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Era uma noite fria e chuvosa, mais fria que o habitual para aquela época do ano.
Era o verão de 1845, o ano que Jonathan herdou a velha mansão. Eu me lembro
bem, foi uma época sombria para o pobre Jonathan. No entanto, o pior ainda
estava por vir...

As árvores uivaram ao passar a velha carruagem enquanto corria pelo vento em


meio à chuva torrencial, como se o próprio Diabo estivesse na trilha deles. O
cocheiro, embora uma pessoa de coração forte, gelou até os ossos, mas não pelo
vento ou pela chuva e sim pelo mal sempre presente que derrubara aquelas matas
para que, dali em diante, qualquer alma µviva¶ se recorde. Embora existam muitos
boatos espalhados sobre os espíritos que assombram esta terra, ninguém
realmente sabe o que aconteceu aqui... até agora!

A chuva parecia diminuir no momento em que eles alcançavam o vale onde as


encruzilhadas se encontram. O lugar onde se dizia, que toda a Escuridão parece
nascer. As nuvens se abriram o suficiente para ver a lua cheia no céu. São poucos
os que ousam vir a este lugar e muito menos até esta mansão. Dizem que ela está
vazia desde que o velho dono faleceu há muitos anos.

A carruagem parou repentinamente e Jonathan gritou ao cocheiro, ³Eu pergunto


meu velho, por que parastes?´ O cocheiro continuou olhando para frente como se
não tivesse ouvido uma palavra. ³Maldição!´ Exclamou Jonathan, ³O que está
acontecendo aqui´? De sua janela ele podia ver Sete cavaleiros bloqueando a
estrada. De dentro da carruagem, Miriam Natias e Jonathan LaFey podiam ver a
magia em seus olhos. ³Oh meu Deus´, gritou Miriam. ³Oh Jonathan, o que querem
conosco?´

Jonathan só podia presumir o que estes cavaleiros negros pretendiam quanto a


eles. ³Ladrões de estrada, eu aposto que pretendem roubar nossos pertences!´ Ele
respondeu a ela, mas em seu coração... em sua alma, ele sabia que não era bem
isso. Ele podia sentir a mão do destino trabalhando e isso fincou em seu coração.
Um cavaleiro surgiu da escuridão; Seu nome era O¶Brian, o líder dos sete
cavaleiros.

"Nós sabemos que você veio herdar o que é seu... A Mansão. Ouça nosso conselho
e volte nesta mesma noite, se você recusar, 18 se tornará 9...´ Jonathan riu e
disse: "Saiam do meu caminho". E desdenhou: "Eu não acredito em uma palavra
que vocês dizem!" Os sete cavaleiros desapareceram na noite e disseram: "Um dia
você vai precisar da nossa ajuda, meu amigo". Ele fingiu estar tudo bem para
Miriam, mas era óbvio que o pobre Jonathan ficara assustado. Aquilo ficou em sua
mente ³18 na verdade é 9´. O que poderia ser isto? Por que vieram aqui para
alertá-lo?

³Avante homem, avante´ gritou para o cocheiro, mas ele sabia que não precisava
dizer duas vezes, com um estalo do chicote, eles partiram. A mansão não estava
muito longe agora, e o cocheiro queria deixar este lugar amaldiçoado o quanto
antes para trás e jamais retornar... Percorrendo a viela na chuva, não havia luz
para indicar o caminho, a chuva voltou a cair e Miriam tremia. ³Oh Jonathan como
pode ser este o nosso lar?´ Jonathan segurou as mãos de sua esposa e olhou fundo
em seus olhos: ³Não existe nada disso, querida. Estes cavaleiros tolos falam por
enigmas! São um bando de supersticiosos, que crêem em contos da carochinha
inventados para assustar as criancinhas para não irem brincar nessas matas. Eu
não irei abandonar minha herança por causa de meras histórias de fantasmas!´
Suas palavras corajosas ajudaram a acalmar sua esposa. Entretanto, ele queria
estar se sentindo tão confiante quanto pareceu estar...

Em meio à escuridão, eles só podiam ver uma sombra gigantesca, que deveria ser
o seu lar. O cocheiro puxou as rédeas assim que eles se aproximaram de seu
destino. A mansão estava ali diante deles, uma estranha sensação pairava no ar.
Além disso, eles podiam sentir o mal fluindo lá de dentro. Os três, Miriam, Jonathan
e o cocheiro ficaram pasmados com a majestade sombria do lugar. A mansão era
imensa e espaçosa, com cerca de 40 cômodos. Parecia que havia olhos espiando
em cada janela e você podia sentir o peso dos anos sobre sua alma se você ficasse
muito tempo fitando a escuridão. O luar pálido produzia sombras sobre o portão,
que pareciam estar vivas! Dançando como demônios ao redor de um caldeirão,
lançando seus feitiços diabólicos em qualquer um que ousasse atravessar aqueles
portões!

Os cavalos também sentiram a presença do mal e tentaram sair em disparada. Por


conta disso, o cocheiro teve que domá-los e fazer com que atravessassem os
portões lentamente e entrassem no pátio principal. O pátio estava abandonado há
muito tempo. O mato havia tomado conta do quintal e tratado de consumir cada
canto da mansão! A carruagem parou em frente à entrada principal; o cocheiro
olhou ao redor muito nervoso como se estivesse esperando empregados fantasmas
aparecerem para checar suas bagagens e saudar os La Fey ao seu novo lar... mas
os únicos sons eram o vento uivando pela noite e a batida de seu coração! Ele
rapidamente desceu do seu assento no alto da carruagem, e começou a
descarregar as várias malas e bolsas que Miriam insistira em trazer. ³Se eu devo ir
morar em um lugar assustador´, ela havia dito a Jonathan antes de partirem em
sua jornada, ³Então estou levando todos os confortos do lar comigo´. Mal sabia que
mesmo todos esses bens no mundo não poderiam fazer desta casa um lar!

