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GESTALTISMO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE PSICOLOGIA (he indy, ~ Kaaatpo io B 12. fpici A nog&o de estrutura © elomentarismo associacionista reagio filoséfica ao elementarismo associacionista A reagio nourofisiclégica a0 elementarismo associacio- nista A reagao psicolégica 20 clementarismo associacionista A rejeigho da hipétese da constancia Kehler oc as formas fisicas As formas fisiolégicas o o isomorfismo Campo fisico e campo psicolbgico © prinefpio de contemporancidade 0 estudo da percepgio © estudo da memoria 0 estado da inteligéncia ¢ do pensamonto pibliografia page page Paws page P2B+ page a 410 au a a7 52 4, A NOGKO DE ESTRUTURA - © termo "Gestaltismo" vem do alemio "Geg talt" que significa orgenizagdo, forma, estrutura. Designa um cole junto de principios, métodos, experimentos e teorias em psicologis, resultantes do movimento iniciado no comego do século, na Universi ade de Berlim, sob a orientagHo de Nax Wertheimer. Tendo comecado como um estudo do processo perceptive, @ "Ges~ taltpsychologie" acabou por abarcar 0 estudo da memoria, do pensa- mento, do desenvolvimento individual, da motivagao, do comportamen to dos grupos, constituindo-se como um sistema psicolégico andlogo ao Behaviorismo - apesar de lhe ser oposto tedricamente - cuja pre tensZo era a de explicar a totalidade dos processos psicolégicos. Og grandes sistemas entraram em declinio, mais pela sua preten so de abrangéncia total do que pelo seu conteudo tedrico, e deram lugar .a teorias isoladas menos abarcantes e por isso mesmo mals PPS cisas. Atualmente o tergo Gestaltieno é utilizado mais para designar uma posig& teérica do que para designar um sistema integrado A se melhanga dos grandes sistemas filoséficos do passado, 0 mesmo acog, teceu com o Behaviorism. No entanto, no é simples, do ponto de vista conceitual, esta- pelecer-se 0 que deve ser chamado de Gestaltismo, uma ven que 0 Tez mo "Estruturalismo" (que é uma das tradugdes possiveis para Gestal- tismo) é aplicado com uma abrangéncia que ultrapassa em muito os 13, mites da psicologia. Como assinala Jean-Marie Auzias em seu livro Chaves para.o © truturalismo, o estruturalismo é um pensamento sem pensadores. fo pensamento das estruturas tais quais se revelam.de qualquer manci~ ra, por si mesmas, atraves das ciéneias humanas. A dificul’.de em se definir os limites do estruturalismo reside no fato de que boas e qualquer realidade, com a condig&o de n&o ser completamente amor- fa, possui uma estrutura. 0 termo “estrutura" tem sua origem no termo Jetino “strucre” que significa construiz. Inicialmente foi. aplicado a realidades ma teriais (estrutura de um prédio) para designar o arranjo de suas+ partes do ponto de vista arquiteténico; em seguida, foi aplicado aoa seres vivos para designar sur omennizagio interna, Nais tarde © termo passou a ser utilizado pelo fisica e pela auimica (estrutu~ ra do Atomo) designando o agrupamento de “iferentes partes de um conjunto e sua coeséio interna, Minalmente, no sec. XTK, 0 termo p sou a ser emprogado nas ciéncias sociais com a conotagho mais sbs trata como “estrutura de uma sociedade". y | At AWnrclie ma ~ LPeateieee yer mr 6 per ee ~ pee oO~ pl wplican 4 ean wamnce atalcolacte Fonbeldyie —» o. fongeh tirade Ado. neni dads Ex! S ancenruente seirle Aud. peccious: Em seu sentido mais atual, o termo 6 empregado em filosofia, a propésito de um conjunto, de um todo constituide de fendmencs so e lid&rios de modo que cada qual dependa dos demas © no possa 5 o que § a ndo ser em relagao com éles. Neste sentido, o termo eS~ trutura ¢ sinénimo de "gestalt" ou forma, tal como é empregado em psicologia. Foi a Linguistica que definiu mais rigdrosamente o termo esr. tura como "o arranjo interno das unidades que constituem um sistome Linguistico"; ela é a lei da formacio e da inteligibilidade dos ai versos conjuntos, Num artigo que se tornou famoso, (Jean Pouillon)es clarece definitivamente a possivel confusdo que possa ter ficado a respeito dos termos ostrutura e organizagSo. "Organizagao & uma combinagao de clomentos; pertence & ordem do fato e néo @ inteligh strutura é inconsciente, nao é um dado da vel por si mesma -++3 8 experiéncia, refere-se { sintaxe de diversas organizagées possiveis’, Em psicologia ha, segundo |N. Mouloud} dois aspectos sob os quais podemos considerer a nogSo de estrutura: o epi