-las prodigalizado, 63 ¢ eo como antes; Zon! que brota sempre e sempre se derrama, conserya ‘sempre a mesma plenitude. A parte que possuo de um bem, eu a recebi de outrem, parte infima talve: do todo, simples gota retirada de um abismo in- sondavel, de um oceano sem limites. Esta imagem é, porém, imperfeita, pois, retiral uma gota do oceano, terels diminuido o oceano, embora a perda seja im- | perceptivel. Nio se pode dizer o mesmo da fonte em questio; podels sacar A yontade, jamais a dit -minuireis” (In Joan, Hom, 14), De que modo ¢ Jesus para nds o principio de todas as gragas? An- tes de tudo ele mereceu a gracga e a mereceu supe- rabundante, sem limites. " © Verbo de Deus fez-se homem a fim de poder expiar os pecados dos homens, e como totlos os ates que praticon emi sua natureza humana e todos os sofrimentos que padeceu pertencem & sua Pessoa divina, esses tem um merecimento infinito e sic mals que suficientes para pagar as dividas da humani- dade inteira, E fol, de fato, para a humanidade que esses merecimentos foram adquiridos. Pela vontade de Deus e pela vontade do Cristo, todos os atos da vida do Cristo, em si mesinos tao meritorios, foram em yerdade praticados por nés, oferecidos por nds. A nds pertencem, portanto, essas reservas inesgotaveis d gragas que Jesus mereceu. Assim a graca nos vem Positivamente de Jesus. Mas de que maneira? Quem pensa que a humanidade do Cristo nao concorre sentio moralmente para produzir a graca, dira: Jesus Cristo se incorpora aos homens, toma-os consigo, recobre-os de sua dignidade, fa-los como que um prolongamento de si mesmo, enquanto diz @ seu Pai: fazei por eles o que fazeis por mim, ponde neles o que pusestes em mim, éssa graca san- — tificante que 6 uma participacio A vossa divindade, — que torna a criatura semelhante ao seu criador, ca- 64 paz de atos sobrenaturais e, portanto, mais divinos que humanos; que a heranca A qual me dé direito ‘© titulo de Filho de Deus Ihes seja também dada, para que assim se tornem meus co-herdeiros. Mas, segundo os textos da Sagrada Eseritura, é preciso ir mals longe e dizer que © Cristo concorre fisicamente em nés & produgio da graca. Natural- mente 6 Deus mesmo quem derrama a graga na alma; serve-se, porém, da Humanidade de Cristo como de um instrumento que lhe ¢ unido. O ins- trumento, diz S. Tomas (3 p., q. 62, a. 5), pode mui- to bem ser distinte daquele que o emprega, assim o agolte é distinto daquele que bate; mas a mao 6 um. dnstrumento intimamente lgado ao agente. Assim Deus derrama a graca, é a causa produtora, mas & humanidade de Cristo ¢ seu instrumento conjunto, € 05 sacramentos sos seus instrumentos distintos, Esta é a doutrina de S. Tomas e da maior parte dos tedlogos. Ha, por conseguinte, agio de Jesus em nossas almas para neles derramar gragas, tanto as gragas atuals, concedidas aos proprios pecadores, como a graca santificante, com as virtudes e os dons. Ora, toda a acAo supde presenca e contacto; ha, pols, uma yerdadeira unido entre Cristo e os homens, uniso de ordem tio clevada e tao intima que a lin- guagem humana nfo a pode explicar: permanece um mistérlo enquanto vivemos nas trevas da fé; sabemos que os lagos que nos unem ao Cristo sio lagos intimos, mas niio Ihes percebemos seniio im- perfeitamente a natureza, 3, O amor que Jesus nos tem fa-to desejar unirese ad 168. For outro lado deyemos compreender bem qué essa, unidio € o efelto do amor inefavel do Verbo eter- no para com os homens, seus irmdos, e por ai a dou- Q Ideal — 5 65 trina do Corpo mistico se prende estreltamente & doutrina do Sagrado Coragio. © amor tende & unifio; ¢ uma forga unitiva, vis unitiva:“O amor, diz 3. Francisco de Sales, ou- tra coisa née é seni a unifio do amante ao objeto do seu amor”. Foi o amor que leyou o Verbo encar- nado a estreltar num forte abraco todas as almas. que velo salvar, guard4-las intimamente unidas & sua Pessoa divina ¢ a Ihes comunicar sua vida e todos os seus bens. Essa unifo, ele a realiza em pri- meiro lugar pelo batismo, “O cristo, diz S. Leao, depois do batismo nao 6 o mesmo que antes: esta preso pelo Cristo; prendeu-se ele mesmo a Cristo; tanto que a carne do batizado se torna a carne do crucificado. Susceptus a Christo, Christumque susci- piens, non idem est post lavacrum qui ante baptis- mum fuerat, sed caro regenerati fit caro crucifizt (Sermo XIV de Passione). Essa unido operada no batismo nfo bastou ao Coracéo de Jesus; quis nos provar melhor ainda o seu ardente desejo de uma uniio intima quando instituiu 0 sacramento da Eucaristia. Ali, nos diz