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a LULrr—~—st——SO—OSC A colecpo «Humanitas ~ Autores Gregas e Latinos» tent por objetivo divulgar as obras lterdrias que os Gregos ¢ Romanos nos legaram. Ein boa parte obras-primas, esses textos ainda hoje arrebata, causam emagdes profundas, ‘morivan ruigdo esttica e continuam modelares os Nos308 ‘thes, ou veiculam sistemas de pensamento e concepsbes do ‘murdo e da vida que tém vvificado os sistemas fileséfcos ¢ 2 pensamente ao longo dos tempos. ‘eranca comum e trago de unido de todos os patses que comparttham a tradigao europea on crit, € um erro const derer a cultura greco-laina tan fot, como tantas vezes 36 ‘uve e 16. Ui fst nao tem vida nem pode reproduzir-se, ao asso que essa cultura continua viva © a frutficar ao longo ‘dos tempos em novas realizagbes cultura, Stats obras en contram cum esprit que as veceba, renasce nelee fazem-no ‘ives mais intensamentes, para wsaraspalavras de G. Highet assim nasceu a ideia desta colecco que procura afer ‘er 0s textos dos autores elssicos em tradugées de confian- a ecuidadas, feitas directamente do originale acompanka- das ie um estado inrodutério (destinad a focar os prince. ais problemas e questbes que a obra suscta)e de notes ex pilicetivas, um e outras ndo excessivamente desenvolvidos. José Ribeiro Ferreira Os Caracteres Be Ros Syivio Rebelo. 0215 100 Lise Tele 817 4450 Fae 847 0795 ‘Thule ovgies: XAPAKTAREL Innodpie, Ta Cops: Ferando Matas so rege) Nota: Maria Se Fina Sis (Regio D"Agua Eres, Abi de 19 ‘Composite e pasinato: Relig D' Agua Eines Iresio: Rol & Pos, res rifias,La. Dept Leaal ns 1667300 Teofrasto Os Caracteres Invi, Tag Nas Humanitas Autores Gregos e Latinos Tuas Teofrasto Ohomem ea sua actividade Fei em Asso, na Misia, onde um centro cultural florescia © atraia gregos na exilio, alguns deles antigos discipulos da ‘Academia de Plato, ue AFistteles procuroarefigio do am- bien adverso de Atenas. A Asso se seguiram outras part- gens, num lento prolongar de um afastamento forgado. Du- ante esta ausencia e em local que no podemos precisa, co nhecsu um estudaate de Ereso, na itha d2 Lesbos, Tiramo de eu rome, ¢ deixou-s encantar pelos dotes superiors dajue- Te Jovem a quem vei a aleunhar de Teofrasto, 20 que tert dons divinos nous da palavras (¢. 370 a. C-288 aC). As sim, nascida a0 sabor do caso, esta amizade fotsleceu-se para vida inter, sem que o entosiasmo do mesre pelos do- tes do disefpulo slgum dia esmorecesse. Teofrasto acompa- ‘how Aristieles um demorado itinerro:algum tempo em ‘Mitlene (344 aC), na sua ila natal, para, em 343/342 aC. ‘seguir até & Macedénia, onde o ilsofo se deveria encare- ‘garda educagao do jovem principe, fiho de Filipe Il, Ae- ‘andre. S6 anos ms tarde, em 335/334, Aristteles pode volar 8 Atenas; de facto, a auloridade que @ agora principe cconguistalor exerca sobre @ Grécia favorecia 0 regresso da- uw lradugto |queles que, por simputias pro-macedénias, se tinham visto forgades a0 exitio Foi entdo que, fora dos maros de tens, nas proximidades| de um santutio de Apolo Licio, Anst6elesiniciou Seu en. sino; af fundou uma escola e, 8 sombre acolhedora de um portico deambulatério (0 nepinatas), satisfez curiosidades ‘de muitos espiitos vidos de cultura, dele designadas por pee Fipatticos. A frente dessa escola, desenvolveu um activi de diversfcada e constame, que s6 8 morte de Alexandre fm 323 a. C., com o reenudescer das expectativas anumace: nas, veo abala. Obrigado de novo ao enilio, Arisieles pari, desta vez sem regress, de Atenas, ‘Chegou assim a hora de seu companheizo de tantos anos, colaborador em tantos sucessos pedagigicos e cientficos, lum dos mais disuintos diseipulos do Licev. se the substitir 1s diveogdo da escola. Ao longo de tina © cinco anos, com breves quebras ainda motivadas por perseguigoes poliicas, ‘at que a morte pds fim a uma vids long, toda ela dedicada 80 saber © & melhoria progressiva da Liveu, Teofrasto bata lou, sempre de olhos postus nos meres paradiginiticos co Davimoger, nda gue om tno vag, que nos chegou ca sun actvdadel parce svar das eatatetsteae pt tio la de geste ate, ic conte Dem intl dade do tmbiente que o era os nos que eis tag