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ESTRUTURA NARRATIVA NA HIPERMÍDIA: ENFOQUE NO E-LEARNING

PASOLD, André Gustavo 1


SOARES, Silnei Scharten 2
Departamento de Design da Univille

RESUMO: Este artigo faz uma revisão de estudos originados na literatura, bem como
teorias sobre a hipermídia, para explorar as estruturas narrativas possíveis de serem
implementadas neste suporte. É também concebido a estrutura narrativa de uma obra que se
destine ao ensino, para materializar os conhecimentos obtidos.

PALAVRAS-CHAVE: hipermídia, estrutura narrativa, e-learning, ensino, design

1 – INTRODUÇÃO

A hipermídia vem se tornando a forma mais prática e comum para a disseminação de


informação no contexto atual, unindo recursos multimídia (imagens, textos, sons e
animações) juntamente com a possibilidade de relacionar os documentos (ou pontos
específicos dos documentos) através de links. Porém é necessário que estas informações
sejam apresentadas de forma coerente, e que a navegação seja planejada pelo designer, para
que a transmissão da informação forme um todo coerente para o usuário. É precisamente
neste contexto de transmissão da informação que surge a necessidade de uma análise da
estrutura narrativa que irá conduzir o usuário através deste conteúdo e irá influenciar
diretamente o grau de absorção de informação por parte do usuário.

2 – ESTRUTURA NARRATIVA PARA ENSINO NA HIPERMÍDIA

Todorov (1970: 80) define a estrutura de uma narrativa como uma “estrutura
abstrata”, na qual uma obra específica será apenas umas das possíveis realizações desta
estrutura.
Em sua análise da obra Decâmeron, Todorov analisa todas as narrativas ali contidas e
observa uma estrutura narrativa comum, que é demonstrada na Figura 1.

1
Bolsista, 4º ano de Design (habilitação em Programação Visual) matutino;
2
Professor Orientador, departamento de Design da Univille.
Figura 1 – Estrutura Narrativa da obra Decâmeron
Fonte: Todorov (1970: 85)

A partir desta análise, Todorov afirma que é percebido o fim de uma narrativa quando
ela retoma seu ponto de equilíbrio, ou seja, quando a situação inicial, ou principal da
narrativa, recebe um veredicto. Para que isto seja observado, deve-se poder enxergar o real
problema que a narrativa trata, chamado de intriga, o qual deve ser explícito a quem
consulta a obra.
Santaella se aprofundou nas relações das narrativas, partindo dos postulados da
semiótica peirciana para classificação das narrativas.
Para Santaella (2001: 322), a narrativa é uma “ação que é narrada”. Porém essas
ações da qual se constitui a narrativa são unidas por uma intriga que proporciona a criação
de relações entre estas ações, visando combater a intriga. Este combate é a própria
narrativa, e vai resultar em uma nova harmonia, como observou Todorov em sua análise do
Decâmeron.
Dentro das categorias peircianas, Santaella classifica a narrativa como estando no
universo da ação, do acontecer (secundidade), mas antes disso está no universo do
transmitir, comunicar, implicitando uma linguagem (terceiridade) ou suporte através do
qual esta ação será narrada.
As categorias observadas por Santaella a partir dos estudos da semiótica peirciana
criaram as seguintes categorias: (1) Narrativa Espacial; (2) Narrativa Sucessiva; (3)
Narrativa Causal.
A Narrativa Espacial se caracteriza por ter suas ações regidas por uma plasticidade
que as une, explorando as características formais da obra, destacando mais a narração do
que o fato narrado.
A Narrativa Sucessiva é aquela onde a cronologia justifica a seqüência das orações.
Um fato só é contado após o outro porque aconteceu depois do outro (no tempo).
A Narrativa Causal é encontrada em narrativas que exploram a conseqüência de cada
ação, onde as ações são colocadas de forma a destacar uma lógica de acontecimentos, e é
neste tipo de narrativa aonde iremos nos aprofundar, dado a sua característica de trabalhar
com a ação e reação que um evento pode disparar no ambiente criado pela obra.
Uma Narrativa Causal é muito útil quando o objetivo é transmitir o funcionamento de
um processo, onde se deve entender o porque de cada etapa do processo.
Para que o usuário possa entender bem este espaço virtual, é necessário que ele
entenda a estrutura narrativa que rege a obra, sendo muito importante que a intriga esteja
clara, pois ela influenciará em como o usuário irá enxergar a importância de cada ação no
contexto da narrativa.
Lévy (1993: 25) cita como uma das características da hipermídia o princípio da
“multiplicidade e de encaixe das escalas”, que nos permite entender a hierarquia de uma
informação dentro de uma rede maior de informações. Por exemplo, pode-se perceber,
enquanto navegamos por uma página da turma do 4º ano de Design, que esta página
encontra-se dentro do site do Curso de Design, que por sua vez está dentro do site da
Univille, e assim por diante. Este princípio de encaixe em escalas nos sugere aplicar as
teorias de fechamento da narrativa (intriga de Todorov) originárias da Literatura, na
hipermídia, criando narrativas dentro de narrativas, que formarão uma escala hierárquica
onde o usuário poderá navegar.
Para que esta estrutura hierárquica possa ficar clara, é necessário que cada uma dessas
escalas da narrativa tenha a sua intriga bem definida, intriga esta que definirá como o
usuário irá perceber aquela ação e sua conseqüência no contexto criado.

