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Interciencia

ISSN: 0378-1844
interciencia@ivic.ve
Asociación Interciencia
Venezuela

Léo Neto, Nivaldo Aureliano; Nóbrega Alves, Rômulo Romeu da


A NATUREZA SAGRADA DO CANDOMBLÉ: ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO MÍSTICA ACERCA DA
NATUREZA EM TERREIROS DE CANDOMBLÉ NO NORDESTE DE BRASIL
Interciencia, vol. 35, núm. 8, agosto, 2010, pp. 568-574
Asociación Interciencia
Caracas, Venezuela

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=33914367003

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A Natureza Sagrada do Candomblé:
análise da construção mística acerca
da natureza em terreiros de Candomblé
NO NORDESTE DE BRASIL
Nivaldo Aureliano Léo Neto e Rômulo Romeu da Nóbrega Alves

RESUMO

A religião, como sistema cultural de crenças e valores, influ- demonstrada a importância da natureza para esta religião. De
encia os modos de percepção e interação que as comunidades acordo com as crenças, a natureza representa uma manifesta-
humanas possuem com a natureza. Possuidor de uma imensa di- ção viva das suas divindades. Certos animais são protegidos
versidade biológica e cultural, o Brasil apresenta em seu pro- por serem considerados sagrados, simbolizando os seus deuses,
cesso de formação sócio-cultural, influências dos mais diversos proteção esta explicada através de mitos, histórias, lendas. Por
povos. O presente trabalho objetivou analisar o discurso de outro lado, outras espécies são utilizadas em práticas associadas
sacerdotes e sacerdotisas de candomblé, religião afro-brasilei- a religião, representando uma pressão adicional sobre as popu-
ra de formação sincrética, em duas cidades da região Nor- lações naturais, evidenciando a necessidade de se considerar a
deste do Brasil (Caruaru, PE e Campina Grande, PB), acerca dimensão religiosa na elaboração de medidas de preservação
da construção mística que os adeptos elaboram a partir (e so- ambiental e manejo da biodiversidade. Cabe ressaltar que essas
bre) da natureza. Por meio de questionários semi-estruturados, mesmas medidas não devem deixar de levar em consideração
complementados por entrevistas abertas, foram entrevistados 11 todo o contexto religioso, bem como a tradição e identidade cul-
sacerdotes e sacerdotisas. Através dos dados obtidos, pôde ser tural das pessoas envolvidas.

O sobrado de mamãe é debaixo d’água,


Debaixo d’água por cima da areia,
Tem ouro, tem prata,
Tem diamante que nos alumeia
Cantiga para Janaína, Maria Bethânia

religião e os aspectos considerando-se essencialmente a ne- mada pelo sincretismo entre elementos
culturais estão relacio- cessidade de tratar toda a vida com católicos e africanos, sendo o ponto
nados a percepção da respeito (McNeely, 2001). De acordo central as festas para os orixás (nome
natureza e da biodiversidade, influen- com Berkes (2001), embora as tradi- pelo qual as divindades são conheci-
ciando os diferentes modos pelos quais ções religiosas, especificamente, te- das), envolvendo possessões e sacrifí-
os recursos naturais podem ser utiliza- nham pouco para dizer sobre biodiver- cios de animais (Bastide, 1971, 1973,
dos (Cohn, 1988; Anyinam, 1995; sidade, elas provêem valores, visões de 2001; Carneiro, 1977; Ribeiro, 1978;
Berkes, 2001; Alves, 2006, 2008; Al- mundo, ou éticas ambientais, que mol- Prandi, 1991, 1996, 2004; Cruz, 1994;
ves e Pereira-Filho, 2007; Alves e Ro- dam a maneira pela qual as diversas Carvalho, 2001; Jensen, 2001; Ferretti,
sa, 2008; Alves et al. 2008, 2009a, b, sociedades interagem com a diversida- 2002; Oro, 2005). O fenômeno da pos-
2010a, b; Leo Neto et al., 2009). To- de biológica e a natureza. sessão, neste caso, seria provocado pe-
das as religiões são sensíveis aos as- O candomblé constitui- la própria divindade servindo-se do
suntos relacionados à biodiversidade, se em uma religião afro-brasileira for- crente como instrumento para a comu-

Palavras-chave / Candomblé / Etnozoologia / Imaginário / Religiões Afro-brasileiras / Sagrado /


Recebido: 30/05/2009. Modificado: 24/06/2010. Aceito: 29/06/2010.

