Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FOUCAULT, Michel. “Os corpos dóceis”. In: Vigiar e punir. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014.
GALLO, Silvio. Deleuze e educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. (Os
textos são “Rizoma e educação” e “educação e controle”).
1
NOGUEIRA, Maria Alice e NOGUEIRA, Cláudio M. Martins. “A escola e o processo
de reprodução das desigualdades sociais”. In: Bourdieu e educação. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2009.
Trecho 1
Trecho 2
“Os recém-chegados à estação do Colônia eram levados para o setor de triagem. Lá, os
novatos viam-se separados por sexo, idade e características físicas. Eram obrigados a
entregar seus pertences, mesmo que dispusessem do mínimo, inclusive roupas e sapatos,
um constrangimento que levava às lágrimas muitas mulheres que jamais haviam
enfrentado a humilhação de ficar nuas em público. Os homens tinham ainda o cabelo
raspado de maneira semelhante à dos prisioneiros de guerra. Após a sessão de
desinfecção, o grupo recebia o famoso “azulão”, uniforme azul de brim, tecido incapaz
de blindar as baixíssimas temperaturas da cidade. Assim, padronizado e violado em sua
intimidade, seguia cada um para o seu setor. Os homens eram encaminhados para o
2
Departamento B, e os que tinham condição de trabalhar iam para o pavilhão Milton
Campos, onde, em razão dos pequenos dormitórios, ficam amontoados, sendo obrigados
a juntar as camas para que nem todos dormissem no chão.
As mulheres andavam em silêncio na direção do Departamento A, conhecido como
Assistência. Daquele momento em diante, elas deixavam de ser filhas, mães, esposas,
irmãs”.
Trecho 3
“Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame,
mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-
o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com
artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência
dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo
vistoso dos anúncios.
(...) A primeira vez que vi o estabelecimento foi por uma festa de encerramento de
trabalhos. Transformara-se em anfiteatro uma das grandes salas da frente do edifício,
exatamente a que servia de capela; paredes estucadas de suntuosos relevos, e o teto
aprofundado em largo medalhão, de magistral pintura, onde uma aberta de céu azul
despenhava aos cachos deliciosos anjinhos, ostentando atrevimentos róseos de carne,
agitando os minúsculos pés e as mãozinhas, desatando fitas de gaza no ar. Desarmado o
oratório, construíram-se bancadas circulares, que encobriam o luxo das paredes. Os
alunos ocupavam a arquibancada. Como a maior concorrência preferia sempre a exibição
dos exercícios ginásticos, solenizada dias depois do encerramento das aulas, a
acomodação deixada aos circunstantes era pouco espaçosa; e o público, pais e
correspondentes em geral, porém mais numeroso do que se esperava, tinha que
transbordar da sala da festa para a imediata.
(...) A bela farda negra dos alunos, de botões dourados, infundia-me a consideração tímida
de um militarismo brilhante, aparelhado para as campanhas da ciência e do bem. A letra
dos cantos, em coro dos falsetes indisciplinados da puberdade; os discursos, visados pelo
diretor, pançudos de sisudez, na boca irreverente da primeira idade, como
um Cendrillon malfeito da burguesia conservadora, recitados em monotonia de realejo e
gestos rodantes de manivela, ou exagerados, de voz cava e caretas de tragédia fora de
tempo, eu recebia tudo convictamente, como o texto da bíblia do dever; e as banalidades
profundamente lançadas como as sábias máximas do ensino redentor”.
3
elas e estabelecer uma conexão com as discussões feitas em sala de aula sobre o conceito
de SOCIEDADE DISCIPLINAR. O texto deve ter no máximo 20 linhas.
Trecho 1
“A ordenação por fileiras, no século XVIII, começa a definir a grande forma de repartição
dos indivíduos na ordem escolar: filas de alunos na sala, nos corredores, nos pátios;
colocação que ele obtém de semana em semana, de mês em mês, de ano em ano;
alinhamento das classes de idade umas depois das outras; sucessão dos assuntos
ensinados, das questões tratadas segundo uma ordem de dificuldade crescente. E nesse
conjunto de alinhamentos obrigatórios, cada aluno segundo sua idade, seus desempenhos,
seu comportamento, ocupa ora uma fila, ora outra; ele se desloca o tempo todo numa série
de casas; umas ideais, que marcam uma hierarquia do saber ou das capacidades, outras
devendo traduzir materialmente no espaço da classe ou do colégio essa repartição de
valores ou dos méritos. Movimento perpétuo onde os indivíduos substituem uns aos
outros, num espaço escondido por intervalos alinhados.
(...) “As disciplinas, organizando as ‘celas’, os ‘lugares’ e as ‘fileiras’ criam espaços
complexos: ao mesmo tempo arquiteturais, funcionais e hierárquicos. São espaços que
realizam a fixação e permitem a circulação; recortam segmentos individuais e
estabelecem ligações operatórias; marcam lugares e indicam valores; garantem a
obediência dos indivíduos, mas também uma melhor economia do tempo e dos gestos.
São espaços mistos: reais, pois que regem a disposição de edifícios, de salas, de móveis,
mas ideais, pois se projetam sobre essa organização caracterizações, estimativas,
hierarquias.”
(FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2014, P.144-
145).
