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A escola conservadora: as desigualdades frente a escola e 4 cultura Pierre BOURDIEU** E provavelmente por tam efeito de inércia culteral que con- finuamos tomando o sistema escolar como um fator de mobil- dade social, segundo @ ideologia da "escola libertadora”, quando, ao contrério, tudo tende a mostrar que ele é um dos Satores mais eficazes de conservacdo social, pois fornece a ‘aparéncia de legitinidade as desigualdades sociqis, ¢ sanciona heranca cultural e 0 dom social tratado como dem nattaral. Sustamente porque os mecanismos de climinagéo agem durante todo o cursus***, ¢ legitimo aprender 0 efeito desses mecanismos nos graus mais elevados da carreira escolar, Ora, vé-se nas oportunidades de acesso 20 ensino superior o resul- tado de uma selegdo direta ou indireta que, ao longo da esco- laridade, pesa com rigor desigual sobre os sujeitos das dife- rentes classes sociais, Um jovem da camada superior tem oi- fenta vezes mais chances de entrar na Universidade que 0 fi- Tho de um assalariado agricola e quarenta vezes mais que um filho de operério, e suas chances so, ainda, duas vezes supe~ Flores aquelas de um jovem da camada média.! £ digno de no- tao fato de que as instituigGes de ensino mais elovadas tenham também orecrutamento mais aristocrético: assim, os filhos de quadros superiores e de profissionais iberais constituem 57% dos alunos da Escola Politéenica, 54% dos da Escola Normal Superior (freqientemente citada’ por seu recrutamento “‘de- mocritico", 47% dos da Escola Central e 44% dos do Institu- to de Estudos Politicos. ‘Mas nao é suficiente enunciar 0 fato da desigualdade diante da escola, € necessario descrever os mecanismos objeti- vos que determinam a climinagdo continua das criancas das classes mais desfavorecidas. Parece, com efeito, que a expli- casio sociolégica pode esclarecer completamente as diferen- 4528 de éxito que se atribuers, mais freqientemente, as diferen= 528 de dons. A acio do privilégio cultural so € percebida, na maior parte das vezes, sob suas formas mais grosseiras, isto 6, como recomendagées ou relagdes, ajuda no trabalho escolar ‘ou ensino suplementar, informasao sobre o sistema de ensino as perspectivas profissionais. Na realidade, cada farsi ‘ransmite a seus flhos, mais por vias indiretas que diretas, um. certo capital cultural e’um certo ethos, sistema de valores im- plicitos © profundamente interiorizados, que contribui para efinir, entre outras coisas, as atitudes face ao capital cultural © 2 instituigo escolar. A heranca cultural, que difere, sob os dois aspectos, segundo as classes sociais, é a responsivel.pela due. Rev., Belo Horizonte (10): 3-15, dez, 1989 diferenca inicial das eriangas diante da experiénein escolar e, ‘conseqientemente, peas txas desiguais de ito, A TRANSMISSAO DO CAPITAL CULTURAL. ‘A influéncia do capital cultural se deixa aprender sob a forma da relacao, muitas vezes constatada, entre o nivel cultu- ral global da familia ¢ o éxito escolar da crianga. A parcela de “bons alunos” em uma amostra de alunos da quinta série cres- ce em fungio da renda de suas familias. Paul CLERC mostrou que, com diploma igual, a renda no exerce nenhuma influgn- ia propria sobre 0 éxito escolar e que, 20 contrério, com ren- da igual, a proporyao de bons alunos varia de maneira muito signficativa segundo o pai néo seja diplomado ou seja bacha- rel****, o que permite concluir que a ago do meio familiar sobre o éxito escolar € quase exclusivamente cultural. Mais, que 0s diplomas obtides pelo pai, mais mesmo do que o tipo de escolaridade que ele seguin, é o nivel cultural global do grupo familiar que mantém a relagio mais estreita com o éxito esco- lar da crianga. Ainda que 0 éxito escolar pareea ligado igual- mente ao nivel cultural do pai ou da mie, percebem-se ainda -variagSes significativas no éxito da crianga quando os pais 580 de nivel desigual.2 A andlise dos casos em que os niveis culturais dos pais sto esiguais mio deve fazer esquecer que eles se encontram fregientemente ligados (em razso da homogamia de classes), © + ~LéG0LE CONSERVATAICE, LES NEGALTES DEVANT LECOLE ET LA CULT Ae, Rew ‘de Social. 