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PAULO CESAR SCARIM DEDALUS - Acervo - FFLCH-GE IAM 21100002108 COETANEOS DA CRITICA CONTRIBUIGAO AO ESTUDO DO MOVIMENTO DE RENOVACAO DA GEOGRAFIA BRASILEIRA Dissertagdo apresentada como requisito 4 obtencao do grau de Mestre em Geografia do programa de Pés Graduagac em Geografia Humana da Universidade de S40 Paulo, sob orientacao da Prof’, Dr°. Ana Fani Alessandri Carlos ANEXO: ENTREVISTAS ‘SBD-FFLCH-USP Sao Paulo, 2000 TON li Carlos Walter Porto Goncalves, 27 de agosto de 1999 Scarim : Quando vooé entra na Geografia, como ela estava? O que era discutido? Que autores estavam influenciando a Geografia? Carlos Walter ; Eu entro na, para fazer 0 curso de Geografia em 1969, minha turma € a primeira turma que vai conviver na universidade com o famoso © famigerado artigo 477, que foi 0 desdobramento especifico para as universidades do Ato Institucional n° 5, entio ficou uma universidade muito marcada pela repressfo, entdo 0 periodo na verdade de debates muitos restritos, & um periodo de transigio onde comega a se introduzir ainda na universidade, o pessoal rejeitando wm pouco, mas na verdade a gente via, assim como um pano de fundo do que aparecia como sendo a inovagdo da Geografia, aparecia aquilo que o IGE estava introduzindo no Brasil & ¢poca, através da chamada Geografia Quantitativa, que comegava a se ensaiar como referéncia & época que eu estudava, ena universidade era basicamente e até mesmo Pierre George estava meio em baixa ja com os préprios professores, mas era referéncia um pouco do que se discutia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Entio o debate era mesmo, 0 que marcava, eram os professores que tinham caracteristicas Malthusianas, ¢ um debate te6rico de fato muito precdrio, as pessoas tinham uma tradi¢Zio muito empirista, na verdade, e até, digamos assim, e até no explicitando os fundamentos te6ricos que eles abragavam, aparecia cada um, trazia para a sala de aula uma metodologia, uma forma de ensinar a Geografia, quando dava aula de Geografia do Brasil, dava aula de Geografia Agniria, dava aula de Geografia Fisica, mas me lembro até na Geografia Fisica, aqui ainda se discutia um pouco das teorias evolucionistas do Willian Morris Daves, que eram apresentadas, teoria do relevo na juventude, na maturidade, na velhice, os ciclos da erosao e tal, engragadlo que na Geografia Fisica ja se discutia um pouco de teoria. Me lembro também como referéncia tedrica assim que chegou até a gente, um pouco Hartshorne, com Questées sobre a Natureza da Geografia, foi talvez. assim o livro de referéncia tedrica mais consistente que chegou até a gente, ¢ tinha os professores Hartshornianos, no caso a Maria do Carmo Galvao, uma ge6grafa ligada a0 campo da agréria, mas no geral era um debate teérico muitissimo precdrio, na verdade o que a gente foi adquirindo de teoria, eu falo ure pouco por mim, € telvez até por uma parte da geraglio dos que vo constituir a Geografia Critica, vieram de fora da universidade Scarim : Esse fora significa o que para voce? Carlos Walter : Vieram basicamente daqueles geégrafos, pelo menos dos que vo construir uma Geografia Critica, que eram basicamente dos gedgrafos que independentemente de serem gedgrafos a fuziam militéncia politica, ¢ na militancia politica tinham um acesso @ teorla marxista, Entéo no tivemos assim na verdade um acesso a teoria marxista pela via académica, na verdade € até interessante, porque essa 6 a propria trajetéria do Marx. Marx também faz a sua trajet6ria politica nfo pela via académica, o Lenin também, tanto Marx, como Lenin eram formados em Direito, mas nd foi , apesar (la construgiio teérica deles fazer um contraponto com seus, com as suas referéncias de filésofos ‘em direito, Hegel 6 um deles, por exemplo, no caso do Marx. E, na verdade eles constréem isso no priximo do envolvimento que eles tem com as lutas sociais. ‘Scarim : Neste periodo de estudante de graduagao voce participava de grupos politicos? Carlos Walter : Nao. Eu ja entrei na universidade no periodo de 69. Sou de familia operaria, na época que eu tinha 19 para 20 anos, uma familia que nao tinha tradigdo de discussio politica, Hu tive ‘um pouco de acesso a questio politica de militanca foi no, isto eu cito na revista "Geografia e Ensino” do departamento de Geografia da UFMG, o tltimo 1.