Trecho 2:
“Foucault situou as sociedades disciplinares nos séculos VIII e XIX; atingem seu apogeu
no início do século XX. Elas procedem à organização dos grandes meios de
confinamento. O indivíduo não cessa de passar de um espaço fechado a outro, cada um
com suas leis: primeiro a família, depois a escola ("você não está mais na sua família"),
depois a caserna ("você não está mais na escola"), depois a fábrica, de vez em quando o
hospital, eventualmente a prisão, que é o meio de confinamento por excelência. É a prisão
que serve de modelo analógico: a heroína de Europa 51 pode exclamar, ao ver operários,
"pensei estar vendo condenados...". Foucault analisou muito bem o projeto ideal dos
meios de confinamento, visível especialmente na fábrica: concentrar; distribuir no
espaço; ordenar no tempo; compor no espaço-tempo uma força produtiva cujo efeito deve
ser superior à soma das forças elementares. Mas o que Foucault também sabia era da
brevidade deste modelo: ele sucedia às sociedades de soberania cujo objetivo ef unções
eram completamente diferentes (açambarcar, mais do que organizar a produção, decidir
sobre a morte mais do que gerir a vida); a transição foi feita progressivamente, e Napoleão
parece ter operado a grande conversão de uma sociedade à outra. Mas as disciplinas, por
sua vez, também conheceriam uma crise, em favor de novas forças que se instalavam
lentamente e que se precipitariam depois da Segunda Guerra mundial: sociedades
disciplinares é o que já não éramos mais, o que deixávamos de ser.
Encontramo-nos numa crise generalizada de todos os meios de confinamento, prisão,
hospital, fábrica, escola, família (...). Reformar a escola, reformar a indústria, o hospital,
o exército, a prisão; mas todos sabem que essas instituições estão condenadas, num prazo
4
mais ou menos longo. Trata-se apenas de gerir sua agonia e ocupar as pessoas, até a
instalação de novas forças que se anunciam. São as sociedades de controle que estão
substituindo as sociedades disciplinares. (...) No regime das escolas: as formas de controle
contínuo, avaliação contínua, e a ação da formação permanente sobre a escola, o
abandono correspondente de qualquer pesquisa na Universidade, a introdução da
‘empresa’ em todos os níveis de escolaridade.”
(DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 1992, P. 2019-220).
QUESTÃO: A partir da leitura dos trechos acima, escreva uma ANÁLISE sobre os
conceitos de “sociedade disciplinar” e “sociedade de controle”, tendo em vista o sistema
educacional brasileiro. O texto deve ter no máximo 20 linhas.
(...)
— Ora, que fiz eu para vir a esta profissão? continuou o Pitada. Fiz isto: desde os meus
quinze ou dezesseis anos, organizei o programa da vida: estudos, relações, viagens,
casamento, escola; todas as fases da minha vida foram assim previstas, descritas e
formuladas com antecedência...
(...)
A ideia do programa fixou-se no espírito do Romualdo. Três ou quatro anos depois,
repetia ele as próprias palavras do mestre; aos dezessete, ajuntava-lhes alguns reparos e
observações. Tinha para si que era a melhor lição que se podia dar aos rapazes, muito
mais útil do que o latim que lhe ensinavam então.
5
Uma circunstância local incitou o jovem Romualdo a formular também o seu programa,
resoluto a cumpri-lo: refiro-me à residência de um ministro, na mesma rua. A vista do
ministro, das ordenanças, do coupé, da farda, acordou no Romualdo uma ambição. Por
que não seria ele ministro? Outra circunstância. Morava defronte uma família abastada,
em cuja casa eram frequentes os bailes e recepções. De cada vez que o Romualdo assistia,
de fora, a uma dessas festas solenes, à chegada dos carros, à descida das damas, ricamente
vestidas, com brilhantes no colo e nas orelhas, algumas no toucado, dando o braço a
homens encasacados e aprumados, subindo depois a escadaria, onde o tapete amortecia o
rumor dos pés, até irem para as salas alumiadas, com os seus grandes lustres de cristal,
que ele via de fora, como via os espelhos, os pares que iam de um a outro lado, etc.; de
cada vez que um tal espetáculo lhe namorava os olhos, Romualdo sentia em si a massa
de um anfitrião, como esse que dava o baile, ou do marido de algumas daquelas damas
titulares. Por que não seria uma coisa ou outra?
(...)
Tinha preparatórios o Romualdo; e, havendo adquirido com o advogado certo gosto ao
ofício, entendeu que sempre era tempo de ganhar um diploma. Foi para S. Paulo,
entregou-se aos estudos com afinco, dizendo consigo e a ninguém mais, que ele seria
citado algum dia entre os Nabucos, os Zacarias, os Teixeiras de Freitas, etc.
(...)
Os anos, com o seu grande peso no espírito do Romualdo, cercearam-lhe a compreensão
das ambições enormes; e o espetáculo das lutas locais acanhou-lhe o horizonte.
(...)
(MACHADO DE ASSIS, J. O programa. In: Obra Completa, de Machado de Assis,
vol. II, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000181.pdf>. Acesso em: 02 de
setembro de 2017).
QUESTÃO: Apesar de seu empenho e dedicação, Romualdo não consegue atingir seus
objetivos iniciais. Dessa forma, ESCREVA UM PEQUENO TEXTO, refletindo como
a história de Romualdo se relaciona com os conceitos de CAPITAL CULTURAL e com
a ideia de Bourdieu de que a escola serve para REPRODUÇÃO DAS
DESIGUALDADES E DA ESTRUTURA DA RELAÇÃO ENTRE AS CLASSES. O
texto deve conter no máximo 20 linhas.