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A Palm e o mercado
A Palm e o Mercado
Uma análise não autorizada, por Emanuel Campos.

Aumentar a produtividade, sob a óptica da disciplina Organização Industrial é produzir 1) a


mesma quantidade de produtos utilizando menos recursos ou 2) produzir mais produtos
utilizando uma mesma quantidade de recursos.

Um aumento da produtividade não acarreta necessariamente em um aumento da


qualidade, mas um aumento da qualidade necessariamente acarreta um aumento da
produtividade. Explica-se, ao mantermos padrões de qualidade, estamos sujeitos a uma
margem de erro percentual, que não importa o quanto se produza a mais, seja com
investimentos de novos maquinários ou homens, o percentual é o mesmo de peças erradas
ao final da linha. Ao se aumentar os critérios de qualidade pode-se, sem precisar investir em
mais recursos, ter menos peças erradas ao final da linha e, conseqüentemente, aumento da
produção, conforme demonstrado no primeiro parágrafo.

A indústria brasileira não é parâmetro de controle de qualidade. Aqui a coisa ainda é feita
de modo manual, por um departamento à parte da linha de produção, o que significa um
recurso dedicado a isso, e conseqüentemente, um aumento do preço do produto final.
Poucas multinacionais são exceções, mas peguemos empresas como as japonesas, onde os
critérios de qualidade são contínuos, cada etapa da linha de construção e/ou montagem
já checa a etapa anterior. No caso de erros que passam, é mais punido que aceitou a peça
errada do que quem errou! São as filosofias de produção corretamente aplicadas: Kanban,
Kaisen, 5S''s, inspeção automática.

Ainda em Organização Industrial vemos que a qualidade do produto acaba associada a


idoneidade e honestidade da empresa que os produz. Empresas com aparelhos que
funcionam melhor, com menor taxa de quebra ou reclamação, são vista como mais
transparentes, mais honestas e dedicadas aos clientes. A quebra está associada com uma
tentativa da empresa de te obrigar a trocar de produto, por um novo. Desta forma,
aumentar a qualidade através de processos de controle, absorvidas pelas etapas
produtivas, sem onera o produto final, além de se aumentar a produção, também melhora
a imagem da empresa no mercado.

Outra importante lição de O.I. é que em um mercado altamente competitivo, o preço final
do produto para o mercado já é conhecido, ou seja, já há um preço que as pessoas
aceitam pagar por determinados produtos. Como o preço final menos os custos tem em sua
diferença o lucro, pode-se supor que o lucro também já vem ditado pelo mercado, e
conseqüentemente uma empresa em um mercado de alta competitividade tem na
administração de custos sua única arma de comércio e sobrevivência. Um último detalhe,
atender garantia de produtos, não apenas arranha a imagem da empresa, como é
considerado um custo de produção.

Com isso em mente podemos avaliar a Palm Inc. e, talvez, entender como que uma
empresa que já deteve 90% do mercado dos computadore de mão, mais conhecidos como
PDA, viu chegar ao seu mercado concorrentes com produtos melhores, na mesma faixa de
preços, e hoje ela detem apenas 40% deste mercado.

A Palm Inc. já teve seu nome como sinônimo de PDA, e até hoje o tem entre o púlico mais
leigo, aparelhos leves, com Sistema Operacional estável, integração com windows e
linguagens de programação acessíveis e fáceis de se dominar, mas esta mesma autonomia
era seu fraco, seu sistema operaciona, no ápice, não permitia implementações novas sem
colocar em cheque seu maior ponto de venda, e assim, multi tarefa, novas funções como
gravar voz, ver fotos e reconhecer outros formatos externos, como de figuras e documentos
de escritório foram, lenta e dolorosamente sendo integrados.

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Restava a Palm Inc. mexer no Hardware para se tornar mais competitiva, e foi o que fez, mas
os resultados mostraram que foi para pior. Apostando que o consumidor destes produtos
tem como foco o preço, ela começou a ceifar recursos: tirou o gravador de som, as bases
de fixação das palms. Trocou as elegantes carcaças metálicas e canetas com ponta reset
por aparelhos de plástico e canetas inteiramente injetadas. Trocou sucessivamente de
conector em busca de uma melhor relação custo/benefício, mas, na prática, tudo que
conseguiu foi irritar o público que não perdia acessórios cada vez que trocava de aparelho.
E até mesmo, as consagradas caixas, como da saudosa caixa do Palm Vx ou da Tungsten|t
foram substituídas por displays plásticos.

O resultado é história, cinqüenta por cento de mercado perdido e, como a Ford Brasil que
passou 15 anos produzindo o mesmo Escort, a Palm perdeu o chão, e dos seus luxuosos
PDA''s, ela foi acomodando-se a uma posição de entrada de linha. Mesmo a atualização
de aparelhos, da Zire para a Zire 21 e da Zire 71 para a Zire 72, ao invés dos investimentos
previstos, aumento de memória, qualidade da foto, o que se viu foi: telas com zunidos,
síndrome de digitalizadoras malucar, linhas verdades sobre as fotos, enfim, a imagem da
empresa estava definitivamente arranhada. A Palm Inc. havia mexido na qualidade, mas ao
invés de integrá-la a produção, cortou-a de vez, como forma de diminuir ainda mais o custo
dos seus produtos. A imagem foi um preço caro.

Hoje a Palm Inc. com novo logotipo e novos produtos vem com uma promessa de recuperar
mercado com investimentos pesados em tecnologia: wi-fi, memória flash integrada, uma
nova linha de aparelhos com mini HD, e trás a promessa, que só tempo confirmará, de ter
evoluído em qualidade. É preciso tempo para que usuários que pagaram além de suas
palms, quase cinqüenta por cento de novo, só para usá-las sem ruído ou linhas verdes,
voltem a confiar na empresa, seus produtos ainda são vistos, justificadamente, com um pé
atrás, a própria Tungsten T5, que queremos acreditar, é a última da velha Palm, era uma
coleção de problemas, restart lento, sem gravador de voz, novo padrão de conector,
memória que fazia os arquivos crescerem, lentidão na troca de informações. Rezemos, para
a Tungsten E2 e o LifeDrive provarem que há ai uma nova Palm.

A Palm, além do pioneirismo, conta com outras qualidades, é carismática, amigável aos
usuários e acima de tudo, é não Windows, pegando todos aqueles que fogem deste
ambiente, os linuxistas, Macintóshicos, e mesmo usuários do Windows que querem
versatilidade. Seus aparelhos também são mais amigáveis que as combinações que
lembram placas de automóvel, usadas pelas concorrentes, iPAQ 1940, RX 3420, RZ 3715, e
assim vai. Desta forma, os parcos fãs desta linha ficam agora rezando para que a Palm
domine enfim, conceitos básicos de Organização Industrial, vendo que uma empresa de
manufatura vive de fazer bons produtos, e não de mudanças de nomes, logotipos,
downsizing, abertura para bolsas de valores ou afins.

Emanuel Campos – emanuelcampos@me.com

Artigo de 2004

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