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Prática em serviço
Minha prática se deu no CAPs AD Alameda localizado em Niterói. Logo na minha
entrada, ambientação ao dispositivo, ficou clara a dificuldade das condições de
trabalho na tentativa de se oferecer um bom atendimento aos pacientes e aqueles que
chegam procurando atendimento. Fui percebendo uma falta de infra-estrutura que
criava a demanda de a todo instante se “inventar” uma nova forma de trabalhar diante
das possibilidades diminutas para se promover saúde naquele espaço.
O dispositivo tem seu funcionamento de 8 da manhã até as 4 da tarde, mas com a
demanda por possuir um prolongamento desse horário as sextas feiras para ofertar
um espaço de conversa num período muito crítico para o usuário de drogas, o começo
do fim de semana.
Após minha ambientação fui alocado em duas frentes de trabalho. Nas segundas feiras
fiquei encarregado de acompanhar o processo de recepção dos pacientes que chegam
ao CAPs pela primeira vez e lá receberem uma avaliação de onde poderão ser alocados
esse paciente através de uma investigação sobre a história de vida desse sujeito. Nas
sextas feiras fui alocado para trabalhar no grupo de redução de danos, um grupo que
visa discutir como é possível manejar o uso da droga para que ela cause menos
prejuízos para aquele que faz uso da droga.
Na recepção pude pensar bem se aquilo não passava de uma triagem ou se tinha algo
além. Ficou claro p mim que no momento da chegada de um sujeito pedindo ajuda, há
o acolhimento de uma demanda inicial; pensando assim fica claro o caráter
terapêutico do processo de recepção, pois ali, há um endereçamento, já começa a se
estabelecer um transferência e assim fazer um vinculo que permite a continuidade do
trabalho. Pessoalmente foi muito importante entrar em contato com a realidade e
assim diminuir, também, o meu preconceito, a estigmatização e entrar realmente no
processo do estagio que é a diminuição do estigma a fim de facilitar o acesso ao
usuário que tem a intenção de parar de usar drogar, mas não quer ser marginalizado
ao buscar tratamento.
No grupo de redução de danos um dos aspectos importantes foi conviver com a
necessidade de ofertar o espaço mesmo que não exista clientela e mais interessante
foi à inversão de uma máxima do capitalismo que fala sobre a oferta/demanda que
fala de quanto mais demanda mais ofertas serão feita sendo que no nosso caso temos
que ofertar para criar uma demanda, criar uma cultura de ir ao grupo. Esse grupo se
constitui como um espaço aberto que acolhe qualquer um que esteja a fim de falar
sobre drogas. A redução de danos em si foi um ótimo achado para mim que
compactuo coma dificuldade de se abandonar as drogas de uma só vez, se deixar de
usar drogas for possível.
O contato com os paciente foi muito gratificantes, pois paramos de enxergar números,
estatísticas, teorias e passamos a ver que existem sujeitos que sofrem na sua
singularidade, que tem caminhos diferentes, apesar de podermos constatar várias
semelhanças em alguns casos.
Meu trabalho visa pensar a questão de qual o conceito de clínica que cabe para o
trabalho que é feito pelo CAPs tanto interno quanto externo. A extensão que o
trabalho terapêutico tem dentro do serviço é muito grande, isto é, o trabalho é
coletivo. Dessa clinica são responsáveis desde os psicólogos e psiquiatras até o agentes
comunitários e redutores de danos. Nos casos dos agentes essa afirmação cabe
quando vemos que o caráter de trabalho do agente não é meramente informativo,
mas também passa pelo lugar de manutenção do vinculo desse paciente com a parte
interna do serviço. Isso é muito importante se tomarmos para nos a idéia de
reinserção social e cidadania que esta sendo muito colocada como um trabalho clínico,
apesar de ser importante por em discussão se deve existir um hierarquia de
prioridades, se podemos julgar algo mais importante, a clinica ou tornar o sujeito
cidadão.
O mais importante foi conseguir perceber como a clínica suporta torções, variações e
adaptações que se fazem necessárias no cotidiano de um serviço que opera de forma
precária. Dessa forma demanda de ter profissionais qualificados que tomem decisões a
cada instante e assim possibilite a não paralisação do serviço se faz muito grande
dentro do CAPs.
Outro caráter importante é o CAPs servir como qualificador de mão de obra e assim
acabando por se tornar uma referência. Mesmo com toda precariedade temos um
espaço que recebe pessoas com problemas no uso das drogas e qualifica pessoas que
possam a vir se tornar parceiros no trabalho de diminuição do estigma e facilitação do
acesso para aqueles que queiram mudar a sua relação com a droga.
Por fim sair da teoria foi importante para dar a noção de responsabilidade, de que
estamos lidando com vidas e essas vidas demandam cuidado além de buscar uma
maneira de cuidar de si próprio.