Assim que o velho cocheiro descarregou seus pertences, Jonathan ficou impaciente
e então abriu a porta da carruagem. ³Já está na hora de acabar com isso! Meu bom
homem, minha esposa terá um troço aqui fora!´, gritou olhando para o cocheiro.
³Agora vai-te´, despachou o cocheiro e virou -se para sua esposa: ³Venha querida,
nós esperamos tanto tempo para começarmos nossa nova vida juntos. Vamos
entrar...´|

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Jonathan segurou sua jovem esposa nos braços, ³Oh Jonathan, que romântico´ Ela
disse, em seguida, beijando-o profundamente: ³Eu tenho que admitir que isto é um
tanto excitante´. ³Veja, minha querida´, disse Jonathan com um sorriso maroto:
³Não há de ser de todo mal agora, há?´ O cocheiro já havia partido e agora eles
estavam sozinhos, então porque ele ainda se sentia como se olhos estivessem lhe
observando? Ele permaneceu ali por um instante com sua esposa em seus braços,
estava escuro e o vento trazia calafrios em sua espinha. Ele caminhou em direção a
porta e tateou por um instante a grande maçaneta de bronze. A imensa porta
lentamente se abriu e eles pisaram sobre a soleira. ³Bem-vinda ao seu novo lar,
minha querida...´

Tudo lá dentro estava intacto exceto por aquilo que os ratos deram conta. E a
poeira do tempo que mostrava sua marca. Munidos com candelabro e de olhos bem
abertos, pela escuridão eles foram abrindo caminho até que cada cômodo estivesse
iluminado novamente.³Este lugar tem um certo... um certo encanto´. Disse Miriam
acendendo a última vela, apagando o palito de fósforo e continuando: ³Agora que
está tudo iluminado, não está tão assustador como antes, não é mesmo meu
amor?´

Jonathan estava imóvel olhando fixamente para um velho retrato de um nobre


velho e grisalho. Ele conhecia este homem, este rosto parecia tanto com ele! Era o
seu Avô, o grande Conde de LaFey. Jonathan o conheceu quando criança, pois o
avô morrera sete anos antes de ele nascer em 1811. O que ele sabia era que o avô
tinha sido um soldado µlinha dura' que saiu dos subúrbios de Londres, ainda jovem,
e seguiu para alguns dos maiores campos de batalha da Europa e da Ásia. Ele
finalmente havia sido promovido e já estava comandando legiões de homens. Por
conta disto conseguira obter algumas de suas terras e o título de Conde.

Por algum motivo, após seu casamento com a Condessa De LaFey nada mais
realmente se sabe. Ninguém jamais falou sobre isso... Enquanto ele olhava para o
retrato, ele começou a ganhar vida... Ele começou a respirar! Não, não era só isso,
parecia que a casa toda começou a respirar, parecia estar viva! Jonathan pulou
quando sua esposa segurou em seus ombros e começou a sacudi-lo, ³Oh Jonathan,
você realmente me deixou assustada!´. Ela gritou abraçando-o, e chorando disse:
³Era como se você não estivesse aí! Eu chamei seu nome várias vezes e você
simplesmente continuava lá parado... olhando para aquele retrato assustador!´ Sua
voz estava mais forte agora quase zangada. ³Bem, quem é aquele? Por que estava
agindo desse jeito?´, ela interpelou.

³É o meu Avô, o velho Conde´ Ele tentou não retrucá-la, mas depois do que
acabara de ver, estava um tanto sem coragem. ³Ele foi o homem que construiu
este lugar.´ Estava claro que Miriam não tinha visto o que ele viu. Talvez ela
estivesse apenas assustada com aquele seu comportamento estranho para poder
reparar em qualquer outra coisa. Talvez isso ou... talvez ele estivesse ficando
louco? De um jeito ou de outro não seria nada bom contar a ela o que tinha
acontecido, então ele disse: ³Desculpe meu bem, deve ter sido a longa viagem´, ele
a tranqüilizou. ³Agora venha, o candelabro está se apagando´, disse Jonathan.
³Vamos para a cama´. A lareira parou de queimar e ambos dormiram
profundamente até o amanhecer, sonhando... sonhando, mas eles não sabiam
sobre a sombra na parede, ela realmente estava viva!

A escuridão se aproximou da casa na noite seguinte e Miriam dormia como uma


pedra quando o rosto de Jonathan ficou pálido. O quarto estava frio como gelo, mas
o fogo ainda queimava, as chamas pareciam congeladas como se o frio da mansão
tivesse drenado a alma do fogo! Subitamente surgiu uma luz ofuscante que varreu
todo o quarto e uma névoa começou a subir do chão, girando ao redor do corpo
dele como uma serpente entrelaçando a si mesma em cada buraco e fenda do
quarto.
Em meio à névoa, cercado em uma auréola de luz clara, um vulto fantasmagórico
começou a aparecer diante dele! Era o Fantasma da Família que despertara
novamente... O Fantasma de seu Avô: ³Não fique com medo´, disse uma voz
assustadora, ³Não fique assustado meu amigo, eu sou o Conde de LaFey. Deixe-me
levá-lo à cripta subterrânea onde Abigail descansa!"

Jonathan não conseguia acreditar em seus olhos, a aparição se aproximou e disse,


³Deixe Miriam dormir, ela jamais entenderia, agora venha, vamos... Está na hora
de saber". Jonathan não sabia mais o que fazer, então ele seguiu o fantasma por
um caminho sinuoso pela mansão. Eles passaram pela sala do retrato onde a
pintura do conde parecia brilhar em seu rastro. Desceram a grande escadaria e
estranho como parece, embora sua mente estivesse estarrecida de choque com
tudo aquilo que estava acontecendo, ele ainda podia sentir a lisura do corrimão
altamente polido enquanto sua mão deslizava por ele, e não conseguia parar de
pensar em como Miriam tinha adorado as escadarias. Quando eles a viram pela
primeira vez, ela havia dito que era a parte mais elegante da casa. Eles inclusive
brincaram que seria bom que ela não encontrasse Jonathan deslizando nelas. Foi a
primeira e única vez que eles sorriram desde que chegaram...