°, volume 7 n° 1, af vooé tem a citagao completa, Foi uma militanga muito precdria em grémio estudantil de 2° grau, onde nem ficava muito evidente para mm a distingfo entre direita e esquerda, eu por exemplo participei de um grupo que era Liberdade, Unido e Trabalho”, se voc’ me perguntar qual o espectro ideologico daquele grupo, eu exatamente nao sei, era voltado para questdes justamente estudantis, questes da escola tal, mas era wm embrido de participacdo politica que tinhamos, depois da universidade eu ja entro vendo, observando pessoas que eram afastadas de sala de aula, sumiam, depois mais tarde eu vinha compreender, seja porque sairam para a vida clandestina, seja porque cairam nas garras da represstio e no mais voltaram, hd casos, a Paula por exemplo, uma colega nossa da Geografia que depois desapareceu, depois a gente soube que ele foi assassinada pelos érgos da repressio, ¢ outros colegas que desapareceram, mas eu inclusive até por esse momento de uma repressiio especifica vollada para as universidades, eu na verdade estava entrando ali e com uma tradigo, de uma extragdo social distinta, acho que isso ajuda a entender também a origem social do movimento de esquerda, que era basicamente de pessoas de extragiio de classe média, e eu nao vinha da classe média. Eu me lembro que eu, por contatos a partir da universidade, eu comego a tomar contato com algumas pessoas de esquerda, primeiro porque eu fui dar aula num curso vestibular indicado por uma colega, de primeiro ano ainda, primeiro semestre da universidade, e nesse curso pré-vestibular, tinham professores de esquerda, alias todos era professores de csquerda basicamente, € eu comecei uma primeira socializagdo com pessoas de esquerda, que aliés até teve um fato que me marcou, ¢ eu digo que definitivamente, foi que wma vez eu tinha feito um desenho no quadro, fazendo aquelas ilhias s6cio - econémicas que 0 Manoel Coréa de Andrade fala, as ithas do Café, as illas da cana, a ilha da Borracha, tudo voltado para a exportagao, como o Brasil nfo 6 tivesse uma articulagdo interna na sua espacialidade, e eu dava aula daquilo ali, isso la em 69, ¢ eu me Jembro que en chepuei depois, tinha uma reuniio de professores desse cursinho e chegou um professor de historia, que era um homem que eu admirava, que eu ja via que era um intelectual e era um sujeito de esquerda, que perguntou, Ab! 0 César, que era um outro amigo dele, esse rapaz chamava-se Filio cesteve aqui, af eu falei assim, nfo, néo vi, A nilo, o quadro, o quadro & dele, ai eu fiquei olhando porque © quairo era meu, e daqui/um pouco chegou o César e disse que o Jiio também estaria ali, porque o quadro teria sido do Jélio, ¢ ai me chamou a atengto uma coisa muito interessante, quer dizer o quadro devia ser to bom, que s6 poderia ser feito por eles, ¢ eu achei aquilo interessante, por que senti que eu era capaz também de fazer uma coisa igual, entio eu podia ser independente, eu nfo dependia deles. Isso talver tenha me ajudado a ter uma maneira meio heterodoxa de relagao com grupos de esquerda jé meio desconfiado, Até eu conto um caso nessa entrevista que eu dei na revista GEO SUL n° 26 - Onde esses rapazes por exemplo, que foram referéncias ideol6gicas para mim importantes, tentam me fazer a cabega me explicando 0 que era ideologia, ¢ eu falei para eles que ideologia podia ser uma garrafa de guarand, ¢ eles ficaram me othando meio rindo, ironizando. E af eu disse parm eles que eu podia ser uma garrafa de guarané porque era de uma familia muito pobre, e que por exemplo a noite tinha