73} 166, op 925347, Ears du Gere Nata’ Recherche Ssenegre: Pers. usieaco com aonzego 8 ast TEL SOUROIEU! A'k'PASSERON. J c, Lm Mor, Eatons do Mis, ‘wn ie ral, pesos gue earls cm suet sue exado secu: ‘ion «rowan portant, popesora do Sansateurst cn rata al ports, er Saou ray eo, Tate. s60gt m0 Paore an, {Soxmes oo rae covert ao fa Ss do enim 2 Grau eala os reaver, 2G LENG, Fa tai trenton ssa su aes eit. x ‘tle-co' fin 1985. sara Taggoneratonpetelens Popa (9, ‘otto, "Ses, bp oars aque as vantagens culturais que estfo associadas ao nivel culta- ral dos pais so curulativas, como se vé jé na quinta série, em {que os filhos de pais ambos bacharéis obtm uma taxa de éxito de 77% contra 62% para os filhos de um bacharel e de uma pessoa sem diploma; essa diferenga se manifesta mais nitida- mente ainda nos graus mais elevados do cursus. Uma ava- liagdo precisa das vantagens e das desvantagens transmitidas pelo meio familiar deveria levar em conta ndo somente 0 nivel Cultural do pai ou da mie, mas também 0 dos ascendentes de tum e outroramos da famfla (e também, sem ddvida, o do con- Jjunto dos membros da familia extensa). Assim, 0 conhecimen- to que os estudantes de letras tem do teatro (medido pelo ni- mero médio de pecas de teatro vistas) se hierarquiza perfeita- ‘mente segundo a categoria s6cio-profissional do pai ou do avo ‘seja mais elevada,ou a medida que a categoria socio-profissio- nal do pai e do avé se elevam conjuntamente; mas, por outro Jado, para um valor fixo de cada uma dessas varidveis, a outra tende, por si sé, a hierarquizar os escores* Assim, em virtude da lentidio do processo de aculturagao, diferengas sutis liga- das 3 antighidade do acesso & cultura continuam a separar in- ividuos aparentemente iguais quanto a0 éxito social e mesmo ‘0 éxito escolar. A nobreza cultural também tem seus graus de descendéncia. Agen disso, sabendo-se que a residéncia parsiense ou Provinciana (ela prépria fortemente Tigada a categoria sécio- profissional do pai) estdtamibém associada as vantagens e des- Yvantagens culturais exjo efeito se nota em todos os setores, quer se trate de resuhados escolares anteriores, de praticas © de coniecimentos culturas (em materia de teatro. music, jazz, ou cinema) ov ainda da facidade lingistica,vé-se que & consideragio de um conjunto relaivamente restrito de varié- veis- 2 saber, o nivel cultural dos antepassados da primeira ¢ da segunda geragio, ea residéncia ~ permite explicar as vax "ages mais importantes do éxito estoar, mesmo em um nel clevado do carsas. E até mesmo possivel que a combinagéo desses critérios permita compreender as vatiagGes observadas no interior de _grupos de estudantes homogéneos em relagao categoria s6- ‘lo-profissional de origem: é assim que es jovens das camadas superiores tendem a ober regularmente resultados que se dis- tribuem de maneira bimodal, iso tanto em suas praticas e seus cconhecimentos culturais quanto na sua cepacidade para a ‘compreensao e o manejo da lingua (um tergo deles se distingue pelos desempenhos nitidamente superiores ao resto da catego- ha). Uma andlise multivariada, levando em conta no somente © nivel cultural do pai ¢ ds mic, o dos avs patcnos ¢ mater~ nos € 2 residéncia no momento dos estudos superiores e du- rante a adolescéncia, mas também um conjunto de caracteris- tices do passado escolar, como, por exemplo, 0 ame do curso secundério (clissico, modemo ou outro) € o tipo de estabcle- ccimento (colégio ou lieu, instituigéo péblica ou privada), penmite explicar quase inteiramente os diferentes graus de éxito obtidos pelos diferentes subgrupos definides pela com- binagdo desses critérios:¢ isso sem apelar, absolutamente, pa: ra as desigualdades inatas. Conseqientemente, um modelo que Teve em conta essas diferentes varidveis - e também as carac- teristicas demogréficas do grupo familias, como 0 tamanho da familia - permitiria fazer um célculo muito preciso das espe- rangas de vida escolar. Da mesma forma que os jovens das camadas superiores se Elas herdam também saberes (¢ um “sa- ber-fazer"), gostos e um “bom gosto”, cuja