Ele percebeu que estava parado no último degrau da escadaria, perdido em seus
pensamentos, quando o fantasma o chamou, ³Vamos, Nós Temos Que Ir... O
Tempo Está Ficando Curto´. Eles continuaram atravessando a mansão escura, a
aparição sempre flutuando a poucos pés à frente. Após passar pela entrada
principal, eles entraram na sala de jantar onde o conde passou diretamente pelo
centro da grande mesa que pegava toda a extensão da sala, passando
assustadoramente pelo centro da mesa que havia permanecido ali desde a época
que o próprio conde jantava lá. Jonathan, obviamente, preferiu dar a volta pela
mesa seguindo-o pela entrada dos empregados até o quarto. Jonathan ainda não
tinha explorado esta parte da mansão e provavelmente jamais o faria, se não fosse
por este ilustre visitante sobrenatural.

A área dos empregados da mansão era como pisar em outro mundo. Saíam as
paredes luxuosas e salientes e os retratos coloridos. Em seu lugar haviam paredes
lascadas e descascadas e até mesmo na luz opaca ele podia ver claramente que as
péssimas condições que os empregados viviam, eram um grande contraste em
relação às do conde e sua esposa. Eles passaram rapidamente pelos quartos dos
empregados e saíram por uma entrada indescritível debaixo da escadaria norte.
Eles cruzaram o corredor norte e voltaram sob os degraus através de outra porta
no lado oposto do arco, se melhante uma escadaria. Jonathan percebeu que ele não
tinha notado nenhuma destas portas antes, pois estavam tão bem escondidas de
vista. Esta porta os levou a um corredor escuro e cheio de teias de aranha, dos
anos em que permaneceu desocupado. Ao fim do corredor, havia uma passagem
arqueada esculpida e à luz de velas bruxuleantes, ele podia ver as imagens
esculpidas nas pedras, diabos e demônios dançando ao longo do centro do arco e
em cada extremidade havia anjos rezando de joelhos dobrados. O que Jonathan
não viu, é que estavam rabiscadas no chão, com um giz negro meio apagado, as
palavras: ³Aqui jaz o mal´. E adiante da passagem arqueada estavam os degraus
mais íngremes e Jonathan sequer tinha os vistos. Eles eram estreitos e isto fez com
que ele se sentisse zonzo só de olhar para baixo. Ele desceu cuidadosamente.
³Espere´ disse de repente o vulto assustador, "Cuidado com os degraus
escorregadios, você pode facilmente cair e quebrar seu pescoço! Agora me passe
aquela tocha e eu mostrarei o caminho para o segredo na escuridão. Dê uma
olhada na passagem, o sarcófago... de uma criança.... Abigail esteve aqui durante
anos e anos.... natimorto!´

Abigail, pensou Jonathan consigo mesmo: porque isso lhe parecia tão
assustadoramente familiar? O Conde continuou: ³O espírito de Abigail possuiu sua
Esposa e só existe um jeito de você impedir o renascimento do próprio mal´ Ele
pausou e em silêncio Jonathan ouviu o que viria a seguir. Em uma voz que gelou os
ossos, o Conde disse: ³Você deve tirar a vida dela agora..."|

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³O QUÊ!´ Exclamou Jonathan, ³Por que, por que eu devo matar minha esposa?´
perguntou ao Conde: ³Quem é essa Abigail e o que ela tem a ver com minha
Miriam?´ Um olhar sinistro surgiu em sua face fantasmagórica, as órbitas vazias de
seus olhos queimavam vermelhas com a lembrança daquele tempo tão distante...
³Isso foi há muito tempo, mas parece que foi ontem´... ele pausou tentando se
controlar.

³O ano era 1777 e eu finalmente iria ter o meu herdeiro, mas após nove meses de
amor e vida conjunta, eu descobri que minha amada esposa tivera mais um de
seus casos escandalosos! Você pode dizer que eu µdescobri¶ a traição de minha
esposa pouco tempo antes de ela dar à luz... Como pude ser tão cego? Continuou:
³Desnecessário dizer que nenhum bebê bastardo iria herdar o que é meu, então em
meu sofrimento eu comecei a traçar um plano terrível, eu sabia então que ela
morreria antes do parto´. Um olhar sinistro atravessou seu rosto. ³Eu sabia que o
tempo era curto e a data perfeita para um ato diabólico estava rapidamente se
aproximando e seria no dia 7 de Julho e ela estaria morta!´ dito isso ele soltou uma
risada assustadora. Jonathan tremeu e perguntou: ³O que... O que você f.. fez?´
Neste instante o porão ficou às escuras! Agora o pobre Jonathan sentia medo de
verdade, no ar ao seu redor a face do Conde começou a brilhar, seu rosto frio e
morto parecia estar quase vivo em toda aquela glória pervertida. Então ao seu lado
surgiu outro rosto e em seguida outro, até que tudo que ele podia ver eram
somente aqueles olhos fundos e vazios, queimando diretamente através da alma de
Jonathan. De repente os rostos começaram a girar em torno da cabeça de Jonathan
e zombeteiramente eles falavam juntos, e de uma só vez eles disseram: ³Por que
Jonathan... Você ainda não adivinhou? Um raio de luz assustador brilhou pelas
escadarias em que eles acabaram de descer, os tijolos velhos e o cimento batido
trincaram ao longo da parede. Os degraus que eram tão estreitos e pequenos, um
lugar traiçoeiro seria o ideal para se levar um tombo... ante seus olhos a cena
fantasmagórica começava a se desfazer...