S. Griséstomo, ele misturou-se a nds, pos o seu corpo nO nosso, a fim de que no fizéssemos sendo um, assim como a cabeca € 0 corpo ndo fazem sendo um: aque- les que amam com um amor ardente tendem a unir— sé desse modo (Brevidrio, sibado na ojtava de Cor- pus Christi) . N4o podemos negar esse desejo de unio, pols 0 encontramos em nés. E’ certamente agradavel a um corac&o flel permanecer junto ao taberndculo; mais agradavel ainda contemplar com seus olhos a hés- tla santa exposta as suas adoragdes e, para aproxi- mar-se de seu Deus, a alma fervorosa se arranca as suas ocupagdes, impGe-se sacrificios. Entretanto essa alegria de séntir-se a dois passos de seu Salva- dor nfo Ihe basta; aspira a recebé-lo no mais in- timo de si mesma, tem sede da comunhfo, e 0 ban- 66 quete euearistico Ihe causa as slegrias mais vivas e mais profundas. J& que o desejo de uniao é o efetto natural do amor, como n&o se encontrarla no Coragéo de Je- Sus, que Nos ama incomparavelmente mais do que nés a ele? Por conseguinte ¢ impossivel conceber 0 quanto nosso Senhor aspira a unir-se as crlaturas humanas. Como ele pode tudo quanto quer, realiza sempre de um certo modo essa unifio, Mas, respeitoso da liberdade de suas criaturas, une-se-Ihes por la- cos mais ou menos estreitos, conforme se prestam, ou nao, ao seu convite. A todos que estéo sobre a terra, aqueles mesmos que nunea a aceltaram, ele oferece a unifio completa, € esses convites afetuosos do Coragdo de Jesus, junto aos direitos que jA ad- quiriu sobre as almas, pelo muito que padeceu por elas, crla j4 um laco entre ele c essas almas culpa- das, E’ porque Nosso Senhor disse & bem-aventurada Varani; “Eu sou a cabeca de um corpo do qual to- dos os cristios sio os membros e do qual muitos me foram, me sfo, ou me serao arrancados pelo pecado mortal”. Nosso Senhor chama também 4 unido perfeita aqueles que se converteréo um dia e que, embora ndo Ihe estejam unidos, nem mesmo pela f6, 8&0, entretanto, o objeto de suas solicitudes e de suas amorosas esperangas. Aqueles que se encontram no pecado, mas que tém fé, esto presos a ele por mais tm lago, ¢ esse laco Ihes vale, mais que aos descren- tes, socorros, luzes, gracas atuais, embora permane- gam ainda imperfeitos, pols a selva divina da gra- ga santificante nfo passa do cepo aos ramos parti- dos. A uniao verdadelramente vivificante é a que existe entre as almas fiéis e Cristo; essas almas re- cebem os influxos divinos, e o Salvador derrama so- bre elas as ondas da vida divina, cuja plenitude possul. Entretanto, encontram-se ainda nas almas imperfeitas numerosos obstaéculos que impedem Je- 5 67 gus de agir nelas conforme desejaria. Ditosas, mil yezes ditosas as almas perfeitas, sobre as quals Je- sus pode, segundo os desejos de seu Coracho, difun- dir seus dons, e As quais se pode dar a si mesmo, misturando-se & sua vida, comunicando-lhes suas idélas, seus sentimentos, seus desejos, suas virtu- des, manifestando-lhes por inspiragdes diversas 0 que delas espera, levando-as a realizd-lo, ajudando-as e agindo nelas e por elas. Assim, pelos seus intimos, Jesus continua a grande obra que velo fazer na a terra, E’ o que levava S. Paulo a dizer: “O que falta aos sofrimentos de Cristo, em minha prépria carne, eu 0 completo por seu corpo que 6 a Igreja” (Col 1, 24). No Ihe disse Jesus, nas portas de Damasco, que era ele mesmo o perseguido na pessoa dos seus fiéis? (At 9, 5), E o sangue dos martires que thes enrubesceu as yestes, n&o foi também chamado o sangue do Cordeiro? (Apoc 7, 14). E, no entanto, essa unido to preciosa no ¢ ainda’ a unio perfeita, pols a tnica que merece este nome € a que existe entre Jesus Cristo e 08 eleitos. Aquela que o Senhor estabelece aqui na terra pela comunhdo ¢ tio estreita quanto possivel, mas, é passageira ¢ permanece obscura, por se ocul- tar o Verbo sob a yeu das espécles sacramentals, mas, no céu, a comunho, que sera certamente tho intima quanto a da terra, sera perpétua e sem véus. As mais vivas alegrias que a comunhfio sacramental proporeiona neste mundo as almas mais santas, nfo so senfio uma sombra das que proporelonaré a co- munhio celeste. No céu ver-se- claramente que 0s eleitos sio os membros de Cristo e que o Cristo esta verdadelramente todo em todos: Omnia et in omnt- bus Christus (Col 3, 11); no céu o corpo mistico de ‘Jesus se revela em sua perfelta unidade e em todo ‘© seu esplendor. Essa unido tho estrelta que, em seu imenso amor, 0 Coraeéio de Jesus forma com suas criaturas, incor- 68 porando-as a si, fazendo de cada uma delas como que o prolongamento de si mesmo, explica as suas palavras sobre a caridade fraterna: “O segundo mandamento: amards o teu préximo, 6 semelhante no primeiro; amarés ao Senhor teu Deus. Tudo quan- to tiverdes feito ao menor de meus irméos, a mim mesmo o tereis feito. Eu tive fome e vés me allmen~ taste, tive sede e me destes de beber, estava sem abrigo ¢ me recolhestes, estava nu e me cobristes, estava doente e me visitastes’”. 