Nivaldo Aureliano Léo Neto. Graduado em Ciências Biológicas e Mestrando em Ciências So-
ciais, Universidade Federal de Campina Grande, UFCG, Brasil. Endereço: Avenida Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, CEP 58109-
970, Campina Grande, PB, Brasil. e-mail: nivaldoleo@gmail.com
Rômulo Romeu da Nóbrega Alves. Graduado em Ciências Biológicas, Mestre em Zoologia e
Doutor em Zoologia, Universidade Federal da Paraíba, Brasil. Professor, Universidade Estadual da Paraíba, Brasil

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nicação com os mortais (Carneiro, (2007), Campina Grande possuía uma Segundo os entrevistados, cada orixá
1977). Constitui-se em uma religião população de ~371000 habitantes. possui um domínio, ou reino, específi-
iniciática, de tradição oral, onde o co- co. Temos como exemplo Yemanjá,
nhecimento, segundo Augras (2006) é Procedimentos orixá de culto bastante difundido no
antes vivenciado do que verbalizado. Brasil, onde recebe o título de “Rainha
Os orixás são associados a elementos A pesquisa foi realiza- do Mar” e Oxóssi, orixá responsável
da natureza, fenômenos meteorológicos da durante os meses de agosto de pelas atividades de caça, dominando as
como a chuva e o arco-íris, certas 2007 e junho de 2008, período duran- matas virgens, sendo considerado o
plantas e animais, atividades econômi- te o qual foram visitadas 11 casas de protetor dos animais silvestres. Segun-
cas a que se entregavam os negros e cultos afro-brasileiros (chamados de do Caputo e Passos (2007), apesar de
determinadas cores, como o branco de terreiros) nas cidades de Campina todas as culturas terem a dimensão da
Oxalá e o vermelho de Xangô (Carnei- Grande e Caruaru, onde foram entre- sacralidade, aquilo que é ou não sagra-
ro, 1977; Cruz, 1994; Bastide, 2001; vistados nove sacerdotes e duas sacer- do, se modifica de uma para outra, ou
Lépine, 2006). dotisas, popularmente conhecidos por seja, se a noção do sagrado é univer-
Nas últimas décadas, pais e mães-de-santo, respectivamente, sal, os elementos relacionados cultural-
surgiram estudos que abordavam a re- e em Yorubá (língua ritualística utili- mente à dimensão do sagrado são cria-
lação entre a religião e o meio am- zada nos terreiros) conhecidos como dos, simbolizados e representados de
biente (Schofeleers, 1978; Carmody, Babalorixá e Ialorixá. O número obti- formas diferentes dependendo do con-
1983; Hargrove, 1986; Bowman, 1990; do de entrevistados reflete a dificulda- texto cultural.
Rockfeller e Elder, 1992; Suzuki e de em localizar os terreiros, uma vez Como conseqüência des-
Knudtson, 1992). O presente trabalho que os adeptos sofrem constante pre- ta visão de mundo, o espaço natural
objetivou analisar o discurso dos sa- conceito e geralmente optam por não torna-se sagrado, repleto de poderes
cerdotes e sacerdotisas de candomblés demonstrar que naquele local existe místicos, de crenças que os rodeiam,
em relação à natureza, sobretudo com um templo religioso dedicado aos ori- de mitos e lendas que revestem estes
a fauna, buscando registrar a impor- xás. Tentativas de se obterem mais en- espaços com uma aura de mistério.
tância da biodiversidade no contexto dereços junto às associações de cultos Determinados espaços que aos olhos
das religiões afro-brasileiras, averi- afro-brasileiros foram realizadas, po- dos não-adeptos podem parecer nor-
guando como as crenças religiosas per- rém, sem muito sucesso. Este fato mais, para os fiéis do candomblé os
meiam a interação que os adeptos pos- ocorreu devido aos registros, por se- mesmos muitas vezes possuem acesso