o jantar que a minha mie costumava fazer, que chegava meu tio, que era uma familia que morava, tio com seus fithos. E essa tia que me criava, meu pai e eu e minha irmd, formava-mos una famitia, ampliada, digamos assim, que morava na mesma casa, € eu me lembro que quando a comida era boa no jantar, cortia 0 risco de nao ter almogo, entao era paradoxo. Entiio 0 que’ minha tia, minha mae na verdade de eriagio, 0 que ela fazia, inteligentemente mandava comprar uma bisnaga de pao, e comprar uma garrafa de guarand e 100gr de mortadela, para quatro criangas em casa. Entio quando ela chegava e abria 0 pao, cortava o pio, em quatro pedagos, a mortadela, ¢ abria a garrafa de guarand, todos nés ficdvamos extremamente felizes. Porque n6s néio so iamos matar a fome da comida, famos matar também a fome da fantasia, iamos tomar guarand que a gente s6 tomava mas festas. E aj eu dizia para les que a ideologia podia ser uma garrafe de guarand, e eles no entendiam, e eu comecei a perceber que eu tinha uma visio um pouco mais consisteate do que fosse a ideologia, do que eles, acho que no tem exemplo melhor do que seja ideologia, Entdo a minha socializagdo com a esquerda foi essa. Ai nos ‘anos 70 sim, 74 eu comeco a militar, ¢ jé nessa época eu comegava também a Jer as obras de autores de esquerda, basicamente aqueles, tradugdes daqueles russos, marxismo oficial russo, eu me Tembro Constantinov, Concepedo Dialética da Hist6ria, Concepgio Materialista da Historia, aqueles livros oficiais rassos, que 20 mesmo tempo foram importantes para mim, com todo dogmatismo que tinham, x lia aquilo € deu muito mais um pano de fundo, mas eu jé tinha essa heterodexia de que eu tinh 6 construido-me proprio. E depois em 74 eu me ligo a um grupo Trotsquista, a Liga Opertria, Que foi talvez, ali sim eu ia tirando a minha formagao teérica Searim : Carlos Walter : (QHRHSISIHEMMEES) o grupo tinha uma avaliaco politica, era um grupo que ndo sain para a Iuta armada, ele avaliava que nfo estivamos suficientemente inserido no movimento de ‘ormagao tesriva com base em leitura ¢ grupos de discussio? ‘massas para ousar uma luta armada, eu acho que é uma avaliago correta. Tinha uma avaliagao de conjure do gue no aintva ip us as, 2 ROS EEE SOMES af isso era uma coisa muito interessante, eu acho que ajuda a entender um pouco a geragio atual, is entend canta ei SK ao Wenn pore MANOS DL _preccupagio com a transformacke sociale que © marxismo podia dar para agente isso. esse ure especificamente, eu acho que isso é genérico, voce vai perguntat ao Ariovaldo é a mesma trajetéria, a0 Rui euacho que é a mesma trajetéria, enfim, que eu me lembre assim de cara, assim, trajetérias que me sso, acho que é uma distingao da geracio atual, acho que é 0 efeito da hegemonia neo- liberal, Scarim : Nessa leitura voc estava buscando um instrumento, uma arma para a transformagio, Que idéias, que conceitos, que mais te marcaram? Carlos Walter : Eu me lembro que o grupo tinha uma preocupagao de leitura de textos clissicos ‘do Marx, lemos por exemplo © 18 Brumario, coisa tipica de marxista, de trotsquista, pelo menos no comecou com textos econémicos, ou seja @SOHCEHOTHANe eas CONSENS MS NMESTIBTEIASSES. Iss0 for uma coisa para mim muito importante. © primeiro texto lido foi 0 18 Brumétio, lemos 0 Manifesto Comunista, e lemos varios textos, por exemplo a Ideologia Alem@, foi uma coisa que nés lemos, engracado, e Jemos poucos, isso af é uma coisa interessante, que no tinha, agora voce esti me perguntando, eu estou relembrando, nés Temos pouco dos textos econdmicos, Isso foi uma coisa interessante, ¢ 0 grupo era, agente se eunia assim clandestinamente, Aquele grupo que ia passar ferias em Amaial do Cabo, Rio das Ostras, sao municipios aqui préximos a0 Rio, de balnedrios, de final de semana, entiio nds iamos em grupos de dez passavamos lendo, Sexta, Sébado e Domingo esses textos ¢ fazendo reunides de debates, o que foi muito interessante, foi pela