represen psa a septa ut da excola que digs. Ccios que, ns, «pops raha vio conta uando Teofaso,acsado de inpiedae ewima de Uma gue prota os iioos de marem eeu em Atenas ern ferizao do Consetho «da Asenble se vu fara em 31S, a um avo de aastamento da cidade Noo hesiter $010 em aero de amigos, em oa seus antigo olga os isis do Pesto, made gras interes nab tu polica de Atenas, nomeademente Demetro de alert, Os Caacteres " que, em nome da Macedénia, dirgiu durante anos o destino ts cidade de Pals, Foi gragas a influgneia de Demeiria Je Falero que Teotrasto,apesar da lei que proibiaestrangeiins ie serem proprietirios de teras ou edificios ein solo atco, pide comprar 0 tereno, onde se estabeleceu a sede perms- rente do Licev, Em eonsequénca, portant do seu presigio pessoal edo da escola que digs, 0 continuador de Anstte- les levou a cabo a difeil missio que assumira: a de manter viva erespetads a instituigao que o Estagiita fundara e pres- tigiara junto dos Atesienses ‘Nao menos decisva foi a sua actvidade cientfica, que se orientow pela mesma universalidade que caracterizara a de ‘Anstteles, facto que, antes de mais, a coincidéncia de, visios tiulos comprova: como também, nturalmente, se no estr- nha que, com o curso do tempo, Teofrasto possa ter optado por alguma emancipario ou por solugdes de relativa inde pendéncia em relagao a0 mest Foi sbretudo a egnci, a botnica em particular, a Uesper taro intereste de Teofrasto, que the dedicou dois trades ‘reservados até nds, Histvia das Planas e Causas das Plan- {as De resto, com 0 avango do exército de Alexandke i con- ‘quisia da Asia e da Africa, a botinica e &zoologia recebiam um impulso nove, a parr da convivencia com outros hori- zontes e puisagens, Mas também a filosofia, nas diversas perspectivas, metaisca ica, liga, politica, aretérica? ea podtica ataitam a curiosidade de um esprit insacidvel © ‘motivaram, sab forma de miiiplos tratados,reflexdes teni- ‘cas nos mais diversas quadranies, Pela relevdncia que reveste para uma avaliagSo mais justa ddos Caractere, ser importante destacar a sua produgto ti ‘© posica, Pluarco, Péricles 38 cita Teotrasto &v ote Hux, enguanto um escéio a Avisttees, Evia a Nico ‘maco 1121a (cf. Ateneu 15. 673e) refere a sua obra Mgt ‘idcv, que Eusticio (sobre a Etica a Nicdmaco 11299) con- 2 Inodayao Firma vomo dois tratados ndependentes, Na hipstese de Use. ner! os dtxce deverim ser uma eolecsao de peguenos en- saios do ipo Mepl edtaxpovias, Mep xchaxciac, Negi toxic Por seu lado, o Tepe talven se assemelhasse a Bica a Niedmaco de Atistcles ‘Quanto & producto posta, sto de referr dois tratadoe, pa 1a nés perdidos, que dedicow tate c6mica, epi xuouesblas eTlepi. yeroion (et. Diogenes Lareia 5. 46-48; Ateneu 6, 261d, 8. 3482): 0 primero, de natureza sobvetudo histéica, amalisava, em retrospectiva, 0 progresso do género c6mico desde as suas origens; o segundo voliava-se mais concrete mente para as formas de produair cémico, de acondo com os pancipiosarstidices, ‘Mas curiosamente, de tno este conjunto de obra, na sua grande matovi perdidas para nos, fo: um opisculo, Je natu feza contoversa, produzido com grande probabilidade em 319 a, C,, que sobretado preserva para a posteridade 0 no- me de Teofrasto:o¢ seus Caractere. Os Caracteres Controvérsia sobre a natureza da obra Consttuiios por uma sequéncia de tint retrates, cada um \dedicado @um tipo humana, os Caracteres chegaram-nos em registo muito controversoe de dificil letur®, Para slem das sfficuldades na fnagie do texto, ¢ também manifesta a ant quia total que preside & arumagio dos diversos tetas, Ha porgées de tento que parece teem sda deslocadas do set I proprio, de modo a integrarem-se na defini de um tipo 4 que logicamente no pertencem. E este 0 caso do Caracter ¥. que inclui uma pare final que melhor enguadrara no XAT"; por outro lado, apesar de haver alguns tipos que pat- lham tragos de personalidade, a sequéncinestabelecida pelos maraseritos no contempla ess proximidade, © que pr tei vista ilu a elagdo dbvia entre eles. Assn, por exe plo, nada aproxima no conjunto aqueles tipos para quem Doupar 0 proprio dinkeito ou explorer 0 préximo é atiuwe predominante: 0 descarado (IX), 0 mesquinho (X) 0 Frreta GOI co explorador (XXX); ou aqueles que abusam dt in- fuagem: 0 tagarela (II), © parlapatzo (VID, 0 enredador (VII ¢ o malediente (XXVIID; ou ainda os que manifes: tam, em relagio a0 semelhante, uma certa sobranceria: 0 3 toconveneido (XV), @ arogante (XXIV) e 0 ditador (XXVD, Numa tentativa de valorizarem essas semelhangas, houve ‘edivores, nomeadamente Jebb and Sandys, que entenderam fdoptar uma ordenagio diferente da dos manuserios. ‘eresce a estes problemas 1 conscigneia de que mio este rina em epoca df de precisa, nttoduziv no conjunto tex- to eaplo,sabretudo no que respeita ao proémio¥, ao remate fitesofico de alguns Caracteres (lll, VI, Vill, XXVI, XIX) e a certas definiges 2 precederem cada tipo. De uma forma gers, ¢ 0 tom flosofane e a desadequagio a0 desen volvimento posterior que denunclam a intromissio estranha no ext original ‘Mas como descrever ent, nas suas linhas eral, estas a= botoses dezenas de tipos homanos? Num plano abrangente, 0 mundo para que remetem &0 da Atenas do tempo de Alexan- the © asociedade que repesentam a de uma classe média de catucteristicas mareadementecitadines, aaliads dentro dos pudides contemparineas com uma notéris dose de humor. Cade retrato reparte-se entre una definigio genética © abs. ‘rate nical, de enunciagdo muito breve, seguida do tragar ‘mulifetado de um perfil, mais ou menos Tango, onde uma soma de atitudes ou palavias desenka wma personagem, por lm processo cujasemelhanga com a técnica tear tem sido Seripre scentuada, AS situagées apresentadas pestencem a0 fquotiiano da cidade, pibico ou privado, e privlegiam am- SARI sae 4 Inodusd0 bientes ou momentos — a agora, as termas,o teato, © ban ‘quete — onde a vida social & mais papitane, Nestesdiversos ‘endrios, figuras comuns so chamadas a agit de uma forma fem que se acentus a inconveniénca ou 0 rdculo, face a ume etiqueta convencional, sem que o seu camportamtento press ona uma valorizagto de alcance moral, Relacionando estas ‘omponentes, Vilardo® sugeriu una leita expressiva na sua simpicidade: «Cada caracter pode pois defini-se como um punhado de situagtes.signiicstivas ¢ imendependentes de uma defini inicio» A constincis deste esquema pelo qual cada caracte se de- senvolve corresponde também uma simetia de estilo, onde uma linguagem de tonalidades cientitico-ilosficas © outra e trago dramatico-ierério cooperam., Cada retato inica-se com a definigio de uma qualidade, de saber claramente abs ‘waco, valendo-se de uma terminologia de natureza filosética f concebida dentro de um laconismo de marca cintifica. (Com esta frse enunciatva coordena-se uma outta, inicads por otes com @ veibo subentendido, que into 0 tipo pro priamente dito, aquele ue, numa sequéncia de sitagdes, ac. ‘ward de uma determinads manera, Sucede-re entdo uma sé tie de congeeutivas, com o verbo no infinitivo. a descreve. fei, também de forma sucintse directa, esse comportaen- to; sem pretenses, um mero xe capultive pode mitt por um niimeco indefinida de quadeos, a sequéncia de ima ‘ens ilstativas. E agora a tonaidade dramstica e coloquial de linguagem que se instala.Enfim, a efieeia de cade reat, para além da monotonia evidente do seu tragado, resulta em boa parte do carécterelitico e por demas directo do estilo, ‘expressivo no entanto pela acutlincia dos pormenores, Depois da descrigdo sumaria da obra esta para os estudio sos de Caracteres uma questzo ainda nfo solucionada: em que modelo lteréro, dentzo dos padroes da Iiterature gxega ‘antiga ineuir este epusculo? Nao parece polemico que os OsCancteres 6 Caracteres apresentam uma natureza propria, para que se ‘to encontra paralelo directo!