stemologico e@ © ontolégico. Do ponto de vista epistemolégico, é considerada es~ trutural a abordagem em ciéncia gue considera seu objeto de estude como fazendo parte de um sistema de correlagées. Em nivel mais aven gado, essa perspectiva estrutural se afasta de uma atitude de obser vagho e de classificagdo, pera utilizar um formalismo matematico que lhe permite enfocar a estrutura em fung&o de um modelo natemi~ tico de relagses cstruturais. Esta nogdo de estrutura 6 valida para toda c qualquer ciéncia. O outro ponto de vista, 0 ontolégico, & aquele que considera a propria realidade empirica estudada pelo célogo como sendo estrutural, Neste caso, a ostrutura nao é decor- rente de uma atituce netodolégica, mas o proprio comportamento 50~ via estrutural, indopendente de qualquer ediagdo conceitual. Una outra distingao 6 feita por Jolli| quando afirma que o sentido atual do termo estrutura, quando aplicado a fenomenos psi colégicos, deixa de referi-lo a sistemas de correlagao para dizer respeito unicamente a significagées. "Uma estrutura de significagSo & aquilo em relac&o ao qual um elemento do mundo toma um significa do para um sujeito, Mais exatamente, designa uma realidade operan- to que ndo tem nada de objetivo nem de conselente © cus ago con~ verte og dados do mndo om significativos para o sujeitor.. A 0S trutura é inicamente capaz de dar sentido aquilo que cla estrutuna Bla 6, desde este ponto de vista, uma forma vazit, mas dindmica ¢ pom definida, que 44 forma e portanto significagao ao que vem pre~ A enché~la." geta nogio de estrutura estruturante & semelhante a que nos ofercce Lévi-Strauss em antropologia. Para Gle, a nogio de ostrutu- ge retere & realidade ompirica, mas aos modolos construidos distinguirmos, ra nao em conformidede com esta. Isto permite, segundo éle, RR be 5 goes sociais, Estas, sdo a ma~ por exemplo, estrutara social de re téria prima para a primeira, Wo se pode reduzir a estrutura social ao conjunto das relagées sociais observadas om um caso particular Nao pertencem so plans empirico, mas constituem vm modelo aplicado a0 empirico, ‘A "Gestaltpsycho:ugie" comegéu empregando © termo no sentido de que ha contextos nos quais o que acontece 60 odo nado pode ser deduzido das caracteristicas dos elementos separados mas, inversay mente, 0 que acontece a uma parte do todo &, em casos bem nitidos, | doterminado pelas ei: da erteutura intrinseca ao todo. ! Poul Guillaume veatme em alguns itens c que significava para ugestaltpsychologie", a nogdo de Gestalt: (1) Os fatos psiquicos sio formas, quer diz | unidades org&aicas que so individualizam © se Limitam no campo espacial e temporal da percepgiio; (2, As formas dependem, no caso da yereepgio, de um conjurto de fatores objetivos, do vma constelagéo de excitantes; (3) mas 8&0 sransportaveis, que: dizer, que algunas te suas propriedades se conservam apesar de mq a maneira, todos es ¢3 elementos o das diferentes espécies dangas que afetam, i@ cer asses fatores; (4) A per copgio de diferentes «las: de relagdes, corresporde a diferentes modos de organizagao de um 0 de gondighes objetivas e subje~ aio dessa parte isolada, odo, que dependem ao mesmo te: tivas; (5) Uma parte asm todo é aigo disti ou om outro todo; (6) Toda teoria parte de cados que considera como primeiros. A psicologie classica partia de sensagdes elementares para com elas constriir objetos ou fatos mais ou menos organizados, seja pelo mecanismo ia associagao, seja por operagtes sintéticas do espirito: a Gestalttheoric parte das foxmas ou estruturas ectside- ia sem forma; (8) Se padas como dados primeiros; (7) Ndo ha mate no ha motivo pera peocuran a origem das formas a partir de preten ac. elementos, cumpre estabelocer, pala oxporimentac’., 18 condir Sos doasas formas e a 2ois dae suas transformagées; (9) HA um y Tiemo entre as formas fisiologica e psiquica: tal 6 o principio as isomexfismo. cito de Gestalt e suas impli guinngs 06 caminhos do ne Para melhor com,rea7Gennos © cagoes em psicologia, 9 e777 vimento que se inicica couo wma eritica a paicologia associacson. 