rentabilidade es- colar é tanto maior quanto mais Freqlentemente esses impon- derdveis da atitude so atribufdos ao dom. A cultura “livre”, condigéo implicita do éxito em certas carreiras escolares, € muito desigualmente repartida entre os estudantes université- ros origindrios das diferentes classes sociais ¢, a fortiori, en- te 08 de liceus ou 0s de colégios, pois as desigualdades de se- lego ¢ @ ago homogencizante da escola no fizeram senio reduzir as diferencas. O privilégio cultural torna-se patente quanto se trata da familiaridade com obras de arte, a qual 6 pode advir da freqiéncia regular a0 teatro, a museu ou a Concertos (freqiéncia que nao € organizada pela escola, ou 0 é somente de maneira esporddica). Em todos os dominios da cultura, teatro, misica, pintura, jaze, cinema, os conhecimen- tos dos estudantes so tio mais ricos ¢ extensos quanto mais clevads é sua origem social. Mas € particularmente notivel que 2 diferenca entre os estudantes oriundos de meios dife- Tentes seja tanto mais marcada quanto mais se se afasta dos dominios diretamente contrelados pela escola; por exemplo, quando se passa do teatro cléssico para o teatro de vanguard ow para o teatro de boulevard, ou, ainda, para a pintura que lio & diretamente objeto de ensino, ou para a mifsica cléssica, 0 jazz ou 0 cinema, Se 0s exercicios de compreensio © de manejo da lingua escolar mio deixam aparecer a relagdo direta entre os resulta- dose a origem social que se observa comumente em outros dominios, ou se acontece, até mesmo, que a relagio parece in- verter-se, nio deve levar a conclusdo de que, nesse dominio, isso a desvantagem seja menos importante que em outros. E necessirio ter em mente que os estudantes de letras so 0 pro- Guto de uma série continua de selegdes segundo 0 proprio critério de aptido para 0 manejo da lingua, e que a superse- lego dos estudantes oriundos dos meios menos favorecidos ‘vem compensar a desvantagem inicial que devem a atmosfera cultural de seu meio, Com efeita, o éxito nos estudos literdrios esté muito estreitamente ligado a aptidie para © manejo da Jingua escolar, que so é uma Hingua materna para as criangas oriundas das classes cultas, De todos os obstéculos cultura, aqueles que se relacionam com a lingua falada no meio femni- 5, P, CLERC chats que a vig eetcisn pelt oat sobre rb das ‘iangan bao als reaver quote mais fe se eva ra Merargna sca, kovdve eva una igyan cnet orre a ogieria ca mianeres0 foe pss +. Go Sounoigu. F PASSERON. 1, SANT-MARTI, HL ot “Les ans ‘ria angoe Concent in Rao pedogoqiae ot coments Po ‘Large, Mouton 1 Catt Conte se Soaloge Corpeme. 2) Educ. Rev., Belo Horizonte (10):3-15 , dez. 1989 liar $80, sem dvida, os mais graves © 0s mas insidiosos,so- bretudo nos primeitos anos da escolardae, quando a com- preenséo € 0 manejo da lingua constituem o ponto de atengao Principal na avaliagio dos mestres. Mas a influéncia do meio Tingustco de origem néo cessa jamais de se exercer, de um l- do porque a riquera, a finura e 0 estilo da expressfo sempre Serio consilerados, implicita ou explictanente, comseiente ou incorscientemente, em todos 0 nives do cursus e, ainda que fem gravs diversos, em todas as careirastniverstrias, at ‘mesmo nas cisntificas De outro lado, porave a lingua néo € Um simples instcumento, mais ou menos efiaz, mais ou menos aMlequalo, do pensamento-mas fomece ~ além de ‘wm voct- bulério mais ou menos rico ~ ua sntaxe, isto €, um sistema de categoria mais ou roenos complexas, de manera que aap- tidéo para 0 deciframento e a manipulagio de cstruturas com- plexas, quer logics quer estes, peroce fungdo dircta ca complexitede da estrutura da lingua inicialmente falada no tein familar, que Ign sempre yma pare de sins caracterst- a8 lingua adguirida na escola A parte mais importante ¢ mais ativa (escolarmente) da heranga cultural, quer se trate da cultura livre ou da lingua, transmite-se de mancira osmética, mesmo na falta de qualquer esforgo metodico e de qualquer ago manifesta, o que contri- bai para reforgar, nos membros da classe culta, aconviegso de que eles $6 devem aos seus dons esses conhecimentos, essas aptiddes € es8as