4, Como nos devemos manter unidos a Jesus. Dessa doutrina do corpo mistico de Cristo, os autores espirituais, principalmente no séeulo XVII, tiraram aplicacées pratieas que sfio mui consolado- ras e lindas. Ouvi Budes (Reinado de Jesus, parte II): “Jesus, Filho de Deus e Filho do homem... nfo sendo somente nosso Deus, nosso Salvador ¢ So- berano Senhor; mas mesmo, sendo nossa cabeca e nés os Scus membros e seu corpo, diz 8. Paulo, osso de seus ossos, e carne de sua carne (Ef 5, 30) e, por conseguinte, estando unidos a ele pela unio mais intima que possa existir, tal a dos membros & eabega; unidos a ele espiritualmente pela fe e pela graca que nos deu no santo batismo; unides a ele corporalmente péla unidéo do seu santissimo corpo com o nosso na santa Eucaristia, segue-se dai neces- sariamente que, como os membros sio animados do espirito da cabeca e vivem de sua vida, assim tam- bém devemos estar animados do espirito de Jesus Cristo, viver de sua vida, caminhar em suas veredas, revestir-nos de seus sentimentos e inclinagoes, fazer todas as nossas agdes nas disposigées e intengdes com que ele faz as suas, em uma palavra, continuar a tealizar a vida, a réligiio e a devogio gue ele exerceu sobre a terra”. Nao sfio estas palavras um excelente comenti- 69 rio aos conselhos do grande apéstolo: Induimini Je- sum Christum, ‘““Revesti-vos de Jesus Cristo” (Rom 13, 14). Induite novum hominem, “Revesti-vos do homem novo” (Ef 4, 24). Hoc sentite in vobis quod et in Christo Jesu, “Animai-vos dos sentimentos que animam a Jesus Cristo” (Filip 2, 5). 8. Jodo Eudes apresenta numerosos textos para estabelecer essa doutrina: “No ouvis aquele que & a propria verdade dizer em diversas passagens de seu Evangelho: “Eu sou a vida; e eu vim para que tivéssels a vida. Vos nfo quereis vir a mim a fim de ter a vida. Eu vivo e vos vivercis. Nesse dia sa~ bereis que eu estou em meu Pai e yds em mim € eu em vés" (Jo 6; 10, 10; 5. 40; 14, 19, 20). Isto 4, assim como eu estou em meu Pai, vivendo da vida de meu Pai, a qual ele me vai comunicando, assim também vés estais em mim, vivendo da minha vida, e eu estou em és, comunicando-vos essa mesma vida, e assim eu vivo em vés e v6s vivereis comigo e em mim. E o discipulo bem-amado nfo nos clama também que Deus nos deu uma vida eterna e que essa yida esté em seu Filho, e que aquele que tem em si o Filho de Deus tem a vida; e, ao contrario, aquele qtie nfo tem o Filho de Deus em si, nfo tem a vida (1 Jo 5, 11, 12); e que Deus nos enviou seu Fi- Tho a0 mundo, a fim de que vivamos por ele (1 Jo 4, 9); e que estamos neste mundo como Jesus aqui esteve (Heb 2, 17), isto ¢, que estamos em seu lu- gar e que deyemos viver como ele mesmo viveu? E no Apocalipse, nfo nos anuncla que o esposo bem-amado de nossas almas, que ¢ Jesus, val sem- pre pregando e dizendo: “Vinde, yinde a mim e que aquele que tem sede venha ¢ tome agua da vida gra- tuftamente” (Apoc 22, 17), isto é, que venha e beba em mim a dgua da vida?,.. (Jo 7, 37). E que nos prega a cada instante o divino ap6s-_ tolo S. Paulo, senfio que estamos mortos e que a nossa vida esta escondida com Cristo em Deus (Col 70 3, 3); que o Pai eterno nos vivificou com Jesus Cris- to e em Jesus Cristo (Ei 2, 5; Col 2, 18), isto €, que nfo somente nos fez viver como seu Filho, porém em seu Filho, e da vida de seu Filho, ¢ que deve- mos manifestar e fazer transparecer a vida de Je- sus €m nossos corpos (2 Cor 4, 10, 11), que Jesus Cris~ to ¢ nossa vida (Col 3, 4)?... Em uma outra passa- gem, falando aos eristios, diz que pede a Deus que os torne dignos de stia vocagho (do seu chamado), que realize plenamente nesses cristiios todos os de= signios de sua bondade e da obra da fé, a fim de que o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo seja glo- rificado neles e eles em Jesus”. Unir-nos a Jesus, pedir-ihe que trabalhe em nés, sofra em nés, interceda por nds, e nos considere co- mo um membro do Cristo, um instrumento que ele mesmo deve por em movimento, um érgao que de- ve animar, 6 uma pratica que consola e fortifica! Quando agimos, quando cumprimos com os nos- sos deveres de