0 ELEMENTARISMO ASSOCIACIONISTA ~ A nogio de Gestalt apareceu em psicologia no final do século XX, por ocasifio do movimento que geriniciou como ofitica ao,elementarismo associacionista. Este, tet suas origens no empirisiié inglés de Locke, Borkeley ¢ Hume. Segun- do os associacionistas, a psicologia teria por tarefa principal a andliso dos fatos de consciéncia a fim de encontrar seus elementos constituintes. Para o elomentarismo associacionista, ume percepgio, wma conduta, ¢ formada de elementos que silo considerados como exis~ tentes em si mesmos e que constituem a watéria da qual & formade qualquer processo psicolégico. Esses elementos se associam segundo jois doterminadas formando conjuntos aditivos que caracterizan o experiéncia, Desta maneira, o dado simples @ irredutivel a todo e qualquer esforgo de analise, era a sensagio, o elemento sensorial, a partir do qual tudo resultaria. 0 contetdo da sensagao encontrava-se na imagem que ora a reprodugio daquela, As imagens tanto podiam se prender a sensagées atuais constitujnds nossas percepgdes, como pom diam se agrupar de forma mais livre constuindo nossas lembrancas ou nosso pensamonto. Foi David Hartley, na primeira metade do see. XVIII quem ten= tou, partindo do elementarisno associacionista, articular 08 fatos an anatomia da fisiologia com os da psicologia. Para isto, Hartley utilizou a anatomia tal como era conbecida om sua époea e relacio~ nou-a com o conceito de “agéo vibratéria" da fisica de Newton. "Mou principal objetivo $ explicar, estabelecer ¢ aplicar brevemente as doutrinas das vibragées ¢ da associagio. A primeira destas doutri~ nas foi tirada de sugestdes referentes ac funcionanento da sensagiio do movimento que oferece Sir Isaac Newton no final de seus "Pri cipia” e nas questocs ancxas A sua Otica; a segunda, do que Locke outros a partir dele disseram a respeito da influénci, da associa~ Ho sébre nossas opinides e afetos, © sobre seu emprego para expli-~ gar tais coisa de mancira exata o precisa; fatos que se atribuem comumente ao noder geral @ indeterminado do hébito e do costume. Pode parecer, 4 primeira vieta, que a doutrina das vibragSes nto tom relagio com a da associagio, no entanto, se de fato se encontra que estas doutrinas contém as leis das capacidsdes corporal ¢ men- tal respectivamente, devo-se relacionar uma A outra, posto que 0 corpo e a mente estic relacionados. Pode-se esperar que das vibra- ges possa inferir-se como efeito a asgociagio e que 4 associagéo aponte 4s vibragdes como sua causa" (D. Hortley - Observations in nan, his frame, his duty and his expectations; London, 1749). ? segundo Hartley, as vibragées do cérebro sao efeito ¢ véplica das vibragées dos nervos. Esta correspondéncia ontre 9s duas sérics de vibragdes é a razdio.pela qual a8 imagens ¢ idéias sao similares ag sensagdes originais. Assim, ver um frvore é uma série de vibra~ gdos © ter uma imagem mental de ume rvore 6 outra série de vibra- gos; como as duas sérics astdo correlacionadas, a imagem de arvore cépia fiel da sensagao desta Apvoro. Quando as sensagdes e a8 vi- bragSes que as acompanham se repetem com frequéncia, ficam vesti-~ gios ou rastros no sistema nervoso. Estas sao as idéias simples que se reunem e formam as jaéias complexas. Entre as sensagdes repeti- das frequentemente e suas jaéias correspondentes, estabelece-se um forte vinculo, de tal maneire que qualquer sensagéo pode evocar to- das as idéias originalmente ligadas a cla, Este vineulo é explicado om termos fisioldgicos. & uma questéo de restros permanentes qué as diferentes sensagdes deixam em diferentes rogiées do cérebro © das conexdes nervosas entre estas vogiées. Uma vez estabel sidas tais. conexdes, a8 vibragdes que 8@ iniciam em uma parte do cérebro rea yivam facilmente as vibragSes nas demais partes, despertando assim as idéies a elas associadas. Hartley foi buscar em David Hume 0s principios de associagio que applica as sensagdes e as idéias. Segundo Hume, a associagio po- de eo dar por semelhanga, por contiguidade ho tempo ° no espago, © por causalidade. Portanto, sogundo estes principios, as imagens ou idéias se associam quando as sonsagées correspondents se associe elas mesmas, ¢ que a associagdo destas {itimas resulta das condigdus sogundo as quais clas se produziram: so duas sensagées se produzem ao mesmo tempo ou no mesmo lugar, ou numa sucessio determinada, clas se tornam associedas; uma evnca + cutra, 0 mesmo acontecendo com as idgias derivadas. Nao é mito dificil roconhecermos & doutrina associacionista nos experimentos de Ebbinghaus sébre.a memoria, na reflexologia de Pavlov ou no behaviorismo de Skinner. Sua simplicidade ¢ a facili~ dade com que é aplicada ao plano experimental, fiscram com que Com nhecesse um extraordinéric sucesso reatendo, até hoje, o seu poder de sedugio. 