No alto da escadaria Jonathan pôde vê-la ali parada, uma bela imagem de branco,
em contraste com a escuridão do local. A luz vinda por detrás dela, surgiu com um
brilho celestial que fez a Condessa parecer um ³Anjo da Luz´. Embora seu rosto
estivesse envolto pelas sombras, ele pôde ver o medo em seus olhos. Oh sim, ela
odiava descer aqueles degraus escorregadios e ela não desceria se tivesse opção
mas por algum motivo atroz seu marido havia dispensado todos os empregados
aquela noite! O que este tolo estava pensando? Ela pensou consigo mesma irritada,
enquanto começava a descer as escadas. Subitamente por detrás dela apareceu o
vulto enorme de seu marido, os olhos do Conde continham uma escuridão, um ódio
profundo, seus lábios superiores se contraíram em um ranger de dentes, e até
mesmo de onde Jonathan estava, ele podia ouvir o rosnar feito um animal. A
Condessa ouviu isso e seu coração entrou em desespero. Quando ela viu o rosto
dele, ela sabia que ele estava ali para matá-la. Então ele a empurrou escada abaixo
para morrer... ³Não´, ela gritou enquanto suas mãos poderosas a empurravam pelo
peito e ombro. Ela tropeçou pelos degraus íngremes até cair ao pé da escadaria. A
condessa fraturou seu pescoço, seus olhos sem vida miravam vagamente para o
teto.

A cena mudara, o conde observava de cima o aspecto lânguido e inanimado de sua


esposa. Suas mãos e sua camisa estavam encharcadas de sangue. Ele ficou
obcecado com uma idéia estranha, iria mumificar a menina para que a
encontrassem no futuro... e ele fez! Primeiro arrancou o bebê do útero e em
seguida arrastou o corpo degraus acima e para fora da mansão, utilizando a
entrada dos empregados. Uma vez lá fora ele queimou sua µamada¶ esposa.
Voltando ao porão, começou o processo de mumificação. Seus métodos eram
rudimentares, mas eficazes e no momento em que terminara, ele decidiu dar um
nome ao bebê e em sua loucura ele falou à garotinha morta: ³Oh você achou que
herdaria o que é meu, não foi! Por isso eu amaldiçôo sua alma para todo o
sempre!´ Ele começou a entoar palavras que Jonathan não conseguia entender
quando finalmente disse, ³Abigail você deve descansar em desonra, Descansar em
desonra!´

Feito isso, o quarto ficou às escuras e Jonathan ficou sozinho com seu medo.
Poderia tudo aquilo que ele viu ser real? Como ele se encontrava ali parado no
porão, frio e tremendo, mas coberto de suor? Ele começou a duvidar de sua própria
sanidade, mas ainda assim ele fez o possível para se livrar daquilo tudo e voltar
para cama. Tropeçando e com as mãos esticadas, ele foi tateando o caminho ao
longo da escadaria e rapidamente retornou ao quarto principal. Felizmente, Miriam
ainda estava dormindo, ele calmamente deitou-se ao lado dela e dormiu em
instantes. Seu sono não seria mais profundo pelo resto da noite e seus sonhos
estavam povoados com aquelas imagens da noite anterior. Ele ainda podia ouvi -la
gritando enquanto ela caía pelas escadas.

De repente ele se depara de frente a uma igreja estranhamente familiar e embora


soubesse que não havia ninguém dentro da igreja, os sinos estavam tocando! Sem
motivo aparente as flores estavam morrendo! Oh sem dúvida eram esses os maus
presságios! Em seguida ele percebeu que estava de volta à velha mansão, o ar
estava insuportável, um cheiro podre de morte, ele caminha adiante e em uma
bruma escura se depara na sala de jantar com a mesa preparada para 3! O que
significa isso? Ele pensou consigo mesmo, quando em meio à bruma, jurou que
podia ver Miriam ali parada segurando sua barriga grávida, acariciando com um
olhar vazio e inanimado em seu rosto. Ao fundo ele ouvia o som de um bebê
chorando. O som aumentava sem parar até encher sua cabeça, tomar conta do
quarto, da mansão inteira! Ele tapou os ouvidos, mas não adiantou, ele olhou para
cima e com seus próprios olhos cheios de lágrimas, ele podia ver Miriam lhe
entregando o bebê e então ele gritou!

Ele despertou subitamente, mas ainda gritando, as lágrimas escorriam pelo seu
rosto, aquilo parecia tão real! Ele procurou po r sua esposa, mas ela não estava lá e
em nenhum outro canto no quarto. Ele tentou se acalmar enquanto levantava da
cama e vestia seu roupão. Jonathan começou a andar em volta da mansão, quarto
por quarto procurando sua esposa, mas o que ele encontrou pelo caminho o fez
parar bruscamente e cair de joelhos! Ele não podia acreditar no que via, no meio de
um quarto desocupado uma visão que o fez acreditar em todos aqueles
acontecimentos estranhos da noite anterior. Ele gritou para sua esposa: ³Miriam
venha cá e veja o que eu encontrei, está se movendo!´ ele pôde ouvi -la correndo
em sua direção. Ela deve ter sentido o terror em sua voz, ³Veja´, ele gritou para
ela, ³Um berço vazio balançando no ar!´. Ele deu um sobressalto e disse de forma
acusadora: ³Eu não trouxe isto aqui, foi você?´ agarrando em seus ombros e a
sacudindo. Quando Miriam viu o berço tudo que ela disse foi: ³Não, não, não´
repetidas vezes. Com as lágrimas escorrendo em seu rosto, ela se afastou de seu
marido e saiu correndo pelo corredor...|