3 – PROPOSTA DE UMA NARRATIVA

Para que pudéssemos ter um melhor entendimento das implicações de ordem prática
deste estudo, nos propomos a desenvolver um ensaio que contemplasse esta teoria. O tema
escolhido foi o “processo de impressão offset”, e a partir deste tema iríamos definir a
estrutura narrativa que a regeria.
Partindo da proposta da criação de narrativas em escala, a narrativa do processo de
impressão offset foi dividida em quatro micro-narrativas: (1) Escolha do Formato do Papel;
(2) Escolha das cores das imagens e textos; (3) Geração de Fotolitos e chapas de impressão;
(4) Impressão offset (a máquina em funcionamento).
A escolha da Narrativa Causal Imediata é evidente, uma vez que o conteúdo se
destina a explicar um processo, sendo muito mais prático que a seqüência fosse percebida
através da ordem lógica de uma ação possibilitando a próxima ação, e assim por diante, até
que a última ação aconteça e satisfaça a intriga principal, retomando o equilíbrio da obra no
momento em que a impressão se realiza.
Ao desenvolvermos os primeiros story boards de como a navegação aconteceria,
percebemos que a melhor forma de explicitar para o usuário qual a intriga principal da obra
seria exibindo o problema a ser resolvido. Por esta razão a peça inicia com uma
representação de uma impressora offset parada, necessitando que todas as outras intrigas
menores sejam resolvidas para que esta possa funcionar.

Figura 2 – Story Board da navegação do ensaio sobre Processo de Impressão Offset


Durante a navegação para solucionar as intrigas propostas, o usuário irá compreender
a implicação lógica de cada etapa, e assim terá uma visão de como funciona todo o
processo a partir do ponto de vista das escolhas e suas implicações no restante do processo.

4 – CONCLUSÃO

Para um ensino eficiente, especialmente no suporte hipermidiático, se faz necessário


um estudo minucioso de como a informação será apresentada, e antes disto, de como ela
será organizada. A partir desta necessidade deve-se ter em mente a construção de uma
estrutura narrativa que irá fortalecer o aprendizado e tornar a experiência do usuário mais
agradável.
Este estudo procurou explorar o tipo de estrutura Causal Imediata, porém deve-se ter
em mente que cada conteúdo pode ser mais bem transmitido através de determinado tipo de
estrutura.

Referências Bibliográficas

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da


informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.
SANTAELLA, Lucia. Matrizes da Linguagem e Pensamento: Sonora, Visual e Verbal.
São Paulo: Iluminuras, 2001.
TODOROV, Tzvetan. As Estruturas Narrativas. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1970.

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