suem com os animais. rem muito antigos, possuírem os ende- proibido, sendo permitida a entrada de
reços muitas vezes desatualizados. O somente algumas poucas pessoas que
Material e Métodos estudo teve aprovação do Comitê de possuem uma determinada função sa-
Ética da Universidade Estadual da Pa- cerdotal. Citemos como exemplo um
Área de estudo raíba (0241.0.133.000-07). cargo sacerdotal chamado de Babalos-
As entrevistas foram saim, existente em alguns terreiros. O
O estudo foi conduzido conduzidas através de questionários Babalossaim seria o responsável em
em duas localidades situadas no Nor- semi-estruturados (Bernard, 1994) coletar todos os tipos de plantas que
deste do Brasil: Caruaru, estado de complementados por entrevistas infor- irão ser utilizadas nas atividades litúr-
Pernambuco, e Campina Grande, esta- mais (Mello, 1995; Chizzotti, 2000; gicas, uma vez que estas fazem parte
do da Paraíba. A cidade de Caruaru Albuquerque e Lucena, 2004). Os do domínio de Ossãe, estando este tipo
(8º17’00”S, 35º58’34”W) está localiza- questionários continham questões sobre de sacerdócio ligado exclusivamente a
da na Mesorregião do Agreste Pernam- as espécies animais de uso mágico-re- este orixá.
bucano; dista 132km da capital do es- ligioso, formas de uso e partes utiliza- Para os entrevistados,
tado, Recife, e abrange uma área de das. A partir destes questionamentos, a natureza torna-se sagrada na medida
10117km² (Albuquerque e Almeida, foram obtidas as informações acerca em que a mesma assume uma repre-
2002). Possui uma altitude média de da associação entre a sua religião e a sentação viva das suas divindades, ou,
537m, seu clima é semi-árido quente, natureza. Quando permitidas, as entre- às vezes, mais do que isso, chegando
com média de 22ºC-30ºC e índice plu- vistas foram gravadas e posteriormente ao ponto dos orixás serem considera-
viométrico anual em torno de 609mm, transcritas para confirmação das infor- dos a própria natureza. A partir desta
com o período mais chuvoso os meses mações. visão, a natureza torna-se intocável,
de junho e julho. De acordo com o divina, parte integrante e essencial da
censo do IBGE (2007), a população Resultados e Discussão religião. Deixa-se de ter uma simples
consistia em ~290000 habitantes. associação orixá / natureza para ser
Campina Grande está A partir do discurso orixá = natureza. Esta visão pode ser
(7°13’11”S, 35°52’31” W ) d ist a nt e dos Babalorixás e das Ialorixás entre- evidenciada através das seguintes falas
112,9km da capital do Estado, João vistadas, ficou evidenciada a importân- dos sacerdotes:
Pessoa; localizada na Mesorregião do cia da natureza nos cultos e rituais as-
“Destruir a natureza seria destruir a
Agreste Paraibano. Possui uma área de sociados ao candomblé, os quais são
nossa religião, os próprios orixás”
621km 2 , com uma altitude de 551m, discutidos a seguir:
(Mãe C. de Oxum, Caruaru, PE).
apresentando um clima do tipo Tropi-
cal Chuvoso, com verão seco, com uma Os orixás e a natureza “Nosso orixá é a natureza, então se
temperatura em torno de 22°C-30°C, ela morrer, morre também nossos
sendo a estação chuvosa iniciando-se A associação dos ori- orixás. Como é que vamos cultuar
em janeiro/fevereiro com término em xás aos elementos da natureza assume um orixá que é a Natureza, destruin-
setembro, podendo prolongar-se até ou- uma importante significação quando do a Natureza? ” (Pai F. de Logun-
tubro. De acordo com censo do IBGE analisada em um contexto ecológico. Edé, Caruaru, PE).