estado, sentimos vivamente a nossa impoténcia; quando sofremos, verificamos, com pe- sat, que nAo sabemos sofrer; quando rezamos, re- conhecemos a nossa indignidade e temos consciéncia de que as nossas oracles em nada podem glorificar a Deus. Unamo-nos, pois, a Jesus, pecamos-Ihe para cumprir por nds todas essas santas obrigagdes e de- pois consolemo-nos; Jesus, a quem chamamos, vem; ele acelta de trabalhar, sofrer, e orar em nos e de dar a todas as nossas obras uma dignidade, um mérito ¢ uma cficdcia que nao teriam sem ele, “E’ preciso, eserevia 8. Margarida Maria a uma visitan- dina de Moulins, que nos consumamos todas nessa fornalha ardente do Sagrado Corac&o do nosso ado- ravel Mestre... ¢ depois de termos lancado o nosso coracko, todo cheio de corrupg6es, nas chamas di- yinas do puro amor, ai devemos tomar um outro, novo, que nos faca viver para o futuro de uma vida renovada... 6 preciso que esse divino Coragho de aL Jesus tome de tal modo o lugar do nosso, que s6 ele viva e atue em nés @ por nds, que sua vontade man= tenha a nossa por tal forma aniquilada, que possa — agir sem resisténcia alguma da nossa parte; enfim, que seus afetos, pensamentos e desejos tomem o Iu- gar dos nossos, mas principalmente o seu amor, que se amar a si mesmo em nds e por nds” (Obras, t. II, p. 468). Todos conhecem a bela oragho do padre Olier: “O? Jesus, vivendo em Maria, vinde e vivei em nds, com o yosso espirito de santidade, na plenitude do yosso poder, na perfeigao de vossas veredas, na ver- dade de vossas virtudes, na comunhio de vossos di- ¥inos mistérios; dominal em nds todas as foreas ini- migas, na virtude de vosso Espirite e para a gloria Ge yosso Pai”. Assim também, que Jesus reproduza em n6s suas virtudes, comunicanda-nos as disposi- g5es que o animavam nos diversos mistérios de sua vida mortal, 2 humildade de sua encarnagao, a po- preza de seu nascimento, o recolhimento de sua vi- da escondida, o zelo de sua vida publica, o fervor de suas oracdes, a gencrosidade de sua imolacio, para gue Deus veja em cada um de nds, nfo mais a eria- tura com seus membros, porém, a imagem fiel, a fotografia de seu divino Filho em quem pés todas as suas complacéncias. Digo mais: que ele vela em nés o proprio Jesus cobrindo-nos, enyolvende-nos, escondendo-nos em si, Jess animando-nos, movi- mentando-nos, agindo em nds e por nds. Eis as aplicacbes desta bela doutrina: nés so- mos os membros do corpo mistico de qual Jesus ¢ a eabeca; cada membro esta sujelto a sua infiuéncia divina ¢ dele recebe gragas, ao menos gragas atuais; Jesus ama cada um de nés com um amor inefavel € esse amor faz com que ele sé mantenha unido a todos por ume, unido que deseja tornar cada vez mais estreita, cada vez mais perfeita. Devemos, por conse- guinte, ver Jesus em nosso proximo. Deyemos vé-lo 12 também em nds ¢ vivermos Intimamente unidos a ele, penetrando-nos de suas idéias, de seus senti- mentos, unindo nossas intengGes as suas intengdes, nossas oragdes &s suas rages, mossos trabalhos e nossos sofrimentos aos seus trabalhos ¢ aos seus sofrimentos, sacrificande constantemente nossa von- tade em favor da sua, e agindo em tudo com ele & como cle, ¢ ele mesmo fara o resto. Auxiliard os nossos esforcos, impregnar-nos-4 Ge suas gragas, CO- municar-nos-& suas luzes, suas afeighes, sua forga, animar-nos-4 e conduzir-nos-A pelo caminho da per- feicho. Fara de nés um outro Jesus, e entio pode- remos dizer: “N&o sou mais eu quem vive, ¢ Jesus quem vive em mim” (Gél 2, 20). CAPiTULO VI Da transformagao da alma em Deus 1. Deus quer imprimir no homem a sua imagem. Para resumir em uma 86 palavra toda a ordem da vida espiritual, basta dizer: “a vida espiritual 6 © conjunto do trabalho da graca e dos esforcos da liberdade humana, a fim de reproduzir na alma a gemelhanc¢a perfeita com Deus; toda a vida espiri- tual, dizem os santos Doutores, tende 4 unifio ¢ A . transformagio da alma em Deus”. “Fagamos o homem a nossa imagem e seme Ihanga”, havia dito o Senhor no dia da criacio. O pecado original velo destruir o plano divino; Deus, porém, recomecou sua obra e a prossegue em cada um de n6s. O trabalho de assimilagio comega no batismo, quando Deus derrama na alma do batizan- do.a sua graga santificante com as virtudes e os dons inerentes; a alma recebe ent&o como que uma emanac&o da Divindade, que Ihe penetra a subst&n- cia e as faculdades, dando & primeira uma beleza divinal ¢ &s outras o poder de operar divinamente, tornando-a participante da natureza divina: divinae consortes nature (2 Ped 1, 4). Mais tarde, quando a alma estiver em estado de produzir atos, Deus, por stias gragas atuals, agira ainda sobre ela, e essa acho tenderé a torna-la cada vez mais semelhante @ ele pela pratica das virtudes. 