primeita vez que eu vi a importinefa da teoria, isso foi uma coisa também importante, eu nfo sabia, como voos me perguntow antes, 0 que eu tinha lido antes de teoria, no maximo o Hartshome, texto sistematico, consistente, coerente, o Hartshorne, Que me dava uma idéia, o Hartshome vem de Hetnner, que & um autor da geografia que vai definira geografia como o estudo da diferenciacio de reas, isso é o Hetnner, € que ¢ 66 aquele tipo de definigio talvez mais senso comum do que seja gedgrafo. Ou o senso comum do ge6grafo talvez seja o Hetaner, para dizer que Geografia tem sentindo na medida em que a superficie a terra é diferenciada, se a superficie da terra fosse homogénea nfo teria sentindo para o estudo da Geografia, entio o Hetnner formula isso, por isso que 0 conceito de regio vai ser 0 conceito chave para cle, porque a dea diferenciada & a regio, ¢ & a concepeao do Hartshome, que é interessante que -vocé vai dizer assim, isso é na verdade o senso comum de qualquer gedgrafo, eu diria que 0 gedgrafo e marxista néo nega essa premissa do que seja geografia, um pouco a diferenciagdo de areas, pode-se discutit 0 que produz a diferenciagdo de Areas, ai que vem toda a discussdo da geografia, isto entio, 0 que agente adquiriu da geografia foi isso. i (GRGIGAAMME claro que como a Geografia ¢ subdesenvolvimento, ai vocé metia lé na sala de aula meio imperialismo, falava um pouco dessas coisas, que alids foi outro texto que nds lemos com muita atengao foi “O Estado ¢ a Revolucao” ¢ “ Periodo do Imperiatismo” do Lenin, Imperialismo: Estégio Superior do Capitalismo e tal, eu s6 me Jembro que eram textos muito debatidos no grupo politica, ‘entiio vocé vé que era basicamente os textos | jos Scarim : Essa sua participagdo nesse grupo , nessa altura, foi de 74 até quando? Carlos Walter : Até 77, maior ou menos 77, ai 77 é, 0 grupo racha jd, acho jé 77 para 78, porque este grupo é um grupo que depois vai se transformar no PST, Partido Socialista dos Trabalhadores que é na verdade o que esti por traz da Convergéncia Socialista, quando ela é langada como movimento de massas em 78. Entio a Liga Operiiia se transforma em PST que lanca a Convergéncia Socialista, que era uma fachada legal, muma frente de massas, digamos assim de um partido clandestino, ¢ af o racha que aconteceu em 78 foi que na verdade, algumas pessoas, como nés proponhamos a criagao de um Partido Socialista dos Trabalhadores e nés inclusive fomos responsaveis empiricos pela criagao do PT, ‘eum militante nosso que é o Zé Maria, que era colega nosso, que voct deve ter conhecido, 0 Z8 Maria que hoje é da Federagdo dos Traballadores em Metahlrgicas de Minas Gerais, mas era de Santo André, agente consegue aqui no Rio, eu participei disto, uma carta do Mario Pedrosa recomendando aos sindicalistas do ABC que eriasse um partido politico, essa carta ¢ levada para 0 congresso de Lins, isso fio esta contado na historia do PT por preconceito contra a Convergéncia, isso na verdade € um reseate or histérico que tem respeitar, quem leva a carta pata 0 congresso de Lins é o Zé Maria, carta que nds conseguimos aqui no Rio, do Mario Pedrosa, que 0 cara que introduziu o totsquismo no Brasil pouca gente sabe disso, 0 Mario Pedrosa ai nos anos 30, ele vai para a Alemanha, esse € um intelectual que tem que ser tesgatado no Brasil, o Mario Pedrosa, e ele conhece num hospital na ‘Alemanha, isso ele me contou o velhinho, conhece alguns militantes russos dos anos 20, ele conhece na ‘Alemanha, que contavam da existéncia do Trotsk, uma critica a0 Stalinismo, jé no interior da esquerda, cele tris para 0 Brasil, introduz no Brasil praticamente a discussio sobre o trotsquismo, Entio era um homem respeitado, aliés era um homem que era um eritico de arte, era um homem do campo das artes, tem um livro fantistico, A Opeao Brasileira, que ¢ uma avaliagdo do Brasil no interior da sociedade mundial, dessas andlises que grandes homens fazem, esses grandes ensaistas, que