3, A REAQKO FILOSOPICA AO ELEWENTARISMO ASSOCTACTONISTA — os prin, cipais criticos, no plane filos$fico, da,doutrina associacionista foram: W. James, H. Bergson ¢ W, Dilthey~ 3.4, William Janss (1842~1910)- A cposigéio de We James 0 associa~ cionismo apareceu pela primeira vez em 186% num ars2g0 intitulado "on Some Omissions of Introspective Psycholoey", que mais tarde foi incorporado ao capitulo sébre a corgente da conaciéncia no’ Princi~ pios de Psicologia: ( IMPORT) —> ax Uenpeiules che. YL sex fese cto?) En oposigio & tese associacionista que afirmava ser a consci- Gneia formada de Atomos psiquicos, de elementos mentais que se asso ciavam segundo determinados principios, som que houvesse realmente nenhuma relagio entre’ Gles, James apreseuta sva teoria da "corrente da consciéneia". 0 fato fundamental é 5 de cue a consciéncia, 20 invés de ser uma sucessao de olenentos, § um fluir constante sem que haja uma delimitacio precisa entre dois sstados sucessiv0s. A superagiio do associac:.onismo vai sc faery, yvincipalmente, através: da nogho de estados. tives, (1884) Para W. James, a corrente da consciéncia @ formada de estadce substantivos ¢ do estados transitivos. Os primeiros correspondoric as impressdes de Hume, isto é, seriam estadcs de velativa parada durante um pePiodo de tempo nos quais os otjetos seriam percobid que poderia se prolongar de acoréo com as circunstancias; os esta~ dos transitivos teriam por fungfio ligar os estados substantivos. Os estados transitivos dificil mente poderiam ser observados introspec- tivanente, pois suas caracteristicas de conjungio ¢ transitorieda~ de seriam destruidas, Esta fato nao impede, porém, que os estados transitivos sejam considerados como constituintes da consciéncia: Sles possuem tanta realidade psicolégica quanto os estados substan tivos e sua importancia é fundameatal, pots éles & que dao a cons- eigncia a caracteristica de ser coatinua, oliminande @ necessidade dos nexos associatives extabelocidos nelos aseociacionistas. 3.2, Henri Borcson (1859-1941) - A tese que val Sservir de base para suas criticas ao clomentasismo as ociacionista e particularmente a psicofisica, tem como ponto de pertida a afirmagio de que 08 fatos psiquicos sfo qualidede pura, enquante que as coisas situadas no espaco sio quantidade © que estas Glbimas cneontran-se frequente- mente associadas As primeiras. Como @ 3m eligéncia compreende me— pois esta nfo é mensuravel, ela hor a quantidade que a qualidade exprime as mudangas qualitativas dos estados psiquicos em variagée: de quantidade, trensformando assim uma in’ snsidade que & uma modi- ficagéo qualitativa cm uma grandesa + ypacial, suszeptivel de medida, Segundo o ponto de vista associacionista, avaliamos a Inbonsi= dade de um estado de consciéncia gragas a uma associagéo, decorren~ te da experiéncia, com o velor aproximado da sua causa. Desta fore na, podgmos expressar as mdangas qualitativas om veriagdes quanti, tativas. Bergson afirma que este é 0 erro fundamental da psicofisa, ca o do associncionismo em geral. Tal erro resulta do fato de se aceitar arbitrariamente que um estado psiquico possa ser decompes~ to om elementos. Bergson concebe a conseigneia como um fluxo continuo ¢ ininter rupto, 4 mancira de James, no havendo limite entre um estado ¢ oun tro. Nao hé dois estados de consciéncia iguais, pois a consciéneia é,um puro devir qualitativo e heterogeneo. 3.3. Wilhelm Dilthey (1833-1911) - Dilthey se.coloca entre os Graf des criticos do clomentarismo associacionista. Sogundo éle, esta psicologia 6 explicativa, isto &, procura depivar os fatos que sc d&o na experiéncia interna partindo de um nimero de elementos en~ contrados analiticamente, determinando a seguir as conexSes causais existentes entre éles, Entre outras coisas, critica Dilthey o car& ter oxcessivegonte especulativo do associacionismo que utilizaria um nimero onorne de hipéteses destituidas niio 36 de bases factuais como de comprovagées posteriores. Critica ainda sua pretensio a uma explicag&o causal o quantitativa do fendmeno psiquico, para fi nalmente denunciar o sentido de mutilag&o do psiquico provocade pi la atitude olenentarista. Por conside! tendmeno psiquice como signif Dilthey afirma que_a psicologia deve ser_compreensiva ¢ nao expli- cativa. Deve partir ?