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Prisão Temporária

A Lei nº 7960 de 21 de dezembro de 1989

É da nossa tradição, desde o Império, não pactuar com prisões que não estejam por ordem do juiz e
de acordo com os requisitos previstos pelo legislador.
As chamadas prisões por averiguações inexistente na legislação, nunca contaram com o beneplácito
do Judiciário, e muito menos da doutrina.
Para comprovar a proibição da prisão provisória, fora dos casos previstos em lei, temos os avisos
ministeriais de 02/01/1865 e de 27/04/1888, bem como a Lei de Segurança Nacional (Lei nº
7170/83) e o Código de Processo Penal Militar.
A prisão temporária surgiu no Brasil com a Lei nº 7.960/89, resultante da conversão da Medida
Provisória nº 111, de 24 de novembro de 1989, visando regularizar a anterior prisão para
averiguações”, que não era ilícita, mas utilizada.
A prisão será decretada pelo Juiz, caso defira o pedido do Ministério Público ou a representação da
autoridade policial. A decisão fundamentada deve ser proferida em 24 horas. Ressalta-se que a
prisão temporária não pode ser decretada de ofício. Efetuada a prisão, a autoridade policial
informará ao preso os direitos previstos no artigo 5º, incisos LXII, LXIII e LXIV da Constituição
Federal. Outra proteção do preso temporário é do ficar, obrigatoriamente separados dos demais
detentos.
O tempo de prisão é de cinco dias (art. 2º, §7º da Lei 7960/89) ou de trinta dias (art. 2º, §3º da Lei
8.072/90), admite-se a prorrogação por igual prazo em casos de extrema e comprovada necessidade.
Nos termos do artigo 1º da Lei 7960/89, que contém os requisitos necessários para a decretação
desta:
“Art. 1º. Caberá prisão temporária:
I – quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II – quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade;
III – quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal,
de autoria ou participação do indiciado...”
A prisão temporária apresenta-se como uma espécie de prisão cautelar, possuindo um caráter
excepcional e instrumental.
Os seus requisitos são o periculum libertatis e o fumus comissis delicti, para evitar que o
delinqüente pratique novos crimes contra as vítimas ou qualquer outra pessoa e no caso de fuga do
distrito de culpa.
O periculum libertatis está presente nos dois primeiros incisos e consiste na necessidade da prisão
do indiciado, que em liberdade poderia efetivamente prejudicar o andamento do processo ou de seu
resultado e o fumus comissis delicti diz respeito a exigência da prova da materialidade do fato e
indícios de autoria, conforme o inciso III do artigo 1º.
A presença do inciso III é obrigatória, por tratar-se de prisão com fundamentação vinculada, pois, se
não for um dos vários crimes elencados pelo legislador, a prisão temporária seria ilegal, passível de
ser atacada por habeas corpus.
Assim devemos combinar os incisos I e III ou os incisos II e III, sem os quais não teremos os
pressupostos de toda e qualquer medida cautelar: fumus boni iuris (fumus comissi delicti) e
periculum in mora (periculum libertatis). Do contrário, bastaria apenas uma das hipóteses elencadas
no artigo 1º para que se pudesse decretar a temporária, mas não foi isto que quis o legislador.
Contudo, para a decretação da prisão temporária é necessário que se demonstre a
imprescindibilidade da cautela, devendo a autoridade mencionar porque as investigações não podem
prosseguir sem a adoção da referida medida, sendo irrelevante qualquer abordagem acerca dos
antecedentes do agente, vez que tal instituto de exceção tem pressupostos próprios, que não devem
ser confundidos com os da prisão preventiva.
Neste sentido segue lição do Procurador de Justiça do Estado de São Paulo Vicente Greco Filho:
“As hipóteses, portanto, de prisão temporária devem ser interpretadas como de situações de
cabimento e de presunções de necessidade da privação da liberdade, as quais, contudo, jamais serão
de presunções absolutas. Cabe, pois, sempre, a visão das hipóteses legais, tendo em vista a
necessidade de garantia da ordem pública, a necessidade para a instrução criminal ou a garantia de
execução da pena. Dentro das hipóteses legais, essas hipóteses são presumidas, mas a prisão não se
decretará nem se manterá se demonstrado que não existem. A nova figura de prisão provisória teve
por finalidade reduzir os requisitos da preventiva, facilitando a prisão em determinadas situações,

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mas não pode, dentro de um sistema de garantias constitucionais do direito de liberdade,
desvincular-se da necessidade de sua decretação.”
(in Manual de Processo Penal, Ed. Saraiva, 6ª Edição, 1999, p. 272)
Apresentam-se os julgados do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça:
“Prisão temporária. Paciente foragido. Justifica-se, quantum satis, a prisão temporária de pessoa
envolvida em delitos de roubo e homicídio, por se encontrar foragida, impede a conclusão do
inquérito policial. A fuga dá justificativa ao decreto de prisão não apenas a bem da instrução
criminal mas, também, para viabilizar a aplicação da lei penal.”
(STF - HC n. 5.306-PR, 6ª Turma, rel. Min. Anselmo Santiago, j. 10/3/97, p. 11.164)
“Processual penal – Prisão temporária – Evindenciado animus de furtar-se a fornecer
esclarecimentos ao inquérito policial e afastar-se do local do crime, mantém-se o decreto da prisão
temporária.”
(STJ - RHC 6348 - Rel. Vicente Cernicchiaro – DJU 1.12.97, p. 62.815)
Conclui-se, então, que a prisão temporária não pode atingir pessoas suspeitas da prática de crimes
não relacionados por esse artigo, exceto se for autorizada por lei posterior.
Foi que sucedeu com a Lei dos Crimes Hediondos, que em seu artigo 2º, §3º diz: “A prisão
temporária, sobre a qual dispõe a Lei 7960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste
artigo, terá o prazo de trinta dias, prorrogável por igual prazo em caso de extrema e comprovada
necessidade.”
Com isso, diante de uma exegese restritiva todos os crimes hediondos do artigo 1º, a prática de
tortura, o tráfico ilícito de entorpecente e drogas afins e o terrorismo são passíveis de prisão
temporária e não somente os que também foram previstos na Lei 7960/89.

* Milena Pereira da Silva Lago Alves – Assessora Jurídica da Corregedoria – Geral.

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