O texto que se segue é uma reprodução escrita, com
pequenas adaptações e esclarecimentos, das informações constantes do manual “História A – 12.º Ano” da colecção Preparação para o Exame Nacional, editado pela Porto Editora, com fins meramente educativos.
Como tal, cumpre-me esclarecer que toda a informação
constante deste documento encontra-se apresentada no referido livro. A Constituição de 1976
Promulgada em 2 de Abril de 1976, a nova Constituição foi elaborada
em pleno clima de forte radicalização política. Esse clima revolucionário está, com efeito, bem presente no carácter marcadamente ideológico do texto fundamental no sentido do socialismo, muito especialmente no que concerne à organização económica.
Contudo, a Lei Fundamental consagra, sem qualquer reserva, o Estado
Português como uma República democrática e pluralista, ao assegurar os direitos, liberdades e garantias individuais e a alternância democrática, através do sufrágio livre e universal, que possibilita aos cidadãos a escolha dos seus representantes para as várias instituições do poder.
Deste modo, a Constituição de 1976, ao conseguir conciliar as
diferentes concepções ideológicas associadas ao processo revolucionário, pode ser considerada o documento fundador da democracia portuguesa. Assim, é pelos princípios nela consignados que se vão reger os novos tempos e os novos rumos da actividade política nacional, a começar imediatamente pela legitimação constitucional das instituições político- administrativas, ainda em 1976.
No seguimento da promulgação da Constituição, realizaram-se os
seguintes actos eleitorais:
Eleições para a primeira Assembleia da República, em 25 de Abril
de 1976, vencidas pelo Partido Socialista (PS), que forma o I Governo Constitucional, chefiado por Mário Soares; Eleições para a Presidência da República, em Julho de 1976, vencidas pelo General Ramalho Eanes, o grande triunfador do 25 de Novembro de 1975, contra o candidato apoiado pelo Partido Comunista (PC), Octávio Pato, e o Major Otelo Saraiva de Carvalho, apoiado na “esquerda” radical; Eleições para as autarquias locais, em Dezembro de 1976. O poder local foi alvo de uma estruturação em municípios e freguesias, dotados de um órgão legislativo, respectivamente a Assembleia Municipal e a Assembleia de Freguesia, e de um órgão executivo, a Câmara Municipal e as Juntas de Freguesia, todos eles eleitos por sufrágio directo pelas correspondentes populações do concelho ou da freguesia, num ambiente político de total liberdade e independência face ao Poder Central.
Importa considerar, igualmente, como manifestação de poder local,
plasmada na Constituição, o reconhecimento da autonomia administrativa dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira. Estes foram dotados de governos regionais suportados por assembleias legislativas regionais, à semelhança do que sucedia no Governo da República. Como representante da autoridade máxima da soberania nacional, é designado, pelo Presidente da República, um Ministro da República (hoje intitulado Representante da República) com competências paralelas a nível local. A Revisão Constitucional de 1982
Em 1982, a democracia portuguesa revelava claramente que o
processo revolucionário havia assumido definitivamente o carácter democrático e pluralista consagrado na Constituição de 1976. Os tempos do “Verão Quente” de 1975 iam sendo ultrapassados pela normalização das relações institucionais entre os diversos órgãos de soberania existentes e, sobretudo, pela aproximação das forças políticas mais moderadas (Partido Socialista e Partido Popular Democrático), cuja importância na construção do Portugal moderno e em fase de plena afirmação na Comunidade Europeia era reconhecida pela instituição militar (Movimento das Forças Armadas). Saliente-se o papel desempenhado por Mário Soares, fundador do Partido Socialista (PS), considerado não raras vezes o “pai” do Portugal moderno.
É nesta nova conjuntura política que o revolucionário Pacto MFA/Povo,
inspirador de manifestações de poder popular tão do agrado da “esquerda” revolucionária, é substituído pelo Pacto MFA/Partidos, criando as condições para que o considerado excessivo comprometimento do primitivo texto constitucional com o socialismo e a forte presença militar no exercício do poder pudessem ser revistos.
Deste modo, em 1982, o Partido Socialista (PS), o Partido Social-
Democrata (PPD/PSD) e o Centro Democrático Social (CDS) chegam a acordo sobre as alterações a introduzir no texto constitucional em vigor, de forma a torná-lo mais condizente com os novos e importantes objectivos da governação, interna e externamente, tendo em vista a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE).
Na realidade, a nova redacção da Constituição não trouxe grandes
novidades em relação a alguns dos princípios conotados com o socialismo nela consignados. Por exemplo, em matéria de organização económica, o processo das nacionalizações e a Reforma Agrária foram considerados irreversíveis. Ainda assim, o novo texto procurou suavizar algumas referências marcadamente ideológicas, o que fazia antever a remoção do carácter socialista do Diploma Básico português brevemente, em função do rumo assumido pelo processo revolucionário.
Por outro lado, as alterações mais significativas que vieram a ser
introduzidas pela primeira revisão constitucional relacionam-se com a organização e funcionamento do poder político. Assim, o Conselho da Revolução, órgão de carácter político e legislativo em matéria militar e responsável pela garantia da constitucionalidade, foi extinto, tendo as suas funções sido distribuídas pelo Conselho de Estado e pelo Tribunal Constitucional, entretanto criados. Decorridos sete anos, os militares deixavam de interferir no exercício do poder político, aceitando o primado do poder civil na actividade governativa. Como manifestação desta realidade, ver-se-á a Presidência da República assumida, a partir de 1986, por cidadãos que não fizeram carreira na hierarquia militar.