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PRÁTICA EM SERVIÇO

Valentin Heigl 07.08.2010


Prática em serviço
Relatório sobre prática em serviço no CAPSad- Mané Garrincha-RJ

O seguinte relato é resultado de mais de 2 meses de presença em um serviço


de saúde mental, o CAPSad Mané Garrincha.
Primeiramente, o horário no CAPSad ficou estabelecido da seguinte forma: um
turno de manhã, nas segundas-feira, participando de um grupo de partilha de usuários
seguido de um grupo de musicoterapia, e nas terças-feira, na reunião de equipe.
O grupo de partilha é composto por usuários do CAPSad. Além dos usuários,
havia Vinícius, músicoterapeuta, que coordena o grupo, Adara, residente de psicologia,
Gisele e eu.
O encontro consiste na partilha de falas e relatos do cotidiano dos usuários,
trazendo à tona a problemática das drogas. O número médio de participantes é de 8
usuários, podendo variar tanto para menos quanto para mais. Apesar dos encontros
possuírem uma mesma organização, cada oportunidade revelava-se diferente da
anterior. Nos encontros, os usuários relatavam suas experiências para o coletivo e essa
fala rodava por todos aqueles que desejavam se pronunciar. A função de Vinícius era
fazer essa fala rodar, assim como controlar a discussão. É uma referência forte para os
membros mais assíduos do grupo.
Pude constatar que existe uma identificação dos usuários com o título de
“dependente químico”, sendo comum, mesmo em um grupo constante e de
integrantes que já se conhece faz tempo, a apresentação de si nesse aspecto. “Bom
dia, meu nome é fulano e sou um dependente químico” é uma frase que é
freqüentemente usada como abertura da fala dos usuários. A constatação da
importância da(s) droga(s) na vida dessas pessoas também se faz presente, assim
como os relatos de impotência perante o uso e as perdas decorrentes desse uso. Este é
um ponto comum entre os integrantes do grupo e reforça um ideal que alguns
alcançam, mas que a maioria almeja (pelo menos em fala): a abstinência. É impossível,
segundo eles, fazer um uso parcial e recreativo da droga, posto que a compulsão é
tamanha. Nesse sentido, talvez não seja pertinente falar de redução de danos.
Esse espelhamento em dinâmicas similares aos dos grupos de mútuo-ajuda,
como AA e NA, é enfrentado na medida em que o grupo de partilha tem como
proposta um espaço mais livre e aberto, e não somente focado em uma lógica de
diagnóstico-acusação. Assim, busca-se que a fala não se limite somente aos agravos e
dificuldades encontradas na relação com a droga, mas que outros aspectos do dia-a-
dia, que ficam encobertos pela força que a questão da toxicomania impõe, possam
surgir. Isso não implica, entretanto, que a relação com as drogas é desconsiderada,
posto que é central e constitui o motivo pelo qual os usuários buscam tratamento, mas
sim refere-se na reconstrução de uma história pessoal que busque as causas desse
percurso em específico, tendo em vista o tratamento. Pude observar essa direção
funcionando, quando um usuário, depois de algumas sessões se repetindo, começou a
falar da família, da filha, do filho, do passado, quando era mais novo, o que tinha feito
e, por fim, o que faria no tocante a essas questões.
O grupo de musicoterapia ocorre logo após o grupo de partilha. Um fenômeno
interessante acontece, pois pessoas (usuários e não-usuários) são muitas vezes
atraídas para o grupo. Além disso, os usuários participam tocando os instrumentos. A
escolha das músicas propicia uma reflexão sobre a letra, uma vez que essa escolha
abrange a mensagem da letra e o contexto no qual ela se insere na vida dos usuários.
Notei que muitos usuários, mais quietos e circunspectos, participam da atividade com
entusiasmo. O fechamento da manhã com esta atividade possibilita uma maneira
lúdica de complementar o grupo de partilha.
Nas reuniões de equipe, às terças, são dados informes, discutidos casos clínicos
e questões relativas ao CAPS. A presença de supervisora Ana Cristina Figueiredo
possibilita maior direcionamento e encaminhamento às questões tratadas, além de
fornecer uma ancoragem teórica. Um problema surgiu durante o tempo em que estive
no CAPSad, tomando tamanha proporção que dificultou o andamento da reunião,
assim como do próprio funcionamento do dispositivo. A maioria dos profissionais são
contratados por uma instituição, que repassa as verbas da prefeitura. Essa instituição,
por alguma razão, não repassou os salários. Já existe um histórico de atraso no
pagamento dos salários, mas, naquele momento, contava-se dois meses de salários
atrasados, além de um atraso maior no pagamento de benefícios, como vale-
transporte e vale-alimentação. Em vista dessa situação, a equipe decidiu por entabular
uma greve desses funcionários, enquanto os concursados continuariam trabalhando,
mas certas atividades, como recepção e grupos, seriam suspensos até que os salários
fossem recebidos.
Quando encerramos nosso período no CAPSad, a situação permanecia a
mesma. As previsões de pagamento não se concretizaram. O descaso público com os
serviços torna o trabalho mais difícil ainda e compromete a disposição dos
funcionários destes serviços. Que resposta pode ser dada a isso?
Relatório prático de atividades desenvolvidas no Caps ad Alameda
Clarisse Barroso