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“Eu tenho um orixá natureza pura e lação também devem ser asseguradas. para cada entidade sobrenatural, cujos
viva. É a água, é a cachoeira, é o Se por um acaso ficasse constatado elementos que os compõem expressam
rio , é a terra, é as plantas, é o ar que estas práticas religiosas acarretam os diversos aspectos do orixá cuja na-
que a gente respira, é o Sol que a em danos, soluções para corrigi-los tureza simbolizam (Santos, 1997).
gente precisa dele. É assim que eu deveriam ser propostas, existindo Portanto, os Ibás possuem os mais
vejo o orixá, é assim que eu acredi- acordo entre os órgãos ambientais e as diversos elementos, indo desde lanças
to” (Pai M. de Xangô, Caruaru, PE). populações interessadas em usufruir de ferro, palhas da costa, búzios, ca-
deste recurso natural, neste caso, os baças, folhas, pratos de porcelana e
Por ser essencial à re-
adeptos dos candomblés. pequenos jarros. Segundo Santos
ligião, a natureza e os seus elementos
(1997), ao analisarmos os elementos e
passam a serem tratados de uma forma
Espaço urbano e espaço do mato a estrutura de cada Ibá, poderíamos
especial, já que dessa forma, segundo
obter materiais precisos para a pes-
a própria crença do candomblé, os pró-
Dentro do espaço físi- quisa da natureza das entidades so-
prios deuses são cultuados. Os alimen-
co do candomblé, existem edificações brenaturais.
tos que são ofertados, os sacrifícios
necessárias a este culto. Longe de pas- A partir disto, pode-se
realizados, a vida que é retirada, volta
sarem despercebidas, Santos (1997) inferir que o espaço mato encontra
para a terra, alimentando-a e comple-
atentou para as mesmas, separando-as uma adaptação dentro do espaço urba-
tando o ciclo de energia. O depoimen-
em “espaço urbano” e “espaço do ma- no. Desta forma, o elemento considera-
to abaixo ilustra o que foi dito:
to”, cada qual com suas características do sagrado encontra o seu local em
“Porque quando a gente dá de comer peculiares. Segundo a autora, no espa- um ambiente considerado desprovido
aqui ao orixá, aquelas coisas que fi- ço urbano encontram-se todas as edi- desta sacralidade. Como conseqüência
ca, que bota, as asas, os pés, as vís- ficações do terreiro, sejam elas as ca- deste fato, o espaço urbano, desprovi-
ceras, a cabeça, aquilo ali volta pra sas-templos onde são cultuados os ori- do de sacralidade, torna-se sagrado, já
terra. Não vai ser despachado de- xás, a cozinha ritual, o quarto onde que o mesmo toma “emprestado” este
pois? Volta pra terra, pra alimentar a ocorrem as iniciações e o próprio bar- caráter do espaço de mato, ocasionan-
terra. Vai fertilizar a terra. Volta pra racão, um grande salão onde se reali- do em uma troca recíproca entre esses
natureza. A terra vai receber aquilo zam as festas públicas. No espaço do dois ambientes, conforme observado
em forma de fertilizante. Daquilo mato, por sua vez, encontram-se as ár- por Santos (1997). Deve-se atentar
ali, a terra vai ficar mais forte, pra vores, arbustos, ervas, em suma, todos também para o fato de que quando se
produzir mais, criar outras frutas, os ingredientes vegetais necessários às faz referência ao espaço dos terreiros,
outras coisas. É o ciclo de energia. É atividades litúrgicas. Existe uma sepa- não se deve ater somente ao espaço fí-
uma coisa lógica. A energia volta ração marcante entre estes dois espa- sico, mas a todo o espaço simbólico
pra energia. A terra volta pra terra. ços. O espaço urbano, domesticado e incluído no mesmo, constantemente
E assim sucessivamente. Um dia a civilizado difere do espaço do mato, (re)criado e transformado.
gente vai voltar pra terra também, selvagem e incontrolável. As represen- No Brasil, o culto aos
vai alimentar a terra e daquele ali- tações simbólicas que aí estão embuti- orixás é pensado como um culto à na-
mento a terra vai ficar mais forte. das tornam por caracterizar o espaço tureza (Albuquerque, 2007), conforme
Até a gente acabar com a Terra. Que do mato como sagrado, por ser habita- também pude-se notar na presente
a gente vai acabar o planeta. Isso aí do por espíritos e entidades sobrenatu- pesquisa. Os mitos (chamados de Itãs)
é indiscutível, que o planeta vai ser rais. As observações realizadas por dos orixás apontam para uma longa
destruído por a gente. A gente o ser Santos (1997) corroboram as falas dos memória em que os deuses habitavam
humano” (Pai M. de Xangô). sacerdotes quando os mesmos afirmam a terra, uma necessidade de explicação
que devem proteger a natureza já que da vida, dos fatos, das ações de um
Alguns espaços natu- desta forma estariam protegendo os povo (Fernandes e Mota, 2007). Os
rais, como por exemplo as cachoeiras, próprios orixás. povos de tradição oral possuem a ne-
são esporadicamente freqüentados por Devido a todo o con- cessidade de registrar os seus fatos
adeptos de candomblés para a realiza- texto de expansão da urbanização nos históricos, gerando dessa forma, se-
ção de rituais específicos, neste caso dias atuais, está cada vez mais difícil gundo Beniste (2006), a mitologia. De
geralmente a Oxum. Uma sacerdotisa encontrar espaços que possuam algum acordo com este autor, sempre há um
entrevistada comentou que não estava tipo de natureza selvagem. Em obser- mito, um exemplo capaz de justificar
mais realizando as oferendas nas ca- vações nos terreiros visitados, poderí- qualquer coisa e qualquer prática, que
choeiras devido a proibições dos ór- amos nos questionar sobre a existên- não deve ser interpretado como curio-
gãos ambientais competentes. Outro cia do espaço de mato. Uma vez que sidade científica, mas sim como o re-
caso de usufruto de um recurso natu- os mesmos dispõem de relativamente viver de uma mentalidade primordial.
ral por religiões afro-brasileiras é a pouco espaço físico, o espaço urbano Logo, os mitos no candomblé apresen-
Festa de Yemanjá, realizada na capital tomaria conta de todo o terreiro. Em tam extrema importância. São justa-
do estado da Paraíba, João Pessoa. uma análise superficial, poderíamos mente os Itãs que imprimem as suas
Agregando enormes quantidades de fi- concluir que o espaço mato não esta- marcas, suas (re)formulações da natu-
éis e simpatizantes, os participantes ria mais presente. Entretanto, em uma reza, transformando-a de “simples”
realizam uma caminhada em direção à análise mais detalhada, percebe-se elemento natural, objeto de exploração
praia, onde realizam suas oferendas de que alguns orixás (como por exemplo do ser humano a um elemento sagrado
flores, perfumes e sabonetes. Estudos Ossãe), representados através dos deste culto e para os adeptos do mes-
que analisem possíveis impactos que Ibás ou assentamentos, eram constitu- mo. O espaço, desta forma, é (re) cria-
estas práticas causam à biodiversidade ídos de elementos da natureza, geral- do a partir das experiências do sagra-
devem ser realizados, uma vez que as mente plantas específicas. Os Ibás do. O imaginário (que muitas vezes
práticas culturais e religiosas da popu- constituem-se em locais específicos pode ser negligenciado) preenche as

