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2. muito conhecido o esforo feito por G. Marcel, entre outros, para su-
perar a noo de verdade que o iluminismo e o positivismo cientista haviam
introduzido, e a cujos impasses acabmos de fazer referncia, pela introduo,
entre outras, de uma distino entre problema e mistrio2: o problema seria o
mbito de tudo aquilo que pode ser dominado ou manipulado pelo homem e,
portanto, susceptvel de experincia e de conhecimento cientfico; o mistrio
todo o vasto mbito da realidade que o homem no pode abarcar, porque o
envolve de todos os lados, sendo que dessa realidade que ele no pode objecti-
vamente abarcar ou dominar com o olhar, ele mesmo faz parte. Neste sentido,
o homem tem a capacidade para resolver problemas, mas est fora do seu al-
cance resolver o seu problema, porque, em ltima instncia, o homem no faz
parte dos campos problemticos, mas sim do vastssimo horizonte do mistrio.
E o mistrio, nesta acepo, evoca o excesso de sentido de toda a realidade, dos
mundos conhecidos ou possveis, pressentido de certo modo pelos poetas, re-
presentado na tragdia grega, naquilo que por sua vez Pascal considerava a
grandeza e a misria do homem, no fundo, o apelo a que o homem transcenda
infinitamente o homem3, porque, agarrado terra, est aberto e erguido para
o cu, para a infinita transcendncia espiritual, de um sempre mais insacivel,
e que impregna o fundo mais essencial do seu ser, a que a cincia, nem sequer
a psicologia, pode aceder, mas apenas manter-se, e mesmo assim muito dis-
tncia, no limiar, porta do ser!...
6. Se tudo isto tem sentido, conclui ento K. Rahner no seu estudo de-
dicado a este tema8, o mistrio tem a ver com Deus mesmo, na sua auto-co-
municao divina, na revelao e na glria, e nesta auto-comunicao
divina Deus oferece-se ao homem, elevando-o para si, como Trindade. E
por isso, no se d uma pluralidade quase infinita de mistrios, tantos
quantas as proposies dogmticas a que se referia a teologia, mas sim um
s mistrio, ou se quisermos, trs mistrios, que dizem respeito Trindade,
em si mesma e no mistrio da incarnao/unio hiposttica, e na elevao
pela graa comunho trinitria, que constitui a finalidade ltima do ho-
mem, em demanda de felicidade.
E ento as proposies dogmticas adquirem um outro sentido e finali-
dade: elas so expresses simblicas, precisamente no sentido que assume a
expresso smbolo dos apstolos que se refere aos artigos da f nos quais se
desdobra a profisso de f baptismal, que essencialmente uma profisso