as pessoas no 1éem, porque fem uma leitura pouco a partir do Brasil, como Nestor Duarte, como Alvaro Vieira Pinto, so autores que lamentavelmente néo se Iéem no Brasil, sio pessoas que pensaram o Brosil, pensaram 0 Brasil numa perspectiva generosa, de justica social, quando no a perspectiva de esquerdia, agente conhece mais 0 Caio Prado, que é um grande desses homens, mas o Caio é um homem que teve su obra conhecida, foi dono de uma editora, publicou mais, além disso € um homem fantastico. Essa carta agente consegue, essa carta vai para Sio Paulo no congresso de Lins, do Congresso de Lins depois os trabathadores fazem outras reunides, ¢ ai avaliam a necessidade, tanto € que o nome do PT ¢ engracado, o PT 66 tinico partido politico que nfo ideologia no nome, eles ficaram tio refratirios a idéia de uma ideclogia, o partido é dos trabalhadores, a ideologia & aquela que os trabathadores vierem a definir, dai {que deu um pouco uma resisténcia também, porque os préprios trabalhadores tinham, @ uma esquerda que sempre falow em nome dos trabalhadores sem os trabalhadores, ¢ na verdade tinhamos durante os anos 70 a esquerda que saiu para salvar os trabalhadores apesar dos trabalhadores, sem estar enraizados, que legitimava muito a avaliagao da Liga Operiria, que agente no estava muito inserido no movimento de massas para podermos fazer a guerritha, no que nds fossemos contra @ guerritha como principio, nés nfo éramos contra 2 luta armada por principio, nés achévamos que se a luta se assim se apresentar ela sera feta, nfo somos por prineipio contra a luta armada, agora a luta armada sempre vai pressupor que esto inspedindo aquilo que a sociedade esti querendo de transformaco ¢ movimento de massas esti querendo, se apresentar agente vai a futa armada, se nfo for por essa razio, 4.2 posigio que Marx tinha também. um nivel de civilidade que a sociedade fem atingindo, voc® pode até ter uma revolugio por mecanismos no armados, hipdtese que o Marx admite, ew acho pouro provavel mas como hipstese esté posta. Entio agente tinha, a trajetoria politica, vai até 78 ¢ 79, ai ela se racha dentro da Liga Operiria, Liga Operdria ja PST, j4 Convergéncia Socialista, que quando os 8 trabathadores de Sdo Bernatdo resolveram langar o PT agente achava que nao tinha necessidade de ter ‘a Convergéncia Socialista, mas 0 PST, a Convergéncia, gostou de ter 0 controle de uma frente de massa que foi interessante, ali no final dos anos 70, que faz a Convergéncia Socialista, ela continuou mantendo, porque ela queria ter o controle dentro do PY, e agente entio rachou, ai eu passo a ter uma militincia na fundagao do PT e dentro do PT, ja fora de grupos de esquerda, vamos dizer assim mais organizado, entio vai de 74 até mais ou menos 79 e 80, a militincia organizada, fazendo leituras de classicos ete. Scarins Sequandoqussessumunmiitincix wrfemiecon:earoqrel Carlos Walter : Pois é, isso ai é interessante, Olha tem umas coisas que alguém tem que recuperar, mas vai ter que fazer trabalho, vamos dizer assim... Scarim : Arqueologia ! Cartes Waler + £ Amologi, Que & 0 sgvine, qHREnOMRuemannesosiser Sees ‘Scarim: Esses textos existem ainda? Carlos Walter : Eu no tenho, nfo sei se o Rui tem, Rui de maneira mais consistente que eu, porque o Ru‘ tinka uma cultura, uma erudigio maior do que a minha. O Rui, tem que cobrar do Rui isso, 0 texto que né fizemos por exemplo pro colégio, para 0 curso Miguel Couto Baiense de vestibular que sio textos arqueol6gicos, talvez voo8 possa lavrar isso, Porque? Porque a universidade mo nos abriu a porta, ou seja, a ditadura impedia que és tivéssemas acesso, ento 0 que acantece’? Scarim: O que vocé quer dizer com “a universidade no nos abriu a porta”? Carlos Walter : Terminei o curso de graduagdo em 72 normalmente ¢ fui trabalhar, fui ralar af nos cursos de vestibular basicamente, alguns colégios mais progressistas de 2° Grau, faculdade, mas dando aula na faculdade de economia, dando curso