A parte prática do meu estágio foi desenvolvida no caps Alameda – Niterói/RJ e


teve o intuito de promover a aproximação com a realidade dos usuários dos serviços
oferecidos no caps, que são pela relação de dependência com o álcool e drogas os
indivíduos estigmatizados um dos objetos de nossa pesquisa. Participei entre os meses
de junho e agosto de 2010 do grupo de acolhimento que tem como ponto norteador à
redução de danos e mediado por agentes redutores de danos .
O grupo de acolhimento é realizado as segundas feiras no horário da manhã.
Cada reunião tem um tema de debate proposto pelos redutores de danos ou os
próprios participantes propunham um assunto e ficavam livres para falar de algo que
achavam pertinente. A minha fala era permitida quando quisessem ou quando alguma
coisa era perguntada diretamente a mim por um dos participantes, o que me tirava da
situação de mera observadora e colocava na situação de componente do grupo
criando um vínculo importante com os demais, e até de confiança já que em vários
momentos as falas foram bem pessoais e não seria justo um mero observador que não
se colocasse na situação deles
Embora a redução de danos seja a estratégia norteadora do grupo, alguns
participantes optavam pela abstinência. Talvez optar não seja a palavra mais
adequada, pois como relatavam, não havia para eles a outra opção, a de consumir com
certos cuidados e moderadamente, falavam da perda do controle quando iniciavam o
uso, sobretudo em relação ao uso álcool, adotavam então a “tolerância zero”, como
eles definiam esse não consumo. O que veio confirmar o que tinha lido anteriormente
que as práticas, os modelos e serviços de atendimentos devem ser múltiplos para se
adequar às características dos diversos usuários.
Todos mostram o desejo de parar o consumo ou de conseguir desenvolver uma
relação menos danosa com as drogas, porém, eles têm a noção de que a recaída faz
parte do processo e quando apareceu um caso na fala de uma participante, esse não
foi recriminado por essa recaída. Porém, isso não que dizer que não havia um
movimento de policiamento do comportamento alheio, há alguns elementos que
exercem essa função.

A maioria dos participantes do grupo é homem e está acima dos 30 anos de


idade, alguns jovens participam, pelo que observei não eram tão assíduos como os
demais. Muitos relatos desses homens se relacionavam a vida familiar, de como são
desacreditados e a luta que é para reconquistar a confiança dos familiares, sobretudo
de filhos e de como eles sofrem com esse sentimento de responsabilidade pela
situação atual que vive e pelo sofrimento que causam nos demais membros de suas
famílias.
Por duas ocasiões também participei da oficina de teatro, nesses dias
ocorreram os ensaios da peça que eles criaram, produziram e apresentaram, se
utilizando dos métodos propostos pelo teatro do oprimido. A exposição dos problemas
por eles enfrentados na vida familiar e comunitária e a interlocução da platéia com
essas “personagens”, com o objetivo de estimular a reflexão sobre os problemas que
eles enfrentam e que vão muito além do prejuízo na saúde.
Antes mesmo de começar a participar do grupo de acolhimento tive
explicações do contexto de implementação do caps, de como ele se estrutura e como
se insere na rede de saúde mental. Essa parte da prática, principalmente para mim
representou mais que um aprendizado, foi mesmo uma descoberta, era algo que eu
ignorava e muito dessas informações eu já passei adiante e para que cheguem aos que
precisam
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV)
Laboratório de Educação Profissional em Atenção à Saúde (Laborat)
Regis Vinicius Silva da Gama Ferreira