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lacunas de um objetivismo TABELA I
racional da sociedade em Animais associados aos Orixás em terreiros de Candomblé
que o candomblé está inse- de Caruaru, PE, e Campina Grande, PB, BRASIL
rido.
Família/Espécie Nome citado Associação com o orixá
Animais e orixás Crustáceos
  Ocypodidae
Alguns autores (Rodri-    Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) Caranguejo Associado à Nanã por causa do hábitat
gues, 1945; Carneiro, 1977; Peixes (lama)
Santos, 1997; Bastide,   Syngnathidae
2001) registraram a asso-    Hippocampus reidi Ginsburg, 1933 Cavalo-marinho Animal símbolo de Logun-Edé devido ao
ciação de determinadas ár- caráter da dualidade
vores às divindades, sendo Anfíbios
estas consideradas moradas   Família não identificada
desses espíritos, sacralizan-    Espécie não identificada Rã-de-peito Associado à Oxum por causa do hábitat
do-as e tornando-as intocá-   Família não identificada
veis. Como exemplo dessas    Espécie não identificada Sapo-boi Associado à Nanã por causa do hábitat
árvores, temos o irôco, re-   Bufonidae
ferida por Bastide (2001)    Rhinella jimi (Stevaux, 2002) Sapo-cururu Associado à Nanã por causa do hábitat
como a espécie Ficus do- Répteis
   Todas as espécies de serpentes --- Associadas a Oxumarê
liaria, uma gameleira de
  Chelidae
folhas largas que segundo    Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) Cágado d’água Associado a Xangô por causa da Força e
o culto popular são resi- Resistência
dências de santos ou espí-   Testudinidae
ritos, existindo a crença na    Chelonoidis denticulata (Linnaeus, 1766) Jabuti Associado a Xangô por causa da Força e
animação direta da planta. Resistência
  Viperidae
Dessa forma, cortá-las se-    Crotalus durissus Linnaeus, 1758 Cascavel Simboliza Oxumarê
ria cometer um sacrilégio Aves
(Rodrigues, 1945). Outros   Anatidae
autores também têm regis-    Anas sp. Pato Associado a Oxum e Yemanjá por causa
trado que é comum a utili- do nado gracioso, em analogia com a
zação de plantas no can- beleza desses orixás
domblé (Albuquerque,   Columbidae
1997, 2007; Camargo,    Columba livia (Gmelin, 1789) Pombo, Irilé Em associação a Oxalá, em simbologia a
Paz e Serenidade deste orixá
1998, 1999; Voeks, 1997,    Columbina sp. Rolinha Em associação a Oxóssi, por causa do
2005). hábitat silvestre
De modo similar, os    Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Ribaçã Em associação a Oxóssi, por causa do
animais também são consi-   Phasianidae hábitat silvestre
derados elementos funda-    Pavo cristatus Linnaeus, 1758 Pavão Associado a beleza de Logun-Edé
mentais para os cultos afro-    Phasianus sp. Faisão Associado a beleza de Logun-Edé
brasileiros. Segundo Oro Mamíferos
(2005), as religiões afro-   Bovidae
brasileiras são sacrificiais e    Bubalus bubalis (Linnaeus, 1758) Búfalo Representa Iansã
todas as suas expressões,    Ovis aries (Linnaeus, 1758) Carneiro/Ovelha Para os filhos-de-Iansã é quizila
menos a umbanda dita Cervidae
“branca”, realizam rituais    Mazama americana (Erxleben, 1777) Veado-do-mato Em associação a Oxóssi, por causa do
de imolação de animais, se- hábitat silvestre
jam eles de quatro pés (ca-
prinos, ovinos, suínos e bo-
vinos), ou de dois pés (galináceos e de forma indiscriminada, podem causar provinham de vários locais, mais espe-
pombos). Léo Neto (2008) constatou a impactos negativos às populações de cificamente, de diversas tribos, cada
utilização de 83 espécies de animais espécies ameaçadas. Entretanto, da qual com um culto a uma divindade
para as mais diversificadas finalidades mesma forma que existe uma associa- particular e uma prática litúrgica espe-
cerimoniais em casas de candomblés. ção de certas divindades com plantas, cífica (Rodrigues, 1945; Carneiro,
Alguns desses animais são silvestres, tornando-as dessa forma protegidas, 1977). Quando esses escravos chega-
como o veado-do-mato (Mazama ame- existe uma significação vigente em al- ram ao Brasil, em um processo de en-
ricana) e o tatu (Dasypus novemcinc- guns animais. contro e reorganização dessas práticas
tus), e outros estão inclusos em listas De acordo com os en- litúrgicas, juntamente com a influência
de espécies ameaçadas, como por trevistados, certos animais são associa- católica, geraram as diversas nações
exemplo, o búzio-de-chapéu (Eustrom- dos a determinados orixás, seja por do candomblé, a citar o Nagô, o Keto,
bus goliath), presente na Lista Brasilei- causa da sua beleza, de narrativas mí- o Banto, entre outras. Dentro da nação
ra de Espécies Sobreexplotadas ou ticas ou até mesmo do hábitat do ani- de Keto, o caranguejo-uçá (Ucides cor-
Ameaçadas de Sobreexplotação (MMA, mal, o qual pode estar associado ao datus) é associado à Nanã e a Omolu.
2004), utilizado como ornamentação domínio do orixá (Tabela I). Nanã, antiga divindade do panteão
nos terreiros. De um ponto de vista Os escravos trazidos afro-brasileiro, é associada à lama e à
conservacionista, essas práticas, quando da África para a colonização do Brasil terra úmida, sendo Omolu o seu filho.