de Geografia Humana e Econémica. Em 78, a PUC abre uma porta para mim, e depois agente indica o Rui, o Rui vai trabalhar na PUC também, acho que ‘um ano depois . Scarim: Vocé foi para a PUC como? Carlos Walter : Foi um convite, talvez resgatar quem foi exatamente, eu no me lembro agora, niio sei se Jodo Rua, ndo sei. ‘Scarim: Uma ligag%o por dentro da Geografia ou por dentro da militancia? Carlos Walter ; Nao, ai acho que jé foi por alguém que precisava de professor de Geografia, agora tenho que recuperar isto, en no tenho meméria disto, mas foi um coatato estritamente pessoal, @ nao foi contato, digamos assim, talvez agente jé se conhecesse um pouco, ja estava fazendo 0 mestrado a UFRJ, eu comecei fazer em (8) Scarim : Sobre o que era? Carlos Walter : A minha intengao primeira era fazer outro tema, mas eu acabei fazendo um trabalho sobre um documento importante, sobre o que cooptou @ questo ambiental, dos contra - culturais Hippies, Bitness, um movimento de contra-cultura do maio de 68, que é onde a cultura surge 0 movimento, onde o ambientalismo surge, com uma forte dose de critica a propria idéia de desenvolvimento, a esquerda ficou meio apavorada, acho que ela também € progressista, a propria esquerda se diz progressista, a idéia de progresso se incorporou de tal forma que se chamam progressista, claro que num contexto muito especifico, mas na verdade o imaginario da modernidade fala sempre do propresso. Entio a critica do progresso foi uma caracteristica tanto é que vo chamar os ambientalistas, de quererem voltar a idade média. E na verdade nao era isso, Eu sou muito influenciado por essas idéias, entiio eu acabo fazendo 0 mestrado sobre isso. Scarim ; Entéo, vocé teve uma influéncia deste mote alternativo, dos hippies? Carlos Walter : Tive um pouco porque, casei com uma mulher que tinha um pouco, embora ela rmilitasse na esquerda, a propria esquerda trotsquista, ela era muito mais aberta que @ esquerda comunista tradicional. Scarim : Libertaria? Carlos Walter ; Muito mais libertiria. Agente por exemplo no via uma vertente economista, agente via uma vertente mais dos textos politicos de Marx, Engels, Lenin, Trotsk. O Trotsk por exemplo nfo se notabiliza por grandes andlises econdmicas, nfio hd textos do Trotsk sobre andlise econémica, muito poucos, alias ha mais das avaliagdes das dificuldades da Unio Soviética se montar como pais, alids ja depois da Revolugao ndo tem grandes textos de teoria econémica do Trotsk, sao mais a Revolugdio Permanente, sdo estes conceitos que ele formulava. Mas a idéia de Desenv rolvimento Desigual e Combinade, por exemplo, ¢ formulada pelo Trotsk. Fle formula isso explicitamente mum livro belissimo, “A Historia da Revoluco Russa”, talvez. essas grandes obras. Do ponto de vista académico até se voc® quiser pela consisténcia factual, pela tessitura, Inclusive vooé vé essa idéia de Desenvolvimento Desigual e Combinado brotar assim no meio do texto, ele vai falando assim, “na ‘falta de um nome melhor eu vou chamar de Lei do Desenvolvimento Desigual e Combinado”, quer dizer voce vé assim como uma lei, uma teoria, uma formulaggo tebrica, como € que vai analisando um fato e dizendo que nfo dA para voc8 nfo considerar que o mundo é desigual e combinado, ele formula {sso para fazer uma idéia que marcou profundamente 0 Trotsk. 70 ‘Scarim ; E quando voce comega a trazer essa discusséo para a Geografia? Carlos Walter : Agente tenta fazer, mas é como se na universidade fosse proibido. ‘Scarim : Mas, ¢ no mestrado? Carlos Walter : No mestrado tambem nao, o mestrado ainda nfio era muito aberto para esse tipo de discussio. O Lobato que veio, 0 Lobato que passou pela geografia tradi jonal, pela geografia teorética, chamada também de quantitativa, j4 comega, vamos dizer assim, a admitir um pouco uma abordagem mais marxista, eu me lembro que por exemplo, rentando ter pr Geog se nie o pune tat, ember due sss gus oy MG) H&P ¢ do Rui, que era agente fazendo