- vida psiquica tomada como um todo niio de- duzi-la de processos elemente~ns. 0 elemento de que nos falam os ‘icagGo_pura, elenentaristas 6 uma ficgdo, Sle nunca se constitui como dado. © que realmente nos é dado A experiéncia imediata & a vida psiquica em seu conjunto estrutural ¢ nao o elemento suposto pela psicolo- gia explicatira. Uma psicologia verdadeiramente positive tonar& este conjunto como ponto de partida, esforgando-se por fazer dele uma descricgio exata e uma anilise completa. Esta_analise deve ser compreensiva, isto , deve abranger_as relagées das partes com 0 todo ¢ nfo _procurar elemontos. isclados do, todo, LH. Sobers - * Oi Dthey _ foopes 4 (a, com prune ‘A RBAGHO DA NEUROPISIOLOGIA AO ELEMENTARTSMO ASSOCTACIONISTA 0 apoio neurolégico e fisiolégico A concepgao gestaltista da reaii- gas sobre as localizagies o dade foi dado sobretuds pelas pesau: rebrais, 0 desenvolvimento dos.reflexos, transplente © regen) ns ae membros (ver: Hartmann, G.H.~ Gestalt Psychology, N, York, 1935). A neurologia e a fisiologia clissicas devendiam a hipdtese or que, para haver ordem nun sistema, esta deverla sor decorrente «ee 9 condigées anatoémicas especiais ¢ nao de uma dinamica propria do 5 tena. Wolfgang Kbhlor,um dos iniciadores da "Gestaltpsycholog:e"y faz uma comparagiio com os sistemas fisicos visando esclarecer este problema, Diz éle que em um sistema tisico es fendmenos sao deter minados por duas espécies de fatores: os dirfim!cos e os topograf cos. A primeira categoria pertencem as forges cue atuam no sistem A segunda categoria pertencem as caracteristicas do sistema que su jeitam seus processos a condigées restritives. Naturalmente, amboe os fatores sio responsaveis pela ordem do sistema, podendo a pr dominancia ficar ora com um, ora com outro, Aristételes, por exemplo, admitia-se que o orden dos fendmenos ccleates so podia ser mantica por condicées topogra: Wa fisica de ficas rigidas, dai » concepgio das osferas ce cristal uas quais es~ tavam presos 08 astros 0 que 1hes impunham novimentos uniformes © ropetidos, A fisica de Newton substitui est: concepelo topografice por uma explicagaio dinamica segundo a quai a ordom e¢ o movimento dos 3 880 devidos ao campo gravitacional. - “Foi a a durante muito tempo por uma ¢-"cep~ glo de tipo aristotélico. Assim, a fisiologia cerebral procuraya explicar a ordem dos processes norvosos atrevos de una norfologia de circvitos anatémicos, de “vias de ponsaveis pelo carater global e organizade dos processes fisiold- associagéo", que seria 2es~ gicos. Esta concepeio do funcionamento do sistema ne=voso concco! a ser abalada com os trabalhos de Lashley, Gcldstora, Drios Weiss, Marina, Coghill, Ninkowiski, etc. 4.1, Karl S. Lashley - Lashley foi uma das principals autoride om fisiologia do sistema nezvoso ©, apenar de cua ades’c ao behav s risno de Watson, acabou por se afastar Gcle e a se apvoximay ‘le concepgdo holista de Goldstein. jando Lashley somogou suas 2 gas, seu compromisso com o pehaviorisms era evidente em fuagio + gua afirmagao de que a resposta condicionate © ¢ neo Te er perfeitanente adequados para explicar @ conduta adapyative Go @ ganismos. Alguns anos mais tarde, passou defender um ponte ce yista oposto. vd 0s experinentos que levaram Lashley, juntamente com Shepherd Franz, ao polo oposto de suas convicgées iniciais, consistia em adestrar ratos, gatos © macacos a escapar de jaulas semelhontes ag utilizadas por Thorndike. Quando os animais haviam aprendido ¢ Ti+ xado bem este tips de conduta, eram-lhes estirpadas algumas partes do cortex. Apesar disso, os animais continuavam a escapar das jeu~ las t&o bem quanto antes da operagfo, O mesmo acontecia quando eran retirados os ldbulos frontais. Em experimentos posteriores, Lashley adestrou ratos para discriminarem variagdes de luminosidade. Em se~ guida, éle operou praticamente todas as zonas do cortex cerebral . Bn nenhum dos casos os ratos perderam o que haviam aprendido. Destes experimentos foram,retiradas duas leis: a da equipoten- gialidade ¢ a da ago de massa, 0 que elas exprimem pode ser rosu- nido no soguinte: no processo de aprendizagem, ha a participagao de ‘toda a massa do sistema nervoso e se uma parte do sistema é lesado, as partes restantes sio equipontenciais para assumir a atividade quo originalmente seria devida a uma area, 0 importante, afirma Laslhey, ¢ a extens&o da lesdo e nao o local. 