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Miriam bateu a porta do quarto principal e se jogando na cama continuou a chorar
até pegar no sono. Na manhã seguinte quando a neblina fora consumida pelo sol,
Miriam acordou e descobriu que ela estava inchando de hora em hora! Ela segurou
sua barriga e não podia acreditar, parecia que estava no quinto mês de gravidez.
Ela começou a se levantar da cama e desabou novamente, quando de repente
ouviu... ou melhor, sentiu uma voz em sua mente... tão suave a princípio:
³Miriam...Miriam´ e em seguida mais alta e com insistência. MIRIAM! VOCÊ PODE
ME OUVIR? Como se isso viesse do fundo de sua alma, um calafrio começou a subir
pelo seu corpo e o quarto começou a girar lentamente e escurecer. Seu coração
disparou, gotas de suor escorriam pelo seu rosto enquanto ela lutava para sair da
cama. Levantou-se lentamente mas sentia como se não tivesse controle sobre si
mesma. Ela estendeu a mão e era como se fosse de outra pessoa, era como se o
corpo já não fosse mais dela... ela gritou por Jonathan, mas nada apareceu! Ela
tentou caminhar até a porta mas seus pés não se moviam! De repente o mundo
estava congelado no tempo, as cores do quarto a sua volta ganhavam vida e ao
mesmo tempo escureciam, como se sua consciência tivesse sido arrancada, como
se ela mergulhasse cada vez mais fundo dentro de sua mente que se tornara agora
uma prisão.

Abigail possuiu Miriam. Ela começou a caminhar pelo corredor até o quarto onde
Jonathan ainda continuava agachado, chorando, pois ele sabia que o fantasma
havia lhe dito a verdade. Isso era 9, ele sabia que a gravidez não duraria aquela
noite! Oh, ela começou a cantar uma canção de ninar, balançando o berço
novamente. E então ela disse "Eu estou tendo seu bebê meu amor". Mas não era
amor, Oh não, Ela estava possuída... e ele sabia... "Eu vou pegar o que é meu de
direito". A voz de Abigail veio de Miriam falando em línguas diferentes. Miriam
estava sendo devorada viva por dentro e novamente ela disse: "Eu estou tendo seu
bebê meu amor". Mas não era amor. Oh não, Jonathan sabia que ela estava
possuída... possuída

Jonathan deu um sobressalto e virou-se diante de sua esposa. Suas lágrimas agora
se transformaram em ódio profundo. ³Abigail, eu sei que você controla a mente
dela, Abigail´, ele gritou. ³E eu sei que é você que está falando através dela,
Abigail³. Ele segurou os ombros dela e olhou profundamente dentro de seus olhos,
procurando algum traço de sua outrora bela e amada esposa: ³Miriam, pode me
ouvir?´

Miriam/Abigail jogou sua cabeça para trás e riu: ³Eu estou viva dentro de sua
Esposa´, ela gritou numa voz sobrenatural. ³Miriam está morta, eu sou a mente
dela...´ Jonathan a interrompeu, estava furioso. "Abigail, não pense que eu não sei
o que você fez, Abigail!´. Ele a empurrou em desgosto e disse: ³Eu vou chamar um
padre, ele saberá como trazer a alma dela de volta!´. Sua mente pensou no que ele
faria agora. Quem iria ajudá-lo? Estava com o coração na mão quando
subitamente...

Miriam se debateu como se estivesse com dor, sons estranhos foram surgindo de
dentro dela, alternando entre sua bela voz e uma voz gutural do monstro Abigail.
Segurando primeiramente sua cabeça e depois a barriga, ainda agachada ela olhou
para o seu marido aterrorizado, mas os olhos dela estavam brancos. Ela fez um
som abafado e por um momento, Jonathan temeu que ela estivesse tendo uma
convulsão e que poderia enrolar a própria língua!

Ele já não podia mais ficar parado e assistir isso acontecer à mulher que ele amava.
Possuída ou não, ele a amava e ele tinha que tentar ajudá -la. Ele a puxou para
perto de si e a cingiu em seus braços. Acariciando seu cabelo e sussurrando
suavemente, ele a ninou como se ela fosse uma criança de colo. Com toda sua
força, ele a incitou a derrotar o espírito que a dominava, emprestando sua força a
ela de um modo que só pode ser compartilhado entre um marido e sua esposa.
Pareceu dar certo quando ela olhou para ele novamente e seus lindos olhos azuis
estavam tão claros quanto o dia. Ele primeiramente olhou dentro deles, cerca de
três anos haviam se passado desde que eles literalmente se toparam. Ele se
lembrava bem daquela tarde quente e ensolarada, quando estava subindo os
degraus de mármore em frente à velha igreja e ela estava descendo. Ambos
estavam absortos em seus pensamentos e nem percebeu a presença do outro se
aproximando, até que a próxima ação ele já sabia. Jonathan a estava segurando
em seus braços para evitar um tombo nos degraus duros de mármore. Quando
seus olhos se encontraram pela primeira vez, ele sentiu um formigamento descer
pela espinha. Ela rapidamente se afastou e pediu desculpas. Ele tentou dizer algo,
mas sua língua estava totalmente presa. Ela se desculpou e rapidamente foi
embora e ele continuava lá parado observando seus passos largos, se afastando
dele. Naquele momento, ele sabia que teria de descobrir mais sobre esta jovem e
encantadora mulher.

E ele fez, não demorou muito para alguém de seu status descobrir tudo o que
precisava saber sobre sua futura esposa. Seu nome era Miriam Natias e ela vinha
de uma família de classe média alta. Seu pai, Edward T. Natias era um empresário
moderadamente bem-sucedido e respeitado do East End (bairro de Londres) e
também um membro da câmara municipal. Sua mãe, Ellenore era uma mulher
elegante com fortes laços com a igreja e com o Coro das Mulheres de Rivendal, e
havia atuado em muitas peças e musicais aclamados pela crítica. Felizmente,
Miriam estava observando sua mãe ensaiar com o coral da igreja, no dia em que
eles se encontraram.