®, mas também mio € conto verso que 2 obra surge dentro de uma épaca ede um contex- o ntelectual que sobre ela imprimem a sua marca, A partir esta base, tem-se optado essencialmente ports hipSteses pata a interpetagio dos Caracteres, como: 1. uma produgao Sica 2. retrieas 3. cOmica, E a8 afinidades procuram-se na- {uralmente dentro da escola peripatstica. Antes de mais, Aristteles, o paritca da esofa e a figura mais marcante da ‘cura do momento, o mestte € 0 amigo de tantos anos de convivio ciemifico © humano, aparece como 0 modelo evi- ‘ente, na sua produgdo ica (Erica a Nicdmaco,Btica a Eu- dena e a Grande Eiica, nau grado as divides de autoria que ‘se colocam a estes textos, sobretudo 20 timo) e retsrice (Retérica); além dele, Menandso,disefpulo de Teotrasto © 0 mas distinto de entre aqueles que entao produziam, com &x to wove, comédias a0 novo gosto, oferece oura referéncia ‘bia. Ainda que inegaveis as relagées existents, a verdade ‘que as diferengas se conirabalangam, em equillbrio, As se- melhangas. Porting, a difculdade residird, em dima andi- Se, n0 grau de parentesco aestabelecer. Tenlemos, por nossa ver, ums anise de Caracteres nests diversas perspectivas, pressupondo como aceites & partida ceilos prinespios: a mesma preocupagzo com o individuo, ‘que se Tevela no pensamento de Ansidele, Teofrasto e Me- andro, desenvolve-se paralelamente na mentalidade con tempornea, e encontts outas expressOes concordantes, par ticuarmente plastics, pelo aperfeigoament e valonizago da tecnica do relrato; nessa observapdo, o ser humano ¢ analiss- dom contraluz com o meio social a que pertence, ov para ‘que se Ihe proponham norms de conduta, ou para que se lhe spontem of comportamentos ¢ 0s pequenos riiculos, numa pewpectiva didéctica ou sattica; logo, a compreenséo do in {isd pressupde um enquadrameato colectivo, sem © qual 16 Inwodoso no € intligivele para eujareconstitui Inbutoindispensavel Em resumo, a importincia de Caracteres ni se confina @ lum métto puramenteliterdrio, nem se avalia 80 86 a patr da leitra do aprego pela eficéia do seu contetidoe esto, € precisa conside-los como um testemunho dos valves in- telectuais de ums época, em paralelo com as obras de teor ‘ago nela produzidas e, por Outzo lado, encard-lo dentio de lum nova nogdo de eémico entio preferda;finalmente, co ‘mo pano de fundo @ sustentar todo este fervilhar de idelas ¢ ‘movimentos,esté a Atenas do sée. IV, para cu historia so- cial os Caracteres podem dar-um contiuta inestimevel. ‘Teofrasto © 0 pensamento ético de Arist6teles ‘Tem sido a marca tia dos Caractereso aspecto mais va- Jorizado no sentido de uma definigdo da natureea desta obra ‘Alas, para além da prOpria evidéneia dos trina rttatos,€ importante a intepretagdo que o autor tardio do procinio dé «dos Caracteres como uma tentativa de catejo entre vcies © Virtudes, com vista a produzit um texto doutrindrio que sitva e base tedvia 3 formagio de jovens personaidades. Acres cente-se ainda que os Characterismoi!l de Ariston de Céos, ‘que, no delinear de certos tipos,revelam intirasubservigo ia em relagdo sos Caracteres de Teotrato, fazem parte de ‘um tratado ético como um blaco exemplificativo de determi- ‘nados comportamentos. Estes sio portanto testcmuntos que, 8 primeira vista, parecem apontar para um vinculo claro entte ‘© opisculo de Teofraso ea produsio stica de riz peripatt a, Impée-se pois estabelecer um confronto eom alguns pa $05 coneretos da produgdo ética de Aristles: vamos cing ‘0S aqui, pela impordncia que detém, a Eticw a Nicomaco 1107a 33-L108b 7, onde os diversos tips de virtue so ent Os Castres ” rmerados, ¢ 11158 6-1128b 35, onde se passa & detnigio descrigo minuciosa de vcios€ virudes; mas a mesma andi se consi ainda o motivo de Etiew a Eudemo 1220b 21- 1221b 2, 1228a 23-1234 4 e de Grande Moral 1190b 9- 11934 37. Sto estes textos normalmente entendidos coma precursires dos tratados que o proprio Teofrasto dedicow & ‘matériaévical?, bem como de dulros posteviores dentro da ‘mesma adigao peripattica!. ‘0 que ressalta de imediato desta enunciagio & que a pro- posta feta pelo autor do proémio, descabida em relagio aos Caractere, corresponée sem dificuldades ao prjectoaristo- (Glico. De facto, o objectivo do autor da Btica a Nicdmaca & Isolar eestudat, por categerias, os agos da personalidade human; pera til estabeloce um quadro de vicios, por dife- renga ou excesso, em relagio @ um ponto de equi inter médio onde reside a vinude (11073 33-1108b 7), Passa, por fim, a cilucidat, tat como propde também o autor do proé- mio, eas respectiva caracterisicas e tendéncia, em primeiro lugar, evidente que alguns dos tipos defini- dos por Aristteles, no passo acima mencionado da Etica @ Nicdmeco, carrespondem a certos Caracteres: assim & ipoveia eautodepreciagiow (ef. Caracter 1) € contrastada, por eiterenca, com a divexer eautenticidade», como por di ferenga sio também cotejadas a évausBnaia westupiders com a eaxpeoatinn stemperangas (cf. Caracter XIV), & Be.