0 gran de deteriora~ gdo da aprendizagem é proporcional 4 quantidade do tecido cerebral lesado mas independente da drea do cortex afetada Estes experimontos representaram um golpe na concepgéo associa cionista de vias de associagio fixas ¢ dos esquemas morfolégicos responsaveis pela ordem dos processos nervosos. 4,2, Hans Driesch - Driesch realizou uma série de experimentos s6- bre desenvolvimento embrionério cujas conclusées coincidem com a interpretagdo gestaltista do problema da regulagao. Num dos experi- nontos realizados com a larva do ouricgo, Driesch destruiu uma célu- la situada entre quatro células duplas, De acordo com a teoria da rede celular rigida, deveria ocorrer um aleijéo no decorrer do dew senvolvimento, como efeito da lacuna correspondente A célule denifi cada. 0 que ocorreu foi o aparecimonto de um organismo completo on~ jo tamanho era um quarto do tamanho normal. Wao houve aleijéo algun, Isto foi possivel porque outras células assumiram a fungio daquela gue foi removida. 4,3. Paul Weiss - Weiss concorda com a hipétese gestaltista segundo a qual nfo ha uma correlagio ponto por ponto entre a periferia ¢ 0 cortex assim como néo ha também uma conoxfo anatémica rigida e cons tante entre ambas as partes do sistema nervoso. Num de seus exp: nentos, Weiss amputou um dos membros de uma salamandra transplan- tou sua oxtremidade colocando-a ao lado de um mombro normal. Apés un periode de inatividade, o membro transplantado recuperou lenta- mente @ motilidade ¢ comecSu a funcionar normaimente, de forma idén tica ao membro nio atingido. 0 membro normal ¢ a extremidade trans— plantada, passaram a funcionar juntos conc um par bem coordenado. i 12 0 car&ter estrutural deste funcionamento & notavel: Se um brago ¢ inserido na regiSo da perna, éle passa 4 funcionar homélogamiente ao membro que o hospedou, isto , quando a perna dobra 0 joelho, o prago dobra o cotoyelo; quando a porna dobra © tornozclo, © brago dobra 0 pulso, etc, Em outro experimento, & parte superior do bra go foi removida ¢ 0 cotovelo foi inserido a@iretamente no ombro. Ax pos um periodo de recuperagéo, © mo continuou & funcionar normal~ omen= mente eomo mio, ¢ nfo como cotovelo (pela sua nove posigho). te uma concepgio dinamica e gest<ica do funcionamento do sistoma nervoso, pode oxplicar estes casos; nunca a teorsa das conexbes anatémicas fixas. 4,4, Kurt Goldstein- A teoria holistica de Goldstein teve origem em suas posquisas sébre les$es cerebrais. Para éle, o organismo nfio 6 uma soma de partes, @le possui uma organizagio qualitative com as caracteristicas de uma gestalt. Mesmo quando consideramos um reflexo simples, seja éle inato ou condicionado, temos que estu- gA-lo como fazendo parte de uma totalidade, como expressfio parcial do funcionanento do organisno como um todo. Tsolar este parte da situagao total, fatalmente nos conduziré a uma interpretagao errads do fendmeno. Sdmente o conhecimento do organismo como um todo n conduzird & compreensio das distintas reagdes que observamos nas partes isoledas. rim fungéo deste ponto de vista, Goldstein estabelecen une dis tingdo metodolégica entre as cléncias fisicas, que trabalhariam com quantidades, e as,ciéncias piolégicas, que trabalhariam com os truturas qualitetivas. A teoria do Goldstein tem como base © prineipic de iguala¢ tudo o que ocorre em um organismo & uma acumulagio, de energia distribuigéo e/ou descares ac onergia. Esta onergia nfo pode aca~ par, perder-se ou desaparecor; ela s° transform. ¢ se transmite de uma a outra parte do organismo ou entio se descarrega quande se jnatala um estado de hipertensfico. Geralmente, num organismo normpl, a quantidade de onergia 6 constante e distribuida por igual, exis~ tindo um estado normal de tensfo. Uma vez rompido este equilibrio, seja por estimlos internos ou externos, o organismo aaa para Tes tabelocer o equilibrio rompido ou © estado normal (médio) de tensao- fa este processs que Goldstein cenomino "jgualagio de energia". © principio de igualagio de energie & semelhante ao princip: de _constAncia de Freud, ‘A homoostase de Cannon ¢ a0 equilibrio de Pavlov. Para Goldstein, o organismo vivo munca pode estar com au- séncia de tensdc, C que pode ocorrer, & um aumento ou diminuigio da tensio para além de certos limites. Tgualacio nfo signifi ous | séncia de tensio, mas equilibrio do te..sdo. a se estabelece pela interagio ontre o 4 igualagio de energ: 1% organiano e seu ambiente, o nesta interagio 0 organismo funciond sempre como um todo, Para tal, le possui um certo grau de flexibi- jidade a fim de poder encontrar os melhores meios possiveis de au- to-preservagio. Ha cortas condutas, mais automaticas, que néo exi~ gom esta flexibilidade; no entanto, grande parte da conduta exocur tada por um organism implica om seletividade, numa capacidade dc "negociar com o ambiente", que se manifesta o carater gestéltice do organismo. Para Goldstein, a distingad figura-fundo t&o enfatizada pelos gestaltistas, é da maior importancia. 