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A la ma é a morada dos um orixá tanto pescador quan-
caranguejos, logo, para os to caçador, herdando da mãe e
adeptos do candomblé existe do pai essas características.
essa associação de Nanã e Logun-Edé é representado pelo
Omolu com o caranguejo, le- cavalo-marinho (Hippocampus
vando-se em consideração o sp.), que simboliza um caráter
hábitat do animal. O guaia- dúbio, pois ele “nem é peixe e
mum (Cardisoma guanhumi), nem é cavalo” (Figura 1).
de acordo com Pai M. de De modo similar, todas as
Xangô, não apresentaria essa espécies de serpentes, segundo
proteção já que o animal não os sacerdotes, estão associa-
teria uma morada tão especí- das a Oxumarê, orixá respon-
fica na lama. Essa afirmação sável pela chuva e o arco-íris,
é corroborada por Botelho et significando muitas vezes o
al. (2001), que ressalta que o movimento (Figura 2).
guaiamum possui um hábitat Outra imposição interes-
semiterrestre, construindo ga- sante reside nas restrições ali-
lerias acima da marca de pre- mentares dos adeptos, uma sé-
amar, em solos mais arenosos. Figura 1: Objetos simbólicos de Logun-Edé. a: Um abebé, leque rie de proibições e preceitos
A mesma associação do com espelho (símbolo de sua mãe Oxum) em formato de cavalo-ma- que são chamadas de euós ou
hábitat do animal com o orixá rinho, e b: um ofá, arco-e-flecha (símbolo de seu pai Oxóssi). quizilas. A análise parte do
ocorre com os sapos, por seu que Augras (2006) denominou
hábitat de terra úmida, de la- de “autofagia simbólica”. Se-
maçais, estando associados à gundo as crenças afro-brasi-
Nanã. São protegidos dentro leiras, os filhos-de-santos são
da nação de Keto, sendo utili- formados a partir de elemen-
zados somente por pessoas tos que remetem à constitui-
que praticam a chamada “ma- ção genérica do seu orixá pa-
gia negra”, utilizada para cau- trono, logo, não se pode co-
sar danos a outras pessoas. mer daquilo de que você pró-
Para os entrevistados, indiví- prio é formado. As proibições
duos que praticam a magia também se justificam por mi-
negra não podem ser conside- tos, que revelam a interação
rados como adeptos do can- dos animais, por exemplo,
domblé, pois de acordo com com os orixás (a exemplo do
estes, nesta religião não pode carneiro de Iansã). Todavia,
existir a intenção de fazer o pode acontecer de algo ser
mal às outras pessoas. proibido para um filho de um
Alguns animais não são determinado orixá e não ser
sacrificados para determina- Figura 2: a: Local simbólico onde a energia do orixá reside, chama- para outro.
da de Ibá ou “assentamento”, neste caso, pertencente a Oxumarê,
dos orixás devido às narra- com uma serpente símbolo deste orixá. b: Estátua em madeira em O candomblé fundamenta-
ções míticas. Por exemplo, um formato de serpente representando Oxumarê. se em crenças, valores e mitos
dos mitos narrados pelos en- que muitas vezes se expres-
trevistados conta que quando sam em elementos da nature-
Iansã saiu da terra, ela assumiu uma sacerdotisa duvidou da informação ad- za. Tais características do candomblé
forma de búfalo (Bubalus bubalis), quirida pelo primeiro pesquisador re- influenciam diretamente e/ou indireta-
sendo que por isto, não se sacrificam ferente ao sacrifício do cágado-d’água mente na relação com a biodiversida-
búfalos para Iansã. Da mesma forma, ( P. geoffroanus ) para Xangô. Uma de. Certos animais são protegidos por
não se realizam sacrifícios de carnei- vez que este orixá, de acordo com a serem considerados sagrados, simboli-
ros (Ovis aries) para esse orixá, pois mesma, está associado ao elemento fo- zando os seus deuses, proteção esta
a mesma escondeu-se debaixo desse go, jamais um animal de hábitat aquá- explicada através de mitos, histórias,
animal para se proteger dos raios en- tico poderia ser simbolizado a esta di- lendas. Por outro lado, outras espécies
furecidos de seu esposo Xangô. Al- vindade. A referida sacerdotisa ainda são utilizadas em práticas associadas a
guns animais, como por exemplo, o informou que criava jabutis (C. denti- religião, representando uma pressão
cágado-d’água ( Phrynops geoffroa- culata) como animais de estimação, adicional sobre as populações natu-
nus ) e o jabuti (Chelonoidis denticu- não os sacrificando, já que acreditava rais. Estudos que visem melhor eluci-
lata) são sacrificados ao orixá Xangô que desta forma também estava cultu- dar a interação entre o ser humano e a
devido às características que este ori- ando a energia do orixá Xangô. natureza em suas várias formas, inclu-
xá apresenta (força e resistência, por Exemplo significante sive a religiosa, poderão colaborar pa-
exemplo), que de acordo com os prati- de proteção pode ser encontrado nos ra a elaboração de medidas de preser-
cantes do candomblé também podem mitos de Logun-Edé. Os sacerdotes re- vação ambiental e manejo dos recur-
ser encontradas nos respectivos ani- lataram que Logun-Edé é uma divinda- sos da fauna. Cabe ressaltar que essas
mais. Cabe ressaltar as diferenças li- de gerada do amor de duas outras di- mesmas medidas não devem deixar de
túrgicas que podem ser encontradas vindades: Oxum, orixá responsável pe- levar em consideração todo o contexto
entre os praticantes. Para exemplificar, los rios e cachoeiras e Oxóssi, orixá religioso, bem como a tradição e iden-
em visita informal a um terreiro, uma caçador. Desta forma, Logun-Edé seria tidade cultural das pessoas envolvidas.