14 Deus tende, portanto, a reproduzir-se. Como o calor aquece e a luz ilumina, Deus deifica, isto ¢, torna semelhante a si. Cada um de seus atributos, operando sobre a alma, imprime-lhe a sua seme- Thanga, Sua sabedoria torna as criaturas Sibias; sua bondade torna-as boas; sus milsericérdia torna-as compassivas e indulgentes; sua longanimidade tor- na-as suaves e pacientes; stia verdade torna-as hu- mildes; enquanto sua puteza purifica-as, seu amor abrasa-as, Cada ato de virtude que praticamos 6 a reproduefio de um desses atributes, a participagdio a uma dessas perfei¢des e cada pecado que comete- mos 6, pelo contrario, a repulsao de um atribute di- yino, constrangido a manter-se inativo, ¢ 0 empeci- Tho a uma obra de Deus, aniquilada. O homem, e também o anjo, embora criados livres, tém o triste poder de encadear, por um momento, a Deus. Por um momento apenas, posto que, sobrevindo a morte, Deus retoma a sua obra: quebram-se en- {fo as barreiras opostas pela liberdade humana & operacdo dos atributos e a atributo divino age com um poder tanto mais terrivel quanto mais compri- mide fora, Os obstéculos que a alma opusera & ope- ragdo divina, por suas resisténcias, permaneceram hela, s¢ a peniténcia que expla e repara nfo os ti- yer destrufdo. Entao, quando os atributes divinos tornam novamente a liberdade, agem como vinga- dores e desenvolvem contra esses obstAculos uma atividade consumidora e dolorosa, Se os obstdculos, por parte da criatura, sao faltas mortais no retratadas, se, por conseguinte, se encontram em uma alma rebelde, definitivamente desviada de Deus e apegada ao mal, os atributos di- yinos cumprirfio eternamente sua obra de justica e serio um fogo que consumira o réprobo. Como a von- tade do culpado, mantendo-se rebelde, sustentara etermamente esses elementos perversos, a ac&o vin- gadora encontraré sempre matéria na qual se exer- 16 cer e os tormentos serio sem fim. Deus, presente em toda parte, atua em toda parte, ¢, nas eriaturas livres, erladas para lhe reproduzirem a imagem, a influéncla divina tende a imprimir sua pureza, sua santidade, seu amor no condenads. Essa ago divi- na, indo de encontro a uma vontade rebelde, fixada eternamente no édio a tudo quanto é pureza, san- tidade © amor, causa terrivels torturas. Se a vontade renunefou ao mal, voltando-se para Deus, os atributos divinos irao, pouco a bouco, con- sumindo 08 obstiiculos que, maculando a alma, se opuseram, outrora, 4 sua acio amorosa, ¢ destruindo tudo que Ihes for contrario ou Ihes vele o esplendor; esses atributos, porém, nfie acrescentatio nenhum outro esplendor 4 alma, como fasem, antes da mor= te, Aquela que se preston a sua acao, e na qual pe- netram mais profunda, e se dilatam mais ampla- Mente. Assim ¢ que cada ato e mesmo cada pensa- mento que tiver contrariado voluntariamente a vie da divina, ou sido uma berreira 4 expansfio, ao der- Tamamento em nds da luz, da bondade, da pacién- ela, da caridade divina, sera um alimento para as chamas vingadoras. Essa obra de destruieSo, essa purificagéo das faltas, que se fara no purgatério, serd tanto mats dolorosa, quanto mais graves @ mais numerosas tiverem sido as resisténcias e tanto mais Jongas quanto mais tempo tiverem durado. Felizes dos que n&o esperam as penas horrivels do purgatorio para se desembaragarem das manchas do pecado, € que se aplicam em tornar-se jA neste mundo um espelho fiel da Divindade! Nessas almas Justas, cada atributo divino produz o seu fruto, ape- Ta @ sua semelhanga; sua acho, amorosamente ofe- recida por Deus, 6 amorosamente aceita pela alma, Deus diz & sua criatura: Queres que a minha luz te ilumine, que a minha bondads, a minha Paciéncla, & Minka catidade se comuniquem a ti? Custar-te-a UM pouco, pois sera preciso que as oposigées de tua 76 natureza pervertida sejam aniquiladas, porém te tor- harés cada yer mais semelhante a mim. FE a alma fiel aceita generosamente e participa das perfeig6es de Deus. B essa participagio pode ser de todos os instan- tes. Cada um de nossos atos de virtude é portanto como o transbordar da Divindade em nossas almas; e@ como essas so recipientes de uma capacidade imensa, e como ¢ infinito o oceano das perfelebes divinas, ao qual nos desalteramos, as almas genero- sas e fidelissimas, que se abrem, néo pela metade, mas completamente, tornam-se maravilhosamente mieas. A Divindade as