Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

TECNOLIGIA EM GESTÃO AMBIENTAL EAD

Folha de Respostas

Módulo: Avaliação de Impacto Data da Aula 14/12/2017


Ambiental

Tema Aula: Estudo de Caso Tecnologia de Gestão Ambiental

Professora: Viviane Pereira Alves

Polo: Guarulhos

Monitor: Gerson

Aluno Ítalo Ricardo

Matrícula 285155

Com base no que foi assistido e lido, faça uma breve busca na internet para verificar se
os critérios estabelecidos para a construção de Belo Monte foram devidamente atendidos.

Se não, na sua opinião o que precisaria ter sido feito para minimizar os impactos
ambientais e sociais.

Como testemunha ocular deste episódio posso falar com propriedade sobre o assunto
pois, de 2011 a 2012 estive presente nesta mega construção trabalhando como Projetista
no setor de engenharia responsável pelos projetos dos canteiros de obra da usina. Pude
ver Altamira em seu estado “in natura” e também pude presenciar o caos instalado
depois de um ano de operação iniciada. Muitos foram os problemas de diversas naturezas
e temáticas, pude ver de perto o sofrimento daquele povoado local. De muitos critérios
ou medidas das tais 40 exigidas para a instalação das usinas, posso afirmar que a
medida preventiva para evitar ao inchaço das cidades, principalmente Altamira do Xingu,
não foi executada. Não houve programas de caráter antecipatório visando preparar as
administrações governamentais para receber o empreendimento. A obra em si era
composta por 4 canteiros de obras (Sítio Pimental, o que eu trabalhei que fica em torno
de 70 quilômetros de Altamira, Sítio Belo Monte, Portos e acessos, Sítio Canais e Diques.

No ano de 2012 somente no Sítio Pimental tínhamos um contingente de quase 7.000


colaboradores e me causava espanto essa quantidade de pessoas que saturava a cidade
que naquela época segundo o censo de 2010 girava em torno de 100 mil.
Todas estas pessoas chegaram da noite para o dia congestionando a cidade, sem rede
hoteleira, os canteiros ainda não estavam construídos, o que se tinha era o CCBM
(Consorcio Construtor Belo Monte) locando várias casas para os operários fazendo com
que muitas famílias para ter uma renda melhor alugasse suas casas e praticamente
fossem morar em tendas montadas em sítios ou locais mais afastados. A cidade sem
nenhuma infraestrutura, esgotos a céu aberto, dejetos eram lançados de suas palafitas
diretamente nos corpos hídricos.

Foto 01: Arquivo pessoal

Durante esse período de 2011 a 2012 em média cerca de 200 a 300 trabalhadores eram
admitidos por dia, o fluxo de pessoas chegando na cidade era muito grande, a oferta de
trabalho atraiu pessoas interessadas em trabalhar na obra, vender para obra e lucrar
com a falta de produtos de primeira necessidade e a quantidade de “potenciais clientes”.

Isto realmente foi um dos principais fatores que aumentou o índice de violência no
município, só piorou o que já era ruim. Muitos dos que por lá vivem há muitos anos,
dizem que o maior legado de Belo monte é a violência e a criminalidade. Em 2011 o
Consórcio Norte Energia, que é um grupo formado por diversas empresas envolvidas na
construção da Usina de Belo monte e o governo do Pará, firmaram um termo de
cooperação para uma ação de fortalecimento dos órgãos de segurança, neste documento
ficou pautado que entre o período de 2011 a 2015, o estado receberia R$ 115 milhões
que seriam encaminhados para compra de equipamentos e reforma de repartições. Há
quem diga que apenas 50% desse valor foi repassado para reestruturação da segurança
pública. Entre 2011 e 2014, o número de assassinatos por ano em Altamira saltou de 48
para 86 casos, um aumento de quase 80%”.

Em 2011 Prefeitura de Altamira endereçou documento à Presidência da República


impetrando a suspensão da licença de instalação do canteiro de obras da usina
hidrelétrica de Belo Monte, por conta do não cumprimento das medidas mitigatórias
emergenciais que ficaram acordadas para a concessão da licença pelo Ibama.
O motivo desta solicitação foi basicamente o não cumprimento dos compromissos
assumidos pela Norte Energia, que seriam as obras prometidas como escolas, postos de
saúde e hospitais, que se quer, tinham sido iniciadas. Havia um compromisso para
entrega de um hospital com capacidade para 100 leitos no ano de 2012, o mesmo só
veio a ficar pronto no final de 2014. Por quase 2 anos e meio a cidade atendeu a 140 mil
pessoas com praticamente a mesma estrutura do início da obra que era para atender 100
mil. A única Delegacia na época em (2012), continha apenas 15 funcionários, o número
de detenções por lesão corporal aumentara 40%, furtos e roubos aumentaram de 35 a
40%. Em 2011 a polícia prendeu 22 traficantes, em 2013 foram 104.

Houve também aumento de violência no transito, reflexo o abrupto aumento dos veículos
automotor, em 2011 cerca de 10 mil, em 2013, aproximadamente 40 mil (68%
motocicletas). Antes da obras os números apontavam 4 óbitos por ano, em 2013 4 por
mês.

Sabemos que várias medidas deixaram de ser praticadas para que se pudesse mitigar
todos os inúmeros problemas causados pela instalação das empresas responsáveis pela
construção desse gigante complexo de engenharia. Irei citar algumas medidas que
teriam sido eficazes para diminuir os impactos ambientais e sociais em Altamira do Pará:

 Um verdadeiro estudo de impacto ambiental / social (não o apresentado);


 Ter preparado a cidade com infraestrutura, saúde e segurança;
 Ter construído alojamentos antes da chegada de pessoas;
 Ter construído canteiros sustentáveis;
 Ter feito audiências públicas com a sociedade, instruído a população;
 Ter capacitado os profissionais que para lá foram enviados;
 Investido no saneamento básico;
 Investido na saúde;
 Investido na segurança;
 Investido no Trânsito;
 Investido em educação ambiental;
 Investido na cultura;
 Investido na logística de abastecimento da cidade.

Muitas coisas poderiam ser citadas, que necessitariam de um aprofundamento


mais técnico e com um tempo mais propício para uma pesquisa mais qualitativa,
de forma que posso afirmar que quase nada ou muito pouco foi feito naquela
região e que há muitas consequências enraizadas hoje nas cidades que ainda têm
suportado as mazelas deste progresso descompromissado com a causa social e
ambiental. O pior ainda está por vir, cabe a nós lutar para que os menos
favorecidos, tenham a quem apelar.

Você também pode gostar