- Nic scobardian com a dvBpeta «coragem» (et. Caracter XXV), 4 dvehcudepia «fortetice» com a edeubepuécns nerosidude» (cf. Caracter XXII), a dyypoexie «parotices com 2 eixpanehia.spolimento» (cf. Caracter IV), devaaa ovtia.adescaramento» com a alénpiouia adisingdo» (ef. Caracier IX). Em contrapartida, si formas de excesso & Dragoviie «gaberolice» em relagdo a Gdsidera (ef. Cara ter XXII), de onde resulta que elpesveice ddaovei 280 clos dametralmente opostos, a égeaxciz scomplactncian a nods Por oposigi a pila «amizaden (cf. Caracier V) € a xo- Dooeeiossbajulagdon a gidie também, camizade ou simpa. lias (e, Caracter 1). Vilardo! chara ainda ¢atengeo para © facto de haver outros cractrescuja delineacao tem cores ondéncia em Aristeles, ainda que sob designagoes dite Fentes. Seré este 0 caso, por exemplo, do uxeepirdrioe spedante» (ef. Caracter XXI) que se desvia do senico da hhonra,¢ que Aristteles designa por é@pirsriioc © pudcce 1uos Salientando a deficigncia cu oexcetso na atitude respec. liva, Por seu lado, © Buaxepric wdesmazelados (ct. Curacter XIX) 6 0 dbs sinconvenieniz (cf, Caracter XX) podem assimila-se ao Bapaddyor e ao pogtixds de Aristéele, ‘A panir deste quadro de corespondéncias, hl, porém, des de logo, diferengas que ressaltam de forma sgualmente Sbvia, ‘Teofasto retrata apenas vicios, por diferenga ou por excess, © 0 empenho em estabelecer paralelos e relagoes entte Viios © virudes exté de todo ausente dos Caractere, ate mesmo quando ¢ evidente a semelnanga entre os divetsos tipos" Jebb and Sandys!@ salientam, a parr desta conespondensia de vicios, que os tos de Teofrasto nao sio smoralmente in slferemtes»,porgue todos eles sio portadores de defeitos mo ‘ais na perspectiva pripatica. No entanto, 0 aligeitamento ru andlise € 0 desenvolvimenta menos terico que Teofaste ‘dopa acabam por por a ténica ndo tanto na repovago eica quanto no ridiculo ou inconvenigncia estética dos comport rmentos. E sobretudo a nogzo de «fetor ou sinestticos, por onfrosto com um padre convencional, que se evidensia, mesmo significa que, a um objective didéctica dominante em Arist6tels, se contrapée agora uma finalidade meis lid «a, onde o sentido de hurmorimpere. Se penetrarmos, em seguida, no desenvolvimento deste es: ‘quema e passarmos 2 andlise pormenorizada das carate 85 humana, prética comum, na generlidade, a Aristieles¢ 805 Caraceres de Teofrasto, também aqui as diferengas de Os Cantos » perspsciva se mostrardorelevantes. No tom usalo por As {Gtelesdomina a avaliagdo abstraca e térica, a busea de de- Sinigdes, a catalogapdo, a particularizagio por contrast, a rmotivagio, a dilucidagao clara dos tenmos téenios a aplicar 305 conceitos em eiscissio, 0 reexame final que testa a del- igo propostae a diferencia com sigar de nogbes afin, Todo fesie material, central na perspectiva de Aristiteles, deixa uma marea prectriae marginal no desenvolvimento de cada ccaracir em Teofiasto; 86 & definigdes iniiais, com tudo de contingente que as caracteriza, como seja sobretudo a sua inadeguagao em certs casos, azem essa marca aristotlica ‘mals atid; mas o espaco por demas sucinto que Thes ¢ dado como mera introduglo, por vezes até desadequads, a que 180 se segue um esforgo de correeeao ou de preciso de sentido, demonstra 0 seu carécter lateral ou até, para alguns, espro; ura, 0 Estagivta vise antes de mas & deinigdo de eoncetos éico-filoséticos, os Caractere sobretudo 0 ho- ‘mem rea na sua ptics social do quatigiano; logo o tom que ‘compete ao primeiro caso niidamentecientific, enquanto no segundo dorina um modelo mais proximo do drama 6: Prepésitos dsparesresaltam tamisém da desproporgto dos ois sulores no que respeita d exemplificagio dos comporta- ments. Els, para Aristteles, marginale particularmente genérca, de modo a servi, em ermos paradigmiicos, a def- nigdotedriea em causa, Bem pelo conriio, a exemplifcagdo com stuagdes