cumula de bens; tendo em si toda a beleza, as embeleza e transfigura; sendo a onipoténeia, as fortifica; sendo a prépria santidade, a8 aperfeigoa e santifica. Sera necessirlo acrescentar que essa participa- ¢So nos atributos divmmos comporta inumeros graus? No comeco da vida espiritual, o trabalho da al- ma consiste em Iutar contra as inclinacoes viciosas, em afastar os atos pecaminosos, sendo-Ihe necessa~ tio refletir e recorrer a longas consiceracées. E° por- que se decide mais ou menos lentamente a evitar 0 mal @ praticar 0 bem. De certo a virtude assim praticada 6, naturalmente, obra da graca divina ¢ @a liberdade; mas, no meio dessas dificuldades do espirito, que procura esclarecer-se, ¢ das lutas da vontade que quer sair de sua indecisfo, a graca nao tem plena facilidade de exercer sua agio € 08 atributos n&o se reproduzem sendo imperfeitamente. 2. Devemos afastar tudo que nos impede de nos assemelhar a Deus e nos detzar purificar. © primeiro dever da alma deve ser, pois, destruir tudo quanto nela se opde a agio da graga e, pelas vitérlas sobre seus defeitos, pelos sacrificios genero- sos, diminuir-Ihe as mas tendéncias e fortifiear-Ihe 7 as boas disposigées. As primeiras vitérias atraem sobre a alma novas gracas, e mormente as luzes que Ihe fortalecem e fluminam a fé, Penetra entéo na vida de piedade. Mais esclarecida, torna-se capaz we eae fas altas; tem menos dificuldades e 44 aiores méritos; sua semelhanga com = ‘tua cada vez mais, (20 ee eae Restam-lhe ainda, porém, numerosos obstdcwlos, que, sem fazer uma oposicio radical & graca, lhe ‘olhem ainda a ache. Quantas condescendéncias consigo mesma, mais ou menos confessadas, quanta Procura de satisfag6es pessoais, quanto amor proprio sempre vivo, quanto apego secrete em que o espirito s€ compraz e se perde, quantos sentimentos, pura- mente naturais, desejos, preocupagdes, dores e ale- gtias que nada tém de divino e que impedem a assi« milagéo do homem ‘a Deus! O dever da alma pie- dosa € afastar para bem longe de si todas essas imperfelgdes, esquecendo-se, tendo-se em conta de nada, renunciando-se continuamente. “Desde que nos despojamos de nés mesmos, dizia Ss, Vicente de Paulo, Deus nos enchera de si, pois ele nao pode on © vazio'. ES. Joana de Chantal dizia tam- bem: “Quanto mais nos despolarmos de tudo que nao ¢ Deus, tanto mais ele nos enchera de si mesmo” ‘Obras, t. II, p. 264). Deus enche de si aqueles qué se esvaziam de sl mesmos, Quao fecundo 6 esse prin eipio! Esvaziar o espirito, esvaziar o coracio de tudo que nilo é divino ou Sobrenatural, tal € o grande meio de que dispde a alma pledosa para atrair so. bre si os dons de Deus. Entretanto, mesmo og que trabalham tlelmente nesse sentido, nao conseguiriam purificar o espirito e 0 coraeso, se o Senhor os no ajudasse por proyagGes muito penosas e longas, po- rém eminentemente salutares, : 2) Vida, por Abelly, 1. I, cap, XXI, Ver nos Pala 11 1, cap, 1. Ver ras Divinas, XXX, 25, como o Senkor prometeu oncher de seus dons aqueles que se esvaziarem de si mesmos, ‘ 78 A Sagrada Escritura insiste em dizer que a alma justa precisa desembaragar-se de suas impurezas, como o ouro precisa passar pelo fogo para se purifi- car das escérias que Ihe embaciam’o fulgor. “O Senhor conhece o meu caminho, diz 0 santo homem Job a Hlifaz, isto é, sabe que me experimenta como #0 ouro que passa pelo fogo: probavit me quast au- rum quod perignem transit” (Job 32, 10). “Como A prata é posta 4 prova no crisol, e ¢ ouro ¢ puri- ficado no forno, assim o Senhor experimenta os coragées” (Prov 17, 3). “As almas dos justos es- iGo nas m4os de Deus... Se aos olhos dos homens sofreram penas... foi que Deus os experimentou e os achou dignos de si; ele os pos & prova como o oure na fornalha” (S&b 3, 1-16). “O ouro € a pra- ta se experimentam mo fogo, e os homens agradé- veils a Deus, no crisol da humilhacio” (Ecli 3, 5). Em Zacarias (13, 8), 0 Senhor, depois de declarar que castigaraé os culpados, falando dos que forem fils, diz: “Parel passar esta terceira parte pelo fogo; eu a purificarei como se purifica a prata; eu a ex- perimentarei como se experimenta o oure”. “O Se- nhor, diz Malaguias (3, 3), se assentard como aquele que funde e purifica a prata; purificaré os fithos de Levi e os tornara puros como o ouro e a prata e eles oferecerao entao sacrificios ao Senhor em toda a santidade”, “Deveis alegrar-vos, escreve 0 apéstolo S. Pedro, embora vos seja necessario passar ainda algum temipo por diversas provagdes, a fim de que @ vossa f6, assim provada, mais preciosa que o