Prática em serviço
Minha prática se deu no CAPs AD Alameda localizado em Niterói. Logo na minha
entrada, ambientação ao dispositivo, ficou clara a dificuldade das condições de
trabalho na tentativa de se oferecer um bom atendimento aos pacientes e aqueles que
chegam procurando atendimento. Fui percebendo uma falta de infra-estrutura que
criava a demanda de a todo instante se “inventar” uma nova forma de trabalhar diante
das possibilidades diminutas para se promover saúde naquele espaço.
O dispositivo tem seu funcionamento de 8 da manhã até as 4 da tarde, mas com a
demanda por possuir um prolongamento desse horário as sextas feiras para ofertar
um espaço de conversa num período muito crítico para o usuário de drogas, o começo
do fim de semana.
Após minha ambientação fui alocado em duas frentes de trabalho. Nas segundas feiras
fiquei encarregado de acompanhar o processo de recepção dos pacientes que chegam
ao CAPs pela primeira vez e lá receberem uma avaliação de onde poderão ser alocados
esse paciente através de uma investigação sobre a história de vida desse sujeito. Nas
sextas feiras fui alocado para trabalhar no grupo de redução de danos, um grupo que
visa discutir como é possível manejar o uso da droga para que ela cause menos
prejuízos para aquele que faz uso da droga.
Na recepção pude pensar bem se aquilo não passava de uma triagem ou se tinha algo
além. Ficou claro p mim que no momento da chegada de um sujeito pedindo ajuda, há
o acolhimento de uma demanda inicial; pensando assim fica claro o caráter
terapêutico do processo de recepção, pois ali, há um endereçamento, já começa a se
estabelecer um transferência e assim fazer um vinculo que permite a continuidade do
trabalho. Pessoalmente foi muito importante entrar em contato com a realidade e
assim diminuir, também, o meu preconceito, a estigmatização e entrar realmente no
processo do estagio que é a diminuição do estigma a fim de facilitar o acesso ao
usuário que tem a intenção de parar de usar drogar, mas não quer ser marginalizado
ao buscar tratamento.
No grupo de redução de danos um dos aspectos importantes foi conviver com a
necessidade de ofertar o espaço mesmo que não exista clientela e mais interessante
foi à inversão de uma máxima do capitalismo que fala sobre a oferta/demanda que
fala de quanto mais demanda mais ofertas serão feita sendo que no nosso caso temos
que ofertar para criar uma demanda, criar uma cultura de ir ao grupo. Esse grupo se
constitui como um espaço aberto que acolhe qualquer um que esteja a fim de falar
sobre drogas. A redução de danos em si foi um ótimo achado para mim que
compactuo coma dificuldade de se abandonar as drogas de uma só vez, se deixar de
usar drogas for possível.
O contato com os paciente foi muito gratificantes, pois paramos de enxergar números,
estatísticas, teorias e passamos a ver que existem sujeitos que sofrem na sua
singularidade, que tem caminhos diferentes, apesar de podermos constatar várias
semelhanças em alguns casos.
Meu trabalho visa pensar a questão de qual o conceito de clínica que cabe para o
trabalho que é feito pelo CAPs tanto interno quanto externo. A extensão que o
trabalho terapêutico tem dentro do serviço é muito grande, isto é, o trabalho é
coletivo. Dessa clinica são responsáveis desde os psicólogos e psiquiatras até o agentes
comunitários e redutores de danos. Nos casos dos agentes essa afirmação cabe
quando vemos que o caráter de trabalho do agente não é meramente informativo,
mas também passa pelo lugar de manutenção do vinculo desse paciente com a parte
interna do serviço. Isso é muito importante se tomarmos para nos a idéia de
reinserção social e cidadania que esta sendo muito colocada como um trabalho clínico,
apesar de ser importante por em discussão se deve existir um hierarquia de
prioridades, se podemos julgar algo mais importante, a clinica ou tornar o sujeito
cidadão.
O mais importante foi conseguir perceber como a clínica suporta torções, variações e
adaptações que se fazem necessárias no cotidiano de um serviço que opera de forma
precária. Dessa forma demanda de ter profissionais qualificados que tomem decisões a
cada instante e assim possibilite a não paralisação do serviço se faz muito grande
dentro do CAPs.
Outro caráter importante é o CAPs servir como qualificador de mão de obra e assim
acabando por se tornar uma referência. Mesmo com toda precariedade temos um
espaço que recebe pessoas com problemas no uso das drogas e qualifica pessoas que
possam a vir se tornar parceiros no trabalho de diminuição do estigma e facilitação do
acesso para aqueles que queiram mudar a sua relação com a droga.
Por fim sair da teoria foi importante para dar a noção de responsabilidade, de que
estamos lidando com vidas e essas vidas demandam cuidado além de buscar uma
maneira de cuidar de si próprio.

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