0 ser vivo possui, segunds le, uma aptiddo para diferenciar seu funcionamento segundo um cs- quema de figura-fundo no qual a figura & determinada pelo objetivo mais imediato a ser atingido e o fundo pelss demais caracteristicas do ambiente. A REAGKO PSICOLOGICA AO ELEMENTARISMO ASSCCLACIUNISTA ~ 5.1, Christian v "Gestaltqualititen" - Em psicolo- gia, a reagio ao modo de pensar associacionista teve infcio om 4890 com a publicagao do trabalho de Threnfels sobre as qualidadss da forma (Gestaltquaiittten), 0 cue Sle pretende mostrar & que una Uma melodia compco- estrutura é mais do que 2 coma de suas partes se do sons; uma figura, de linhas © pontos. Esses conjuntos que sio as melodias e as figuras possucm uma unidade @ uma individuali dade irredvtiveis. Isto significa dizor quo a experiéncia destas realidades possui caracteristicas que nfio podem ser explicadas atra vés das propricdades das sensagées que lhe sie correlatas. Assim, so tomarmos como exemplo uma melodia, verificamos que apesar dela ser composta de sons, cla possni uma unidad: que dificilmente po- devia ser oxplicada pelas sensagées isoladas de cada um destes sons. Distinguinos porfeitamente os sons que a cla pertencem © os que Ihe uéio estranhos, mesmo quando estes siio intercalados entre os primeiros. Além disso, a melodia pode sez transposta para outro tom e ser tocada por outro instrumento e, mesmo assim, continua sendo a mesma melodia. No entanto, todos os seus elementos foram alterados. Este fato eokoca una questio importantissima: se de scox ncionista, a totalidade do percebido | | | | do com 0 elementarismo assoe decorrente da some de sous elementos constituintes, como explice: 0 fato de reconhcecrmos as duas melodias como idénticas se todos os seus elementos foram modificados? A resposta dada por Eheenfels ~ que nfo doixa de ser elementa rista - 6 a de que alien das qualidades sensivcis trensmitidas pelos “gons isoladamente, havia una yualidade da forma (Gestaltqualitat) que seria dovida a un outro elemento distinto daqueles que consti~ tulan os sons isolados. “sta qualidade cra a que permitia a trans ponibilidade estruturat = gue fazia com que 9» conjunto nfo pudesse ser explicedo cono una mora son dos elementos componentes. encomvava ainda uma série de questées 4 teoria de Bhronfeli nio respondidas. Duas tentativas de solugdes foram dadas pelas Bscolas de Graz ¢ do 1 5.2, A Secola de Graz ~ Mexius Meinong © Vittorio Bemssi, prinei- pais integrontes da Uscola de Graz, deran continuidade 4 doutrina das qualidedes da fo>ne inivioda por Ehranfe}s. A_conelusio o que ‘so tinna chogado até outdo, oa a de que havio duns capécies do rea lidades psiquicas! as qualidades sensiveis e as qualidades da forma (Gestaltqualitaten). cssas dnas qualidade constituian dois esta 15 distintos de.consciéncia, sendo que os primeiros eram os substrates dos segundos. No caso da melodia, as qualidades sensiveis correepor © den ds excitagdes produzidas pelas vibragées sonoras, enquanto que | 9s qualidades formais seriam devidas, segundo pensaram inicialmon- te Threnfela e os integrantes da Escola de Graz, a uma percepgiio das relagoes entre as vibragées, Eram estas relagées, diziam éles , que permaneciam constantes quando a melodia era transposta. Yoréni, tanto Threnfels quanto a Escola de Graz rejeitaram depois a hipdte- “Go da percepgao de relagdes- he fato, na experiéncia imediata nfo hi nada que se traduza por uma percepgiio de relagdes. “tanto no caso da melodia como el qualquer outro, percebemos totalidades. As relagGos séio obtidas | posteriornente straves de una andlise. No entento, a consciéncia que analisa nfo é a mesma que verccbe. A consciéneia perceptiva é ingdnua quanto as rolagées possiveis de seem construidas sdbre una totalidade pereebida. A andlise de uma melodia nos leva a descobrir caracteristicas que nao sic aquelas que n s sdo fornecidas pela per ccpgdo desta mesma melodia. Psicologicamente tratar-e2 de dois ob- jetos diferentes: a melodia ouvida ingenuamonte © a melodia anali- sada em suas possiveis relagdes internas, sio duas melodias. Essa auséncia da percepgio de relagdes na percepgao imediata da forma, implicou num problema de dificil solugdo para a Yscola de Graz: se a forma nao resulta da percep¢fo de relagées, como ela surge? 