ou- To que se experimenta na fornalha, vos seja um motive de louvor, de gloria e de honra quando se manifestar o Cristo Jesus” (1 Ped 1, 7). “Meus bem-amadis, nio vos surpreenda o fogo ardente que serve para vos provar, como se fosse uma coisa ex- traordinaria” (Ibid. 4, 12). ‘As gragas purifieadoras so necessirias e pre- cedem as gragas transformadoras. Cada vez que 0 79 Senhor se dispSe a conceder & alma gracas mais elevadas, mals. iliuminativas, mais aptas a tornd-la semelhante a si, ele a prepara por provacdes que lhe consomem os elementos impuros, ¢ essas purlficagdes sucessivas sio tanto mais rigorosas, quanto mais a alma se adianta na santidade, Nos designios de Deus, sem diivids, essas provagdes devem aumentar © mérito dos justos, e tornar-lhes mais poderosas as intereessées em favor de seus irmaos, mas ex- plicam-se também, principalmente na primeira fase de sua vida, antes que tenha chegado & santidade consumada, pela necessidade que sentem esses ge- nerosos servos de Deus de se libertarem, nao somen- te dos vestigios do pecado, mas de tudo quanto ain- da tém de muito natural, de muito, ouso dizer de demasiadamente humano, Com efelto, toda preci- Pitagio, todo ardor natural é um obstaculo & ex- pansio completa da graca, e impede a plena trans- formacio da alma em Deus, As almas pouco arden- tes.na rentincia julgam-se muito provadas quando seu amor proprio é- humilhado, quando sua vontade € contrariada, quando sofrem quaisquer privag6es ou dores fisteas, So, de fato, provagdes, porém 0 mais das vezes nAo atingem sen&o a superficie da alma, € quem n&o passou por outras, ndo pede ter senfio virtudes pouco profundas. As provagées que purificam deveras s4o aquelas que penetram até ao &mago da alma, 3. A alma, enquanto se purifica, diviniza-se. S40 numerosos os exemplos dessas provacées ss lutarés na vida dos grandes amigos de Deus. Um dos personagens santos, no qual sobressai a obra purifi- cadora da graca e os efeitos de transformacho que Produz, 6 6 padre Oller, Tendo alcangado um grau herdéico no amor de Deus, e havendo atingido, depois de dez anos de rigorosas peniténcias, um gran de pureza eminente pela pratica constante de virtudes 80 # admirivels ¢ por provagies de toda sorte que a Providéncia Ihe preparou, foi reduzido a um estado de invalidez completa. Suas faculdades sofreram uma espécie de paralisia, sua intellgéncia ficou em- botada, sua yontade, entorpecida, Aprendeu por ai a ndo ter mais conflanca alguma em seu talento, a nao procurar apoio algum em suas qualidades na- turais ¢ sim a tudo esperar do influxo da graga. Deus the conceden ent&o o favor de uma unffio extraordinaria com Jesus Cristo, que o fez partici- par, tanto quanto possivel, dos atributos divinos. “Nesse estado, diz ele, parece que tanto o homem exterior, como o interior n&éo tem outra vida senao a de seu divine chefe, porquanto a alma nfo pode descobrir em si outro principio que lhe inspire as gedes e os sentimentos, senfio a Jesus Cristo que nela vive e opera, Eu sinto-lhe a direco no em- prego de minhas faculdades naturais, e mesmo até na composicio do corpo que era outrora 140 des- regrada, Sinto agora o Espirito de meu Senhor que me dirige na minha atitude, ma minha conduta, até nas minhas palavras,.. Quando quero escrever, sinto que esse divino Espirito quer conduzir e regu- lar tedos os movimentos de minha m&o. Eu me presto e me entrego a ele, como um instrumento que nio tem aco propria e pessoal... Difunde-se por toda o meu ser, como se estivesse no lugar de minha alma, como se fosse uma segunda alma a me animar e sustentar, e que se serve de todo o meu ser, como a alma dispde dos movimentos do cor- po, porém, com maior docura e malor forma... Experimento a mesina mudanca em relagko as fa~ culdades da alma e dos dons naturais. Em troca de trevas t@o espessas, tenho agora muitas luzes; em troca da confusio de meu espirito, tanta clareza em meus pensamentos; em troca de aridez desola- dora, efeltos t&0 bons; em troca dessa detestavel e funesta preocupagio de mim, mesmo, sentimentos 6 % ° al 1 O Tw de amor e de clevaesio f para Deus. Sou obrigado ep confessi-lo: ¢ 0 Espirito dlvino que assim me penetra € me possui” (Vida, por Falifon, I parte, 1. VII). Raros sio agucles que alcangam, ja nesta vida, uma unio te perfelta com Deus. As mais das ve- ze8, @ transformacSo apenas se faz sentir enquanto @ alma permanece na prisio do corpo. Inicia-se na via purgativa, desabrocha na via iluminativa, mas 86 se realiza na via unitiva, quando os dons do Es- pirito Santo operam