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Homilia de D.

Manuel Felício na Peregrinação Diocesana da Guarda a


Fátima

Sr. Reitor do Santuário,

Srs. Padres, diáconos e outros ministros do altar,

Irmãos e irmãs,

Peregrinos,

Estamos em peregrinação ao Santuário de Fátima e a Diocese da Guarda


cumpre uma tradição que é mais do que cinquentenária.

De início peregrinação a pão e água, agora queremos que continue a ser


verdadeiramente peregrinação, feita de penitência e oração, como recomenda
a mensagem de Fátima.

Fazemos a nossa peregrinação no dia em que se cumpre o aniversário da


quarta aparição de Nossa Senhora, como ouvimos na introdução feita a esta
celebração. Escutamos, à distância de 93 anos, o apelo feito por Nossa
Senhora aos três pastorinhos, pedindo-lhes que rezassem, rezassem muito
pela conversão dos pecadores. E acrescentou: “Há muitas almas que vão para
o inferno por não haver quem reze e se sacrifique por elas”.

O pedido de oração e penitência não perdeu nenhuma actualidade e nós


estamos aqui, em peregrinação, para lhe dar cumprimento.

Peregrinamos ao Santuário de Fátima também três meses depois da visita que


nos fez o Santo Padre Bento XVI. Continua muito presente neste Santuário o
seu apelo para vivermos a sério a Fé e a Missão em que ela nos compromete.

E quando nos falava em missão, o Papa sublinhava que agora o critério


decisivo para definirmos o que são terras de missão já não é a geográfica. Ou
seja, terras de missão não são apenas aquelas que estão longe de nós e onde
nunca se ouviu falar de Jesus Cristo. Ao contrário, há ambientes muito
próximos de nós que um dia foram tocados pelo Evangelho e ainda
permanecem com muita simbologia e muitas tradições de Fé, mas que agora
se encontram realmente afastadas de Cristo. Sobretudo há muitas pessoas que
um dia foram baptizadas, fizeram o seu percurso de Fé durante a infância, mas
depois se afastaram do Evangelho. Terrenos de missão são para nós hoje
também estas pessoas e  estes ambientes, o que nos obriga a, de forma
criativa, procurar os caminhos mais indicados para promover o seu reencontro
com a Fé. É isto a nova evangelização que a Igreja nos recomenda.

A este apelo do Papa quer responder a Igreja em Portugal com coragem e


determinação. Por isso, a Conferência Episcopal Portuguesa já desencadeou
um processo que pretendemos seja participado pelo maior número de cristãos
e instâncias decisórias das distintas comunidades cristãs, a que chamou
“Repensar a pastoral da Igreja em Portugal”. Duas notas estão à partida a
marcar este processo de reflexão e decisão: uma delas é que precisamos de
renovar a Fé em nós e nas nossas comunidades; a outra é que da Fé faz parte
a missão.

Também nós queremos hoje colocar aos pés de Nossa Senhora esta grande
preocupação da Igreja em Portugal e procurar que seja cada vez mais a grande
preocupação de cada um de nós.

Escutámos o Evangelho que hoje nos convida a acolher a Palavra de Deus e a


pô-la em prática. Esse é o exemplo e o apelo de Nossa Senhora. Ela é de facto
a primeira discípula de Cristo e o modelo de quem acolhe a Palavra Eterna de
Deus, na Pessoa de Seu Filho Nosso Senhor Jesus Cristo Salvador.

Também nós queremos sentir, como Maria, que a Palavra de Deus nos
congrega e nos envia. Podemos fazer a experiência da escuta da Palavra
individualmente; mas o que nos é pedido é que o façamos em comunidade, em
grupos de escuta, de partilha e de discernimento dos caminhos por onde há-de
ser conduzida a missão em que a mesma Palavra também nos compromete.

Para isso é importante que as nossas Paróquias ou mesmo unidades pastorais


sejam progressivamente Comunhão de Comunidades mais pequenas.
Comunidades onde as pessoas se conhecem, se relacionam intensamente, se
ajudam a superar dificuldades e a viver a vida com esperança.

Ao mesmo tempo é necessário promover também a comunhão de serviços e a


valorização dos carismas para que todas e cada uma das pessoas se sintam
bem a participar na vida da comunidade.

A Palavra de Deus, estando no centro da vida das pessoas e das


comunidades, é a luz e a força que nos há-de ajudar a encontrar os caminhos
da renovação da Fé, contribuindo, assim, também para uma vida social onde
há lugar para todos e ninguém se sente à margem.

Ao iniciarmos um novo ano pastoral, queremos pedir a Nossa Senhora que


coloque sobre todos nós e as nossas comunidades o seu olhar de Mãe e o seu
manto de protecção.

Assim, com o modelo de Maria à nossa frente, queremos que este ano pastoral
nos ajude a progredir na nossa condição de discípulos missionários.

Igreja da Santíssima Trindade, 19 de Agosto de 2010

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

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