num ambiente, que agente podia fazer isso, senfo seria condenado, porque na universidade era uma heresia voce meter as discusses de relagSes socials de producilo, orcas produtivas na universidade, isso na época era rejeitado. Alids nfo so na Geografia, também em outras freas também nessa época tinha problemas de repressio, Entio voc pega os textos do Paul Singer, so engracadissimos, como ele usa de mil artificios para usar sin6nimos de conceitos marxistas, chama de sistemas, ao modo de produgfo de sistemas, até voc€ tem que entender os textos dele , do Ts “Economia Politica da Urbanizagiio”, ainda menos, mas “Economia Pol alo”, vocé vé o tempo inteiro cle brigando com as palavras para poder usar uma abordagem marxista sem as expresses classicas marxistas, ¢ engragadissimo, quer dizer tragico. Scarim : Mas era necessirio na época. Carlos Walter : Necessério como forma. Af o que acontece, dentro da geografia eu me lembro que quando este texto foi feito, estudiosa, é um excelente professor, homem que prepara a aula, ent cle trouxe para agente assim as cortentes te6ricas da Geografia do século 20, sistematizadas, os principais conceitos, as principais abordagens, 0 Lobato sim foi muito bom neste tipo de coisa, um belo professor acho que quem foi aluno do Lobato deve se sentir um privilegiado. E inclusive quando eu fiz 0 paper, ev introduzi uma abordagem gramisciliana. Eu tinha lido alguns textos do Gramsci, Tive acesso a Questo Meridional, E um texto também de uma, Maria Antonieta Matioce que faz uma andlise sobre os conceitos do Gramsci. Que eu achei muito interessante, n (@BHAIEB Entio cu ja comecei a fazer uma funcao de Gramsci e Trotsk, eu era trotsquista mas ja usava Gramsci.nas andlises, se voc€ perceber quem constr6i este texto “A Geografia esta em crise: Geografis trago para a geografia qual é a corrente hegeménica, do pensamento da geografia, af eu vou trabalhar € uma tentativa de abordagem gram: jana. Porque ¢ em cima do conceito de hegemonia, eu com Gramsci, ¢ tentando associat essas correntes hegeménicas nas diferentes fases do movimento capitalistas, as correntes da Geografia tentando estabelecer uma selacdo entre essas coisas. Scarim ; Identificando crise da Geografia com crise do capitalismo ! Carlos Walter : Com ctise do capitalismo. F otises as vezes de determinadas concepedes de geoprafia, relacionadas em determinados momentos de mudangas de hegemonia, onde vooe feria outros recursos, mudangas de padnio de acumulagio, de modos de regulagio, como dizem os regulacionistas, que sio conceitos interessantes, operacinaliza, mais empiricos, mas ajudam vocé a camtinhar pelo empfrico, esse modo de regulaglo, os regulacionists, nfo dé para ser regulacionista mais o conccito ¢ interessante, eles tentam mostrar que o capitalismo no pode ser visto s6 como uma coisa que renova, tem modos de regulagio que indicam mudangas de hegemonia de classe, no interior do proprio capitalismo e tal. “pate da Tera * SOCIT que em latim significa companheiros. Eram pesquisadores associados & iancias Soviais, Pesquisadores Associados em Ciéncias Sociais, tentando com um nome s6 se insinuar ‘uma sigla que nfo € uma sigla, que sO significa companheiros. Entio era um grupo basicamente de Antropélogos, Socidlogos ¢ Filésofos, Scarim ; E era onde este centro? Carles Walter : Este centro funcionaya aqui no: Rio de Janeiro, funcionava aqui, o enderego era ‘ali, num lugar onde os alugueis eram baratos, agente tina uma sala, nos reunimos uma vez por semana ¢ depois ofereciamos cursos sobre diferentes assuntos,jé a partir de 79 eu comeyo a dar um curso de reitura de Marx, que eu passei durante 7 anos dando desde A Diferenca das Filosofias da Natureza de Demécrito ¢ Epicuro, que € 0 primeiro trabalho do Marx até a Critica ao Programa de Ghota ¢ as cartas de Marx. Um passeio completo pela cbra completa do Marx, Entdo eu costumo dizer ew quando me R

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