abundantemente na alma. En- tio sera. habitualmente esclarccida, abrasada, pene- trada por esse divino Espirito, participando larga- mente das perfeigdes divinas, So, pols, principalmente as almas unidas a Deus que podem aplicar-se a grande palavra de 8. Paulo: “Refletinde como num espelho a gloria do Senhor, nés somos transformades nessa mesma ima- gem, com eésplendor sempre maior”, Gloriam Domini speculantes in eandem imaginem transformamur (2 Cor 3, 18). Essa imagem 6 a semelhanga do Cristo; os tra¢es de Jesus substitvem pouco a pouco os nos- © S08. Tornando-nes porém imagem do Cristo, torna- mo-nos ji por isso uma. imagem de Deus eada vez mais fiel, E essa transformacao se opera pela acto do Espirito Santo, que, transfigurando-nos, nos leva _ a subir de esplendor em esplendor: a claritate in elaritatem a Domini Spiritu. 4 Come ficou dito acima, quando, no momento da morte, a obra de purificactio nfo estiver ainda com- pleta, ira terminar-se no lugar de expiag&o; se ja estiver adinntada, ser muito menos penosa; além disso, as santas disposigdes que se encontram nas almas e que sio uma particlpagio As luzes © aos” sentimentos de Deus, Ihes abrandam as penas. No céu a alma sente em si os efeites beatificas dos atributes divinos, pois tudo quanto é divine traz em si alegria e felicidade. A alma bem-aven- turada, na qual as mais leves manchas so consu- . é 82 midas, 03 mais fraeos obstdculos sio aniquilados, sera entSo transfigurada perfeltamente, e divinizada. Participando das perfeicies de Deus na medida em que delas participou voluntarlamente sobre a terra, quanto mais se uniu pelas suas virtudes 4 divindade ativa, tanto mais participaré da divindade beatitica. “Meus bem-amados, éscreve o apéstolo S. Jo&o (1 Jo 3, 2), nos somos desde ja filhos de Deus, e 0. que seremos depois nfo nos fol manifestado ainda; sabemos, porém, que seremos semelhantes a cle: similes ei erimus. “O Cristo que esta todo em to- dos: omnia et in omnibus Christus, manifestar-se-A em cada wm dos eleitos. Vos cognoscetis quia ego sum in Patre et vos in me et ego in vobis (Jo 14, 20). Ego in patre et pater in me est (Ibid. 10), Saberetnos ent&o e veremos que Jesus vivera em nés e operara em nés, Jesus, que vivera em seu Pai e em quem seu Pal viveré; haverd, pols, uma uniao maravi- Ihosa, inefavel entre Deus e seus filhos, Embora deixando a cada um sua personalidade e sua liber- dade, Deus se mostrara como que penetrando e trans- figurando os eleitos. Veremos que nele vivemos, nos movemios, nele estamos: in ipso vivimus et movemur et sumus; veremos nossa substancia mantida por ele, nossos pensamentos, nossas vontades, nossas operacées procedendo ao mesmo tempo dele e de nés. Em nossa pessoa, ent&o toda purificada, toda lluminada, toda abrasada, tudo seré digno de Deus; sem cessarmos de ser criaturas, seremos como que divinizados, transformados em Deus, eujo plano, anunciado desde a origem, ser plenamente eum- prido. Faciamus hominem ad tmaginem et stmili- tudinem nostram: Iagamos o homem & nossa imagem e semelhanca, Erit Deus omnia in omnibus, Deus sera tudo em nés (1 Cor 15, 28). * o 83 is SEGUNDA PARTE DOS MEIOS DE OBTER A PERFEIGAO CAPITULO WII Da gracga divina 1. A predestinacdo divind e e cooperacde humana, “Deus quer a salvagio de todes o& homens: Deus vult omnes homtnes salvos fiert (1 Tim 2). Non est voluntas ante Patrem vesirum qui in caelis t, ut pereat unus ex pysillis istis. E’ a vontade de Vosso Pai que esta no céu que n&o s¢ perca um s6 de seus filhos” (Mt 18, 14). A todos oferece wracas suficientes para sé salvarem. Fle nfo quis, a priort, por decisio prévia, isto ¢, anterior a previ- sfo dos mérites e dos pecadns, salvar uns e perder outros: nem disse tio pouco: quero antes de tudo, e a todo custo, salvar Pedro e perder Judas, e por isso you conceder a Pedro gracas a que ha de cor- responder, e a Judas grages a que nado ha de cor- responder. Nao, no seu amor imenso, ele quer a sal- yanio cterna de todos, 2 podera diver | cada um dos condenados: Quid est quod debut ulire fa- vere ef non fect? Que deveria eu fazer por tl que néo tenha feito? (Is 5, 4). 4) Agneles » quem perturba a milslério de predostina- fio, lembremos estag palavras de 3, Agastinho: “Quais sa0 by eloltos? Voa, se o Qtigerdes", “Quis es iste’ Vos, si vultis!™ (in, Evang.-Joan. te, 26, =. 2). 0 86a foi proparadn pare ol bem, sede outros e 0 edu terd sido preparado in “Alig paratum est: ct, vos alii estote et vobis para- fur est, (In ps. 126, rn, 4). 87

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