Ele tinha que tê-la, então arranjou um outro encontro µcasual¶ mas desta vez ele
estaria preparado. Vestiu seu terno favorito, aquele preto que sempre parece
ganhar as mulheres. Seu livro mais romântico de poesias em mãos, ele partiu para
µdar de cara' com ela novamente. Por hora, ele conhecia sua rotina muito bem e
toda manhã de sábado precisamente, ela vai assistir sua mãe ensaiar com o C.M.R.
O ensaio começou por volta das 9h00 e terminou as 11h30. Ele chegou lá as 8h45
na expectativa de vê-la e desta vez, realmente, falar com esta mulher que tinha
dominado sua vida pelas últimas três semanas, feito seu coração bater forte e suas
palmas docemente.

Ele sentou-se de frente para o fundo da igreja, de forma que pudesse vê-la
facilmente assim que ela chegasse. Ele releu alguns dos poemas do livro que
trouxera, tentando memorizar alguns de seus poemas favoritos. O coro saiu e
começou o ensaio. Ele abandonou a leitura e espiou por toda igreja. Havia cerca de
uma dúzia de paroquianos no recinto, alguns ouvindo, outros cantando calmamente
junto com o coro. Os coroinhas se apressaram no recinto fazendo suas variadas
tarefas mas não havia nenhum sinal de Miriam! Ele ficou com o coração na mão,
onde ela poderia estar? Quando começou a se levantar para ir embora, ele a
avistou entrando pela porta da igreja. O brilho da luz do sol de manhã clareou por
detrás dela, sua silhueta, seu corpo. O coração de Jonathan parou de bater e sua
respiração ficou presa em sua garganta. Por um momento ela parecia um anjo,
seus longos cabelos castanhos caíam ao redor de seus ombros, seu vestido se
agitava na brisa suave e junto com a luz do sol proporcionou um realce irresistível
de seus ' frutos proibidos¶.

Ele rapidamente se sentou, torcendo para que ela não o tivesse visto no momento
em que ele a encarava como um aluno apaixonado. Felizmente ela estava tão
preocupada em não se atrasar, que estava alheia a qualquer detalhe. Ela passou
por onde ele estava sentado, sem nenhum olhar. Ele se sentou e a observou por
duas horas, atento a cada movimento dela. Cada sorriso, dava asas ao seu coração
e ele percebeu que mesmo sem uma única palavra trocada entre eles, de alguma
forma ele já estava apaixonado por ela. Quando o ensaio terminou, ele pôs seu
plano em ação. Teve que escolher o momento certo. Junto com seu livro de
poemas que trouxera, em meio a muitos papéis e alguns outros livros pequenos,
ele encheu seus braços de livros e papéis, assim que ela começou a caminhar em
sua direção.

Ele fez o melhor que pôde para fingir que não a viu vindo em sua direção, quando
deu um passo a sua frente e embora eles mal se trombaram, ele deixou todos os
livros e papéis cair por toda parte. "Oh meu Deus", Miriam não pôde evitar, mas
deu uma risadinha de vista. Ele a olhou fingindo estar confuso, mas o som de seu
riso alegre e jovial, fez com que ele risse também consigo mesmo. Ambos riram
simultaneamente. Eles se agacharam para juntar a bagunça de papéis quando
levemente bateram cabeça, fazendo com que Jonathan caísse para trás em cima do
braço do banco, e derrubasse os papéis que acabara de juntar, voando papel pra
todo lado novamente. Com isso, eles literalmente µchoraram de tanto rir¶. Enquanto
tentavam juntar o resto dos papéis, ³ACHM" o líder do coro deu um leve tossido e
balançou a cabeça em desaprovação ao seu comportamento µexcessivo¶. Eles
moderaram e deram uma risadinha leve e rapidamente saíram da igreja.

³Eu sou Miriam´ ela disse assim que estavam seguros longe daqueles olhos atentos
do vereador. Ela estendeu sua mão, e ele a pegou de maneira cavalheiresca. Ele a
beijou e disse: ³Jonathan... Jonathan LaFey a sua disposição.´ Ela sorriu para ele e
naquele momento, seus corações eram um só...

³Oh Jonathan´, a voz dela o trouxe de volta ao presente com um susto: ³Aqui é
Miriam, nosso tempo acabou. Lembre-se dos degraus, é a única maneira´. Jonathan
não conseguia acreditar, era realmente sua esposa ou apenas um truque? Ele não
teve escolha, a não ser fingir também, então ele disse: ³Abigail, nada posso fazer
mas desista, Abigail!´. Ele sabia que esta era sua única chance, ele tinha que
acreditar que Miriam realmente estava lutando por dentro para controlá-la. Então
naquela voz demoníaca Miriam disse: ³Jonathan, eu concordo... sim, eu concordo´.
³Eu estou viva dentro de Sua Esposa, Miriam está morta, eu a controlo agora...
logo estarei livre!!!´|

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E lá estavam eles parados no alto da escadaria observando os degraus íngremes e
estreitos. Miriam disposta e Jonathan assustado! Fitando a escuridão, Jonathan viu
uma estrela e por um segundo ele virou as costas e lá estava ela feito um
fantasma. Ela o empurrou firme e forte degraus abaixo... "Agora finalmente
estamos a sós, Miriam! Abigail veio para ficar´. Disse a voz de Abigail de dentro de
Miriam.

Agora o nascimento de Abigail logo se concretizaria, seria a segunda vinda de um


demônio disfarçado! Era uma noite quente e sem luar, estava mais escuro do que
nunca... lá no fundo desse corpo agora possuído, a alma de Miriam estava gritando
de dor. Recordando-se daquele dia terrível, a chegada na chuva e outra vez ela
gritou por dentro. Mas Abigail já não podia mais ouvi -la, pois conforme seu
renascimento se aproximava, ela começou a perder o controle sobre Miriam. Tanto,
de modo que pela primeira vez desde sua chegada, Miriam se sentia novamente
como ela. Um raio de esperança surgiu em seu rosto confuso: 'Talvez eu venci!'
pensou consigo mesma. 'Senhor, por favor, me liberte deste pesadelo infernal!'