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THE SACRED NATURE OF THE CANDOMBLÉ: ANALYSIS OF THE MYSTIC CONSTRUCTION CONCERNING THE
NATURE IN TERREIROS OF CANDOMBLÉ IN NORTHEAST, BRAZIL
Nivaldo Aureliano Léo Neto and Rômulo Romeu da Nóbrega Alves
SUMMARY

The religion, as a cultural system of beliefs and values, sents the living manifestation of their divinities. Some ani-
influences the ways of perception and interaction that the mals are protected because they are considered as sacred,
human communities have with nature. Gathering an immense symbolizing their gods, and this protection is explained by
cultural and biological diversity, Brazil has had, in the pro- the myths, stories, and legends. On the other hand, other
cess of socio-cultural formation, influences from many differ- species are used in procedures associated with religion,
ent peoples. The aim of the present study was to analyze the which represents an additional pressure on natural popula-
speech of priests and priestess of candomblé, Afro-Brazilian tions, highlighting the need to consider the religious dimen-
religion of sincretic formation, in the cities of Caruaru (PE) sion in the development of environmental preservation mea-
and Campina Grande (PB). Through semi-structured ques- sures and the management of biodiversity. It is important
tionnaires complemented by free and informal conversations, to emphasize that such measures must take into account the
11 priests and priestesses were interviewed. Through the ob- religious context, as well as the tradition and the involved
tained data, the importance of nature for this religion could people’s cultural identity.
be demonstrated. According to their beliefs, nature repre-