0 que vem se acrescentar aos elementos wseeriaents capta- dos e que nos fornece a nogio de estrutura? Meinong e Benussi optaram por uma teoria da peshucdo das for- mag. Haveria uma duplicidade de planos no processo perceptivo: 0 primeiro, seria constituido polos dados sensoriais como elementos destituidos de organizagao ec sentido. Estes elementos funcicnavan cono fundanentos (Grundlage) para as formas. Estas por sua vee, constituiam 0 segundo plano produzido a partir da matéria prima que cram os elementos sensoriais. Neinong denomina o primeiro pla- no de “fundierende Inhalte" e o segundo de "Tundierte Inhalte", en quanto Bonussi os chama de "Inferiora" ¢ “superiors” respectivancn— te, Enquanto os primeiros siic dados, os segundos sao produzidos. Benussi é de opinido que as estruturas perceptivas nao sio de ori~ gem sensorial. Néo bd, nos elementos captados sensorialmente, nada quo possa ser responsével pelo carter estrutural da percepgao. Lo- go, a forma (Gestalt) tem que ser produzida por um processo inteleg tual ¢ n&o dada na oxperiéncia. 4 hipétese da "Production Vorgange" de Meinong e Benussi foi refutada posteriormente pela Escola de Berlim. Uma das razdes des— ta refutacSo residia no fato de que a percepgfio de seres inferiores como galinhas ¢ macacos era também organizada. - 16 5.3. A Escola de Leipzig - Seus principais representantes sGo Polix Krueger e Johannes Volkelt, Essa escola est ligada A tradigic da filosofia alem&, principalmente Leibniz, Kant e¢ Hegel, repudiando a doutrina olemontarista associacionista © defendendo o carater estrutural dos fendmenos psiquicos. © que é mais caracteristico desta escola é sua concep¢So se- sundo a qual a forma primitive de uma Gestalt é um sentimento. Por influéneia das idéias evolucionistas, Kriegor e Volkelt procuran nas formas primitivas da consciéncia, que emocionais, as condigdes basicas de toda perecpgfo estruturata fu tura, Criticam a Uscola de Berlim por esta se ater preferoncialr. te ao estudo da percepgao visual ¢ auditiva. Segundo Volkelt, o cs corian predominantemont tudo do tato ¢ mais importante do que o da percengéo visual, pela enorme importancia de que se roveste a pere»pgao tatil na primoina infncia. Cutro pento do divergéncia entre as escolas de Leipzig ¢ Ber- lim diz respeito a nao aceitac&o por parte da primeira da transpo- sigio do conceito de forma para.os campos fisico ¢ biolégico. rliegor e Volkelt consideram que apenas os fenémenos psiquicos possuem organicidade e significacio, ao contrario dos integrantes da Escola de Serlim que defendem a existéncia dc estrutura tanto no fondmeno psicolégico como nos fenémenos fisico o biolégico. Ape- sar de seren ambas gosteltistas, divorgem ainda as duas escolas quanto ao vapel atribuido a0 sujeito no processo perceptive. Os gestaltistas da Escola de Berlim consideram que na constituigao do campo perceptivo, a sujeito nfio desempenha um papel privilegiado, A constituigdo do campo depende, em sua maior parte, de condigh objetivas. Cs gostaltistas da Bscola de Leipzig, ao contraric, co: cedem importante papel ao sujeito, vendo-o como o responsével pels modificagSes ocorridas no campo perceptivo, Tanto a escola de “raz quanto a escola de icipzig se consti- tuem desta maneira, om importantes criticas 4 psicologia de inspi- ragio associacionista. f, porém, com a “scola de Berlim, cou Were theimer, K8hler ce Koffka, que 0 gcataltiemo vai se afirmar defini- tivamente como uma posigao tedrica fundamentylmente divergente 4 agsociacionista. 5.4. A Bscola de Borlim - © fato quo marca o inicio da fscola de Derlim, teve lucar n3o em Borlin mas em Frankfurt, no ano de 1911. foi o experimento feito por Nax Wertheimer (1880-1934) sdbre o fi- fendmeno ou movinonto ostrobosedpico. . Durante uma viagen a Prankfurt, Wertheimer comprou um estro~ poscépio de brinquedo. "ste bringuedo consistia basicamente em fi- guras fixas que pareciam sc mover quando apresentadas numa cer scqugncia tomporal. “9 mosno prineipio uo cinena. #4 una quanti~

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