Mal sabia Miriam que seu destino estava selado! A única razão que ela obteve o
controle de si, foi porque Abigail tinha se retraído em sua consciência para preparar
seu renascimento. Ela tropeçou em alguns degraus escuros antes de começar a
sentir as primeiras dores do parto. Eram, a princípio, moderadas. Só umas
contrações em sua barriga acompanhadas por uma dor surda em sua virilha. Ela
parou por um instante para tomar fôlego e então cuidadosament e continuou a
descer os degraus. Ela precisava ver se estava tudo bem com Jonathan. Quando
parou novamente para tomar fôlego, ela poderia jurar que ouviu um gemido
baixinho surgindo da escuridão.

Apesar de sua pressa e necessidade, ela teve que parar e se sentar por um
instante. A dor voltou e ela sentiu que não iria agüentar dar outro passo, suas
pernas tremiam e a cada passo ela temia escorregar e seguiu em direção a seu
marido a muito custo através destes degraus horríveis. Oh Jonathan, como isso
pôde acontecer? Como pôde o amor deles chegar a um fim tão trágico? Não, nem
imagine! Ela pensou consigo mesma, ele tem de ficar bom, ele provavelmente
bateu com a cabeça e logo logo acordará e a levará deste lugar de volta para a
casa de onde eles nunca deveriam ter saído! Deus sabe que ela não queria partir,
oh como eles discutiram sobre isto quando souberam que haviam herdado a
mansão do avô e que ele na verdade a esperou para buscá-la e levá-la para longe
de sua família e de sua vida e partir para um lugar tão desolado como este.

Aquele homem pode ser tão teimoso quanto uma mula, ela pensou consigo. No
último ano de seu noivado, as coisas não tinham sido boas entre eles. Ela estava
surpresa por finalmente ter se casado com ele... não, ela não estava. Tão furiosa
quanto ela andara com ele, não dava pra mentir pra si mesma. As coisas nem
sempre estiveram assim. Ela relembrou do primeiro beijo deles, ela nunca tinha
agido tão impulsivamente, mas depois que aquele garoto bobo se meteu em tanta
confusão para se encontrar 'acidentalmente¶ com ela e fazer uma cena e tal, será
que ele realmente acha que eu ainda não sei como ele andou por toda cidade
perguntando sobre mim? Que ela não se lembraria dele em seu primeiro contato?
Aqueles belos traços, seus ombros largos e altivos, como ela poderia esquecê-lo?
Após seu primeiro encontro, ela esperou que ele a convidasse e quando o viu
parado, a encarando na igreja, tudo que ela podia fazer para agir como uma
verdadeira dama, era passar por ele friamente. Ele era o homem afinal de contas, e
ele teria que tomar a iniciativa, por mais que ela desejasse conhecê-lo. Ela não era
aquele tipo de mulher, tal qual sua tia, conhecida como a rameira da cidade!

Mas finalmente ele tomou a iniciativa e o resto já se sabe, ela estava nos braços
dele debaixo de um pé de salgueiro no parque atrás da igreja. Ela sabia que não
deveria estar lá, que ela deveria fazê-lo cortejá-la adequadamente antes de deixar
que ele a tocasse dessa forma, mas havia algo neste homem que a fez se sentir
como se fosse... o destino, que eles estariam juntos, como se alguma força os
tivesse unindo. Tudo que ela sabia então, era que isso lhe aprazia, então ela o
beijou. Tudo que ela sabia era o seu nome, e que ele a fizera rir, e por ora aquilo
era mais do que suficiente. Aquele dia, enquanto eles passeavam de mãos dadas
conversando sobre tudo e nada, do jeito que só os jovens casais de namorados
fazem, ela se apaixonou por ele perdidamente...

A dor a tirou de seus pensamentos, era mais grave desta vez, muito mais intensa
que antes e ela sabia que se ela não se apressasse em descer os degraus, ela
estaria com um grande problema! Quando a contração parou, ela rapidamente
desceu o restante da escadaria, mas assim que chegou ao último dos degraus, a
dor voltou mas desta vez estava escoriando! A agonia tomou conta de seu corpo e
ela caiu no chão próximo a Jonathan. A dor era tão forte que ela nem mesmo
conseguia gritar. Todos os pensamentos a abandonaram, exceto um, que ela tinha
de alcançar Jonathan! Com um último esforço, ela alcançou uma mão trêmula
estendida para ela, do corpo sem vida de seu marido. ³Oh Jonathan" ela conseguiu
sussurrar para ele. A dor do parto foi tão forte, que Miriam veio a falecer. Seu olhar
final era um par de olhos amarelos!|

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Cavalgando do além. Os Sete Cavaleiros chegariam antes do amanhecer; eles eram
servos do Conde, quando Abigail nascera pela primeira vez. Em meio à escuridão os
Cavaleiros seguiram em direção à mansão, e ouviram o chamado de seu mestre.
Eles sabiam que tinha chegado a hora. "Eu os adverti, mas eles simplesmente não
ouviram!´ O'Brian pensou consigo mesmo, "eu deveria ter contado a ele que ele era
meu filho, então ele poderia ter me escutado". Mas ele se perguntou: será que ele
teria acreditado em mim? Sua mente divagou para um belo dia. Seus momentos
com Julie LaFey foram curtos mas ela o amara como nenhum outro. Ela lhe deu um
filho, e ele a amou por isso mais do que qualquer coisa. Se pelo menos as coisas
tivessem sido diferente... se pelo menos.