miltplas e diversficada, arancadas de um ‘di-adia conereto e focadas sobre a personagem actuante, {que & move ¢ fala, €a alma dos Cavacreres de Teofrasto. AO ‘und da reflexao terica substiu-se o da vivencia real, a0 plano abstract da exsténcia, a realidade papitante do quod iano de Atenas. Talvez um exemplo sinifiatvo sea il & compreensto deste abismo de diferenea. Tomemos 0 caso da cobarde que, por alguns, tem sido citado coma um modelo ” Irsodao de coincidéncia de ponto de vista © método entre Teorasto (XV) e a Brea a Niedmaco (1115a 6-1117b 22) de Aristote- les e confrontemos os dois textos. Comenta, por exemplo, Aristteles: «© valent, embora pronto antes de o perigo Surgt, na hora 60 sco faths; 0 corjoso, porem, é activo no momento de agir, antes dele, sereno» (11161 6-9) Eaante pasta a dar casos concretos: «As topas regulares tomaim-se ‘obardes perante 0 perigo, se se veem om infericridade de hnimero e equipamento. Sdo sempre as primeiras a fugit» (L116 15-18); squando se enconiram em desvantager nu- mérica, pdem-se em fuga, mais temerosas da morte que d& ‘desonra (11160 20-22), Tambeém Teofraso toma o campo de boatalha como um ambiente proprio para testar 0 comport ‘mento do cobarde, que retala em quadros como: «Em car pena, no momento em que os rlorgos de infants se pre patam para atacar, ele chama a gente 1d do barr. pede-Ihes {Que parem ali 20 pé dele e olhem bem em volta primeio, ‘coma protexto de que 6 obra dstinguir quaiss80 vs inimigos ‘Ao ouvir os grits e ao ver os combatentes tombarem, diz 40s ‘que o rodeiam que, com a press, se esqueceu de pegat na es- pda; come pura a tends; desembaracase do enado, que man dda observar‘o mavimento dos inimigos, esconde a espa de Daino do travesseio fica tempos infindos procura dela» (XXV: 34). Ou entdo é nos perigos do mar que Arstteles © ‘Teofrato pem & prova a coragem ou... a falta dela. Diz a Erica @ NieSoraco (11138 34-1115 1): «Estas cieunstincias "que poem em perigo a vida" acorem sobretudo na gue: mas também 36 0 homemcorajos ¢ firme no mars Tefras= {o, por seu lado, concretiza: «Eis o perfil do cobarde. Se viaja ‘por ma, canfunde promontsios com avis de piratas. Se hi fondulagdo, pergunta se existe a horde alguém que no seje Iniciado, Poe-se de narig no ae informar-se junto do piloto se se est no mar largo e 0 que acha da cara do tempo. Conta ao sujeto do lado que esté alarmado com um soho (05 Carateres 2 us tev, Deope atic ene a0 ei; pr fir, pe dhe 9 desembarquem em eta» (XXV. 1-2) Puce et ete omen para uma conlusto sie sna poli do telasonamento dos Caractere com = ‘Tipo sce do Perpato, Ser qe podemos pasar 2 a= sta tena dagles pra gues ort pas que 05 che ram farm parte de um tatado mais amplo de Hosxot ‘Seuettore qe ncria una eoria moral eevenasmente seen lu corespondente das vines rstrecas? Sus {hea andize objective que acim esboyamns nos Fever Ahir sem hesiagao esta hips, que no se coadna mii Mramente vom o tom dos tiposconservaos. A ens es lace perdio, cua motvagt tic sria a subservience passivaao modelo de Astle por parte do seu contin Eur wchguse desjute com otto eonservado seam por Seria O io den pee pare st 90 ‘Riper. Porque nepivel qu os Ceracereseskam di SEED sem a elena cea de Arias fav sens ‘Roan em gue fefoman diversas dis suas etegonas como Ioselos de scios 0 desvion, por dferenga ou excess em ‘Rigo atm ponto eal de epi. Esse posto médio e- Garam Toto, desigagio de suibaidade, om um Ghulgade onde eleginia © moserago de eomporameno seitm meccer alauso coma condo de disingao a8 = Urvova Ma a partir desta pstafoa comm, nda 2d feng de jective proceso, 0s Caracteres e a prética retérica Como a filosofia éica no é2 Unica discipline @ oeuparse do exuto do comportamente humano, ouas propostas de relacionamento se estabelececam para 0s Caracters. B, entre ta, dstinguese, ainda dentro de um plano de reflexo que 4 ledge Vloriza a relagdo entre Arstteles © Teorasto ea patti de uma forma de pensamento e de anaiseteortia, aquela que Dretende para os Caracteres uma justificagdo de naturezare- {Gxica. De facto, 0 desenho do comportamento human fazia parte, dentro dos e’nones antigos, das componentes do dis Curio o adestramento no uso e composilo dessesretrtas jusificava a pritica de exercicios especificos, Eta umd no- {fo tesrica desde logo prevista na Retérica de Avisidtles (13660 23-32), que aconselha o recurso exemplos colhidos 4a vide dita com um cardcterdescitivo, Séculos mais de, Cicero (Tépicos 83) ¢ Quintliane (1 9. 