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TEATRALIDADE NAS
MANIFESTAÇÕES 2013.1 EM
SALVADOR
D O C E N T E : L U I Z M A R F U Z | D I SC E N T E : ( I S A D O R A ) D I M I TR I A HE R R E R A ( N U N E S )
Tropa essa, aliás, que se movia protegida atrás do escudo o tempo inteiro como se contra
eles estivessem sendo atiradas balas de fuzil em vez de pedras que sequer os alcançava
pela distância. Nas circunstâncias da manifestação parecia um pouco ridículo, e puxava
mais para o lado de uma representação: a representação de que os manifestantes
ofereciam um honesto perigo que pedia, não só a tática de proteção do escudo, mas
também a abusivamente violenta repressão que era imposta a eles. Acredito que esses
“artifícios teatrais” acabavam, de uma forma mais subjetiva do que objetiva, reforçando o
empoderamento natural da polícia e servindo para justificar de alguma forma a agressão
que se cometia contra pessoas armadas, no máximo, de pedra e cartazes.
Não que o pacifismo não possa ser utilizado. As vitórias históricas dependeram de uma
pluraridade de táticas. O que tornou os manifestantes classe-médias como joguetes num
momento de instabilidade política foi o pacifismo inarticulado, e, principalmente, a
vontade desses mesmos pacifistas de impedir que se disseminasse a pluraridade de táticas
na medida que tentavam conter o radicalismo. Acredito que as manifestações em Salvador
ainda não tenham terminado de todo, mas não tenho muita certeza se continuarão com
toda a visibilidade que já tiveram.
Não enxergo uma via política liderando a manifestação, que, aliás, gostava de se proclamar
“apolítica” – sem dúvida seria uma política capitalista reformista, ao meu ver. Capitalista
porque o reformismo, é claro, se propunha a manter a estrutura oficial do estado, com
suas normas, sua polícia violenta, seus oligopólios nas companhias de ônibus, suas classes
miseráveis e suas classes milionárias...
As manifestações, por sua destruição e massa participativa, têm sua visibilidade e poder
para mudar mais profundamente a estutura social que nos mantém. Entretanto, acho que
tão logo as demandas mais rasas tenham sido atendidas, o movimento será sufocado e
terminará. Serviu, não só para as mudanças, mas também para dar em vista como é a
sociedade brasileira, como o Estado pode manipular uma população e transformar um
protesto em uma passeata pela paz, como se faz carente de participação política no Brasil,
como um movimento articulado pode ter força enquanto um inarticulado pode se limitar a
deixar um estado de instabilidade política manipulável.