atitudes, que, desse modo, nao lhes parecem resultar de uma aprendizagem AESCOLHA DO DESTINO As atitudes dos membros das diferentes classes sociais, pis ou criancas e, muito particularmente, as atitudes a respei- to da escola, da cultura escolar ¢ do futuro oferecido pelos es- tudos so, em grands parte, a expressio do sistema de valores, implicitos ow explicitos que cles devem & sua posigéo social. ara explicar como, em um nivel igual de éxito escolar, as di- ferentes classes sociais enviam A quinta série partes tio desi- guals de suas criangas, invocam-se, freqientemente, expli- eagbes tio vagas como “a vontade ‘dos pais". Mas, de fato, pode-se ainda falar de “vontade”, a néo ser num sentido me- {aférico, quando a investigagao mostra que ““ée maneira geral, ‘existe uma concordincia plena entre a vontade das familias € 8 orientagdes tomadas”, ov, melhor dizendo, na maior parte dos cavos, as familias tém aspiragbes estritamente limitadas elas oportunidades abjetivas?” Em realidade, tudo se passa ‘como s0.a8atitudes das pais em face da educacao das criancas, atitudes que se manifestam na decisio de enviar seus filhos a tum estabelecimento de ensino secundario ou de deixé-los na classe de fim de estudos primérios, de inserevé-los em um li- cceu (0 que implica urn projeto de estudos longos, ao menos até 1 bacharelato) ou em um colégio de ensino geral (0 que supoe 1a resignagio a estudos curtos, até os certificados de ensino Profissional, por exemplo) fosiem, antes de tudo, a interiori- zago do destino objetivamente determinado (e’ medido em termos de probabilidades estatisticas) para o conjunto da cate- goria social a qual pertencem. Esse destino € continamente Tembrado pela experiéncia direta ou mediata ¢ pela estatistica intwitiva das derrotas ou dos éxitos parciais das criangas do seu meio e também, mais indiretamente, pelas aprcciagoes do professor, gue, a0 desempenhar o papel de conselheiro, leva ‘em conta, consciente ou inconscientemente, a origem social de seus alunos ¢ corrige, assim, sem sabé-lo e sem desejé-lo, 0 ‘que poderia ter de abstrato um prognéstico fundado unica- mente na apreciagdo dos resultados escolares, “Os objetivos das familias”, escrevem Alain GIRARD & Henri BASTIDE, “reproduzem de alguma mareira a estratificacao social, aliss tal como ela se encontra nds diversos tipos de ensino."® Se os membros das classes populares © médias tomam a realidade por seus descjos, € que, nesse terreno como em OUtTOs. as 38+ Piragies e as exigéncias sio definidas, em sua forma e contet- do, pelas condicoes objetivas, que excluem a possiblidade de esejar o impossivel. Dizer, a propésito dos estudos clissicos em um liceu, por exemplo, “isso nio ¢ para nés", & dizer mais do que “nds néo temos meios para isso”. Expressio da neces- idade interiorizada, essa {6rmula esta, por assim dizer, no im= petativo-indicativo, pois exprime, ao mesmo tempo, uma im- possibilidade ¢ uma interdicao. 'As mesmas condigées objetivas que definem as atitudes dos pais e domioam as escolhas importantes da carreira es00- lar regem também a atitude das eriangas diante dessas mesmas escolhas e, conseqientemente, toda sua atitude com relagio a escola, De tal forma que, para explicar sua rentincia a enviar seus filhos a um estabelecimento secundsrio, os pais podem invocar, imediatamente apés, 0 custo dos estudos (42 a 45%) 19 desejo da crianga de nio prosseguir os estudos (16 a 26%). Mais profundamente, porém, € porque 0 desejo razodvel de ascensdo através da escola nio pode existir enquanto as chan- ‘ces objetivas de éxito forem infimas que ox operrios ~ embo- ra ignorando completamente a estatistica objetiva que estabe- Tece que tum filko de operdrio tem duas chances em cem de 7. © scorco # mit reenter os des omuladce eos pa ates aint bl a rare Sane bare Severe creates tenant sairsatthimanse egestarrte iets ter aiannug gies he mett tee ie a ce eee omens See. e Sere te Se is lad ae arate vie i eine ca EE et oreetcoces omer ot Eater Sia ber sugar aegee or ae Bewiae a trnarae mec geome set Saute oe es beacon Sues rtm teat wnt = c’chegar ao ensino superior ~ regulam seu comportamento