3) continuavam & testemunhar a vitalidade e utlidade dos yapaacrne.ayo. 0b ‘Atodoyiat, como exerecios convencionais ce teino ret6r, 0. Mas também neste caso ser egitim perguntar:podere- igs entender os Caraciees como parte de un tratada de te- ‘erica, do ipo do manual concebido por Aritsteles sob 0 mesmo titulo e retomado por Teofrasto numa dra com 0 mesmo nome!8? E mais uma ver « nossa reacgdo tem de ser negativa face wo excesso da proposta.Também neste caso se pode suscitar a questo das semethangas entre os Caracteres © a Retdrica (1366a 23-1367 7, 13784 19-1391b 6), onde sto analsados os principsissentimentos que um oredr deve ter presenies, de modo a, na slura propa, influenciar oan ‘mo de um auditério. Mas também neste caso, objectives © tetos sfo marcadamente diferentes, Nao se trata, no esto de Aristteles, de catalogar tipos determinados, mas de utilizar ‘expergneias ao servgo da persuasio que & propria da oat Tia. Além diss, segundo um método semeihante ao da Etica 4 Wicémaco, apela-se & organizagio, por canteaste, de um conjnto de estados de espinio opasios, que sia analsados nas suas Componentes e determinants, relacionando-os com {nupos etiriose sociais, que nada tem em comm com a es trutura de Caracteres: Também aqui predomina os temos 'onicos para designar eonceitos precsos, defingdes,julzos (0s Caruteren a de valor relatives, presses de sentido por eamtaste, seule ‘dade a exemplificagda conereta um lugar ineiramente mart nal, mesmo a exis, esta exemplificagdo € sempre feta fem tom genético e paradigmatic, que nada tem em comunt ‘coma realism vivido das situayies concretas, Mesmo Pure ley", um defensar da teoriaretdrica na interpretagio de CCaracteres, dente da linha de Immisch,reconhece e ponder 35 virias objecgdes que esta leturasusctou, de onde avula, ante: de mais, a consciéncia de que falta ao opdsculo e Teo. frast 0 tom retrico, ou, mais ainda, 0 tom teérico, cient abrangente que € prépia de um tatado, (Que, no entanto, apesar da sua natureza dvorsa, eram reais algunas afinidades com a préticaretrica do rerato nto dei- a d ser pondervel. Ea prova conclusiva reside na facta de 2 ba ter tido uma uilzasao visivel neste Ambito e decento tao etiva que levou exactamente& sua preservago como um ‘mania escolar Os Caracteres de Teofrasto ea comédia -Mbitas 880 a8 vozes, por outro lado, que ge uniformizaram ‘em volta de uma afnidade inegével ene os Caracterese & teadkgio cémica, ja do 26e. V a, C., mas sabretudo « do sé. 1V, contemparinea de Teofrasia e enobrecida pelo Gxito de Menandro, dsefpalo do referid filésofo, Diversos facto- res, de natureza teérice e prétca, conribuem para esta litu- ra. B, antes de mais, o facto de o$ Caracteres retalarem ape- nas icios © nunca virudes,o grande obstéculo& sua inter- retigio exclusivamente éica, coincide com a dfinigho que ‘Anisoteles dé de um dos prncipiosessenciis da natureza da comida (Postica 14494 31-33): «A comédia € (..) a imita ‘fo de homens de qualidade moral inferior, n8o de todo 0 0 de deleito, mas no émbito do rsivel, que faz parte do te ra a inestetico A preccupagio teérica de sondar a naureza ¢ 0s ‘objectives da comédia, manitestada por Arstoiees,reperey tiu-se ambém em Teofrasta, ator, come vimos?, de dois tatados Sobre a Comédia e Sobre o Ridicule. Assim, 08 Ca racteres harmonizam-se, no seu espiito @ concepei0, com tuma cera interpretagao cieniica da eomedia, sem que por isso, naturalmente, devam ser lies como um tatado equiva- lente aos que acabemos de eta. No entanto, alguns autores centendem-nos, na forme paradigmatica por que desentarn ea Ficaturas a partir da observagio de comportmentos conc: tos dentro de um contexto social delimitado, como uma expe ie de catlogo de figuras, que pode servic de referéncia & criagdo de uma comédia de Gpos como ¢ a de Menancro, Es 1 6 uma perspectiva que faz a ligaglo entre a visto teria © a execusdo