O tropel dos cavalos unia-se as batidas de seu coração. Ele temeu o pior para seu
filho e Miriam, e agora com seu mestre os chamando, isto só podia significar uma
coisa, Abigail renascera! O Conde havia lhe dito que algum dia Abigail retornaria.
Ele sabia que o Conde os chamara para matá-la, mas o Conde não sabia seu
segredo. O Conde ficaria furioso se ele descobrisse a verdade... se ele descobrisse o
que ele tinha planejado. O'Brian sabia que ele não iria viver para ver a luz do dia.

Eles puxaram as rédeas quando se aproximaram dos portões da mansão. Uma vez
lá dentro, a poucos metros do velho portão de ferro, ele se abriu lentamente e
O'Brian sabia que eram as mãos invisíveis do Conde. Ele podia sentir sua presença
ao seu redor e isto lhe causava calafrios em sua espinha. Mesmo após todos esses
anos de serviço, ele não tinha conhecimento de sua presença sobrenatural. Uma
vez atravessado os portões, o Conde surgiu diante deles em toda sua glória
sombria. "Ahh meus Cavaleiros leais, vocês chegaram aqui a tempo. Foi como eu
previ, Abigail foi concebida e trouxe o mal novamente a este lugar!" Em todos os
anos que ele tinha trabalhado para La Fey, esta foi a primeira vez que ele sentiu
medo na voz do Conde. Ele prosseguiu: "Vocês a encontrarão no sarcófago, mas
tomem cuidado, é uma visão terrível. O bebê Abigail estava comendo... oh mal
posso lhes dizer! O'Brian só podia imaginar o que o Conde queria dizer. ³Vocês
devem pegá-la e trazê-la para a capela na floresta. Agora vão... A cerimônia e o
caixão estão esperando"

Os Cavaleiros entraram pela mansão e desceram pelos degraus escorregadios até o


fim, da qual os piores medos de O¶Brian se concretizaram. Lá, nas sombras ao pé
da escadaria, jazia o corpo inanimado de seu filho Jonathan. Embora não tenha
estado presente na vida do garoto, ele sempre o amou. Ele engoliu seco e
vagarosamente seguiu em direção a ele. E disse aos seus homens: ³Eu checarei
este aqui, o restante de vocês se espalhem e encontrem o bebê´.

Ele se agachou para examinar algum sinal de vida e quando ele o revirou, a luz da
tocha brilhou sobre seu rosto. Ele parecia tanto com sua mãe... naquele momento
sua mente regressou ao dia em que Julie deu à luz. Ela era uma mulher forte e
embora ele soubesse que ela estava com uma imensa dor, ela não gritou. ³Isso não
vai demorar muito meu bem, você está se saindo maravilhosamente´, assim ele a
encorajava. Então outra contração atravessou seu corpo, ela segurou firme em sua
mão com uma força que ele não imaginava que sua esposa pudesse controlar. Ela
cerrou os dentes e fez um esforço forte e derradeiro. Então lá estava ele. Ela tinha
lhe dado seu filho. Ele finalmente teve o seu herdeiro... se ao menos as coisas
tivessem sido diferentes.

Os gritos de seus homens o trouxeram de volta à realidade: ³Ela está aqui,


senhor´. Seu tenente correu até ele e disse: ³Que os santos nos protejam, mas
senhor nós a encontramos!´ Ele estava claramente chocado e O¶Brian não
conseguia entender o porquê. ³Jesus, Maria e José! Homem, ela é apenas um bebê!
O que poderia ser tão grave que o faria tremer feito uma mulher?´. ³Mas... mas
senhor, você não compreende... você tem que ver com seus próprios olhos!´ Então
foi isso que ele fez. Quando mais dois de seus homens saíram do quarto onde
estava Abigail, eles tapavam suas bocas e estavam cada vez mais pálidos. Um de
seus homens cruzou com ele e disse: ³Você nunca viu algo parecido!´

Agora ele realmente estava curioso, ele empurrou seus homens e entrou na sala
onde Abigail estava comendo os intestinos e os órgãos internos de Miriam! Ela
realmente era uma criança demoníaca. Talvez ele estivesse errado, e pela primeira
vez ele questionou seu plano. Ele balançou a cabeça. Não, disse a si mesmo, eu
vou fazer o que é certo, mas primeiro ele tinha que levá-la para longe da mansão e
dos domínios do Conde. Ele c hamou seus homens. ³Venham, nós temos que
amarrar a criança e levá-la para a floresta.´

Algum tempo depois na capela dos Cavaleiros, os sete cavaleiros se reuniram ao


redor de um pequeno caixão que havia sido posto no altar. Em cada uma de suas
mãos havia uma estaca de prata e em cada um de seus rostos havia uma máscara
de maus presságios e medo. Sentado dentro do caixão um bebê com olhar
inocente, suas mãozinhas minúsculas agora desamarradas. Ela olhava feito um
anjo. Na frente do caixão estava Padre O¶Neil. Ele era o clérigo e deu início à
cerimônia.

"Estamos reunidos aqui esta noite


Para enterrar Abigail LaFey
A quem sabemos agora
Nasceu morta na primeira vez
No dia 7 de Julho de 1777

Abigail deve ser pregada em seu caixão


Com sete estacas de prata
Uma em cada braço, mão e joelho
E que a última das sete
Seja cravada em sua boca
Para que ela nunca possa se levantar
E causar o mal novamente

Quem será o primeiro?"

"Eu, O'Brian dos Cavaleiros Negros


Proíbo este sacrilégio
Todos vocês sabem que esta Criança Demoníaca
Traz dentro de si o espírito de Abigail
Mas o que vocês não sabem é que ela é
A reencarnação de minha meia-irmã nascida morta
Seu espírito não é Maligno, muito menos Bondoso
Tudo que ele quer, é corrigir as coisas novamente
Então poupem esta vida
Na qual a vingança pode ser minha
E Abigail poderá encontrar sua paz definitiva"

³Eu, O¶Brian, assim digo³


³Que assim seja´
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