obje- tivamente pela estimativa empirica desses esperanges objeti vvas, comuns a todos os individuos de sua categoria. Assim, compreende-se porque a pequena burguesia, classe de tran- igo, adere mais fortemente aos valores escolares, pois a es: ccola the oferece chances razodveis de satisfazer a todas suas ‘expectativas, confundindo os valores do éxito social com os do prestigio cultural, Diferentemente das criangas oriundas ‘das classes populares, que so duplamente prejudicadas no que respeita & facilidade de assimilar a cultura e & propensio para adquii-ta, as criangas das classes médias devem a sua familia info s6 os encorajamentos ¢ exortagbes ao esforgo escolar, mas também um ethos de ascensio social e de aspiragio a0 éxito na escola © pela escola, que thes permite compensar a privagio ceultural com a aspiracio fervorosa A aquisicéo de cultura. ‘Trata-se, 20 que parcee, do mesmo ethos ascético de ascenséo social que constitui o principio das condutas em matéria de fe ‘cundidade, bem como das atitudes a respeito da escola de uma, parte da classe média:!© enquanto, nas cxtegorias sociais mais Fecundas, como nas dos assalariados agricolas, agricultores € operirios, as oportunidades de ingressar na quinta série de- ccrescem nitida © regularmente & medida que as familias au- ‘mentam em uma unidade, essas oportunidades apresentam ‘uma queda brutal para as categorias menos fecundas (artesfos © comerciantes, empregados ¢ quadros médios) nas familias de ‘quatro e cinco criancas (ou mais), isto €, nas familias que 5 distinguem do conjunto do grupo por sua grande fecundidade. Isso indica que, em vez de ver no mimero de filhos a expli- ‘cago causal para a baixa brutal da taxa de escolaridade, € ne- ccessirio, talvez, supor que a vontade de limitar o mimero de nascimentos ¢ vontade de dar uma educagéo secundéria as ceriancas exprimem, nos sujeitos que a5 reGnem, uma mesma isposigdo aseética} De maneira geral, as criangas ¢ sua familia se orientam sempre em referéncia 3s forcas que as determinam, Até mes- mo quando suas escothas Ihes parecem obedecer & inspiragio irredutivel do gosto ou da yocacéo, elas traent a agdo transfi- urada das condigées objetivas. Em outros termos, a estrutura das oportunidades objetivas de ascenso social ¢, mais preci ssamente, das oportunidades de agcensdo pela escola condicio- ‘nam as atititudes frente & escola ¢ & ascensio pela escola — ati- ‘tudes que contribuem, por uma parte determinante, para defi- nir as oportunidades de se chegar & escola, de aderir a scus va- lores ou a suas normas e de neta ter éxito: de realizar, portan- to, uma ascensio social — ¢ isso por intermédio de esperancas ‘subjetivas (partilhadas por todos oy individuos definidos pelo mesmo futuro objetivo ¢ reforgadas pelos apelos a ordem do grupo), que néo so sendo as oportunidades objetivas intuiti ‘vamente aprecndidas ¢ progressivamente interiorizadas.! Seria necessério descrever a légica do processo de inte- Fizacio a0 final do qual as oportunidades objetivas se en- sistoa de exseato ola porespee conan 3 oor Siades ebebvas ecole 6 sum as vamiagens ab Crovantages pr. fences consiver o egavalene uncon! dat vanlagens ov seevortagens \Gatvamanta expereneradae co cjelvamonto variates, dado ue lat Steams mena inbuinla sche 9 sorporirent. O ae ne yplea ue Ee noteste a mors eos opoturinons oberon no, oes 8 0D: sages Seni on bigest 9 tre ato ei. wr ie Guan, risers As OFC, Lope, Delinquency and epportenity or Clason, 1005 Educ, Rev., Belo Horizonte (10):3-15 , dez. 1989 contram transformadas em esperancas ou desesperancas sub- Jetivas. Fssa dimensio fundamental do ethos de classe, que é a atitude com relagéo ao futuro, seria, com efeito, outra coisa além da interiorizacdo do futuro objetivo que se faz presente € se impée progressivamente a todos os membros de uma mes- ma classe através da experiéncia dos sucessos ¢ das derrotas? Qs psicdlogos observam que 0 nivel de aspiragdo dos indivi- ‘duos se determina, em grande parte, em referéncia as probabi- lidades (intituitivamente estimadas através dos sucessos ou das

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