pritica do iso ( humor e a ionia que dio o tom geral aos Caracteres {que constituem os iagos mais evidentes na sua elaglo com a cométa, temperam todas a5 componentes do retrate figuras, situapdeselinguager, -Embora a caracterizgo por tipos nto Fosse de todo estra- sa & coméaia antiga, também nfo era, nessa fase do genero presa 2 realidade do momenta, uma priordade ou um factor Felevante. Teros, no entanto, determinadas personagens cé- micas que exibem espectos em comm com os de alguns e&- mcteres. Decerto que & personagem, fequente em Aris6ta- nes, do lavrador petencem certos comportamentos do parolo 1V);0 general fanfarro como o Limaco de Acarmenses ou & Figura do aventureiro efeminado que ¢ 0 Dioniso- Hercules de Fas exibem wagos do cobarde (XXV) ou do parlapato (VIN) € nko teré 0 mesmo Dioniso jf madur, totalmente inexpe- riente da faina marfima, mas obrigado a remat no barco femal, uma sugestio do temopado (XVII) que se inicia tar de e mal nas artes que depois aio contola? Mas sem divide ue este € um defeito indscutivel no Esrepeiades de Nuvens is Carsetees «no Filécleon de Yespas, Tagareice (il, parlapatice VIN ¢ Eabarolce (XXII) #80 «prendas» que Aristifanes ni vy tia aos novos intelectual, aos sofisas ou a Euripides, eine também ao politico nova vag: e est timo, quanto no 3o bajulador (IT) na sua relagso com 0 povo, ou do impuder fe (VI) edo desearado (1X) como aquele que se formou na roubo e no expediente, de que o Salsicheito de Cavalein & 9 exemplo maximo. Estamos, porém, muito longe do herd omico de Arstéfanes, no apenas do hesi-ipo, 0 lavrador por exemiplo, coma também da personalidade real, Cléon, Limaco oe Séerate. Em primero lugas, porque os Caracte res se referem a um mundo humano colectivo, onde no se faz erica diecta ou nominal; depos, porque nenhum dos t- ps de Teofasto mereceria a designagio de her6i. O sher6i Eémico», aguele que domina os scontecimentos noma come tia antiga, como proponente de uma teria que tem de con- frontarse com opositores para conguistar a corea di vitéria, deve merecer do audiGrio uma valorizagdo positiva © uma sdesio incondicional. Logo, o adioso ou o ridiculo deverto reeair sobretado em cima dos que o antagonizam, dentro de tum polémica onde a fantasia geralmente domina. (Os tipos de Teofrasto sto pasives, no sentido de que aco- smicidade gue provocam é de todo involumtria; os seus com= portamentos sto comezinhos ¢rotineios, fantasia & caracte- Fistiea que desconhecems litam-se a agit de forma instini= va, dentro de um diaa-dia vulgar, s oferecerem-se, como tlvos espontineos,& andlise psicoldgice de um observador ‘Bem mais esteitaé neste aspecto, a relagdo existente entre os Caracteres¢ a comédia nova, paricularmente Menandro, porque também nela se define, dentro de perfis convencio- nti, uma galeria de pos humanos constanes. Um conjunto de titulos de pecas perdidas,comespondentes & produgio du poca, ateste de forma ineguivoce este corespondéncia, 2 loro Ue um modo directo, guando um titulo é também a designa- glo de um tipo de Teofrasto — “Ayporxos «O parclo», Fqniozos «0 descontiadan, Arubayea» «O superticio™ so», Meyginoipac «O eter descontentes, KéAaz «0 bal Iador —ou indiectamente, a aestar a coincidéncia de um processo de caracetizasio, “Anhnetor «O glution, ixohoc 50 embirrenton, Movéteonac «0 solitirio», llodaneéesy 0 intriguista. Em geral, escola peripatica panttha com 4 comédia contemporanea o iterese vivo Ihumanos, para além do processo impressonisa de os retatat como um conjunto harménico de pinceladas dissonamtes © sisperas, "Mas os comportamentosindividuis #6 ganham veracidade € sentido se enquadrados por situagdes comuns na realidad social contemporinea, Esta revitlizagdo, que os relia da ga Tera dos modelos para Ihe transmit um Sopra de vida, cor- responde 8 moniagem de um cendrioautentico, onde a8 atu es ou palavras, os gestas ou movimentos tem a forga de ‘uma vetdadeira aetuagéo dramitica, Mas ¢ também o enqus dramento social « motivagdo que faa de Caractere um itulo importante para # reconstuigdo de wm periodo da historia social e econémica de Atenas. Do todo restala via sociede

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