La Naturaleza Sagrada Del Candonblé: un análisis de la construcción acerca de La


naturaleza en los terreiros de Candomblé en el Noreste de Brasil
Nivaldo Aureliano Léo Neto y Rômulo Romeu da Nóbrega Alves
RESUMEN

La religión, como sistema cultural de creencias y valores, puede demostrar la importancia de la naturaleza para esta
influye en los modos de percepción de la naturaleza e inter- religión. De acuerdo con las creencias, la naturaleza rep-
acción con ésta de las comunidades humanas. Brasil tiene resenta una manifestación viva de sus divinidades. Ciertos
una inmensa diversidad biológica y cultural, presentando en animales son protegidos por ser considerados sagrados,
su proceso de formación social y cultural influencias de los simbolizando sus dioses. Esta protección está explicada a
más diversos pueblos. El trabajo presente tuvo como obje- través de mitos, historias y leyendas. Por otro lado, otras
tivo analizar el discurso de los sacerdotes y sacerdotisas del especies son utilizadas en prácticas asociadas a la religión,
candonblé, religión afro-brasilera de formación sincrética, representando una presión adicional en las poblaciones na-
en dos ciudades de la región Noreste de Brasil (Caruaru, turales, evidenciando la necesidad de considerar la dimen-
PE y Campina Grande, PB) en lo referido a la construcción sión religiosa en la elaboración de las medidas de preser-
mística que los adeptos elaboran a partir de la naturaleza. vación ambiental y de manejo de la biodiversidad. Cabe re-
Por medio de cuestionarios semi-estructurados, complemen- saltar que esas mismas medidas no deben de dejar de llevar
tados con entrevistas abiertas, fueron entrevistados, 11 pa- en consideración todo el contexto religioso, la tradición y la
dres y madres del culto. A través de los datos obtenidos se identidad cultural de las personas involucradas.

574 AUG 2010, VOL. 35 Nº 8

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